A EDUCAÇÃO TÉCNICA E TECNOLÓGICA FRENTE AO AQUECIMENTO DO MERCADO DE TRABALHO E A ERA DO PLENO EMPREGO Vanessa Barcelos Rodrigues RESUMO: O presente artigo pretende refletir sobre as mudanças que estão ocorrendo no mercado de trabalho e que têm remetido para novas e complexas questões. O Brasil registrou crescimento econômico de 45% nos últimos 10 anos, do mesmo modo como a taxa de desemprego vem caindo gradativamente. Hoje, temos uma das menores taxas de desocupação já registradas e isso nos coloca em uma situação muito próxima do pleno emprego.Há também cada vez mais postos de trabalho sendo criados para cargos nos níveis de operação e produção. São posições para profissionais técnicos de nível médio e de nível superior. O grande desafio vivido por parte das organizações está na captação e formação destes profissionais, já que as instituições escolares não conseguem ofertar mão de obra qualificada na quantidade que o mercado demanda. É neste sentido que este trabalho se insere, buscando analisar a formação de profissionais técnicos e tecnólogos pelas escolas e universidades, a inserção destes no mercado de trabalho, e o que as organizações têm feito frente a esta escassez para formar e capacitar seu quadro de recursos humanos. Os resultados da pesquisa de uma forma geral confirmam a alta demanda do mercado de trabalho por profissionais técnicos e tecnólogos capacitados e a dificuldade das escolas e instituições de ensino em acompanhar esta aceleração e formar em quantidade e qualidade estes profissionais. A pesquisa revela também um movimento por parte de Governo e Organizações em busca de formar e preparar pessoas, buscando soluções que incentivam e valorizam a formação técnica e tecnológica. PALAVRAS-CHAVE: Educação técnica e tecnológica; Mercado de trabalho; Pleno emprego. 1 1. INTRODUÇÃO O crescimento econômico do Brasil nos últimos anos revela que o país vem se desenvolvendo e que rompeu um ciclo de estagnação que marcou a economia por muito tempo. Os dados estatísticos do país têm evoluído ao compararmos com seus próprios números na história, pois ao confrontarmos os resultados com países de economias desenvolvidas constatamos que temos ainda muito a evoluir. A China, por exemplo, em 2012 registra um crescimento econômico de 160%, enquanto o do Brasil foi de 45%. Crescemos, mas ainda não lideramos nada (Estado de S. Paulo. Maio/2012). O bom resultado da economia impacta diretamente a geração de postos de trabalho. Presenciamos um cenário com um índice de desemprego como nunca se teve na história, a média da taxa está em 5.8% (IBGE – Janeiro à Maio/ 2012). Vivemos o que alguns analistas chamam de Pleno Emprego, e embora a questão não seja consensual é evidente o crescimento de ofertas de trabalho quando analisamos os dados de Pesquisa do IBGE, principal fonte que mede o percentual de desemprego no país desde 2002. Ano 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Média Anual 12.6% 12.3% 11.4% 9.8% 9.9% 9.3% 7.8% 8.1% 6.7% 6.0% 5.8% Tabela 1 - Taxa de desocupação no Brasil (%): Fonte: Dados da pesquisa Mensal do emprego disponíveis no site oficial do IBGE, 2012. 2 Todas essas boas notícias têm sido recebidas com um misto de satisfação e ansiedade por parte dos empregadores, o que revela um grande desafio enfrentado pelas organizações. As escolas, faculdades e universidades brasileiras formarão nos próximos anos um número insuficiente de profissionais para atender o ritmo de crescimento do país. “As faculdades brasileiras formarão cerca de 800.000 profissionais anualmente nos próximos cinco anos, número de cérebros insuficiente para atender o ritmo de crescimento do país” (Você/SA. Dezembro, 2010). Há uma forte demanda por profissionais de áreas diversas, mas há cada vez mais postos de trabalho sendo criados para profissionais com cargos técnicos e especialistas. Trata-se de vagas de níveis de operação e produção. Um dos motivos que podemos justificar a procura pelos técnicos no Brasil é o resultado da especialização do mercado, que exige profissionais com conhecimento profundo e específico, e da expansão de setores em que esta qualificação é essencial, como é o caso das mineradoras, por exemplo, que se encontram em contínuo crescimento nos últimos anos: “O superaquecimento do mercado está provocando uma briga quente entre mineradoras e siderúrgicas por profissionais do setor. Para atender à demanda em ebulição, as empresas têm investido na construção de novas plantas, usinas de pelotização e até de minerodutos em Minas Gerais e no Brasil. O problema é que falta gente qualificada para trabalhar.” Diário Comércio Indústria e Serviços. Julho 2008. Nos anos 1980 e, sobretudo durante a recessão econômica dos anos 1990, a formação de técnicos foi pouco enfatizada pelas empresas e governos, e um dos motivos era a baixa taxa de empregabilidade que eles tinham naquela época. Observa-se também que a mudança deste quadro cresce frequentemente, e a demanda reprimida por profissionais com formação técnica e tecnológica tem impulsionado uma onda de investimentos em escolas e centros de formação por todo o país. A necessidade de conhecimentos específicos nas organizações tem valorizado cada vez mais esses profissionais. 3 O Governo Federal em Outubro/2011 criou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), como objetivo principal de expandir e interiorizar a oferta de cursos de Educação Profissional e Tecnológica. Considerando o aquecimento do mercado, o projeto pode acelerar a formação de mão de obra e apoiar no atendimento das ofertas de vagas. De outro lado, organizações investem em incentivo e subsídio de formação técnica e tecnológica ao seu quadro de funcionários, através de Universidades Corporativas e/ou convênios com escolas e faculdades, buscando assim preparar e desenvolver pessoas para assumir oportunidades de trabalho atuais e futuras. Esse artigo foi construído a partir da leitura bibliográfica de autores que discutem historicamente o ensino técnico e tecnológico no Brasil, da análise de dados estatísticos sobre empregabilidade e perspectivas de trabalho, e como estes profissionais se inserem no mercado com todas as mudanças e evoluções sofridas. 2. A formação de técnicos e tecnólogos no Brasil A legislação brasileira clarifica a definição dos termos, no sentido legal, para os cursos e programas de Educação Profissional, através da Resolução CNE/CEB n.º 1, de 3 de fevereiro de 2005: Art. 3° A nomenclatura dos cursos e programas de Educação Profissional passará a ser atualizada nos seguintes termos: I. ‘Educação Profissional de nível básico’ passa a denominar-se ‘formação inicial e continuada de trabalhadores’; II. ‘Educação Profissional de nível técnico’ passa a denominar-se ‘Educação Profissional Técnica de nível médio’; III. ‘Educação Profissional de nível tecnológico’ passa a denominar-se ‘Educação Profissional Tecnológica, de graduação e de pós graduação’. (Brasil, 2005, p.01) A educação técnica no Brasil é voltada para estudantes do ensino médio ou para quem já concluiu esta formação, e é classificado como um nível intermediário entre o ensino médio 4 e o ensino superior. A partir da década de 1990 sofreu grandes transformações, já que historicamente esteve associado à formação geral e se destinava a alunos que tivessem concluído o ensino fundamental e que optavam por se profissionalizar no nível médio. Esses cursos técnicos médios, com duração de 3 ou 4 anos, conferiam aos concluintes o diploma de técnico de nível médio e permitiam que o jovem diplomado pudesse continuar os estudos em nível superior. No entanto, em 1997, a reforma do ensino técnico federal alterou esse nível de formação. Todos os sistemas (federal, estaduais e privados) passaram a oferecer apenas o ensino técnico modular, excluindo-se desses módulos as disciplinas de formação geral. O diploma do técnico de nível médio só é concedido a quem termina o ensino médio regular (que pode ser cursado antes, depois ou concomitantemente ao ensino técnico modular). O objetivo claro dessa reforma foi flexibilizar a formação técnica de nível médio, aproximando-a das necessidades mais imediatas da produção. A partir de 2004, por decisão do governo federal, cada sistema (federal, estadual ou privado) pôde então optar por oferecer o ensino técnico integrado ao ensino médio ou continuar oferecendo apenas ensino técnico modular (Zibas, 2006). Um levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), e publicado com exclusividade na Folha de São Paulo (Agosto/2012) demonstra a valorização crescente de profissionais de nível técnico. Segundo a Folha, o levantamento identificou as vinte e uma profissões técnicas mais valorizadas do Brasil. Destacam-se os cursos de manutenção em aeronaves, mineração, mecatrônica, construção civil e petróleo e gás, entre outros. A pesquisa evidencia salários pagos aos profissionais de nível técnico extremamente competitivos e afirma que conta a favor da formação técnica também a possibilidade de entrar mais cedo no mercado de trabalho, onde o aluno faz um curso técnico em 18 a 24 meses. Já na faculdade, o prazo, em geral, é de quatro anos. Falando dos cursos superiores de Tecnologia ou Tecnológicos, eles começaram a surgir no Brasil no final da década de 1960, e embora não tenham se tornado tão populares pelos estudantes e empresas naquela época, foi em meados da década de 1990 que a demanda e popularidade por estes cursos cresceram. Segundo informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o número de concluintes de cursos tecnólogos vem dando saltos a cada ano. Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 5 Total de concluintes Cursos tecnólogos 10.835 11.629 12.673 16.601 26.240 40.704 54.379 70.666 85.794 104.726 111.596 Tabela 2 – Concluintes Cursos Superiores Tecnólogos - Brasil Fonte: INEP, 2012. Elaboração própria A designação atual da profissão foi estabelecida pelo Decreto 2.208 de 17 de abril de 1997 (revogado pelo Decreto 5.154 de 23 de julho de 2004). Criado pelo MEC com o intuito de aprimorar e fortalecer os cursos de Tecnologia em 2010, o Catálogo de Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia, regulamenta e orienta mais de 110 cursos tecnológicos no Brasil. A proposta dos cursos tecnológicos é oferecer opções para os profissionais que buscam uma formação superior com um tempo de duração mais curto do que é oferecido normalmente em cursos superiores de licenciatura ou bacharelado. Além disso, o intuito é que cursos tecnólogos ofereçam uma formação específica para o mercado de trabalho, enquanto o bacharelado ou licenciatura conferem uma formação mais abrangente. O número de cursos superiores de tecnologia cresceu 96,67% entre 2004 e 2006, passando de 1.804 para 3.548 em todo o país, segundo dados do Ministério da Educação. Só no Estado de São Paulo, de 1998 a 2004, a quantidade de alunos ingressantes nas graduações tecnológicas aumentou 395%, de acordo com o Censo Nacional da Educação Superior (2010) realizado pelo Inep. Uma das grandes características dos cursos tecnólogos é da necessidade de estarem sempre em sintonia com o mercado. Eles são criados para atender às demandas atuais de trabalho, e estas vão mudando com grande velocidade ao longo dos anos. O perfil clássico de alunos dos cursos tecnólogos era de pessoas que já estavam no mercado e pensavam em fazer um curso superior porque não haviam concluído a faculdade ou mesmo nunca haviam tido a oportunidade de começar uma graduação. Observa-se, porém uma mudança no perfil dos alunos, que vem acompanhando também alterações de cenário de mercado. “O mercado se tornou mais dinâmico. Passamos por um processo de especialização das profissões e de diversificação das áreas. Não se pensava em um profissional de design de multimídia e hoje ele existe. Diversificaram-se, assim, as opções de trabalho. Isso tem permitido que egressos desses cursos encontrem seu espaço no mercado, que é dinâmico e tem lugar para profissionais de diferentes formações”. (Ensino Superior, 2007) 6 Observa-se então uma diversificação de público destes cursos. Alunos com o perfil descrito acima continuam a procurar os cursos superiores de tecnologia. Mas agora eles têm a companhia de outros grupos. Dados do Relatório Anual do Serviço Nacional da Indústria (SENAI) (2010), um dos maiores complexos educacionais do país, evidencia o crescimento das matrículas em cursos de nível técnico e graduação, os cursos tecnológicos, a partir de 2007, conforme o gráfico abaixo: Gráfico 1 – Crescimento das matrículas em cursos de nível técnico e graduação, os cursos tecnológicos Fonte: Dados do Relatório Anual do SENAI em 2010 3. A era do pleno emprego Assim como já confirmado, o emprego no Brasil está crescendo de forma quantitativa e qualitativa. Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) realiza considerações sobre a situação do Pleno Emprego no Brasil. De forma geral, o IPEA 7 considera que o Brasil ainda não vive uma situação de pleno emprego, apesar do notório crescimento das ofertas de trabalho e do declínio dos índices de desemprego apontados pelas pesquisas mensais do IBGE. O IPEA sinaliza principalmente a realidade brasileira de empregos informais, pessoas subocupadas e rendimentos médios ainda baixos, o que segundo a pesquisa não condiz com uma situação de pleno emprego. Para o IPEA, “o conceito de pleno emprego está ligado à utilização máxima dos fatores de produção, capital e trabalho, em uma situação de equilíbrio entre a oferta e a demanda por estes insumos”. O estudo do IPEA não ignora o declínio do índice de desemprego, e enfatiza os dados evidenciados abaixo no gráfico 2. Porém afirma que para medir a evolução do desemprego é preciso analisá-lo em todas as suas dimensões, ou seja, considerando empregos formais e informais. Gráfico 2 – Taxa de desocupação Fonte: IBGE/PME. Elaboração: IPEA/ DIMAC/GAP, 2012. 8 Uma notícia publicada no Jornal O Globo (2012) destaca um indicativo do último Censo (2010). Segundo a reportagem aponta, 20% das cidades brasileiras atingiram o que especialistas chamam tecnicamente de situação de pleno emprego. Segundo o índice, a taxa de desocupação em mais de mil municípios no país é menor que 3,5%. Uma a cada cinco cidades tem desocupação abaixo de 3,5%, um patamar baixo na visão de especialistas. É um indicador, ainda que pouco usado para medir a desocupação, que expressa uma espécie de pleno emprego. Diferente da Pesquisa Mensal de Empregos (PME) realizada pelo IBGE, que traz informações sobre regiões metropolitanas, o Censo é um indicador que traz dados de todas as cidades brasileiras. O mesmo jornal, em outra reportagem, caracteriza a situação do Pleno Emprego como um retrato da desigualdade social no Brasil. Evidenciando ainda os dados do último Censo (2010), enquanto o índice aponta, por exemplo, a realidade do Estado de Santa Catarina que tem um índice médio de desemprego em 3,8%, no Amapá este índice é de 11,19%, o mais baixo do país. (O Globo. 2012). É certo que acerca destes números é cabível uma série de discussões sociais, culturais, econômicas e outras mais que analisam e debatem estes números, o que não é objetivo deste estudo. Como já apontado nesta pesquisa, para os profissionais de nível técnico e tecnólogo, o mercado de trabalho revela que há oportunidades de emprego, bem como de crescimento e boa remuneração, mesmo para aqueles que ainda estão dando os primeiros passos na profissão. Devido a alta demanda por mão de obra com formação técnica, os salários pagos a estes profissionais de nível especialista, podem superar muitas vezes salários de um profissional com cargo gerencial. Muitas empresas já utilizam um conceito de plano de carreira denominado Carreira em Y. O nome se deve ao formato da letra, que simboliza uma bifurcação entre a área técnica e a área administrativa ou de gestão. As organizações precisavam criar alternativas mais criativas para contemplar a carreira técnica e a gerencial, sem que uma se sobreponha necessariamente à outra, especialmente em organizações de tecnologia ou de conhecimento muito específico. Esta possibilidade é usada estrategicamente por muitas empresas como forma de reter seu quadro técnico e especialista. Isso aumenta as 9 chances de crescimento e ascensão de carreira dos profissionais técnicos e tecnólogos que atuam como especialistas. 4. As demandas por formação técnica e tecnológica nas organizações A escassez de profissionais no país ascende e acompanha a baixa taxa de desemprego, o que ameaça as estratégias e resultados das organizações. Para resolver esse problema muitas empresas têm se transformado em verdadeiras fábricas de capacitação profissional. Esta é a saída que muitas delas encontram para preencher suas vagas e garantir mão de obra apta e qualificada. Nascidas na década de 1970, nos Estados Unidos, as universidades corporativas chegaram ao Brasil no final dos anos 1990, e vêm ganhando força a cada ano. Esse novo modelo de capacitação profissional tem sido adotado por pequenas, médias e grandes empresas. As organizações optam em implantar o modelo de Universidades corporativas muitas vezes devido à dificuldade em encontrar mão de obra qualificada no mercado. Meister (2009) define o conceito de Universidade Corporativa: “É um guarda chuva estratégico para o desenvolvimento e a educação de funcionários, clientes e fornecedores, buscando otimizar as estratégias educacionais, além de um laboratório de aprendizagem para a organização de um pólo permanente.” Analisando as mudanças do cenário e posicionamento de mercado, os setores industriais e produtivos, trouxeram transformações significativas aos profissionais de formação técnica. As atividades fundamentalmente taylorizada vêm sendo cada vez mais substituídas por uma gestão flexível e em sistemas cada vez mais integrados. O profissional que exercia antes uma atividade fixa passa agora a exercer um conjunto de atividades múltiplas e diversificadas (LAUDARES, TOMASI, 2003). Estes fatos evidenciam claramente o novo posicionamento do profissional técnico nas organizações, que deve ser formado e preparado para atuar nesta lógica. Retomando dados da pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), e publicado com exclusividade na Folha de São Paulo (Agosto/2012), os salários 10 médios de admissão pagos a profissionais com formação técnica variam de R$ 1.500 a R$ 2.500. Após dez anos de experiência, oscilam entre R$ 3.600 e R$ 7.000. Os números retratam dados dos 18 Estados brasileiros onde o trabalhador técnico está em alta. O levantamento foi feito nas unidades do SENAI e com base em dados oficiais do Ministério do Trabalho. Em Pernambuco, por exemplo, um soldador recém-formado pode ganhar mais do que um médico que acabou de se formar. Em Minas Gerais, outro exemplo, um técnico das especialidades mais valorizadas chega a receber ganhos mais elevados que um advogado ou veterinário iniciante (Folha de São Paulo. Agosto 2012). O quadro abaixo aponta a média das possibilidades de ganhos para as diferentes áreas de atuação de profissionais de nível técnico. Profissões Salário médio de admissão Manutenção de Aeronaves Mineração Mecatrônica Naval Ferramentaria Ispetor de equipamentos Sondagem Montagem industrial Construção civil Automação Segurança no trabalho Projetista Biocombustíveis Petróleo e Gás Petroquímica Energiasrenováveis R$ R$ 2.551,85 R$ 2.511,04 R$ 2.357,72 R$ 2.308,33 2.303,64 R$ 2.269,23 R$ 2.221,73 R$ 2.149,36 R$ 2.130,69 R$ 2.124,26 R$ 2.080,35 R$ 2.060,71 R$ 2.031,00 R$ 2.020,00 R$ 1.986,36 R$ Salário médio com 10 anos de experiência R$ 6.704,17 R$ 6.963,64 R$ 6.105,85 R$ 6.863,64 R$ 5.869,69 R$ 6.525,00 R$ 6.033,33 R$ 6.090,46 R$ 6.150,00 R$ 5.769,79 R$ 4.251,20 R$ 6.933,69 R$ 4.251,20 R$ 6.933,69 R$ 4.655,56 R$ 6.688,89 11 1.945,00 R$ 1.897,03 R$ 1.861,75 R$ 1.858,63 R$ 1.612,64 R$ 1.514,66 Eletrotécnica Açúcas e Álcool Química Logística Alimentos R$ 5.870,00 R$ 4.300,00 R$ 5.481,75 R$ 4.436,36 R$ 4.888,93 Tabela 3–Quadro comparativo de Salários para Técnicos de nível médio Fonte: Folha de São Paulo, 2012. Tabela - elaboração própria, 2012. Por sua vez, considerando a realidade do Ensino Tecnológico, compreendemos que as ofertas de emprego são maiores em algumas áreas do que em outras. Nas áreas em que os cursos tecnológicos não concorrem com as graduações tradicionais as ofertas são maiores. "As novas profissões são mais afeitas a esse modelo de curso, como gestão de redes ou de games. Todas as áreas em que profissões tradicionais não são fortes, os tecnólogos funcionam muito bem. Nas outras, como saúde, direito, engenharia, psicologia, é mais difícil conquistar espaço.” (Ensino Superior, 2007) Outra pesquisa realizada em 2007 pela assessoria de avaliação institucional do Centro Paula Souza mostra que 93,2% dos ex-alunos de Faculdades de Tecnologias (Fatecs) que concluíram o curso em 2006 estão hoje empregados. A média de remuneração dos profissionais é de 5,5 salários mínimos. O setor da indústria, de acordo com o estudo, ainda é o que mais emprega tecnólogos, com 24,8%. O ramo da informática aparece em segundo lugar, com 22%, superando o de serviços (21,3%). Depois, aparecem o comércio (6,7%), a educação (6,4%), a saúde (5%) e a agricultura (0,6%). Na comparação por porte da empresa, as grandes são as que mais contratam, com 38,6%, seguidas pelas empresas de médio porte (21%) e o serviço público (20,3%). Outra constatação: 79,9% dos entrevistados declararam não ter dificuldades para exercer a profissão. 5. O trabalho e atuação dos órgãos governamentais 12 Faz-se necessário considerar as ações levantadas e desenvolvidas por órgãos governamentais a fim de promover, desenvolver e valorizar a Educação Técnica e Profissional. Catálogos Nacionais dos cursos Técnicos e Tecnológicos Para organizar e orientar a oferta de cursos superiores de tecnologia e de cursos técnicos, o Ministério da Educação criou os catálogos nacionais, lançados em 2006 e 2007, respectivamente. O Catálogo Nacional dos Cursos Superiores de Tecnologia funciona como um guia para estudantes, educadores, instituições, sistemas e redes de ensino, entidades de classe, empregadores e o público em geral. Ele apresenta a carga horária mínima e a infraestrutura recomendada para cada curso. Já o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos agrupa os cursos, de acordo com as características científicas e tecnológicas de cada um. Para cada perfil de formação o catálogo apresenta uma descrição do curso. As informações englobam atividades do perfil profissional, possibilidades de atuação e estrutura mínima recomendada. É finalidade do catálogo facilitar a consulta dos estudantes diante da quantidade de cursos ofertados. Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) Criado em 2011, o Pronatec tem como objetivo principal expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de Educação Profissional e Tecnológica. Prevê uma série de subprogramas, projetos e ações de assistência técnica e financeira que pretende oferecer oito milhões de vagas a brasileiros interessados em ingressas no ensino técnico ou tecnológico. O objetivo é que o programa forneça esta assistência nos próximos quatro anos. O programa atua em duas modalidades de formação: Formação Inicial e Continuada – mínimo de 160h e Cursos técnicos – 800h. Programa Brasil Profissionalizado 13 O programa Brasil Profissionalizado visa fortalecer as redes estaduais de educação profissional e tecnológica. A iniciativa repassa recursos do governo federal para que os estados invistam em suas escolas técnicas. Criado em 2007, o programa possibilita a modernização e a expansão das redes públicas de ensino médio integradas à educação profissional, uma das metas do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). O objetivo é integrar o conhecimento do ensino médio à prática. Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica A rede teve sua origem em 1909 e está vivenciando a maior expansão da sua história. “De 1909 a 2002, foram construídas 140 escolas técnicas no país e, nos últimos sete anos, o Ministério da Educação já entregou à população várias unidades das 214 novas previstas. Além disso, outras escolas foram federalizadas e todas as unidades em obras serão concluídas até 2010. Para assegurar o crescimento, o Ministério da Educação está investindo R$1,1 bilhão, gerando 500 mil vagas nas mais de 354 escolas de Educação Profissional e Tecnológica em todo país.” (Brasil, 2009) Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio na Modalidade Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) O PROEJA tem como perspectiva a proposta de integração da educação profissional à educação básica. De acordo com o Decreto nº 5840, 13 de julho de 2006, os cursos Proeja podem ser oferecidos das seguintes formas: 1- Educação profissional técnica integrada ao ensino médio na modalidade de educação de jovens e adultos. 2- Educação profissional técnica concomitante ao ensino médio na modalidade de educação de jovens e adultos. 14 3- Formação inicial e continuada ou qualificação profissional integrada ao ensino fundamental na modalidade de educação de jovens e adultos. 4- Formação inicial e continuada ou qualificação profissional concomitante ao ensino fundamental na modalidade de educação de jovens e adultos. 5- Formação inicial e continuada ou qualificação profissional integrada ao ensino médio na modalidade de educação de jovens e adultos. 6- Formação inicial e continuada ou qualificação profissional concomitante ao ensino médio na modalidade de educação de jovens e adultos. (Brasil, 2006) Rede e-Tec Brasil Lançado em 2007, o sistema Rede e-Tec Brasil é uma das ações do Plano Nacional de Desenvolvimento da Educação – PDE. Este visa à oferta de educação profissional e tecnológica à distância e tem o propósito de ampliar e democratizar o acesso a cursos técnicos de nível médio, públicos e gratuitos. O MEC é responsável pela assistência financeira na elaboração dos cursos. Aos estados, Distrito Federal e municípios cabe providenciar estrutura, equipamentos, recursos humanos, manutenção das atividades e demais itens necessários para a instituição dos cursos (Brasil, 2011). 5. Conclusões Nas últimas décadas, particularmente a partir de 2007, percebemos um importante crescimento na quantidade de cursos técnicos e tecnólogos oferecidos no Brasil, assim como o número de concluintes nestes cursos. São dados que vêm acompanhando as boas oportunidades de trabalho, de carreiras e positivas perspectivas salariais para estes profissionais. O Brasil vivencia um crescimento econômico histórico e uma queda no índice de desemprego, onde alguns especialistas caracterizam tecnicamente como pleno emprego. A utilização do conceito de pleno emprego não é unânime e gera discordâncias, apesar da explanação de índices positivos na situação de ofertas de trabalhos no Brasil. O estudo demonstra que há um número insuficiente de técnicos e tecnólogos para atender a demanda real e as perspectivas do mercado, já que as áreas de atuação destes profissionais obtiveram crescimento e destaque nos últimos anos. Faz-se necessário enfatizar 15 as distinções nas oportunidades e valorização para estes profissionais de acordo com sua área de atuação, principalmente ao abordarmos os cursos tecnológicos, que possui um leque de mais de 110 opções. Realmente algumas áreas de atuação têm sofrido maior destaque e valorização do que outras. Evidenciam-se as ações de órgãos governamentais que buscam incentivar e desenvolver o ensino técnico e tecnológico, embora as evidências de que a formação destes profissionais não tem acompanhado o ritmo que o mercado de trabalho tem demandado. Sendo assim, enxerga-se a necessidade de ainda repensar em ações que visem preencher esta lacuna entre formação e demanda de mercado. Constata-se ainda que na busca por mão de obra qualificada, empresas estão formando internamente seu quadro de recursos humanos através de Universidades Corporativas, uma solução que busca suprir a falta de mão de obra e garante o desenvolvimento de pessoas nas organizações. Em um quadro em que se prevê a continuidade do crescimento econômico brasileiro e a permanência do declínio das taxas de desemprego, este trabalho possibilita algumas reflexões que servirão como contribuição para repensar o futuro próximo por parte de estudantes, profissionais técnicos e tecnólogos, instituições de ensino, empresas e órgãos governamentais. Referências ASSIS. Luis Eduardo. Tudo vai ser diferente. O Estado de São Paulo, Maio de 2012. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,tudo-vai-ser-diferente-,879359,0.htm>. Acesso em 20 de junho de 2012. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Programa de Integração da Educação Profissional Técnica de Nível Médio ao Ensino Médio na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos. PROEJA. Documento Base. 2006. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução nº 1, de 03 de fevereiro de 2005. Atualiza as Diretrizes Curriculares Nacionais Definidas pelo Conselho Nacional de Educação para o Ensino Médio e para a Educação Profissional Técnica 16 de Nível Médio às Dispo-sições do Decreto nº 5.154/2004. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rceb001_05.pdf>. Acesso em 15 de Julho de 2012. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica Catálogo nacional dos Cursos Superiores de Tecnologia. 2006. Disponível em <www.mec.gov.br>. Acesso em 19 de Junho de 2012. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica Catálogo nacional dos Cursos Técnicos. 2007. SEMTEC, 1994. BRASIL, Ministério da Educação. Lei 12.513 de Outubro de 2011. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução nº 1, de 03 de fevereiro de 2005. 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