XIX Exposição de Experiências Municipais em Saneamento De 24 a 29 de maio de 2015 – Poços de Caldas - MG DISPOSIÇÃO A PAGAR DA POPULAÇÃO DE POÇOS DE CALDAS-MG PELA PROVISÃO DE SERVIÇOS AMBIENTAIS HÍDRICOS Cláudio Antônio de Andrade Lima(1) Engenheiro Químico pela Universidade Federal de Minas Gerais, Doutorado em Engenharia Hidráulica e Saneamento pela EESC da Universidade de São Paulo-USP. Professor Associado da Universidade Federal de Alfenas-UNIFAL-MG, lotado no Campus Avançado de Poços de Caldas. Edson Augusto dos Reis Graduado em Administração de Empresas e Mestre em Ciência e Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Alfenas-UNIFAL-MG. Professor voluntário da Universidade Federal de Alfenas - Campus de Poços de Caldas. Endereço(1): Rodovia José Aurélio Vilela, nº 11.999 - Cidade Universitária - Poços de Caldas-MG - CEP: 37715-400 - Brasil - Tel: +55 (35) 36974749 - e-mail: [email protected] RESUMO O presente estudo teve como objetivo: analisar estatisticamente a influência de dois aspectos socioeconômicos: (I) Escolaridade e (II) Renda frente à Disposição a Pagar (DAP) da população de Poços de Caldas-MG pelos serviços ambientais (SA) providos pela bacia hidrográfica Ribeirão do Cipó, manancial estratégico do Município. A amostragem estatística da população da cidade, selecionados aleatoriamente e de forma equilibrada nas 7 áreas de ponderação (AP) estabelecidas pelo IBGE e pelo Plano Diretor do município, gerou 335 entrevistas domiciliares “estruturadas” com 14 perguntas que abordaram características socioeconômicas, aspectos ambientais e a DAP. Os resultados apontaram uma DAP com média aritmética de R$6,44, variância de R$34,52, desvio padrão de R$5,88, coeficiente de variação 91,30% e valores de Mínimo: R$0,50 e Máximo R$30,00. Os testes de Scott Knott, Tukey e Regressão para avaliar a existência de diferenças significativas nas médias para as variáveis (I) e (II) conclui-se ao nível de 99% de confiança, que as variáveis (I) Escolaridade e (II) Renda influenciaram estatisticamente os resultados da Disposição a Pagar (DAP) pelos Serviços Ambientais. Palavras-chave: Pagamento por Serviços Ambientais - PSA, Disposição a Pagar - DAP, Ribeirão do Cipó. ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 1 XIX Exposição de Experiências Municipais em Saneamento De 24 a 29 de maio de 2015 – Poços de Caldas - MG INTRODUÇÃO/OBJETIVOS A crise atual de abastecimento de água vivenciada por muitos municípios brasileiros sinaliza para o emprego de instrumentos eficazes para obtenção da segurança hídrica e sustentabilidade dos ambientes que abastecem com seus mananciais as populações dos centros urbanos. A disponibilidade e qualidade das águas destes mananciais guarda relação direta com os sistemas florestais e práticas agrícolas, tornando evidente a necessidade de conservação de áreas para melhoria da qualidade e da quantidade do serviço hídrico. Por outro lado, ações no passado e no presente são ameaçadas devido ao reduzido interesse de proprietários rurais pelas atividades de manejos e práticas conservacionistas, devido ao baixo nível de renda destas atividades frente a outros setores da economia como agricultura e pecuária (ANA, 2008). Uma forma de atenuar este desinteresse é a valoração ambiental destas práticas, que resulta no Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) como um instrumento de gestão e planejamento de recursos hídricos. Nos últimos anos já podemos observar experiências exitosas de PSA, principalmente em mananciais estratégicos, repercutindo em incremento de disponibilidade e melhoria da qualidade de água, como o do município de Extrema, na região Sul de Minas Gerais. A política de pagamento por serviço ambiental hídrico é um mecanismo de estímulo à conservação e à manutenção da provisão de recursos naturais, que diferente do princípio legal vigente de poluidor-pagador, o PSA é um mecanismo de estímulo, através do pagamento ao responsável por áreas de provisão, ou seja, antecipa-se a ocorrência de dano, estimulando a conservação, estabelecendo um novo princípio, o do provedor-recebedor. Com este novo princípio, o proprietário de terra passa a ser visto agora, não como um poluidor, mas como um provedor de serviços a quem é apresentada a oportunidade financeira de adicionar os serviços ambientais no seu portfólio de produção. A bacia do ribeirão do Cipó se apresenta como manancial estratégico de Poços de Caldas-MG, responsável por 47% do sistema de captação de água do município, com destacada importância tanto pelo percentual que representa do quantitativo quanto pelos aspectos da qualidade advindos das boas características fisioquímicas e de ocupação e uso de solo de sua bacia (DMAE, 2013). O presente estudo reporta os resultados de 355 entrevistas domiciliares de usuários da bacia hidrográfica do Ribeirão do Cipó que buscou estimar a disposição da população de Poços de Caldas em pagar por serviços ambientais hídricos, contemplando também, análise estatística dos resultados e correlações com dois aspectos socioeconômicos: (I) Escolaridade e (II) Renda frente à média aritmética da Disposição a Pagar (DAP) da população pelos serviços ambientais providos pela bacia hidrográfica. ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 2 XIX Exposição de Experiências Municipais em Saneamento De 24 a 29 de maio de 2015 – Poços de Caldas - MG METODOLOGIA Para avaliar a Disponibilidade a Pagar (DAP) da população poços-caldense, estimada em 150.000 habitantes, alinhou-se ao princípio do provedor-recebedor segundo Hupffer (2011), considerando como universo populacional estatístico o total de endereços urbanos de 65.667, segundo CENSO de 2010. O tamanho da amostra foi estimado conforme metodologia para populações finitas proposto por Gil (2008). Considerando um nível de confiança de 95,5% ou 2 desvios padrão, um percentual de ocorrência do fenômeno máximo de 50%, assim como 50% de porcentagem complementar e, por último, uma taxa de erro de 5% conforme intervalo de erros aceito para pesquisas e estudos sociais, resultando em uma amostragem em 335 domicílios. Já os domicílios visitados para aplicação dos questionários, foram estabelecidos a partir da estratificação dos bairros urbanos da cidade realizada a partir das (7) áreas de ponderação (AP) estabelecidas pelo IBGE e utilizadas no Plano Diretor do município. Um cálculo proporcional do número total de domicílios por bairro foi realizado para definir o número de entrevistados para cada bairro. Seguindo as recomendações do painel National Oceanic and atmosferic Administration (NOAA) para o Método de Valoração Contingencial (MVC) através da Disposição a Pagar (DAP), utilizouse de questionário adaptado de Machado (2011) com 14 perguntas e entrevistas diretas com a população, abordando características socioeconômicas, aspectos ambientais e a disposição a pagar (DAP) dos entrevistados para proteção dos recursos hídricos da sub bacia. Por envolver pesquisas com seres humanos, o processo foi solicitado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL-MG, seguindo as diretrizes do Conselho Nacional de Saúde. Para avaliar a DAP, a técnica do modelo referendum com jogos de leilão foi utilizada. Neste método, foram apresentados aos entrevistados uma série de valores: R$ 0,50, R$ 1,50, R$ 2,00, R$ 5,00, R$ 10,00, R$ 20,00, R$ 30,00 e a opção mais que R$ 30,00 com a finalidade de captar a máxima DAP conforme proposto por (KARTMAN,1996). Após a organização e tabulação dos dados, através do Sistema SISVAR uma primeira análise da estatística descritiva foi realizada e na sequência alguns experimentos foram conduzidos através da aplicação de testes de Scott Knott, Tukey e Regressão para avaliar a existência de diferenças significativas entre as médias da Escolaridade e Renda informada pelos entrevistados. A área de abrangência ficou delimitada a bacia hidrográfica do Ribeirão do Cipó, que segundo Plano Diretor de Poços de Caldas o aponta como manancial estratégico do município. Afluente do Rio das Antas, este Ribeirão deságua no Rio Pardo que por sua vez faz parte da Bacia Hidrográfica do Rio Grande. Na Figura 1 encontra-se a localização da área de estudo e a estratificação urbana adotada. A bacia possui área de drenagem de 77,52 km², perímetro de 46,86 ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 3 XIX Exposição de Experiências Municipais em Saneamento De 24 a 29 de maio de 2015 – Poços de Caldas - MG km e drenada por aproximadamente 93 cursos d’água. Esta bacia abrange os limites das cidades de Águas da Prata (SP) e Andradas (MG), porém atende somente ao município de Poços de Caldas (MG). A bacia apresenta um Kc=1,44 e Kf=0,2 indicando uma bacia com pouca propensão a inundações. Com uma Densidade de drenagem=1,62 km/km2 e ordem de canal 4 em seu trecho final a bacia apresenta-se bem drenada (BENITES et al, 2013). Figura 01. Localização da área de estudo e áreas de ponderação do município RESULTADOS Pela estatística descritiva obteve-se que 54% dos entrevistados estão dispostos a pagar com DAP com as seguintes médias: aritmética R$ 6,44, harmônica R$ 4,74 e geométrica de R$ 3,34, variância de R$ 34,52, desvio padrão de R$ 5,88, coeficiente de variação 91,30% e valores de Mínimo: R$ 0,50 e Máximo R$ 30,00. O experimento realizado com os testes de Scott Knott e Tukey não apresentaram diferenças nos resultados para um nível de significância de 1%. Os resultados de regressão para avaliar a existência de diferenças significativas e correlações apresentaram os seguintes resultados: coeficiente de correlação de 0,88 para (I) Escolaridade, demonstrando um alto grau de significância para uma tendência estatística de queda da (DAP) média a medida que o nível de escolaridade aumenta. Os resultados para (II) Renda apresentaram uma alta correlação linear, com coeficiente de 0,91, demonstrando que quanto maior a renda maior a (DAP) da população a um alto grau de significância. ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 4 XIX Exposição de Experiências Municipais em Saneamento De 24 a 29 de maio de 2015 – Poços de Caldas - MG As Figura 2 e 3 apresentam, de forma sintetizada, os resultados encontrados, com destaque para as correlações com a escolaridade (Fig 2) e renda (Fig 3). Figura 02. Valores de DAP média e correlações com (I) Escolaridade Figura 03. Valores de DAP média e correlações com (II) Renda. DISCUSSÃO Os resultados obtidos na DAP média da população poços-caldense pelos serviços ambientais hídricos providos pela bacia em estudo, apontaram uma tendência favorável da população para implantação deste instrumento de gestão no município, com 54% da população disposta a pagar pelos serviços ambientais, com uma DAP média aritimética de de R$ 6,43. ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 5 XIX Exposição de Experiências Municipais em Saneamento De 24 a 29 de maio de 2015 – Poços de Caldas - MG Em uma simulação de cenário de PSA a partir da DAP média aritmética obtida expandida para o número de residências do município, a receita anual que seria obtida para pagamento de serviços ambientais hídricos seria da ordem cinco milhões de reais. CONCLUSÃO Como resultado dos testes estatísticos, conclui-se ao nível de 99% de confiança que as variáveis (I) Escolaridade e (II) Renda influenciam estatisticamente os resultados da Disposição a Pagar (DAP) da população por Serviços Ambientais (SA), sendo que, para a (I) Escolaridade, existe uma tendência estatística de queda da (DAP) média a medida que o nível de escolaridade aumenta e para (II) Renda, existe uma tendência de aumento da (DAP) a medida que a renda aumenta. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANA - Agência Nacional de Águas (Brasil). Superintendência de Usos Múltiplos. Manual Operativo do Programa produtor de Água.Brasília: ANA,2008. BENITES, Hanna S. N.; SOUZA, Antonio D. G.; OLIVEIRA, Pamela A.; CONSOLINI, Gabriela; CARVALHO, Maira T.. Caracterização ambiental da bacia hidrográfica do córrego do cipó – manancial de poços de caldas (MG) Instituto de Ciência e Tecnologia, Universidade Federal de Alfenas. XX Congresso de Iniciação Cientifica da UFSCAR. São Paulo. SP. 2013. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.200 p. HUPFFER, Haide M; WEYERMÜLLER, André R; WACLAWOVSKY, William G. Uma análise sistêmica do princípio do protetor – recebedor na institucionalização de programas de Compensação por serviços ambientais. Revista Ambiente & Sociedade, Campinas v. XIV, n. 1, p. 95-114, jan.-jun. 2011 MACHADO, F.H. “Valoração econômica dos recursos hídricos da bacia hidrográfica do manancial do Ribeirão do Feijão São Carlos, SP”. (Dissertação de Mestrado em Meio Ambiente e Recursos Hídricos) – Núcleo de Estudos Ambientais, Planejamento Territorial e Geomática – NEPA, Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI, Itajubá – MG, 2011. MOTTA, R. S. Manual para Valoração Econômica de Recursos Ambientais. Brasília. MMA.1998.218p. ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 6