EVIDÊNCIAS DE UM MECANISMO MECANOQUÍMICO NA TRIBOELETRIZAÇÃO DE ISOLANTES Autores: Lia Beraldo da Silveira Balestrin1 e Fernando Galembeck1,2 Afiliações: 1Instituto de Química, Unicamp, CP 6154, Campinas - SP, 13083970 2 Laboratório Nacional de Nanotecnologia e Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, Campinas - SP, 13083-970 INTRODUÇÃO Os experimentos de eletrização por contato são conhecidos pela baixa reprodutibilidade. [1] Um fato pouco conhecido é a eletrização nãohomogênea de superfícies isolantes, apresentando descontinuidades no padrão elétrico. [2] A carga de um material em um experimento de triboeletrização pode ser prevista através de séries triboelétricas. Porém, tais séries são empíricas e não são acompanhadas por dados quantitativos que possibilitem o desenvolvimento de uma teoria. [3] Além disso, a literatura relata eletrização de materiais idênticos, o que não é previsto por séries triboelétricas. [4] Este trabalho tem como finalidade principal a investigação e o aprofundamento no conhecimento do mecanismo de eletrização de superfícies, especialmente de sólidos isolantes, como polímeros. MÉTODOS Filmes de PEAD e PTFE (5 x 5 cm²) foram colocados em um porta-amostra metálico sobre uma balança e então atritados com tarugos (Ø = 1,12 cm) de PTFE ou PEAD e espuma (Ø = 1,5 cm) de PEBD, fixados ao mandril de uma microfuradeira a 5000 rpm, por 3s e com pressão controlada pela massa aferida por uma balança semi-analítica (AM 5500 Automarte, resolução de 10 mg). Em seguida, foi realizado o mapeamento do potencial através de um eletrodo de Kelvin com limite de detecção de ± 3300 V e resolução espacial de 9 mm² conectado a um voltímetro (modelo 347, Trek Inc.). A análise por microscopia eletrônica de varredura foi feita com amostras recobertas com Au-Pd ou C em um metalizador MCS 010, Bal-Tec, utilizando o microscópio JEOL LV-JSM 6360 em modos SEI, BEI e EDS. Potencial de aceleração: 15 kV. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 1 mostra mapas de potencial elétrico da superfície de polímeros que foram triboeletrizados. (a) (b) (c) (d) Figura 1. Mapas de potencial elétrico de (a) placa de PTFE atritada com (b) espuma de PEBD. Nos dois casos formam-se regiões positivas (na escala de cor, claras) e negativas (escuras). Mapas de potencial elétrico de (c) placas de PTFE atritadas com tarugos de PTFE e de (d) placas de PEAD atritadas com tarugos de PEAD. Nos mapas, as circunferências em laranja delimitam a região de contato. As figuras 1 (a) e 1 (b) indicam a formação de domínios positivos e negativos em uma superfície triboeletrizada, diferentemente do comumente esperado por séries triboelétricas, em que um material deveria ficar positivo e o outro negativo. Entretanto, a carga líquida em cada um dos materiais está de acordo com o previsto pela série triboelétrica. Já as figuras 1 (c) e 1 (d) mostram a eletrização de materiais idênticos. A hipótese de Grzybowski [4] para esse fato inesperado é congruente com um modelo de eletrização por contato devido a pequenas, porém inerentes, flutuação da composição química das superfícies. A composição química do tarugo de PEAD triboeletrizado com uma placa de PTFE foi determinada por EDS/SEM, através do método de pontos (Figura 2). Figura 2. Micrografia de um tarugo de PEAD atritado com um filme de PTFE no modo BEI (esquerda) e composição atômica de diferentes regiões do PEAD triboeletrizado (direita). A análise de pontos mostrou que as regiões 1 e 2 são ricas em nitrogênio e oxigênio. Como nenhum dos polímeros utilizados possuem O ou N em sua composição, a origem de tais elementos só pode ser atmosférica, ocorrendo, sob campos elétricos elevados, a formação de um triboplasma [5]. Já as demais áreas são ricas em F, caracterizando um mecanismo de eletrização que envolve a transferência de fragmentos poliméricos carregados, que surgem em reações mecanoquímicas durante o atrito das duas superfícies. [3] AGRADECIMENTOS CNPq, FAPESP e INOMAT (Instituto Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Materiais Complexos Funcionais) ____________________ REFERÊNCIAS [1] Diaz A. F.; Felix-Navarro R. M. J. Electrostat., 62, 277, 2004; [2] C. A. Rezende, R. F. Gouveia, M. A. Silva e F. Galembeck, J. Phys.: Condens Matter, 21, 263002, 2009; [3] Burgo,T. A. L.; Ducati, T. R. D.; Francisco, K. R.; Clinckspoor, K. J.; Galembeck, F.; Galembeck e S. E. Langmuir, 28, 7407, 2012; [4] H. T. Baytekin, A. Z. Patashinski, M. Branicicki, B. Baytekin, S. Soh e B. A. Grzybowski. Science, 333, 308, 2011; [5] Heinicke, G.; Tribochemistry, Hanser, Munich.