R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
Publicação científica dirigida à produção acadêmica, na área de Ciências da Saúde e Humanidades.
Publicará preferencialmente estudos científicos inseridos na realidade brasileira e divulgará contribuições
visando a melhoria da qualidade do Ensino, da Investigação Científica, da Assistência à Saúde no Brasil
e o que concerne às mais variadas questões humanas.
Corpo Editorial:
*Profa. PhD Roberta Ecleide de Oliveira Gomes Kelly
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Universidade José do Rosário Vellano - UNIFENAS,
Universidade Estadual de Minas Gerais - UEMG e Faculdade Pitágoras de Poços de Caldas
*Profa. Dra. Renata Cristian Oliveira Pamplin
Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e Faculdade Pitágoras de Poços de Caldas
*Profa. Dra. Juliana Carvalho Ribeiro
Faculdade Pitágoras de Poços de Caldas
*Profa. Dra. Patricia Scotini Freitas
Faculdade Pitágoras de Poços de Caldas
*Profa. PhD Claudia da Silva Bittencourt
Faculdade Pitágoras de Poços de Caldas e Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino - UNIFAE
*Profa. Dra. Daniela Cristina de Macedo Vieira
Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL
*Profa. PhD Regiane Luz Carvalho
Faculdade Pitágoras de Poços de Caldas e Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino - UNIFAE
*Profa. PhD. Erika Maria Parlato-Oliveira
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
*Profa. Dra. Norida Teotônio de Castro
Universidade José do Rosário Vellano - UNIFENAS
*Prof PhD Rita de Cássia Ferreira
Universidade Estadual de Roraima - UER
*Prof PhD Elaine Cristina Morari
Universidade Estadual de Roraima - UER
R E V I S T A
HOMINIS
Editorial
Saúde e Humanidades
A publicação do segundo número da Revista HOMINIS é resultado do trabalho entre
professores e alunos, por meio de pesquisas e orientações. Desta forma agradecemos aos
autores que continuaram acreditando na revista e na iniciativa de se criar um veículo de
publicação na área de Saude e Humanas.
Não é fácil a tarefa de se manter a periodicidade de uma revista, especialmente quando esta
tem sua criação muito recente. Para tanto, o envio de manuscritos pelos autores e o auxílio
imprescindível dos pareceristas na revisão dos artigos foram essenciais para que a revista
pudesse ter sucesso na veiculação do seu segundo número.
A disponibilização desses artigos, certamente, colaborará positivamente para o acesso às
informações e servirá também como instrumento de pesquisa e, principalmente, fonte de
leituras. São artigos que têm a pretensão de ser o ponto inicial de leituras e debates das
questões aqui levantadas.
A Faculdade Pitágoras vem investindo em publicações e divulgações dos trabalhos dos
professores e assim contribuindo para a formação dos seus alunos e a interação com a
comunidade
Novamente salientamos e agradecemos a confiança dos autores em publicar na Revista
Hominis.
Profa. Me. Yula de Lima Merola
Farmacêutica
Comitê Executivo Revista Hominis
Poços de Caldas, outubro de 2015.
HOMENAGEM
A saudade nos faz mais uma visita. Não sabemos porque você se foi, mas com
corações mais confortados, dedicamos estas palavras para relembrar os bons
momentos que foram compartilhados e como a presença de uma pessoa tão querida
foi capaz de transformar tantas vidas abençoadas. A sua lembrança continuará
sempre viva entre nós. Deus agora tem você em seus braços, mas teremos você
eternamente em nossos corações. Obrigada Profa. Dra. Mariana de Oliveira Fonseca
Machado, pelo convívio e amizade...
Profa. Dra. Patrícia Scotini Freitas
R E V I S T A
HOMINIS
Expediente
Saúde e Humanidades
A Revista Hominis: Saúde e Humanidades, é um periódico de acesso livre e gratuito,
publicado quadrimestralmente pela Faculdade Pitágoras de Poços de Caldas «Brasil»,
apenas na versão eletrônica disponível no sitio da internet
http://www.faculdadepitágoras.com.br/paginas/revista-hominis.aspx.
Tem como missão disseminar o conhecimento científico, revisto por pares, desenvolvido
por pesquisados das áreas de Ciências da Saúde e Humanidades. Publica artigos em
português, inglês ou espanhol, destinados à divulgação de resultados de pesquisas
originais, artigos de revisão sistemática, revisão integrativa e editorial. Os artigos
submetidos para análise não devem ter sido previamente publicados ou apresentados
em outros periódicos.
FACULDADE PITÁGORAS DE POÇOS DE CALDAS
Diretor
Prof. Me. Lázaro Quintino Alves
Curso de Administração
Profa. Me. Andreza Aparecida Barbosa
Curso de Enfermagem
Profa. Me. Giovanna Vallim Jorgetto
Curso de Farmácia
Profa. Me. Yula de Lima Merola
Curso de Psicologia
Profa. PhD Roberta Ecleide de Oliveira Gomes Kelly
R E V I S T A
HOMINIS
Conselho Editorial
Saúde e Humanidades
Editor
Profa. Dra. Renata Cristian de Oliveira Pamplim
Faculdade Pitágoras Poços de Caldas
Conselho Editorial
Profa. Dra. Gisela Pizarro de Mattos Barreto
Faculdade Pitágoras Poços de Caldas
Corpo Editorial
Avaliadores Internos
Profa. Dra. Lilian Cristiane Villas Boas, Prof. Me. Cristiano de Carvaho Baliero,
Prof. Dr. Melchior Antonio Momesso, Prof. Me. Geraldo Flávio Canavez, Profa.
Me. Regiane das Graças Sorce Ferreira, Profa. Me. Luiza Luciana Martins, Prof.
Me. Marcos Nogueira de Lima, Profa. Me. Tânia da Costa Bertoli Mayrink, Profa.
Me. Yula de Lima Merola.
Avaliadores Convidados Externos
Profa. Dra. Cristiane Maria da Costa Silva
Profa. Me. Elaine Cristina Faria
Prof. Dr. Francisco Rafael do Lago Godoi
Prof. Dr. Aun Assad Neto.
Comitê Executivo
Profa. Me. Giovanna Vallim Jorgetto, Profa. Me. Yula de Lima Merola
e Profa. Dra Patrícia Scottini Freitas
R E V I S T A
HOMINIS
Sumário
Saúde e Humanidades
Revista Hominis: Saúde e Humanidades, v.1, n.2, ago./nov. 2015.
Artigo Original / Origi: nal Article / Articulo Original
- Análise das respostas glicêmicas, lipídeos plasmáticos e índice de massa corporal após
treinamento físico em indivíduos portadores de diabetes mellitus Tipo 2
Analysis of glycemic responses, plasma lipids and body mass index after exercise training in
individuals with Type 2 diabetes mellitus
Análisis de respuestas glucémicas, lípidos plasmáticos y el índice de masa corporal después de la
práctica de ejercicio en personas con diabetes mellitus tipo 2
Juliana Vallim Jorgetto; Giovanna Vallim Jorgetto; Daniele Albano Pinheiro
- Importância da comissão de controle de infecção hospitalar no controle da resistência
microbiana
Importance of hospital infection control committee in controlling antimicrobial resistance
Importancia del comité de control de infecciones hospitalarias en el control de la resistencia
antimicrobiana
Taís Cristina Lima; Bárbara Carvalho Santos; Giovanna Vallim Jorgetto
- Inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho: um desafio à gestão de pessoas
nas organizações
Inclusion of persons with disabilities in the labor market: a challenge to the management of
people in organizations
La inclusión de personas con discapacidad en el mercado laboral: un desafío para la gestión de
personas en las organizaciones
Marcos José da Silva Rossi; Anali Gonçalves de Carvalho; Graziela Pomárico Braz; Adolfo Plínio
Pereira; Patrícia Scotini Freitas; Renata Christian de Oliveira Pamplin
- O COMÉRCIO JUSTO NO BRASIL E EM PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO: reflexões ao
crescimento econômico no mercado Fair Trade em cooperativas e associações de agricultores
familiares
The FAIR TRADE IN BRAZIL AND IN DEVELOPING COUNTRIES: reflections on economic growth in
Fair Trade market in cooperatives and farmers associations
El COMERCIO JUSTO EN BRASIL Y EN LOS PAÍSES EN DESARROLLO: reflexiones sobre el crecimiento
económico en el mercado de Comercio Justo en las cooperativas y asociaciones de agricultores
Andreza Aparecida Barbosa; Paulo Roberto Alves Pereira
- Estudo sobre o perfil da sociedade brasileira em relação à automedicação
Study on the profile of Brazilian society in relation to self-medication
Estudio sobre el perfil de la sociedad brasileña en relación a la automedicación
Regiane Souza Santos; Gisela Pizarro de Mattos Barretto; Yula de Lima Merola
- Secretariar o Alienado – uma proposta de análise acerca do sinthôme através dos personagens
Batman e Alfred
Secretary of the alienated - an analysis of proposal about the sinthome through the characters
Batman and Alfred
Secretario de los alienados - un análisis de la propuesta sobre el sinthome través de los
personajes de Batman y Alfred
Carolina de Siqueira Coutinho; Roberta Ecleide de Oliveira Gomes-Kelly
R E V I S T A
HOMINIS
título: Inclusão da pessoa com deficiência no mercado de
trabalho: um desafio à gestão de pessoas nas organizações
Saúde e Humanidades
página
Marcos José da Silva Rossi: Pós-Graduado pela Faculdade Pitágoras, Campus Poços de Caldas, Curso MBA
em Gestão de Pessoas com Ênfase em Resultados. e-mail: [email protected]
Anali Gonçalves de Carvalho: Pós-Graduada pela Faculdade Pitágoras, Campus Poços de Caldas, Curso
MBA em Gestão de Pessoas com Ênfase em Resultados. e-mail: [email protected]
Graziela Pomárico Braz: Pós-Graduada pela Faculdade Pitágoras, Campus Poços de Caldas, Curso MBA em
Gestão de Pessoas com Ênfase em Resultados. e-mail: [email protected]
Adolfo Plínio Pereira: Mestre em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida pelo Centro
Universitário das Faculdades Associadas de Ensino UNIFAE. Professor da Faculdade Pitágoras, Campus
Poços de Caldas. e-mail: [email protected]
Patrícia Scotini Freitas: Doutora em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
Fundamental da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EERP-USP). Professora da Faculdade
Pitágoras, Poços de Caldas. e-mail: [email protected]
Renata Christian de Oliveira Pamplin: Doutora em Educação Especial pela Universidade Federal de São
Carlos (UFSCAR). Professora da Faculdade Pitágoras, Poços de Caldas. e-mail:
[email protected]
RESUMO
Diante de fatalidades, imprudências, descuidos ou
devido a disfunções genéticas, as pessoas com
deficiência, cada vez mais, buscam formas de
inclusão na sociedade. No entanto, nem toda a
sociedade está disposta a auxiliar e compreender
este processo, o que faz com que as próprias
pessoas com deficiência se arrisquem e mostrem
suas habilidades e competências. O objetivo deste
trabalho é motivar a compreensão por parte da
sociedade, principalmente da comunidade
acadêmica, de que pessoas que, no passado, eram
vistas como incapazes e que incomodavam, hoje se
tornaram verdadeiros mestres de seus destinos,
lutando por seus direitos individuais e sociais. No
Brasil, milhões de pessoas com deficiência buscam a
tão sonhada inclusão no mercado de trabalho. A lei
de cotas tem sido a esperança de vários destes
brasileiros. Dentre os diversos obstáculos
enfrentados no processo de inclusão, a rotulação de
incapazes e sem qualificação no mercado de
trabalho tem sido superada e, atualmente, a
situação está se modificando, pois muitos provam
que são capazes e desempenham suas atribuições
com competência, com resultados, por vezes, além
do esperado. O processo de inclusão de
colaboradores com deficiência na organização exige
adaptações, não só físicas, mas também
comportamentais de toda equipe, além do
empenho ainda maior do líder, envolvendo toda a
equipe de gestão de pessoas. A deficiência não deve
ser vista como obstáculo para contratação ou
demissão de um funcionário, bem como os direitos
e deveres devem ser igualmente aplicados como aos
demais colaboradores. Resta, ainda, a necessidade
do rompimento de alguns preconceitos e culturas
empresariais que permitam a ampliação de
competências e que pessoas com deficiência
possam ocupar mais cargos de chefias, gerências e
diretorias dentro das organizações. Esta missão,
certamente, cabe aos gestores de pessoas nas
organizações.
Palavras-chave: Inclusão; Deficiência; Trabalho.
ABSTRACT
Faced with fatalities, recklessness, carelessness or
due to genetic disorders, people with disabilities,
increasingly seek ways of inclusion in society.
However, not every company is willing to assist and
understand this process, which makes the very
people with disabilities take a chance and show your
skills and competencies. This work is motivated by
the understanding of society, especially the
academic community of people who in the past
were seen as incapable and that bothered today
have become true masters of their destiny, fighting
for their individual and social rights. In Brazil,
millions of people with disabilities are seeking long
awaited inclusion in the labor market. The law quota
has been the hope of many of these Brazilians.
Among the many obstacles faced in the inclusion
process, the lettering incapable and unskilled labor
market has been overcome and today the situation
is changing, as many prove they are capable and
perform their duties with competence, with results
sometimes beyond the expected. The process of
inclusion of disabled employees in the organization
requires adaptations, not only physical, but also the
whole team behavior, beyond even greater
commitment of the leader, involving the whole team
of people management. Disability should not be
seen as an obstacle to hiring or firing of an
employee, as well as the rights and duties should
also be applied as for other employees.
Furthermore, there remains the need to break some
prejudices and corporate cultures that permit the
expansion of skills and that people with disabilities
can occupy more supervisors, managers and
directors positions within organizations. This
mission certainly fits the people managers in
organizations.
Keywords: Inclusion; Disability; Work.
01
R E V I S T A
página
HOMINIS
02
Saúde e Humanidades
INTRODUÇÃO
A partir de uma visão simplista, pode-se dizer
que as pessoas com deficiência “incomodam”.
Diante de uma pessoa com deficiência física ou
motora, sensorial ou intelectual as pessoas
vivem sentimentos contraditórios: desde a
repulsa até a compaixão. Tem sido assim ao
longo da história. Perante os diferentes, as
pessoas com deficiência, os que apresentam
um problema de relacionamento social ou
comportamental, as sociedades sempre
viveram um misto de fascínio e rejeição.
Conforme o Texto Base da Campanha da
Fraternidade de 2006, o grau de civilização de
um povo pode ser medido pela atenção que
dedica aos mais fracos, aos mais frágeis, às
pessoas com deficiência (CONFERÊNCIA
NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL – CNBB,
2005).
A busca da eliminação física das pessoas com
deficiência existe desde os tempos mais
remotos e continua sendo praticada hoje, tanto
em contextos tribais como em sociedades
modernas. As ideias de purificação e
aperfeiçoamento da espécie humana
encontram defensores desde a Grécia antiga,
passando pelo nazismo, até o seio de alguns
redutos da atual ciência genética. Para alguns,
as pessoas com deficiência não deveriam ter
direito à vida (CNBB, 2005).
Segundo Oliveira (2003), a preocupação de
estimular a proliferação dos melhores
humanos, cercear, proibir ou não permitir a
sobrevivência de pessoas com deficiências
físicas e/ou intelectuais, são atitudes tão
antigas quanto a humanidade e estão na
origem de crimes como os praticados por
nazistas contra judeus, eslavos, ciganos etc.
Apesar de proibidos no Brasil, os
procedimentos de detecção de anomalias
visando o aborto têm sido tristemente
assumidos por muitos casais, com ajuda de
profissionais da área da saúde.
Conforme relatos da CNBB (2005), mesmo que
todos nascessem “perfeitos”, as deficiências e
as pessoas com deficiência continuariam sendo
uma realidade social. Disfunções genéticas,
pré-natais, acidentes na concepção e no parto,
não são as únicas razões das deficiências.
Acidentes de trânsito ou no trabalho, balas
perdidas ou erros médicos, acidente de todos
os tipos e tantas outras circunstâncias podem
tornar uma pessoa paraplégica ou tetraplégica,
podendo levá-la a perda de sua capacidade
motora, sensorial ou intelectual. Da mesma
forma, o diabetes, tumores no cérebro,
quadros de glaucoma ou surtos de parasitas
podem levar pessoas à cegueira. Grande parte
das pessoas com deficiência não nasceu assim,
sendo vítimas de imprudências, descuidos ou
fatalidades.
Cada vez mais, as pessoas com deficiência
emergem como protagonistas de suas vidas e
destinos, deixando de ser meros objetos de
ações de assistência individual e social. A luta
pela inclusão familiar, escolar, eclesial, social e
no mundo do trabalho e da cultura mobiliza
hoje as pessoas com deficiência, seus
movimentos e organizações, as comunidades
eclesiais, e deve transformar a sociedade,
marcada por contravalores que ameaçam os
princípios de humanidade (CNBB, 2005). De
acordo com Monteiro (2009, p. 104), “o bem
comum gera um sentido de pertença, de valor e
de sentido da existência e ao mesmo tempo
responsabilidade e dependência mútua, não
havendo espaço para superioridade de uns
sobre os outros”.
A situação concreta das pessoas com
deficiência no Brasil é um universo
praticamente desconhecido, difícil de mapear.
No entanto, existe um imenso universo de
experiências positivas a serem conhecidas,
apoiadas e desenvolvidas no seio das famílias,
dos profissionais que lidam cotidianamente
com as mais diversas deficiências e das
organizações dedicadas às pessoas com
deficiência. Reafirmando as conclusões da
CNBB (2005), na Campanha da Fraternidade de
2006, refletir sobre essas situações concretas,
contribui para descobrir a pessoa humana na
deficiência, sem reduzir nem identificar
deficiente e deficiência. É um caminho de
sabedoria para que cada um viva suas próprias
deficiências.
Assim, este trabalho propõe uma reflexão, por
2 A incidência dessa doença no Brasil atinge entre
dois e três milhões de pessoas. O glaucoma, segunda
causa de cegueira no Brasil e no mundo, é gerado por
um problema na pressão ocular, geralmente acima
do limite. A demora no diagnóstico e a falta de
tratamento levam à perda gradual da visão, podendo
ocasionar cegueira (CNBB, 2005).
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
parte da sociedade, de gestores e da
comunidade acadêmica em geral, no sentido de
se buscar alternativas que permitam a inclusão
das pessoas com deficiência no mercado de
trabalho de forma legal e justa, com base em
princípios, como a igualdade e a valorização da
diversidade.
OBJETIVOS
Apresentar, através de pesquisa bibliográfica,
elementos que fundamentem as ações dos
gestores de pessoas dentro das organizações,
no processo de inclusão de pessoas com
deficiência no mercado de trabalho, através da
conscientização dos envolvidos neste processo.
MÉTODOS
A metodologia utilizada foi a pesquisa
bibliográfica, com abordagens feitas a partir de
relatos de autores nacionais, documentos de
entidades, análises de leis e normas
governamentais relacionadas ao tema.
página
Segundo Sassaki (2005), a noção de deficiência
ainda é confundida com a de incapacidade.
Alguém pode ser considerado parcialmente ou
totalmente incapaz de realizar uma atividade
em comparação ao que se considera parâmetro
normal de um ser humano. Alguém pode ser
incapaz de ler e escrever porque tem apenas
dois anos de idade, porque nunca estudou ou
devido a uma profunda deficiência intelectual.
O meio ambiente e o contexto cultural e
socioeconômico podem incapacitar. Por,
exemplo, se não houver rampas de acesso em
um edifício, uma pessoa com deficiência
motora, em cadeira de rodas, não pode entrar.
Se não houver código braile nos botões de um
elevador, uma pessoa com deficiência visual
não poderá subir sozinho a um determinado
andar. A incapacidade é a perda ou limitação
das oportunidades de participar da vida em
igualdade de condições com os demais. Pessoas
com deficiências diferentes enfrentam
barreiras diferentes, cuja superação ou redução
exige soluções também diferenciadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O QUE É UMA DEFICIÊNCIA? QUEM É
DEFICIENTE?
A palavra deficiência evoca ausência, anomalia
ou insuficiência de um órgão, de uma função
fisiológica, intelectual ou até social. Fala-se de
uma deficiência respiratória, visual, auditiva ou
cardíaca, em referência ao funcionamento do
corpo humano. Fala-se de suprir as deficiências
da educação básica ou do atendimento
hospitalar no Brasil, referindo-se a uma questão
social. A noção de deficiência é complexa e está
associada à idéia de perfeição, fraqueza,
carência, perda de qualidade e quantidade. O
termo vem do latim tardio deficientia e significa
falta, enfraquecimento, abandono. Seu
emprego exige cuidado e reflexão. A palavra
deficiência não é negativa em si mesma e
designa uma realidade. Alguns confundem a
deficiência com a pessoa. Quando a deficiência
é utilizada para classificar a pessoa, esse termo
é discriminatório e injusto. A deficiência passa a
ser vista como mancha, defeito, mácula e até
como vício. Importa refletir sobre essa
realidade, saber distinguir e ver a pessoa na
deficiência e não a pessoa como um deficiente
(CNBB, 2005).
Como nomear as pessoas com deficiência?
Diante dessa realidade complexa, as sociedades
construíram termos e expressões para designar,
caracterizar e diferenciar as pessoas com
deficiência.
A lista é enorme: paralítico, anormal,
mongolóide, aleijado, portador de
necessidades especiais, coxo, manco, especial,
cego, inválido, surdo-mudo, imperfeito,
retardado, débil mental, excepcional, paralisia
cerebral, etc. Esses termos foram incorporados
pelas culturas das diversas localidades, fazem
parte dos dicionários e até dos textos bíblicos.
E s s a s p a l av ra s e ró t u l o s ex p re s s a m
posicionamentos diante das realidades
humanas, em diversos contextos históricos e
culturais, mais ou menos preconceituosos,
podendo ser conceitos ou preconceitos,
retratando, por vezes, não somente um evento
biológico ou acidental, mas todo um
relacionamento afetivo e social com o outro, em
sua diferença e alteridade. A palavra cego,
comum na Bíblia, pode ser vista como ofensa
por quem prefere o termo deficiente visual,
como também, a palavra surdo, para quem acha
que o termo deficiente auditivo seria mais
adequado. A expressão deficiente mental não é
03
R E V I S T A
página
HOMINIS
04
Saúde e Humanidades
bem recebida por quem prefere o termo
especial, excepcional, deficiente intelectual ou
cognitivo (CNBB, 2005).
Na maioria das vezes, o uso de determinados
termos pode reforçar a segregação e a
exclusão. Assim, o termo portador implica em
algo que se porta, que é possível se desprender
tão logo se queira ou chegue-se a um destino.
Remete, ainda, a algo temporário, como portar
um talão de cheques, um documento ou ser
portador de uma doença. A deficiência, ao
contrário, é algo permanente, não cabendo,
portanto, o termo portadores. Além disso,
quando se rotula alguém como portador de
deficiência, a deficiência passa a ser a marca
principal da pessoa, em detrimento de sua
condição humana (SILVA, 2009).
Assim, percebe-se que a forma correta de
nomeação seja pessoas com deficiência, que
compreende todo o contexto de uma pessoa,
em seu sentido mais amplo e humano, que
possui uma deficiência que não deve ser
ignorada, mas que não se confunde com esta
em sua essência.
As pessoas com deficiência no mundo, na
América Latina e no Brasil
De acordo com Lira (2005), dados do Banco
Mundial apontavam que na primeira década
deste século, havia pelo menos 50 milhões de
pessoas com deficiência na América Latina e no
Caribe, o que representava, aproximadamente,
10% da população regional. A deficiência era, e
ainda hoje é, uma das mais importantes causas
e consequências da pobreza. Cerca de 80% das
pessoas incapacitadas dessas regiões vivem na
pobreza, o que na maioria dos casos também
afeta os membros da família.
Segundo dados da Organização Mundial de
Saúde (BRASIL, 2006), cerca de 10% da
população de qualquer país em tempo de paz é
portadora de algum tipo de deficiência, das
quais: 5% portadora de deficiência intelectual;
2% de deficiência física; 1,5% de deficiência
auditiva; 0,5% de deficiência visual; e 1% de
deficiência múltipla. Partindo destes dados,
pode-se concluir que no Brasil, há mais de 2
milhões de pessoas com deficiência, pois
segundo dados da Fundação Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística – IBGE (2013), a
população brasileira atingiu a marca de
201.032.714 de habitantes.
Com suas famílias, as pessoas com deficiência
representam diretamente 25% da população
brasileira afetada por essas realidades, lutando
por seus direitos individuais e sociais. Mesmo
assim, para muitos, é como se esse contingente
de milhões de brasileiros não existisse. As
pessoas com deficiência não podem ser
tratadas como uma curiosidade ou algo
particular. As deficiências podem ser
prevenidas, em muitos casos, e evitadas com
políticas públicas adequadas. Elas exigem e têm
sido objeto de políticas públicas de inclusão e
valorização. Elas assumem cada vez mais seu
papel de protagonistas, num mundo marcado
por ideologias do corpo e da saúde perfeita,
pelos contravalores do consumismo e
competitividade exacerbada (CNBB, 2005).
Ainda de acordo com a CNBB (2005), em todos
os momentos da história da humanidade, as
pessoas com deficiência foram alvo de
comportamentos e reações distintas e
contraditórias de exclusão e integração,
conforme os diferentes contextos da
sociedade. Esses comportamentos foram
mudando de acordo com as transformações
sociais, as descobertas científicas e
tecnológicas e as mudanças culturais e
econômicas ocorridas. Resta, portanto, à
geração atual, marcar época, reestruturando o
acolhimento e a inclusão destas pessoas à
sociedade como um todo.
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E O MERCADO DE
TRABALHO
De acordo com Silva (1981), o primeiro registro
de reserva de vagas de emprego para pessoas
com deficiência que se tem notícia na história
do Brasil, teria sido no século XVIII. O indivíduo
com deficiência via na atividade educacional a
chance de se inserir no mercado de trabalho.
Eram os Padres Jesuítas que desenvolviam,
precariamente, a instituição do ensino no país e
com a expulsão da Companhia de Jesus do
Brasil pelo Marquês de Pombal, o sistema de
ensino da colônia entrou em decadência.
Foram abertas, então, inscrições para pessoas
que teriam a função de ensinar, em substituição
aos jesuítas. Para se inscrever, o candidato
deveria ser licenciado para ensinar. Há registro
de um requerimento de um candidato à
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
página
licenciatura para mestre, no qual ele alega que
a deficiência física é uma forte razão para que
lhe fosse concedida a licença, por não poder
exercer outra profissão:
O suplicante não pretende ordenado,
só licença para ensinar os que
quiserem ouvir suas lições; se tem
capacidade para isso, como faz ver
pelo atestado de pessoas interessadas
neste negócio, e pela amostra da sua
letra, confia merecer a licença pedida
[...]. Se, porém, suas moléstias o
impedirem do exercício a que se
propõe, seus discípulos o largarão e o
monopólio do ensino recairá
naturalmente nas mãos do mestre
hábil: lembrando que o aleijão do
suplicante é menos um impedimento
que um motivo para o exercício a que
se propõe, no que será mais assíduo,
por não poder lançar mão de outro: a
boa polícia tem mesmo sempre em
vista esta apropriação para não
ficarem no ócio e miséria braços
imperfeitos, havendo empregos
acomodados à sua capacidade. Pede,
portanto, licença para ensinar por ser
este o 'único emprego' que pode
exercer (SILVA, 1981, p. 121-122).
Mais recentemente, a Lei 8.213 (BRASIL, 1991),
conhecida como a lei de cotas, dispõe, em um
único artigo, as cotas de vagas de empregos
para pessoas com deficiência, em seu artigo 93:
A empresa com 100 (cem) ou mais empregados
está obrigada a preencher de 2% (dois por
cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos
com beneficiários reabilitados ou pessoas
portadoras de deficiência, habilitadas, na
seguinte proporção:
I- Até 200 empregados . . . . . . . .
II- de 201 a 500 . . . . . . . . . . . . . .
III- de 501 a 1.000 . . . . . . . . . . . .
IV- de 1.001 em diante . . . . . . . .
2%;
3%;
4%;
5%.
§ 1º A dispensa de trabalhador
reabilitado ou de deficiente habilitado
ao final de contrato por prazo
determinado de mais de 90 (noventa)
dias, e a imotivada, no contrato por
prazo indeterminado, só poderá
ocorrer após a contratação de
substituto de condição semelhante.
§ 2º O Ministério do Trabalho e da
Previdência Social deverá gerar
e stat í st i ca s s o b re o to ta l d e
empregados e as vagas preenchidas
por reabilitados e deficientes
habilitados, fornecendo-as, quando
solicitadas, aos sindicatos ou
entidades representativas dos
empregados.
A lei de cotas, nestes anos de existência, tem
sido importante instrumento de inserção de
pessoas com deficiência no mercado de
trabalho, mas por si só não resolve todos os
problemas que essa temática demanda e, como
toda medida impositiva, gera polêmica, visto
que seu cumprimento ainda não é uma
realidade para grande número de empresas.
Segundo dados do Ministério do Trabalho e
Emprego (ATHAYDE, 2012), entre os anos de
2007 e 2009, houve 960.000 contratações
formais de pessoas com deficiência, sendo que
tais pessoas eram encaminhadas para ocupar
cargos de níveis operacionais, mesmo
possuindo currículos que permitiam a
ocupação de cargos e posições melhores. A
justificativa para isto é sempre a “falta de
qualificação”. No entanto, a realidade mostra
que existe certo “preconceito” oculto e a
“discriminação” implícita nos processos de
escolha e contratação, que dificultam e, quase
sempre, impedem a ascensão profissional de
pessoas com deficiência dentro das
organizações.
A inclusão de pessoas com deficiência no
mercado de trabalho é um desafio que pode ser
visto pelas empresas como uma dificuldade ou
como uma oportunidade. Estudos mostram
que promover a diversidade no ambiente de
trabalho traz benefícios para empregados e
empregadores. Pessoas diferentes, com visões
diferentes sobre os mesmos problemas,
05
R E V I S T A
página
HOMINIS
06
Saúde e Humanidades
proporcionam uma visão holística, com maior
criatividade nas decisões, pois na
heterogeneidade é que se verifica maior
coesão e capacidade de inovação. Além disso, a
presença de pessoas com deficiência promove
a humanização do local de trabalho (DAMASIO,
2012, p. 44).
Portanto, cabe aos gestores das organizações
este desafio, visto que a legislação, pura e
simplesmente, é insuficiente.
Desafios do processo de inclusão
Para incluir pessoas com deficiência é
necessário que as empresas promovam
pequenas adaptações que estão, em grande
parte, muito mais relacionadas a questões
comportamentais do que propriamente físicas.
Primeiramente, a equipe que recebe uma
pessoa com deficiência deve ser treinada e
preparada para qualquer tipo de situação. É
importante que os demais colaboradores
conheçam o tipo de deficiência da pessoa que
estará recebendo para poder se relacionar
melhor com ela em seu processo de adaptação.
É muito comum, nas empresas, encontrar
pessoas despreparadas para lidar com as
diferenças e, principalmente, com as
adaptações no ambiente de trabalho, quando
recebem uma pessoa com deficiência. Nestes
casos, é preciso analisar a situação, apontar
ações através de um diálogo aberto e franco e,
dependendo da gravidade, relocar
colaboradores que não estiverem abertos à
adaptação com a nova situação. O líder, em
conjunto com a pessoa com deficiência, devem
avaliar as adaptações e adequações
necessárias, e os devidos ajustes, contando
sempre com a ajuda de outros profissionais, a
fim de obterem sucesso nas modificações. O
comportamento do líder é fundamental neste
processo, pois terá um peso enorme sobre seus
colaboradores, uma vez que será como espelho
para os demais. Desta forma, as vantagens
surgirão tanto para as pessoas quanto para as
organizações (REBELO, 2008, p. 58-59).
Muitas vezes, a decisão de contratar
colaboradores com deficiência não parte da
livre e espontânea vontade da empresa, mas
sim da necessidade de se cumprir as exigências
legais. Mas, independentemente da forma com
que o colaborador seja incluído, deve-se levar
em conta a importância da preparação da
equipe, analisando-se cuidadosamente o posto
que o colaborador deverá assumir, uma vez que
se deve atentar para vários aspectos referentes
às tarefas que lhes serão atribuídas, sempre
observando a segurança e a acessibilidade que
o indivíduo necessita, resguardando suas
condições físicas, psicológicas e patológicas.
A adequação do espaço físico para receber um
colaborador com deficiência deve ser
estudada, sempre que possível, de acordo com
as necessidades da pessoa, criando facilidades
para o desenvolvimento de suas funções. No
entanto, com as normas técnicas disponíveis,
em especial a NBR 9050 (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT,
2004), é possível a estruturação ou
reestruturação de espaços físicos de forma a
atender todas as pessoas igualmente,
antecipando a acessibilidade sem
discriminação ou segregação.
A inclusão de um colaborador com deficiência é
um trabalho conjunto entre o setor de Recursos
Humanos, que deve cuidar da admissão, e de
um médico da empresa, que deve conhecer o
local e as condições de trabalho do local para
onde o colaborador está sendo direcionado.
Este trabalho pode evitar futuros transtornos à
empresa e aos colaboradores (BRASIL, 2007).
Segundo Rebelo (2008), caso a empresa conte
com outros colaboradores que possuam algum
tipo de deficiência, estes devem ser inseridos
no processo de integração com os novatos, pois
possuem experiências com relação às barreiras
existentes e que podem ser rompidas
antecipadamente.
O processo de inclusão deve ser sempre
considerado pela empresa em seu contexto
global, partindo do princípio que as pessoas
com deficiência, colaboradores ou clientes,
deverão ter acesso a todos os locais,
informações e demais necessidades comuns a
todos os cidadãos. Conforme relata Rebelo
(2008), também devem ser considerados os
riscos ocupacionais e as questões relacionadas
à segurança industrial, incluindo planos de
evacuação e de resgate, em caso de ocorrência
de acidentes.
A fragilidade física e mental de um colaborador
com deficiência deve ser vista de uma maneira
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
humana por parte dos companheiros de
trabalho. Não se deve olhar a pessoa com
piedade, mas colocar-se no lugar da pessoa e
imaginar as dificuldades que ela passa no seu
dia a dia. Isto pode fazer com que a relação de
ambos torne-se agradável e naturalmente
confortável para todos no ambiente de
trabalho.
O papel da gestão de pessoas na inclusão da
pessoa com deficiência no ambiente de
trabalho
A inclusão da pessoa com deficiência nas
empresas deve vislumbrar um aspecto
transformador, capaz de integrar este indivíduo
em condições de trabalho acessíveis,
equiparando-o a outros funcionários, porém
respeitando suas particularidades. Para
operacionalizá-la, a empresa deve dispor de
uma gestão de pessoas que assuma seu papel
relevante na organização, e cujas ações
permeiam e interferem em todas as etapas da
vida funcional do trabalhador (REBELO, 2008).
Para incluir a pessoa com deficiência e para que
esta ação seja realizada com sucesso, é de
fundamental importância que a empresa esteja
preparada para fazê-la através de um processo
cauteloso e planejado de Gestão de Pessoas,
sendo pautado nos preceitos descritos em Lei.
O primeiro passo será estabelecer em quais
atividades da empresa é possível receber os
deficientes, quais tipos de deficiência são
compatíveis com os trabalhos realizados, as
adaptações necessárias à admissão dos
deficientes, a disponibilidade de recursos
financeiros para realizá-las e as pessoas que
serão responsáveis pela gestão de mudanças
(REBELO, 2008, p. 61).
Para conduzir esta inclusão de forma íntegra, é
necessário que a organização possua uma
equipe qualificada, capaz de selecionar,
receber, treinar e integrar o novo funcionário
de uma maneira que estimule sua segurança e
seu bem estar no ambiente de trabalho.
Ocorrendo dificuldades neste processo, a
empresa pode procurar apoio e assessoria
junto às entidades e escolas de pessoas com
deficiência que detêm conhecimentos a
respeito da matéria e podem se constituir em
importantes parceiras desse processo. Nesse
sentido, é proverbial o lema do Ano
página
Internacional das Pessoas com Deficiência em
2004: “Nada sobre nós sem nós” (BRASIL, 2007,
p. 30).
A Constituição Federal (BRASIL, 1988), em seu
artigo 7º, XXXI, coíbe qualquer tipo de
discriminação no tocante aos salários e critérios
de admissão do trabalhador com deficiência.
Assim, o processo de seleção de profissionais
com deficiência deve obedecer todas as etapas
previstas para um profissional convencional,
porém cumprindo algumas exigências que
garantam legitimidade do processo.
Desta forma, torna-se fundamental que os
requisitos exigidos para a contratação da
p e s s o a co m d ef i c i ê n c i a p o s s u a m a s
especificações necessárias que caracterize a
vaga, de fato, para estes indivíduos,
impossibilitando uma pessoa sem restrição de
ocupar tal cargo e tão pouco fazendo distinção
de deficiência, pois o que deve ser buscado pela
empresa é a pessoa e não a deficiência. As
pessoas com deficiência devem ser respeitadas,
seja qual for a natureza e a severidade da sua
deficiência (BRASIL, 2007).
Além disso, a empresa não deve exigir
experiência profissional destes candidatos. A
Cartilha do Ministério do Trabalho e Emprego
(BRASIL, 2007), que trata da inclusão da pessoa
com deficiência no mercado de trabalho,
justifica que antes de ser instituída a
obrigatoriedade de contratação de pessoas
com deficiência, raras eram as empresas que as
empregavam. Portanto, a elas não eram dadas
oportunidades para terem, em seu currículo,
experiência profissional.
Neste caso, se houver a necessidade de
conhecimentos prévios para a ocupação do
cargo, a organização deve oferecer ensejos que
propiciem o desenvolvimento das habilidades e
competências para o desempenho da função.
Em relação à escolaridade, a empresa deve
também considerar o histórico excludente
destas pessoas, pois “à ela não foram dadas
oportunidades iguais de acesso à escolarização,
tendo, muitas vezes, acesso ao conhecimento e
à certificação por meio do apoio da família ou
da comunidade local” (BRASIL, 2007, p. 27).
Portanto, mesmo não apresentando a
formação acadêmica desejada, a pessoa com
deficiência pode possuir os saberes
imprescindíveis para o desenvolvimento das
07
R E V I S T A
página
HOMINIS
08
Saúde e Humanidades
funções, os quais poderão ser observados
através da realização de testes e similares.
Ambas as atitudes obedecem aos preceitos
descritos na Recomendação nº 168 da
Organização Internacional do Trabalho (OIT),
que, em seu artigo 36, alínea “c”, assim dispõe:
Sempre que possível e apropriado, as
organizações de empregadores deveriam
tomar medidas para: [...] c) assessorar seus
membros sobre os ajustes que poderiam
efetuar-se para os trabalhadores portadores
de deficiência nas tarefas essenciais ou nas
exigências dos empregos apropriados (BRASIL,
2007, p. 28).
Nas entrevistas, na aplicação de testes e
durante todo processo de integração de
funcionários com deficiência, a empresa deve
dispor de profissionais capacitados para
auxiliá-los, considerando a deficiência dos
candidatos, que, no ato de inscrição da vaga,
deve fazer menção de suas restrições. Os
instrumentos utilizados devem estar em
formato acessível para as diferentes
deficiências, como, por exemplo, a presença de
intérprete de sinais, quando o candidato for
surdo, teste em braile para os cegos etc
(BRASIL, 2007).
Para a efetivação da contratação da pessoa
com deficiência, a empresa deve seguir os
procedimentos e normas gerais descritos na
legislação trabalhista. Os salários e os
benefícios ofertados ao funcionário com
deficiência serão iguais aos demais
funcionários que ocupam a mesma função. Em
alguns casos, pode haver flexibilidade de
horário e redução de carga horária, com
pagamento salarial proporcional.
Outro importante elemento no processo de
contratação é o exame admissional, que
contribuirá significativamente para a
integração do colaborador com deficiência no
ambiente de trabalho e fazer com que a
empresa conheça suas restrições e, a partir daí,
encontre meios para anular os entraves que
possam ocorrer no seu desenvolvimento
profissional, em todos os aspectos,
propiciando soluções que garantam o
desempenho de suas funções, de forma plena
e eficaz:
Esta interação é particularmente importante,
devido à constatação de que, no processo de
admissão do deficiente, mais de que em
qualquer outro exame médico admissional ou
exame médico de retorno ao trabalho, a
avaliação é personalizada e específica, levandose em consideração a capacitação profissional,
as exigências do trabalho, as normas de
segurança e a possibilidade de adaptação dos
processos, instalações e fluxos envolvidos na
execução das tarefas, para minimizar ou
mesmo neutralizar o impacto das limitações do
deficiente e garantir sua integridade física e
integração social (REBELO, 2008, p. 58).
De posse destas informações, a empresa pode
adotar atitudes para viabilizar a inserção deste
colaborador na organização, considerando que,
muitas vezes a pessoa com deficiência, pela sua
limitação, não consegue desenvolver o
conjunto das funções inseridas num mesmo
cargo, mas pode realizar grande parte delas. A
empresa, sempre que possível, deve verificar a
possibilidade de desmembrar as funções de
forma a adequar o cargo às peculiaridades dos
candidatos (BRASIL, 2007).
A integração do novo colaborador com
deficiência deve ser realizada desde suas
primeiras horas no ambiente organizacional,
contemplando a apresentação da empresa,
acolhimento pelos colegas e a orientação sobre
suas futuras atividades, proporcionando-lhe
estímulo e segurança para o exercício de sua
função.
Aos gestores compete, antes mesmo da fase de
seleção dos candidatos, tornar esta ação
participativa e sensibilizar todos os
funcionários da organização, já que a
integração do grupo depende do envolvimento
de todos os níveis hierárquicos, sendo
indispensável a preparação dos supervisores e
colegas de trabalho, para que possam criar um
ambiente organizacional propício ao
acolhimento do colega com deficiência
(REBELO, 2008). De tal modo, devem-se criar
estratégias para elucidar o assunto, a fim de que
todos se sintam bem dispostos para receber e
conviver com o novo colega:
Cada colaborador da área deve estar
sensibilizado sobre as questões referentes à
deficiência e à diversidade de forma geral. Uma
vez conscientizado, o ambiente se torna
propício à comunicação aberta, sem qualquer
tipo de receio e os pré-conceitos em torno das
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
pessoas com deficiência são derrubados. Os
trabalhos de sensibilização corporativa são
f u n d a m e n ta i s p a ra a re t e n ç ã o d o s
profissionais com deficiência na empresa, e
são peças chave desta empregabilidade
(FEBRABAN, 2006, p.13).
No momento da recepção, todo quadro
funcional deve estar movido, no sentido de
eliminar preconceitos, estereótipos e outras
atitudes que atentem contra o direito das
pessoas de serem iguais, permitindo, dessa
forma, o respeito e a convivência com as
pessoas com deficiência (BRASIL, 2007).
O gestor deve conduzir este processo com
receptividade e sabedoria, fazendo com que
todos os colaboradores vejam na inclusão uma
oportunidade de crescimento pessoal e
profissional, pois a convivência salutar com
pessoas com deficiência pode ser um
importante facilitador do relacionamento
interpessoal e um exemplo a ser seguido de
perseverança e superação de dificuldades
(REBELO, 2008).
Demonstrar equidade de condições, também
poderá contribuir para minimizar as diferenças
neste processo, já que em uma empresa
inclusiva todos os funcionários trabalham
juntos e possuem igualdade de oportunidades
(FEBRABAN, 2006).
Uma das formas de acompanhamento do
trabalhador deficiente é através da avaliação
de desempenho. Esta deve ser realizada com
especial atenção, considerando suas
limitações e suas peculiaridades, ponderando,
se seu acesso aos instrumentos e regras da
instituição lhe foi proporcionado de forma
compreensível. Se os critérios utilizados forem
usados como padrões de avaliação, não
estariam sendo respeitadas as peculiaridades
das pessoas com deficiência (BRASIL, 2007).
O responsável pela aplicação da avaliação
necessita de aptidão para reconhecer as
necessidades e potencialidades do indivíduo.
Para tanto, é de fundamental importância que
as chefias sejam treinadas para efetivar sua
aplicação de maneira integra, dinâmica e
eficaz, permitindo ao avaliado a exposição de
suas expectativas e críticas sobre a
organização. Este deve ser um procedimento
norteador para auxiliar no processo de
inclusão social e visar a construção de
página
procedimentos de capacitação e qualificação
destes profissionais.
Segundo Ribeiro (2012), a contratação de
pessoas com deficiência deve ser vista como
qualquer outra contratação, visto que se espera
do trabalhador, em quaisquer condições,
profissionalismo, dedicação e assiduidade,
enfim, valores esperados de qualquer
empregado.
Portanto, não existe concessão em Lei que
estabeleça a estabilidade para estes indivíduos.
Caso não apresente os elementos e
competências esperadas de um bom
profissional, a empresa pode realizar o
desligamento do funcionário. Demitir, seja qual
for o motivo, não é uma tarefa fácil. O
importante é que a deficiência não seja a causa
desta demissão, que o funcionário saiba disso e
que receba as devidas explicações (FEBRABAN,
2006).
O cargo deixado pela pessoa com deficiência
deve, obrigatoriamente, ser preenchido por
outro cotista, nos termos do parágrafo 1º do
artigo 93 da Lei 8.213 (BRASIL, 1991).
Assumir a responsabilidade pela inclusão e
aplicá-la através da gestão de pessoas, faz com
que as organizações cumpram seu papel,
oferecendo dignidade ao ser humano. A
própria sociedade, hoje, cobra das empresas o
compromisso de assumirem seu papel social, o
que modifica a sua imagem junto à sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As reflexões deste estudo remetem à
necessidade e aos desafios da
gestão de pessoas em incluir a pessoa com
deficiência no mercado de
trabalho de forma íntegra, legítima e
responsável.
Em contraponto à visão simplista, de que as
pessoas com deficiência incomodam, pode-se
concluir que, além de não incomodarem, elas
ensinam e são efetivamente construtoras da
sociedade, através de seu trabalho,
experiências e conquistas.
A legislação, apesar de impor à sociedade o
processo de inclusão, permitiu a todos a
convivência e o conhecimento de que
paradigmas podem ser rompidos e conquistas
podem ser obtidas através da determinação e
da ajuda mútua, em um processo de troca de
09
R E V I S T A
página
HOMINIS
10
Saúde e Humanidades
experiências e de vidas entre pessoas com e
sem deficiências visíveis, uma vez que todos os
seres humanos, de certa forma, têm algum tipo
de deficiência em relação aos demais e que, às
vezes, umas são mais aparentes do que as
outras.
No entanto, ainda são poucas as organizações
que aderem a esta prática de maneira eficaz,
devido a dificuldades e falta de conhecimento
na implantação e gerenciamento de estratégias
que garantam a contratação e permanência da
pessoa com deficiência em seus quadros.
Muitas destas contratações são meramente em
cumprimento aos preceitos legais, sem garantir
nenhuma perspectiva ao funcionário com
deficiência, o que acaba refletindo diretamente
no resultado deste procedimento.
Diante deste processo, o papel primordial da
gestão de pessoas é conscientizar a todos os
envolvidos no processo quanto aos benefícios
da inclusão para a organização. Além da
imagem positiva da empresa, são inestimáveis
os benefícios no ambiente de trabalho, já que a
contratação da pessoa com deficiência
fo r ta l e c e o e s p í r i t o d e e q u i p e , d e
cooperativismo, de solidariedade e humaniza o
ambiente, fazendo com que todos sejam
corresponsáveis por todos, e que pessoas com
deficiência tenham a oportunidade de acesso e
de permanência no mercado de trabalho, de
acordo com suas capacidades e competências,
o que promove a igualdade, acessibilidade e a
valorização da diversidade.
A organização que prática a inclusão contribui
para a construção de uma sociedade mais justa
e humana, assumindo sua responsabilidade
social de reconhecer que as desigualdades
podem ser superadas e transformadas em
potencialidades globais no sucesso das
organizações e de seus colaboradores.
REFERÊNCIAS
ABNT, Associação Brasileira de Normas
Técnicas. NBR 9050. ABNT, Rio de Janeiro:
2004.
ATHAYDE, B. Gestão inclusiva com deficientes
físicos ainda é limitada. Exame.com, 01 out.
2 0 1 2 .
D i s p o n í v e l
e m :
<http://exame.abril.com.br/revista-vocesa/edicoes/172/noticias/ gestao-inclusiva>.
Acesso em: 15 jan. 2014.
BRASIL. Constituição Federal de 1988 da
República Federativa do Brasil. Brasília:
Senado Federal, Centro Gráfico. 1988.
BRASIL. Lei 8.213, de 24 de julho de 1991.
Dispõe sobre os Planos de Benefícios da
Previdência Social e dá outras providências.
1991. Diário Oficial da União. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l82
13cons.htm>. Acesso em: 27 jan. 2014.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Manual de
legislação em saúde da pessoa com deficiência.
– 2ª. ed. rev. atual. Brasília: Editora do
Ministério da Saúde. 2006.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego –
Secretaria de Inspeção do Trabalho. A inclusão
de pessoas com deficiência no mercado de
trabalho. 2ª. ed. MTE-SIT, Brasília. 2007.
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO
BRASIL - CNBB. Campanha da Fraternidade
2006: Texto Base / CNBB. São Paulo: Ed.
Salesiana. 2005.
DAMASIO, R.M.Q. Educação inclusiva:
preocupação real nas escolas municipais,
adequação e preparo para o futuro cidadão.
Monografia. Universidade Cândido Mendes.
Rio de Janeiro. 2012. Disponível em:
< h t t p : / / w w w. a v m . e d u . b r / d o c p d f /
monografias_publicadas/T207545.pdf>.
Acesso em: 15 mar. 2014.
FEBRABAN – Federação Brasileira dos Bancos.
Pessoas com deficiência direitos e deveres.
Coleção Febraban de inclusão social. 2006.
D i s p o n í v e l
e m :
<http://www.febraban.org.br/arquivo/cartilha
/Cartilha_Direitos_Deveres.pdf>. Acesso em:
09 fev. 2014.
IBGE – Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística. Resolução nº. 10, de 28
ago de 2013. 2013. Diário Oficial da União nº
1 6 7 , 2 9 a g o . 2 0 1 3 . D i s p o n í ve l e m :
<http://www.dpu.gov.br/images/stories/Infol
eg /2013/08/29/Resolucao_10_IBGE.pdf.
Acesso em: 15 mar. 2014.
LIRA, G. Acessibilidade digital: uma questão de
cidadania. Acessibilidade Brasil 10 set. 2005.
Disponível em: <www.acessobrasil.org.br>.
Acesso em: 15 mar. 2014.
MONTEIRO, S.H.M. O compromisso e o
cuidado com a vida nas origens históricas e nos
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
documentos oficiais da Igreja Metodista no
Brasil, subsídios teóricos para a inclusão da
pessoa com deficiência física. Universidade
Metodista de São Paulo. Faculdade de
Humanidades e Direito. São Bernardo do
Campo. 2009.
OLIVEIRA, F. Saúde da população negra: Brasil
ano 2001. Brasília: Organização Pan-Americana
da Saúde. 2003.
REBELO, P. A pessoa com deficiência e o
trabalho. Rio de Janeiro: Qualitymark, 114 p.
2008.
RIBEIRO, T.S. A inclusão das pessoas com
deficiência no mercado de trabalho e a
ineficácia da aplicação da lei de cotas nas
empresas privadas. In: Âmbito Jurídico, Rio
Grande, XV, n. 101, jun 2012. Disponível em:
< h t t p : / / w w w. a m b i t o j u r i d i c o . c o m . b r /
página
site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id
=11835&revista_caderno=25>. Acesso em 09
fev. 2014.
SASSAKI, R.K. Atualizações semânticas na
inclusão de pessoas: Deficiência mental ou
intelectual? Doença ou transtorno mental?
Revista Nacional de Reabilitação, ano IX, n.43,
p.9-10. 2005.
SILVA, M.B.N. Cultura no Brasil Colonial, São
Paulo: Vozes, 176 p. 1981.
SILVA, M.I. Por que a terminologia “pessoas
com deficiência”? Sensibiliza. Núcleo de
acessibilidade e inclusão. Universidade Federal
Fluminense. 22 Jul 2009. Disponível em:
<http://www.prograd.uff.br/sensibiliza/porque-terminologia-pessoas-com-deficiencia>.
Acesso em: 15 mar. 2014.
11
R E V I S T A
12
Saúde e Humanidades
título: Análise das respostas glicêmicas, lipídeos plasmáticos e
índice de massa corporal após treinamento físico em indivíduos
portadores de diabetes mellitus Tipo 2
HOMINIS
Juliana Vallim Jorgetto
Mestre em Ciências Médicas/Endocrinologia Clínica-UNIFESP e Docente da Faculdade
Pitágoras Campus Poços de Caldas/MG. email:[email protected]
página
Giovanna Vallim Jorgetto
Mestre em Ciências da Saúde e Docente da Faculdade Pitágoras Campus Poços de Caldas.
email:[email protected]
Daniele Albano Pinheiro
Doutora em Ciências Fisiológicas e Docente do Centro Universitário das Faculdades
Associadas de Ensino de São João da Boa Vista-UNIFAE. email:[email protected]
RESUMO
A prática regular de atividade física tem
sido recomendada para a prevenção e
reabilitação de doenças cardiovasculares
por diferentes associações de saúde no
mundo. Analisar o efeito do exercício físico
regular de 36 semanas no controle
glicêmico, lipídeos plasmáticos e Índice de
Massa Corporal em indivíduos diabéticos
tipo 2 de uma Unidade de Saúde de um
município do interior paulista. As variáveis
estudadas foram glicemia plasmática de
jejum, colesterol total e frações, e Índice de
Massa Corporal (n= 25) e a medição
antropométrica por peso e altura. Utilizouse o teste T-pareado, e os resultados foram
expressos em média e desvio padrão.
Houve redução estatisticamente
significante (p‹0,05) nas médias das
variáveis estudadas após o programa de
treinamento físico. Estes resultados
permitem concluir que o exercício físico é
de grande importância no controle
metabólico, lipídeos e índice de massa
corporal nos diabéticos, diminuindo assim
esses parâmetros.
Palavras-Chave: Exercício físico, Índice
glicêmico, Lipídeo plasmático, IMC,
Diabetes Mellitus.
ABSTRACT
Regular physical activity has been
recommended for the prevention and
rehabilitation of cardiovascular diseases by
different health associations in the world.
To analyze the effect of regular exercise for
36 weeks in glycemic control, plasma lipids
and body mass index in type 2 diabetic
subjects of a Health Unit in a city of São
Paulo. The variables studied were fasting
plasma glucose, total cholesterol and
fractions, and body mass index (n = 25) and
anthropometric measurement of height
and weight. We used the paired t-test, and
the results were expressed as mean and
standard deviation. There was a statistically
significant reduction (p <0.05) in the
variables studied after physical training
program. These results suggest that
physical exercise is very important in
metabolic control, lipids and body mass
index in diabetics, thus decreasing these
parameters.
Keywords: Physical exercise, glycemic
index, Plasma Lipid, BMI, diabetes
mellitus.
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
INTRODUÇÃO
Atualmente, o diabetes mellitus é considerado
como uma das principais doenças crônicas que
afetam o homem. É um problema de saúde
universal, acometendo todas as classes
socioeconômicas e afetando populações de
países em todos os estágios de
desenvolvimento, pois é uma doença crônica
que afeta milhões de pessoas e suas
complicações têm cada vez mais efeitos na
qualidade de vida e mortalidade (DANIELE et al.,
2013).
Por se tratar de uma síndrome decorrente da
falta ou produção diminuída de insulina e/ou da
incapacidade desta em exercer
adequadamente seus efeitos metabólicos, o
DM caracteriza-se pelo aumento da glicose no
sangue (hiperglicemia) e pela perda de glicose
na urina (glicosúria), associada ou não a outras
substâncias, ocasionando modificações no
metabolismo dos carboidratos, lipídeos e
proteínas. Essas alterações metabólicas podem
apresentar-se de forma aguda ou crônica,
comprometendo várias funções do organismo
(GARCIA, SANZ, SANZ, 2013).
O número de pessoas com diabetes tipo 2
(DM2) passará de 135 milhões em 1995 para
300 milhões em o ano de 2025. Assim, as
medidas de prevenção da diabetes e síndrome
metabólica são vitais para reduzir o custo
crescente desta doença altamente endêmica.
Muitas complicações associadas com diabetes,
tais como a hipertensão, acidente vascular
cerebral, saúde mental deficiente, fraqueza
muscular, depressão, e sonolência diurna
também têm sido associadas à vida sedentária
(MURANO et al., 2014). Além disso, tem sido
amplamente demonstrado que as intervenções
no estilo de vida, que incluem atividade física
regular e hábitos alimentares saudáveis ?são
b e n éf i ca s p a ra p a c i e nte s d i a b ét i co s
(GUCCIARDI, CHAN, MANUEL, SIDAMI, 2013).
O controle metabólico de indivíduos com a
doença em evolução consiste em um dos
maiores desafios dos serviços de saúde pública
americanos e do Brasil (CRAWFORD et al.,
2010). Por isso, o desenvolvimento de
programas eficazes e viáveis aos serviços
públicos de saúde para a prevenção primária de
diabetes mellitus tipo 2 em população de risco é
necessário tanto para o controle de incidência
página
de diabetes mellitus tipo 2 como também para
a prevenção secundária de suas complicações
metabólicas.
Os efeitos da prática da atividade física regular
para a saúde têm sido amplamente
documentados (JORGETTO, PINHEIRO, 2011).
Há evidências de que os resultados inicialmente
obtidos num programa de atividade física só
serão mantidos se os indivíduos continuarem
praticando exercício apropriado em longo
prazo (SNEL et al., 2012; RENNIE et al., 2003).
O objetivo do presente estudo foi analisar o
efeito do exercício físico regular de 36 semanas
no controle glicêmico, lipídeos plasmáticos e
IMC em indivíduos diabéticos tipo 2 de uma
Unidade de Saúde de um município do interior
paulista.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa do tipo quase
experimental, retrospectiva e comparativa, do
tipo antes e depois, na qual foram analisados
dados obtidos dos prontuários de uma amostra
de diabéticos (n=25), atendida em uma
Unidade de Saúde de um munícipio do interior
paulista.
Os indivíduos foram convidados a participar do
estudo, por ocasião de sua consulta agendada.
Quando preenchiam os critérios de inclusão
(DM tipo 2, idade entre 45 a 75 anos, estar
participando do programa HIPERDIA (programa
desenvolvido pelo Ministério da Saúde voltado
para pacientes diabéticos e hipertensos), idade
diagnóstico maior que 5 anos e apresentar ou
não patologia associada) e aceitaram participar
do estudo, assinaram um termo de
consentimento. Os critérios de exclusão foram:
faltar ao programa de exercícios físicos, e os
indivíduos que tiveram seus tratamentos
medicamentosos modificados durante o
programa de exercícios (antidiabéticos orais
e/ou insulina).
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da FAE- Faculdades Associadas de
Ensino de São João da Boa Vista, e os
participantes que aceitaram participar da
pesquisa assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido.
Utilizou-se um modelo experimental de préteste e pós-teste aplicado ao grupo, sem fazer
uso de grupo controle. Foram analisadas as
13
R E V I S T A
página
HOMINIS
14
Saúde e Humanidades
variáveis glicemia plasmática de jejum, lipídeos
plasmáticos: colesterol total, colesterol de alta
densidade (HDL), colesterol de baixa densidade
(LDL) e índice de massa corporal (IMC) pré e
pós-treinamento. Essas variáveis foram
coletadas apenas no primeiro e último dia de
treinamento físico do grupo e descritas em seus
prontuários médico e de atividade física, antes
e após as 36 semanas no período de julho/2002
a abril/2003 pela mesma equipe
multidisciplinar.
A coleta de sangue em jejum foi realizada na
Unidade Básica de Saúde pelos profissionais da
área de enfermagem, visando à glicemia
plasmática de jejum e os lipídeos plasmáticos.
Em contrapartida, a avaliação antropométrica
(peso e altura) foi realizada no Centro
Comunitário Luis de Freitas, onde estes
pacientes faziam seus exercícios físicos por
profissionais da educação física e fisioterapia e
também a coleta de dados referentes a
fármacos, tipo de diabetes, tempo de
diagnóstico, idade e sexo anotados em
prontuários específicos para treinamento físico
desses sujeitos.
Os dados citados anteriormente não foram
coletados para posterior análise, e sim, para a
seleção e descrição da amostra.
Tanto a coleta de sangue como os exercícios
físicos aplicados já faziam parte da rotina no
local do estudo.
O Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado
mediante divisão do peso (kg) pela altura (m)
ao quadrado. Os participantes foram
categorizados segundo os valores de IMC entre
18 e 24,9 kg/m2, 25 e 29,9 kg/m2 para
sobrepeso e > 30 kg/m2 para obesidade
(TOBIAS et al., 2014).
Foi realizado um programa de exercícios físicos
de 36 semanas, sendo três sessões por semana
com 50 minutos de duração. Cada sessão
estava assim dividida: 5 minutos de
aquecimento com exercícios de alongamento
de Membros Superiores (MMSS) e Membros
Inferiores (MMII) e circundução de membros e
tronco; 35 minutos de caminhada e/ou
hidroginástica e 10 minutos de resfriamento
com exercícios de alongamento e técnicas de
respiração e relaxamento.
Os resultados foram analisados realizando-se a
média e desvio padrão das variáveis, bem como
a aplicação do teste estatístico T-pareado,
sendo considerado significante os resultados
com variação de 95% entre o grupo pré e póstreinamento físico (p<0,05), compatível com
valores da área da saúde e apresentados sob a
forma de gráficos.
RESULTADOS
Foram analisados prontuários de 25 sujeitos
que apresentavam idade diagnóstica entre 5 a
15 anos de doença, tratados com antidiabéticos
o ra i s e /o u i n s u l i n a , d i eta e o u t ro s
medicamentos para patologias associadas.
Todos os participantes também eram
hipertensos, e deste apenas um havia sofrido
um Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e outro
apresentava coronariopatia.
A glicemia de jejum dos sujeitos da amostra
encontra-se representada no gráfico 1. Os
resultados indicam diminuição significativa
(p=0,0018) entre os grupos pré (146,93 ±52,21
mg/dl) e pós-teste (121,16±63,57 mg/dl) após
um programa de exercício físico regular.
O gráfico 2 apresenta as médias pré-teste
(215,96±78,62 mg /dl) e pós-teste
(195,05±103,29 mg /dl) dos lipídeos
plasmáticos, e verifica-se que os indivíduos
e st u d a d o s a p re s e n ta ra m d i m i n u i ç ã o
estatisticamente significante (p=0,0010) nessas
variáveis.
O gráfico 3 mostra o efeito do programa de
treinamento físico no IMC com diminuição nos
valores da média do grupo (p=0,0036). A
média e desvio padrão pré-teste foram
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
30,65±15,79 Kg/cm e no pós-teste foram de
28,29±11,16 Kg/cm).
DISCUSSÃO
A associação entre inatividade física e
resistência à insulina foi sugerida pela primeira
vez em 1945, e desde então surgiram novos
estudos epidemiológicos demonstrando essa
relação com a presença de fatores de risco
cardiovascular como hipertensão arterial,
entre outros (LAKKA et al., 2003). Por outro
lado, a prática de atividade física tem sido
considerada uma importante ferramenta na
prevenção e tratamento de indivíduos com
diabetes principalmente do tipo 2, onde
programas de exercícios físicos têm mostrado
eficácia no controle glicêmico, melhorando a
sensibilidade `a insulina e tolerância à glicose,
diminuindo a glicemia sanguínea, os valores de
lipídeos plasmáticos e consequentemente o
IMC desses indivíduos, como mostrou Lazarevic
et al., 2006, em seu estudo.
Conforme recomendação da OMS sobre
prevenção de doenças crônicas, a
implementação de programas de mudança de
estilo de vida em indivíduos portadores de
fatores de risco deve ser associada a alterações
ambientais que favoreçam as escolhas
individuais na adoção e manutenção do estilo
de vida saudável.
Como pode-se observar nesse estudo, a
glicemia de jejum após as 36 semanas de
treinamento físico diminuiu comparada com
valores do pré-treinamento, indo de encontro
aos resultados de COSTA et al., 2003.
Esses resultados concordam com resultados da
literatura (KAIZU et al., 2014; LINDEN et al.,
2014; ROBERTS, LITTLE, THYFAULT, 2013) já que
com o treinamento físico há maior mobilização
e liberação de glicose (glicogenólise), mas
também, ocorre maior utilização desse
substrato para a produção de energia e
manutenção da atividade física. Também, sabe-
página
se que o exercício físico ativa o transportador
de glicose (GLUT-4) mesmo com alteração na
produção e liberação de insulina (BROWN et al.,
2014).
Os resultados desse estudo mostraram um
papel benéfico da aplicação de um programa de
36 semanas de treinamento físico para
melhorar o perfil lipídeo dos voluntários.
Alguns estudos (MAHDIREJEI et al., 2013;
ZHANG et al., 2013; HERBST et al., 2014)
demonstraram que a resposta ao exercício
físico melhora os níveis de C-TOTAL, HDL-C E
LDL-C, destacando o importante papel do
treinamento físico no aumento do HDL
colesterol. Os achados desse estudo são
concordantes com os benefícios de um
programa de exercícios de três meses, que
reduziu o LDL e elevou o HDL em 10%, quando
comparado aos níveis basais, dentro da
primeira semana de treinamento físico
(GUSTAT et al., 2002).
Segundo Van Dyck et al. (2014), o IMC é
considerado medida antropométrica pela
relação entre massa e altura do indivíduo,
sendo considerada uma variável
importantíssima devido os fatores de risco
cardiovascular (CASTANEDA, 2001).
Para Huang, Zhang, Gandra, Chin, Meltzer,
2008, levando em consideração a tendência de
aumento da prevalência do diabetes, é de se
prever que a prática regular de atividade física
seja recomendada para a prevenção e
reabilitação de doenças cardiovasculares por
diferentes associações de saúde no mundo,
sendo também considerada uma importante
ferramenta na prevenção e tratamento de
indivíduos com diabetes principalmente do
tipo 2, tratados ou não com insulina.
Um programa de exercício físico regular de 36
semanas, demonstrou eficácia no controle
glicêmico, além dos níveis de lipídeos
plasmáticos e IMC dos indivíduos pesquisados,
embora essa eficácia seja apenas sugestiva,
pois neste estudo não tivemos um grupo
controle.
Programas de intervenção de estilo de vida para
DM2 tem sido previamente verificada em
muitos estudos controlados, pois o exercício
físico apresenta efeitos moduladores sobre o
controle glicêmico do que apenas terapias
medicamentosas isoladas, assim como no
15
R E V I S T A
página
HOMINIS
16
Saúde e Humanidades
estudo de Penn et al., 2009.
Arora, Shenoy, Sandhu, 2009 e Winnick et al.,
2008, descrevem que o treinamento de
resistência isolado ou acompanhado de
exercício aeróbio pode melhorar tanto o ajuste
glicêmico como os valores de lipídeos e
consequentemente o IMC.
O excesso de adiposidade é um fator de risco
bem estabelecido para a morte prematura na
população em geral, incluindo a morte devido à
d o e n ç a c a r d i o v a s c u l a r. E v i d ê n c i a s
epidemiológicas provenientes de estudos
prospectivos sugerem um efeito protetor para
o diabetes mellitus tipo 2 por intermédio da
adoção de um estilo de vida saudável. O Nurses
Health Study, conduzido com 84.941 mulheres
americanas, observou que a ausência de
tabagismo, prática de trinta minutos de
atividades físicas diária, manutenção de peso e
padrão alimentar habitual rico em fibras e
ácidos graxos polinsaturados, pobre em
gorduras saturadas e ácidos graxos trans com
baixo índice glicêmico reduziu em 91,0% o risco
de desenvolver o diabetes mellitus tipo 2 após
16 anos de seguimento, segundo Tobias et al.,
2014.
Observou-se que após o treinamento físico
aeróbio o IMC dos voluntários diminui, ou seja,
houve redução de peso, o que significa que a
atividade física é o efeito mais variável do gasto
energético diário, pelo que a maioria das
pessoas conseguem gerar taxas metabólicas
que são 10 vezes maiores que seus valores em
repouso durante exercícios com participação
de grandes grupos musculares, como
caminhada, corridas e hidroginástica, segundo
Pollock (2001).
Monfort-Pires et al. (2014) evidenciaram que o
treinamento físico composto por exercícios
físicos aeróbios diminui a quantidade de
gordura corporal em indivíduos idosos, e isso
pode mediar alguns efeitos metabólicos do
exercício físico aeróbio, principalmente pelo
excesso da gordura abdominal estar associada
com a resistência à insulina e hiperinsulinemia.
Nossos dados estão de acordo com outros
estudos de Yavari et al. (2014); Molsted,
Johnsen, Snorgaard (2014); Hankonen et al.
(2014), que também observaram a diminuição
do IMC após um programa de treinamento
físico aeróbio.
No geral, os efeitos benéficos do exercício sobre
a aptidão física, os sintomas da doença e
qualidade de vida em DM2 são fortemente
observados nos estudos de Praet et al., 2008 e
Atkinson, Davenne, 2007, levando em
consideração que as mudanças
comportamentais são necessárias para atingir
os objetivos do treinamento físico sobre a
redução da obesidade, resistência à insulina e
complicações cardiovasculares.
CONCLUSÕES
Conclui-se que a prática regular de atividade
física é recomendada para pacientes
diabéticos, pois nesta amostra, promoveu
controle glicêmico, diminuindo a glicemia
sanguínea desses indivíduos, ajudou a diminuir
os valores de lipídeos plasmáticos e de IMC. Por
isso, a manutenção de uma vida saudável e
peso corporal devem continuar a ser a pedra
angular no controle do diabetes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARORA, E.; SHENOY, S.; SANDHU, J. S. Efeitos do
treinamento resistido sobre o perfil
metabólico de adultos com diabetes tipo 2.
Indian Journal Medicine Residence, v.129,
p.515-9. 2009.
ATKINSON, G.; DAVENNE, D. Relação entre
sono, atividade física e saúde humana.
Physiology Behavior, v.90, p.229-35. 2007.
BROWN, R .E. et al.
All-cause and
cardiovascular mortality risk in U.S. adults
with and without type 2 diabetes: Influence of
physical activity, pharmacological treatment
and glycemic control. Journal of Diabetes and
Its Complications, p. 311–315. 2014.
CASTANEDA, C. et al. A randomized controlled
trial of resistance exercise training to improve
glycemic control in older adults with type 2
diabetes. Diabetes Care, v.25, p.2335-41. 2002.
COSTA, A. C. F.; ROSSI, A.; GARCCIA, N. B.;
MOREIRA, A. C.; FOSS, M. C. Análise dos
critérios diagnósticos dos distúrbios do
metabolismo de glicose e variáveis associados
à resistência insulínica. Jornal Brasileiro de
Patologia Médica e Laboratorial; v.39, n.2,
p.125-30. 2003.
CRAWFORD, A. G. et al. A prevalência de
obesidade, diabetes mellitus tipo II,
dislipidemia e hipertensão nos Estados
Unidos: resultados do banco de dados GE
Centricity eletrônico Medical Record.
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
Population Manag Health, v.13, p.151-61. 2010.
DANIELE, T.M.C. et al. Associações entre
atividade física, co-morbidade, sintomas
depressivos e qualidade de saúde de vida em
diabéticos tipo 2. Arquivos Brasileiros de
Endocrinologia e Metabologia, v.57, n.1. 2013.
GARCIA, S. D.; SANZ, S. D.; SANZ, A. D. Type 2
diabetes mellitus and obesity: should we treat
the obesity on the diabetes? Medicine Clinical
(Barc.), v.141, Suppl 2, p.14-9. 2013.
GUCCIARDI, E.A.; CHAN, V.W.S.; MANUEL, L.;
SIDANI, S. A systematic literature review of
diabetes self-management education features
to improve diabetes education in women of
Black African/Caribbean and Hispanic/Latin
American ethnicity. Patient Education and
Counseling, v.92, p. 235–245. 2013.
GUSTAT, J.; SRINIVASAN, S. R.; ELKASABANY, A.;
BERENSON, G. S. Relation of self-rated
measures of physical activity to multiple risk
factors resisteance syndrome in young adults:
the Bogalusa Heart study. Journal Clinical
Epidemiology, v.55, p.997-1006. 2002.
HERBST, M. et al. Impact of regular physical
activity on blood glucose control and
cardiovascular risk factors in adolescents with
type 2 diabetes mellitus - a multicenter study
of 578 patients from 225 centres. Pediatric
Diabetes. Jun 2. doi: 10.1111, 2014.
HUANG, E.S.; ZANHG, Q.; GANDRA, N.; CHIN, M.
H.; MELTZER, D. O. O efeito da doença de comorbidade e estado funcional sobre os
benefícios esperados de controle intensivo da
glicose em pacientes idosos com diabetes tipo
2: a análise de decisão. Ann Internacional
Medicine, p. 11-9. 2008.
JORGETTO, J.V.; PINHEIRO, D.A. Análise das
respostas glicêmicas e pressóricas após 36
semanas de treinamento físico em indivíduos
portadores de diabetes mellitus. Revista
Inspirar: movimento e saúde, v.3, n.4. 2011.
KAIZU, S. et al. Impact of Leisure-Time Physical
Activity on Glycemic Control and
Cardiovascular Risk Factors in Japanese
Patients with Type 2 Diabetes Mellitus: The
Fukuoka Diabetes Registry. PLOS ONE, v.9, n.6.
2014.
LAKKA, T.A. et al. Sedentary life style, poor
cardiorespiratory fitness, and the metabolic
syndrome. Médice Science Sports Exercise,
v.35, p.1279-86. 2003.
LAZAREVIC, G. et al. Um programa de atividade
física e seus efeitos sobre a resistência à
página
insulina e defesa oxidativo em pacientes do
sexo masculino obesos com diabetes mellitus
tipo 2. Metabologia e Diabetes, v.32, p.583-90.
2006.
LINDEN, H.O. P. et al. Combining metformin
and aerobic exercise training in the treatment
of type 2 diabetes and NAFLD in OLETF rats.
American Journal Physiology Endocrinology
Metabology, v.30, n.3. 2014.
MAHDIREJEI, M.O. et al. Effects of 8 Weeks
Resistance Training on Plasma Vaspin,
Metabolic Parameters Levels and Physical
Fitness in Patients with Type 2. Diabetes care,
v.31, n.16. 2013.
MOLSTED, S.; JOHNSEN, N.F.; SNORGAARD, O.
Trends in leisure time physical activity,
smoking, body mass index and alcohol
consumption in Danish adults with and
without diabetes: A repeat cross-sectional
national survey covering the years 2000 to
2010. Diabetes Res Clin Pract. May 29. pii:
S0168-8227(14)00232-0, 2014.
MONFORT-PIRES, M. et al. Diet Quality Is
Associated with Leisure-Time Physical Activity
in Individuals at Cardiometabolic Risk. Journal
American College Nutricion. v24, p.1-9. 2014.
MURANO, I. et al. Factors Increasing Physical
Activity Levels in Diabetes Mellitus: A Survey
of Patients after an Inpatient Diabetes
Education Program. J. Phys. T 696 her. Science.
v.26, n.5. 2014.
PENN, L. M. B. et al. A prevenção da diabetes
tipo 2 em adultos com intolerância à glicose: a
Prevenção RCT Europeia Diabetes em
Newcastle upon Tyne, Reino Unido. BMC
Public Health, v.9, p.342. 2009.
POLLOCK, M.L. et al. Resistance exercise in
individuals wt and without cardiovascular
disease: benefi ts, rationale, safety and
prescription: an advisory fro the committee on
exercise, rehabilitation, and prevention,
council on clinical cardiology, American Heart
Association. Circulation, v.101, p.828-33. 2001.
PRAET, S.F. et al. Caminhada rápida em
comparação com um programa de aptidão
médica individualizada para pacientes com
diabetes tipo 2: um estudo controlado
randomizado. Diabetologia, v.51, p.736-46.
2008.
RENNIE, K.L.; McCARTHY, N.; YAZDGERDI, S.;
MAARMOT, M.; BRUNNER, E. Association of
metabolic syndrome with both vigorous and
moderate physical activity. International
17
R E V I S T A
página
HOMINIS
18
Saúde e Humanidades
Journal of Epidemiology, v.32, p.600-6. 2003.
ROBERTS, C.K.; LITTLE, J.P.; THYFAULT, J.P.
Modification of insulin sensitivity and
glycemic control by activity and exercise.
Medicine Science Sports Exercise. v.45, n.10,
p.1868-77. 2013.
SNEL, E.C. et al. Quality of life in type 2
diabetes mellitus after a very low calorie diet
and exercise. European Journal of Internal
Medicine, v.23, p.143–149. 2012.
TOBIAS, D. K. et al. Body-mass index mortality
among adults witch incident type 2 diabetes.
The New England Journal of Medicine, p.370:3.
2014.
VANDYCK, C. A. et al. International study of
objectively-measured physical activity and
sedentary time with body mass index and
obesity: ipen adult study. International Journal
of Obesity. 2014.
ZHANG, Y. et al. The impact of new screendetected and previously known type 2
diabetes on health-related quality of life: a
population-based study in Qingdao, China.
Quality Life Residence. DOI 10.1007/s11136014-0674-z, 2013.
WINNICK, J.J. et al. Treinamento aeróbio de
curto prazo em seres humanos obesos com
diabetes mellitus tipo 2 melhora a
sensibilidade à insulina em todo o corpo por
meio de ganhos de sensibilidade periférica à
insulina, não hepático. Jornal Cliníco de
Endocrinologia e Metabologia, v.93, p.771-8.
2008.
YAVARI, A. et al. The effect of a long term
regular physical activity with hypertension
and body mass index in type 2 diabetes
patients. Journal Sports Medicine Physical
Fitness, June 19. 2014.
R E V I S T A
HOMINIS
título: Importância da comissão de controle de infecção
hospitalar no controle da resistência microbiana
Saúde e Humanidades
página
Taís Cristina Lima
Bárbara Carvalho Santos
Discentes do Curso de Especialização em Prevenção e Controle de Infecção em Serviços
de Saúde da Universidade José do Rosário Vellano (UNIFENAS) campus Poços de
Caldas/MG.
email: [email protected]; [email protected]
Giovanna Vallim Jorgetto
Mestre em Ciências da Saúde. Orientadora, Professora convidada do Curso de
Especialização em Prevenção e Controle de Infecção em Serviços de Saúde da
Universidade José do Rosário Vellano (UNIFENAS) campus Poços de Caldas/MG.
Coordenadora do Curso de Enfermagem da Faculdade Pitágoras de Poços de Caldas.
email: [email protected]
RESUMO
A Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar tem como finalidade principal
controlar e prevenir infecção hospitalar e,
uma de suas medidas é racionar o uso
indiscriminado de antimicrobianos. O
presente estudo teve como objetivo buscar
e avaliar as evidências disponíveis na
literatura nacional acerca da importância
da Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar no controle da resistência
microbiana. Neste estudo foi adotada,
como forma metodológica, a revisão de
literatura, no período compreendido entre
2002 a 2012 e para a seleção dos artigos,
utilizou – se a base de dado LILACS, LIS e
MEDCARIB. A amostra constitui-se de 14
artigos sobre o tema. Dentre as lacunas do
tema investigado, destaca-se a necessidade
de uma mudança radical no
comportamento e atitude dos profissionais
de saúde frente ao controle da resistência
bacteriana dentro do contexto da infecção
hospitalar.
Palavras-Chave: Infecção Hospitalar;
Farmacorresistência bacteriana; CCIH.
ABSTRACT
The Hospital Infection Control Committee's
main purpose is to control and prevent
hospital infection and one of its measures is
to ration the indiscriminate use of
antibiotics. This study aimed to search and
evaluate evidence available in the national
literature about the importance of Hospital
Infection Control Commission in controlling
microbial resistance. This study adopted as
methodological way, the literature review,
in the period 2002-2012 and for the
selection of items, used - if the data base
LILACS LIS and MEDCARIB. The sample
consisted of 14 articles on the topic. Among
the theme of gaps investigated, there is the
need for a radical change in the behavior
and attitude of health professionals outside
the control of bacterial resistance within
the context of hospital infection.
Keywords: Infection; Bacterial Drug
Resistance; CCIH.
19
R E V I S T A
página
HOMINIS
20
Saúde e Humanidades
INTRODUÇÃO
De acordo com Brasil (1996) a Portaria nº
2.616, de 12 de maio de 1998, do Ministério
da Saúde (MS), Infecção Hospitalar (IH) é
aquela adquirida após a admissão do
paciente e que se manifeste durante a
internação ou após a alta, quando puder ser
relacionada com a internação ou
procedimentos hospitalares.
Oliveira e Maruyama (2008) afirmam que a
Portaria mencionada acima determina a
obrigatoriedade da existência de um
Programa de Controle de Infecção
Hospitalar (PCIH) em todos os hospitais do
país, trata da organização e competências
da Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar – CCIH; estabelece os conceitos e
critérios diagnósticos das Infecções
Hospitalares, dá orientações sobre a
vigilância epidemiológica das infecções
hospitalares e seus indicadores; faz
recomendações sobre a higiene das mãos e
enfatiza a observância de publicações
anteriores do Ministério da Saúde quanto
ao uso de germicidas, microbiologia,
lavanderia e farmácia.
A Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar (CCIH) deve possuir ainda
membros de dois tipos: consultores e
executores, um dos membros executores
da CCIH deve ser preferencialmente um
enfermeiro (BRASIL, 1996).
Pereira et al. (2005) afirmam que na década
de 70 houve uma verdadeira reformulação
das atividades de controle de infecção, os
hospitais americanos criaram núcleos para
o controle de infecção e aprofundaram os
estudos sobre o tema; no Brasil surgiram as
primeiras Comissões de Controle de
Infecção Hospitalar (CCIH). Na década de 80
começou a ocorrer uma conscientização
dos profissionais de saúde a respeito do
tema com a instituição da CCIH em vários
estados do país.
Para Moura et al. (2007) todos os
p ro f i s s i o n a i s d a s a ú d e e d e m a i s
profissionais inseridos na estrutura da
assistência hospitalar, de alguma maneira,
estão permanentemente participando do
trabalho em serviço, do trabalho em saúde
como um todo e também são responsáveis
pela estrutura, processo e resultados dos
Programas de Prevenção e Controle de
Infecção Hospitalar.
Segundo Azambuja, Pires e Vaz (2004) as
infecções hospitalares são decorrentes
tanto das condições intrínsecas do
paciente/cliente quanto de
ações/procedimentos realizados pela
equipe multiprofissional e têm sido tema
de muitas discussões e reflexões entre os
profissionais de saúde.
Carneiro et al. (2011) ressaltam que as
infecções adquiridas em ambiente
hospitalar são causadas por
microrganismos que provavelmente não
causariam infecções em indivíduos sadios,
mas tornam-se causa freqüente de doenças
em pessoas hospitalizadas, cujas defesas
orgânicas encontram-se diminuídas.
A IH representa um dos principais
problemas da qualidade da assistência à
saúde, devido a sua grande incidência,
letalidade significativa, aumento no tempo
de internação e no consumo de
medicamentos (GONÇALVES; KREUTZ; LINS,
2004).
Segundo Moura et al. (2007) a problemática
da IH no Brasil cresce a cada dia,
considerando que o custo do tratamento
dos clientes com IH é três vezes maior que o
custo dos clientes sem infecção. Mesmo
com a legislação vigente no país, os índices
de IH permanecem altos, 15,5%, o que
corresponde a 1,18 episódios de infecção
por cliente internado com IH nos hospitais
brasileiros.
Segundo Pereira et al. (2005) a maior parte
das IH manifesta-se como complicações de
pacientes gravemente enfermos, em
consequência da hospitalização e da
execução de procedimentos invasivos ou
imunossupressores a que o doente, correta
ou incorretamente, foi submetido.
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
Os riscos de IH estão presentes no
ambiente hospitalar, e para se alcançar um
controle de infecções efetivo, há
necessidade da construção de
conhecimentos específicos aos
profissionais da área da saúde (CARDOSO;
SILVA, 2004).
Gonçalves, Kreutz e Lins (2004) ressaltam
que a ocorrência de IH depende da
existência de uma fonte de infecção, das
formas de transmissão do agente
etiológico e da susceptibilidade do cliente,
podendo se tornar um “ciclo” que deve ser
interrompido. Daí a importância da
existência e da atuação de uma comissão
de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH).
A CCIH faz parte do Programa de Controle
de Infecção Hospitalar (PCIH) e é um órgão
de assessoria à autoridade máxima da
instituição e de execução das ações de
controle de infecção hospitalar, dentre
suas competências consta controle do uso
racional de antimicrobianos.
Para Carneiro et al. (2011) e Andrade;
Leopoldo; Haas (2006), os antimicrobianos
são fármacos com a propriedade de
suprimir o crescimento dos patógenos ou
destruí-los e cuja utilização na prática
clínica modificou o curso natural, além de
melhorar o prognóstico das doenças
infecciosas. Eles podem ser utilizados de
forma profilática e terapêutica, porém, seu
emprego crescente e indiscriminado é o
principal fator relacionado com a
emergência de cepas bacterianas
resistentes.
Resistência bacteriana é definida como
capacidade do germe de crescer in vitro em
presença da concentração inibitória dessa
droga quando na corrente sanguínea
(QUEIROZ et al., 2012).
Segundo Pinhati, Moura e Damasceno
(2010) a aquisição de resistência pelos
microrganismos costumam ser em pacotes
ou hierarquizadas. No primeiro caso a
resistência não se direciona a apenas um
antimicrobiano, mas a toda família de
página
antimicrobianos. Já no segundo caso
entende-se que, quando há resistência aos
antimicrobianos de gerações mais
modernas, costuma-se observar in vivo a
resistência aos antimicrobianos de
gerações mais antigas.
Devido ao uso irracional de
antimicrobianos e a administração
empírica, vários problemas de resistência
microbiana surgiram como um novo
desafio para a terapêutica, causando
elevados índices de mortalidade (QUEIROZ,
2012).
Para Fontana e Lautert (2006) com a
evolução da tecnologia, antimicrobianos
foram sendo aperfeiçoados, por outro lado,
a invasão dos microrganismos
multirresistentes e a luta contra esta
resistência fragilizam o ambiente do
cuidado humano e desafiam as ações dos
trabalhadores da saúde no que se refere à
prevenção das infecções hospitalares.
Sem dúvida que, a associação dos
microrganismos multirresistentes à
infecção hospitalar agravou a situação
gerando expectativas sombrias para o
futuro, se medidas urgentes não forem
tomadas (ANDRADE; LEOPOLDO; HAAS,
2006).
Para Queiroz et al. (2012) o uso meticuloso
dos antimicrobianos em ambientes clínicos
adequados e praticas cuidadosas de
controle de infecções permanecem sendo a
melhor defesa contra a emergência e a
disseminação da resistência microbiana.
Frente ao exposto foi verificado que a
resistência microbiana é um problema
grave e importante, torna-se necessário
enfatizar o papel do serviço de infecção
hospitalar no controle da propagação das
cepas microbianas multirresistentes.
OBJETIVOS
O presente estudo teve como objetivo
realizar revisão sistemática da literatura,
caracterizando as publicações quanto ao
01
21
R E V I S T A
página
HOMINIS
22
Saúde e Humanidades
ano de publicação, tipo de estudo, número
de autores, país de publicação, revista
publicada e importância da CCIH no
controle da resistência microbiana.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste estudo foi adotada, como forma
metodológica, a revisão sistemática de
literatura, no período compreendido entre
2002 a 2012, através da seguinte questão
norteadora: dentre as publicações
encontradas em artigos científicos, nas
bases de dados LILACS, LIS e MEDCARIB,
encontramos artigos que tratam do tema
relacionado à importância da comissão de
controle de infecção hospitalar no controle
da resistência microbiana?
A pesquisa foi realizada no site da
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), através
da base de dado LILACS (Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da
Saúde), LIS e MEDCARIB, que disponibiliza
acesso livre e gratuito às informações
técnico-científicas publicadas
nacionalmente e internacionalmente e
contém artigos científicos considerados
autênticos e de fontes seguras.
Dentre os critérios utilizados para a seleção
estão: artigos publicados em português e
ano de publicação no período de 2002 a
2012, que apresentassem o assunto
relacionado aos objetivos deste estudo e
que seu acesso completo fosse livre e
gratuito. Foi utilizado como critério para
exclusão, os artigos publicados sob forma
de resumo e os publicados em língua não
portuguesa. Os descritores utilizados
foram: Infecção Hospitalar;
Farmacorresistência bacteriana; CCIH.
Foram utilizados 14 artigos para a
realização deste trabalho.
Concomitantemente à seleção dos artigos
pertinentes, foi realizada a leitura,
interpretação e análise do material
selecionado, utilizando-se o operador AND
aos descritores.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados da TAB. 01 demonstram o número
de referências bibliográficas encontradas
nas bases de dados eletrônicas
pesquisadas.
Após análise da tabela acima, podemos
observar que foram utilizados 14 artigos de
relevância relacionados aos descritores
propostos por esse estudo, devido critérios
de inclusão deste. Através da análise deste
material, todos abrangem questões
referentes à resistência microbiana, CCIH e
infecção hospitalar.
De acordo com Santos (2004),
atualmente a resistência microbiana é um
grave e importante problema nos hospitais,
sendo consequência do uso indiscriminado
de antibióticos, uma vez que seu uso está
entre as principais forças envolvidas nas
infecções hospitalares. Os pacientes
hospitalizados possuem alto risco de
adquirir infecções hospitalares,
ressaltando-se os seguintes fatores
predisponentes:
- Pacientes hospitalizados tendem a ser
mais susceptíveis a infecções, devido sua
condição de doente e o risco aumento
quando são expostos a antibióticos.
- Paciente imunossuprimido (AIDS, câncer,
uso de corticoides e antibióticos) possui
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
página
maior risco para adquirir infecção
hospitalar;
- Nestas circunstâncias, os microrganismos
que normalmente não são patogênicos,
tornam-se capazes de causar infecção
hospitalar.
A autora citada acima ressalta que o
crescente interesse em estudar e analisar o
problema da infecção hospitalar está
voltado, principalmente, para o fenômeno
das bactérias antibióticorresistentes.
Os artigos analisados discorrem sobre
desafios e perspectivas da infecção
hospitalar, bactérias multirresistentes e
CCIH.
Pereira et al. (2005) reforçam que infecção
hospitalar (IH) é um evento histórico, social
e não apenas biológico, requerendo
investimentos científicos, tecnológicos e
humanos para incorporação de medidas de
prevenção e controle.
Gonçalves, Kreutz e Lins (2004) afirmam
que os profissionais de saúde,
especialmente os enfermeiros, são muito
importantes diante deste desafio, devendo
se tornar os articuladores e motivadores
dos saberes e fazeres relacionados ao
controle de infecção.
Também se destaca nos artigos a
importância do uso racional de
antimicrobianos. Carneiro et al. (2011)
refo rça m a n e c e s s i d a d e d a C C I H
desenvolver um programa de
racionalização do consumo de
antimicrobianos, visando a qualidade da
assistência no âmbito da prevenção de
infecções e, este programa além da redução
23
R E V I S T A
página
HOMINIS
24
Saúde e Humanidades
da indução de cepas multirresistentes
objetiva otimizar efeitos terapêuticos e
minimizar efeitos indesejáveis dessas
drogas, como por exemplo, a toxicidade.
Lima, Andrade e Hass (2007) citam que
desde a introdução do mais antigo
antimicrobiano até o mais recente, vem se
registrando uma pressão seletiva dos
microrganismos causada, principalmente
pelo uso indiscriminado de
antimicrobianos, resultando no
desenvolvimento de espécies resistentes.
Atualmente, um número considerável de
microrganismos desenvolveu resistência
aos antimicrobianos convencionais, como
também alguns estão impenetráveis aos
novos fármacos.
A escolha, uso, administração, cuidado na
dosagem a fim de evitar terapêuticas e
doses inadequadas de antimicrobianos
que levam à resistência bacteriana é a
responsabilidade que cabe à equipe de
saúde como um todo. (HOEFEL; LAUTERT,
2006)
Santos (2004) refere que a resistência
microbiana tornou-se o principal problema
de saúde pública do mundo e ela é uma
inevitável consequência do uso
indiscriminado de antibióticos em
humanos e animais.
A autora citada acima destaca, também, a
importância de controlar a infecção
hospitalar, pois, não havendo este tipo de
infecção, não há necessidade do uso de
antibióticos para tratá-la, diminuindo a
pressão seletiva sobre as bactérias do
ambiente hospitalar e dos pacientes.
Segundo Oliveira (2012) a emergência de
bactérias multirresistentes no ambiente
hospitalar tem sido progressiva nas últimas
décadas, constituindo-se em uma ameaça à
saúde pública em todo mundo. O problema
pode ser explicado pelo uso indiscriminado
e inadequado dos antimicrobianos;
adicionalmente verifica-se a inobservância
ou a baixa conformidade com os protocolos
e medidas de controle de infecção.
Conforme Lima, Andrade e Hass (2007) é de
extrema importância que cada instituição
defina sua situação em termos de
microbiota hospitalar bem como a
multirresistência e quais são os critérios
utilizados para definir cepas
multirresistentes. Isso justifica as ações de
prevenção e controle das infecções
hospitalares que incluem vigilância do
perfil microbiológico e de sensibilidade dos
microrganismos e uso racional de
antimicrobianos.
Para Santos (2004), há uma necessidade
que ocorra, urgentemente uma mudança
consciente e radical no comportamento e
de atitude de todos os profissionais de
saúde, do consumidor (paciente), dos
pesquisadores, dos empresários das
indústrias farmacêutica, da administração
hospitalar e do próprio governo e de muitos
outros envolvidos no processo do controle
da resistência bacteriana no contexto da
infecção hospitalar, pois, infecção
hospitalar controlada significa resistência
bacteriana diminuída.
CONCLUSÃO
Como conclusão do presente estudo fica
evidente que o uso inapropriado e abusivo
de antibióticos contribui para o aumento
progressivo da resistência bacteriana, fato
este, que tem merecido atenção especial
crescente nos últimos anos.
Neste contexto percebe-se que o uso
indiscriminado dessas drogas se tornou um
grande desafio para a comissão de controle
de infecção hospitalar. Sabendo que a
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
comissão tem como finalidade principal
controlar e prevenir infecção hospitalar, a
mesma deve desenvolver e implementar
novas políticas e práticas que assegurem o
uso criterioso de antimicrobianos, elaborar
estratégias para monitorar o uso destas
drogas, como formulários altamente
restritivos justificando a necessidade de tal
antimicrobiano, e os profissionais da
Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar (CCIH) devem ser habilitados no
controle do uso de antimicrobianos para
aconselhamento das prescrições e
elaboração de protocolos. Agindo assim, a
comissão intervirá de forma efetiva para a
promoção do uso racional de
antimicrobianos, de forma a minimizar a
pressão seletiva sobre as bactérias.
Outra estratégia a ser adotada pela
comissão é a divulgação do perfil de
sensibilidade dos microrganismos
prevalentes e do uso de antimicrobianos,
para conhecimento do corpo clínico.
O controle da resistência bacteriana
depende de um raciocínio complexo,
envolvendo indicações de uso, protocolos
de utilização, formas de administração e
questões políticas referentes aos hospitais
e interesses da indústria de medicamentos.
Destaca-se também, a importância do
trabalho multidisciplinar, a fim de que seja
promovida uma mudança radical no
comportamento e atitude dos profissionais
de saúde. O envolvimento destes
profissionais é essencial para o controle de
infecções hospitalares, principalmente,
àquelas causadas por bactérias
antibioticorresistentes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, D.; LEOPOLDO, V.C.; HAAS, V.J.
Ocorrência de bactérias multirresistentes
em um centro de terapia Intensiva de
Hospital Brasileiro de Emergências. Rev.
Bras. Ter. intensiva, v.18, n.1, p.27-33, Mar.
2006.
página
BRASIL, Portaria n° 2.616 de 12 de maio de
1998. Expede na forma de anexos,
diretrizes e normas para prevenção e
controle das infecções hospitalares. 1998.
CARDOSO, R.S.; SILVA, M.A. A percepção
dos enfermeiros acerca da comissão de
infecção hospitalar: desafios e
perspectivas. Texto contexto- enferm.,
v.13, p.50-57. 2004.
CARNEIRO, M. et al. O uso de
antimicrobianos em um hospital de
ensino: uma breve avaliação. Rev. Assoc.
Med. Bras., v.57, n.4, p.421-424. 2011.
FONTANA, R.T.; LAUTERT, L. A prevenção e o
controle de infecções: um estudo de caso
com enfermeiras. Rev. Bras. Enferm., v.13,
n.3, p.257-261, jun. 2006.
GONÇALVES, D.C.; KREUTZ, I.; LINS, J.F.
Alencastro B. de Albuquerque. A infecção
hospitalar em Mato Grosso: desafios e
perspectivas para a enfermagem. Texto
contexto – enferm., v.13, p.71-78. 2004.
HOEFEL, H.H.K.; LAUTERT, L. Administração
endovenosa de antibióticos e resistência
b a c te r i a n a : re s p o n s a b i l i d a d e d a
enfermagem. Rev. Eletr. Enferm.,v.8, n.3,
p.441-449, 2006.
LIMA, M.E.; ANDRADE, D.; HASS, V.J.
Avaliação prospectiva da ocorrência de
infecções em pacientes críticos de unidade
de terapia intensiva. Rev. Bras. Ter.
Intensiva; v.19, n.3, p.342-347. 2007.
MOURA, M.E.B.; CAMPELO, S.M.A.; BRITO,
F.C.P.; BATISTA, O.M.A.; ARAÚJO, T.M.E.;
OLIVEIRA, A.D.S. Infecção hospitalar:
estudo de prevalência em um hospital
público de ensino. Rev. Bras Enferm; v.60,
n.4, p.416-421, jul.-ago. 2007.
OLIVEIRA, A.C. et al. Colonização por
micro-organismo resistente e infecção
relacionada ao cuidar em saúde. Acta Paul.
Enferm; v.25, n.2. 2012.
OLIVEIRA, R.; MARUYAMA, S.A.T. Controle
de infecção hospitalar: histórico e papel do
estado. Rev. Eletr. Enf., v.10, n.3, p.775-783.
2008.
25
R E V I S T A
página
HOMINIS
26
Saúde e Humanidades
PEREIRA, M.S. et al. A infecção hospitalar e
suas implicações para o cuidar da
enfermagem. Texto contexto – enferm.,
v.14, n.2, p.250-257, jun. 2005.
P I N H AT I , H . M . S . ; M O U R A , E . B . ;
DAMASCENO, C.M.G. Bactérias
multirresistentes: enfoque sobre os gramnegativos. Brasília med., v.47, n.4, p.460464. 2010.
QUEIROZ, G.M.; SILVA, L.M.; PIETRO,
R.C.L.R.; SALGADO, H.R.N.
Multirresistência microbiana e opções
terapêuticas disponíveis. Rev. Bras. Clin.
Med. v. 10 n.2, p.132-8, mar-abr. 2012.
SANTOS, N.Q. A resistência bacteriana no
contexto da infecção hospitalar. Texto
contexto – enferm., v.13, p.64-70. 2004.
R E V I S T A
HOMINIS
título: O COMÉRCIO JUSTO NO BRASIL E EM PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO:
reflexões ao crescimento econômico no mercado Fair Trade
em cooperativas e associações de agricultores familiares
Saúde e Humanidades
página
Andreza Aparecida Barbosa
Coordenadora do curso de Administração da Faculdade Pitágoras de Poços de Caldas.
email: [email protected]
Paulo Roberto Alves Pereira
Doutor em Engenharia Química. Docente do curso de Engenharia Química e do Mestrado
em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida, ambos do UNIFAE de São João da
Boa Vista-SP. email: [email protected]
RESUMO
Este artigo se baseou no estudo de uma
dissertação de mestrado que evidenciou o
processo de conquista da certificação Fair
Trade (comércio justo) em uma associação
de agricultores familiares, certificada em
2009, no Sul de Minas Gerais. Para
transformar esse grupo de agricultores
numa associação foram necessárias
algumas ações como a implementação de
um planejamento estratégico adequado,
uma mudança cultural e de gestão, entre
outras. Diante desta perspectiva, o
movimento social das práticas de comércio
justo ajudou a estruturar e embasar a
constituição da associação, de modo a
identificar implicações positivas no negócio
da própria associação e em seus
associados, após a conquista da
certificação Fair Trade. Sendo assim, esta
proposta de pesquisa se apresenta como
instrumento para abalizar a relação entre o
crescimento econômico das práticas na
modalidade de comércio justo no Brasil e
em países em desenvolvimento, com
enfoque nos impactos econômicos sobre a
produtividade no mercado Fair Trade. O
processo metodológico será
fundamentado na pesquisa bibliográfica,
no qual o aprofundamento empírico se deu
por meio de pesquisa exploratória, cujos
dados foram tratados de maneira
qualitativa.
Palavras-chave: Certificação Fair Trade.
Associação. Cooperativa. Crescimento
Econômico. Comércio Justo.
ABSTRACT
This article was based on the study of a
dissertation which showed the
achievement process of certification Fair
Trade (fair trade) in an association of
farmers, certified in 2009 in southern Minas
Gerais. To transform this group of farmers in
association were necessary some actions as
the implementation of an adequate
strategic planning, cultural change and
management, among others. Given this
perspective, the social movement of fair
trade practices helped to structure and to
support the association's constitution, in
order to identify positive implications on
the business association itself and its
members, after the conquest of certified
Fair Trade. Thus, this research proposal is
presented as a tool to excel the relationship
between economic growth of fair trade
practices in sport in Brazil and in developing
countries, focusing on economic impacts
on productivity in the Fair Trade market.
The methodological process will be based
on the literature, in which the empirical
study be made through exploratory
research whose data were treated in a
qualitative way.
Keywords: Fair Trade Certification.
Association. Cooperative. Economic
growth. Fairtrade.
27
R E V I S T A
página
HOMINIS
28
Saúde e Humanidades
INTRODUÇÃO
O Brasil está entre os países que mais
produzem e consomem café e quando se
bebe uma pequena xícara é difícil pensar
quanto o produtor recebeu do preço pago.
Além disso, raramente se pensa em
quantas crianças morrem diariamente de
fome, miséria, doenças e pobreza, causas
que podem ser modificadas por uma
condição de vida e trabalho melhores. É
isso que o Fair Trade propõe: um
componente essencial para modificar a
vida das pessoas mais pobres para melhor,
priorizando o lucro em prol das pessoas
vulneráveis. Esse fenômeno global coloca
as pessoas antes dos lucros, focando em
um salário justo, a sustentabilidade
ambiental e a justiça social.
O Fair Trade ou comércio justo é um
movimento positivo que envolve alimento
e bens. Quando os compradores adquirem
produtores de agricultores que trabalham
dentro do conceito do Fair Trade, ainda que
esses produtores sejam mais caros que os
produzidos dentro dos conceitos
tradicionais de produção, é preciso
compreender o porquê desse acréscimo.
Os produtos advindos do Fair Trade
geralmente estão localizados em áreas
afetadas pela prática desleal para os seus
produtos, em áreas localizadas em locais de
conflito ou em áreas pobres.
O Fair Trade possui as condições e
ferramentas para mudar essa situação de
vida dos pequenos produtores, tornandoos participantes do comércio internacional
e também satisfazendo as suas
necessidades sem agredir o meio
ambiente. Alguns exemplos dos produtos
afetados pelo Fair Trade são: café, algodão,
linho, frutas exóticas e outros. Os
produtores inseridos no esquema Fair
Trade conseguem receber o suficiente ou o
preço justo para sustentar as suas famílias,
fortalecer a comunidade em que vivem,
prover educação para os filhos e muito
mais.
Porém, é bom compreender que o Fair
Trade não pensa apenas na comunidade
que será beneficiada pela sua política. O Fair
Trade trabalha a nível global. Os produtos
agrícolas produzidos dentro do esquema
Fair Trade advém de muito trabalho,
dedicação, buscando qualidade e preço
justo, provendo salários justos e decentes
para os trabalhadores, além de
providenciar empregos e outras
necessidades para a comunidade, tais como
educação, conhecimento, proteção ao meio
ambiente, saúde, ou seja, o Fair Trade pensa
na criação de um mundo melhor para todos.
Muitos se questionam sobre o porquê de
pagar mais pelos produtos Fair Trade. Se for
pensar nos benefícios criados pela política
Fair Trade, os produtos se tornam baratos,
pois a sua produção busca garantir um
mundo melhor não apenas para os
produtores, mas também para os
consumidores.
Adaptar os atores, sejam eles produtores ou
consumidores, ao esquema do mercado
global, porém dentro dos valores
fundamentais e esquemas do comércio
justo não é tarefa fácil, pois essa adaptação
leva tempo. Os mercados vêm crescendo
cada vez mais, as empresas e os produtos
vêm evoluindo e para inserir os pequenos
produtores nesse mercado é preciso: criar
condições para que as relações comerciais
diretas entre os produtos e compradores
sejam pensadas a longo prazo; o ideal é
pensar em uma ação coletiva ou em uma
ação cooperativa entre os produtores para
que os lucros sejam igualmente distribuídos
entre todos e as melhorias também sejam
para todos, afinal a comunidade precisa ser
o centro das atenções; é preciso modificar
as produções agrícolas de maneira a
produzir produtos certificados; é preciso
ajudar os pequenos produtores a buscarem
e encontrarem crédito a preços acessíveis; o
trabalho precisa estar inserido dentro das
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
políticas da Organização Internacional do
Trabalho, ou seja, sem trabalho escravo,
infantil ou forçado e com direito a
negociação coletiva; é preciso focar em
educação como um forma alternativa de
informar aos produtores e consumidores
sobre as práticas e sobre o comércio dos
produtores envolvidos nas práticas do
comércio justo internacional; a gestão
ambiental precisa estar no foco das
relações entre o homem produtor e o meio
ambiente (isso inclui a não produção com
pesticidas e herbicidas).
Os pequenos produtores rurais
encontraram nas práticas do Fair Trade
condições para se encaixarem no mercado
mundial de modo que pudessem
determinar os preços e as condições que os
favorecessem. Além disso, encontraram
condições para criarem cooperativas que
beneficiassem a todos, com preços justos,
menos burocracia, menores custos e mais
controles independentes dos outros.
O Fair Trade também criou condições para o
consumo ético e para a negociação
realizada de forma justa. Assim, todos os
a t o r e s d o Fa i r Tra d e t o r n a m - s e
protagonistas de suas próprias vidas,
decisões, práticas comerciais, valores,
preço, facilidades de cumprimento de
prazos, entre outros, não se sentindo mais
sozinhos contra os grandes comerciantes
mundiais. Isso ocorre porque o Fair Trade
regula normas e valores por meio de seus
inspetores qualificados de maneira a
garantir o cumprimento desses padrões.
Enfim, o Fair Trade é um símbolo de
solidariedade simbolizando a crença de
que todos juntos podem imaginar, idealizar
e criar um mundo diferente, justo, social e
melhor para todos.
Os pequenos produtores rurais
perceberam que os mercados estão cada
vez mais globais. O mercado é cada vez
mais um intercâmbio internacional devido
aos avanços da tecnologia e transporte.
Assim o preço justo (cooperativas e
página
sindicatos de agricultores e trabalhadores
organizados de maneira a estabelecer um
piso mínimo de preços para os produtos),
proibição de trabalho forçado e infantil, o
esforço em conjunto dos grupos para
trabalharem mais diretamente possível
com os importadores de maneira a eliminar
intermediários e quaisquer custos
adicionais fazendo com que os
trabalhadores recebam mais lucro pelos
seus produtos e ganhando competências
empresariais. O lucro alcançado pelas
cooperativas acaba por beneficiar toda a
comunidade, ajudando-a a crescer. Outro
fator importante é a sustentabilidade
ambiental, já que os métodos de cultivo e
técnicas de produção ecologicamente
corretos e destinados a serem sustentáveis
para poderem preservar o solo; o uso de
produtos químicos é totalmente proibido.
Os princípios do Fair Trade conseguem
alterar a vida das pessoas, quebrando o
ciclo da pobreza, da fome e da desigualdade
social, apoiando as famílias dos pequenos
produtores e das comunidades de um
modo geral.
Portanto, o Fair Trade vem ajudando países
em desenvolvimento a obterem um melhor
n e g ó c i o n o â m b i t o d o c o m é rc i o
internacional, já que se trata de uma aliança
entre consumidores de países ricos e
produtores de países pobres, aumentando
a consciência pública, participação social e
desafiando as regras comerciais mundiais
injustas. A tarefa agora é levar esse modelo
de sucesso para mais pessoas,
comprovando que todos os parceiros do
Fair Trade, num esforço de trabalho em
conjunto, podem tornar uma visão ou uma
ideia em realidade.
Sendo assim, este artigo se apresenta na
perspectiva de uma concepção social
econômica relacionada às práticas do
comércio justo (Fair Trade) articulada à
construção de conhecimento na área social
e econômica. Parte do panorama geral para
29
R E V I S T A
página
HOMINIS
30
Saúde e Humanidades
o específico, buscando observar em
cooperativas e/ou associações certificadas
dentro dos critérios de comércio justo no
Brasil e em países emergentes, a relevância
de se evidenciar o crescimento econômico
n o m e r c a d o Fa i r Tr a d e c o m o
oportunidades de desenvolvimento e de
negócios aos participantes envolvidos no
processo.
Para tanto, tem como objetivo se
apresentar como instrumento para abalizar
a relação entre o crescimento econômico
das práticas na modalidade de comércio
j u sto n o B ra s i l e e m p a í s e s e m
desenvolvimento, com enfoque nos
impactos econômicos sobre a
produtividade no mercado Fair Trade.
Quanto ao processo metodológico
destinado a este artigo, foi fundamentado
na pesquisa bibliográfica, no qual o
aprofundamento empírico se deu por meio
de pesquisa exploratória, cujos dados
foram tratados de maneira qualitativa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O comércio justo, comércio solidário ou Fair
Trade pode ser definido como “uma prática
comercial que busca oferecer melhores
condições financeiras a pequenos
produtores do terceiro mundo, por meio de
mecanismos que têm caráter de alterar a
estrutura da cadeia de produção envolvida”
(OLIVEIRA; ARAÚJO; SANTOS, 2008, p. 211).
A base do desenvolvimento sustentável é a
ideia de que é possível, criar ao mesmo
tempo, valor nos três polos: sociedade, o
meio ambiente e a economia. Trata-se da
noção do triple bottom line (pessoas,
aspectos sociais; planeta, aspectos
ambientais; lucros, aspectos econômicos),
lançada por John Elkington, em 1994. Esse
triplo balanço social, econômico e
ambiental tornou-se necessário para
avaliar o desempenho global de uma
organização (LAVILLE, 2009).
O comércio justo nasceu na Holanda, em
1969. Logo, o movimento atingiu vários
outros países, tais como a Alemanha,
Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha,
Finlândia, Inglaterra, França, Itália, Suécia e
Suíça. E não apenas os países europeus
ficaram interessados no movimento, pois
os Estados Unidos, Canadá e Japão também
se incorporaram ao movimento mundial
(INSTITUTO RESSOAR, 2012;
WIELEWCHOWSKI, ROMAN, 2012).
Em 1990, várias organizações não
governamentais e de comércio alternativo
que já praticavam o comércio justo, criaram
a European Fair Trade Association (EFTA), a
International Federation for Alternative
Trade (IFAT), a Organização de Certificação
de Produtos de Comércio Justo, a Fair Trade
Labelling Organization (FLO), a Fair Trade
International-Certification (FLO-CERT),
instituição vinculada à FLO, com a
responsabilidade específica de certificação
às organizações participantes (PEDINI,
2011).
De acordo com o relatório da FLO (2005a,
2005b), os produtos certificados pelo Fair
Trade estão em franca expansão (MACIEL,
2007).
Para Santos (2010), para que se possa fazer
parte do comércio justo, as entidades
precisam respeitar os sete princípios
p r o p o s t o s p e l a E F TA . S ã o e l e s :
transparência e corresponsabilidade;
treinamento e apoio; preço justo/bônus;
igualdade de gêneros; adequação a
legislação e norma; proteção do meio
ambiente; certificação de produtos do
comércio justo.
O comércio justo criou alternativas para a
subsistência e para a desigualdade social,
que segundo Weber (2004), a igualdade
entre as pessoas se torna de grande
importância e valia para a sociedade.
Quanto às alternativas, isto acabou levando
a conquista da certificação internacional do
comércio justo (Fair Trade), contribuindo
enormemente para o empowerment dos
envolvidos, no caso, pequenos produtores
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
rurais associados. As práticas do Fair Trade
surgiram da aplicação dos conceitos de
sustentabilidade e do preço justo nas
propriedades de pequenos agricultores
familiares. Esse movimento nasceu do
interesse de promover uma ajuda
humanitária aos países do Hemisfério Sul
por parte dos países do Hemisfério Norte,
de acordo com Pedini (2011).
A busca e a conquista da certificação estão
associadas a superações e adoção de
critérios. O comércio justo opera em
comunidades de produtores certificados
que adotem métodos baseados em
normas padronizadas de produção
sustentáveis, tanto nas relações de
produção quanto no meio social.
Wielechowski e Roman (2012) apontam o
Fair Trade como melhoria contígua para
condições comerciais, promoção da
sustentabilidade e qualidade de vida ao
trabalhador. Além disso, observam que se
trata de uma iniciativa muito importante,
como um programa para modificar a
realidade local e elevar o padrão de vida de
populações de regiões carentes. Porém
existem controvérsias atualmente sobre o
funcionamento do mercado Fair Trade.
O café pode ser considerado um dos pilares
básicos da economia brasileira. Seu cultivo
no território brasileiro data do século XVIII,
porém a sua expansão deu-se no século
XIX. Tornou-se o principal produto de
exportação da economia brasileira durante
todo o século XIX e XX (a Europa e os
Estados Unidos se interessaram pelo
produto) ajudando a financiar a indústria
brasileira. (REYDON; OLIVEIRA, 2012).
O comércio justo é um movimento social
que objetiva ajudar os produtores de
países em desenvolvimento, para
promover a sustentabilidade e para
conseguir melhores condições comerciais.
O café é o produto Fair Trade mais
comercializado no mundo, beneficiando
produtores familiares de vários países.
Diante do volume de café produzido no
página
Brasil existem relativamente poucos
produtores de café Fair Trade, revelando
desconhecimento e dificuldades para obter
a certificação.
A certificação Fair Trade vem amparando os
agricultores familiares para enfrentar
novos desafios diante da crescente
mecanização agropecuária e globalização.
Essas novas funções responderam aos
problemas do desenvolvimento territorial
sustentável, devido às noções de
multifuncionalidade da agricultura e do
desenvolvimento local (LAFORGA; EID,
2005; SILVEIRA et al., 2006).
Ao atuar nas duas pontas da cadeia
produtiva – produtor e consumidor – o
comércio justo, ético e solidário, busca
possibilitar que o ponto mais fraco consiga
se desenvolver, ainda a diversidade cultural
(FRANÇA, 2003).
No Brasil, ainda se pratica muito a
agricultura tradicional. Os planos
governamentais não conseguiram mudar
essa condição, principalmente em locais
com estrutura agrária atrasada e dominada
pelos grandes proprietários de terra. Para
que esses pequenos produtores possuam
condições de atuarem no mercado nacional
e até mesmo internacional, é preciso que as
políticas de desenvolvimento regional e
agrícola recebam nova formulação,
transformando-as em empreendimentos
modernizados, caso contrário elas
tenderão a desaparecer. (VELOSO FILHO,
1998).
Para França (2003) “o comércio ético e
solidário” ou comércio justo, assemelha-se
a essa lógica. Trata-se de uma forma de
comercialização em que o objeto produzido
é apenas uma das dimensões do ato de
comprar. Tão importante quanto o objeto
em si, é o território ocupado pelas pessoas
que o produziram. Mas pode-se ir além da
necessidade de territorialização. É
condição necessária para se fortalecer o elo
mais fraco da cadeia produtiva, da cultura e
31
R E V I S T A
página
HOMINIS
32
Saúde e Humanidades
do meio ambiente local.
Trata-se de uma relação em que o bem
comercializado não é o único elemento a
ser valorizado. Sendo assim, identificar
princípios e critérios que componham um
comércio solidário e ético precisa ser
legitimamente brasileiro, apoiado em
opiniões dos diferentes atores
interessados no tema, e não apenas a cópia
de um modelo europeu, e que seja
coadunado com os interesses das
entidades, das empresas, da sociedade
civil, das organizações e dos consumidores
(FRANÇA, 2003).
Como cada vez mais os consumidores estão
ficando exigentes com relação aos serviços,
aos produtos e ao sistema como estes
estão sendo produzidos, os produtos
certificados pelo Fair Trade saíram de uma
simples estratégia de marketing para
comporem um mercado diferenciado. Os
consumidores estão verdadeiramente
pagando mais para terem este tipo de
produto.
Desse modo, o café produzido em bases
sustentáveis e que atenda ao tripé da
viabilidade econômica, responsabilidade
social e ambiental está se tornando mais
rentável e atingindo ágios de US$ 7 a US$
20 por saca (RODRIGUES, 2009 apud
PRADO, 2011). Sem dúvida, o pequeno
produtor se preocupa com os custos das
transformações das atividades produtivas
tradicionais do comércio sustentável, mas
ele também sabe que a preocupação com o
ambiente, com os empregados, com os
consumidores e com sua família,
elementos estes preconizados pela
certificação, já está começando valer a
pena e dar lucros (PRADO, 2011).
Triantafyllou (2003), citado por Pereira,
Bartholo e Guimarães (2004), menciona
dois tipos de certificação: compulsória e
voluntária. A primeira emana de
regulamentações de cunho legal,
ocorrendo por meio de leis, decretos ou
outros e que pode ser aplicada em
produtos com alto risco de perigo. A
segunda deriva de prática e exigências do
mercado, dando confiabilidade aos
produtos (PRADO, 2011).
Entre as certificações que se voltam para as
questões ambientais, o ponto em comum
entre elas é a análise em relação ao sistema
convencional, a qual se esquece da
preservação dos ecossistemas naturais, da
proteção ao trabalhador, da fiscalização das
relações comerciais, privilegiando apenas o
lucro (PALMIERI, 2008; APUD PRADO,
2011).
Nos últimos anos, vários selos e normas
surgiram motivados pelas associações com
as Organizações Não-Governamentais
(ONGs). A Rainforest Alliance Certified
(RAS) apoia agricultores e trabalhadores
rurais em todo o mundo, melhorando os
seus meios de subsistência e protegendo o
planeta, sendo válido evidenciar que, a
FLO–CERT e a Rainforest são exemplos de
certificações internacionais que seguem os
princípios de sustentabilidade
socioambiental. A IBD Certificações, a Fair
for Life e a ECOCERT são mais recentes
(VIANA; JULIÃO, 2011).
A IBD Certificações é uma empresa 100%
nacional que desenvolve atividades de
inspeção e certificação agropecuária, de
processamento e de produtos orgânicos,
extrativistas, biodinâmicos e de mercado
justo. A ECOCERT certifica produtos
oriundos da agricultura orgânica para o
mercado interno por meio da ECOCERT
Brasil e também atua pela ECOCERT S.A.
para os mercados internacionais, sempre
primando pela gestão da qualidade,
principalmente aplicando os seus conceitos
de certificação para os principais mercados
mundiais de produtos orgânicos. É
credenciada junto ao Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento e a
Fair for Life oferece aos produtores que
buscam a certificação uma combinação
entre os rigorosos padrões de comércio
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
justo e social com capacidade de adaptação
às condições locais. Certifica não apenas
produtos alimentares e não alimentares,
tais como cosméticos e serviços turísticos.
O momento vem se tornando cada vez mais
favorável para que um maior número de
pessoas possa ter acesso à informação
sobre o Comércio Justo e a Certificação Fair
Trade, além do aumento da conscientização
dos consumidores. Isto resultará num
sistema justo de relações de trabalho, na
valorização da cultura local e na
remuneração justa do trabalhador.
De acordo com estudos desenvolvidos pelo
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (SEBRAE, 2009), o
comércio justo já é responsável pela
geração trabalho e renda em muitos
municípios brasileiros. Embora ele ainda
seja uma novidade, já existe no país uma
quantidade expressiva de
empreendimentos de Comércio Justo e
Economia Solidária, gerando mais de dois
milhões de postos de trabalho e faturando
mais de oito bilhões reais anualmente.
A certificação de Comércio Justo assegura o
cumprimento com os critérios préestabelecidos e mudanças, podem mudar
os requisitos de certificação. Aqueles que
gostariam de ser ou já são certificados pelo
Comércio Justo Fair Trade devem verificar
regularmente os critérios de cumprimento
e políticas de certificação pendentes ou
concluídas no site do órgão de certificação
Fair Trade International-Certification (FAIR
T R A D E L A B E L L I N G O RG A N I ZAT I O N
INTERNATIONAL, 2011).
No Brasil, por conta dos movimentos
sociais, os trabalhadores se apropriam mais
dos modelos de cooperativas, que a
princípio, parecem ser o mais ideal para
alavancar os negócios de pequenos
produtores, o que por meio desta pesquisa,
poderá ser diagnosticado suas reais
influências para este tipo de certificação,
bem como suas implicações.
página
Como se diz popularmente, a união faz a
força, e isso os pequenos produtores
agrícolas conseguem entender melhor
quando trabalham em cooperativas
orientadas pelos métodos e práticas do Fair
Trade. Inclusive os órgãos do Estado,
enquanto agente político-jurídico e
financeiro dessas cooperativas participam
de maneira mais direcionada, contribuindo
para o desenvolvimento todo do sistema.
Essas instituições governamentais
precisam ser capazes de interferir devido às
mudanças do mercado em geral e da
agricultura em particular, observando se as
metas foram alcançadas, sem se esquecer
de tornar as suas ações o mais transparente
possíveis para que as transformações das
estruturas materiais deem suporte à
elaboração de políticas econômicas de
caráter nacional, como afirma Panzutti
(1996).
Para Viegas (2012), o sistema econômico
vigente atua de duas maneiras sobre a
produção agrícola: de uma lado propõe
concentração, padronização e exclusão,
mas de outro pode possibilitar o
desenvolvimento de algumas áreas de
acordo com as características de seus
produtos, serviços, processos e também
dos próprios trabalhadores. Assim, conclui
a autora, o Fair Trade poderia ser uma
proposta que possibilitaria a inserção de
produtores com restrito potencial de
inserção no mercado convencional,
valorizando aspectos qualitativos até então
não considerados tão importantes em
função do foco na viabilidade econômica.
Logo, para que os pequenos produtores
possam ter condições de se desenvolverem
e participem ativamente do mercado, é
importante que as relações de apoio
técnico, organizacional, informacional e
subsídios estejam presentes para que as
redes funcionem.
Assim, pode-se concluir que as práticas do
mercado Fair Trade possuem condições de
33
R E V I S T A
página
HOMINIS
34
Saúde e Humanidades
oferecer benefícios importantes tais como:
preços estáveis, preço justo, qualidade de
vida, oportunidade de investimento em
educação e saúde, melhorias agrícolas,
chances de aumentar a renda familiar,
oportunidades de parceria, prêmios e
certificações dentro de uma estratégia
global, capacitação de trabalhadores
agrícolas, produtos melhores para os
consumidores, um impacto positivo para as
empresas que adquirirem os produtos,
cuidados com o meio ambiente (erosão,
gestão de resíduos, preservação da mata
nativa, equilíbrio entre a proteção do meio
ambiente e bons resultados de negócio).
CONCLUSÃO
Muitos pensam que o Fair Trade traz uma
imagem de pessoas trabalhando felizes e
tendo uma boa vida dentro de uma
cooperativa democrática, que tudo
funciona bem e fácil. Porém, nem tudo é
bem assim. As práticas do preço justo
realmente são importantes para os
pequenos produtores de países
emergentes, porém conquistar
certificações, mudar mentalidades
tradicionais de produção, alterar vidas de
várias pessoas ao mesmo tempo não é uma
tarefa que se conclua em pouco tempo e
muito menos de maneira fácil.
É uma fantasia pensar que apontar as
práticas do preço justo para os produtos de
pequenos produtores agrícolas os ajudará
a ter uma vida melhor em pouco tempo. No
entanto, as pequenas comunidades
agrícolas reunidas em cooperativas geridas
pelas práticas do Fair Trade sentem a
mudança desde que esses se unam em prol
de toda a comunidade, ou seja, em prol de
todos, que estejam dispostos a mudar o
modo como desenvolvem a agricultura e
que compreendam que há muito trabalho a
ser feito. Além disso, as organizações que
organizam esse tipo de produção precisam
ajudar nos primeiros passos, inclusive com
obter crédito e fornecendo amparo técnico.
Assim, o presente artigo demonstra quais
as oportunidades que o mercado Fair Trade
pode proporcionar aos pequenos
produtores de países emergentes de
maneira a proporcionar maior
desenvolvimento nos negócios, melhoria
da qualidade de vida de todos os
participantes no processo.
No entanto, salienta-se que esses
produtores precisam estar reunidos em
cooperativas ou associações para que os
seus produtos possam ser certificados e
co l o ca d o s d e u m a m a n e i ra m a i s
competitiva no mercado nacional e global.
Apesar disso, é importante ressaltar que
apesar dos desafios propostos pelo
comércio Fair Trade, a existência de um
comércio ético é uma alternativa para os
pequenos produtores, já que muitos
passam a ter uma condição de vida melhor
de modo geral, preservando o meio
ambiente, aumentam a produtividade,
conquistam um espaço mais significativo
no mercado nacional e global, impedem o
t ra b a l h o e s c ravo, i nfa nt i l e co m
periculosidade em virtude da não utilização
de agrotóxicos.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, A.A. et. al. O processo de
conquista da certificação Fair Trade por
uma associação de cafeicultores do Sul de
Minas Gerais. XXXIII EnANPAD Encontro da
Associação Nacional dos Programas de PósGraduação em Administração. Rio de
Janeiro, RJ, 2014.
BARBOSA, A.A. Associação dos
agricultores familiares do Córrego D'antas
de Poços de Caldas: um estudo voltado às
implicações da certificação Fair Trade.
2014. Dissertação (Mestrado). Centro
Universitário das Faculdades Associadas de
Ensino – FAE. Programa de Pós Graduação
em Desenvolvimento Sustentável e
Qualidade de Vida, área de concentração
Desenvolvimento Sustentável de
Operações. São João da Boa Vista, SP, 2014.
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
BRITO, V. Comércio Justo gera trabalho e
renda em 51% dos municípios: seminário e
estande sobre Comércio Justo divulgam
informações e produtos da nova economia
ou Economia Solidária na Feira do
Empreendedor 2009 do DF. Agencia Sebrae
de Notícias, 24 jul. 2009. Disponível em:
<http://www.agenciasebrae.com.br/notici
a
.
kmf?canal=323&cod=8712462&indice=0>
. Acesso em: 01 maio 2013.
FAIR TRADE LABELLING ORGANIZATION
INTERNATIONAL (FLO). Critério do
Comércio Justo para Café de Organizações
de Pequenos Produtores. 2011. Disponível
em: <www.FairTrade.net/standards.html>.
Acesso em: 08 out. 2014.
FAIR TRADE LABELLING ORGANIZATION
INTERNATIONAL (FLO). Portal Corporativo.
2 0 1 4 . D i s p o n í v e l e m :
<www.FairTrade.net>. Acesso em: 02 mar.
2014.
FAIR TRADE LABELLING ORGANIZATIONS
INTERNATIONAL (FLO). Annual Report
2005 (a). Disponível em:
<http://www.fairtrade.net/uploads/media
/FLO_Annual_Report_05.pdf>. In: MACIEL,
Raimundo Claudio Gomes. Certificação
ambienta: uma estratégia para a
conservação da Floresta Amazônica.
Campinas, SP: [s.n.]. 2007.
FAIR TRADE LABELLING ORGANIZATIONS
INTERNATIONAL (FLO). Fair Trade in
Europe 2005 (b). Disponível em:
<http://www.fairtrade.net/uploads/media
/FairTradeinEurope2005.pdf>. In: MACIEL,
Raimundo Claudio Gomes. Certificação
ambienta: uma estratégia para a
conservação da Floresta Amazônica.
Campinas, SP: [s.n.]. 2007.
FAIR TRADE LABELLING ORGANIZATION
INTERNATIONAL (FLO). Comércio Justo
Módulo 1 “O que é Comércio Justo”: uma
introdução à Certificação do Comércio
Justo. Bonn, Alemanha. 2006.
FRANÇA, C.L. de (org.). Comércio ético e
solidário no Brasil. São Paulo: Fundação
página
Friedrich Ebert, p.79-85. 2003.
GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa
social. São Paulo: Atlas. 2002.
INSTITUTO RESSOAR. Você sabe o que é
comércio justo? Disponível em:
<http://www.ressoar.org.br/dicas_consum
o_consciente_voce_sabe_oquee_comerci
o_justo.asp>. Acesso em: 19 nov. 2012.
LAVILLE, E. A empresa verde. Trad. Denise
Macedo. São Paulo: ÕTE. 2009.
MACIEL, RC.G. Certificação ambienta: uma
estratégia para a conservação da Floresta
Amazônica. Campinas, SP: [s.n.]. 2007.
MODELO, M. The paradox of Fair Trade.
Stanford Social Innovation Review. Winter,
p. 40-45. 2014.
OLIVEIRA, R.F.; ARAÚJO, U.P.; SANTOS, A.C.
Efeito do Fair Trade sobre os produtores de
café em Poço Fundo. Organizações Rurais &
Agroindustriais, Lavras, v. 10, n. 2, p. 211225. 2008.
PANZUTTI, R. Estratégias de financiamento
das cooperativas agrícolas no Estado de
São Paulo – caso da Cooperativa dos
Agricultores da região de Orlândia.
Campinas, SP. 1997.
PEDINI, S. Fair Trade: alternativa ao
mercado convencional de café e processos
de empoderamento de cafeicultores
familiares. 2011. Dissertação (Doutorado).
Universidade Federal de Lavras, Programa
de Pós Graduação em Administração, área
de concentração em Organizações, Gestão e
Sociedade. Lavras, MG. 2011.
PEREIRA, S.P.; BARTHOLO, G.F. GUIMARÃES,
P.T.G. Cafés especiais: iniciativas brasileiras
e tendências de consumo. Série
Documentos nº 41. Belo Horizonte:
EPAMIG. 2004.
PRADO, A.S. Certificação Fair Trade na
cafeicultura: o caso da cooperativa dos
agricultores familiares do município de
Poço Fundo – MG e região. Dissertação
(Monografia Pós-graduação Lato Sensu).
Gestão do Agronegócio com Ênfase em
Administração Rural, para obtenção do
Título de Especialista. Lavras, MG. 2011.
35
R E V I S T A
página
HOMINIS
36
Saúde e Humanidades
D i s p o n í v e l
e m :
<http://www.ebah.com.br/content/ABAA
AerToAK/certificacao-fair-trade-nacafe i c u l t u ra - ca s o - co o p e rat i va - d o s agricultores-familiares-municipio-pocofundo-mg-regiao>. Acesso em: 03 dez.
2012.
REYDON, B.P.; OLIVEIRA, T.A.M. Brazilian
land tax decentralization: a case study.
2 0 1 2 . D i s p o n í v e l e m :
<http://www.landandpoverty.com/agenda
/pdfs/paper/reydon_full_paper.pdf>.
Acesso em: 09 dez. 2014.
SANTOS, F.S. Momentos de empowerment:
estratégias de pequenos produtores
cooperados vinculados à agricultura
familiar no Rio Grande do Sul. Dissertação
(Mestrado). Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Escola de Administração,
Programa de Pós-graduação em
Administração, Porto Alegre, RS. 2010.
SCHNEIDER, Johann Wolfgang. Pesquisa
mundial de comércio justo. Brasília:
Sebrae. 2007. (Série Mercado).
VELOSO FILHO, F.A. Planejamento regional
e transformação da agricultura tradicional
– lições da experiência do Piaui. Campinas,
SP: [s.n.]. 1998.
VIANA, M.M.; JULIÃO, L. Certificações
socioambientais. Centro de Pesquisas
Econômicas da Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ),
Universidade de São Paulo. 2011.
D i s p o n í v e l
e m :
< h t t p : / / w w w. c e p e a . e s a l q . u s p . b r /
hfbrasil/edicoes/99/mat_capa.pdf>.
Acesso em: 02 maio 2013.
VIEGAS, I.F.P. Redes de comércio justo e
solidário: organização, relações e valores.
Campinas, SP: [s.n.]. 2012.
WEBER, M. Economia e Sociedade.
Fundamentos da sociologia compreensiva.
v. 2. Brasília editora UNB; São Paulo:
Imprensa Oficial. 2004.
WIELEWCHOWSKI, M.; ROMAN, M. The
essence or Fair Trade and its importance in
the world economy. Acta Scientiarum
Polonorum Economia. Sep, v. 11, issue 4, p.
47-57. 11p. 2012.
R E V I S T A
HOMINIS
título: Estudo sobre o perfil
da sociedade brasileira em relação à automedicação
Saúde e Humanidades
página
Regiane Souza Santos
Aluna do curso de Farmácia da Faculdade Pitágoras Campus Poços de Caldas/MG.
Gisela Pizarro de Mattos Barretto
Doutora em Ciências de Alimentos. Docente da Faculdade Pitágoras Campus Poços de
Caldas/MG. email: [email protected]
Yula de Lima Merola(3)
Mestre em Saúde. Coordenadora do curso de Farmácia da Faculdade Pitágoras Campus
Poços de Caldas/MG. email: [email protected]
RESUMO
No Brasil, de acordo com a Associação
Brasileira das Indústrias Farmacêuticas
(2013), cerca de 80 milhões de pessoas são
adeptas da automedicação. Este trabalho
teve como objetivo conhecer e analisar o
perfil da sociedade brasileira em relação à
automedicação e avaliar o que faz ela
ocorrer. Foi desenvolvido um estudo em
Poços de Caldas – MG, em setembro 2013,
com pessoas maiores de 18 anos. Conforme
os resultados, a maior utilização de
medicamentos por automedicação ocorre
entre 21 a 35 anos (36%). A classe de
medicamentos com maior prevalência
constituiu o grupo dos analgésicos,
antipiréticos e anti-inflamatórios (37%). Os
principais motivos foram dores de cabeça,
muscular e cólica (39%). De acordo com os
dados obtidos nesse estudo, fica
comprovada a prática de automedicação
entre a população. Tais resultados reforçam
a necessidade de informar a população
sobre o uso adequado de medicamentos,
promovendo assim o uso racional de
medicamentos.
Pa l a v ra s - C h a v e : A u t o m e d i c a ç ã o ;
Prescrições; Analgésicos.
ABSTRACT
In Brazil, according to the Brazilian
Association of Pharmaceutical Industries
(2013), about 80 million people are adept at
self-medication. This study aimed to know
and analyze the profile of Brazilian society in
relation to self-medication and evaluate
what makes it happen. A study was
developed in Pocos de Caldas - MG in
September 2013 with over 18 years.
According to the results, the increased use
of self-medication for medicines occurs
between 21-35 years (36%). A class of drugs
constitutes the most prevalent group of
analgesics, antipyretics and antiinflammatories (37%). The main reasons
were headaches, muscle and abdominal
pain (39%). According to the data obtained
in this study, it is proven practice of selfmedication among the population. These
results reinforce the need to inform the
public about the proper use of medications,
thus promoting rational use of medicines.
Keywords: Self-medication; Prescriptions;
Painkillers.
37
R E V I S T A
página
HOMINIS
38
Saúde e Humanidades
INTRODUÇÃO
A automedicação é um procedimento
caracterizado fundamentalmente pela
iniciativa de um doente, ou de seu
responsável, em obter, ou produzir e
utilizar um produto que, acredita lhe trará
benefícios no tratamento de doenças ou
alívio de sintomas (PAULO; ZANINE, 1988).
Considerando a automedicação como uma
necessidade, e inclusive de função
complementar aos sistemas de saúde,
particularmente em países pobres, a
Organização Mundial da Saúde (OMS)
publicou diretrizes para a avaliação dos
medicamentos que poderiam ser
empregados em automedicação
denominando-os como medicamentos de
venda livre (WHO, 1989; APUD INFARMA,
2004).
Os medicamentos isentos de prescrição
MIP's são os medicamentos aprovados
pelas autoridades sanitárias para tratar
sintomas e males menores, disponíveis
sem prescrição ou receita médica devido à
sua segurança e eficácia desde que
utilizados conforme as orientações
disponíveis nas bulas e rotulagens (WHO,
1993; ABIMIP, 2013).
No Brasil, de acordo com a Associação
Brasileira das Indústrias Farmacêuticas
(2013), cerca de 80 milhões de pessoas são
adeptas da automedicação. A má
qualidade de oferta de medicamentos, o
não cumprimento da obrigatoriedade da
apresentação da receita médica e a
carência de informação e instrução na
população em geral justificam a
preocupação com a qualidade da
automedicação praticada no País (WHO,
1993; IVANNISSEVICH, 1994). É evidente
que o risco dessa prática também exerce
uma grande relevância nos riscos implícitos
da automedicação (CAMPOSET, 1985;
APUD INFARMA, 2004).
De acordo com o Sistema Nacional de
Informações Tóxico-Farmacológicas
(SINITOX, 1999) os medicamentos ocupam
o primeiro lugar entre os agentes
causadores de intoxicação em seres
humanos. Somente em 2002, segundo o
sistema, os medicamentos provocaram
26,9% do total de intoxicações registradas
no País (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).
Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi
conhecer e analisar o perfil da sociedade
brasileira em relação à automedicação,
avaliar o que faz com que haja crescimento
na procura de medicamentos isentos de
prescrição médica.
MÉTODOS
Foi desenvolvido um estudo quantitativo
com amostra aleatória conduzida no Estado
de Minas Gerais na cidade de Poços de
Caldas (154.974 habitantes) durante o mês
de setembro 2013.
No estudo foram incluídas todas as pessoas
maiores de 18 anos que buscam
medicamentos sem apresentar prescrição
médica ou conselho direto do
farmacêutico.
Foi utilizado como instrumento para coleta
de dados um questionário com perguntas
fechadas contendo as seguintes variáveis:
- nome comercial da especialidade
farmacêutica,
- os componentes ativos da mesma,
- motivo do uso,
- a data da última visita ao médico,
- idade e o sexo da pessoa que usaria o
medicamento e
- origem da recomendação do
medicamento solicitado.
RESULTADOS
Dentre os 148 questionários respondidos
98 (66%) foram do sexo feminino e 50 (34%)
do sexo masculino. A Figura 1 ilustra a
frequência de utilização de medicamentos
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
Figura 1. Frequência das faixas etária dos
clientes que adquiriram medicamentos
isentos de prescrição médica.
A Figura 2 mostra a porcentagem dos
medicamentos que apresentam maior
frequência de solicitação dos
consumidores que adquirem estes
produtos sem receita médica.
Figura 2. Classes terapêuticas de maior
frequência na prática de automedicação.
Também foram avaliados os principais
motivos que geraram a automedicação.
Estes motivos estão representados na
Figura 3:
Figura 3: Motivos que geraram a
automedicação.
página
DISCUSSÃO
A frequência de utilização de
medicamentos por automedicação,
conforme ilustrada na Figura 1, mostrou
que a faixa etária predominante foi a de
indivíduos entre 21 a 35 anos (36%) e a
menor entre as pessoas com mais de 52
anos. Este comportamento demonstra que
as pessoas mais velhas preferem consultar
o médico, provavelmente, por que já devem
fazer uso de algum medicamento.
A classe de medicamentos (Figura 2) com
maior prevalência de utilização por
automedicação constituiu o grupo dos
a n a l gé s i co s , a nt i p i rét i co s e a nt i inflamatórios (37%), provavelmente,
porque a população deve considerar que
determinados sintomas, que são facilmente
resolvidos com o consumo dos
medicamentos citados, não necessitam de
uma ida ao médico para serem resolvidos.
Porém, às vezes, estes sintomas podem
estar indicando algo mais grave e se não
forem diagnosticados logo podem
acometer complicações futuras. Em
seguida o grupo de medicamentos para o
trato gastrointestinal (16%), que talvez
sejam considerados pela população como
de pouco risco, ou seja, que não
apresentam efeitos colaterais e, por isso,
podem ser consumidos sem prescrição
médica. Em relação, ao uso de
medicamentos caseiros ou fitoterápicos
(11%) esta é uma prática que faz parte da
rotina de alguns pacientes, pois está ligada
a cultura popular. De acordo com Gordon,
citado por Paulo e Zanini (1988), o remédio
caseiro, muitas vezes, é tido como
milagroso, que cura todos os males.
De acordo com os resultados obtidos a
respeito das classes de medicamentos mais
consumidas, os dados sobre os principais
motivos que geraram a automedicação
correspondem aos dados obtidos, entre
eles estão: dores de cabeça, dor muscular e
cólica (39%); desconforto abdominal, má
digestão (24%); fraquezas e cansaço (15%);
39
R E V I S T A
página
HOMINIS
40
Saúde e Humanidades
alergias (7%); resfriados (10%) e outros
(5%). Agrupando algumas das variáveis
fechadas do presente estudo observou-se
há prevalência na procura de
medicamentos que se relaciona a sintomas
dolorosos (dor de cabeça, dor muscular,
cólica, dismenorreia, outros).
CONCLUSÃO
De acordo com os dados obtidos nesse
estudo, fica comprovada a prática de
automedicação entre a população. Ao
levarmos em conta a classe terapêutica
mais procurada, existe prevalência entre a
classe dos anti-inflamatórios, com relatos
de dores de cabeça, musculares e cólicas.
Tais resultados reforçam a necessidade de
informar a população sobre o uso
adequado de medicamentos, promovendo
assim o uso racional de medicamentos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE
VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Brasil) Lei nº9.787,
de 10 de fevereiro de 1999. Estabelece o
medicamento genérico, dispõe sobre a
utilização de nomes genéricos em
produtos farmacêuticos e dá outras
providências. D.O.U – Diário Oficial da
União; Poder executivo. Brasília. 11. Fev.
1999.
CARMO T. A., FARHAT F. C. L. G., ALVES J. M.
Indicadores de Prescrição Medicamentosa:
Ferramentas para Intervenção. Saúde em
Revista, v.5, n. 11, p. 49-55. 2003.
CRUCIOL-SOUZA JM, THOMSON JC, CATISTI
DG. Avaliação das prescrições
m e d i c a m e nto s a s d e u m h o s p i ta l
universitário brasileiro. Rev Bras Educ
Med., v. 32, n. 2, p. 188-96. 2008.
FARIAS, et al. Indicadores de prescrição
médica nas unidades básicas de Saúde da
Família no município de Campina grande,
PB. Revista Brasileira de Epidemiologia, v.
10, n. 2, p. 149-159. 2007.
FURINI-CRUZ AA, LIMA ALZ, ATIQUE TSC.
Análise de indicadores de prescrições em
crianças de 0-12 anos em São José do Rio
Preto. Rev. Bras. Farm., v. 90, n. 3, p. 175179. 2009.
GIROTTO E, SILVA PV. A prescrição de
medicamentos em um município do Norte
do Paraná. Rev. Bras. Epidemiologia, v. 9, n.
2, p. 226-34. 2006.
1- GOMES M. J. V. M., REIS A. M. M. Uma
Abordagem em Farmácia Hospitalar. São
Paulo: Editora Atheneu. 2001.
MARIN N, LUIZA VL, OSÓRIO-DE-CASTRO
CGS, MACHADO DOS SANTOS S. Assistência
farmacêutica para gerentes municipais.
Organização Pan-Americana de Saúde
(OPAS)/Organização Mundial da Saúde
(OMS). Rio de Janeiro, 373 p. 2003.
ODUBANJO E, BENNETT K, FEELY J. Influence
of socioeconomic status on the quality of
prescribing in the elderly: a population
based study. Br J Clin Pharmacol., v. 58 n. 5,
p. 496-502. 2004.
PEREIRA MG. Qualidade dos serviços de
saúde. Epidemiologia: teoria e prática. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 538 p. 1995.
WHO, Collaborating Centre for Drugs
Statistics Methodology. 1989. Disponível
e
m
:
http://www.whocc.no/atc_ddd_index/.
Acesso em: 12 de outubro de 2013.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO).
How to investigate drug use in health
facilities. Geneva: WHO; 1993.[serial on the
Internet].
R E V I S T A
HOMINIS
título: Secretariar o Alienado – uma proposta de análise acerca
do sinthôme através dos personagens Batman e Alfred
Saúde e Humanidades
página
Carolina de Siqueira Coutinho
Psicóloga, Especialista em Esquizoanálise: clínica de Grupos, Organizações e Redes
Sociais, Especialista em Gestão Avançada de Pessoas. Docente da Faculdade Pitágoras de
Poços de Caldas.
email: [email protected]
Roberta Ecleide de Oliveira Gomes-Kelly
Psicóloga, Psicanalista, Mestre em Psicologia, Doutora em Psicologia Clínica, Pós-Doutora
em Filosofia da Educação. Coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Pitágoras
de Poços de Caldas. email: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
O artigo aborda a questão da psicose e as
This article adresses the question of
formas de sua condução, de acordo com a
psicanálise lacaniana. No texto de 1955-
psychosis and the forms of its conduction,
according lacanian Psychoanalysis. In the
1956, Lacan anuncia que não se pode
recuar diante da psicose, sendo que o
analista deve ocupar o lugar de Secretário
text of 1955-1956, Lacan announces it's can
not back down before psychosis, and the
do Alienado. Partindo desta proposta,
analist must be the Alienated's Secretary.
utiliza-se de um personagem das histórias
Stating this proposal, it makes use of a
em quadrinhos, Alfred, o mordomo do
character of comic literature, Alfred,
Batman, para mostrar qual a forma de
condução técnica para a psicose; qual seja,
Batman's butler, to show which technician
form to psychosis; namely, giving conditions
dar condições para conduzir e viabilizar o
cotidiano, secretariar o alienado.
Palavras-chave: Psicanálise lacaniana,
Psicose, Sintoma e Sinthôme.
to conduct and to enable the everyday.
Key-words: Lacanian Psychoanalysis,
Psychosis, Symptom and Sinthôme.
41
R E V I S T A
página
HOMINIS
42
Saúde e Humanidades
INTRODUÇÃO
Este artigo aborda a questão da psicose e as
formas de sua condução, de acordo com a
psicanálise lacaniana. No texto de 19551956, Lacan anuncia que não se pode
recuar diante da psicose, sendo que o
analista deve ocupar o lugar de Secretário
do Alienado. Partindo desta proposta,
lançamos mão de um personagem, Alfred,
o mordomo do Batman, como aquele que,
por estar a serviço de seu patrão, conduz e
viabiliza seu cotidiano. Assim, o mordomo
Alfred daria ao Batman as condições de sua
identidade real (Batman) e as formas de sua
identidade secreta (Bruce Wayne).
1. Bruce Wayne, Batman e Alfred
Pennyworth
Batman surge pela primeira vez em
quadrinhos em novembro de 1939. Após a
morte dos pais, Bruce Wayne foi criado na
Mansão Wayne por seu tio Philip Wayne
(Batman Era de Ouro). A versão da Era de
Prata é que Bruce Wayne foi criado pelo
mordomo Alfred Pennyworth, seu tutor
(Batman Era de Prata - 1956 a 1970).
A Era de Bronze (1969 ou 1973 a 1985), a
mais sombria e solitária do homem
morcego, vai fazer de Alfred um grande
parceiro – este é o momento, também, de
surgimento do Asilo Arkham, de onde saem
os vilões e para onde são encaminhados
quando cometem crimes e são pegos.
Há uma das histórias, R.I.P., que revelaria
que Alfred seria, na verdade, o pai de Bruce
Wayne. Embora, nesta história, esta
suposição seja uma artimanha de um dos
1 As informações sobre Batman foram recolhidas de
Hickman (2013) e Manning (2011), além de sites de
Comics, identificados ao longo do texto.
2 As fases de produção de revistas em quadrinhos
(comics) de super-heróis tiveram várias fases,
designadas como Era de Ouro, Era de Prata, Era de
Bronze e Era Moderna (atual). De uma para outra,
podem mudar os super-heróis, os agrupamentos e
as situações, reconfigurando-os.
vilões (Dr. Hurt, líder da organização secreta
criminosa Luva Negra) para perturbar
Batman, é inegável que Bruce Wayne
“herda” as características deste pai por
adoção.
Brevemente, sobre Bruce Wayne e sobre
Batman:
Os pais de Bruce Wayne, Thomas e Martha,
são mortos quando ele tinha 08 anos. O
menino seria criado, então, por Alfred e
pela Dra. Elise Thompikins, médica do
Serviço Social Federal, com quem Alfred
teria um envolvimento (amoroso?). Uma
das metas de Bruce seria a de vingar a
morte dos pais e chega a se candidatar para
ser agente do FBI, após a conclusão do
período escolar, aos dezessete anos.
Não sendo possível cumprir sua meta
através do FBI, Bruce parte para viver uma
série de aventuras pelo mundo, estudando
em universidades europeias e americanas
apenas o que lhe interessa. Busca, no
mundo do crime, como parceiro de um
matador de aluguel, David Caine, conhecer
as formas de se pensar clandestinamente.
Bruce aprende, também, com o francês
Henri Ducard, como ser detetive. Com 21
anos, parte para o Oriente e, com o Mestre
Yuro, no Tibet, aprende artes marciais. Aos
25 anos, então, Bruce Wayne retorna a
Gotham City, no que se considera o Ano Um
de Batman.
Brevemente, sobre Alfred:
O personagem apareceu nos quadrinhos
quatro anos após o lançamento da revista,
em 1943. Antes dele, haveria outro
funcionário, Jarvis (depois descrito como
Jarvis Pennyworth, sendo pai de Alfred em
uma das versões), mas, após promessa de
amizade de Thomas Wayne, Alfred passa a
servir a família (TERRA ZERO, 2012).
Alfred Thadeus Craine Pennyworth teria
sido agente da Scotland Yard e sido ator; há
versões de que teria sido um ex-médico da
Marinha Britânica. Sua primeira aparição
nos quadrinhos foi em 1943.
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
Com habilidades adquiridas nas antigas
profissões, Alfred dá novas competências
ao menino Bruce (e ao próprio Batman):
ensina-o a imitar vozes alheias (como ator),
as artimanhas da investigação (como exagente) e cura suas inúmeras feridas (como
ex-paramédico).
Alfred é o responsável por várias
mensagens e cuidados dirigidos ao
Batman, para ajudar a protegê-lo, bem
como fomentando as possibilidades de que
a identidade de Bruce Wayne seja um
disfarce e manutenção do próprio Batman.
Neste sentido, Alfred costuma ser
chamado “o Batman do Batman”.
2. Psicanálise e Psicose
Em Psicanálise, a discussão da clínica é
atravessada pelo eixo Complexo de
Édipo/Complexo de Castração, que pode
ser brevemente definido como a
interpolação das vivências de transmissão
educativas (vivências edípicas) e o
aprendizado dos limites, sendo a morte a
experiência balizadora da castração, que,
por não poder ser enunciada a partir de sua
vivência, inaugura a dimensão simbólica.
Assim, as formas de articulação (ditas
mecanismos) destes polos axiomáticos
indicariam as apresentações clínicas, a
saber: Neurose (Recalque), Perversão
(Recusa), Psicose (Forclusão) e a Quarta
Estrutura (Elisão). Na vertente lacaniana, as
manifestações clínicas se configurariam
como estruturas a serem discernidas pelo
discurso. De um lado, o sujeito responde
com uma modalidade clínica ao eixo das
vivências edípicas. De outro, responde com
os mecanismos ao confronto sofrido pelo
confronto à castração. Estes mecanismos
são estratégias defensivas:
Qualquer tipo de estruturação do sujeito,
seja neurótica ou psicótica, é uma
estruturação de defesa, no sentido
freudiano, no sentido em que Freud fala de
p s i c o n e u r o s e d e d e fe s a . É u m a
página
estruturação de defesa na medida em que
se subjetivar, existir como sujeito (barrado
pela castração, como na neurose, ou não,
como na psicose), obter algum estatuto
simbólico, alguma significação é necessário
para que o sujeito seja algo distinto do Real
do seu corpo, algo Outro e mais do que
alguns quilos de carne. Por isso o sujeito se
estrutura em uma operação de defesa.
(CALLIGARIS, 1989, p. 13)
O sujeito se defende imaginariamente,
então, do que seria seu destino, veiculado
nos ditos e falas das relações com a
demanda que acredita ser feita pelo Outro.
A operação de defesa implica um certo tipo
de metáfora, ou seja, implica — é o próprio
da metáfora — que a significação possa
prevalecer, possa substituir ao pedaço de
carne uma significação subjetiva. Como a
metáfora permite isso? Precisa que algo
prevaleça sobre a Demanda imaginária da
qual seríamos objeto e de preferência um
saber sobre esta Demanda mesma. Assim,
referidos à demanda somos referidos ao
saber sobre a Demanda temos uma
significação que nos mantém defendidos,
como sujeitos. Esta operação de defesa é a
mesma, acredito, para qualquer sujeito que
se estruture, que tenha uma significação.
Mas o saber com o qual o sujeito se
defende, ao qual se refere, não é o mesmo
na neurose e na psicose.
(CALLIGARIS, 1989, p. 13)
O Outro (A) é mais que uma pessoa física,
conceituada como outro (a), diz respeito à
função que cada um, a partir de sua
pessoalidade (Real do próprio corpo)
imaginariamente ordenada, cumpre no
Laço Social. Dada a impossibilidade de laço
natural, a única saída é o Laço Social
(LACAN, 1969/70) – a forma como as
pessoas se encontram, através da
linguagem, no discurso.
Em linhas gerais, está-se no Laço Social em
nome de algo (uma ideia), direcionando-se
43
R E V I S T A
página
HOMINIS
44
Saúde e Humanidades
ao cuidado do outro. É no e pelo Laço Social
que somos reconhecidos (amados) e que
n o s
e n c o n t r a m o s
(ilusoriamente/imaginariamente)
protegidos do vazio existencial, no
discurso.
Na lógica da neurose (mecanismo de
Recalque), a metáfora aparece em relação
à outra figura de linguagem, a metonímia.
As palavras se encadeiam por contiguidade
(metonímia) e são retraduzidas por outro
conjunto de palavras (metáfora). Assim,
está-se, continuamente, dizendo e
redizendo o dito.
Na psicose, o discurso se configura em uma
lógica metonímica em que nem sempre o
encadeamento permite a retradução. De
acordo com isso, há a dificuldade de
encontrar outras palavras que digam a
mesma coisa, prejudicando a
metaforização do discurso.
Portanto, o discurso psicótico é nãoorganizado, carece da articulação
metafórico-metonímica, podendo ser
considerado um discurso metonímico.
Embora respeite a denominação das coisas
e a estrutura de linguagem, não se orienta
de forma a dar lugar à expressão do
posicionamento do sujeito em relação ao
Complexo de Édipo/Complexo de
Castração.
A amarração imaginária, portanto, parece
falhar ou não se dar de forma a garantir um
posicionamento do sujeito em relação à
demanda do Outro; que, em última
instância, é a resposta ao lugar que ocupou
nas vivências edípicas/de castração. Os
chamados sintomas psicóticos
(alucinações e delírios), então, seriam
tentativas de articular, no Real, o que falta
ao psicótico – a amarração imaginária e a
articulação simbólica.
Esta articulação, ternária, quanto aos três
registros – Real, Imaginário e Simbólico –
permite as reflexões de Lacan no Seminário
3 (LACAN, 1955/56). Mas soma-se à
colocação do Seminário 23 (LACAN,
1975/76), com o quarto nó: o sinthoma
(sinthôme).
Não muito diferente do sintoma, o sintoma
com th é o que designa fazer bem com o
próprio sintoma, índice de final de análise e
que apresenta Outro lugar para a psicose.
No que isso se refere ao Batman?
3. Batman: psicótico?
Uma das motivações para este trabalho
adveio da leitura do artigo de Vieira (2005),
sobre um texto de Lacan (1969/2003), Nota
sobre a criança. Neste artigo, o autor
menciona sobre Batman:
Hoje estamos em um mundo meio
psicanalítico, a pessoa chega e fala: 'Estou
vindo aqui porque estou me sentindo
muito culpada, eu tive um filho com
Síndrome de Down'. Isso não é uma culpa indicação de Lacan que é muito preciosa.
Sabemos muito bem que uma mãe pode
falar isso e ficar dez anos sem que nada
aconteça, isso seria uma culpa irreparável,
uma culpa atestada. A culpa irreparável não
é uma culpa que possibilite trabalho para
reparar. Dizendo de outra maneira, para
que uma análise comece, é preciso que a
culpa se desloque, não seja uma culpa
evidente; é preciso que ela se desloque
para uma culpa que não se sabe bem do
que é, isso faz começar o trabalho de uma
análise e se faz quase que naturalmente.
Lacan está dizendo apenas que temos de
visar um deslocamento nessa culpa, e não
achar que ela é o indício de que a haverá
análise. Por exemplo, alguém que não quis
viajar, o Batman. O Batman era um menino
muito rico, seus pais eram os donos da
cidade de Gotham City. Ele era também um
menino mimado, que um dia forçou a barra
com os pais – que estavam cansados – para
3 Não se pode considerar a existência de sintomas
na psicose, posto que o sintoma é o retorno do
recalcado. Se não há recalque, não há sintoma.
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
ir ao teatro. Quando estavam voltando, um
ladrão os assalta e mata seus pais na frente
dele. O garoto fica culpado, gravemente
culpado. Isso é o que chamaríamos de uma
culpa atestada. Essa culpa não leva à
análise, leva a um analista. A pessoa vai
para o analista porque quer resolver aquela
culpa que a angustia demais. Se o analista
ou a análise não conseguir um mínimo de
deslocamento, ele vai rodar aquela culpa
trinta anos, e o próprio sofrimento de estar
chorando, e vivendo de novo aquela
situação, alimenta o gozo do sintoma. É
assim que Lacan diria. Então, o Batman é
inanalisável. O Batman seria alguém difícil
de analisar, ainda mais depois de ter virado
o homem-morcego.
(VIEIRA, 2005, p. 17)
Se, de acordo com a proposta lacaniana,
algum agenciamento das estruturas
sempre acontece, mesmo que seja outro,
em que sentido haveria a impossibilidade
de análise para o Batman? A culpa, por ter
impelido Bruce ao Batman, impediria este
acesso?
Outra indagação: Batman seria psicótico?
Batman costuma ser descrito como o mais
louco de todos (diz-se que não há nada mais
louco que o Batman!). A resposta para essa
indagação, à luz da interpretação proposta
por este trabalho é que sim, Batman é
psicótico, Batman é PARANOICO.
Isso pode ser defendido através de vários
pontos em sua história, a saber:
O problema maior de Bruce Wayne não é a
realidade do assassinato dos seus pais, mas
a certeza de que é culpado por isso. Esta
culpa atestada, intuição delirante
caracteristicamente estrutural (LACAN,
1955/56, p. 45), já pode ser reconhecida
clinicamente como a assinatura do delírio
paranoico, que teria levado Bruce Wayne a
ter a crença, a revelação, de que somente
e l e p o d e s a l va r G o t h a n C i t y d a
criminalidade, somente ele pode caçar os
m o n st ro s d a c i d a d e . “O p ró p r i o
página
fundamento da estrutura paranoica é que o
sujeito compreendeu alguma coisa que ele
formula, a saber: que alguma coisa tomou
forma de palavra falada, que lhe fala”
(LACAN, 1955/56, p. 53).
O que parece fragmentar sua identidade,
que o choca, diz respeito a ele, concernelhe, e é somente disso – da redenção desta
culpa através da defesa da cidade – que ele
pode dar testemunho (LACAN, 1955/56, p.
119). Somando-se a essa missão grandiosa,
podemos também observar Bruce Wayne
como prisioneiro de um mundo fechado em
si mesmo, em que seu heroísmo se
apresentaria como um delírio (organizado,
estruturado, persistente, pleno de sentido
subjetivo), fundamentando e
possibilitando sua existência como Batman.
Este delírio característico da paranoia é
explicado por uma regressão narcísica da
libido, com investimento pulsional
direcionado ao próprio EU. Traz uma
a s s i n at u ra m a rca d a p o r d eta l h e s
importantes que fazem referência a Bruce,
como a figura do morcego estar associada
aos animais moradores do subterrâneo da
mansão Wayne e a lembrança de seu pai,
Thomas Wayne, vestido de Zorro nas noites
de Halloween, com sua máscara, a roupa
sempre preta, a capa e a promessa de
aniquilação de tudo aquilo que pudesse ser
considerado injusto.
Um padrão constante também pode ser
identificado na montagem e identificação
dos vilões combatidos pelo Príncipe de
Gotham. São todos excêntricos, usam
4 Em Batman Begins (2005) e Batman Cavaleiro das
Trevas (2008), aparece outro personagem que tem
uma função semelhante - Lucius Fox. Fox é amigo e
homem de confiança de Bruce Wayne em seus
negócios, além de ter sido o responsável pela criação
dos artefatos do Batman, chegando a assumir o
controle das Indústrias Wayne. Estes filmes,
juntamente com O Retorno do Cavaleiro das Trevas
compõem a Trilogia de Christopher Nolan.
45
R E V I S T A
página
HOMINIS
46
Saúde e Humanidades
roupas extravagantes e egressos do Asilo
Arkham, instituição psiquiátrica para onde
voltam após serem capturados pelo
Homem Morcego.
Os vilões nunca são presos pela polícia,
nem mandados para a cadeia ou julgados
por um tribunal “comum”, eles voltam para
o Asilo Arkham e lá ficam à espera da
próxima aventura, que sempre traz o
mesmo objetivo que é voltar a perseguir...
Batman! Admitida por Bergeret (2006, p.
175) como condição essencial da
organização objetal do paranoico, essa
relação de objeto entre Batman e (seus)
vilões só pode ser considerada na medida
em que lhe permite assumir e confirmar a
onipotência de seu controle sobre eles.
Uma contrapartida narcísica evidente, cuja
onipotência o coloca no centro, como
agente determinante e criador, ao qual o
objeto “deverá sua vida e sua função”
(BERGERET, 2006, P. 175).
Emocionalmente exausto, James Gordon
caiu de joelhos.
- O que está fazendo aqui?
- Vim porque você precisa de mim. –
sussurrou o morcego. – Porque a caçada
não terminou... Os monstros ainda estão lá
fora.
(HICKMAN, 2013, p. 56)
Algumas apresentações sobre o tema, nas
revistas e nos filmes, parecem dizer
também de uma possibilidade obsessiva.
Todavia, vale uma nota final a este respeito.
Na neurose obsessiva, como em todas as
neuroses, há um mito em torno do qual o
neurótico se organiza, sendo ele a ficção de
sua origem.
Assim, poderíamos ver, na história de
Bruce, um mito, tal como o mito individual
do neurótico (LACAN, 1953)? Não, pois os
detalhes de sua história estão
estreitamente enlaçados à sua identidade
de tal forma que, em nenhum momento, há
questionamento sobre eles como verdade
absoluta. Na certeza, Bruce se distancia da
dúvida que o neurotizaria.
E Alfred? Para quê?
4. Alfred: secretário?
Se assim for, se Batman é louco, psicótico,
paranoico, a consequência é que Alfred é o
mordomo de um louco, secretariando seus
delírios, a serviço de suas maluquices. Nada
distante da proposta de Lacan, no
Seminário 3, de que, diante da psicose não
se recue, mas que haja um único e só
oferecimento: ser o secretário do alienado.
Alfred costuma ser mencionado como “o
Batman do Batman”, destacando-se, assim,
sua função de bastidor, de aparato, de
sustentáculo. Desde aí, configurar-se-ia a
ação de possível enlaçamento ao psicótico.
A referência a um secretariado na psicose
aponta para o mesmo lugar: o de estar a
postos para toda e qualquer escuta; coisa
que, usualmente, os alienistas, diz Lacan
(1955/56), não fazem. Também na psicose
há um equilíbrio significante-significado,
ainda que precário, e se posicionar como
alguém que está disposto a ouvir é
condicionar o psicótico – ele também – a
um lugar de sujeito.
Neste momento, Lacan (1955/56) pensava
que o delírio poderia funcionar como
metáfora (Metáfora Delirante) para
substituir a falta do Nome-do-Pai. De
acordo com Beneti (2005), a função do
secretário do alienado nessa primeira
clínica lacaniana, em se tratando de um
caso de paranoia, era a de fazer uso da
metáfora delirante para preencher a falha
simbólica, produzir um esvaziamento do
imaginário transbordado de sentido,
garantindo, assim, um apaziguamento do
sujeito. A metáfora delirante, utilizada de
forma acertada pelo secretário do alienado,
servia como “ponto de basta”, ancorando o
sujeito no Laço Social.
O ra , o m o rd o m o A l f re d fa z i s s o
brilhantemente! Ele está sempre a serviço
do jovem Bruce. Não só atende suas
R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades
solicitações, como também organiza todas
as suas relações interpessoais,
principalmente nos momentos em que
Brune Wayne se encontra
demasiadamente fagocitado, nomeado,
ordenado pelo Batman. Alfred lembra
sempre que ele tem uma vida e que deve
aprender a perceber e respeitar seus
limites. Os limites de Bruce Wayne, claro! Já
que o Batman não tem limites.
Entretanto, apesar de secretariar o
alienado servindo-se da metáfora delirante
como “ponto de basta” ser muito
funcional, também pode gerar um custo
subjetivo muito alto, condenando o sujeito
psicótico a prosseguir infinitamente
dependente das ações de seu secretário.
Beneti (2005) afirma que, como não há
garantia de sustentação do Laço Social pela
metáfora delirante, uma vez que o
secretário saia de cena, por qualquer que
seja o motivo, isso pode facilmente levar a
um novo desencadeamento da psicose
após um período de estabilização.
A solução seria ir além? “Mais além da
possibilidade de construção de uma
metáfora delirante não haveria outras
possibilidades?” (BENETI, 2005, p. 10).
Após percorrer uma longa e profícua
trajetória de produção teórica, em
1975/76, Lacan aponta que uma
apresentação sintomática pode ser o nó de
amarração para que a psicose se sustente,
sendo o sintoma o quarto elo, uma função
reparadora do nó borromeano. Neste
outro momento, Lacan (1975/76)
apresenta uma clínica baseada no
Sinthome (fazer bem com seu sintoma, o
estilo sinthomático do falasser), que
permite pensar a psicose como uma
proposta que deve ser aceita.
Na segunda clínica lacaniana, assim como
na primeira, o secretário do alienado ainda
deve garantir a ancoragem do sujeito
psicótico na matriz simbólica, deve
continuar fazendo isso estando a serviço do
página
sujeito psicótico, fazendo por ele na medida
da sua necessidade, mapeando a sua
errância. Do sintoma ao sinthome, a
diferença, a outra possibilidade, a
novidade, está em que o secretário do
alienado na segunda clínica permite que o
sujeito faça uso do seu Saber delirante para
inventar a SUA solução, a SUA saída para o
sofrimento.
Beneti (2005) afirma que o secretário do
alienado não deve ocupar o lugar do
significante mestre, ao invés disso ele
precisa executar o trabalho cuidadoso de,
ao mesmo tempo em que dá sustentação
ao sujeito psicótico, deixar o lugar do
significante mestre vazio para que o sujeito
possa produzir ali o seu Sinthome.
Nada como um bom secretário, um
mordomo, para arcar com tal peso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como dito anteriormente, este trabalho foi
motivado pelo texto de Vieira (2005), em
que o autor faz a proposição de um Batman
inanalisável. Isso poderia ser aceito se
ainda considerássemos que a psicose é
resistente ao tratamento psicanalítico, uma
vez que a libido narcísica retornaria para o
EU do sujeito, criando uma barreira para a
transferência ao analista.
Lacan (1955/56) vai além, propõe que não
se recue frente à psicose e que o secretário
do alienado seja, não a babá do louco, mas
aquele que tem condições que ouvir o
discurso psicótico ao pé da letra, utilizando
a metáfora delirante como ponto de basta,
garantindo a ancoragem simbólica no furo
deixado pela forclusão do Nome-do-pai.
E assim como o mordomo Alfred, sem
nunca desistir ou recuar, Lacan (1975/76)
vai mais-além, abre novas possibilidades
quando aposta que o Sinthome pode ser
encarado como uma possibilidade de
existência, sendo vital para o sujeito
psicótico. Propõe que o secretário do
alienado não pense na cura, nem tente
47
R E V I S T A
página
HOMINIS
48
Saúde e Humanidades
entender o delírio, muito menos adaptar o
s u j e i t o, m a s p r o c u r e m a n e j a r a
transferência no sentido da produção do
Sinthome, seja ele qual for.
Assim, Batman é o Sinthome de Bruce
Wayne, sustentado pelo mordomo Alfred.
O secretário que o reconheceu na solução
inventada pelo próprio sujeito, ainda que
ele fosse extravagante, culpado, mascarado
e paranoico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BATMAN: a trajetória do homem-morcego
nos quadrinhos. Disponível em:
https://hqrock.wordpress.com/2011/11/0
8 / b at m a n - a - t ra j e to r i a - d o - h o m e m morcego-nos-quadrinhos/ - Acesso em 11
de novembro de 2014.
BENETI, A. Do discurso do analista ao nó
borromeano: contra a metáfora delirante.
Opção lacaniana online, n. 3. 2005.
BERGERET, J. Psicopatologia: teoria e
clínica. Porto Alegre: Artmed, 2006.
HICKMAN, T. Wayne de Gotham. Rio de
Janeiro: Casa da Palavra. 2013.
LACAN, J. O mito individual do neurótico.
Outros Escritos. Rio de Janeiro: Zahar. 2003
(1953).
LACAN, J. O Seminário, Livro 3. As Psicoses.
Rio de Janeiro: Zahar. 1985 (1955/56).
LACAN, J. Nota sobre a criança. Outros
Escritos. Rio de Janeiro: Zahar. 2003 (1969).
LACAN, J. O Seminário, Livro 17. O Avesso
da Psicanálise. Rio de janeiro: Zahar. 1992
(1969/70).
LACAN, J. O Seminário, Livro 23. O
Sinthoma. Rio de janeiro: Zahar. 2007
(1975/76).
L A P L A N C H E , J . Vo c a b u l á r i o d e
Psicanálise/Laplanche e Pontalis. São
Paulo: Martins Fontes. 1992.
MANNING, M. The Batman Files. Andrews
MacMeel Publishing. 2011. Disponível na
i n t e r n e t
e m :
http://books.google.com.br/books?id=Ou
Z0VXQqGAkC&printsec=frontcover&hl=ptBR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v
=onepage&q&f=false – Acesso em 12 de
novembro de 2014.
NICÉAS, C. A. Introdução ao narcisismo. O
amor de si. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira. 2013.
SOLER, C. O Inconsciente a céu aberto da
psicose. Rio de Janeiro: Zahar. 2007.
TASSI, V. S. Batman e a questão da loucura
na história do Cavaleiro das Trevas.
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) –
Curso de Psicologia, Universidade
Bandeirante de São Paulo, São Paulo. 2010.
TERRA ZERO. Como Alfred conheceu
B at m a n ? D i s p o n í ve l n a i nte r n e t :
http://www.terrazero.com.br/v2/2012/08
/como-alfred-conheceu-o-batman/ Acesso em 12 de novembro de 2014.
Download

Revista Hominis 2 - Faculdade Pitágoras