Nº 70 - jan./fev./mar. de 2015 - ANO XVII Associação de Deficientes Visuais e Amigos A ADEVA está também em Barueri Parceiros pág. 7 Apps para cinema operam aqui e agora pág. 10 Convivaware O coral da ADEVA canta e encanta pág. 4 Talentos OPINIÃO Editorial Sem migalhas O trabalho é um direito de todos. Isto é um fato garantido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos desde sua promulgação em 1948 e ratificado pelos países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), inclusive, o Brasil. Mas, se é assim, algo está errado. Atualmente, no território nacional, existem 10,2 milhões de pessoas com deficiência que completaram o ensino médio e o curso superior. Deste total, 218 mil estão no mercado de trabalho formal e dez milhões aguardam uma oportunidade profissional. Por quê? Desinteresse por parte das pessoas com deficiência? Falta de vontade política do poder público? Falhas do sistema de fiscalização? Desinformação e preconceito por parte dos empresários e das empresas? Em relação a este último item, com frequência, ouvimos comentários sobre o quase total despreparo de alguns profissionais de RH, principalmente no momento da entrevista de uma pessoa com deficiência candidata a vaga de emprego. Quanto às empresas, uma delas nos procurou para que indicássemos alguém “cego apenas de um olho” para completar o número de empregados exigido pela Lei de Cotas (Lei nº 8.213/91). Outras, na urgência de atender esta Lei, procuram pessoas com deficiência leve (“faltando apenas um dedo”), ou deficiência não aparente (“semicegas”). Só faltaram nos pedirem mulheres “semigrávidas” e homens “semi-idosos”. Brincadeira de mau gosto? Não. É a pura verdade. Algumas contratam pessoas com deficiência visual apenas por meio período de trabalho, ou deixam-nas “encostadas”, ou as dispensam para que “trabalhem” em casa, ou para que façam cursos e mais cursos fora da empresa. Atribuímos todas essas mazelas sobretudo à desinformação e à descrença do empresariado brasileiro sobre a capacidade laboral das pessoas com deficiência. Mas a empregabilidade destes profissionais precisa ser respeitada. A Lei 8.213/91 foi sancionada em função da insensibilidade da nossa sociedade sobre esta questão. O profissional com deficiência não quer migalhas. Quer sua inclusão no mercado de trabalho de forma efetiva, o que significa mais do que ser um número para atender uma Lei. Está na hora das empresas pararem de brincar que empregam, das pessoas com deficiência pararem de brincar que trabalham e do poder público parar de brincar que fiscaliza. Passados 23 anos de sua aprovação, a insensibilidade perdura quase que de forma generalizada. Poucas empresas se mostram comprometidas seriamente com a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, com um trato profissional isento de paternalismo, proporcionando condições para que elas exerçam suas funções e mostrem todo seu potencial. Por esses poucos exemplos de maturidade empresarial, me veio ao pensamento a frase de um personagem do filme Pão e Rosas: “Queremos pão, mas também queremos rosas”. Markiano Charan Filho, diretor-presidente da ADEVA Expediente: Jornalista responsável: Liane Constantino (MTb 15.185). Colaboradores: Laercio Sant’Anna, Lothar Bazanella, Markiano Charan Filho, Miguel Leça (fotos), Sidney Tobias de Souza. Correspondência: rua São Samuel, 174, Vila Mariana, CEP 04120-030 - São Paulo (SP) - telefones: 11 5084-6693/6695 - fax: 11 5084-6298 - e-mail: [email protected] - site: www. adeva.org.br. Diagramação: Fernanda Lorenzo. Revisão: Célia Aparecida Ferreira. Fotolitos e impressão: Garilli Artes Gráficas 2 Ltda. - tel.: 11 2696-3288 - e-mail: [email protected]. Tiragem: 1.000 exemplares. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. Índice: Opinião|Editorial............................p. 2 Lazer|Estive lá e gostei!.............p. 3 Adeva|Talentos...........................p. 4 Em foco............................p. 5 Parceiros..........................p. 7 Mercado de Trabalho|Profissão:.........................p. 8 Esporte|Um direito de todos.........p. 9 Tecnologia|Convivaware....................p. 10 Na rede............................p. 11 Literatura|Distinto olhar...................p. 11 Espaço poético................p. 12 Mais!|Para seu lazer..................p. 12 LAZER Estive lá e gostei! Um pedacinho do mundo árabe está em São Paulo Conheça tudo de bom e gostoso que os irmãos do Oriente trouxeram Por Sidney Tobias de Souza | [email protected] São Paulo também tem um pé no Oriente. Grande parte dos árabes e seus descendentes que vivem no Brasil moram na capital paulista. A contribuição cultural desta colônia pode ser observada em toda parte da cidade, da gastronomia às edificações urbanas. Arquitetura Edifícios históricos, como a Mesquita Brasil na av. do Estado, construída em 1929, a mais antiga do Brasil, e a Catedral Metropolitana Ortodoxa na rua Vergueiro, são exemplos da arquitetura árabe. Estes dois edifícios, juntamente com a fábrica de alimentos e loja de produtos típicos Maxifour no Brás e a sala árabe do Club Homs na av. Paulista, compõem o roteiro árabe disponível a grupos turísticos. Visitei a sala árabe no Club Homs e pude conhecer um pouco do estilo dos móveis, da tapeçaria e de instrumentos do oriente. Aliás, para quem gosta de música e dança, no Club Homs é possível aprender a tradicional dança do ventre ou raqṣ sharqī (literalmente “dança oriental”). Seus movimentos são marcados pelas ondulações abdominais, de quadril e tronco, isoladas ou combinadas, ondulações de braços e mãos, tremidos e batidas de quadril. Sua sinuosidade, semelhante à de uma serpente, atribui sensualidade à dança. E, ao som de alaúdes (instrumento de cordas), derbakes (instrumento de percurssão) e cantores como Jorge Abdo e Omar Faruk, as dançarinas dão um show. Gastronomia Os paulistanos já se habituaram às delícias árabes como kafta e tabule. Porém, há mais sabores. Por exemplo, a salada fatouche temperada com especiaria árabe; as esfihas de zaatar; o quibe redondo com nozes; o homus, uma pasta de grão de bico com tahine; a babaganuj, pasta de berinjela com tahine; o chancliche, queijo árabe coberto com zaatar; o michuí, um espeto de carne de carneiro assada; o típico sanduíche de falafel; os manouches, sanduíches rápidos e populares feitos de carne moída com tomate ou sem carne feitos de coalhada seca, tomate, pepino, azeitonas e hortelã, são uma delícia. Para a sobremesa, as opções podem ser um pudim de tâmaras, um mahmoul de nozes, um balorie de pistache ou uma coalhada com mel. E para beber, conforme a cultura árabe, nada de álcool. Você pode escolher um café temperado com cardamomo, um chá com hortelã, um jallab (suco de amora com água de rosas), um suco de damasco ou de romã. Tudo isto em um dos inúmeros restaurantes típicos da cidade. Para saborear um pouco desta vasta culinária, escolhi o Baruk da Vila Olímpia, um espaço verdadeiramente árabe. Mais conhecimento Caso você se interesse pela cultura e pela história do Oriente, o Centro Cultural Árabe Sírio oferece diversos cursos, inclusive de língua árabe. As portas deste instituto estão abertas a todos os interessados nas palestras que promove, nas mostras de filmes, nas apresentações do grupo folclórico de dança, nas exposições de artes e, inclusive, na biblioteca onde é possível conhecer a rica literatura árabe. Então, que tal reservar um fim de semana para conhecer melhor o que este povo hospitaleiro tem a oferecer a todos os paulistanos? Certamente você será muito bem-vindo! Ahlan wa Sahlan! Serviço Mesquita Brasil – av. do Estado, 5.382, Cambuci. | Catedral Metropolitana Ortodoxa – rua Vergueiro, 1.515, Paraíso. | Maxifour produtos alimentícios – rua Júlio Ribeiro, 66, Brás, tel.: 2799-0000. | Club Homs – av. Paulista, 735, Paraíso, tel.: 3289-4088. | Baruk restaurante – al. Raja Gabaglia, 160, V. Olímpia, tel.: 3045-9999. | Centro Cultural Árabe Sírio – rua Augusta 1.053, Jardins, tel.: 3259-4727 / 4880. 3 ADEVA Talentos Vozes que cantam e encantam Integrantes do Coral dizem o que significa representar a ADEVA por meio da música Por Lúcia Nascimento | [email protected] Tudo começou em 2002, por iniciativa da fonoaudióloga e cantora Anna Maria Silva Cotrim Machado, também professora da ADEVA. “Ela propôs a formação de um grupo para cantar na formatura dos alunos daquele ano. A maestrina Dudá Lopes e eu fomos convidados para reger. Depois deste evento, alguns dos integrantes do grupo se interessaram em mantê-lo. A Dudá saiu, eu fiquei”, conta Júlio de Brito Battesti, maestro desde então, graças à parceria firmada entre a Abaçaí Organização Social de Cultura e o governo do estado de São Paulo. A ideia, no entanto, foi da vice-presidente à época, Sandra Maciel. “Em um curso de Relacionamento Interpessoal, uma das atividades propunha que cantássemos todos juntos. Foi daí que a Sandra pensou em formar um coral”, conta a colaboradora da ADEVA e membro do grupo desde seu início, Célia Aparecida Ferreira. “O Coral já teve trinta vozes e, em outras épocas, sete vozes; mas, independente disso, a vontade 4 de fazer música sempre prevaleceu e o nível musical melhorou muito desde seu início. Hoje, são cerca de vinte vozes que cantam e encantam nos eventos promovidos pela ADEVA e em todos nos quais nos apresentamos”, informa Júlio Battesti. Os coralistas Conquista de novas amizades, ouvido mais apurado para a música, melhora na voz, o fim da depressão. Estes são alguns dos motivos que os integrantes do Coral da ADEVA mencionam para ilustrar sua participação num grupo para o qual o ditado popular “quem canta seus males espanta” pode muito bem ser aplicado. Para participar O Coral da ADEVA está com as portas abertas para todos os interessados, sejam ou não pessoas com deficiência visual. Os ensaios são às terças-feiras, das 17h às 19h, na sede da entidade, rua São Samuel, 174, Vila Mariana, telefones: 5084-6693 / 6695. Marco Antônio F. S. B. dos Santos, massoterapeuta Eu cantava em corais evangélicos, mas, em 2005, devido ao glaucoma, perdi a visão e entrei em depressão. Iniciei no Coral em 2013, porém, por causa da doença, tive de sair. Incentivado por uma colega, a Valéria, retornei. Hoje, o Coral é muito importante para mim, porque melhorei a minha voz, conquistei novas e excelentes amizades, pessoas com os mesmos problemas que os meus, e superei a depressão! Lu iz Carlos Marques da Silva, estudante Conheci o Coral em agosto de 2014, em uma missa no Hospital Santa Catarina, e gostei muito! Hoje, meu ouvido está mais apurado e minha voz, mais desenvolvida. O convívio com os colegas também me faz bem! Luzia Aparecida F. Costa, aposentada Além do prazer de aprender as músicas e cantar, o Coral, para mim, também é fazer novas amizades e lazer. O Júlio também é um grande amigo, o que me incentiva muito a permanecer no grupo. Célia Aparecida Ferreira, revisora braille Cantar é muito bom. Não poupo elogios ao Júlio. Ele está conosco desde o início, é muito dedicado e os colegas são muito animados. Andreia Alves Lima, balconista Há dez anos no grupo, fiz muitas amizades, sinceras e verdadeiras. O Júlio também é uma pessoa maravilhosa. Eles são minha segunda família! Valéria Teresa Silva de Verçosa, massoterapeuta Comecei no Coral em 2009. Por motivo de depressão, tive de me afastar por dois anos. Voltei graças ao Markiano e ao Júlio, a quem agradeço imensamente! Eu amo música e acho que ouvia muitas já na barriga da minha mãe. Portanto, estar no Coral, para mim, significa vida! Sheila Franco da Silva, estudante Ana Paula Souza Santana, massoterapeuta Não gostava de cantar em público, achava a minha voz muito feia, mas comecei a soltá-la no Coral. Também sou muito polêmica, porém o convívio com os colegas fez com que eu ficasse mais controlada. Resumindo: estar no Coral é tudo de bom! Neuza Maria Ferreira, aposentada Me lembro que cheguei ao ensaio e falei para o Júlio que queria assistir. Assisti e aqui estou até hoje! Para mim, fazer parte do Coral é muito bom, porque, além de cantar ser uma delícia, fiz novos amigos! Eu canto desde criança e até já ganhei troféu. Mas, assim que entrei no Coral, além de ganhar novos amigos, a minha voz melhorou muito! Cleide Aparecida Lima Lourenço, aposentada Para mim, o Coral é um cantinho onde eu também supero as saudades da minha mãe, que mora muito longe. Aqui, eu brigo, brinco, me divirto e aprendi a cantar melhor! Rosa linda Bueno Moreno, dona de casa Quando criança tentei aprender a cantar. Agora, aprendi. Com o grupo, me divirto e esqueço os meus problemas. O Coral é uma recreação para o meu espírito! Raimunda de Fátima Q. da Silva, auxiliar de radiologia Foi em 2004, quando eu estava com uma forte depressão, que um amigo me propôs entrar no grupo, para alegrar e aliviar o meu espírito. Entrei, fiquei aliviada e, por causa do Coral, me sinto bem até hoje! Para mim, o Coral significa ânimo, uma atividade diária de combate ao stress, além do fim da depressão! Lucila da Silva Peres Balbino, massoterapeuta Quando me casei e deixei meus pais em Curitiba, o Coral me ajudou a superar a falta e a saudade deles. O poder da música e a conquista de novos amigos também me ajudam muito! Antônio Man ente Moreno, aposentado Participo de corais desde 1963 e faço parte deste Coral desde seu início. O Coral me distrai, preenche meu tempo e preserva minha higiene mental. Jair Cava lis, auxiliar de escritório e estudante de música Como sempre só toquei bateria na noite, para mim, cantar é uma experiência nova. Participar do Coral também significa fazer novas amizades, o que é muito bom! 5 ADEVA Em foco 36 anos e muitos amigos Na companhia de mais de 200 pessoas, a diretoria da ADEVA comemorou os 36 anos de sua fundação com um jantar no Bar Brahma, centro de São Paulo, dia 12 de novembro passado. A presença de tantos amigos e o show d’Os Originais do Samba alegraram, e muito, este já tradicional evento anual. Cultura e inclusão “Hoje eu quero voltar sozinho”, roteiro, direção e produção de Daniel Ribeiro, foi o filme escolhido para a V Sessão de Cinema Inclusiva ADEVA/Sabesp que aconteceu dia 5 de dezembro último no Cine Sabesp em São Paulo. Na ocasião, a deputada federal Mara Gabrilli fez o lançamento da 2ª edição do seu Guia Cultural Inclusivo. Gráfica braille A gráfica da ADEVA oferece serviços de impressão em braille e em tipos ampliados de apostilas, livros, cardápios, catálogos, folhetos, holerites etc. para pessoas físicas e jurídicas, em todo o território nacional. Orçamentos pelo e-mail: [email protected] ou pelos tels.: 11 5084-6693 / 6695 com Miguel Leça. Sua participação Para colaborar com nossos projetos, faça uma doação em dinheiro pelo sistema PagSeguro no link http://www.adeva.org.br/comocolaborar ou doe Cupons e Notas Fiscais sem registro do CPF ou CNPJ. Para a entrega dos Cupons, entre em contato com Rosana pelo e-mail: rosana@ adeva.org.br ou pelos tels.: 11 5084-6693 / 6695. 6 ADEVA Sarau da Virada A ADEVA abriu suas portas para a 5ª Virada Inclusiva de São Paulo, evento promovido pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo. Um sarau literário reuniu amigos e amantes de boa prosa, poesia e música em seu Centro de Treinamento no dia 6 de dezembro último. Acesso para Todos O projeto Acesso para Todos, criado pela ADEVA, pelo escritório de webdesign E-hipermídia e pela empresa de sistemas Web2Business, oferece a construção de websites acessíveis segundo os padrões da W3C, comunidade internacional que estabelece os padrões da web. Mais informações no site http://www.acessoparatodos.com.br/ Parceiros ADEVA é parceira da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência Professores de braille e de locomoção atendem o público da SDPD de Barueri No início de 2013, Ibraim Antonio Abou Jokh tomou posse como titular da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SDPD) de Barueri, município paulista a 26 quilômetros da cidade de São Paulo, considerado importante centro financeiro paulista e polo empresarial brasileiro. Criada, em 2010, como órgão de execução, uma de suas múltiplas competências é “formular e executar, direta ou indiretamente, em parceria com instituições públicas ou privadas, programas, projetos e atividades à pessoa com deficiência”. Para atender este parágrafo, amigos em comum que acreditam na importância desta Secretaria e na competência do trabalho que a ADEVA realiza há 36 anos promoveram sua aproximação. E, após os trâmites habituais exigidos por lei municipal para a consecução de uma parceria público-privada, a ADEVA passou a oferecer aulas de braille e de orientação e mobilidade para pessoas com deficiência visual de Barueri e de municípios circunvizinhos na sede da Secretaria. Para a coordenadora técnica sócio-ocupacional da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Denise A. Sylos, “apesar de recentemente iniciado [agosto de 2014], o trabalho conjunto com a ADEVA vem apresentando bons resultados, tanto que temos a intenção de renovar a parceria este ano e também ampliá-la com a contratação de cursos de informática para pessoas com deficiência visual”. Markiano com Denise e Pat rícia (da SDPD) Equipe da Adeva em frente da SDPD SDPD A Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Barueri foi criada em agosto de 2010 com um amplo espectro de ação na coordenação da política municipal de atenção e de inclusão da pessoa com deficiência e mobilidade reduzida. Atende gratuitamente crianças, jovens e adultos com deficiência auditiva, física, visual, múltipla, intelectual e com transtorno do espectro autista, por meio de atividades nas áreas da saúde, esporte adaptado, cultura, educação e inclusão no mercado de trabalho. Desde 2013, funciona em sede própria na rua Vereador Isaias P. Souto, 175, Jardim Belval, tel.: 4194-4939, e-mail: [email protected] 7 MERCADO de TRABALHO Profissão: artista A partir daí, me apresentei na Itália e na Argentina, onde participei de três festivais.” Em 2005, com a canção “O mundo fala”, Sara foi a primeira colocada no Festival de Música de Volta Redonda, concorrendo com compositores de todo o Brasil. Como intérprete, ficou em 2º lugar. Seus dois CDs independentes, “Faz sempre sol” (infantil) e “Em frente ao planeta”, são de 2012 e 2013 respectivamente. Dia 25 de janeiro passado, lançou o terceiro, “Invisível”. Na dança e no teatro Sara Bentes canta, dança, escreve e muito mais Conheça a trajetória multifacetada desta jovem artista Por Lúcia Nascimento | [email protected] “Tenho apenas uma maneira diferente de ver o mundo.” É assim, por meio de um trecho de “Pra quê”, uma de suas mais de 30 composições, que a cantora, atriz, blogueira e escritora Sara Bentes (32) se define. Sara nasceu em Volta Redonda (RJ) com glaucoma. Dezessete cirurgias lhe garantiram 5% de visão até 2010, quando ficou completamente cega. Na música 8 O ambiente familiar foi favorável ao seu desenvolvimento artístico. “Meu dia a dia com meus pais, o músico e escritor Sérgio Bentes e a professora Elenita Magalhães, foi embalado com música, arte e literatura.” “Comecei a cantar em público com 13 anos, no Coral do Colégio Macedo Soares onde estudei. Depois, participei dos corais da prefeitura de Volta Redonda e da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).” Simultaneamente, Sara estudava piano clássico e popular, oboé e fazia cursos livres de outros instrumentos musicais. A primeira apresentação no exterior foi nos Estados Unidos aos 21 anos. “Era um concurso anual de jovens solistas cantores e instrumentistas, o Rosemary Kennedy to Young Soloists. Venci na categoria cantora internacional. Como parte do prêmio, fui convidada para cantar no teatro Kennedy Center, em Washington DC. Para aprimorar a expressividade e a postura, Sara fez cursos de dança e teatro. “Quando comecei a cantar em público, me cobravam mais presença de palco, tudo que se espera de um cantor que enxerga. Mas para a pessoa com deficiência visual não é um aprendizado natural. A dança e o teatro me ajudaram e gostei tanto que acabei ficando”. A primeira atuação como atriz profissional foi na peça “Do banquete ao piquenique” no Rio de Janeiro em 2006. Em 2010, atuou na Cia. Mix Menestréis, dirigida por Deto Montenegro, e no Teatro Cego, ambos em São Paulo. No circo Em 2013, Sara foi convidada a integrar um espetáculo de circo na VII Mostra de Artes Albertina Brasil em Sergipe. “Fiz a adaptação de uma modalidade de dança do ventre que usa uma bengala, representando a mulher guerreira. Usei a minha bengala, em homenagem às pessoas com deficiência visual.” De novembro de 2013 a março de 2014, frequentou a escola de circo Crescer e Viver, no Rio de Janeiro, dedicando-se à lira, uma argola de metal, semelhante a um bambolê, que fica pendurada no teto, na vertical, amarrada em uma corda, e onde o artista fica sentado exibindo suas coreografias. Em abril, estreou com “Belonging” em Londres e, no mês de maio, este espetáculo circense foi reapresentado no Rio e em São Paulo. Na literatura e no blog Seu blog “Boca no mundo” <http://sarabentes. blogspot.com.br>, criado em 2010, marcou o ano em que perdeu a visão. Neste espaço, Sara publica poemas e crônicas contando suas aventuras, reflexões e os bastidores do seu trabalho. Do blog, resultou o livro de crônicas “Quando botei a boca no mundo” de 2013. Antes disso, em 2011, ela publicou o livro de poesias “Fotografias poéticas de um olhar viajante”, em versão impressa e digital acessível pelo Clube de Autores. E muito mais... Sara Bentes também dá aulas de canto, é palestrante e consultora de inclusão de pessoas com deficiência. Porque “sempre quero mais e sei que posso mais.” ESPORTE Um direito de todos Pedalar é bom. Acompanhado é bom demais! As bicicletas vão ocupando cada vez mais espaço em São Paulo Por Sidney Tobias de Souza | [email protected] Agora que as ciclofaixas, ciclovias e ciclorrotas estão se multiplicando em São Paulo, que tal pegar sua “magrela” e fazer uma atividade física saudável e prazerosa pelas ruas da cidade? Para incentivar o uso da bicicleta também como meio de transporte, a Prefeitura paulistana tem como meta implantar 400 quilômetros de ciclovias em Sampa até o final deste ano. Atualmente, as vias destinadas aos ciclistas totalizam 214,4 quilômetros. Em 2014, foi inaugurada a ciclopassarela sobre a Marginal Pinheiros e a av. Paulista vai ganhar ciclovia no canteiro central. Desta forma, com certeza haverá uma perto de você. Além dessas iniciativas, a Prefeitura inaugurou, no Largo da Batata (região oeste), um bicicletário público ao lado da estação Faria Lima do Metrô, com capacidade para guardar 100 bicicletas dos próprios usuários, além de outras duas vagas para pessoas com deficiência. As bicicletas não são apenas um meio de transporte barato e não poluente. Pedalar também diverte e faz bem à saúde. Médicos afirmam que pedalar regularmente melhora a resistência e a respiração, combate o stress, evita o infarto, aumenta a imunidade, favorece o emagrecimento, reduzindo a gordura corporal, contribui com a diminuição da pressão arterial e garante boa forma. É uma das atividades físicas mais completas por movimentar todo o corpo. E se você não tem bicicleta, não se preocupe em comprar uma. Nos parques Ibirapuera (região sul) e Villa-Lobos (região oeste), por exemplo, pode-se alugar uma bike e sair pedalando em meio a canteiros verdes, arborizados e ao som do canto dos pássaros. Tem bicicletas para crianças, bicicletas para toda a família andar junta, com quatro rodas e cestinho, e bicicletas do tipo tandem, conhecidas popularmente como “de dois lugares” ou duplas. A tandem é o tipo preferido pelas pessoas com deficiência visual, pois elas pedalam junto com o acompanhante, tendo a mesma experiência de quem anda de bicicleta sozinho. A sensação que se tem é de liberdade. Para quem prefere passear em grupo, são Paulo oferece vários clubes de ciclistas que promovem passeios diurnos e noturnos, pela cidade e por outras rotas fora da cidade. O Clube dos Amigos da Bike (CAB) existe desde 1997, por exemplo, organiza competições, passeios ciclísticos urbanos, cicloviagens. Para se associar ao CAB, entre no site www.cab.com.br e confira também sua programação que inclui a famosa pedalada noturna semanal. Seja na rua ou na estrada, um lembrete importante se você optou por este esporte ou meio de transporte: use capacete, mantenha sua magrela “alinhada” – rodas, correias, breque, pneus, faróis (luz branca na frente e vermelha atrás), guidão, assento – e ajuste o retrovisor. Ok? Então, pé no pedal e bom passeio! 9 TECNOLOGIA Convivaware Whatscine e MovieReading já são realidade no Brasil Aplicativos oferecem audiodescrição em tempo real no cinema ou em casa Por Laercio Sant’Anna | [email protected] Os últimos dez anos demonstraram uma evolução importante da audiodescrição no Brasil. Já postamos aqui um pouco da “briga” entre os interessados no tema e os órgãos responsáveis por sua implantação. Falta de mão de obra qualificada e elevados investimentos têm sido os argumentos para a não efetivação deste recurso de tecnologia assistiva no País. Pensando nisso, entidades e empresas buscam maneiras de diminuir os custos e aumentar a rapidez na oferta de produtos audiodescritos. Foi assim que, recentemente, ganhamos o Whatscine e o MovieReading. Os aplicativos O Whatscine é um software para aparelhos móveis das plataformas iOS ou Android. Desenvolvido por pesquisadores da Universidade Carlos III de Madrid, está representado pela ONG Mais Diferenças no Brasil. Por meio da parceria com produtores, distribuidores e exibidores, implanta-se uma rede wi-fi específica para seu uso em salas de cinema. A pessoa com deficiência visual ou auditiva “baixa” o aplicativo gratuitamente em seu dispositivo móvel e, no local onde o Whatscine está disponível, basta conectar-se para assistir a película com audiodescrição, com legenda ou com tradução em Libras. O filme propriamente dito não precisa de nenhuma adaptação. O MovieReading, desenvolvido pela empresa italiana Universal Multimedia Access, tem a Iguale Comunicação de Acessibilidade como representante exclusivo no País. Disponível para iOS e Android, o download também é gratuito. A grande diferença entre o Whatscine e o MovieReading é que este não exige nenhuma adaptação no local onde o filme é exibido. Numa sala de cinema, em casa no home vídeo ou na internet, assim que se inicia a 10 exibição, acionado o botão sincronizar do MovieReading, o som é captado e o recurso de audiodescrição, de legendas ou de tradução em Libras é ativado. Por enquanto, o grande “calcanhar de Aquiles” são os eventos ao vivo. A Mais Diferenças experimentou o Whatscine em um espetáculo de dança. Sinceramente, foi um grande fiasco. Nestes casos, a presença do audiodescritor e do intérprete de Libras é imprescindível. Problemas e solução A inserção da audiodescrição em um filme com distribuição mundial é complexa, pois um longa-metragem normalmente é lançado em dois, três ou em até quatro idiomas. Isto exige que todas as cópias tenham os mesmos recursos, mas como esta matéria não está no mesmo patamar em todos os países, os produtores encontram dificuldade para implantá-lo. Diante disto, sem dúvida, soluções independentes dos distribuidores permitirão que se tenha mais facilmente, e de maneira mais rápida, recursos inclusivos disponibilizados para um número cada vez maior de produtos audiovisuais. Tudo é muito novo. A quantidade de material audiodescrito e legendado ainda é pequena. Estamos vivendo um momento de ajustes, mas entendemos que o futuro é promissor. Adendo As pessoas com deficiência auditiva podem também contar com o Moverio, óculos da empresa Epson. Neles são exibidas as legendas e a interpretação em Libras, o que se evita ter “um olho no peixe” (a tela do cinema) e um “no gato” (a tela do aplicativo). Já estão à venda nos EUA e, este ano, chegam no Brasil. TECNOLOGIA Na rede Bike Anjo O site Bike Anjo oferece gratuitamente orientação para quem deseja fazer da bicicleta seu meio de transporte. Um ciclista voluntário (o bike anjo) acompanhará o iniciante em suas primeiras pedaladas pelas ruas, dará assistência em relação aos melhores trajetos, manutenção básica e medidas de segurança no trânsito. www.bikeanjo.org Be My Eyes Este app convida pessoas que enxergam a “emprestar” seus olhos a quem não enxerga para resolver minúcias do cotidiano, por exemplo, ver a data de validade de um remédio ou a data de vencimento de uma conta. A ajuda se dá a distância através de uma conexão de vídeo ao vivo. Conheça esse app e conecte-se! http://www.bemyeyes.org Rdio Unlimited LITERATURA Distinto olhar Mal visto O Walter é funcionário de um órgão público paulista. Na sua área profissional, ele convive com alguns colegas de trabalho que são cegos ou têm baixa visão. Há uns tempos atrás, eles convidaram o Walter para ser goleiro do time de futebol de 5. Para quem não sabe, essa modalidade esportiva é exclusiva para pessoas com deficiência visual. Cada time é formado por cinco jogadores – um goleiro e quatro na linha. Só o goleiro tem visão total. O Walter aceitou o convite e foi assim que ele ganhou um dos seus melhores amigos, o Ronaldo. As esposas foram apresentadas, ficaram amigas e os filhos também. Com a convivência, o Walter não passa mais incólume quando divisa uma pessoa andando com uma bengala branca. Foi o que aconteceu naquele dia. Ele vinha descendo a Consolação e viu um senhor cego parado em uma esquina, na beira da calçada do posto Shell, esperando alguém para ajudá-lo a atravessar a rua. Sem pensar duas vezes, desviou a moto para a pista da direita e entrou no posto, passando por trás do senhor de bengala. A Harley Davidson roncou alto e fez o ar estremecer. Estacionou a moto e foi oferecer ajuda. – O senhor quer atravessar a rua? Enquanto atravessavam, o Walter comentou que aquela rua era muito perigosa e que por causa do tráfego intenso ninguém estava atento aos pedestres. Ao que o senhor respondeu: – Você tem razão. Agorinha mesmo, um maluco de um motoqueiro entrou no posto a 100 por hora, passou por trás de mim e quase me atropelou. Acho que nem me viu! Liane Constantino (http://distintolhar.blogspot.com.br/) Aplicativo para escutar qualquer álbum, música, playlist ou estação de rádio a qualquer momento, e também para seguir amigos ou artistas e saber o que eles gostam de ouvir. Downloads grátis, ilimitados para ouvir mesmo off-line, sem comerciais, em qualquer dispositivo, na App Store ou no Google Play. http://www.rdio.com/home/pt-br/ 11 LITERATURA Espaço poético Um dedo de trova Do trigo da meninice e do pão da mocidade só restaram na velhice, as migalhas da saudade! Arlindo Tadeu Hagen A gente vê a poesia mais natural e mais pura, quando a rês, lambendo a cria, dá-lhe um banho de ternura. Durval Mendonça Valei-me tudo que é santo! A mulher do seu Antero tá querendo o mesmo tanto a mesma coisa que eu quero! Lothar Bazanella O apanhador de desperdícios Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo. Entendo bem o sotaque das águas. Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim um atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos... Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: amo os restos como as boas moscas. Queria que a minha voz tivesse um formato de canto. Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática. Manoel de Barros (1916-2014) Por Lothar Bazanella MAIS! Para seu lazer Memorial da Resistência Alojado no prédio do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo, o Memorial oferece visitas educativas e acessíveis ao local e às suas temáticas. O Dops, durante o Estado Novo e a ditadura militar de 64, controlou e reprimiu os movimentos contrários ao regime no poder. Agendamentos via e-mail [email protected] ou tel.: 3335-5192. Terça a domingo, das 10h às 17h30. Largo Gen. Osório, 66, Luz. Entrada gratuita. O filho do outro (Le fils de l’autre) Longa-metragem sobre um rapaz judeu prestes a entrar para o exército de Israel, que descobre não ser filho biológico de seus pais, tendo sido trocado ao nascer por um menino palestino que vive na Cisjordânia ocupada. Este fato obriga as duas famílias a reconsiderarem suas identidades, valores e crenças. Ganhador de melhor filme e melhor diretor do Toronto International Film Festival 2012. Nas locadoras. Passeio no Escuro Este passeio pelo Centro Cultural São Paulo proporciona a quem enxerga a experiência do uso do piso tátil. Grupos de até 15 pessoas são vendadas e, com uma bengala, andam pelo local com um guia não vidente. Após o trajeto, trocam impressões e ideias para tornar o espaço mais acessível. Inscrições pelo tel.: 33974036 / 4037 ou e-mail: visitasccsp@ prefeitura.sp.gov.br Última sexta-feira do mês, às 15h. Biblioteca Louis Braille, r. Vergueiro, 1.000. ADEVA - Associação de Deficientes Visuais e Amigos Correspondência: rua São Samuel, 174, Vila Mariana, CEP 04120-030 São Paulo (SP) - e-mail: [email protected] - site: www.adeva.org.br Nossos parceiros: