A ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE GUARATINGUETÁ Por volta de 1630, antes mesmo de ser conhecida como Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá, alguns personagens deram vida a este cenário histórico: “índios, ouros, caminhos, descaminhos, pratas, tropas e tropeiros, mascates, cana, café, leite, indústrias e, acima de tudo, muito tino comercial”. (MAIA, 1995, p 11). Quando Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá a economia era de subsistência e dispunha de um comércio muito primitivo, que fazia vendas de beira de estrada.”Era nesses estabelecimentos que os viajantes se dirigiam para as minas, ou para o porto de Paraty, com destino ao Rio de Janeiro, ou para São Paulo e para outras Vilas Valeparaibanas”. (MAIA, 1995, p 11). O comércio da época consistia na troca, e, mais tarde, ampliou-se com a criação de porcos e com a plantação de algodão. Com o encontro do ouro em Minas Gerais, a quantidade de metal que passou por Guaratinguetá foi grande a ponto de tornar necessária a construção de uma Casa de Fundição de Ouro. Este período enriqueceu a cidade favorecendo o comércio estrangeiro, surgindo a presença do mascate que levaria as novidades da metrópole às regiões mais afastadas. Porém, “o comércio urbano tinha uma vida intermitente. Os moradores, com suas atividades nas fazendas, somente vinham à vila nos domingos e feriados, seja para o culto religioso, seja para o comércio de seus produtos. Era assim. Aos domingos que se realizavam as feiras e se abriam as bem sortidas casas comerciantes. Os canaviais, entretanto, logo foram suplantados pelos cafezais À medida que os fazendeiros iam conseguindo bons lucros com a colheita do café, crescia o intercâmbio entre Guaratinguetá e a Corte do Rio de Janeiro, o que se traduzia em novos elementos de Cultura, melhores formas de vida e em um maior desenvolvimento comercial.” (MAIA, 1995, p 14). Porém, o comércio ainda dispunha de rudimentares meios de transporte, que dificultavam e prolongavam os percursos. Como solução proposta pelo próprio Império, que na época tinha a visão empreendedora, inauguram-se os caminhos de ferro ligando o Vale do Paraíba à Corte do Rio de Janeiro e a São Paulo. A partir das décadas de 1860 e 1870, a economia cafeeira passou por grandes transformações que estabeleceram as novas relações de mercado e produção. É neste cenário de transformações provocadas pelo desenvolvimento, pela crise do café, pela substituição do trabalho escravo pelo trabalho assalariado e expansão das estradas de ferro, que o período cria condições para subsidiar e estruturar o inicio primitivo de uma industrialização no Brasil. Neste período a produção de café se destaca em números que se aproximam dos 3 milhões de sacas, em média, por ano. Já em meados de 1870 e 1880 a produção média anual ultrapassa a 5 milhões de sacas, fortalecendo a economia cafeeira e tornando-a responsável pelo desenvolvimento capitalista no país. É neste palco que o vale do Paraíba por suas condições climáticas, pelo regi-me de chuvas e solo rico, vai experimentar a produção intensiva. Em julho de 1877 inauguram-se as Estações de Aparecida e de Guaratinguetá e o progresso se apresenta como resultado de toda a luta motivada pelos moradores para a viabilização das Estações, sendo a concretização delas motivo para aqueles que se mobilizaram receber títulos honorários. Na Inauguração da Estação de Guaratinguetá presenças ilustres como: “O Visconde de Guaratinguetá, um dos maiores colaboradores na construção da estrada, se integraria à comitiva governamental ocupando 14 cargos especiais, encabeçada pelo Conde D’Eu, por onde passa-riam as mais ilustres personalidades do país, - entre elas Dom Pedro II, Princesa Isabel, Baronesa de Loreto, Baronesa de Frontin, Barão Homem de Mello, Visconde do Rio Branco, Conde de Iguassu, Rui Barbosa, Conselheiro e Presidente Francisco de Paula Rodrigues Alves, Maria Augusta filha do Visconde”. (Revista A Cidade: Guaratinguetá. Lorena, HL2. Ed. e publicidade, out. 2000. Nº 19, p4). Em Guaratinguetá, com a estação de ferro, a expansão do café acompanha a policultura, e o açúcar protagoniza esse conflito. Porém, com a instabilidade apresentada em determinado momento, o café apresentase como oportunidade de estabilizar novamente a economia que vinha se desenvolvendo. A estabilidade prometida acontece em 1885. O desenvolvimento cafeeiro só foi atingido com as estradas de ferro, uma vez que as antigas tropas de mulas não conseguiriam escoar uma grande produção em um tempo favorável e, principalmente, chegar às divisas mais distantes. Com as estradas de ferro, as plantações deixam de ser esmagadas pela impossibilidade de escoamento e prometem realizar desejos e atender necessidades apresentadas pelas novidades e luxos que a corte apresentava no Rio de Janeiro e que passariam a ser adotados no vale. Do Rio de Janeiro e de São Paulo vinham produtos de luxo, objetos, móveis, jornais, revistas, gêneros de primeira necessidade que enriqueceram o comércio da cidade e tornaram a Estação de Guaratinguetá um marco no progresso, na comunicação social e cultural e na economia local, transformando toda a população. “Aproximadamente em 1913, quando Dr André Gustavo Paulo de Frontin, então diretor da estrada de Ferro Central do Brasil, se encontrava em Guaratinguetá, acompanhando a esposa Condessa de Frontin, ao voltar ao antigo prédio da Estação, a fim de tomar o trem de regresso ao Rio, é recebido por dois representantes do governo municipal: Pedro Marcondes Leite, governador da cidade e Comendador Antônio Rodrigues Alves, presidente da Câmara, ali presentes em consideração à chegada do ilustre homem público, engenheiro competente que abasteceu a cidade do Rio de Janeiro com água potável no tempo recorde de 6 dias. Desse providencial encontro resultaria a construção do atual prédio da Estação, em virtude das queixas do Comendador quanto ao estado lastimável do prédio em que se encontrava, inaugurado no ano de 1877.” (Revista A Cidade: Guaratinguetá. Lorena, HL2. ed. e publicidade, out. 2000. nº 19, p. 4) Com a estação permanecendo em estado de calamidade e sendo pequena para o movimento trazido pelo trem, torna-se necessária a construção de uma nova estação, que foi erigida pelo Engenheiro Paulo de Frontin e inaugurada em 1914, que estabelece um acordo. Acordo este que “a prefeitura prolongaria a Rua Dr. Martiniano, da Estação até a Matriz de Santo Antônio, enquanto a rede ferroviária ergueria o novo prédio. Em 1º de novembro de 1914, com muitas festas e presença de numerosas autoridades do Estado e da localidade, houve a inauguração do novo prédio, conforme nos informam a Ata de inauguração e os jornais da época. Erguida em estilo inglês do século XIX, a nova Estação possuía requintada decoração interior, com sala de espera com mobília vitoriana, relógio de parede e finas alfaias. Foi este o cenário que recebeu e embarcou inúmeras personalidades ilustres. Até 1950 a Estação continuava como principal centro de embarque e transporte de Guaratinguetá. “Com a inauguração da Rodovia Presidente Dutra, a estação e seus trens vão perdendo posição de centro de transporte e de encontro”.(Pasta do Arquivo do Museu Frei Galvão) Em 18 de dezembro de 1982, o prédio é tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT), como meio de reconhecer o valor histórico atribuído por um papel social e cultural na dinamização da economia cafeeira do Vale do Paraíba. Já em 1996, a Estação é desativada pela Rede Ferroviária Federal SA (RFFS A), deixando de ser utilizada pela MRS e, desde então, os prefeitos da cidade vinham tentando propostas para restaurar o prédio e utilizá-lo. Porém, ainda em 1999, nada havia sido feito, até que a RFF coloca o prédio e os armazéns à venda. Mas só em 04 de junho de 2002 que a prefeitura da cidade de Guaratinguetá efetua a compra. E cinco anos depois, somente em 2006, com “o projeto da Secretaria de Planejamento e Coordenação da Prefeitura, contempla a instalação de novas estruturas hidráulicas e elétricas, pintura, troca de piso, alvenaria, adaptações físicas de salas, construção de acessos para pessoas com deficiência e instalação de refrigeração, além do trabalho artístico de restauração do aspecto físico. No final de 2007, foram concluídas as obras de restauração da estrutura do telhado, incluindo forros, as calhas e condutores. Toda a obra foi executada com recursos da prefeitura, que também realizou as adaptações necessárias para adequar o prédio, para que nele funcionasse um Centro de Capacitação de Professores da Rede Municipal de Ensino, além das salas de exposições que serão abertas ao público. No dia da entrega das obras concluídas, foi realizada no prédio, uma exposição de fotos antigas da estação e da ferrovia, além de uma mostra de objetos como ânforas, tijolos, condutores de água e luz, dentre outros que faziam parte da estação, que sem condições de recuperação, foram retirados e substituídos por outros semelhantes no decorrer das obras de restauro”. (Associação Nacional de Preservação Ferroviária) A entrega referida foi feita em maio de 2008, e, a partir dessa data, a visitação pode ser feita de segunda a sexta das 14:00 às 17:00 h e aos sábados das 12:00 às 17:00 h. Desde dezembro de 2011, passa por uma segunda revitalização para que possa atender as necessidades da comunidade. REFERÊNCIAS CORREA, Maria Luciene; O Comércio de Guaratinguetá, Trabalho de Conclusão de Curso, Centro Unisal – Lorena, 2006. MAIA, Tereza Regina Camargo; Maia, Tom. Memórias do Comércio de Guaratinguetá, 1995. PASTA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE GUARATINGUETA. Museu Frei Galvão – Arquivo Memória de Guaratinguetá – Centro Social de Guaratinguetá – Praça Conselheiro Rodrigues Alves nº 48 - 2º andar www.casadefreigalvao. com.br – [email protected]. br SANTOS, Sandra Cristina dos; Esta-ção Ferroviária de Guaratinguetá, Traba-lho de Conclusão de Curso, Centro UNI-SAL – Lorena, 2005. STOLLAR, Vanessa. Vale de Ferro: Estudo Histórico e Estético das Esta-ções Ferroviárias do Vale do Paraíba Paulista, Dissertação de Mestrado em Artes, Universidade Estadual Paulista Julio Mesquita Filho – São Paulo, 2010. Jenyfer Ramos é graduada em História e fotógrafa.