na pegada! | música Um novo Da Ghama Depois de mais de 20 anos de sucesso com o grupo Cidade Negra, guitarrista se vê ‘desplugado’ e pronto para novos desafios em carreira solo por André Rezende | fotos rafael cusato Violas e Canções é o primeiro trabalho solo do ex-guitarrista do Cidade Negra. Nele, Da Ghama traz uma nova sonoridade sem, no entanto, abandonar o reggae, ritmo de grande importância em sua formação musical. Mas é o ecletismo de Violas e Canções que chama a atenção. Além do reggae, o agora também intérprete desfila uma seleção de samba e MPB, numa grande homenagem às suas origens. Neste bate-papo sobre a nova fase profissional, Da Ghama fala também de sua saída do Cidade Negra e a volta da formação original do grupo, com Toni Garrido como vocalista. “Eu não fui chamado!” 28 | RAÇA BRASIL O que os fãs podem esperar deste “novo Da Ghama” em carreira solo? Além do bom reggae, vou apresentar aos fãs canções com uma estética MPB e a minha estreia como intérprete. Basicamente, Violas e Canções segue um ritmo mais acústico e intimista, como sugere o nome do trabalho. Como você, acostumado com guitarras elétricas e distorções, analisa este momento da carreira? É difícil se “desplugar”? Com certeza! Sinto saudade das distorções e da guitarra com um som visceral, mas confesso que estou curtindo muito esse momento dos violões, porque, na verdade, é a minha raiz musical. Depois de uns seis anos tocando violão, é que eu comecei a me relacionar com a guitarra, na época em que uni a rapaziada para formar o grupo Novo Tempo, que depois virou Lumiar e, hoje, é o Cidade Negra. Violas e Canções é uma homenagem da fase adolescente, quando a gente se encontrava pelas esquinas de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, para bater uma viola. De onde vem o ecletismo presente no repertório do CD? Quais foram suas influências musicais? O ecletismo é uma influência direta que sofri em casa, por fazer parte de uma família de cinco irmãos, e eu, o caçula, absorvia tudo o que os meus irmãos curtiam, desde o samba à soul music dos anos 70, e a nossa mãe, a MPB. O reggae veio mais tarde, através do movimento afro, que me aproximei já no início da idade adulta. Minhas influências são Gilberto e outros mestres, como Djavan, Tim Maia, Emílio Santiago, Banda BlackRio, Jorge Ben Jor, Marcos Valle e Bob Marley. difícil a continuidade por uma questão de falta respeito que acho que faltou com uma pessoa que vinha guerreando desde os tempos da Baixada Fluminense. O meu projeto era um conceito musical que não competia com a banda, que estava parada, seria uma maneira de estar trabalhando. Qualquer um poderia fazer um projeto paralelo. O Titãs é um bom exemplo: quem resolveu fazer solo, fez e continuou na banda. Tudo certo! Quem resolveu sair por livre e espontânea vontade, saiu e continua a sua carreira. Faltou um pouco de maturidade e segurança dos companheiros. Na real, não tinha necessidade de chegar aonde chegou, mas a vida continua e vamos aprendendo. Torço pelo sucesso de todos. Atualmente, como é a sua relação com os outros membros da banda, que terá a volta de Toni Garrido? Não temos feito contato, acho uma pena, porque antes de negócio ou vaidade, não podemos negar o que existe em cada um do nós, temos uma história muito séria. Hoje, somos grandes referências na nossa região. Para a galera, fica um pouco difícil absorver, mas não é a primeira banda em que acontece uma ruptura e não ligarem, será a última. Faz parte do movimento. Se me poderemos conversar e por a vida em dia, mas se não ligarem, entendo e, automaticamente, fica claro que não existe interesse da formação original” Sobre o Cidade Negra Você foi chamado para este novo projeto do Cidade Negra? Eu não fui chamado, soube da volta do Toni através de uma entrevista dele para a MPB FM, no Rio de Janeiro. Eles estavam se encontrando e preparando o retorno do Toni para o final de 2010 e um novo CD. Se me ligarem, poderemos conversar e pôr a vida em dia, mas se não ligarem, entendo e, automaticamente, fica claro que não existe interesse da formação original. Vivemos em uma democracia e temos que respeitar a decisão da maioria e ver o que é de direito para todos. E segue o baile... Em sua opinião, o que tem de verdadeiro nas bandas de reggae brasileiras, atualmente? E nos fãs? A verdade que eu vejo nas bandas de hoje é simplesmente a influência musical do gênero, e não seguidores da filosofia reggae. Consigo ver em algumas bandas e artistas solos alguma atitude rastafári, mas não reais seguidores. Até gostaria de conhecer algum no Brasil. Quanto aos fãs, acredito que alguns estão ligados no aspecto político e espiritual que o reggae se propõe, mas existem aqueles que se relacionam simplesmente por uma questão de moda. Nos shows, você apresenta parte do repertório do Cidade Negra (com muitos sucessos de sua autoria) ou prefere seguir em frente com novas concepções musicais e não associar seu novo trabalho à antiga banda? O meu show é a cara o meu novo CD: canto Bob Marley e músicas de algumas bandas que fazem parte do reggae nacional. Sempre tive muito cuidado pra não ficar em cima do repertório do Cidade Negra, mas também cuidando para não negar a minha história de sucesso dentro da banda ao longo desses anos. Como um dos fundadores do Cidade Negra, o que o levou a se desligar da banda e seguir em carreira solo? Problemas com os outros integrantes ou vaidade mesmo? Após dois meses da saída do Toni Garrido, o Bino e o Lazão me chamaram para uma reunião, em que eles fizeram uma exigência para eu parar com o meu projeto paralelo e retirar o site do ar ou estaria fora da banda. Para mim seria muito Como está a recepção ao Da Ghama solo no cenário musical (fãs, mídias, shows...) Acredito que, como o primeiro projeto e diante dessa incrível crise do CD, está indo muito bem, segundo a Microservice, que distribui o meu CD. Mas sei que tenho muita pedra para quebrar. Faz parte do processo e desafio nos realimenta, nos impulsiona pra vida e pra renovação. WWW.RACABRASIL.COM.BR RAÇA BRASIL | 29