ISSN 1413-3555 Rev. bras. fisioter. Vol. 9, No. I (2005), 25-31 ©Revista Brasileira de Fisioterapia AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE DOR APÓS SESSÕES DE ULTRA-SONOTERAPIA EM PACIENTES CIRÚRGICOS CARDIOVASCULARES Coertjens, P. C., 1 Coertjens, M} Bernardes, C., 1 Prati, F. A. de M. 1 e Sá, S. L. R. de 1 1 Rede Metodista de Educação, Instituto Porto Alegre (RMEIIPA), Porto Alegre, RS 2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Laboratório de Pesquisa do Exercício (UFRGS/LAPEX) Correspondência para: Patrícia Chaves Coertjens, Rua 1, Cefer 1, nº 6, Jardim Carvalho, CEP 91430-370, Porto Alegre, RS, e-mail: [email protected]/coert [email protected] Recebido: 5/1/2004 - Aceito: 15/12/2004 RESUMO Contexto: O ultra-som é um exemplo de recurso utilizado pelos fisioterapeutas para obtenção de analgesia em diversos casos de reabilit·Jção. Entretanto, na literatura não há um consenso quanto à real eficácia desse tipo de procedimento no processo reabilitativo. Não foram encontrados relatos da utilização desse recurso no tratamento de pacientes cardíacos pós-operatórios. Objetivo: Verificar a eficácia da ultra-sonoterapia na diminuição dos níveis de dor e do tempo de permanência pós-operatório durante a reabilitação de pacientes que realizaram revascularização do miocárdio por meio da abordagem de esternotomia mediana. Método: A amostra foi composta por oito pacientes divididos em dois grupos: Tratamento e Placebo, cujo tratamento de reabilitação consistiu de 5 procedimentos de ultra-sonoterapia em modo pulsado, com freqüência de 3 MHz, intensidade de 0,2 W/cm 2 regime de pulso a 20%, durante 5 minutos por sessão, duas vezes por dia. Foram avaliados os níveis de dor por meio da escala de Borg para dor CRI O, após o ]º, 32 e 52 procedimentos, nas situações de repouso e movimento, além do tempo de permanência no pós-operatório. Os dados foram analisados por meio da estatística descritiva e do teste de comparação de médias Mann-Whithey (Wilcoxon W). Resultados: Foram encontrados menores níveis de dor em repouso, em movimento e no tempo de permanência pós-operatório (dias) no grupo Tratamento (6 ± 0,81) em comparação com o grupo Placebo (7 ± 0,81), sem apresentarem diferenças estatisticamente significativas (p > 0,05). Conclusões: Mesmo não sendo significativas, as diferenças encontradas podem representar relativa diminuição nos custos hospitalares, assim como aumento na qualidade de vida dos pacientes esternotomizados. Palavras-chave: terapia por ultra-som, dor, revascularização miocárdica, cirurgia, reabilitação, avaliação. ABSTRACT Assessment of paio leveis after ultrasound therapy sessions among postoperative cardiac patients Background: Ultrasonography is one of the resources used by physiotherapists for obtaining analgesia in many cases of rehabilitation. However, there is no consensus in the Iiterature regarding the real effectiveness of this kind of procedure in the rehabilitative process. No reports on its utilization for the treatment of postoperative cardiac patients have been found. Objective: To verify the effectiveness of ultrasound therapy for decreasing pain leveis and postoperative hospital stay during the rehabilitation of patients who underwent myocardial revascularization via median sternotomy. Method: The sample consisted of eight patients divided into two groups, Treatment and Placebo, whose rehabilitation consisted of five ultrasound procedures, using pulse mode ata frequency of 3 MHz, intensity of 0.2 W/cmZ, pulse regime at 20%, for 5 minutes per session, twice a day. Pain leveis were evaluated on Borg's CRI O pain scale, after the 1st, 3'd and 5'h procedures, at rest and while moving. Length of postoperative hospital stay was observed. Data were analyzed through descriptive statistics and the Mann-Whitney (Wilcoxon W) mean comparison test. Results: Lower leveis of pain at rest and while moving, and shorter postoperative hospital stays (6 days), were found in the Treatment group than in the Placebo group (stay of 7 days), without presenting statistically significant differences (p > 0.05). Conclusions: Even not being Coertjens, P. C. et ai. 26 Rev. bras. fisiota significant, the differences found may represent a relative decrease in hospital costs, and also an increase in quality of life for such patients. Key words: Ultrasonic therapy, pain, myocardial revascularization, surgery, rehabilitation, assessment. INTRODUÇÃO Os procedimentos realizados durante o período pósoperatório de pacientes submetidos a cirurgias de esternotomia mediana são caracterizados, principalmente, pela administração de fármacos profiláticos representados, comumente, por antibióticos. Esses fármacos são utilizados com o objetivo de reduzir o tempo e o custo global da hospitalização por evitarem morbidade e despesas relacionadas a infecções pós-operatórias.' Entretanto, nos últimos anos, a fisioterapia tem sido considerada um componente fundamental na reabilitação de pacientes cirúrgicos cardiovasculares. Sua aplicação visa a melhorar o condicionamento cardiovascular e a evitar fenômenos tromboembólicos e posturas antálgicas, oferecendo maior independência física e segurança para alta hospitalar e posterior recuperação das atividades da vida diária (AVDs). 2 Durante o tratamento fisioterapêutico são realizados procedimentos simples, como exercícios metabólicos de extremidades, visando à diminuição do edema e aumento da circulação; ensino de tosse efetiva para eliminar obstruções respiratórias e manter os pulmões limpos; ensino de atividades físicas para manter as amplitudes de movimento (ADM) e a elasticidade mecânica dos músculos envolvidos; e treinamento de marcha em superfície plana e em degraus, entre outras atividades. 3 A mobilização precoce de pacientes após cirurgia cardíaca tem demonstrado ser segura e benéfica, visto que pode reduzir os efeitos prejudiciais do repouso prolongado no leito, aumentar a autoconfiança do paciente e diminuir o custo e a permanência hospitalar. Estudos recentes indicaram que muitos dos efeitos deletérios, como a hipotensão postura!, a trombose venosa, a função pulmonar diminuída e o equilíbrio negativo de nitrogênio, podem ser minimizados simplesmente pela exposição à gravidade. 4 Outra modalidade terapêutica é a terapia por ultra-som. Mesmo não tendo sido encontrados estudos que indiquem sua aplicação na reabilitação de pacientes pós-operatórios em cirurgia cardíaca, sua utilização é bastante conhecida no tratamento de diversos tipos de lesões teciduais. Apesar de pesquisas indicarem a existência de limitadas evidências científicas comprovando a eficácia da reabilitação de pacientes por meio da utilização do ultra-som, de forma a questionar sua validade no tratamento de pessoas com dores, lesões musculoesqueléticas e cicatrização tecidual e amplitude de movimento diminuídas, 5·6 ·7 ·8 ·9 · 10 outras, por outro lado, constataram que a terapia com ultra-som proporcionou significativa aceleração dos processos envolvidos na cicatrização de ferimentos, "·' 8 na elasticidade tecidual, 13 · 19 ·20 ·21 decréscimo dos níveis de dor, 22 angiogênese, 13 ·23 reparo de lesões em tendões 20·24 ·25 ·26 .. 27 e ossos. 28 · 29 ·30 Dentre essas pesquisas, pode-se observar que a obtenção dos benefícios terapêuticos citados seguiu a utilização do ultrasom pelo seguinte protocolo: modo pulsado, 13 · 14 · 16 · 17 ·27 -30 freqüência de 0,75-1 ,O MHz, 12 · 14•17 •18 •23 ·27 ·29 ·31 intensidade de 0,5 W/cm 2 , 13 · 14· 162027 ·29 com regime de pulso de 2 ms on: 8 ms off, 13 · 14 · 16•17 ·27 tempo de aplicação durante a sessão de 5 minutos, J3.14.16.JS.2o.23.24.27.29.30 de 5 a 8 sessões semanais 13.17.18.29 e aplicação nas fases inflamatórias e proliferativas do ferimento. 13 · 17 ·29 Além disso, o mesmo protocolo foi utilizado em algumas pesquisas alterando somente a freqüência para 3 MHz. 6.12.13.16.17.1s.23.29.3o.31 Os efeitos obtidos em pesquisas comparativas indicam que o ultra-som pulsado a 3 MHz foi mais efetivo nas fases inflamatórias e proliferativas, 12 .1 3•17 •29 antes da formação do calo duro, além de cicatrizar mais rápido que na freqüência pulsada de 1 MHz. 31 Com a utilização do ultra-som pulsado a 3 MHz ocorreu aumento da síntese de colágeno pelos fibroblastos, 13 · 16 estímulo da capacidade das células U937 (macrófagos) de sintetizar e secretar fatores mitogênicos dos fibroblastos, 23 além do aumento da permeabilidade vascular nas articulações estudadas 12 e aumento do número de vasos na região equivalente do tecido de granulação dos ferimentos. 18 Em outra pesquisa foram encontrados significativos estímulos de formação óssea, 30 enquanto outra descobriu aumento do número de fibroblastos alinhados de maneira a conduzir eficiente contração do ferimento. 12 · 13 A utilização de intensidade de 0,5 W/cm 2 se caracteriza pela capacidade de atuar de modo eficaz sobre a lesão teci dual sem comprometimento de estruturas adjacentes. Entretanto, outros autores 1132 encontraram resultados semelhantes quanto ao grau de contração do ferimento com aplicação do ultrasom a intensidades de 0,1 e 0,2 W/cm 2 • Essa redução permitiu a obtenção dos resultados desejados por meio de efeitos atérmicos. Apesar dessas evidências, a maior parte da'> pesquisas analisadas baseou-se na utilização de 0,5 W/cm 2 de intensidade durante a terapia por ultra-som. Em tecidos biológicos, a ação do ultra-som sofre atenuação de acordo com o tipo de tecido tratado. Essa atenuação é maior no tecido ósseo e menor nos tecidos muscular e adiposo. Nesse sentido, a utilização do ultra-som em freqüências de 0,7-1,0 MHz consegue atingir tecidos biológicos mais profundos por sofrer menor grau de atenuação. Isso ocorre em virtude de sua propriedade física caracterizada pela menor freqüência da onda sonora. Por outro lado, freqüências de Vol. 9 No. I, 2005 Avaliação dos Níveis de Dor Após Sessões de Ultra-sonoterapia 3 MHz são indicadas para o tratamento de tecidos mais superficiais, pois sofrem maior grau de atenuação em virtude da maior freqüência da onda sonora. 13 ·33 Segundo Kloth, 13 o ultra-som a 1 MHz é utilizado para têcidos profundos, a 3-5 em da superfície da pele, já o ultrasom a 3 MHz é empregado para tecidos mais superficiais, menos de 2 em da superfície da pele. Dessa forma, o protocolo utilizado durante o tratamento deverá levar em consideração as características da lesão que o paciente apresenta, bem como a existência ou não de próteses ou outras estruturas metálicas utilizadas para auxiliar a recuperação do ferimento. Dessa forma, podemos enquadrar os pacientes esternotomizados que apresentam, durante a fase de recuperação, grampos metálicos atuantes como auxiliares no fechamento da ferida. Apesar de possuírem um ferimento profundo, esses pacientes não poderiam ser submetidos a tratamento por ultrasom a baixas freqüências (0,7-1,0 MHz) em virtude da existência de grampos metálicos. A fim de evitar o aquecimento dos mesmos, pois se localizam em torno de 2 a 3 em de profundidade, seria necessária a aplicação de freqüências mais altas (3,0 MHz), as quais não atingiriam com a mesma intensidade profundidades maiores. 13 Dentre os estudos analisados, não foram encontradas experiências que analisassem a utilização da terapia por ultra-som na reabilitação cirúrgica de pacientes de revascularização do miocárdio. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi verificar a eficácia da ultra-sonoterapia na diminuição dos níveis de dor e do tempo de internação pós-operatório, durante a reabilitação cirúrgica de pacientes de revascularização do miocárdio por meio da abordagem de esternotomia mediana. METODOLOGIA A amostra foi composta por 8 indivíduos, sendo 6 do sexo masculino e 2 do sexo feminino, com idades entre 40 e 64 anos, pacientes da enfermaria da unidade cirúrgica B do Complexo Cristo Redentor da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia. Os pacientes foram divididos em dois grupos: 4 pacientes foram submetidos à ultra-sonoterapia com o aparelho ligado (Tratamento) e 4, à ultra-sonoterapia com o aparelho desligado (Placebo). Em ambos os grupos, os indivíduos receberam 5 procedimentos de terapia ultra-sônica ao redor da cicatriz cirúrgica. O tratamento foi realizado com ultra-som pulsado a 3,0 MHz, 0,2 W/cm 2 e regime de pulso a 2 ms on: 8 ms off, durante 5 minutos por sessão, duas veze~ p()r dia. Foram excluídos desta pesquisa os pacientes com câncer, portadores de marca-passo cardíaco, gestantes e pacientes com articulações cimentadas, próteses metálicas, articulações com componentes plásticos e com tromboflebites. 13 Este projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Santa Casa de Misericórdia. Em virtude da baixa 27 freqüência de novos casos de 'pacientes que apresentem as características necessárias para inclusão neste experimento e do tempo disponibilizado pelo Comitê de Ética do hospital para a conclusão da pesquisa, justifica-se a realização deste estudo com 8 pacientes. O aparelho utilizado durante o atendimen(o dos pacientes foi o ultra-som AVATAR V da KLD Biosistemas Equipamentos Eletrônicos Ltda, com registro no Ministério da Saúde. A "Era" utilizada foi de 1,00 cm 2 , correspondendo à área do cabeçote. A taxa de não-uniformidade do feixe (BNR) foi menor que 6,00. 34 O ultra-som foi utilizado pela primeira vez na realização desta pesquisa, dois meses após sua aquisição. Sua calibração foi realizada antes da compra, pela empresa fabricante, e apresentou, para diferentes valores de potência, variação menor que 20%. Nesse procedimento foi utilizada uma balança para ultra-som de marca OHMIC modelo UPM OT1O e o resultado trata-se, de acordo com q fabricante, 4e um aperfeiçoamento técnico do mesmo modelo de ultra-som utilizado nesta pesquisa em relação a modelos ante;iores. Apesar disso, durante pesquisa cujo objetivo foi aferir a calibração de diferentes marcas de ultra-sorri vendidas no Brasil, Guirro & dos Santos 35 encontraram variação de potência acima dos 30% admitidos em modelos mais antigos dessa marca. A preocupação com a c ali bração da potência acústica dos aparelhos de ultra-som tem levantado muitos questionamentos quanto a sua eficácia, tanto no tratamento clínico como no desenvolvimento de estudos científicos.:Dessa forma, tem-se sugerido critérios mais rígidos no controle de qualidade dos equipamentos produzidos. 36 Para a coleta de dados foi r,ealizada a avaliação dos níveis de dor após o 1º, 3º e 5º procedimentos fisioterapêuticos, nas situações de repouso e de movimento, tanto para o grupo de pacientes tratado com o ultra-som ligado como para o grupo tratado com o aparelho desligado. Além disso, foi avaliado o tempo de internação hospitalar pós-operatóno pelo número de dias. A avaliação dos níveis de dor foi realizada por meio da escala de Borg para dor CR 1O. Essa escala vem sendo utilizada em diversos estudos, tanto para dor experimental em indivíduos sadios como para estudos clínicos em pacientes. Sua validade foi constatada por correlações significativas verificadas por meio de comparação com a Visual Analog Scale (VAS), 37 que é aceita como válida pela Associação Internacional para o Estudo da Dor. 37 O procedimento de avaliação utilizado consistiu na estatística descritiva para os dados de idade e resultados do questionário da escala de Borg para dor em repouso e em movimento e tempo de internação pós-operatório. Para comparação das médias foi utilizado o teste de Mann-WhitneyU (Wilcoxon W) (p < 0,05). Para a análise dos dados foi utiliZado o pacote estatístico SPSS v.s. 10.0. (SPSS Inc). 28 Coertjens, P. C. et ai. RESULTADOS A caracterização dos pacientes deste estudo foi realizada por meio de estatística descritiva da variável idade (anos), composta por média (X) e desvio-padrão (S). Tanto o grupo Tratamento (50,7 ± 10,3) como o grupo Placebo (54,0 ± 8,6) apresentaram pacientes com idades semelhantes. Na Tabela 1 encontra-se a estatística descritiva composta por média e desvio-padrão dos resultados da escala de Borg para dor nas situações repouso e movimento no 1º, 3º e 5º procedimentos de ultra-sonoterapia e do tempo de internação pós-operatório. Pode-se perceber que as médias de sensação subjetiva da dor, tanto para os pacientes do grupo Tratamento como para os do grupo Placebo, sofreram diminuição progressiva com o decorrer, dos procedimentos, quer nas situações em repouso ou em movimento. O grupo Tratamento, em comparação com o grupo Placebo, apresentou menores médias de sensação subjetiva da dor, tanto para repouso como para movimento, em todos os procedimentos. Os pacientes de ambos os grupos apresentaram, na situação de repouso, médias menores de sensação subjetiva de dor ao longo da realização dos procedimentos. Além disso, pode-se verificar que a média do tempo de internação pós-operatório do grupo Tratamento foi menor que a do grupo Placebo. Rev. bras. fisioter. O grau .de sensação subjetiva da dor entre o 1º e o 3º, entre o 3º e o 5º e entre o 1º e 5º procedimentos também ! diminuiu para ambos os grupos nas duas situações. Essa · redução foi maior no grupo Placebo que no grupo Tratamento em quase todas as situações. Isso pode ter acontecido porque os pacientes do grupo Placebo apresentaram maiores níveis de dor após o 1º procedimento . em comparação com os pacientes do grupo Tratamento. · Os pacientes de ambos os grupos apresentaram na situação em movimento maiores graus de diminuição da dor ao longo da realização dos procedimentos. Esses resultados podem. ser verificados na análise da Tabela 2. Podemos analisar na Tabela 3 os resultados dos testes de comparação de médias das variáveis idade, sensações subjetivas de dor nas situações de repouso e movimento no 1º, 3º e 5º procedimentos de ultra-sonoterapia e do tempo de internação pós-operatório. Todas as variáveis analisadas não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos (p > 0,05). Isso significa que as diferenças entre os níveis de dor relatados pelos grupos ao longo dos procedimentos de ultra-sonoterapia e nas situações de repouso e movimento não foram estatisticamente significativas. Da mesma forma, a diferença entre o tempo de internação pósoperatório não foi estatisticamente significantiva. Tabela 1. Média e desvio-padrão das variáveis: Borg em repouso no 1º, 3° e 5º procedimentos, Borg em movimento no 1º, 3º e 5º procedimentos e Tempo de internação pós-operatório (dias) para os grupos Tratamento e P1acebo. Grupo Borgem . repouso Borgem repouso Borgem repouso Borgem movimento Borgem movimento Borgem movimento 1 3 5 1 3 5 Tempo de internação .. pós-operatório 0,62+0,62 3,25 ± 1,25 2,0± 1,08 1,37 ± 0,75 6,0±0,81 Tratamento 2,0 + 1,41 1,0+1,15 Placebo 3,8 + 2,86 1,87 + 1,31 1,75 ± 2,25 5,25 ± 2,87 3,50 ± 1,91 2,75 ± 1,55 7,0 ±0,81 Total 2,9 + 2,30 1,43 + 1,23 1,18 + 1,64 4,25 ± 2,31 2,75 ± 1,64 2,06 ± 1,34 6,50 ± 0,92 Tabela 2. Grau de diminuição da sensação subjetiva de dor para os grupos Tratamento e Placebo entre o 1º, 3º e 5º procedimentos. Grupo 1o_3o Repouso 30-50 1o_5o 1o_3o Movimento 1o_5o 30-50 Tratamento 1,0 0,37 1,37 1,25 0,62 1,87 Placebo 1,95 0,12 2,07 1,75 0,75 2,5 29 Avaliação dos Níveis de Dor Após Sessões de Ultra-sonoterapia Vol. 9 No. I, 2005 Tabela 3. Teste de comparação de médias Mann-Whitney U e Wilcoxon W (p > 0,05). Teste Mann-Whitney U Idade 7,0 Borgem repouso Borgem repouso Borgem repouso Borgem movimento Borgem movimento Borgem movimento 1 3 5 1 3 5 4,0 4,0 6,0 4,5 3,5 3,0 Tempo de internação pósoperatório 3,0 17,0 14,0 14,0 16,0 14,5 13,5 13,0 13,0 -0,29 -1,18 -1,21 -0,6 -1,05 -1,31 -1,48 -1,51 0,23 0,77 Z: para localização de diferenças; 2 p: nível de significância encontrado. 0,22 0,55 0,29 0,19 0,14 0,13 Wilcoxon W z' p2 DISCUSSÃO Neste estudo, do total de 8 pacientes atendidos, 6 pertenciam ao sexo masculino e 2 ao sexo feminino. Cada grupo era formado por 3 homens e 1 mulher, totalizando 4 pacientes por grupo. A proporção entre pacientes do sexo masculino e do feminino, na amostra utilizada nesta pesquisa, foi de 3: 1, ao contrário da literatura que apresenta relações de 13: 1 e 6: 1 nas cirurgias de revascularização miocárdica. 38 A literatura aponta que os pacientes permanecem 2 dias na unidade de terapia intensiva e são liberados do hospital entre 7 e 10 dias após a cirurgia de revascularização miocárdica. 38 Em nossa pesquisa, os pacientes permaneceram, em média, 6,5 dias: 6 dias para o grupo Tratamento e 7 dias para o grupo Placebo. Portanto, não houve diferença significativa nessa variável para os grupos (p > 0,05). Os resultados sobre os níveis de dor desta pesquisa não corroboraram com as investigações que constataram a efetividade do ultra-som na diminuição dos níveis de dor em pacientes submetidos à sessão de tratamento com ultrasonoterapia. De acordo com Ebenbichler et al., 32 pacientes de um total de 61 submetidos a tratamento efetivo de ultrasom para tendinite no músculo supra-espinhoso obtiveram diminuição significativa dos níveis de dor e do quadro inflamatório em comparação com o grupo Placebo. 22 Por outro lado, os resultados sobre os níveis de dor concordam com outros estudos quanto a não efetividade do ultra-som na diminuição dos níveis de dor em pacientes submetidos à sessão de tratamento com ultra-sonoterapia. De acordo com outros pesquisadores, as evidências dos benefícios clínicos por meio de uma relação dose-resposta de ultra-sonoterapia são escassas e as poucas existentes são questionáveis. Qam & Johannsen publicaram os resultados de uma metaanálise que analisou 293 trabalhos publicados no mundo, de 1950 a 1993, sobre ultra-sonoterapia. Os pesquisadores questionam a aplicabilidade do tratamento com ultra-som em um extenso .número de diferentes patologias relacionadas a dis- túrbios musculoesqueléticos, bem como a qualidade da metodologia empregada em um grande número de estudos. Para os autores, apesar de várias pesquisas indicarem a eficiência da ultra-sonoterapia, não houve nenhuma suposta evidência ou explanação conclusiva sobre como a dor foi aliviada pelo ultra-som. 7 Bryant & Milne, juntamente com um comitê de especialistas, verificaram que, além da deficiência de evidências científicas que comprovem a efetividade do tratamento por ultra-som, há uma variabilidade muito grande na calibração desses aparelhos. Segundo os autores, isso é preocupante, visto que os custos do paciente com o tratamento fisioterápico, bem como a manutenção do aparelho são bastante expressivos. 6 Segundo van der Heijden et al., durante pesquisa com 180 pacientes que sofriam de algum tipo de patologia no ombro não foi possível verificar efeitos benéficos em favor do grupo tratado com ultra-som em comparação com o grupo Placebo. Para esses autores, não há evidências convincentes que confirmem a efetividade clínica do ultra-som. 10 Para van der Windt et al., apesar das pesquisas em tomo da eficácia da terapia por ultra-som no tratamento de epicondilite lateral merecerem mais investigações, os demais estudos pesquisados em sua meta-análise, de um total de 38, apresentam poucas evidências clínicas sobre a eficiência do método. 9 Os autores ressaltam a necessidade de direcionar pesquisas para verificar a validade de outros tipos de intervenções, possivelmente, mais promissoras. Outras revisões confirmam esses questionamentos. Baker et al. salientam que não foram observadas diferenças significativas entre os grupos que sofreram efetiva intervenção por ultra-som em comparação com os grupos Placebo. Os autores concluíram ser improvável que os efeitos biofísicos da terapia por ultra-som sejam benéficos. Essa conclusão é baseada na ausência de razões biológicas para o uso desse tipo de terapia. 5 Robertson & Baker alertam para a importância de verificar a metodologia aplicada em pesquisas destinadas ao estudo dos efeitos clínicos da terapia por ultra-som. Os autores 30 Coertjens, P. C. et ai, revisaram publicações em língua inglesa de 1975 a 1999, perfazendo um total de 35 artigos. A partir desse trabalho, poucos estudos foram considerados satisfatórios em relação à metodologia empregada. 8 Dos benefícios clínicos atingidos, poucos foram considerados efetivos. Os autores sugerem, para futuras pesquisas, a identificação de problemas clínicos para os quais a terapia por ultra-som seja realmente efetiva. Além do estabelecimento de protocolos e métodos padronizados para assegurar a potência de todos os equipamentos de ultra-som utilizados. Dessa forma, será possível indicar com mais consistência, por meio de metaanálises em vez de revisões sistemáticas, a extensão dos efeitos do ultra-som em condições padronizadas. Por fim, os resultados alcançados nesta pesquisa permitem as seguintes considerações: a) foram verificadas alterações nas variáveis níveis de dor e tempo de in:ttbrnação hospitalar entre os grupos Tratamento e Piacebo; b) o~ níveis de dor e tempo de internação hospitalar· não ·foram significativos entre os grupos. Apesar de não 'serem significativas, essas diferenças sugerem relativa dimiimição nos custos hospitalares, assim como aumento na qualidade de vida dos pacientes esternotomizados em processo de recuperação. Dessa forma, parece importante para futuros estudos verificar a eficácia do ultra-som por meio de pesquisa composta por pacientes que realizaram cirurgia de revascularização do miocárdio, avaliando não somente os níveis de dor e o tempo de internação hospitalar, mas, também, a amplitude de movimento e a evolução cicatricial. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 9. Rev. bras. fisioter. van der Windt DA, van der Heijden 01, van den Berg SG, ter Riet G, de Winter A, Bouter L. Ultrasound therapy for musculoskeletal disorders: a systematic review. Pain 1999; 81: 257-271. 10. van der Heijden GJMG, Leffers P, Wo1ters PJMC, Verheijden JJD, van Mameren H, Houben JP, et ai. No effect of bipo1ar interferentia1 electrotherapy and pulsed ultrasoud for soft tissue shou1der disorders: a randomised controlled trial. Ann Rheum Dis 1999; 58: 530-540. 11. Dyson M, Franks C, Suckling J. Stimulation of healing of varicose ulcers by ultrasound. Ultrasonics 1976; 14(5): 232236. 12. Fyfe MC, Chahl LA. 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