Bosão de Higgs recebe Nobel da Física no ano a seguir à descoberta p 29 Nobel da Física de 2013 para teoria (e prática) do bosão de Higgs Prémio distinguiu o belga François Englert e o britânico Peter Higgs, dois dos físicos teóricos que, há quase 50 anos, postularam a existência de uma partícula elementar que confere massa a todas as outras François Englert (à esquerda) com Peter Higgs no dia do anúncio da descoberta Física de partículas AnaGerschenfeltl François Englert (80 anos), da Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica, e Peter Higgs (84 anos), da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, partilham o Prémio Nobel da Física 2013 "pela descoberta teórica de um mecanismo que contribui para a compreensão da origem da massa das partículas subatómicas e cuja existência foi recentemente con- firmada, com a descoberta da partícula fundamental prevista, pelas experiências ATLAS e CMS do [acele- rador de partículas] LHC do CERN", anunciou ontem em Estocolmo a Real Academia das Ciências Sueca. Em 1964, Englert e o norte-americano Robert Brout (entretanto falecido), por um lado, e Higgs, por outro, teorizaram de forma independente a existência de uma partícula subatómica celebrizada como bosão de - Higgs -, que conferia massa às outras do bosão, a 4 de Julho de 2012 no CERN partículas previstas pelo chamado Modelo-Padrão da física das partículas, modelo que descreve, ao nível subatómico, o mundo que nos rodeia. Passadas quase cinco décadas, o bosão de Higgs foi finalmente avistado no LHC, o grande acelerador do Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN), perto de Genebra e a sua existência anuncia(Suíça) - da em Julho de 2012. A detecção do bosão de Higgs permitiu completar o elenco das partículas estipuladas pelo Modelo-Padrão. "Segundo o Modelo-Padrão", explicava ontem a Real Academia das Ciências Sueca em comunicado, "tudo, das flores aos planetas, é composto por apenas um punhado de tijolos de construção: as partículas de matéria. Estas partículas são governadas por partículas de força que garantem que tudo no mundo funciona como deve." Neste modelo, o bosão de Higgs ocupa uma posição central, uma vez que, sem ele, nós próprios não existiríamos. É uma partícula omnipresente cuja interacção com as outras partículas subatómicas faz com que elas adquiram a sua massa. Mas o bosão de Higgs é muitíssimo difícil de "apanhar": só se manifesta de forma extremamente fugidia, em experiências que põem em jogo os feixes de partículas mais potentes e os detectores de partículas mais sensíveis que existem no planeta. E de facto, se apenas foram precisos alguns cérebros para imaginar o bosão, já a sua detecção exigiu anos de esforços por parte dos cerca de seis mil cientistas (incluindo uns quantos portugueses) que participam nas duas complexas experiências do CERN, ATLAS e CMS, destinadas a detectar o bosão de Higgs na "selva" de partículas criadas nas colisões de protões de altíssima energia do LHC. Num comunicado emitido pouco depois do anúncio, o CERN, que ficou fora do Nobel, deu os parabéns aos dois laureados. "Estou satisfeitíssimo com a atribuição do Prémio Nobel deste ano à física das partículas", declarou Rolf Heuer, director-geral do CERN, citado no documento. "A descoberta do bosão de Higgs no CERN, no ano passado, que valida o mecanismo de Brout-Englert-Higgs, "Eu não sei" aulas Peter Higgs era o professor. Da audiência surgiu uma pergunta. Crónica Ana Maria Mourão Muito inteligente. nós havia ainda outros professores que assistiam às aulas uns dos outros. E faziam perguntas. Eu, simples aluna de doutoramento, ficava por vezes muito pequenina a Ele, Higgs, encostou-se ao quadro, mãos atrás das costas. Baixou os olhos, silêncio. Depois olhou para nós e disse pausadamente: "Eu não sei." Este profundo sincero "eu não sei" e o direito "a não saber", vindo de Higgs foi o mais importante que poderia ter aprendido nessa escola. Porque é assim, saltitando de "não sei" em "não sei", que se faz a história da Física. ouvir perguntas muito inteligentes feitas por professores muito inteligentes a outros professores muito inteligentes. E numa destas Professora associada do Departamento de Física do Instituto Superior Técnico Nos finais dos anos 1980 participei numa Escola de Verão sobre Física de Partículas na Escócia. Peter Higgs foi um dos professores a dar aulas nessa escola. As aulas decorriam num anfiteatro. Entre marca o culminar de décadas de esforço intelectual por parte de muitas pessoas no mundo." Englert, citado pela AFP, declarouse "feliz" por ter recebido o galardão, mas ao mesmo tempo triste por não o poder partilhar com Brout, o seu colega e amigo de toda a vida. Também felicitou o seu co-laureado, que só o conheceu no ano passado, no CERN, no dia do anúncio da descoberta do bosão. E disse com humor que, quando soube que a decisão do Comité Nobel estava a demorar mais do que o previsto, ficou convencido de que não ia receber o prémio. Higgs, por seu lado, afirmou ter ficado "sem palavras" por receber o Nobel. O bosão de Higgs não é de todo o fim da história. O Modelo-Padrão só descreve a matéria visível que nos rodeia, mas estima-se que 95% do Universo seja matéria escura, totalmente invisível, e energia escura.