Universidade Federal de Sergipe de Sergipe Fundação de Apoio a Pesquisa e Extensão CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOLOGIA SEDIMENTAR E AMBIENTAL APLICADA A AMBIENTES ANTIGOS E RECENTES IVO LÚCIO SANTANA MARCELINO DA SILVA RELATÓRIO DE EXCURSÃO A ROTEIRO GEOLÓGICO EM AMBIENTES RECENTES FLUVIAIS E COSTEIROS NO BAIXO CURSO, FOZ E PLANÍCIE COSTEIRA DO RIO SÃO FRANCISCO NOS ESTADOS DE SERGIPE E ALAGOAS (BRASIL) INSTRUTORES: Dr. Manuel Edgardo Latrubesse – Universidade Nacional de La Plata – Argentina Dr. José Maria Domingues Landim – Universidade Federal da Bahia – Brasil MSc. Luiz Carlos da Silveira Fontes – Universidade Federal de Sergipe – Brasil MSc. Ana Carolina Nowatzki - Universidade Federal de Sergipe – Brasil Aracaju (SE), dez./2006 IVO LÚCIO SANTANA MARCELINO DA SILVA RELATÓRIO DE EXCURSÃO A ROTEIRO GEOLÓGICO EM AMBIENTES RECENTES FLUVIAIS E COSTEIROS NO BAIXO CURSO, FOZ E PLANÍCIE COSTEIRA DO RIO SÃO FRANCISCO NOS ESTADOS DE SERGIPE E ALAGOAS (BRASIL) Relatório da Excursão de Campo realizada no Baixo Curso, Foz e Planície Costeira do Rio São Francisco nos estados de Sergipe e Alagoas (Brasil), referente à Disciplina “Seminário de Campo em Ambientes Recentes Fluviais e Costeiros”, ministrada pelos Professores Dr. Manuel Edgardo Latrubesse e Dr. José Maria Domingues Landim. Aracaju-SE, dez./2006 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Bacia hidrográfica do Rio São Francisco.............................................. 6 Figura 2 – Reservatórios e usinas hidro elétricas no submédio (B) e baixo curso (A) do Rio São Francisco ......................................................................... 7 Figura 3 – Compartimentos geomorfológicos (I, II, III, IV e V) no baixo curso do Rio São Francisco. .............................................................................................. 8 Figura 4 – Rio São Francisco a jusante da UHE de Xingó/SE-AL, na prainha artificial de Canindé do São Francisco/SE (margem direita) a jusante da UHE de Xingó/SE-AL, sem vestígios de carga sedimentar em suspensão que fica totalmente retida pela barragem, e a montante (E) e a jusante (D) da cidade de Piranhas/AL (margem esquerda), acerca de 10 km rio abaixo, correndo encaixado dentro do “canyon” esculpido em rochas ígneas précambrianas, que não permitem ao rio reagir aos impactos das barragens, a não ser transportar as areias depositadas em suas margens. ....................... 9 Figura 5 – Barras fluviais no Rio São Francisco vistas da cidade de Gararú/SE (margem direita), acerca de 90 km a jusante da UHE de Xingó/SE-AL, sendo fixadas pela vegetação, o que indica ausência de enchentes periódicas devido a regularização das vazões e artificialização do rio pela barragem, e a não existência de carga sedimentar em suspensão para deposição, que fica retida pela barragem. ................................................................................. 10 Figura 6 – Lagoa marginal ou lagoa de várzea remanescente no Rio São Francisco vista do Hotel Velho Chico na cidade de Própria/SE (margem direita), acerca de 120 km a jusante da UHE de Xingó/SE-AL, onde a turbidez da água provocada pela carga sedimentar em suspensão é de origem local (remobilização do material do fundo ou carreado por águas pluviais) e não por material trazido pelo rio. .................................................. 11 Figura 7 – Erosão da margem esquerda do Rio São Francisco formada atualmente por barra de acreção lateral, acerca de 3 km a jusante da ponte Porto Real de Colégio/AL-Própria/SE, devido a perda de competência do rio e as oscilações diárias do nível do rio provocada pelo aumento da vazão liberada pela UHE Xingó/SE-AL, para atender as demandas de pico de energia do sistema, associadas a subida das marés, com o solapamento da base e desmoronamento do material, criando perfis (paredes) verticais. ... 12 Figura 8 – Ilha em processo de desertificação no Rio São Francisco, próxima ao Projeto Irrigado Cotinguiba-Pindoba no município de Propriá/SE (margem direita), devido a ausência de enchentes periódicas e de carga sedimentar em suspensão transportada pelo rio, um efeito inverso ao verificado em Gararú/SE, onde as barras arenosas estão sendo fixadas pela vegetação, evidenciando que o comportamento da dinâmica fluvial e os ajustes do rio às agressões provocadas pela construção de barragens se dá de forma diferenciada em cada um dos compartimentos geomorfológicos. .............................................................................................. 13 Figura 9 – Deslocamento do talvegue do rio com erosão da margem direita do Rio São Francisco e construção de dique de proteção do Projeto irrigado Cotinguiba-Pindoba, no município de Própria/SE, para tentar conter o avanço do rio. .................................................................................................... 14 Figura 10 – Rio Marituba encaixado na planície deltaica Pleistocênica acompanhando as falésias da Formação Barreiras (linha de costa há iii 120.000 A.P., máximo da penúltima transgressão), e pedreira de seixos provenientes da Fm. Barreiras, retrabalhados pelas ondas, que se concentram na base de depósitos praiais, na estrada PenedoPiaçabuçu/AL. .................................................................................................... 15 Figura 11 – Paleo laguna inter dunas em terraços pleistocênicos na estrada Penedo-Piaçabuçu/AL (margem esquerda), destacando-se, na linha do horizonte, as falésias da Formação Barreiras (linha de costa há 120.000 A.P.), no máximo da penúltima transgressão),............................................... 16 Figura 12 – Recuo da linha de costa com destruição planície deltaica e formação de mangue seco na foz do Rio São Francisco/SE (margem direita), acerca de 180 km a jusante da UHE de Xingo/SE, no início do ajuste geomorfológico progressivo provocado pelo mar, devido a ausência de carga sedimentar em suspensão transportada pelo rio, após a construção das grandes barragens (1949-1994). ............................................................... 17 Figura 13 – Dunas eólicas na foz do Rio São Francisco/AL (margem esquerda), acerca de 180 km a jusante da UHE de Xingo/SE, ainda preservada da destruição pelo mar em seu ajuste geomorfológico da planície deltaica, ao contrário do que ocorre do outro lado do rio (margem direita), em parte devido ao sentido NE-SW da corrente litorânea............................................. 18 Figura 14 – Paleo laguna Holocênica entre dunas e o rio Betume (afluente da margem direita) encaixado na planície deltaica Pleistocênica e acompanhando as falésias da Formação Barreiras, na estrada Brejo Grande-Pacatuba/SE. ........................................................................................ 19 Figura 15 – Vista da planície deltaica da Foz do rio São Francisco (margem direita) a partir de falésia da Formação Barreiras, na entrada da cidade de Pacatuba/SE....................................................................................................... 20 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5 2 A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO ......................................... 6 3 ROTEIRO GEOLÓGICO NO BAIXO CURSO E FOZ DO RIO SÃO FRANCISCO . 7 3.1 O Baixo Curso do Rio São Francisco ............................................................ 7 3.1.1 O ambiente fluvial ..................................................................................... 9 3.1.2 A planície deltaica ................................................................................... 15 4 COMENTÁRIOS FINAIS ........................................................................................ 20 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 23 APÊNDICE A – PROGRAMAÇÃO GERAL E INSTRUÇÕES .................................. 25 5 RELATÓRIO DE EXCURSÃO A ROTEIRO GEOLÓGICO EM AMBIENTES RECENTES FLUVIAIS E COSTEIROS NO BAIXO CURSO, FOZ E PLANÍCIE COSTEIRA DO RIO SÃO FRANCISCO NOS ESTADOS DE SERGIPE E ALAGOAS (BRASIL) 1 INTRODUÇÃO Este relatório tenta retratar as atividades desenvolvidas durante a excursão de campo na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco no trecho denominado de Baixo São Francisco, na divisa dos Estados de Alagoas e de Sergipe (Brasil), mais especificamente entre o Reservatório da UHE – Usina Hidro Elétrica de Xingó e a foz do Rio São Francisco, no período de 13 a 17.11.2006. Ele é parte integrante da avaliação da disciplina Seminário de Campo em Ambientes Fluviais e Costeiros Recentes, ministrada pelos Professores Dr. Manuel Edgardo Latrubesse e Dr. José Maria Domingues Landim, com a coordenação do Professor MSc. Doutorando Luiz Carlos da Silveira Fontes e participação da Professora MSc. Doutoranda Ana Carolina Nowatzki. O roteiro geológico visitado constou de paradas previamente selecionadas pela Coordenação do Curso para atender as especificações do seminário de campo cujo objetivo principal era fazer com que os alunos participantes tivessem contato com uma bacia hidrográfica – no caso a do Rio São Francisco (Figura 1) - e pudessem observar a geomorfologia fluvial e deltaica, a hidrologia fluvial, a formação de depósitos fluviais (ilhas), dos terraços marinhos, dos manguezais, dos campos de dunas eólicas e os efeitos dos processos erosivos nas margens do rio e de sua planície deltaica - de idade Pleistocênica e Holocênica – ou seja, recentes, quando o regime de fluxo natural de sedimentos transportados pelo rio é cortado pela construção de reservatórios (barragens) em seu leito. Para um maior embasamento sobre o assunto, todo o material observado e registrado no campo - inclusive as explanações dos professores - durante o roteiro executado no dia - em cada um dos pontos visitados, foram motivos de discussões pelo grupo à noite, no hotel de pernoite. 6 2 A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO A Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco - o qual possui uma extensão de cerca de 2.800 km - é uma bacia federal com área de drenagem de 634.781 km² (Figura 1) cobrindo 8% do território nacional, com 503 municípios e parte do Distrito Federal, distribuídos por sete estados, e uma população de 12.796.082 habitantes (IBGE, Censo 2000). CARACTERIZAÇ CARACTERIZAÇÃO GERAL Rch. São Rch . Pedro Ipan Alagoas (2,3%) Juazeiro Pim en teira Penedo # Rio Sa litre a. R io Rio Mo x ot ó em a a Caraíb # Vd Pernambuco (10,6%) Rio Barreiras Pa # Rio Sa nto rm Fo oso C Rio ha arin e nha Rio Ve rde Pe quen o Rio Gorutuba DF (0,2%) R io Bahia (47,2%) e Onofr rre nt Co Rio ha ou Correntin Éguas Rio das io irim ra m de Gran Rio R Sergipe (1,1%) Rio Verde Rio Preto Pre to Montes Claros Rio Rio do Pa ra catu So no # Ri o Goiá Goiás (0,4%) R io s Velha Rio Ab aeté Inda iá da s Minas Gerais (38,2%) Belo Horizonte # ANA, 2004 Fonte: Medeiros, 2007. Figura 1 – Bacia hidrográfica do Rio São Francisco Considerado como sendo o rio da integração nacional - por ser navegável em sua maior parte nos sete estados que atravessa - a partir de 1949, com a instalação da Usina Piloto para geração de energia elétrica, no município de Paulo Afonso/BA, teve o seu regime hidrológico natural cada vez mais modificado com a construção de novos reservatórios e usinas geradoras (Figura 2) principalmente no seu submédio e baixo curso, sendo a mais recente a de Xingó em 1994, no município de Canindé/BA, sendo prevista mais uma em Pão de Açúcar/AL. Tal é a magnitude dessas alterações na biota que os ambientalistas que defendem a sua revitalização, e são contrários ao Projeto do Governo Lula de transpor parte de suas águas para o 7 nordeste setentrional, o chamem agora de o Novo Chico - um rio regularizado e artificializado - em contraposição ao Velho Chico – que era um rio natural com enchentes e secas - como carinhosamente é chamado pelos ribeirinhos. Fonte: Projeto GEF São Francisco, 2002. Figura 2 – Reservatórios e usinas hidro elétricas no submédio (B) e baixo curso (A) do Rio São Francisco 3 ROTEIRO GEOLÓGICO NO BAIXO CURSO E FOZ DO RIO SÃO FRANCISCO O roteiro geológico visitado constou de aproximadamente 12 paradas principais, sendo seis (6) no ambiente fluvial e as restantes no ambiente deltaico/costeiro, com deslocamentos terrestre e fluvial, nos compartimentos geomorfológicos identificados pelo Projeto GEF São Francisco – Subprojeto 2.4, um grupo de pesquisa internacional para a bacia do Rio são Francisco, patrocinado pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente, um Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. 3.1 O Baixo Curso do Rio São Francisco O Rio São Francisco em seu baixo curso, ou seja, no trecho compreendido entre a cidade de Paulo Afonso no estado da Bahia e a sua foz, na divisa dos Estados de Sergipe e Alagoas, atravessa rochas cristalinas e metasedimentares pré- 8 cambrianas, sedimentares mesozóicas e quaternárias, em compartimentos geomorfológicos distintos, que vão controlar o nível de erosão de seu leito e margens e de deposição de sua carga sedimentar transportada. Segundo o GEF São Francisco (Fontes et al, 2002) esses compartimentos denominados de I, II, III, IV e V (Figura 3), de montante para jusante, apresentam as seguintes características: • • • • • Compartimento I - Paulo Afonso/BA a Belo Monte/AL – rio em canal único encaixado em um canyon esculpido em rochas ígneas pré-cambrianas, o qual se alarga antes a partir de Pão de Açúcar/AL, circundado por um pediplano; Compartimento II - Belo Monte/AL a Lagoa do Monte/AL - rio ainda correndo em canal único esculpido agora em rochas metamórficas dobradas, circundado por um relevo acidentado proveniente da erosão diferencial; Compartimento III – rio com planície aluvial pouco desenvolvida formando ilhas e barras arenosas correndo ainda em terrenos pré-cambrianos metamórficos; Compartimento IV - Porto Real do Colégio/AL e Propriá/SE a Penedo/AL e Neópolis/SE – rio apresentando um padrão multicanal entrelaçado com ilhas e barras arenosas, correndo em terrenos sedimentares mesozóicos da Bacia Sergipe/Alagoas, circundado por tabuleiros costeiros; Compartimento V - Penedo/AL e Neópolis/SE a sua Foz/SE-AL - rio correndo em planície deltaica formada por sedimentos aluviais e litorâneos quaternários. Fonte: Projeto GEF São Francisco, 2002. Figura 3 – Compartimentos geomorfológicos (I, II, III, IV e V) no baixo curso do Rio São Francisco. 9 3.1.1 O ambiente fluvial Parada 1 – Usina Hidro Elétrica (UHE) de Xingó/SE-AL (Compartimento I) Fonte: Fotos do autor, nov./2006. Figura 4 – Rio São Francisco a jusante da UHE de Xingó/SE-AL, na prainha artificial de Canindé do São Francisco/SE (margem direita) a jusante da UHE de Xingó/SE-AL, sem vestígios de carga sedimentar em suspensão que fica totalmente retida pela barragem, e a montante (E) e a jusante (D) da cidade de Piranhas/AL (margem esquerda), acerca de 10 km rio abaixo, correndo encaixado dentro do “canyon” esculpido em rochas ígneas précambrianas, que não permitem ao rio reagir aos impactos das barragens, a não ser transportar as areias depositadas em suas margens. 10 Parada 2 – Orla da cidade de Gararú/SE (Compartimento III) Fonte: Fotos do autor, nov./2006. Figura 5 – Barras fluviais no Rio São Francisco vistas da cidade de Gararú/SE (margem direita), acerca de 90 km a jusante da UHE de Xingó/SE-AL, sendo fixadas pela vegetação, o que indica ausência de enchentes periódicas devido a regularização das vazões e artificialização do rio pela barragem, e a não existência de carga sedimentar em suspensão para deposição, que fica retida pela barragem. 11 Parada 3 – Hotel do Velho Chico na cidade de Propriá/SE (Compartimento IV) Fonte: Fotos do autor, nov./2006. Figura 6 – Lagoa marginal ou lagoa de várzea remanescente no Rio São Francisco vista do Hotel Velho Chico na cidade de Própria/SE (margem direita), acerca de 120 km a jusante da UHE de Xingó/SE-AL, onde a turbidez da água provocada pela carga sedimentar em suspensão é de origem local (remobilização do material do fundo ou carreado por águas pluviais) e não por material trazido pelo rio. 12 Parada 4 – Margem esquerda do Rio São Francisco/AL (Compartimento IV) Fonte: Fotos do autor, nov./2006. Figura 7 – Erosão da margem esquerda do Rio São Francisco formada atualmente por barra de acreção lateral, acerca de 3 km a jusante da ponte Porto Real de Colégio/AL-Própria/SE, devido a perda de competência do rio e as oscilações diárias do nível do rio provocada pelo aumento da vazão liberada pela UHE Xingó/SE-AL, para atender as demandas de pico de energia do sistema, associadas a subida das marés, com o solapamento da base e desmoronamento do material, criando perfis (paredes) verticais. 13 Parada 5 – Ilha no Rio São Francisco (Compartimento IV) Fonte: Fotos do autor, nov./2006. Figura 8 – Ilha em processo de desertificação no Rio São Francisco, próxima ao Projeto Irrigado Cotinguiba-Pindoba no município de Propriá/SE (margem direita), devido a ausência de enchentes periódicas e de carga sedimentar em suspensão transportada pelo rio, um efeito inverso ao verificado em Gararú/SE, onde as barras arenosas estão sendo fixadas pela vegetação, evidenciando que o comportamento da dinâmica fluvial e os ajustes do rio às agressões provocadas pela construção de barragens se dá de forma diferenciada em cada um dos compartimentos geomorfológicos. 14 Parada 6 – Projeto Irrigado Continguiba-Pindoba (Compartimento IV) Fonte: Fotos do autor, nov./2006. Figura 9 – Deslocamento do talvegue do rio com erosão da margem direita do Rio São Francisco e construção de dique de proteção do Projeto irrigado Cotinguiba-Pindoba, no município de Própria/SE, para tentar conter o avanço do rio. 15 3.1.2 A planície deltaica Parada 7 – Estrada Penedo-Piaçabuçu/AL (Compartimento V) Fonte: Fotos do autor, nov./2006. Figura 10 – Rio Marituba encaixado na planície deltaica Pleistocênica acompanhando as falésias da Formação Barreiras (linha de costa há 120.000 A.P., máximo da penúltima transgressão), e pedreira de seixos provenientes da Fm. Barreiras, retrabalhados pelas ondas, que se concentram na base de depósitos praiais, na estrada Penedo-Piaçabuçu/AL. 16 Parada 8 – Estrada Penedo-Piaçabuçu/AL (Compartimento V) Fonte: Fotos do autor, nov./2006. Figura 11 – Paleo laguna inter dunas em terraços pleistocênicos na estrada PenedoPiaçabuçu/AL (margem esquerda), destacando-se, na linha do horizonte, as falésias da Formação Barreiras (linha de costa há 120.000 A.P.), no máximo da penúltima transgressão), 17 Parada 9 – Foz do Rio São Francisco/SE (Compartimento V) Fonte: Fotos do autor, nov./2006. Figura 12 – Recuo da linha de costa com destruição da planície deltaica e formação de mangue seco na foz do Rio São Francisco/SE (margem direita), acerca de 180 km a jusante da UHE de Xingo/SE, no início do ajuste geomorfológico progressivo provocado pelo mar, devido a ausência de carga sedimentar em suspensão transportada pelo rio, após a construção das grandes barragens (1949-1994). 18 Parada 10 – Foz do Rio São Francisco/AL (Compartimento V) Fonte: Fotos do autor, nov./2006. Figura 13 – Dunas eólicas na foz do Rio São Francisco/AL (margem esquerda), acerca de 180 km a jusante da UHE de Xingo/SE, ainda preservada da destruição pelo mar em seu ajuste geomorfológico da planície deltaica, ao contrário do que ocorre do outro lado do rio (margem direita), em parte devido ao sentido NE-SW da corrente litorânea. 19 Parada 11 – Estrada Brejo Grande-Pacatuba/SE (Compartimento V) Fonte: Fotos do autor, nov./2006. Figura 14 – Paleo laguna Holocênica entre dunas e o rio Betume (afluente da margem direita) encaixado na planície deltaica Pleistocênica e acompanhando as falésias da Formação Barreiras, na estrada Brejo Grande-Pacatuba/SE. 20 Parada 12 – Entrada da cidade de Pacatuba/SE (Compartimento V) Fonte: Fotos do autor, nov./2006. Figura 15 – Vista da planície deltaica da Foz do rio São Francisco (margem direita) a partir de falésia da Formação Barreiras, na entrada da cidade de Pacatuba/SE. 4 COMENTÁRIOS FINAIS O Rio São Francisco a jusante da Usina Hidro Elétrica-UHE de Xingó/SE-AL, em que pese os efeitos do barramento, com a diminuição da sua vazão e do confisco da sua carga sedimentar em suspensão, continua sendo um grande rio e a sua reação a esses impactos, o seu ajuste a esse novo regime hidrológico a que é submetido, se dá de modo complexo e diferenciado em cada um dos compartimentos geomorfológicos que percorre desde o reservatório até a sua foz. Segundo Latrubesse (2007) o que se passa num grande sistema fluvial, como se espacializa a 21 sua reação à jusante de uma grande represa é algo muito complexo, principalmente no ajuste da dinâmica do talvegue, no processo e re-acomodação dos sedimentos (informação verbal). A jusante do reservatório de Xingó/SE-AL, a depender do compartimento geomorfológico atravessado pelo rio, ora pode predominar a erosão ora a sedimentação ou ocorrer ambos. No “canyon” a litologia ígnea pré-cambriana não permite ao rio fazer ajustes a não ser o de erodir e transportar as areias depositadas pré-barragem em suas margens. Ao deixar o “canyon”, ainda correndo em substrato ígneo e mesmo ao penetrar no domínio das rochas metamórficas dobradas também pré-cambrianas, ele começa a depositar essas areias carreadas do compartimento anterior. No compartimento seguinte, já na planície e domínio dos sedimentos da Bacia Sergipe-Alagoas, passa a erodir de forma intensa as margens, com a migração sem retorno do talvegue em direção a uma das margens. Ao chegar a foz, no domínio dos sedimentos quaternários do seu delta, sequer consegue mais protege-la da ação destruidoras das ondas, que está provocando o recuo da linha de costa na margem direita. Mui provavelmente, tal recuo só deverá cessar quando a costa voltar a ser retilínea, ou seja, atingir o seu novo perfil de equilíbrio, o que implicará também na destruição da sua margem esquerda, uma vez que o rio jamais voltará a ter carga sedimentar em suspensão suficiente para voltar ao seu “status quo” anterior a construção das barragens, seja para a sua reconstrução e/ou manutenção. A UHE Xingo/SE-AL de acordo com Fontes (2007) trabalha no horário de pico para atender a demanda gerando 3.000 mW e provoca diariamente uma flutuação artificial do nível do rio com o aumento na vazão da ordem de 1.000 m3/s, atualmente. Esse volume liberado de forma concentrada num determinado horário do dia gera, no verão, onde a demanda é maior, uma elevação artificial de 1 metro em Piranhas/AL, acerca de 3 km a jusante da barragem, e de 20 centímetros na região de Própria, acerca de 120 km abaixo, aonde esse volume já chega diluído (informação verbal). 22 Essa oscilação diária do nível do rio – pequenas enchentes - somada ao efeito da migração do talvegue que não mais flutua de um lado para outro, de uma margem para a outra, com as cheias quando o rio era natural, está acelerando o processo erosivo das margens através do solapamento de suas bases. Ainda de conformidade com Fontes, ao gerar mais 2.000 mW, ou seja, ao funcionar a plena carga com o restante de suas turbinas instaladas, a usina praticamente dobraria essa flutuação para 2 metros em Piranhas/AL e 40 centímetros em Própria/SE, e isso seria o golpe fatal para o Velho Novo Chico, o seu atestado de óbito. A argumentação de que a energia é necessária, daí ser necessária a construção de mais uma barragem em Pão de Açúcar/AL, para regularizar a vazão da UHE de Xingó/SE-AL, trará ainda mais complicações para o meio ambiente já altamente fragilizado, a sua biota e o fim do delta, caso não se renuncie ao aproveitamento dessa disponibilidade hídrica para geração de mais energia. 23 REFERÊNCIAS BITTENCOURT, Abílio Carlos Silva Pinto; DOMINGUEZ, Jose Maria Landim e FERREIRA, Yeda Andrade. Dados preliminares sobre a evolução do delta do rio São Francisco (SE/AL) durante o Quaternário: influência das variações do nível do mar. Atas do IV Simpósio do Quaternário no Brasil: 49-68, 1982. Disponível em: <http://horizon.documentation.ird.fr/exl-doc/pleins_textes/pleins_textes_ 6/b_fdi_35-36/41925.pdf> Acesso em: 6 nov. 2006. BRASIL. ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14724 Informação e documentação – Trabalhos acadêmicos - Apresentação. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2005. CARVALHO, Newton de Oliveira et al. Guia de práticas sedimentométricas. Brasília: ANEEL, 2000. CHESF. Companhia Hidro Elétrica do São Francisco. Dados técnicos: dados técnicos da bacia hidrográfica do Rio São Francisco. Disponível em: <http://www.chesf.gov.br/riosaofrancisco_dadostecnicos.shtml> Acesso em: 5 nov. 2006. DNPM. Mapa geológico do estado de Sergipe. Rio de Janeiro. 1983.120 cm x 95 cm. Escala 1:250.000. DOMINGUEZ, José Maria Landim. Ambientes costeiros. Aracaju: 2006. 90 Slides, color. DOMINGUEZ, José Maria Landim; FONTES, Luiz Carlos da Silveira e NOWATZKI, Ana Carolina. Roteiro de campo - Ambientes modernos fluviais e costeiros: baixo curso, foz e planície costeira do Rio São Francisco. Tema 3: planície deltaica do Rio São Francisco. Aracaju: UFS, 2006. 33 p. FONTES, Luiz Carlos da Silveira et al. Projeto GEF São Franciscoo – Subprojeto 2.4 - Estudo do processo erosivo nas margens do baixo São Francisco e dos impactos das barragens na dinâmica fluvial. Aracaju: UFS, 2002. Guimarães, Junia Kacenelenbogen e DOMINGUEZ, José Maria Landim. Relação morfodinâmica entre orientação da linha de costa e deriva litorânea na evolução do delta do Rio São Francisco. Disponível em: <http://www.abequa2005.geologia.ufrj.br/nukleo/pdfs/0169_rsm_abequa6.pdf> Acesso em: 6 nov. 2006. 24 LATRUBESSE, Manuel Edgardo. Ambientes fluviais. Aracaju: 2006. 180 Slides, color. LATRUBESSE, Manuel Edgardo et al. Grandes sistemas fluviais: geologia, geomorfologia e paleoidrologia. In: SOUZA, Célia Regina de Gouveia et al. (Ed.). Quaternário do Brasil, Cap. 13, p. 276-297. Associação Brasileira de Estudos do Quaternário. Ribeirão Preto: Holos, 2005. MEDEIROS, Yvonilde. Gestão de recursos hídricos. Aracaju: 2007. 131 Slides, color. SERGIPE. Governo do Estado de Sergipe. Secretaria de Estado do Planejamento e da Ciência e da Tecnologia. Superintendência de Recursos Hídricos. Atlas digital sobre recursos hídricos. 2004. 1 CD-ROM. 25 APÊNDICE A – PROGRAMAÇÃO GERAL E INSTRUÇÕES UFS - GRUPO GEOLOGIA SEDIMENTAR E HIDROAMBIENTAL DA UFS 1. PROGRAMAÇÃO GERAL E INSTRUÇÕES Dia 13.11.06 – Segunda-feira. Trajeto rodoviário ARACAJU (SE) – CANINDÉ (SE) – PIRANHAS (AL). Manhã. SAÍDA DE ARACAJU. LOCAL SAIDA: HIPER G. BARBOSA-SUL (07:00 h). PONTOS DE PARADA: Ponto 1 – Av. Saneamento - Posto Shell/GBarbosa. Ponto 2 – Av. Hermes Fontes - Posto São Judas Tadeu (esquina com rua Nestor Sampaio). Ponto 3 – Av. de Contorno – Supermercado Makro. Ponto 4 – Av. de Contorno - em frente à Rodoviária Nova (posto de combustível em reforma). Trajeto rodoviário ARACAJU (SE) – ITABAIANA (SE) – CANINDÉ (SE): Rápidas paradas ao longo da rodovia para observações das geomorfológicas. Horário previsto de chegada à Canindé: 11:00 h. feições Trajeto rodoviário CANINDÉ (SE) - PIRANHAS (AL). Ponte sobre o Rio São Francisco (SE/AL). Mirante da CHESF (Usina Hidrelétrica de Xingó). Estação Fluviométrica da A.N.A. – Piranhas (AL). Reservatório da UHE XINGÓ. Almoço em restaurante na beira do lago. Tarde e Noite. XINGÓ PARQUE HOTEL. Exposição sobre a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, geomorfologia fluvial e hidrologia fluvial nos períodos pré e pós-barragens (professores Edgardo Latrubesse e Luiz Carlos Fontes). Apresentação dos seminários sobre Sistema Fluvial (alunos). Jantar no hotel. Dia 14.11.06 – Terça-feira Trajeto rodoviário CANINDÉ (SE) - GARARU (SE) – PRÓPRIA (SE). Manhã Trajeto rodoviário Canindé (SE) - Porto da Folha (SE) - Gararu (SE) – Propriá (SE): observações nos Compartimentos Geomorfológicos I (Canyon), II e III. 26 Almoço em restaurante na cabeceira da ponte de Própria (SE) – Porto Real de Colégio (AL). Tarde. Trajeto rodoviário Propriá (SE) - Perímetro Irrigado Continguiba-Pindoba (SE): observações do processo erosivo nas margens fluviais e das obras de contenção. Noite. Hotel Velho Chico. Complementação das apresentações dos seminários (ambientes fluviais). Jantar no hotel. Dia 15.11.06 – Quarta-feira Trajeto PROPRIÁ (SE) – PENEDO (AL). Manhã e Tarde. Trajeto de barco Propriá (SE) – Penedo (AL): observações de depósitos e processos fluviais nas margens, ilhas e bancos arenosos e prática de obtenção de dados fluviométricos. Almoço - lanche no barco. Noite. Apresentação dos Seminários de Geologia Costeira (HOTEL SÃO FRANCISCO) em Penedo (AL). Jantar em restaurante na orla fluvial. Dia 16.11.06 – Quinta-feira Trajeto PENEDO (AL) - PIACABUÇU (AL) - FOZ (AL/SE). Manhã e Tarde. Trajeto rodoviário Penedo (AL) – Piaçabuçu (SE): observações de depósitos Pleistocênicos e Holocênicos na planície deltaíca do Rio São Francisco (SE/AL). Trajeto de barco Piacabuçu (AL) – Foz (SE/AL): observações de terraços marinhos, depósitos fluviais (ilhas), manguezais, campo de dunas eólicas e dos efeitos dos processos erosivos na foz. Noite. Complementação das apresentações dos seminários em Geologia Costeira (HOTEL SÃO FRANCISCO) em Penedo (AL). Dia 17.11.06 – Sexta-feira Trajeto rodoviário PENEDO (AL) - BREJO GRANDE (AL) – PACATUBA (SE) ARACAJU (SE). Manhã. 27 Trajeto rodoviário Penedo (AL) – Neopólis (SE) – Perímetro Irrigado de Betume (SE) - Ilha das Flores (SE) - Brejo Grande (SE) - Saramen (SE). Almoço em Brejo Grande (SE). Tarde. Trajeto rodoviário Brejo Grande (SE) – Pacatuba (SE). Deslocamento para Aracaju (SE). 1.1 INSTRUÇÕES Recomenda-se aos alunos levar os seguintes materiais: máquina fotográfica, caderneta/caderno de campo; lupa de bolso; régua ou trena; prancheta; boné; protetor solar, short/bermuda (para uso nos trajetos com barcos). Telefones para contato: 79-9984 7033 (Luiz Mário) - 79-8816 6387 (Luiz Carlos). 1.2 AVALIAÇÃO DA DISCIPLINA A atividade para avaliação desta disciplina de campo consistirá na apresentação de um relatório a ser elaborado por equipes compostas por 3 alunos, com prazo de entrega em 20 de dezembro. O relatório deverá abordar os temas 2 e 3. A estruturação do relatório deverá seguir as instruções dada pelos professores durante o seminário de campo.