CENTRO UNIVERSITÁRIO VILA VELHA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA DE ECOSSISTEMAS DANIELA NICIOLI ESTEVAM DA SILVA SOARES Bases microbiológicas e químicas da qualidade ambiental da água e areia da orla de Manguinhos - Serra, Espírito Santo, Brasil VILA VELHA 2009 0 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. DANIELA NICIOLI ESTEVAM DA SILVA SOARES Bases microbiológicas e químicas da qualidade ambiental da água e areia da orla de Manguinhos - Serra, Espírito Santo, Brasil Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Ecologia de Ecossistemas do Centro Universitário Vila Velha, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ecologia de Ecossistemas. Área de concentração Impactos e Recuperação do Meio Ambiente. Orientador: Prof. Dr. Alessandro Coutinho Ramos VILA VELHA 2009 1 DANIELA NICIOLI ESTEVAM DA SILVA SOARES Bases microbiológicas e químicas da qualidade ambiental da água e areia da orla de Manguinhos - Serra, Espírito Santo, Brasil BANCA EXAMINADORA _________________________________ Dr. Alessandro Coutinho Ramos Orientador ________________________________ Dra. Zilma Maria Almeida Cruz Membro interno ________________________________ Dr. Daniel Basílio Zandonadi Membro externo Vila Velha, 21 de dezembro de 2009 2 “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do onipotente descansará.” Salmos 91:1 3 Dedico esse trabalho a meus pais, Eliana Estevam da Silva e Edmar Soares da Silva. 4 AGRADECIMENTOS Ao Centro Universitário de Vila Velha – UVV e ao Laboratório de Microbiologia e Biotecnologia (LMAB), pela infra-estrutura que possibilitou efetivar todo o estudo da melhor maneira possível. A ARCELOR MITAL e ao Istituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, cuja parceria celebrada possibilitou a bolsa de estudos que resultou nesse trabalho. Ao orientador Alessandro Coutinho Ramos, uma pessoa maravilhosa. Agradeço as palavras de ânimo e a empolgação ao dedicar-se a esse trabalho. As biólogas Juliana Melo, Mariana Wolkartt e Aline Spínola, extendendo a todos os demais colegas do LMAB. Aos colegas de turma do PPEE (Ferderico Eutrópio, Adriana Canal das Virgens, César Abel Krohling, Roberta Guio Azevedo, Celina Alcoforado e tantos outros). Ao Dr. Ary Gomes da Silva e demais professores do curso. Ao MSc. Pablo Merlo Prata pelas sugestões que valorizaram este trabalho. A toda a equipe de Gerenciamento Costeiro que me suportaram nesse período de muito nervosismo e trabalho (Aline Nunes Garcia, Christianne Bitencourt, Helaine Alvarino, Rubens Barbosa e Tainan Bezerra). A todos os meus familiares e a Deus que compõem a parte mais importante da minha vida. 5 RESUMO As praias são essenciais para o desenvolvimento de atividades de lazer, esporte, turismo e convivência da população. Entretanto, o descarte indiscriminado de resíduos e efluentes nesse ambiente favorece a ocorrência de microorganismos patogênicos nas areias e água marinha, que podem comprometer a saúde dos usuários. Gastrenterites, salmoneloses, viroses, dermatites e micoses são algumas das doenças cuja ocorrência pode estar associada a recreação em balneários com elevados índices de contaminação. Com o objetivo de estudar a qualidade das águas e areias de praias utilizadas para o lazer, foram realizadas análises microbiológicas e químicas das areias e da água do mar da orla de Manguinhos no município da Serra (ES). Os níveis mais elevados de contaminação fecal foram encontrados nos pontos localizados sobre fontes pontuais de contaminação e em pontos próximos, comparável a um gradiente de contaminação. O valor máximo de coliformes totais (CT) e de coliformes termotolerantes (CTe) na água foi de 2400 NMP1/100mL. Na areia a densidde de CT variou de 3 a 210 NMP/100g e de CTe de 3 a 240 NMP/100g. A água e a areia apresentaram padrões distintos quanto a abundância relativa das espécies, sendo Escherichia coli mais abundante nas amostras de água. Na areia E.coli representou 23% das colônias e Klebsiella apresentou a mesma abundância. O ponto 3C e os Córregos Irema e Laripe apresentaram condições impróprias a balneabilidade, sendo constatado o descarte de efluente doméstico in natura nesses córregos. Excetuando-se o ponto 3C, a qualidade ambiental da água e areia da orla de Manguinhos é influenciada principalmente pelo deságüe dos Córregos Maringá, Laripe e Irema, sendo tal constatação corroborada pelo modelo hidrodinâmico da área e pelos resultados das análises químicas da água. Considerando os resultados obtidos em outros estudos na costa brasileira e a legislação pertinente, as areias da praia de Manguinhos apresentaram boa qualidade microbiológica. 1 NMP: Número Mais Provável. 6 SUMÁRIO RESUMO ....................................................................................................... 6 LISTA DE FIGURAS ..................................................................................... 9 LISTA DE QUADROS ................................................................................... 11 LISTA DE TABELAS .................................................................................... 12 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ....................................................... 13 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 14 2 OBJETIVOS .............................................................................................. 17 2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................ 17 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................. 17 3 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................... 18 3.1 ZONA COSTEIRA: CARACTERÍSTICAS E IMPACTOS ...................... 18 3.2 DOENÇAS ASSOCIADAS A CONTAMINAÇÃO DE ÁREAS BALNEARES ................................................................................................ 22 3.2.1 BACTÉRIAS ........................................................................................ 26 3.2.2 FUNGOS ............................................................................................. 28 3.2.3 PROTOZOÁRIOS (PARASITAS) ....................................................... 30 3.2.4 VÍRUS .................................................................................................. 31 3.3 QUALIDADE DAS PRAIAS ................................................................... 32 3.3.1 RESÍDUOS SÓLIDOS (LIXO) E EFLUENTES ................................... 33 3.3.2 FONTES DIFUSAS DE CONTAMINAÇÂO ........................................ 35 3.3.3 BALNEABILIDADE ............................................................................ 36 3.3.4 BIOINDICADORES DE QUALIDADE ................................................ 38 3.4 CONTAMINAÇÃO DA AREIA DE PRAIA ............................................. 40 3.5 PADRÕES DE QUALIDADE DAS AREIAS .......................................... 43 3.6 PROGRAMA DE MONITORAMENTO DA BALNEABILIDADE DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO .................................................................. 46 3.7 ADEQUAÇÃO DO PROGRAMA DE BALNEABILIDADE DO ES ........ 48 4 MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................... 53 4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ...................................... 53 4.2 DESCRIÇÃO DOS PONTOS AMOSTRAIS .......................................... 55 4.3 COLETA DA ÁGUA MARINHA E AREIA ............................................. 59 4.4 ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS .......................................................... 60 4.4.1 TÉCNICA DE TUBOS MÚLTIPLOS (NMP) ........................................ 61 4.4.2 CULTIVO EM PLACAS (CPP) ....……………………………………….. 62 4.4.3 COLORAÇÃO DE GRAM ................................................................... 62 7 4.5 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS ............................................................. 63 4.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA ...……………………………………………....... 64 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................... 65 5.1 ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS ......................................................... 65 5.1.1 COLIFORMES TOTAIS (CT) .............................................................. 65 5.1.2 COLIFORMES TERMOTOLERANTES (CTe) .................................... 68 5.1.3 BACTÉRIAS HETEROTRÓFICAS AERÓBICAS ............................... 71 5.1.4 COLORAÇÃO DE GRAM ................................................................... 73 5.1.5 ABUNDÂNCIA DE ESPÉCIES ........................................................... 73 5.2 HIDRODINÂMICA .................................................................................. 75 5.3 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS ............................................................. 80 5.4 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO ............................................................. 90 6 CONCLUSÃO ........................................................................................... 92 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 93 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 94 ANEXO 1........................................................................................................ 106 ANEXO 2........................................................................................................ 110 ANEXO 3 ....................................................................................................... 113 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Delimitação da Zona Costeira do Estado do Espírito Santo ...................... 19 Figura 2. Relações entre patógeno, ambiente e saúde humana ............................... 23 Figura 3. Categorias de classificação da água das praias do Espírito Santo ............ 47 Figura 4. Localização da área de estudo e distribuição dos pontos amostrais na orla de Manguinhos, Serra (ES)................................................................. 56 Figura 5. Ponto 1: (a) Visão geral da área de amostragem no ponto 1C; (b) e (c) Destaque para a presença de barcos de pesca e animais domésticos..... 58 Figura 6. Ponto 3: (a) Córrego Irema (IR); (b) Manilha de descarte de efluente doméstico no Córrego Irema; (c) Crescimento excessivo de algas nas proximidades do ponto 3 ............................................................................ 58 Figura 7. Foto ilustrativa da metodologia de coleta de água do mar (a) e da coleta de areia (b) da orla de Manguinhos, Serra – ES ....................................... 59 Figura 8. Esquema ilustrativo da técnica de diluições seriadas para cultivo em placas ......................................................................................................... 60 Figura 9. Figura ilustrativa do método de cultivo em tubos múltiplos. Tubos positivos de EC e VB com produção de gás (a), e tubos negativos de VB e EC sem a produção de gás (b) ............................................................... 61 Figura 10. Coloração de Gram, exemplo de uma Lâmina com bactéria Gramnegativa (a) e uma Lâmina com bactéria Gram-positiva (b) ...................... 63 Figura 11. Medição do pH da água através de pHmetro (a) e medição dos parâmetros físico-químicos através de multiparâmetro (b) ........................ 63 Figura 12. Densidade de coliformes totais encontrados na areia, água marinha e córregos da orla de Manguinhos. Diferença significativa a 5% (*) e a 1% (**) de probabilidade pelo teste t-student ................................................... 65 Figura 13. Densidade de coliformes termotolerantes encontrados na areia, água marinha e córregos da orla de Manguinhos. Diferença significativa a * 5% e a ** 1% de probabilidade pelo teste t-student ................................... 68 Figura 14. Densidade de bactérias por Contagem Padrão em Placa (CPP) ............. 71 Figura 15. Resultados da coloração de Gram das bactérias isoladas das amostras de areia e água marinha nas estações de amostragem 1, 2 e 3 da orla de Manguinhos .......................................................................................... 73 Figura 16. Abundância de espécies de bactérias encontradas na areia e na água marinha da orla de Manguinhos, Serra (ES) ............................................. 74 Figura 17. Modelo hidrodinâmico do padrão de corrente em condição de baixamar em uma maré de sizígia para a Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos (Fonte: Núcleo de Modelagem / IEMA) ................................. 76 9 Figura 18. Detalhe do ponto 3 (a) e pontos 1 e 2 (b) do modelo hidrodinâmico do padrão de corrente em condição de baixamar em uma maré de sizígia para a Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos (Fonte: Núcleo de Modelagem / IEMA) ................................................................................... 77 Figura 19. Modelo hidrodinâmico do padrão de corrente em condição de meia maré enchente em uma maré de sizígia para a Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos (Fonte: Núcleo de Modelagem / IEMA) ............. 78 Figura 20. Detalhe do ponto 3 (a) e pontos 1 e 2 (b) do modelo hidrodinâmico do padrão de corrente em condição de meia maré enchente em uma maré de sizígia para a Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos (Fonte: Núcleo de Modelagem / IEMA) .................................................................. 79 Figura 21. Localização dos pontos amostrais em relação ao Rio Jacaraípe, e em detalhe o anteparo que direciona o fluxo da água (as setas indicam a direção da corrente) ................................................................................... 80 Figura 22. Dados físico-químicos da água do mar em Manguinhos: (a) pH, (b) Temperatura, (c) Oxigênio Dissolvido (OD), (d) Saturação de oxigênio, (e) Salinidade, e (f) Condutividade Elétrica (CE) (* Significativo a 5% de probabilidade pela ANOVA) ....................................................................... 82 Figura 23. Isolinhas de salinidade em instante de meia-maré vazante de sizígia na Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos. As linhas em vermelho destacam os limites entre águas doces (região mais a esquerda), salobras (entre as linhas em vermelho) e salinas (a direita da isolinhas de 30 UPS) (Fonte: Núcleo de Modelagem / IEMA) .................................. 83 Figura 24. Detalhe da região do ponto 3 (a) e dos pontos 1 e 2 (b) no Modelo de isolinhas de salinidade em instante de meia-maré vazante de sizígia na Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos (Fonte: Núcleo de Modelagem / IEMA) ................................................................................... 84 Figura 25. Dados físico-químicos da areia da praia de Manguinhos: pH, P, Mg, Na, Ca, K, S.B., e C .......................................................................................... 87 Figura 26. Dados físico-químicos da areia da praia de Manguinhos: M.O., Fe, Mn, S, Zn e B .................................................................................................... 88 Figura 27. Localização dos pontos amostrais em relação as Estações Elavatória de Esgoto no loteamento Castelândia ....................................................... 91 10 LISTA DE QUADROS Quadro 1. Distribuição populacional nos municípios litorâneos do Espírito Santo .... 20 Quadro 2. Bactérias relacionadas a contaminação de praia e doenças associadas.. 26 Quadro 3. Fungos relacionados a contaminação de praia e doenças associadas .... 29 Quadro 4. Parasitas relacionados a contaminação de praia e doenças associadas . 30 Quadro 5. Virus relacionados a contaminação de praia e doenças associadas ........ 31 Quadro 6. Padrões adotados pela Resolução 274/00 para balneabilidade das águas costeiras brasileiras ...................................................................... 37 Quadro 7. Parâmetros analisados em estudos de qualidade de areia de praia ....... 43 Quadro 8. Valores máximos recomendados (VMR), valores máximos admissíveis (VMA) e novos valores máximos recomendados (NVMR) para qualificação das areias de praias ............................................................ 44 Quadro 9. Classificação da areia de praia segundo a Resolução SMAC Nº 81/2000 e Lei Municipal Nº 3.210/2001 ................................................................. 45 Quadro 10. Revisão dos valores de referência da Resolução SMAC Nº 81/00 ........ 45 Quadro 11. Estações de monitoramento da balneabilidade do litoral do município da Serra ................................................................................................... 48 Quadro 12. Padrões de CT e CTe adotados pela Resolução CONAMA nº 20/86 para balneabilidade das águas costeiras brasileiras, revogada pela Resolução CONAMA nº 274/00 ............................................................... 66 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Descrição dos pontos de amostragem 1 (A, B, C), 2 (A, B, C), 3 (A, B, C), IR (Córrego Irema), LA (Córrego Laripe) e MA (Córrego Maringá) ..... 57 Tabela 2. Análise de correlação de Pearson a 1% (**) e 5% (*) de probabilidade para os parâmetros físico-químicos da água da orla de Manguinhos, Serra/ES .................................................................................................... 85 Tabela 3. Valores mínimos e máximos dos resultados da análise química da areia da orla de Manguinhos – Serra/ES ............................................................ 86 12 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABAE – Associação Bandeira Azul da Europa ALERJ – Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro APHA – American Public Health Association AN – Ágar Nutriente CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente CTe – Coliformes Termotolerantes CT – Coliformes totais EC – Caldo Escherichia coli E.coli – Escherichia coli EPA – United States Environmental Protection Agency IEMA – Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo IR – Córrego Irema LA – Córrego Laripe MA – Córrego Maringá NMP – Número mais Provável SMAC – Secretaria Municipal do Meio Ambiente do Rio de Janeiro UFC – Unidades Formadoras de Colônias VB – Caldo Verde Brilhante Bile (2%) WHO – Organização Mundial da Saúde 13 1 INTRODUÇÃO As praias são essenciais para o desenvolvimento de atividades de lazer e convivência da população, atividades de promoção da saúde física e mental, como a prática de esportes e a realização de eventos culturais. Entretanto, a contaminação desses ambientes, especialmente pelo descarte indiscriminado de resíduos e efluentes, favorece a ocorrência de microorganismos patogênicos na água, nas areias e nos recursos pesqueiros utilizados como alimento, o que pode comprometer a saúde dos usuários (GHINSBERG et al. 1994, ALM et al. 2003, ALERJ 2006, ANDRAUS 2006, CARDOSO-DE-OLIVEIRA & PINHATA 2008). O monitoramento de parâmetros microbiológicos nas areias, água e recursos pesqueiros, é de extrema importância, uma vez que tal medida pode subsidiar ações que reduzem os riscos à saúde pública e ações de recuperação do ambiente costeiro. Estudos sobre a qualidade das águas marinhas são produzidos constantemente (CETESB 2004, IEMA 2009, PMV 2009), oriundos principalmente de monitoramentos sistemáticos realizados pelo poder público em cumprimento à Resolução nº 274, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA 2000). A Resolução 274 define os critérios de balneabilidade em águas brasileiras, incluindo metodologia de monitoramento, indicadores microbiológicos e valores de referência que classificam a água marinha analisada como imprópria ou própria para execução de atividades de lazer de contato primário. Essa Resolução não obriga o poder público a analisar a areia da praia, porém no disposto no artigo 8º ela recomenda a avaliação das condições parasitológicas e microbiológicas deste meio, para futuras padronizações, reconhecendo a importância deste estudo. A areia apresenta características distintas da água marinha, incluindo fatores bióticos e abióticos que determinam a sobrevivência de microrganismos patogênicos. Dependendo do organismo estudado, poderá haver maior sobrevivência na areia em relação a água do mar. Como o contato do usuário com a areia se dá por períodos prolongados e, em especial por crianças, há o risco de veiculação de doenças também pela areia da praia. 14 Dentre as doenças que podem ser veiculadas pela areia estão a hepatite, distúrbios gastrintestinais, desidratação, micoses e doenças parasitárias, sendo que as crianças, idosos, e pessoas com baixa resistência são as mais suscetíveis à exposição aos microrganismos a elas relacionados (CETESB 1998). No Brasil os estudos que incluem a análise da qualidade das areias de praia ainda são escassos, especialmente quando consideramos o extenso litoral brasileiro. Além disso, como o monitoramento da ocorrência de cada microrganismo potencialmente causador de doenças aos humanos é inviável pelos custos e pelo tempo que demandaria. Por isso são estudados microrganismos bioindicadores, ou seja, alguns microrganismos que sejam indicadores da contaminação da areia, cuja ocorrência em determinada quantidade aponta a presença dos microrganismos patogênicos e conseqüente risco à saúde dos usuários da praia. A atividade turística no Espírito Santo é responsável por 6,1% do PIB do Estado e são investidos anualmente cerca de 6 milhões de reais na promoção do turismo. Durante o ano, o Espírito Santo recebe mais de 3,5 milhões de visitantes, sendo que as praias constituem os locais mais visitados (SEDETUR 2006). De acordo com o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Turismo do Espírito Santo - 2025, “o turismo capixaba está hoje concentrado principalmente no segmento de mercado do turismo de sol e mar, com as praias funcionando como maior atrativo”. As características do nosso litoral e a disponibilização de infra-estrutura adequada têm servido de atrativo para a realização de eventos ligados ao esporte e lazer, incluindo-se o esporte náutico, o esporte de praia e outras modalidades, principalmente na Região Metropolitana (SEDETUR 2006). Apesar do reconhecimento da relevância e da beleza das praias capixabas para o desenvolvimento do Estado e da necessidade de manutenção da qualidade ambiental das mesmas, cabe registrar que até o momento não é conhecida as condições sanitárias das areias das praias capixabas, pois nenhum estudo foi realizado com esse objetivo. 15 Acrescenta-se ainda que não foram estabelecidos valores de referência ou limites que permitam a classificação das areias das praias capixabas, quanto ao risco potencial pelo uso de contato primário. Esses limites poderão ser obtidos a partir da análise conjunta de áreas que apresentam diversas fontes de contaminação em relação às áreas com baixo risco de contaminação, bem como a utilização de outros dados existentes em literatura específica. Neste cenário, este estudo contemplou análises microbiológicas da água do mar e das areias da orla de Manguinhos, Serra-ES, utilizadas para o lazer, fornecendo dados para o monitoramento da melhoria da qualidade da areia e servindo de subsídios para o estabelecimento de valores de referência para a classificação das praias do ES. 16 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Avaliar a qualidade ambiental da água do mar e das areias da orla de Manguinhos, no município de Serra, Espírito Santo. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ⋅ Verificar a ocorrência de microrganismos indicadores de contaminação fecal em amostras de areia e água marinha; ⋅ Analisar a influência de interferências antrópicas na qualidade ambiental da praia; ⋅ Relacionar os parâmetros físico-químicos com os padrões microbiológicos obtidos. 17 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 ZONA COSTEIRA: CARACTERÍSTICAS E IMPACTOS A Zona Costeira é a área de interface entre o oceano e o continente. Abriga recursos naturais e áreas estratégicas de interesse de toda a população, portanto considerada patrimônio nacional pela Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). Seus limites são definidos pelo Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro – PNGC, como sendo a faixa terrestre, que abrange os Municípios que sofrem influência direta dos fenômenos ocorrentes no litoral, e a faixa marítima, que compreende o espaço que se estende por doze milhas náuticas, e a totalidade do mar territorial (BRASIL, 1988; 2004). Considerando os recortes litorâneos, a zona costeira brasileira possui extensão de 8.698 km, abrangendo 395 municípios litorâneos ou de importância para o litoral. A área é de aproximadamente 514 mil km2, sendo 324 mil km2 de área territorial emersa e o restante compondo o mar territorial (MMA, 2008). Estima-se que 50% da população mundial vivem em cidades localizadas a menos de 100 km da linha de costa (SHUVAL 2006 apud STEWART et al. 2008). No Brasil, estudos mostram que 1/3 da população vive a beira-mar e cerca de 50% vive a menos de 200 km da costa (MMA 2008). De acordo com a metodologia oficial das Cartas de Sensibilidade Ambiental de derrames de Óleo (CARTAS SAO), o litoral brasileiro é dividido em dezesseis bacias sedimentares, sendo que a porção norte do litoral capixaba está incluída na Bacia do Espírito Santo e a porção sul incluída na Bacia de Campos (MMA, 2008). Dezenove municípios, divididos em cinco setores, compõem a zona costeira do Estado do Espírito Santo. São estes, setor Extremo Norte: municípios de Conceição da Barra, São Mateus e Jaguaré; setor Norte: municípios de Sooretama, Linhares e Aracruz; setor Centro: municípios de Fundão, Serra, Vitória, Cariacica, Viana e Vila Velha; setor Sul: municípios de Guarapari, Anchieta e Piúma; e setor Extremo Sul: municípios de Cachoeiro de Itapemirim, Itapemirim, Marataízes, Presidente Kennedy (Figura 1). 18 Figura 1. Delimitação da Zona Costeira do Estado do Espírito Santo. Ainda que não sejam defrontantes com o mar, os municípios de Jaguaré, Sooretama, Cariacica, Viana e Cachoeiro de Itapemirim estão incluídos na Zona Costeira, uma vez que apresentam características de relevante importância para o gerenciamento costeiro. O quadro 1 foi elaborado apartir de dados obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2007) e apresenta a distribuição da população nos municípios litorâneos do Espírito Santo divida por setor costeiro. Ressalvase que a zona costeira compreende ¼ da área do Estado do Espírito Santo, porém concentra quase metade da população capixaba. Além disso, municípios como: Conceição da Barra, Vitória e Guarapari, recebem grande 19 quantidade de turistas, especialmente no período do verão, aumentando o número de pessoas nesse período. Quadro 1. Distribuição populacional nos municípios litorâneos do Espírito Santo. SETOR COSTEIRO POPULAÇÃO (Km ) / (%) 1 (hab.) / (%)1 1.188 / 2,6 26.230 / 0,8 SÃO MATEUS 2.343 / 5,1 96.390 / 2,8 LINHARES 3.502 / 7,6 124.564 / 3,6 ARACRUZ 1.436 / 3,1 73.358 / 2,1 FUNDÃO 280 / 0,6 15.209 / 0,4 SERRA 553 / 1,2 385.370 / 11,2 VITÓRIA 93 / 0,2 314.042 / 9,1 VILA VELHA 209 / 0,5 398.068 / 11,5 GUARAPARI 592 / 1,3 98.073 / 2,8 ANCHIETA 405 / 0,9 19.459 / 0,6 PIÚMA 74 / 0,2 16.249 / 0,5 ITAPEMIRIM 557 / 1,2 30.833 / 0,9 MARATAÍZES 135 / 0,3 31.221 / 0,9 PRESIDENTE KENNEDY 586 / 1,3 10.307 / 0,3 46.077,5 3.453.647 NORTE CENTRO SUL EXTREMO SUL ESPÍRITO SANTO 1 litoral 2 CONCEIÇÃO DA BARRA EXTREMO NORTE O ÁREA MUNICÍPIO Em relação a totalidade do Estado. capixaba apresenta geomorfologia caracterizada por afloramentos cristalinos pré-cambrianos, planícies flúvio-marinhas quaternárias e tabuleiros terciários da formação barreiras. Compreende uma grande diversidade de tipologias de praias de diferentes comportamentos erosivos e construtivos (MUEHE 2006). 20 O clima é caracterizado por chuvas tropicais de verão, com estação seca no outono e inverno. A temperatura média anual é de 22ºC, ficando as temperaturas a média das máximas entre 28º e 30ºC e mínimas em torno de 15ºC. Os ventos de maior freqüência e intensidade são os ventos alísios, oriundos do quadrante NE-ENE (maior parte do ano), e os ventos relacionados a frentes frias, oriundos do quadrante SE. As ondas mais freqüentes apresentam altura entre 0,9 e 0,6 metros, podendo alcançar até 1,5 metros (MUEHE 2006). Quanto aos recursos naturais, nota-se a presença de deltas, falésias, recifes de arenito, cordões litorâneos, foz de rios, costões rochosos, ilhas, lagunas, manguezais, vegetação de restinga, praias arenosas, várzeas, turfeiras, dunas, falésias, estuários e marismas. Esses ambientes abrigam inúmeras espécies de flora e fauna, incluindo espécies de uso comercial, endêmicas e ameaçadas de extinção (MMA 2008). Verifica-se também o desenvolvimento industrial acelerado nos municípios litorâneos, incluindo, principalmente, as indústrias siderúrgicas e as indústrias de papel, além da presença de importantes pólos de movimentação de minérios e de um grande complexo portuário. Tal desenvolvimento vem provocando uma notável degradação ambiental, incluindo a contaminação do ambiente costeiro por metais e outros poluentes característicos de efluentes industriais. Outros problemas ambientais existentes são ocasionados pela forma inadequada de ocupação. Dentre eles estão: expansão urbana em áreas protegidas ou impróprias para ocupação, desmatamento de vegetação nativa, pesca predatória e a disposição inadequada de resíduos e efluentes domésticos. Como conseqüência disso, constata-se a intensificação de processos erosivos e a poluição das praias que freqüentemente apresentam elevados índices de contaminação fecal. Esses índices são superiores aos aceitáveis para as atividades de recreação, pesca e coleta de recursos para consumo humano. 21 O trecho da costa capixaba onde observa-se os maiores impactos sobre o meio ambiente, é o trecho da Grande Vitória, que concentra 63% da população residente no litoral e ocupa apenas 7% da zona costeira capixaba (IBGE 2007). O crescimento desordenado da malha urbana e a ampliação de plantas industriais agravam cada vez mais o processo de poluição ambiental nessa região. 3.2 DOENÇAS ASSOCIADAS A CONTAMINAÇÃO DE ÁREAS BALNEARES Surtos de diversas doenças relacionadas à recreação no ambiente de praia, ocorrem em áreas balneares de todo o mundo, especialmente nos períodos de alta temporada (verão). Diversos fatores contribuem para a ocorrência desses surtos, que são diretamente relacionados com o grau de contaminação do ambiente, características do patógeno e da população afetada. A figura 2 apresenta um resumo da relação entre patógeno, ambiente e ser humano, distinguindo nas fases I, II, III e IV os faotores envolvidos nessa relação. Essa abordagem permite a compreenção das interrelações entre esses fatores e dos diversos pontos de controle e intervenção possíveis. A fase I compreende a chegada do patógeno ao ambiente costeiro que se dá a partir de fontes pontuais e difusas. Geralmente, a contribuição predominante é de fontes pontuais de contaminação, como o descarte de efluentes e resíduos contaminados na areia e água da praia. O aporte de efluente doméstico é uma das principais fontes, sendo o grau de contaminação desse efluente dependente da incidência de doenças na população que o produz (STEWART et al. 2008). 22 Figura 2. Relações entre patógeno, ambiente e saúde humana (adaptado de STEWART et al. 2008). Observa-se que quanto maior a incidência de doenças na população, maior o aporte de microrganismos patogênicos no efluente e o consequente aumento do risco de disseminação de doenças pelo contato com o ambiente que recebe esse efluente. Como apenas uma parte desses organismos tem a capacidade de sobreviver e desenvolver no ambiente, com o aumento da contaminação, aumenta proporcionalmente a ocorrência de microrganismos com essa habilidade (STEWART et al. 2008). 23 A redução e o tratamento de efluentes domésticos e a extinção dos pontos de descarte na costa, são as intervenções possíveis nesta fase. Ações de educação ambiental e controle nas áreas urbanas adjacentes às praias podem reduzir a contaminação, uma vez que parte do esgoto chega às praias de forma clandestina. A presença de animais domésticos nas praias constitue fator de risco a saúde pública, pois podem haver organismos patogênicos nas fezes desses animais. Diversas espécies de parasitos patogênicos ao homem foram encontrados na areia de praia, tais como: S. stercoralis, Toxocara spp, A. lumbricoides, Ancilostomídeos e outras espécies veiculadas por animais que transitam pela praia (GONZÁLES-CÁCERES et al. 2004). A fase II apresenta os faotores envolvidos na sobrevivência dos microrganismos patogênicos no ambiente. No caso das areias da praia os principais fatores são: características do ambiente, granulometria da areia, teor de matéria orgânica, salinidade, insolação; eventos externos, como períodos de chuva prolongados, revolvimento da areia, ressaca e outros. As características do patógeno também determinam a sua sobrevivência, pois cada patôgeno tem sua faixa de tolerância às condições ambientais (EPA 2009). A precipitação pluviométrica afeta significativamente a freqüência de fungos na areia da praia e água marinha, pois após a chuva o número de fungos é superior ao do período seco (PINTO et al. apud LOUREIRO et al. 2005). Esta afirmação é corroborada por LOUREIRO et al. (2005), nos resultados do estudo realizado por este autor nas praias de Olinda – PE. Com o desenvolvimento da população patogênica no ambiente (Fase II) ocorrem trocas genéticas com os microrganismos nativos, havendo a possibilidade de troca de material genético que confere patogenicidade e/ou resistência (BONILLA et al. 2006). Os métodos tradicionais de avaliações do nível de contaminação das áreas costeiras, consistem na quantificação de microrganismos patogênicos ou indicadores de contaminação fecal. Entretanto, mais recentemente têm sido utilizadas as características de resistência dos organismos encontrados em 24 ambientes contaminados como indicadoras da fonte de contaminação, se antrópica ou não. O gênero Enterococcus, por exemplo, mostra resistência intrínseca a diversos antibióticos e pode adquirir rapidamente resistência a outros antibióticos a partir de plasmídios. A característica de resistência a antibióticos é diferenciada nas espécies de origem humana, das encontradas no ambiente natural ou oriundas de animais silvestres (CARDOSO-DE-OLIVEIRA & PINHATA 2008). Além disso, as praias que apresentam elevados índices de contaminação fecal de origem humana, podem contribuir com a disseminação de resistência entre bactérias, o que resulta na redução da eficácia de certos antibióticos no combate a doenças infecto-contagiosas (CARDOSO-DE-OLIVEIRA & PINHATA 2008). O comportamento do usuário (Fase III) determina o grau de exposição a doenças. Hábitos de se enterrar na areia, de nadar próximo ao deságüe de cursos d’água e outros, podem ampliar as chances de infecção. Os indívidos com baixa imunidade, crianças, idosos e mulheres em período gestacional são, também vulneráveis, apresentando maior risco a um quadro infeccioso (STEWART et al. 2008). No litoral de São Paulo foi realizado um estudo epidemiológico conduzido pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), que analisou a correlação entre a incidência de doenças gastrointestinais em banhistas e os índices de contaminação fecal das águas das praias (CETESB 1999). Os resultados desse estudo indicaram que as pessoas expostas à água marinha apresentaram mais sintomas do que aqueles que não tomaram banho de mar, sendo significativamente maior o risco de ocorrência de sintomas de doenças de veiculação hídrica para o grupo exposto à água do mar. A praia de pior qualidade hídrica também apresentou maior incidência de doenças gastrintestinais (CETESB 1999). 25 Após a infecção (Fase IV), ainda que os indivíduos doentes sejam rápidamente tratados, o efluente por eles gerados contém microrganimos patogênicos. Se não forem destinados adequadamente, inicia-se novamente o cilco de contaminação (Fase I). 3.2.1 BACTÉRIAS O quadro 2 apresenta as espécies de bactérias patogênicas que podem ser encontrados na água e/ou areia de praias e as doenças e sintomas a eles associados. Quadro 2. Bactérias relacionadas a contaminação de praia e doenças associadas (MENDONÇA-HAGLER et al. 2001, ABAE 2002, EPA 2002, BOUKAI 2005 e consulta a profissional da área). Patógeno Aeromonas hydrophila Campylobacter jejuni Chlamydia psittaci Cyanobactéria Clostridium perfrigens Escherichia coli Enterococcus Flavobacterium meningocepticum Helicobacter pylori Legionella pneumoniae Legionella pneumophila BACTÉRIAS PATOGÊNICAS Doença Sintomas Doença diarréica aguda Diarréia Gastrenterite Diarréia Ornitose (doença Febre, cefaléia, mialgia, infecciosa aguda) calafrios, tosse Câncer hepático Diarréia Início súbito de cólica abdominal, diarréia e náusea. Gastrenterite Dor abdominal aguda, diarréia Enterite necrotizante ou sanguinolenta, vômitos, doença de Pigbel choque e peritonite, com 40% de letalidade., Gastroenterites Vômito, diarréia, morte* Endocardite, Infecção Febre, calafrios, sudorese pélvia e intra-abdominal, (suor excessivo), Infecção urinária, emagrecimento, mal estar, meningite, septicemia. perda de apetite, tosse, dor de cabeça, náuseas e vómitos. Causa ocasional de infecção Meningite hospitalar, incluindo a meningite neonatal. A infecção pode ser sintomática ou assintomática. Gastrite, úlcera 70% das infecções são assintomáticas Tosse produtiva, febre elevada, dispneia e hipoxémia, Pneumonia com pouca resposta aos ßlactâmicos. Doença do legionário ou Doença respiratória aguda. 26 Legionelose Leptospira interrogans Leptospirose (Enfermidade de Weil) Pseudomonas aeruginosa Infecções* Salmonella typhimurium Salmonelose (doença infecciosa aguda) Salmonella typhi Febre tifóide Shigella sp Shiguelose Staphylococcus aureus Staphylococcus epidermidis Sindrome de choque tóxico, Gastroenterite, Impetigo, Foliculite,Endocardite, osteomielite,Pnemonia. As infecções causadas por esta espécie são geralmente de origem hospitalar (nosocomiais). Sintomas inespecíficos como fadiga, anorexia, cefaleias, vómitos e diarreia, associados a febre, tosse seca e dor torácica tipo pleurítica. Infecções purulentas graves, icterícia, febre Infecções no olho e ouvido, infecções urinárias, infecções no sistema respiratório, dermatites, infecções no tecido mucoso, bacteremia e outros Diarréia, vômitos, dor abdominal, desidratação Febre alta, diarréia, ulceração no intestino delgado Disenteria bacilar, diarréia hipotensão, febre, eritemas difusos; vómitos, diarreia aquosa, dores abdominais; infecção da pele Pústulas da acne, furúnculo, abscessos, endocardite Diarréia grave, desidratação, abruptamente uma diarréia Vibrio cholerae Cólera aquosa e serosa, como água de arroz Quadros explosivos de diarréia Vibrio aquosa acompanhadas Goastroenterites parahaemolyticus náusea, vómitos e dor abdominal. Doença que afeta Vibrio harveyi Vibriose luminosa comercialmente cultivados camarões peneídeos Vómitos, diarréia, Dor Gastroenterite, Celulite, abdominal, e uma dermatite Vibrio vulnificus septicemia com bolhas e infecção generalizada Diarréia, febre, dores abdominais. Em crianças mais Yersinose, gastroenterites, velhas e em adultos, os Yersinia enterolitica bacteremias sintomas predominantes são dor abdominal no lado direito e febre. * Em populações susceptíveis (imunodeprimidas, crianças, idosos, mulheres em período gestacional) 27 Nos Estados Unidos as infecções bacterianas mais comuns são causadas por Campylobacter, Salmonella, Escherichia coli e Shigella, totalizando mais de cem mil casos documentados por ano e doze vezes esse valor de casos não documentados. Destes, 90% estão relacionados a eventos esporádicos (DENNO et al. 2009). Naquele estudo o contato com águas recreacionais naturais foi um fator de risco fortemente relacionado à incidência de infecções por Campylobacter, Salmonella e Shigella, já as infecções causadas por Escherichia coli estiveram mais relacionadas ao uso de piscinas. Na ocorrência de surtos de infecções bacterianas em um determinado local, algumas atitudes são tomadas e muitas informações são transmitidas pela mídia. Entretanto, as ocorrências esporádicas, que afetam principalmente crianças, não recebem o mesmo tratamento. Os surtos de doenças geralmente estão ligados ao consumo de alimentos contaminados, já as infecções esporádicas estão mais relacionadas à exposição à água e animais contaminados. DENNO et al. (2009) concluem que dentre os fatores de risco de infecção bacteriana, as águas recreacionais são tão importantes quanto a alimentação, apesar da regulação quanto aos alimentos ser mais comum e mais rígida. 3.2.2 FUNGOS Os fungos são considerados os microrganismos mais ativos na decomposição de matéria orgânica, tanto na areia, quanto na água do mar, sendo descritas mais de 500 espécies presentes no ambiente marinho (GOMES et al. 2008). O quadro 3 apresenta os principais fungos patogênicos que podem ser encontrados na água e/ou areia de praia e as doenças e sintomas a eles associados. 28 Quadro 3. Fungos relacionados a contaminação de praia e doenças associadas (MENDONÇA-HAGLER et al. 2001, ABAE 2002, EPA 2002, BOUKAI 2005, e consulta a profissional da área). Patógeno FUNGOS PATOGÊNICOS Doença Aspergillus candidus, A. ochraceus and A. fumigates Aspergiloses Candida albicans Candidíase (sapinho ou brotoeja) Chrysosporium sp Cryptococcus neoforman Criptococose (Torulose) (micose profunda) Epidermophyton sp Dermatofitoses ou Tinhas Fusarium sp Ceratite micótica, onicomicose e hyalohyphomycosis Histoplasma capsulatum Histoplasmose (micose profunda) Microsporum nanum Tinea capitis e Tinea corporis Phaeoannellomyces werneckii Tinea nigra (micose superficial) Rhodotorula sp Fungemia, meningite fungica e Micoses em Imunossuprimidos Scopulariopsis sp Scedosporium sp Scytalidium sp Trichophyton mentagrophytes, T. rubrum Trichosporum cutaneum Wallemia sp Onicomicoses humanas ou micoses pulmonares Infecção subcutânea, osteomielite e artrite geralmente póstraumático. Pneumonia, Meningoencephalitis e endocardite. Queratomicoses Pé de atleta Sintomas Tosse, expectoração de catarro,fraqueza, dor torácica, chiado no peito, febre, perda de peso. Pontos vermelhos na pele, coceira nos genitais e em mucosas Infecções na pele e unhas Febre, tosse, dor toráxica Infecções do couro cabeludo e mais raramente das unhas e pele. Micoses superficiais que ocorrem em pêlos, unhas e pele. Infecções oculares, mais raramente infecções da pele e das unhas, e infecções sistêmicas em doentes imunodeprimidos (vítimas de queimaduras e transplante de medula óssea). Infecção assintomática, febre, tosse, dor toráxica, mal estar geral, debilidade e anemia Infecções do couro cabeludo e da pele Infecção crônica da camada córnea da epiderme com aparecimento de máculas castanho-enegrecidas Infecções em pacientes imunodeprimidos. Septicemia por fungo (infecção generalizada), meningite e infecção em pele. Infecções da córnea e das unhas Infecções sub-cutâneas (micetomas) e infecções profundas, ou pneumonias em imunodeprimidos Infecções da pele e unhas das mãos e dos pés Dermatofitose inflamatória nos pés, no corpo, nas unhas, na barba e no couro cabelo. Infecções de pele e tecidos Infecções sub-cutâneas 29 3.2.3 PROTOZOÁRIOS (PARASITAS) O quadro 4 apresenta os parasitas que podem ser encontrados nas águas e/ou areias das praias e as doenças e sintomas a eles associados. Quadro 4. Parasitas relacionados a contaminação de praia e doenças associadas (MENDONÇA-HAGLER et al. 2001, ABAE 2002, EPA 2002, BOUKAI 2005 e consulta a profissional da área). Patógeno Acanthamoeba Ancylostoma braziliensis Ancylostoma Caninum PROTOZOÁRIOS / PARASITAS Doença Ceratite amebiana, otite, encefalite Larva migrans cutânea (LMC) (bicho geográfico) Larva migrans cutânea (LMC) (bicho geográfico) Ancylostoma duodenale Ancilostomíase (Amarelão) Ascaris lumbricóides (lombriga) Ascaridíase Balantidium coli Cryptosporidium Balantidíase Criptoporidíase Entamoeba hystolytica Amebíase Giardia lamblia Giardíase Naegleria fowleri meningoencefalite amebiana Necator americanus Ancilostomíase (Amarelão) Pfiesteria Síndrome humana da doença de Pfiesteria (PHIS) Toxocara canis Larva migrans visceral (LMV) (toxocaríase) Toxocara cati Larva migrans visceral (LMV) (toxocaríase) Toxoplasma gondii Toxoplasmose Sintomas Erupção vermelha, coceira intensa Erupção vermelha, coceira intensa Dor abdominal, perda de apetite e geofagia Podem permanecer assintomáticos. Podem causar danos viscerais, peritonite e inflamação. obstrução do intestino por um bolo de vermes (observadas principalmente em crianças) e obstrução das bile ou duto pancreático. Diarréia, disenteria Diarréia Diarréia prolongada com sangramento, abscessos do fígado e do intestino delgado Diarréia média a severa, náusea, indigestão Doença fatal, inflamação no cérebro Desconforto abdominal, diarréia e cólicas, anorexia, perda de peso e anemia ferropriva Perdas de memória, prejuízos cognitivos, dores de cabeça, pruridos da pele, a dor abdominal, a diarreia secretora, a irritação conjunctival, e o broncoespasmo. Febre, problemas pulmonares, como tosse, troncos e sibilos, convulsões e ocasionalmente exantemas parecidos com urticária Febre, problemas pulmonares, como tosse, troncos e sibilos, convulsões e ocasionalmente exantemas parecidos com urticária Cegueira 30 SILVA et al. (2009) reportam a análise de enteroparasitas realizada nas areias das praias de Porto de Galinhas, Muro Alto e Maracaípe no sudeste do Estado de Pernambuco. A contaminação mais alta ocorreu na praia de Porto de Galinhas, na qual 42% das amostras estavam contaminadas com larvas de Ancylostoma e 13% com ovos de Trichuris sp. Na praia de Muro Alto, 30% das amostras estavam contaminadas com larvas de Ancylostoma e 13% contaminadas com Ascaris lumbricoides. 3.2.4 VÍRUS O quadro 5 apresenta os vírus que podem ser encontrados na água e/ou areia de praias e as doenças e sintomas a eles associados. Quadro 5. Virus relacionados a contaminação de praia e doenças associadas (MENDONÇA-HAGLER et al. 2001, ABAE 2002, EPA 2002, BOUKAI 2005 e consulta a profissional da área). PATÓGENO Adenovirus (31 tipos) Astroviruses Calicivírus (como os vírus Norwalk e Sapporo) VIRUS DOENÇA Doenças respiratórias Gastroenterites SINTOMAS Infecção ocular, diarréia Vômito, diarréia Gastroenterites Vômito, diarréia Coxsackieviruses Encefalites, meningites, Síndrome mão-pé-boca Echovirus Infecção gastrointestinal e erupções cutâneas. Meningite asséptica Enterovirus (67 tipos, ex. poliomielite, echo, coxsackie vírus) Gastroenterites Poliovirus Poliomelite Reovirus Rotavirus Virus da Hepatite (A e E) Gastroenterites Gastroenterites Hepatites infecciosas * Muito raro Meningite asséptica, diabetes, herpangina, conjuntivite Erupções, doenças respiratórias, as síndromes similares ao crupe; as doenças inespecíficas acompanhadas de febre Diarréia, anomalias cardíacas e meningites* Fraqueza muscular e agudo paralisia flácida. Pode ocorrer diferentes tipos de paralisia. Vômito, diarréia Vômito, diarréia Icterícia, febre 31 3.3 QUALIDADE DAS PRAIAS A Lei Nacional de Gerenciamento Costeiro conceituou praia como sendo a área coberta ou descoberta periodicamente pelas águas, acrescida da faixa seguinte de material detrítico, como: areias, cascalhos, seixos e pedregulhos até o limite onde inicia a vegetação natural, ou, em sua ausência, onde começa outro ecossistema. As praias arenosas apresentam a área emersa composta predominantemente por sedimento não consolidado, ou seja, areia, havendo movimentação de sedimento ao longo de toda a sua extensão, por ação predominante de correntes de ventos e maré (BRASIL 1988). Fatores como a morfologia da praia, proximidade de costões rochosos, rios e estuários, o regime de ondas, ventos e maré, granulometria do sedimento, morfologia do fundo, padrão de circulação, correntes e marés, inclinação da praia, freqüência de fenômenos meteorológicos de grande escala, como frentes e ressacas, e a interação entre eles determinam a dinâmica específica de cada praia (VELOSO et al. 1997). Diversos aspectos podem ser considerados para avaliação da qualidade das praias balneares, destacando-se os aspectos ambientais como a abundância de recursos naturais e o estado de conservação dos mesmos. A vegetação de restinga, típica de praias, é protegida por lei e não deveria ser removida (CONAMA 2002). Entretanto, é comum encontrá-la degradada pelo avanço de estruturas de urbanização, pela ocupação por quiosques, e para abertura de vias, estacionamento de veículos e pelo pisoteio. A vegetação, quando presente, promove a fixação do sedimento arenoso e delimita a área de uso da faixa de areia. A vegetação também funciona como locais de acúmulo e aprisionamento de resíduos transportados pelo vento, e de habitat para pequenos animais que podem ser vetores de doença. A disseminação de espécies exóticas como Terminalia catappa (castanheiras) e Casuarina equisetifolia (casuarinas), para fins paisagísticos ou sombreamento, descaracteriza a vegetação natural, podendo causar impacto sobre a fauna e outros danos ainda não estudados. O acúmulo de folhas e o sombreamento no entorno de castanheiras, por exemplo, cria um ambiente 32 favorável ao desenvolvimento de fungos e bactérias, e são locais preferidos pelos usuários para a permanência por períodos prolongados. A urbanização adequada pode conferir elementos de conforto ao usuário, como sombreamento, banheiros, quiosques e restaurantes. Para tanto, deve-se manter um distanciamento adequado da praia, a fim de não causar degradação do ambiente natural. Quando não são considerados os aspectos naturais e paisagísticos da praia, a urbanização modifica para pior a estética da paisagem e pode interferir no processo de transporte sedimentar, tanto eólico como marinho, provocando desequilíbrios no balanço sedimentar e conseqüentemente na estabilidade da linha de costa (MUEHE 2001). 3.3.1 RESÍDUOS SÓLIDOS (LIXO) E EFLUENTES Diversos registros da ocorrência e distribuição de resíduos sólidos em praias foram realizados no Brasil (ARAÚJO & COSTA 2004, W ETZEL et al. 2004, SANTOS et al. 2005, IVAR DO SUL & COSTA 2007, ARAÚJO & COSTA 2007) e em outros países (REES & POND 1995, MADZENA & LASIAK 1997, PEREIRA et al. 2001, KUSUI & NODA 2003, SOMERVILLE et al. 2003). O conhecimento da origem e composição do resíduo permite a proposição de medidas de controle dessa poluição. Os resíduos comumente encontrados na praia podem ter sido descartados em áreas distantes e transportados até a praia pelo vento, maré, corrente marinha, rio, canal de drenagem e de descargas de águas residuais, industriais e urbanas. Incluem embalagens de produtos de limpeza, garrafas pet e outros objetos de uso doméstico. Os resíduos gerados e descartados na praia são materiais relacionados às atividades exercidas pelos usuários da praia, como os plásticos e embalagens de produtos e alimentos consumidos na praia. Incluem pontas de 33 cigarro, garrafas e latas de bebidas, restos de alimento e partes do corpo, como cabelos, unhas e escamação da pele. Há também os resíduos da atividade pesqueira que são lançados diretamente sobre a água e areia da praia, como vísceras, sobras de pescado, fauna acompanhante, isca artificial, sinalizadores e restos de materiais de pesca, contendo matéria orgânica e bactérias. O acúmulo de resíduos gera riscos a saúde humana em decorrência da existência de fragmentos de vidro, metais cortantes e vetores de doenças, riscos para a fauna aquática e terrestre, impacto econômico como: prejuízos para a pesca, declínio de atividades de lazer, comércio e turismo (hotéis, quiosques, esportes, eventos), e conseqüentes gastos públicos com a limpeza das praias. Os resíduos servem de alimento e abrigo para vetores de doenças como ratos, aves e cachorros, e são fonte de matéria orgânica e habitat para microrganismos patogênicos, podendo transportar patógenos de outros ambientes para a areia e água do mar. As praias utilizadas para o lazer devem ser dotadas de estruturas adequadas de coleta, transporte, tratamento e destinação final de resíduos e efluentes. As praias arenosas geralmente apresentam o deságüe natural de rios ou córregos, que em diversos casos contribuem com o sedimento que compõe a própria praia. No entanto, com a contaminação dos rios esse sistema constitui uma fonte de poluição da praia. Somam-se a isso, o efluente produzido em embarcações e lançado próximo à costa, e os efluentes advindos da urbanização do entorno das praias, da rede de drenagem da água de chuva (runoff), os efluentes industriais e de estações de tratamento de esgoto. Em geral, as redes coletoras de esgoto estão inseridas em galerias de drenagem da água pluvial, que por sua vez deságuam em rios ou direto na costa. Quando não recebem a manutenção adequada de suas estruturas ou quando sua capacidade é ultrapassada, ocorrem extravasamentos do esgoto na rede pluvial. Além disso, é comum a ligação clandestina de esgoto na rede 34 pluvial por moradores e empreendedores com o intuito de não pagar as taxas devidas ao poder público ou por não se enquadrarem na legislação pertinente. O despejo de efluente doméstico também transporta matéria orgânica e nutrientes, que favorecem o desenvolvimento desses organismos. Além do constante input de organismos patogênicos, existe ainda a disseminação de patógenos que possuem genes de resistência a antibióticos que podem ser transmitidos aos microrganismos presentes no ambiente (OLIVEIRA & PINHATA 2008). 3.3.2 FONTES DIFUSAS DE CONTAMINAÇÃO As fontes difusas de poluição contribuem de forma significativa para a contaminação das praias, sendo equivalentes ou superiores às fontes pontuais. A United States Environmental Protection Agency (EPA), responsável pela gestão ambiental dos Estados Unidos da América (EUA), estima que 60-80% das águas contaminadas tem como principal contribuição as fontes difusas, tais como o runoff de áreas urbanas e agricultura, vazamentos no sistema de coleta, transporte e tratamento de esgoto, descarte de efluentes de barcos e deposição de aerosóis atmosféricos (STEWART et al. 2008). Os próprios usuários das praias podem constituir uma fonte de poluição. Conforme relatado por STEWART et al. (2008), alguns estudos apresentam uma correlação entre a densidade de usuários e a incidência de doenças relacionadas, mostrando que os usuários podem deixar uma quantidade significativa de microrganismos no ambiente costeiro, especialmente o Enterococcos e o Staphylococcus aureus. STEWART et al. (2008) indicam o uso de S. aureus como um indicador do impacto oriundo dos usuários, pois este organismo geralmente está presente no esgoto em baixa densidade (103 ufc/100ml) em relação a Enteroccos (104 a 105 ufc/100ml), porém apresenta densidade elevada em áreas com alta freqüência de usuários. 35 O conhecimento da contaminação oriunda de fontes difusas é limitado, sendo, portanto, difícil a determinação dos indicadores mais apropriados para avaliar tal contaminação. Para ampliar o conhecimento sobre a contaminação a partir de fontes difusas os estudos devem incluir principalmente a identificação de patógenos associados, a análise da abundância desses patógenos, análise do risco à saúde humana, bem como formas para identificação das fontes de contaminação com o objetivo de extingui-las (STEWART et al. 2008). 3.3.3 BALNEABILIDADE Balneabilidade é o termo utilizado para designar a qualidade da água para fins de recreação de contato primário, como atividades de lazer ou prática de esportes, por meio de critérios previamente estabelecidos. A principal preocupação está relacionada ao risco de transmissão de doenças pela água do mar. Os critérios de balneabilidade são definidos por políticas públicas, portanto podem variar de um local para outro. Geralmente, são critérios baseados no monitoramento de indicadores, cujos resultados são confrontados com padrões de referencia, que refletem as condições de balneabilidade em um determinado local, definindo inclusive, classes de qualidade para melhor orientação dos usuários. No Brasil, o Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA trata da qualidade das águas costeiras nas Resoluções nos 274/00 e 357/05. A Resolução 357/05 trata da classificação dos corpos d’água continentais e costeiros, das diretrizes para seu enquadramento e estabelece condições e padrões de lançamento de efluentes (CONAMA 2005). A Resolução nº 274/00 (ANEXO 1) define os critérios de balneabilidade em águas brasileiras, incluindo metodologia de monitoramento, indicadores microbiológicos e valores de referência que classificam a água marinha 36 analisada como imprópria ou própria para execução de atividades de lazer de contato primário (CONAMA 2000). Segundo a Resolução nº 274/00, é classificada como água doce aquela com salinidade igual ou inferior a 0,50º/00; água salobra aquela com salinidade entre 0,50º/00 e 30º/00; e salina aquela com salinidade igual ou superior a 30º/00. Quanto a balneabilidade, conforme disposto na resolução, as águas costeiras são classificadas utilizando como referência a densidade de microrganismos indicadores de contaminação fecal, conforme os valores de referência apresentados no quadro 6. Os valores estabelecidos na Resolução 274 referem-se a monitoramentos de periodicidade semanal ou freqüência superior, sendo considerado um conjunto de 80% do total das amostras obtidas em cinco semanas consecutivas, e a densidade de microrganismos em 100 mL da amostra. Quadro 6: Padrões adotados pela Resolução 274/00 para balneabilidade das águas costeiras brasileiras. PRÓPRIA IMPRÓPRIA INDICADOR EXCELENTE MUITO BOA SATISFATÓRIA Coliformes fecais (termotolerantes) < 250 < 500 < 1000 > 1000 Escherichia coli < 200 < 400 < 800 > 800 Enterococos < 25 < 50 < 100 > 100 Para classificação das águas costeiras como impróprias para atividades de contato primário, a Resolução 274 adota também os seguintes critérios: Valor da última amostragem superior a 2500 coliformes fecais (termotolerantes), ou 2000 Escherichia coli ou 400 Enterococos por 100mL da amostra; Incidência elevada ou anormal de enfermidades relacionadas a qualidade hídrica, na região; 37 Presença de resíduos e efluentes, como esgoto sanitário, óleos, graxas e outras substâncias que tragam risco a saúde dos usuários ou que tornem desagradável a recreação; e Floração de algas ou outros organismos que ofereçam risco aos usuários. Reconhecendo a importância da análise da areia, a Resolução nº 274, recomenda aos órgãos ambientais a avaliação das condições parasitológicas e microbiológicas da areia de praia, porém não estabelece indicadores ou valores de referência para o monitoramento e classificação das areias. Não obstante esta resolução sugerir a futura padronização, até o momento o Conselho Nacional de Meio Ambiente não realizou estudo ou quaisquer iniciativas para tornar obrigatória a análise da areia de praia e estabelecer valores de referência para sua classificação. 3.3.4 BIOINDICADORES DE QUALIDADE Nos Estados Unidos e Europa os indicadores de balneabilidade da água marinha comumente utilizados são: Enteroccos e Escherichia coli. No Brasil são utilizados o Coliforme fecal (termotolerante) e a E. coli, sendo mais recentemente introduzido o uso do Enterococcos (CONAMA 2000). Com base em estudos epidemiológicos a EPA afirma que a Escherichia coli e os Enterococcos são indicadores de contaminação fecal de águas recreacionais, mais adequados que Coliformes totais e fecais. Relata também que os Enterococcos são mais apropriados para análise de água salgada e E. coli para análise de água doce. De acordo com essa agência, a densidade desses organismos prediz de forma mais eficiente o risco a saúde dos usuários, pois apresentam uma correlação mais forte com a incidência de gastroenterites, que os demais indicadores. 38 No caso da água marinha, a correlação entre Enterococcos é mais forte provavelmente pela habilidade desses organismos de sobreviverem por mais tempo nesse ambiente, que os demais indicadores, tal como os organismos causadores das doenças gastrointestinais. Além disso, os coliformes fecais podem ser identificados em locais onde não há contaminação fecal. Por exemplo, a Klebsiella spp. é uma bactéria que faz parte do grupo coliformes fecais, mas que geralmente não é patogênica aos humanos e não ocorre quando há contaminação fecal, mas ocorre em efluentes de industrias de papel, celulose e tecido (EPA 2004). A Salmonella é responsável por grande parte dos sintomas gastrointestinais manifestos na população em geral (EUFRASTIOU 2009). A ocorrência de Salmonella no esgoto doméstico é variável de acordo com o grau de infecção da população que produz o esgoto. Em algumas amostras com valores elevados de contaminação fecal não foi encontrado Salmonela (EUFRASTIOU 2009). EUFRASTIOU et al. (2009) analisaram a eficiência dos indicadores tradicionais de balneabilidade, enterococos, Coliformes fecais e Coliformes totais, na identificação da presença de Salmonella na água marinha. Foi constatado que esses indicadores isoldamente podem indicar a presença de Salmonella, sendo Enterococos o mais eficiente. A análise conjunta desses indicadores aumenta a eficiência de detecção de Salmonella. Os limites adotados pela EPA e União Européia (UE) para esses parâmetros apresentam a mesma eficiência na identificação de Salmonella. 39 3.4 CONTAMINAÇÃO DA AREIA DA PRAIA Diversos microrganismos patogênicos e indicadores de contaminação fecal sobrevivem por longos períodos na areia de praia, pois encontram condições favoráveis como abundância de nutrientes, abrigo da luz solar e proteção contra predação (GHINSBERG et al. 1994, ALM et al. 2003, CARDOSO-DEOLIVEIRA & PINHATA 2008). O uso intenso da faixa de areia para o lazer, prática de esportes e caminhadas, especialmente no período do verão, gera uma preocupação com relação à qualidade sanitária da areia e o risco de propagação de doenças, e em alguns países a análise da areia também é considerada na avaliação da qualidade da praia (ABAE 2007). Diversos estudos sobre a contaminação das areias de praias foram conduzidos na costa brasileira (SANCHEZ et al. 1986, VIEIRA 2000, VIEIRA et al. 2001, RIBEIRO 2002, MAIER et al. 2003, GONZÁLES-CÁCERES et al. 2004, BOUKAI 2005, LOUREIRO et al. 2005, SATO et al. 2005, ANDRAUS 2006, MATESCO et al. 2006, SANTOS et al. 2006, GOMES et al. 2008, CARDOSO-DE-OLIVEIRA & PINHATA 2008, SILVA et al. 2009) e em outros países (MENDES et al. 1993, 1997, 1998, ABAE 2002, ALM et al., 2003, LE-FEVRE & LEWIS 2003, FERGUSON et al. 2004, SHIBATA et al. 2004, ELMANAMA et al. 2005, MANCINI et al. 2005, LEE et al. 2006, BOUMS et al. 2007, BRANDÃO et al. 2007, BONILLA et al. 2007, VOGEL et al. 2007, HEANEY et al. 2009). Alguns trabalhos apresentam uma revisão bibliográfica do tema (MENDONÇA-HAGLER et al. 2001, VIEIRA 2000, CBC 2005, STEWART et al. 2008). A maioria dos estudos sobre a contaminação das areias de praias oceânicas mostram que a areia geralmente apresenta contaminação superior a da água do mar (SANCHEZ et al. 1986, ABAE 2002, ALM et al., 2003, ELMANAMA et al. 2005, BOUKAI 2005, SATO et al. 2005, BONILLA et al. 2007, BOUMS et al. 2007, CARDOSO-DE-OLIVEIRA & PINHATA 2008). Nas praias da Flórida - EUA, estudadas por BONILLA et al. (2007) foi identificada uma densidade de microrganismos indicadores de contaminação fecal nas areias de até 460 vezes superior àquela identificada na água do mar. Vários estudos analisaram a contaminação das areias em diferentes épocas do ano, comparando a estação seca e chuvosa ou o período de alta 40 temporada (verão) com períodos de menor freqüência de usuários (VIEIRA et al. 2001, RIBEIRO 2002, ABAE 2002, ELMANAMA et al. 2005, BOUKAI 2005, SATO et al. 2005, LOUREIRO et al. 2005, ANDRAUS 2006, MATESCO et al. 2006, BONILLA et al. 2007, VOGEL et al. 2007, GOMES et al. 2008). O período do verão e o período chuvoso geralmente apresentam contaminação superior em relação ao restante do ano (ELMANAMA et al. 2005, BOUKAI 2005, SATO et al. 2005, LOUREIRO et al. 2005, ANDRAUS 2006). Segundo ANDRAUS (2006) o grande aumento da população flutuante registrada nesta época do ano e o conseqüente aumento na freqüência de banhistas influencia a contaminação da areia da praia. No período do verão o número de turistas é maior e aumenta também a população flutuante, com isso a produção e descarte de resíduos e efluentes é maior que no restante do ano. Pressupõe-se com isso que o risco associado ao contato com a areia da praia é maior no período do verão em relação ao restante do ano, e alguns estudos focaram apenas esse período (ALM et al., 2003, GONZÁLES-CÁCERES et al. 2004, MANCINI et al. 2005, BOUKAI 2005, BRANDÃO et al. 2007). Outros estudos analisaram separadamente a areia seca e a areia úmida, sendo esta última a faixa constantemente atingida pela água do mar, e a areia seca a parte emersa raramente alcançada pela maré (VIEIRA et al. 2001, RIBEIRO 2002, ABAE 2002, MAIER et al. 2003, GONZÁLES-CÁCERES et al. 2004, BOUKAI 2005, SATO et al. 2005, ANDRAUS 2006, BOUMS et al. 2007, BRANDÃO et al. 2007, VOGEL et al. 2007, BONILLA et al. 2007, CARDOSO-DE-LIVEIRA & PINHATA 2008). Dentre os estudos que analisaram a contaminação da água em relação a areia, em sua maioria, foi verificada uma forte relação entre a areia úmida e a água, indicando um fluxo contínuo de microrganismos entre os meios (ABAE 2002, BOUKAI 2005, SATO et al. 2005, CARDOSO-DE-OLIVEIRA & PINHATA 2008). Conforme CARDOSO-DE-OLIVEIRA & PINHATA (2008) as atividades de recreação e eventos naturais como tempestade, ondas e maré, promovem a turbulência no sedimento, remobilizando microrganismos do sedimento para a água e aprisionando no sedimento microrganismos presentes na água. 41 No entanto, a areia seca apresenta um comportamento distinto, com contaminação superior aos demais meios. A areia seca sofre pouca influencia da maré e sua contaminação não está diretamente relacionada com a água marinha (VIEIRA et al. 2001, ABAE 2002, BOUKAI 2005, SATO et al. 2005, ANDRAUS 2006, BOUMS et al. 2007, VOGEL et al. 2007, CARDOSO-DE-OLIVEIRA & PINHATA 2008). A areia seca é exposta a elevados níveis de contaminação de fontes distintas àquelas que exercem maior influencia sobre a contaminação da areia úmida (VIEIRA et al. 2001, ABAE 2002, BOUKAI 2005, SATO et al. 2005, ANDRAUS 2006, BOUMS et al. 2007, VOGEL et al. 2007, CARDOSO-DE-OLIVEIRA & PINHATA 2008). A água do mar pode ser a fonte principal de contaminação da areia úmida, enquanto outras fontes, como resíduos sólidos e fezes de animais, podem constituir as fontes de contaminação predominantes da areia seca. O monitoramento da água não é suficiente para eliminar o risco à saúde dos freqüentadores das praias. Faz-se necessário, também, o monitoramento da areia. O quadro 7 foi elaborado a partir de um levantamento dos estudos que analisaram a qualidade das areias de praia na costa brasileira e internacioanal. Esse quadro apresenta os parâmetros analisados nos principais estudos sobre o tema. A maioria dos estudos analisou o grupo Enterococos e alguns estudos apontaram este grupo como um indicador de contaminação fecal da areia melhor que o grupo Coliformes (MENDES et al. 1997, RIBEIRO 2002, ANDRAUS 2006). Não há organismos que satisfaçam simultaneamente todas as condições necessárias para um indicador de contaminação. Na ausência de um indicador ideal, então deve ser utilizado o melhor indicador possível, considerando a melhor correlação com os riscos de saúde associados com a contaminação de um determinado ambiente (BASTOS 2000). As metodologias tradicionais de análise de bactérias, fungos e parasitas foram adotadas pela maioria dos estudos. Alguns estudos recentes adotaram técnicas mais sofisticadas como kits rápidos de análise e análises moleculares (RIBEIRO 2002, ABAE 2002, MAIER et al. 2003, SHIBATA et al. 2004, BOUMS et al. 2007, BRANDÃO et al. 2007, VOGEL et al. 2007). 42 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Outros Salmonella Pseudomonas aeruginosa Parasitas Fungos X X Enterococos X X Escherichia coli C. termotolerantes (fecais) SANCHEZ et al. 1986 MENDES et al. 1997 MENDES et al. 1998 VIEIRA et al. 2001 RIBEIRO 2002 ABAE 2002 MAIER et al. 2003 ALM et al. 2003 LE FEVRE & LEWIS 2003 GONZÁLES-CÁCERES et al. 2004 FERGUSON et al. 2004 SHIBATA et al. 2004 BOUKAI 2005 ELMANAMA et al. 2005 LOUREIRO et al. 2005 MANCINI et al. 2005 SATO et al. 2005 ANDRAUS 2006 LEE et al. 2006 MATESCO et al. 2006 SANTOS et al. 2006 BOUMS et al. 2007 BRANDÃO et al. 2007 BONILLA et al. 2007 VOGEL et al. 2007 GOMES et al. 2008 OLIVEIRA & PINHATA 2008 SILVA et al. 2009 Coliformes totais Quadro 7. Parâmetros analisados em estudos de qualidade de areia de praia. X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 3.5 PADRÕES DE QUALIDADE DAS AREIAS Existem apenas duas normas em vigor que qualificam as areias de praia, apesar de diversos estudos sobre qualidade das areias de praia confirmarem o risco de veiculação de doenças por esse meio. 43 LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL A Associação das Bandeiras Azuis para a Europa (ABAE), o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), e o Instituto do Ambiente (IA), realizaram um extenso estudo sobre qualidade das areias das praias de Portugal, e estabeleceram valores de referência para classificação das mesmas. O quadro 8 apresenta a classificação em vigor em 2002 (Mendes et al. 2002) e novos valores propostos por Brandão et al. (2007). Quadro 8. Valores máximos recomendados (VMR), valores máximos admissíveis (VMA) e novos valores máximos recomendados (NVMR) para qualificação das areias de praias (adaptado de BRANDÃO 2007). VMR NVMR VMA Parâmetros Ufc/100g Leveduras 3.000 300 6.000 Fungos potencialmente patogênicos 7.000 500 8.500 Dermatófitos 100 100 1.500 Coliformes totais 100 100 1.500 Escherichia coli 100 100 2.000 Enterococos intestinais 100 100 2.000 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA A Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro – SMAC, publicou a Resolução SMAC nº 081/2000 (ANEXO 2) e a Lei municipal nº 3.210/2001, que estabelecem, respectivamente, valores de referência para a classificação da areia de praia (Quadro 9) e a obrigatoriedade de divulgação de informações de qualidade da areia para a população (SMAC 2000, RIO DE JANEIRO 2001, ALERJ 2006). Essa legislação foi elaborada com base em estudos de qualidade das areias por meio de indicadores e parâmetros microbiológicos conhecidos. 44 Quadro 9. Classificação da areia de praia segundo a Resolução SMAC Nº 81/2000 e Lei Municipal Nº 3.210/2001. 1 Coliformes Totais **** Até 10.000 Até 10 *** > 10.000 a 20.000 > 10 a 200 ** > 20.000 a 30.000 > 200 a 400 Acima de 30.000 Acima de 400 * 2 IMPRÓPRIA 1 1 Classificação Escherichia coli Valores em NMP/100g de areia 2 Considera-se também imprópria a areia que contiver ovos e larvas de parasitos em quantidade que cause risco a saúde Os parâmetros e valores de referência da Resolução nº 81/00, foram analisados por BOUKAI (2005), com base em um novo monitoramento da qualidade das areias das principais praias do município do Rio de Janeiro, resultando em novos parâmetros e valores de referência (Quadro 10). Quadro 10. Revisão dos valores de referência da Resolução SMAC Nº 81/00 (BOUKAI 2005). Classificação **** *** ** * IMPRÓPRIA Até 10.000 > 10.000 a 20.000 > 20.000 a 30.000 Acima de 30.000 Até 10 > 10 a 200 > 200 a 400 Acima de 800 Bactérias Coliformes 1 Totais 1 Escherichia coli Fungos 2 Cândida sp < 1000 1000 Ancylostoma sp AUSENTE PRESENTE Toxocara sp AUSENTE PRESENTE Parasitas 1 Valores em NMP/100g de areia; 2 Valores em ufc/100g de areia Os valores da Resolução SMAC nº 81/00 para as praias cariocas, estão em vigor, apesar do estudo apresentado por BOUKAI (2005). 45 3.6 PROGRAMA DE MONITORAMENTO DA BALNEABILIDADE DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO Desde 1991 o Governo do Estado do ES monitora a balneabilidade das praias capixabas, com exceção das praias da capital Vitória, pois são monitoradas pelo município. Atualmente, são monitorados 70 pontos distribuídos ao longo do litoral, que englobam lagoas, estuários e água marinha (ANEXO 3). O monitoramento é realizado pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), com base nos padrões estabelecidos na Resolução CONAMA nº 274/00. Segundo as informações fornecidas pelo IEMA o monitoramento consiste na análise quinzenal da densidade de coliformes termotolerantes presentes na água, por meio da técnica de tubos múltiplos. Para tanto, são adotadas as diluições 101, 10-1, 10-2 da amostra, para inoculação em séries de cinco tubos contendo caldo lactosado e púrpura de bromocresol, para cada diluição. Após incubação por 24 ± 2h a 35 ± 0,5ºC, os resultados positivos são identificados pela turvação com acidificação do meio (mudança da cor de roxo para amarelo). Destes, são inoculadas amostras em caldo lactosado verde brilhante (bílis a 2%), incubados por 48 ± 3h a 35 ± 0,5ºC, e feita a leitura dos resultados positivos pela turvação. Finalmente, são inoculadas amostras dos tubos positivos em EC-MUG por 24 ± 2h a 44,5 ± 0,2ºC. Os tubos que apresentaram turvação são quantificados para cada diluição e a seqüência numérica é comparada em tabela de probabilidade, que confere um Número Mais Provável para cada 100mL de água marinha (NMP/100mL). Os valores obtidos são lançados em planilhas digitais e analisados para classificação da água, conforme os seguintes critérios: a. Se o valor recém obtido for superior a 2.500 NMP/100mL o ponto é classificado como IMPRÓPRIO; b. Se o valor recém obtido for inferior a 2.500 NMP/100mL, são adotados como referência os cinco valores mais recentes, incluindo o valor recém 46 obtido. Desse conjunto de dados é excluído o de maior valor, e dos quatro valores restantes é utilizado o maior valor para classificação de acordo com as classes apresentadas abaixo (Figura 3): COLIFORMES TERMOTOLERANTES CLASSIFICAÇÃO (NMP/100ML) < 250 EXCELENTE < 500 MUITO BOA < 1.000 SATISFATÓRIA > 1.000 IMPRÓPRIA Figura 3. Categorias de classificação da água das praias do Espírito Santo. No município de Serra são monitorados 11 pontos distribuídos na orla de Nova Almeida, Jacaraípe, Manguinhos, Carapebus e Bicanga (Quadro 11). Os pontos 05, 06 e 07 estão localizados próximos aos pontos 3, 2 e 1, respectivamente, de análise da areia e água da Orla de Manguinhos realizada no presente trabalho. A análise do período de 2007 a 2009 concluiu que, no Estado do Espírito Santo, os locais abaixo apresentam pior qualidade da água para balneabilidade: ⋅ Anchieta – Praia Central (AN4) ⋅ Aracruz – Próximo a foz do Rio Guaxindiba (AR3), e do Rio Sahy (AR1) ⋅ Serra – Jacaraípe próximo a Manguinhos (S5), e Nova Almeida (S1 e S2) ⋅ Guarapari – Meaípe (G14) Estes pontos permaneceram de 12% a 79% do período pesquisado em condições imprópias ao banho, ou seja, oferecendo risco a saúde dos usários. Os dados de colimetria desses pontos apresentam grandes variações ao longo do tempo, sendo muitas vezes na ordem de 350 vezes a diferença entre resultados de semanas consecutivas. 47 Quadro 11. Estações de monitoramento da balneabilidade do litoral do município da Serra (fonte: IEMA). ESTAÇÃO (PONTO) – LOCALIDADE COORDENADAS UTM 01 Nova Almeida - Próximo ao Posto de Saúde 20°03’33,0” S 40°11’15,0” W 02 Nova Almeida - Quiosque Doce Mar. Próx. Hotel Praia Sol 20°07’11,9” S 40°10’36,1” W 03 Jacaraípe - Quiosque Stravagancia. Rua Caiçara 20°08’14,0” S 40°11’01,5” W 04 Jacaraípe - Colônia de Férias do BANESTES Não identificada 05 Jacaraípe - Colônia de Férias da CVRD 20°09’36,9” S 40°11’03,7” W 06 Manguinhos - Em frente ao Condomínio Ainda 20°1126,2” S 40°11’28,8” W 07 Manguinhos - Primeira estação de Manguinhos 20°11’53,4” S 40°11’32,8” W 08 Bicanga - A 500m do Córrego Manguinhos Não identificada 09 Lagoa Carapebus - Entre Colônia de Férias e a passarela 20°13’51,2” S 40°12’47,4” W 10 Carapebus - Restaurante GJ-Drink 's Não identificada 11 Carapebus - Colônia de pescadores 20°14’08,7” S 40°12’56,7” W 3.7 ADEQUAÇÃO DO PROGRAMA DE BALNEABILIDADE DO ES Diagnóstico das condições sanitárias das areias das praias do Espírito Santo Os resultados do estudo da qualidade das areias da orla de Manguinhos e de outros estudos na costa brasileira e em outros países que abordaram o tema, mostram que as condições sanitárias das areias devem ser consideradas na análise da qualidade das praias utilizadas para o lazer. Como ainda não é conhecida a condição das areias das praias capixaba, faz-se necessário um 48 diagnóstico que contemple a avaliação de parâmetros microbiológicos em pelo menos um a três pontos em cada praia do Estado. O diagnóstico deve indicar as áreas com os níveis mais elevados de contaminação, nas quais serão necessários estudos detalhados. Também deve contemplar a análise da diversidade microbiana, a fim de subsidiar propostas de indicadores específicos para o litoral capixaba. Para tanto sugere-se um programa utilizando a metodologia e os parâmetros de referência propostos por ABAE (2007) e BOUKAI (2007), com adaptações para o contexto capixaba. Análise integrada dos dados de balneabilidade do ES O atual programa de balneabilidade do ES conta com séries históricas de dados, mas não com uma análise integrada e sistematização das informações na forma de relatórios. A análise integrada dos dados deve indicar as áreas onde faz-se necessário um detalhamento maior e as áreas nas quais poderiam ser reduzidos os esforços de monitoramento, pela boa condição que apresentam. A análise integrada dos resultados deve relacionar os valores de colimetria com as condições ambientais e interferências identificadas em cada praia, tais como a existência de fontes pontuais e difusas de contaminação e a freqüência de usuários. Deve ser utilizado métodos estatísticos para verificação de tendências e diferenças ao longo do tempo e espaço. Sugere-se a distinção das praias em classes que reflitam a necessidade de intervenções e manejo. As informações devem ser consolidadas em um relatório técnico para uso na gestão ambiental e ampla divulgação científica, e em uma publicação didática para consulta por usuários ou técnicos de outras áreas. Os relatórios da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) e da United States Environmental Protection Agency (EPA) podem ser utilizados como referência (CETESB 2008, EPA 2009). 49 Adequação da malha amostral e frequência de amostragem Com base na análise dos dados históricos de balneabilidade e outras informações relevantes, a malha amostral deve ser revista para inclusão e exclusão de pontos amostrais, aumento ou redução da periodicidade de análise. A malha amostral do programa de balneabilidade deve contemplar as principais fontes de contaminação da orla e pontos adjacentes, a fim de verificar até onde há influencia dessas fontes. Além disso, deve abranger de forma mais detalhada os pontos de maior freqüência de usuários, especialmente no período do verão. Adequação dos parâmetros e metodologias de análises laboratoriais A metodologia utilizada no programa adotado pelo Governo do Estado do ES é morosa e apresenta grande variação nos resultados. As informações de balneabilidade divulgadas à população demostram a situação com 15 (quinze) dias de atraso, em média. Os dados obtidos no programa devem refletir a situação do momento para que possa proporcionar a prevenção e redução do risco de disseminação de doenças pelo lazer nas praias capixabas. Atualmente existem métodos rápidos de análise que garantem maior eficácia no monitoramento, reduzindo o tempo em 24 a 48 horas. Diversos kits comerciais e métodos de análise molecular foram descritos e validados pela literatura, mas o custo para adequação dos labortórios e aquisição dos kits tem sido reportado como um fator dificultador. Diante do exposto, cabe ressaltar que a ocorrência de doenças na população e a diminuição substancial do turismo na praia, geram custos e a população local sente diretamente a queda da receita esperada. A medida a ser adotada pelos órgão competentes para evitar tais efeitos será um monitoramento adequado da qualidade da água balnear. Algumas praias ao longo da costa capixaba apresentam áreas com índices colimétricos passíveis 50 de interdição e, caso seja adotada tal medida, resultará em prejuízos para o comércio e demais atividades relacionadas as praias. Diagnóstico das fontes pontuais de contaminação As fontes pontuais de contaminação das praias são passíveis de identificação e caracterização. A partir deste diagnóstico é possível estabelecer as áreas de intervenção e as áreas onde o uso para o banho pode ser incentivado. O monitoramento dessas fontes permite a utilização de métodos para extinção ou redução da contaminação e melhoria das praias. Esse diagnóstico deve contemplar a identificação georreferenciada e a caracterização de: • Deságüe da rede pluvial; • Foz artificial e natural de rios e córregos; • Despejo de efluentes de ETE, EEEB e indústrias; • Efluentes de banheiros, quiosques, comércios e residências lançados diretamente na praia; • Pontos de comunicação com lagoas costeiras e áreas alagáveis. O diagnóstico poderá ser realizado ao longo de todo o Estado ou em áreas previamente definidas pelas características de uso e qualidade balnear. O diagnóstico deverá apontar fontes passíveis de extinção imediata, a exemplo de manilhas e tubulações abandonadas, banheiros irregulares e estruturas sem licenciamento ambiental. Deverá indicar também, as fontes pontuais de grande relevância para a balneabilidade, que devem ser incluídas no programa de monitoramento. Estudo Epidemiológico – areia e água Em outros países as normas elaboradas sobre balneabilidade foram fundamentadas em estudos epidemiológicos que relacionam o nível de contaminação do ambiente ao grau de comprometimento da saúde do usuário. 51 Entretanto, no Brasil esses estudos são raros e as normas de balneabilidade foram construídas por meio de discussões com base nos parâmetros adotados internacionalmente. No Espírito Santo é aplicada a Resolução CONAMA nº 274/00 para análise da balneabilidade, não sendo encontrado nenhum estudo epidemiológico sobre o tema. Assim, faz-se necessária a realização de um estudo epidemiológico que analise os índices microbiológicos encontrados na areia e na água marinha com a ocorrência de doenças como a gastroenterites. HEANEY et al. (2009) apresenta os resultados de um estudo epidemiológico que avaliou o risco associado a recreação na areia de praia, abordando inclusive aspectos importantes como o comportamento do usuário de se enterrar ou não na areia, idade, estado de saúde e outros fatores relacionados ao contato do usuário com o meio e a sucetibilidade a patógenos. Os resultados de estudos epidemiológicos devem subsidiar o estabelecimento de níveis de contaminação aceitáveis para qualidade das areias e água marinha, com base no risco associado a disseminação de doenças. 52 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO O Município de Serra está localizado no litoral Central do Estado do Espírito Santo (ES), região metropolitana da Grande Vitória – ES. Apresenta uma área de aproximadamente 553 km² e uma população estimada de 385.370 habitantes, sendo o segundo maior município em população do Estado (IBGE 2007). A economia municipal é baseada principalmente na atividade industrial, constituindo o maior centro industrial do Estado. Possui terminais portuários, estradas, linha férrea, e outros elementos que compõem a estrutura logística agregada à atividade industrial (SERRA 2004). O litoral desse município estende-se por aproximadamente 23 km, sendo que a maior parte é composta por praias arenosas utilizadas para o lazer, pesca e turismo. Aproximadamente 160.000 turistas visitam o município a cada ano, dos quais 63% ficam hospedados em residência de parentes (SERRA 2004). Ocorre que, com o aumento do número de pessoas por residência, especialmente nos períodos de alta temporada, aumenta também o aporte de efluentes domésticos, extrapolando muitas vezes, a capacidade de suporte das redes públicas de coleta e tratamento desse efluente, ocasionando o extravazamento de esgoto no ambiente. O clima da região é tropical quente e úmido, com temperatura média anual de 24ºC, com predominância de ventos no quadrante NE, durante a maior parte do ano e média anual pluviométrica variando entre 900 a 1.200mm3. A hidrografia é formada pelas bacias dos rios Reis Magos, Santa Maria da Vitória e Jacaraípe, e pelas microbacias do Córrego Jacaraípe, da Lagoa Jacuném e do Córrego Maringá (SERRA 2004). O relevo do município apresenta uma variedade de feições geomorfológicas, destacando-se as regiões das planícies costeiras, das colinas e maciços costeiros e da Mantiqueira setentrional. A formação vegetal original é composta por Mata Atlântica, restanto porém apenas pequenas áreas preservadas (SERRA 2004). 53 De acordo com MUEHE (2006) a dinâmica do litoral da Serra é influenciada pela presença dos terraços de abrasão na antepraia e na plataforma continental interna, que dissipam a energia das ondas incidentes, ocasionando a redução da amplitude de variação das alturas das ondas, resultando em pequena variação topográfica sazonal dos perfis das praias. A dinâmica da maré então, se destaca atuando como armadilhas para retenção do sedimento na antepraia. As praias variam entre dissipativas e intermediária, apresentando áreas com declividade suave, zona de surfe, faixa entre-marés extensas e areia fina, e áreas com declividade moderada, faixa entre-marés pouco extensa e areia média. Ressalva-se a presença de couraças lateríticas em distribuição esparsa e de dunas fortemente degradadas pela ocupação, intensificando o processo erosivo em alguns locais (MUEHE 2006). Apesar da urbanização do balneário de Manguinhos estar ainda em processo de desenvolvimento, suas praias são intensamente freqüentadas pela população e por turistas. Tais fatores, talvez, devem-se às características da região, que se diferencia das demais praias da Grande Vitória, principalmente pela tranqüilidade do local e paisagem bucólica. A maior parte da orla de Manguinhos apresenta estrutura urbana voltada ao uso turístico e veraneio, caracterizada por quiosques, restaurantes, praças, iluminação pública adequada, calçadas, edificações residenciais e de veraneio e de ruas pavimentadas e não pavimentadas, incluindo os trechos ocupados pela Rodovia ES – 10. A orla de Manguinhos foi escolhida para a realização do estudo pelos seguintes fatores: ⋅ Presença de fontes pontuais de contaminação (deságüe de córregos de águas contaminadas por efluentes domésticos); ⋅ Intenso uso turístico; ⋅ Área de uso da população local para atividades de lazer e convivência; 54 ⋅ Hidrodinamismo considerado moderado ocasionando baixa renovação da água em alguns pontos; ⋅ Estudos preliminares do Laboratório de Microbiologia Ambiental e Biotecnologia (LMAB) do Centro Universitário Vila Velha (UVV) indicaram altos níveis de contaminação na areia e água de Manguinhos 4.2 DESCRIÇÃO DOS PONTOS AMOSTRAIS O trecho estudado está compreendido entre a foz do Rio Jacaraípe (UTM 376226/7769905 – datum WGS 84) e o deságüe do Córrego Maringá (375489/7766352) (Figura 4). Foram delimitados 12 (doze) pontos de amostragem da areia e da água da orla de Manguinhos, abrangendo áreas de elevado uso (1A, 1B, 1C) e áreas próximas ao deságüe do Córrego Maringá (MA e 2A), Córrego Laripe (LA, 2B e 2C) e Córrego Irema (3A, 3B, 3C e IR). A tabela 1 apresenta uma descrição de cada ponto amostral e as figuras 5 e 6 apresentam fotos ilustrativas das principais características desses pontos. 55 Figura 4. Localização da área de estudo e distribuição dos pontos amostrais na orla de Manguinhos, Serra (ES). 56 Tabela 01. Descrição dos pontos de amostragem 1 (A, B, C), 2 (A, B, C), 3 (A, B, C), IR (Córrego Irema), LA (Córrego Laripe) e MA (Córrego Maringá). Ponto 3C1 3B1 3A1 IR1 2C1 LA1 2B1 2A1 MA1 1C1 1B1 1A1 Coordenada 20º 09’ 47,29 S 40º 11’ 02,04 W 20º 09’ 50,99 S 40º 11’ 03,03 W 20º 09’ 57,79 S 40º 11’ 02,98 W 20º 09’ 59,32 S 40º 11’ 03,48 W 20º 10’ 51,95 S 40º 11’ 22,23 W 20º 10’ 53,43 S 40º 11’ 24,17 W 20º 10’ 59,88 S 40º 11’ 28,22 W 20º 11’ 09,29 S 40º 11’ 26,19 W 20º 11’ 10,43 S 40º 11’ 25,48 W 20º 11’ 21,03 S 40º 11’ 26,28 W 20º 11’ 25,94 S 40º 11’ 26,94 W 20º 11’ 29,49 S 40º 11’ 25,59 W Descrição Área que apresenta: médio fluxo de banhistas, poucas barracas, via litorânea asfaltada, presença eventual de animais domésticos e proximidade com loteamentos residenciais Deságue do Córrego Irema e possivelmente da rede de drenagem pluvial das vias adjacentes Área que apresenta: baixo fluxo de banhistas, faixa de areia estreita e proximidade com a Rodovia ES -10 Deságue do Córrego Laripe e possivelmente da rede de drenagem pluvial das vias adjacentes Área que apresenta: baixo fluxo de banhistas, faixa de areia estreita e proximidade com a Rodovia ES -10 Área que apresenta: baixo fluxo de banhistas e ocupação de parte da faixa de areia por residências Deságue do Córrego Maringá e possivelmente da rede de drenagem pluvial das vias adjacentes Área que apresenta: freqüencia elevada de banhistas e animais, quiosques e estruturas de lazer, alto fluxo de vendedores ambulantes, desembarque de pescado e proximidade com Colônia de Pescadores e loteamentos residenciais 57 Figura 5. Ponto 1: (a) Visão geral da área de amostragem no ponto 1C; (b) e (c) Destaque para a presença de barcos de pesca e animais domésticos. Figura 6. Ponto 3: (a) Córrego Irema (IR); (b) Manilha de descarte de efluente doméstico no Córrego Irema; (c) Crescimento excessivo de algas identificado no dia 28/01/09 em área próxima ao ponto 3 (altura da maré: 0.3). 58 4.3 COLETA DA ÁGUA MARINHA E AREIA As amostras de água e areia da orla de Manguinhas foram coletadas no período de julho a agosto de 2009 com a variação da maré de 0.5 até 1.0 (DHN 2009). Em cada ponto foram delimitados, na faixa de areia, transectos paralelos ao calçadão nos quais foram estabelecidos pontos em zigzag para coleta de amostra composta. Em cada transecto foram coletados em torno de 500g de areia da camada superficial na profundidade aproximada de 0–25 cm, utilizando régua, coletores e sacolas plásticas devidamente esterilizadas e identificadas. Foram coletados aproximadamente 100 mL da água do mar nos pontos 1 (A, B, C), 2 (A, B, C) e 3 (A,B,C) e da água dos Córregos Irema (IR), Laripe (LA) e Maringá (MA), utilizando frascos previamente esterilizados e identificados (Figura 7). As amostras de areia e de água foram acondicionadas em caixas térmicas e levadas ao LMAB onde foram armazenadas em freezer 20ºC até a realização das análises. Figura 7. Foto ilustrativa da metodologia de coleta de água do mar (a) e da coleta de areia (b) da orla de Manguinhos, Serra - ES. 59 4.4 ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS As análises microbiológicas foram realizadas pela técnica de fermentação em tubos múltiplos que utiliza a contagem indireta de microrganismos pelo método do número mais provável (NMP), e pelo método de cultura em placas com resultados obtidos por contagem direta também conhecida por contagem padrão em placas (CPP) de unidades formadoras de colônia (ufc). Sendo ambos os métodos baseados na técnica de diluições seriadas (APHA, 1995). Testes bioquímicos para confirmação e identificação das bactérias também foram realizados. As amostras de areia foram preparadas adicionando-se 10g de areia em 90 ml de água destilada em um Becker seguido de agitação por 10 minutos, e coletado o sobrenadante para ser utilizado como a solução inicial. Para as amostras de água foram utilizadas diretamente sem diluição inicial. Com ajuda de uma pipeta estéril foi retirado 1mL diretamente da solução inicial para um tubo de ensaio contendo 9 mL de salina peptonada à 1%, homogeneizando-se o conteúdo por agitação e com outra pipeta estéril transferiu-se 1 mL da diluição10-1 para diluição 10-2 e assim sucessivamente até a diluição 10-4 (Figura 8) (VASCONCELLOS et al. 2006). Figura 8. Esquema ilustrativo da técnica de diluições seriadas para cultivo em placas (Adaptado de http://bervieira.sites.uol.com.br/dilui.gif) 60 4.4.1 TÉCNICA DE TUBOS MÚLTIPLOS (NMP) Alíquotas de 1 ml das diluições seriadas de 10-1 a 10-4, foram inoculadas nos meios de cultivo Caldo Lactosado e E.C. incluindo um tubo de Durhan, usando-se séries de 3 tubos para cada diluição. Em seguida os tubos foram incubados por 48h a 37ºC e obtidos os resultados a partir de cada conjunto de tubos da mesma diluição. O resultado foi interpretado como positivo na ocorrência de turbidez e produção de gás no tubo de Durhan. Os tubos positivos para caldo lactosado foram semeados em Caldo Lactose Bile Verde Brilhante (VB) para detecção de coliformes totais e incubados à 37ºC em estufa bacteriológica. Para analise de coliformes termotolerantes foi usado Caldo EC incubados à 45,5°C por 48 horas (Feitosa et al., 1997) (Figura 9). Para a determinação da concentração média das bactérias por 100 mL foi utilizada uma tabela de número mais provável (APHA, 1998). De cada tubo de Caldo EC positivo, foi retirada uma alçada do meio e estriada em placas contendo Ágar Maccnonkey que foram incubadas à 37ºC por 48 horas, para verificar o crescimento de colônias típicas de E. coli e Klebsiella sp. Figura 9. Figura ilustrativa do método de cultivo em tubos múltiplos. Tubos positivos de EC e VB com produção de gás (a), e tubos negativos de VB e EC sem a produção de gás (b). 61 4.4.2 CULTIVO EM PLACAS (CPP) De cada diluição transferiu-se 0,1 mL para placas de Petri contendo 20 ml de Agar nutriente, e espalhando-se na placa com o auxilio de alça de Drigalski. Todo o processo foi realizado em fluxo laminar próximo a chama do bico de busen. As placas foram devidamente identificadas e incubadas de forma invertidas em estufas a 37°C durante 48 horas e após esse tempo realizou-se a contagem das colônias. 4.4.3 COLORAÇÃO DE GRAM A partir de bactérias isoladas pelo método de cultura em placas foi realizada a coloração de Gram. Para o preparo do esfregaço foi suspensa com uma alça bacteriológica flambada uma pequena porção da amostra bacteriana em uma gota de solução salina 0,85% sobre uma lâmina, em seguida, esse material foi flambado rapidamente em chama de um bico de Bunsen para a fixação da amostra. Com a amostra fixada foi aplicado corante cristal violeta por um minuto, sendo após esse tempo retirado o excesso do corante com água deionizada. Seguiu-se a fixação da lâmina com lugol, também por um minuto e retirado o excesso com água deionizada. Em seguida, com a lâmina inclinada foi despejado álcool puro para remover o complexo cristal violeta-lugol de células gram-negativas, porem com o devido cuidado de não exceder o tempo de cinco minutos, pois o descolorizador poderia remover o corante cristal violeta das células gram-positivas, em seguida a lâmina foi novamente enxaguada com agua deionizada. Em seguida, foi realizada a aplicação do corante secundário safranina por 30 (trinta) segundos e retirada o excesso do corante com água deionizada. Para leitura das lâminas foi utilizada a microscopia óptica, no aumento de 1000 vezes com o auxilio do óleo de emersão.As bactérias de Gram-positivas tem uma coloração roxa escura, enquanto que as Gram-negativas apresentam uma coloração mais rosada (Figura 10). 62 Figura 10. Coloração de Gram, exemplo de uma Lâmina com bactéria Gram- negativa (a) e uma Lâmina com bactéria Gram-positiva (b). 4.5 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS ÁGUA Os parâmetros Temperatura (T), Salinidade (S), Condutividade Elétrica (CE), Oxigênio Dissolvido (OD) e Saturação de Oxigênio (SO) foram medidos com multiparâmetro YSI 85 E. O pH foi medido com auxílio de um pHmetro portátil Q-400H (Figura 11). Figura 11. Medição do pH da água através de pHmetro (a) e medição dos parâmetros físico-químicos através de multiparâmetro (b). AREIA As amostras foram submetidas a análises físico-químicas no Laboratório de Solos da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), em Campos-RJ. Os parâmetros analisados incluíram teor de matéria orgânica (MO), macronutrientes (P, K, Ca, Mg, S), micronutrientes (Fe, Mn, Zn, Cu, B), e 63 outros parâmetros comuns a análise de solo - Al, H+Al, Na, C, Soma de bases (S.B.), CTC a pH 7,0 (T), CTC efetiva (t), Saturação de Alumínio (m) e Saturação de base (V). 4.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA Para tratamentos dos dados foi usado excel 2007 for Windows. As análises estatísticas foram feitas pelo teste ANOVA e t- student utilizando o programa SAEG®. 64 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS 5.1.1 COLIFORMES TOTAIS (CT) A figura 12 apresenta os dados de coliformes totais encontrados na areia, água marinha e efluentes da orla de Manguinhos. Figura 12. Densidade de coliformes totais encontrados na areia, água marinha e córregos da orla de Manguinhos. Diferença significativa a 5% (*) e a 1% (**) de probabilidade pelo teste t-student. ÁGUA A densidade de CT na água marinha de Manguinhos atingiu valores entre ≤ 3 a ≥2400 NMP/mL, sendo os maiores valores encontrados nos pontos localizados no deságüe dos Córregos Irema e Laripe. A Resolução CONAMA nº 274/00 não utiliza CT como indicador de balneabilidade por ser este grupo menos específico que CTe, Enterococcos e E. coli. De acordo com BASTOS (2000) “a presença de coliformes totais em baixas densidades pode ser 65 desprovida de qualquer significado sanitário”, o mesmo valendo para os “coliformes fecais”. Entretanto a Resolução CONAMA nº 20/86 revogada pela resolução 274, classificava como muito boa águas marinhos com valores de CT inferiores a 2.500 CT/100mL (Quadro 12). A luz dos padrões desta resolução todos os pontos da orla de Manguinhos apresentaram condição muito boa da água marinha. Quadro 12. Padrões de CT e CTe adotados pela Resolução CONAMA nº 20/86 para balneabilidade das águas costeiras brasileiras, revogada pela Resolução CONAMA nº 274/00. CLASSIFICAÇÃO CT / 100 mL CTe EXCELENTE < 1.250 < 250 MUITO BOA < 2.500 < 500 SATISFATÓRIA < 5.000 < 1.000 IMPRÓPRIA > 5.000 > 1.000 AREIA A densidade de coliformes totais nas areias da orla de Manguinhos variou de ≤ 3 a 210 NMP/100g, sendo o ponto 3C e a foz do Córrego Maringá os locais de maior contaminação (Figura 12). Os resultados indicam boa qualidade das areias da orla de Manguinhos, Serra-ES, considerando os padrões da Resolução SMAC nº 081/00. A Resolução SMAC nº 081/00, do Município do Rio de Janeiro, classifica as areias como impróprias ao uso quando os valores de CT são superiores a 30.000 NMP/100g. A legislação internacional admite o valor máximo de 1.500 ufc/100g de CT nas areias de praia, entretando a comparação com os padrões internacionais não é possível pois tais valores não são expressos em NMP. 66 Esses resultados são semelhantes aos resultados obtidos nas praias do Rio Grande do Sul por RECHDEN-FILHO (2002), e muito inferiores a maioria dos casos relatados na literatura pertinente. A densidade de coliformes totais das areias da orla de Capão Canoa e Xangrilá – RS, variaram de 07 a 33 NMP/100g (RECHDEN-FILHO 2002). As condições climáticas características do litoral sul do Brasil podem influenciar nas baixas densidades encontradas, pois a ocorrência de baixas temperaturas podem reduzir o metabolismo de algumas bactérias. A orla de Camburi - Vitória (ES) também apresentou boa qualidade das areias, sendo os valores de CT de 10 a 2.400.000 NMP/100g (RIBEIRO 2002). Nesse estudo foram analisados oito pontos distribuídos a partir do Canal de Vitória, que recebe constante aporte de efluente doméstico. Os resultados também mostraram contaminação elevada apenas nos pontos próximos ao canal, que funciona como fonte pontual de contaminação para a praia de Camburi. SANCHEZ et al. (1986) analisaram a qualidade das areias de oito praias da Baixada Santista (SP). Nesse estudo a média geométrica de CT variou de 6.450 a 38.100 NMP/100g nas praias do Tombo e Itararé, respectivamente. Em um estudo semelhante nas praias mais freqüentadas do Rio de Janeiro a densidade de CT encontrada nas areias foi muito superior a encontrada nas praias capixabas e paulistas, atingindo valores de 95 a 110.000 NMP/100g2 (BOUKAI 2005). Nas praias de Matinhos, Coiabá e Guaratuba no Estado do Paraná, os valores máximos da densidade de CT nas areias foram 500.000, 1.600.000 e 300.000 NMP/100g, respectivamente, e o valor mínimo em todas as praias foi de 200 NMP/100g (ANDRAUS 2006). As praias paranaenses também apresentaram contaminação muito superior a identificada na orla de Manguinhos quanto ao parâmetro CT. 2 Valores de mediana. 67 5.1.2 COLIFORMES TERMOTOLERANTES (CTe) A figura 13 apresenta os dados de coliformes termotolerantes encontrados na areia, água marinha e efluentes da orla de Manguinhos. Figura 13. Densidade de coliformes termotolerantes encontrados na areia, água marinha e córregos da orla de Manguinhos. Diferença significativa a * 5% e a ** 1% de probabilidade pelo teste t-student. ÁGUA A densidade de CTe na água marinha de Manguinhos atingiu valores entre ≤ 3 a ≥2400 NMP/mL, sendo os maiores valores encontrados nos pontos localizados no deságüe dos Córregos Irema e Laripe e no ponto 3C. De acordo com os padrões estabelecidos pela Resolução CONAMA nº 274/00 os pontos LA, IR e 3C podem ser classificados como impróprios ao banho. Os demais pontos podem ser classificados como próprios ao banho, sendo que os pontos 1A, 1B, 1C, 2B e 2C também classificados como de excelente qualidade. Os Córregos Irema, Laripe e Maringá foram adotados como fontes pontuais de contaminação, pois recebem contribuições de efluente doméstico e água de drenagem, que aumentam a concentração de microrganismos patogênicos na água. Como os locais de deságüe desses córregos são 68 utilizados para o lazer, especialmente por crianças, há o risco de veiculação de doenças pelos elevados níveis de contaminação encontrados nessas áreas. O ponto 3C apresentou densidade de CT na areia superior aos demais pontos e densidade de CTe elevada na água e na areia em relação aos demais pontos. Este ponto pode ser influenciado pelo deságüe do Rio Jacaraípe localizado o norte de Manguinhos, e pelo deságüe de efluente da rede de drenagem urbana. Tais suposições são corroboradas pelos resultados do monitoramento realizado pelo IEMA no ponto denominado Jacaraípe (JAC) (Figura 13), que apresenta histórico de má qualidade das águas marinhas, atingindo valores superiores a 16.000 NMP/100mL no verão de 2009. AREIA A densidade de coliformes termotolerantes nas areias da orla de Manguinhos, Serra-ES, atingiu valores entre ≤ 3 a 240 NMP/100g, sendo que os pontos 2C, 3A e 3C apresentaram níveis mais elevados de contaminação (Figura 13). Considerando a Resolução SMAC nº 81/00, cujo limite aceitável de contaminação por CTe é de 400 NMP/100g, as areias da orla de Manguinhos podem ser classificadas como próprias para o uso, sendo tal classificação corroborada pelos valores de CT e por outros estudos no litoral brasileiro. Os resultados obtidos por RIBEIRO (2002) mostram valores de 10 a 104 NMP/100g de CTe nas areias da praia de Camburi (Vitória/ES), que quando comparados com os padrões definidos pela Resolução SMAC 81/00, classificam as areias como próprias ao uso. Nas praias de São Paulo a densidade de CTe nas areias variou de 248 a 16.500 NMP/100g3 no monitoramento realizado por SANCHEZ et al. (1986), e de 103 a 106 NMP/100g, nos estudos realizados por SATO et al. (2005). Nas praias de Fortaleza (CE) VIEIRA et al. (2007) encontraram resultados semelhantes aos das praias paulistas. A praia de Meireles e do Futuro a densidade de CTe variou, respectivamente, de < 30 a 4.600 NMP/100g e de < 30 a 1.500 NMP/100g. 3 Média geométrica. 69 Os níveis de coliformes termotolerantes encontrados nas praias do litoral do Rio Grande do Sul, estudadas por RECHDEN-FILHO (2002), variaram de 02 a 11 NMP/100g, sendo valores muito inferiores aos identificados no litoral nordeste. A região Sul do Brasil apresenta condições climáticas distintas que podem refletir na qualidade microbiológica das areias. As características da praia determinam, até certo ponto, a susceptibilidade da praia à contaminação. Praias com elevado hidrodinamismo, por exemplo, tendem a ser menos susceptíveis à contaminação, pois a areia é constantemente lavada pela água do mar. No caso de praias mais calmas, a areia permanece mais tempo sem revolvimento, o que propicia o desenvolvimento de microrganismos patogênicos. A orla de Manguinhos, por sua hidrodinâmica, é considerada intermediária, com isso a dispersão da contaminação a partir de fontes pontuais é limitada em algumas áreas. Esse fator permite que, sob certas condições, a contaminação fique acumulada em áreas específicas e apresentando gradiente de contaminação a partir de cada fonte pontual de contaminação. A areia da orla de Manguinhos apresentou níveis de contaminação inferiores aos constatados na água. Entretanto pode-se observar que os pontos de maior contaminação da areia e água não estão associados a maior freqüência de usuários, mas pela localização próxima ao deságüe de efluentes. Essa constatação permite inferir que a principal fonte de contaminação da orla de Manguinhos é o deságüe de efluentes na costa. Portanto, a influência das ações dos usuários na qualidade da areia é inferior a influência dos efluentes. Desta forma, a extinção dos pontos de descarte de efluentes na costa ou o tratamento prévio dos mesmos poderá reduzir o risco de veiculação de doenças relacionadas ao lazer na praia, ou seja, melhorar a balneabilidade da orla de Manguinhos. A maioria dos estudos que compara a contaminação da água com a da areia em pontos próximos revela uma contaminação superior da areia em relação a da água, indicando, assim, um processo de acumulação na areia ou 70 fontes distintas de contaminação. No caso da orla de Manguinhos a contaminação fecal da água foi igual ou superior a da areia, sendo até 267 vezes superior em relação a CT e até 56 vezes superior em relação CTe. Exceto o ponto 2C onde a areia apresentou contaminação 80 vezes superior a encontrada na água. 5.1.3 BACTÉRIAS HETEROTRÓFICAS AERÓBIAS A Figura 14 apresenta a densidade de bactérias heterotróficas aeróbias viáveis presentes nas amostras de areia e água da orla de Manguinhos, enumerada por contagem direta de unidades formadoras de colônia. Figura 14. Densidade de bactérias por Contagem Padrão em Placa (CPP). O método de contagem padrão em placas (CPP) é baseado na premissa de que cada célula viável, isolada, homogeneizada em meio sólido (Agar) dará origem a uma colônia, uma vez que uma colônia provém de uma célula microbiana, e portanto, o número de unidades formadoras de colônias (ufc), 71 encontrado na areia representa a contagem de bactérias aeróbias, mesófilas que estavam presentes nas amostras (VIEIRA et al. 2002, 2007). Os resultados obtidos pela CPP nas areias da orla de Manguinhos – Serra/ES variaram de 0 a 250.000 ufc/g. Os resultados na água do mar foram inferiores aos da areia, atingindo no máximo 70.000 ufc/g. Não existe padrão ou valores de referência para classificação das areias, a partir dos resultados de bactérias aeróbias em geral, pois predominam referências de grupos específicos como coliformes e enterococos. Entretanto, os resultados de Manguinhos podem ser comparados com os resultados obtidos por VIEIRA et al. (2007) nas praias de Fortaleza-CE. A densidade de bactérias heterotróficas aeróbias nas areias da praia do Futuro variaram de < 10 a 230.000 ufc/g, e na Praia do Meireles de <10 a 520.000 ufc/g (VIEIRA et al. 2007), sendo valores semelhantes aos encontrados na orla de Manguinhos. Estudos realizados quanto a qualidade microbiológica de areia de praias internacionais, em geral, utilizam metodologias que expressam os resultados em ufc/100g ou ufc/g, além de transformações logarítmicas que expressam os dados em Log ufc/100g ou Log ufc/g. Mesmo assim, não há como comparar os dados obtidos por CPP na orla de Manguinhos com os resultados desses estudos, pois os trabalhos em praias internacionais se referem à enumeração de indicadores específicos (Enterococos, Coliformes e outros). Ainda assim, a comparação dos resultados obtidos pela técnica de NMP e de CPP mostrou ser relevante, pois foi observado que utilizando o método de CPP os valores encontrados na areia é superior aos encontrados nas amostras de água. O oposto ocorre quando é utilizada a tácnica de NMP, indicando que a CPP pode ser mais eficiente que a utilização de NMP na análise da areia. 72 5.1.4 COLORAÇÃO DE GRAM As bactérias isoladas a partir da cultura em placas foram submetidas a coloração de Gram, cujos resultados estão apresentados na figura 15, sendo resumidos por estação de amostragem. Figura 15: Resultados da coloração de Gram das bactérias isoladas das amostras de areia e água marinha nas estações de amostragem 1, 2 e 3 da orla de Manguinhos. A coloração de Gram permitiu verificar que a maioria das bactérias heterotróficas aeróbias encontradas na areia da praia são gram positivas. Esse grupo inclui o gênero Enterococcus que são um problema global e têm sido isolados com alta frequência nos hospitais do Brasil (CAMARGO 2005). Esse gênero é adotado pela legislação nacional e internacional como indicador de qualidade da água marinha, entretando, na maioria dos estados brasileiros ainda é utilizado o grupo coliformes em monitoramentos de balneabilidade. 5.1.5 ABUNDÂNCIA DE ESPÉCIES A areia e a água marinha da orla de Manguinhos– Serra/ES apresentaram resultados distintos em relação a abundância das espécies, com dominância de grupos distintos de bactérias em cada meio (Figura 16). 73 Figura 16. Abundância de espécies de bactérias encontradas na areia e na água marinha da orla de Manguinhos, Serra (ES). Na água marinha o indicador E. coli é mais abundante que outros organismos. Portanto a análise desse indicador pode refletir os níveis de contaminação da água do mar. Já nas areias da orla de Manguinhos o indicador E. coli não foi dominante e apresentou abundância semelhante a apresentada por Klebisiella. Tais resultados podem indeicar que os parâmetros 74 microbiológicos comumente utilizados para monitoramento da água do mar, talvez não sejam os mais adequados para análise da areia de praia. A abundância de espécies de certos grupos tem sido utilizada para a identificação da origem dos microrganismos patogênicos encontrados no ambiente costeiro. Fezes de animais e de seres humanos, por exemplo, apresentam padrões de dominância distintos para o gênero Enterococcus. A predominância das espécies E. faecalis e E. faecium são consideradas mais específicas dos humanos, enquanto a predominância de espécies com E. avium e E. raffinosus tem sido associada a contaminação por fezes de animais (CARDOSO-DE-OLIVEIRA & PINHATA 2008). 5.2 HIDRODINÂMICA Os dados utilizados para análise da hidrodinâmica do litoral de Manguinhos – Serra/ES foram levantados pelo Projeto de Gerenciamento da Poluição Costeira e de Águas do Estado do Espírito Santo - Projeto Águas Limpas, realizado pelo Governo do Estado em conjunto com o Banco Mundial (BIRD) e outras instituições parceiras. O Projeto Águas Limpas contempla, dentre outros estudos, a modelagem computacional de dados ambientais da Baía de Vitória e Guarapari, Bacias Hidrográficas dos Rios Reis Magos, Jacaraípe, Jucu e córregos da região de Manguinhos e o sistema costeiro que compõem essas áreas. O programa utilizado para elaboração da modelagem computacional é o SISBAHIA 5.1 com a interface gráfica do software SURFER 7.0. Conforme o modelo hidrodinâmico do padrão de corrente em condição de baixamar em uma maré de sizígia para a Região do Rio Jacaraípe, a direção predominante da corrente é para o sul, com velocidade reduzida próximo ao deságüe dos Córregos Irema, Laripe e Maringá. Os resultados obtidos no presente estudo seguem de acordo com a hidrodinâmica estudada para a região pela modelagem computacional (Figuras 17 e 18). 75 Velocidade (m/s) 0.80 0.70 0.60 0.50 0.40 0.30 0.25 0.20 0.15 0.10 0.09 0.08 0.07 0.06 0.05 0.04 0.03 0.02 0.01 0.00 Oceano Atlântico Figura 17. Modelo hidrodinâmico do padrão de corrente em condição de baixamar em uma maré de sizígia para a Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos (Fonte: Núcleo de Modelagem / IEMA). 76 Figura 18. Detalhe do ponto 3 (a) e pontos 1 e 2 (b) do modelo hidrodinâmico do padrão de corrente em condição de baixamar em uma maré de sizígia para a Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos (Fonte: Núcleo de Modelagem / IEMA). Em condições de meia maré enchente, as correntes predominantes se mantém em direção ao sul. No caso do ponto 3, que compreende a área de deságüe do Córrego Laripe, a influência deste córrego é limitada até o ponto 3B (Figura 19 e 20). O ponto 3C apresenta resultados distintos dos demais pois sofre influência predominante de fontes localizadas a norte, devido às condições hidrodinâmicas locais. 77 Velocidade (m/s) 0.80 0.70 0.60 0.50 0.40 0.30 0.25 0.20 0.15 0.10 0.09 0.08 0.07 0.06 0.05 0.04 0.03 0.02 0.01 0.00 Oceano Atlântico Figura 19. Modelo hidrodinâmico do padrão de corrente em condição de meia maré enchente em uma maré de sizígia para a Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos (Fonte: Núcleo de Modelagem / IEMA). 78 Figura 20. Detalhe do ponto 3 (a) e pontos 1 e 2 (b) do modelo hidrodinâmico do padrão de corrente em condição de meia maré enchente em uma maré de sizígia para a Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos (Fonte: Núcleo de Modelagem / IEMA). As análises microbiológicas mostraram que o ponto 3C distintingui-se dos demais pontos próximos ao Córrego Irema, apesar de inicialmente ter sido considerado sob influência desse córrego. Como pode ser visto no gráfico apresentado na figura 13, a densidade de coliformes termotolerantes da água coletada no ponto 3C assemelhou-se àquela encontrada no ponto JAC, monitorado pelo IEMA. O ponto JAC sofre influencia das águas do Rio Jacaraípe, que são direcionadas para o sul pelo anteparo posto a foz do rio (Figura 21). 79 Figura 21. Localização dos pontos amostrais em relação ao Rio Jacaraípe, e em detalhe o anteparo que direciona o fluxo da água (as setas indicam a direção da corrente). 5.3 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS ÁGUA Os resultados das análises físico-químicas da água da praia de Manguinhos estão apresentados na Figura 22 (a - f). O pH da água marinha da Orla de Manguinhos atingiu valores entre 6,0 e 8,5, sendo os menores valores encontrados no deságüe dos Córregos Irema, Laripe e Maringá e em pontos adjacentes. A temperatura da água variou de 25 a 27,5 ºC. A salinidade variou de 0,0 a 35,4 ppt, e a condutividade elétrica atingiu valores entre 0,0 a 52,5 ms. O oxigênio dissolvido varou de 0,17 a 7,77 mg/L e a saturação de oxigênio de 1,8 a 109,7%. 80 81 Figura 22. Dados físico-químicos da água do mar em Manguinhos: (a) pH, (b) Temperatura, (c) Oxigênio Dissolvido (OD), (d) Saturação de oxigênio, (e) Salinidade, e (f) Condutividade Elétrica (CE) (* Significativo a 5% de probabilidade pela ANOVA). Nos pontos amostrais localizados na foz dos Córregos Laripe, Irema e Maringá em Manguinhos – Serra/ES, observa-se os menores valores de salinidade e condutividade, indicando o aporte de água doce a partir desses efluentes. O ponto 2A apresenta maior influencia do Córrego Maringá que o ponto 1C localizado ao sul do córrego, o que indica uma tendência de 82 dispersão para o norte nessa área. Esta tendência também é vista nos resultados microbiológicos, nos quais o ponto 2A exibe resultados superiores ao ponto 1C. Salinidade (ups) 35.00 33.00 31.00 29.00 27.00 25.00 23.00 21.00 19.00 17.00 15.00 13.00 11.00 9.00 7.00 5.00 3.00 1.00 0.00 Oceano Atlântico Figura 23. Isolinhas de salinidade em instante de meia-maré vazante de sizígia na Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos. As linhas em vermelho destacam os limites entre águas doces (região mais a esquerda), salobras (entre as linhas em vermelho) e salinas (a direita da isolinhas de 30 UPS) (Fonte: Núcleo de Modelagem / IEMA). 83 Figura 24. Detalhe da região do ponto 3 (a) e dos pontos 1 e 2 (b) no Modelo de isolinhas de salinidade em instante de meia-maré vazante de sizígia na Região Litorânea de Jacaraípe e Manguinhos (Fonte: Núcleo de Modelagem / IEMA). Os dados de salinidade encontrados em todos os pontos amostrais, estão em conformidade com o modelo de isolinhas de salinidade proposto para a área (Figuras 23 e 24). De acordo com o modelo são esperados valores de salinidade mais baixos nos pontos LA, MA e IR, e valores intermediários nos pontos 2A, 2B e 3A, dada a hidrodinâmica local e a porte de água doce dos córregos. 84 TESTE DE CORRELAÇÂO A análise de correlação de Pearson, apresentada na tabela 2, mostrou que os parâmetros pH e salinidade apresentaram correlação significativa com quase todos os outros parâmetros analisados. A temperatura não apresentou correlação com os demais parâmetros. Tabela 2: Análise de correlação de Pearson a 1% (**) e 5% (*) de probabilidade para os parâmetros físico-químicos da água da orla de Manguinhos, Serra/ES. Parâmetros físico-químicos da água pH OD pH OD SO S CE Temp - 0.9261** 0.9282** 0.8927** 0.9105** 0.1577ns - 0.9979** 0.9539** 0.8789** 0.0896ns - 0.9686** 0.8992** 0.1243ns - 0.9392** 0.2294ns - 0.2595ns SO S CE Temp ns : Não significativo AREIA Os resultados das análises físico-químicas da areia da praia de Manguinhos estão apresentados graficamente nas figuras 25 e 26 e a tabela 3 apresenta um resumo dos valores mínimos e máximos encontrados para cada parâmetro. 85 Tabela 3: Valores mínimos e máximos dos resultados da análise química da areia da orla de Manguinhos – Serra/ES. Parâmetros Mínimo Máximo pH 7,6 8,5 P (mg/dm3) 4,0 9,0 Mg (cmolc/dm3) 0,5 3,6 Na (cmolc/dm3) 1,5 1,3 Ca (cmolc/dm3) 1,4 2,2 K (mg/dm3) 19 182 V (%) 100 100 C (%) 0,1 0,3 MO (g/dm3) 1,7 4,5 Fe (mg/dm3) 5,0 19,0 Mn (mg/dm3) 14,8 44,4 S (mg/dm3) 30,1 196,8 Zn (mg/dm3) 0,0 4,8 B (mg/dm3) 0,57 0,86 Cu (mg/dm3) 0,1 0,1 Al (cmolc/dm3) 0,0 0,0 H+Al (cmolc/dm3) 0,0 0,0 S.B. (cmolc/dm3) 3,6 19,4 T (cmolc/dm3) 3,6 19,4 t (cmolc/dm3) 3,6 19,4 m (%) 0,0 0,0 86 Figura 25. Dados físico-químicos da areia da praia de Manguinhos: pH, P, Mg, Na, Ca, K, S.B., e C. 87 Figura 26. Dados físico-químicos da areia da praia de Manguinhos: M.O., Fe, Mn, S, Zn e B. Não existem referências quanto a parâmetros químicos de areia de praia. Apenas o estudo conduzido por ANDRAUS (2008) analisa, comparativamente, parâmetros químicos e microbiológicos das areias no estudo das praias do Paraná. Para a análise dos parâmetros não contemplados por ANDRAUS (2008), foram utilizados padrões para solos agrícolas. 88 Os parâmetros pH, P, Mg, Ca, e S.B., apresentaram resultados semelhantes ao identificado por ANDRAUS (2008). Já os parâmetros Na e K apresentaram valores superiores no presente estudo. O oposto ocorreu com o parâmetro C, onde os valores obtidos nesse estudo foram inferiores aos obtidos por ANDRAUS (2008). De acordo com os padrões estabelecidos para solos arenosos destinados à agricultura, a alcalinidade apresentada pelas areias da orla de Manguinhos é considerada elevada, o que é comum em solo salino ou sódico. O elevado valor do pH também pode estar relacionado a deficiência de P, altos valores de Ca, Mg e K e alta saturação por bases, o que ocorreu na maioria das amostras de Manguinhos (CAMARGOS 2005). O pH tem um efeito importante na distribuição dos metais no solo, com implicações relevantes na retenção e mobilidade desses elementos, principalmente em solos contaminados (ANDRÉ et al. 2003). O pH elevado causa a precipitação dos cátions metálicos sobre óxidos de Mn e de Fe cristalinos e amorfos, decrescendo, por sua vez, a forma trocável e a forma ligada à matéria orgânica (ZHANG et al. 1997, ANDRÉ et al. 2003). O teor de S encontrado no ponto 3 em Manguinhos pode ser considerado elevado, pois quando comparado ao valor de referência para solos agrícolas excede em até 19 vezes o limite de 10 mg/dm3. Os valores elevados de S encontrados no ponto 3 está associados ao descarte de efluente doméstico neste ponto. Os resultados da análise qímica da areia da Orla de Manguinhos permitiu distinguir as duas estações de amostragem, especialmente em relação ao teor de enxofre. A estação de amostragem 1, que inclui os pontos 1A, 1A' e 1B, apresentou valores em geral inferiores aos encontrados na estação 3 (pontos 3A, 3A' e 3B). 89 5.5 USO E OCUPAÇÂO DO SOLO A bacia de drenagem do Córrego Irema é ocupada principalmente por loteamentos residenciais e industrias e comércios de pequeno porte. Inclui, principalmente, os seguintes loteamentos: Feu Rosa, Estados Unidos, Sítio Irema, Portal de Jacaraípe e Castelândia no município da Serra - ES. Em toda a extensão do Córrego Irema são identificadas áreas de ocupação urbana consolidada, sendo possível o descarte de efluentes urbanos e industriais diretamente sobre o corpo hídrico. De acordo com a Companhia Espírito Santense de Saneamento (CESAN), a rede pública de coleta de esgoto nesta localidade foi implantada recentemente, atendendo toda a área. A rede conta com tubulações para transporte de esgoto bruto e 3 Estações Elevatórias de Esgoto Bruto (EEEB – Curva da Baleia, Leão Castelo, Portal de Jacaraípe) que conduzem o efluente e uma Estação de Tratamento de Esgoto em, pois a ETE de Castelândia encontra-se desativada. A EEEB – Curva da Baleia está localizada próximo ao deságüe do Córrego Irema no bairro Castelândia, onde predominam casas residências e de veraneio. Neste caso, se a rede apresentar problemas no funcionamento poderá ocorrer contaminação do córrego e da praia. Como a rede de coleta de esgoto foi instalada recentemente, ela provavelmente não atende a todas as residências, pois em geral os munícipes demoram em efetuar a ligação das casas com a rede pública, protelando assim, o pagamento das taxas devidas à CESAN. O ponto 3C está localizado próximo a EEEB – Leão Castelo e possivelmente em frente a um ponto de lançamento do efluente da rede pluvial (Figura 27). É conhecida a prática de ligações clandestinas de esgoto na rede pluvial do município da Serra e em outras localidades. Esta prática tem como conseqüência a contaminação da praia, especialmente em períodos de chuva. 90 Figura 27. Localização dos pontos amostrais em relação as Estações Elavatória de Esgoto no loteamento Castelândia. O presente estudo idenfificou que os Córregos Irema, Maringá e Laripe funcionam como fontes pontuais de contaminação da orla de Manguinhos, mas para melhor caracterização dessa contaminação faz-se necesário estudos mais detalhados e prolongados e que englobem também as fontes difusas de contaminação. 91 6 CONCLUSÃO A água marinha e as areias da orla de Manguinhos apresentam qualidade microbiológica boa, exceto nos pontos próximos ao deságüe dos Córregos Irema e Laripe. Os Córregos Maringá, Laripe e Irema funcionam como fontes pontuais de contaminação microbiológica para a orla de Manguinhos. A contaminação microbiológica das areias da orla de Manguinhos foi melhor analisada com o uso da metodologia de cultivo e contagem padrão em placas. A análise físico-química da areia fornece informações relevantes, sendo uma ferramenta útil na análise da qualidade da areia de praia. Entretanto, como é pouco utilizada e a comparação dos resultados é limitada. O Programa de Balneabilidade atualmente em funcionamento no Estado do Espírito Santo é ineficaz, não atendendo as principais necessidades que o tema exige. 92 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS A qualidade da água e areia da orla de Manguinhos pode ser considerada própria ao contato primário no período de estudo, com base nos padrões exigidos pela resolução CONAMA nº 274/2000, exceto nos pontos localizados no deságüe dos Córregos Irema e Laripe e ponto 3C. Entretanto, existem ressalvas na interpretação dos resultados pois o período de estudo não contemplou o período do verão que tende a apresentar valores superiores ao restante do ano. As análises físico-químicas foram pontuais fazendo-se necessário análises periódicas e a comparação com áreas não contaminadas a fim de possibilitar a utilização desses parâmetros na qualificação das areias de praias. Diversos outros fatores e parâmetros ambientais devem ser estudados em conjunto com as condições microbiológicas da água e areia de praia. Os estudos epidmiológicos também devem ser priorizados, pois relacionam a incidência de doenças em usuários de praia com os níveis de contaminação devem, fornecendo subsídios para a gestão. 93 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABAE – Associação Bandeira Azul da Europa. 2007. Monitorização da qualidade das areias em zonas balneares. Lisboa. ALERJ - Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro: Comissão de Defesa do Meio Ambiente. Relatório da qualidade da areia das praias da Guanabara. 2006. ALM, E.W.; BURKE, J.; SPAIN, A. 2003. Fecal indicator bacteria are abundante in wet sand at freshwater beaches. Water Research, Michigan. N.37, p 3978-3982. ANDRAUS, S. 2006. Aspectos microbiológicos da qualidade sanitária das águas do mar e areias das praias de Matinhos, Caiobá e Guaratuba-PR. Dissertação de mestrado em Ciência do solo, Universidade Federal do Paraná. ARAÚJO, M. C. B.; COSTA, M. 2007. Visual diagnosis of the solid wastes contamination of a turist beach in Brazil. 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SMAC - SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE. Resolução nº 81 de 28 de dezembro de 2000. Limites máximos de colimetria a serem 103 utilizados na classificação da areia para recreação de contato primário. Diário oficial do município do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 28 dez. 2000. SOMERVILLE, S.E.; MILLER, K.L.; MAIR, J.M. 2003. Assessment of the aesthetic quality of a selection of beaches in the Firth of Forth, Scotland. Marine Pollution Bulletin, v. 46, p. 1184-1190. STEWART, J.R.; GAST, R.J.; FUJIOKA, R.S.; SOLO-GABRIELE, H.M.; MESCHKE, J.S.; AMARAL-ZETTLER, L.A.; CASTILLO, E.D.; POLZ, M.F.; COLLIER, T.K.; STROM, M.S.; SINIGALLIANO, C.D.; MOELLER, P.D.R.; HOLLAND, A.F. 2008. The coastal environment and human health: microbial indicators, pathogens, sentinels and reservoirs. Environmental Health, 7 (Suppl 2): S3. VASCONCELLOS, F.C.; IGANCI, J.R.V.; RIBEIRO,G.A. 2006. Qualidade microbiológica da água do Rio São Lourenço, São Lourenço do Sul, Rio Grande do Sul. Arq. Inst. 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Arquivos de Ciências do Mar, Fortaleza, v. 35, p. 113-118. VIEIRA, R.H.S.F.; RODRIGUES, D.P.; MENEZES, E.A.; EVANGELISTA, N.S.S.; REIS, E.M.F.; MELO, L.B.; GONÇALVES, F.A. 2001. Microbial contamination of sand from major beaches in Fortaleza, Ceará State, Brazil. Revista de Microbiologia, São Paulo, v. 32, n. 2, p. 77-80. VOGEL, C.; ROGERSON, A.; SCHATZ, S.; LAUBACHE, H.; TALLMANF, A.; FELLF, J. 2007. Prevalence of yeasts in beach sand at three bathing beaches in south Florida. Water Res., 41(9):1915–1920. WETZEL, L.; FILMANN, G.; NIENCHESKI, L.F.H. 2004. Litter contamination processes and management perspectives on the southern Brazilian coast. International Journal of Environmental and Pollution, v. 21, nº 2, p. 153-164. 105 ANEXO 1 RESOLUÇÃO CONAMA Nº 274 DE 29 DE NOVEMBRO 2000 Publicada no DOU de 8 de janeiro de 2001 O Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA, no uso das competências que lhe são conferidas pela Lei nº 6938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, e tendo em vista o disposto na Resolução CONAMA nº 20, de 18 de junho de 1986 e em seu Regimento Interno, e CONSIDERANDO que a saúde e o bem-estar humano podem ser afetados pelas condições de balneabilidade; CONSIDERANDO ser a classificação das águas doces, salobras e salinas essencial à defesa dos níveis de qualidade, avaliados por parâmetros e indicadores específicos, de modo a assegurar as condições de balneabilidade; CONSIDERANDO a necessidade de serem criados instrumentos para avaliar a evolução da qualidade das águas, em relação aos níveis estabelecidos para a balneabilidade, de forma a assegurar as condições necessárias à recreação de contato primário; CONSIDERANDO que a Política Nacional do Meio Ambiente, a Política Nacional de Recursos Hídricos e o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC) recomendam a adoção de sistemáticas de avaliação da qualidade ambiental das águas. RESOLVE: Art. 1º Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições: a) águas doces: águas com salinidade igual ou inferior a 0,50º/00; b) águas salobras: águas com salinidade compreendida entre 0,50º/00 e 30º/00; c) águas salinas: águas com salinidade igual ou superior a 30º/00; d) coliformes fecais (termotolerantes): bactérias pertencentes ao grupo dos coliformes totais caracterizadas pela presença da enzima ß-galactosidade e pela capacidade de fermentar a lactose com produção de gás em 24 horas à temperatura de 44-45°C em meios contendo sais biliares ou outros agentes tenso-ativos com propriedades inibidoras semelhantes. Além de presentes em fezes humanas e de animais podem, também, ser encontradas em solos, plantas ou quaisquer efluentes contendo matéria orgânica; e) Escherichia coli: bactéria pertencente à família Enterobacteriaceae, caracterizada pela presença das enzimas ß-galactosidade e ß-glicuronidase. Cresce em meio complexo a 44-45°C, fermenta lactose e manitol com produção de ácido e gás e produz indol a partir do aminoácido triptofano. A Escherichia coli é abundante em fezes humanas e de animais, tendo, somente, sido encontrada em esgotos, efluentes, águas naturais e solos que tenham recebido contaminação fecal recente; 106 f) Enterococos: bactérias do grupo dos estreptococos fecais, pertencentes ao gênero Enterococcus (previamente considerado estreptococos do grupo D), o qual se caracteriza pela alta tolerância às condições adversas de crescimento, tais como: capacidade de crescer na presença de 6,5% de cloreto de sódio, a pH 9,6 e nas temperaturas de 10° e 45°C. A maioria das espécies dos Enterococcus são de origem fecal humana, embora possam ser isolados de fezes de animais; g) floração: proliferação excessiva de microorganismos aquáticos, principalmente algas, com predominância de uma espécie, decorrente do aparecimento de condições ambientais favoráveis, podendo causar mudança na coloração da água e/ou formação de uma camada espessa na superfície; h) isóbata: linha que une pontos de igual profundidade; i) recreação de contato primário: quando existir o contato direto do usuário com os corpos de água como, por exemplo, as atividades de natação, esqui aquático e mergulho. Art. 2º As águas doces, salobras e salinas destinadas à balneabilidade (recreação de contato primário) terão sua condição avaliada nas categorias própria e imprópria. § 1º As águas consideradas próprias poderão ser subdivididas nas seguintes categorias: a) Excelente: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no máximo, 250 coliformes fecais (termotolerantes) ou 200 Escherichia coli ou 25 enterococos por l00 mililitros; b) Muito Boa: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no máximo, 500 coliformes fecais (termotolerantes) ou 400 Escherichia coli ou 50 enterococos por 100 mililitros; c) Satisfatória: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no máximo 1.000 coliformes fecais (termotolerantes) ou 800 Escherichia coli ou 100 enterococos por 100 mililitros. § 2º Quando for utilizado mais de um indicador microbiológico, as águas terão as suas condições avaliadas, de acordo com o critério mais restritivo. § 3º Os padrões referentes aos enterococos aplicam-se, somente, às águas marinhas. § 4º As águas serão consideradas impróprias quando no trecho avaliado, for verificada uma das seguintes ocorrências: a) não atendimento aos critérios estabelecidos para as águas próprias; b) valor obtido na última amostragem for superior a 2500 coliformes fecais (termotolerantes) ou 2000 Escherichia coli ou 400 enterococos por 100 mililitros; c) incidência elevada ou anormal, na Região, de enfermidades transmissíveis por via hídrica, indicada pelas autoridades sanitárias ; 107 d) presença de resíduos ou despejos, sólidos ou líquidos, inclusive esgotos sanitários, óleos, graxas e outras substâncias, capazes de oferecer riscos à saúde ou tornar desagradável a recreação; e) pH < 6,0 ou pH > 9,0 (águas doces), à exceção das condições naturais; f) floração de algas ou outros organismos, até que se comprove que não oferecem riscos à saúde humana; g) outros fatores que contra-indiquem, temporária ou permanentemente, o exercício da recreação de contato primário. § 5º Nas praias ou balneários sistematicamente impróprios, recomenda-se a pesquisa de organismos patogênicos. Art. 3º Os trechos das praias e dos balneários serão interditados se o órgão de controle ambiental, em quaisquer das suas instâncias (municipal, estadual ou federal), constatar que a má qualidade das águas de recreação de contato primário justifica a medida. § 1º Consideram-se ainda, como passíveis de interdição os trechos em que ocorram acidentes de médio e grande porte, tais como: derramamento de óleo e extravasamento de esgoto, a ocorrência de toxicidade ou formação de nata decorrente de floração de algas ou outros organismos e, no caso de águas doces, a presença de moluscos transmissores potenciais de esquistossomose e outras doenças de veiculação hídrica. § 2º A interdição e a sinalização, por qualquer um dos motivos mencionados no caput e no § 1o deste artigo, devem ser efetivadas, pelo órgão de controle ambiental competente. Art. 4º Quando a deterioração da qualidade das praias ou balneários ficar caracterizada como decorrência da lavagem de vias públicas pelas águas da chuva, ou em conseqüência de outra causa qualquer, essa circunstância deverá ser mencionada no boletim de condição das praias e balneários, assim como qualquer outra que o órgão de controle ambiental julgar relevante. Art. 5º A amostragem será feita, preferencialmente, nos dias de maior afluência do público às praias ou balneários, a critério do órgão de controle ambiental competente. Parágrafo único. A amostragem deverá ser efetuada em local que apresentar a isóbata de um metro e onde houver maior concentração de banhistas. Art. 6º Os resultados dos exames poderão, também, abranger períodos menores que cinco semanas, desde que cada um desses períodos seja especificado e tenham sido colhidas e examinadas, pelo menos, cinco amostras durante o tempo mencionado, com intervalo mínimo de 24 horas entre as amostragens. Art. 7º Os métodos de amostragem e análise das águas devem ser os especificados nas normas aprovadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial-INMETRO ou, na ausência destas, no Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater-APHAAWWA-WPCF, última edição. Art. 8º Recomenda-se aos órgãos ambientais a avaliação das condições parasitológicas e microbiológicas da areia, para futuras padronizações. 108 Art. 9º Aos órgãos de controle ambiental compete a aplicação desta Resolução, cabendo-lhes a divulgação das condições de balneabilidade das praias e dos balneários e a fiscalização para o cumprimento da legislação pertinente. Art. 10. Na ausência ou omissão do órgão de controle ambiental, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA atuará, diretamente, em caráter supletivo. Art. 11. Os órgãos de controle ambiental manterão o IBAMA informado sobre as condições de balneabilidade dos corpos de água. Art. 12. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios articular-se-ão entre si e com a sociedade, para definir e implementar as ações decorrentes desta Resolução. Art. 13. O não cumprimento do disposto nesta Resolução sujeitará os infratores às sanções previstas nas Leis nºs 6.938, de 31 de agosto de 1981; 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 e no Decreto nº 3.179, de 21 de setembro de 1999. Art. 14. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. Art. 15. Ficam revogados os arts. nºs 26 a 34, da Resolução do CONAMA nº 20, de 18 de junho de 1986. JOSÉ SARNEY FILHO Presidente do CONAMA JOSÉ CARLOS CARVALHO Secretário-Executivo 109 ANEXO 2 RESOLUÇÃO SMAC Nº 081 DE 28 DE DEZEMBRO DE 2000 Dispõe sobre a análise e informações das condições das areias das praias no Município do Rio de Janeiro. O SECRETÁRIO MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE no uso das atribuições que lhe são conferidas pela legislação em vigor e; CONSIDERANDO que a Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro determina em seu Art. 472, inciso II que o Poder Público é obrigado a garantir amplo acesso dos interessados às informações sobre fontes e causas de poluição e de degradação ambiental, os níveis de poluição, qualidade do meio ambiente, situações de risco de acidentes e a presença de substâncias potencialmente danosas à saúde na água potável, nos alimentos e nas areias das praias; CONSIDERANDO que a Constituição Federal determina em seu artigo 30, inciso I, que compete aos Municípios legislar sobre assuntos de interesse local; CONSIDERANDO a lacuna existente na legislação Federal, notadamente nas Resoluções do CONAMA, e Estadual sobre os padrões para classificação da qualidade das areias das praias; CONSIDERANDO o disposto na Lei n.º 2.138 de 11 de maio de 1994, que cria a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e estabelece em seu artigo 2o, inciso VII, que no exercício de sua competência, caberá à SMAC estabelecer padrões ambientais que terão vigor no território do Município; CONSIDERANDO a necessidade de informar a população sobre a qualidade das areias das praias do Município; CONSIDERANDO os estudos realizados pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, pelo período de um ano, em pontos de areia da Prainha e da praia de Copacabana, abrangendo zonas de areia próximo à calçada, no centro da faixa de areia e próximos ao mar, bem como nas laterais das “línguas negras”, além de outros vinte pontos nas praias oceânicas e cinco pontos nas praias no interior da Baía de Guanabara; CONSIDERANDO que a qualidade da areia da Prainha foi considerada a meta a ser atingida; CONSIDERANDO que os referidos estudos revelaram nas praias a ocorrência de densidade de coliformes totais e E.coli, que se revelaram em condições de ser indicadores de poluição; 110 RESOLVE: Art. 1o – A Secretaria Municipal de Meio Ambiente - SMAC divulgará, quinzenalmente, o Boletim de Avaliação da condição das areias das praias do Município do Rio de Janeiro, garantindo amplo acesso da informação à população. Art. 2º - Os resultados apresentados no Boletim, de que trata o artigo anterior, serão gerados a partir de análises físico-químicas e bacteriológicas das amostras de areia coletadas nas praias, verificação das condições meteorológicas, notificações de incidentes nas redes de esgotamento sanitário e drenagem e constatações visuais de interferências poluidoras. Parágrafo único - A emissão do Boletim estará sob a responsabilidade técnica de profissionais habilitados para este fim. Art. 3º - As amostras de areia serão sempre coletadas em um dos dias da semana correspondentes aos do monitoramento da balneabilidade nas praias, realizado pela SMAC. § 1o - As amostras, de que trata o caput deste artigo, serão coletadas sempre no mesmo local, no centro da faixa de areia, local mais freqüentado pelos banhistas, porém não atingido pela maré, definido por medição com a utilização de trena. § 2o - As coordenadas dos pontos de coleta de amostras serão registradas com o auxílio de um Sistema de Posicionamento Global – GPS. Art. 4o - As condições para realização da amostragem deverão atender aos seguintes critérios: I – A amostragem de areia em cada estação de coleta será realizada em área de 2 m², no centro da faixa de areia. II – As amostras deverão ser coletadas na área delimitada, de onde serão retiradas cinco sub-amostras em sua parte superficial (até 5 cm) e colocadas em frascosesterelizados com capacidade de 250 ml, que serão preenchidos até a metade III - As amostras serão acondicionadas em isopor à temperatura de 4o C e levadas ao laboratório para análise imediata. Art. 5o - As análises laboratoriais serão realizadas pelo método dos tubos múltiplos com a utilização do Caldo LMX, produzido pela Merck. Parágrafo único - As análises laboratoriais serão realizadas por laboratórios credenciados no INMETRO e contratados para este fim. Art. 6º - Os limites máximos de colimetria a serem utilizados na classificação da areia para recreações de contato primário são: 111 Coliformes Totais Coliformes Fecais (NMP/100g) (NMP/100g) **** até 10.000 até 10 *** > 10.000 a 20.000 > 10 a 200 ** > 20.000 a 30.000 > 200 a 400 * acima de 30.000 acima de 400 Classificação § 1º - Não serão recomendados contatos com areias que possuam classificação igual a *. § 2º - Também não serão recomendados contatos com areias que tenham sinais de poluição perceptíveis pelo olfato ou visão. § 3º - No caso de se constatar a presença de substância potencialmente danosa à saúde da população será adotada sinalização gráfica nas praias como advertência quanto à utilização da área em questão. § 4º - A classificação apresentada é baseada nos resultados de colimetria obtidos com o monitoramento da areia da Prainha, considerada limpa e sem influência de urbanização. Art. 7o – A classificação de que trata o artigo 6o deverá ser revista no prazo de dois anos, contados da publicação desta Resolução. Art. 8o - O Boletim de Avaliação da condição das areias das praias será utilizado para divulgação nos meios de comunicação escrita e outros. Art. 9º - Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. MAURÍCIO LOBO SECRETÁRIO MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE D.O. Rio de 29.12.2000 112 ANEXO 3 ESTAÇÕES DE MONITORAMENTO DA BALNEABILIDADE NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO DA BARRA LINHARES SÃO MATEUS CONCEIÇÃO MUNICÍPIO PONTO PRAIA – Localização COORDENADAS 18°24’49,2” S CB1 Itaúnas - Meio da praia das Dunas CB2 Itaúnas – Rio Itaúnas. Próximo à ponte no Parque de Itaúnas CB3 Guaxindiba - Em frente ao Hotel Barra Mar CB4 Praia da Barra - Fim do calçadão – Ponto mais ao Norte CB5 Praia da Barra - Em frente ao restaurante Caranguejão 39°43’51,0” W SM1 Rio Preto - Próximo à foz do rio * SM2 Guriri - Av. Oceano Atlântico, em frente à Capelinha * SM3 Guriri - Em frente à Av. Ari Paixão, ponto mais ao Sul * SM4 Praia de Barra Nova - Área do Projeto Tamar * SM5 Barra Nova - Enseada - Foz do rio Mariricu, próx. à 1ª barraca * L1 Lagoa Juparanã - Em frente à Cabana Juparanã L2 Lagoa Nova – Em frente ao Restaurante Cabana L3 Lagoa Nova – 10 metros a direita do banheiro público 39°41’51,4” W 18°25’06,2” S 39°42’24,8” W 18°33’42,0” S 39°43’52,4” W 18°34’58,9” S 39°43’50,8” W 18°34’45,1” S 19°18’17,1” S 40°05’06,5” W 19°25’05,4”S 40°09’22,7”W 19°25’05,6”S 40°09’19,1”W 113 ARACRUZ FUNDÃO SERRA L4 Pontal Ipiranga - Em frente ao acesso principal * L5 Povoação - Em frente ao acesso principal * L6 Regência - Rio Doce, no portinho, ao lado da Vila Regência * AR1 Rio Sahy - Próximo à foz do rio AR2 Barra do Sahy - Próximo ao 1º posto salvavidas AR3 Rio Guaxindiba - Próximo à foz do rio AR4 Mar Azul – Meio da Praia AR5 Coqueiral de Aracruz em frente ao Bochas Bar AR6 Santa Cruz - Em frente à manilha da rede pluvial AR7 Praia Formosa – em frente ao SESC F1 Praia Grande – À dir. da Escola Comunitária, próx. ao Casebre F2 Praia Grande - 300m à esq. da desembocadura do R. Reis Magos S1 Nova Almeida - Próximo ao Posto de Saúde S2 Nova Almeida - Quiosque Doce Mar. Próx. Hotel Praia Sol S3 Jacaraípe - Quiosque Stravagancia. Rua Caiçara 40°11’01,5” W S4 Jacaraípe - Colônia de Férias do BANESTES 20°07’11,9” S 40°10’36,1” W 19°52’24,5” S 40°04’53,4” W 19°52’47,0” S 40°05’07,9” W 19°53’08,8” S 40°05’17,3” W 19°54’53,7” S 40°05’56,9” W 19°56’14,1” S 40°08’02,0” W 19°57’13,7” S 40°09’05,5” W 19°59’16,2” S 40°08’51,7” W 20°02’22,4” S 40°11’05,3” W 20°02’44,9” S 40°11’19,7” W 20°03’33,0” S 40°11’15,0” W 20°07’11,9” S 40°10’36,1” W 20°08’14,0” S 114 VITÓRIA 20°09’36,9” S S5 Jacaraípe - Colônia de Férias da CVRD S6 Manguinhos - Em frente ao Condomínio Aida S7 Manguinhos - Primeira estação de Manguinhos S8 Bicanga - A 500m do Córrego Manguinhos S9 Lagoa Carapebus - Entre Colônia de Férias e a passarela S10 Carapebus - Restaurante GJ-Drink 's S11 Carapebus - Colônia de pescadores V1 Jardim Camburi – em frente ao campo de futebol Zé da Bola * V2 Jardim Camburi – Av. Dante Michelini, esquina com a Rua Silvino Grecco * V2 A Jardim Camburi – Av. Dante Michelini, 100m. à direita do 3° píer * V3 Jardim Camburi – Av. Dante Michelini, 100m. à esquerda do 2° píer * V4 Mata da Praia – Av. Dante Michelini, esquina com a Av. Adalberto Simão Nader * V5 Mata da Praia – Av. Dante Michelini, esquina com a Av. Nicolau Von Shilgen * V6 Jardim da Penha – Av. Dante Michelini, próximo a av. Carlos Orlando Carvalho * V7 Jardim da Penha – Av. Dante Michelini, esquina com a Rua Eugenilio Ramos * V8 Praia de Camburi – Av. Dante Michelini, 150m. à esquerda do píer de Iemanjá * V9 Praia de Camburi – Canal de Camburi, ao lado direito do píer de Iemanjá * 40°11’03,7” W 20°1126,2” S 40°11’28,8” W 20°11’53,4” S 40°11’32,8” W * 20°13’51,2” S 40°12’47,4” W * 20°14’08,7” S 40°12’56,7” W 115 VILA VELHA V10 Praia do Canto – 80m. à direita do Iate Clube * V11 Praia do Canto – 80m. à esquerda da ponte da Ilha do Frade * V12 Praia de Santa Helena – 100m. à direita da Ponte da Ilha do Frade – Praça dos Desejos * V13 Praia de Santa Helena – 200m. à esquerda das barracas da Curva da Jurema * V14 Praia de Santa Helena – Em frente às barracas da Curva da Jurema * V15 Ilha do Frade – 1ª praia à direita * V16 Ilha do Frade – Praia da Castanheira * V17 Ilha do Frade – Praia da Ilha do Frade * V18 Ilha do Boi – Praia da direita * V19 Ilha do Boi – Praia Grande * V20 Praia/Enseada do Suá – Praia do Suá/Praça do Papa * V21 Praia/Enseada do Suá – Praia do Meio (embaixo da 3ª ponte) * V22 Santo Antônio – Praia de santo Antônio / Praça Dom João Batista * V23 Canal da Passagem – Canal de Camburi / Ponte da passagem * VV1 Praia da Costa - Próximo ao clube Libanês VV2 Itapoã - Ponta de Itapuã, próximo à colônia dos Pescadores VV3 Coqueiral de Itaparica - Próximo ao Quiosque Chalezinho VV4 Barra do Jucu - Próx. ao 1º quiosque, sentido Vitória – Guarapari VV5 Lagoa Grande - Ponta da Fruta,em frente ao Bar do Camilo S 20º19’45.9” W 40º16’24.9” S 20º21’12.1” W 40º17’03.1” S 20º21’52.9” W 40º17’55.1” S 20º25’37.4” W 40º19’21.7” S 20º30’13.5” W 40º21’34.1” 116 GUARAPARI VV6 Ponta da Fruta - Próx. ao acesso principal, em frente ao Bar do Helvécio G1 Lagoa de Caraís - Meio da lagoa G2 Setiba G3 Santa Mônica - Próx. a Feira de Artesanato, em frente ao Iglu G4 Praia do Morro – Em frente ao Maison Classic G5 Praia do Morro - Em frente ao Maison Classic G6 Praia do Morro - Em frente ao Residencial Flat G7 Muquiçaba - Ao lado da marinha G8 Praia das Virtudes G9 Praia dos Namorados G10 Castanheiras - Próx. ao Clube Siribeira G11 Praia da Areia Preta - Meio da Praia G12 Enseada Azul – Em frente ao Edifício Monteiro Lobato G13 Enseada Azul – Em frente ao restaurante Sete Mares G14 Meaípe – Aproximada/ a 100m do riacho, em frente ao Hotel Gaeta S 20º31’01.3” W 40º21’40.5” * S 20º38’01.6” W 40º26’21.6” S 20º37’21.7” W 40º27’31.3” S 20º39’07.9” W 40º28’35.4” S 20º39’27.9” W 40º29’35.3” S 20º39’37.8” W 40º29’43.4” S 20º39’50.5” W 40º29’51.9” S 20º40’07.7” W 40º29’36.9” S 20°40’16,2” W 40°29’50,9” S 20º40’27.2” W 40º29’50.9” S 20º40’28.0” W 40º29’58.9” S 20º43’39.9” W 40º31’31.1” S 20º43’57.6” W 40º31’51.2” S 20º44’17.7” W 40º32’17.8” 117 ANCHIETA PIÚMA ITAPE-MIRIM MARATAÍZES AN1 Ubu - Praça em frente ao abrigo de ônibus AN2 Parati – próximo ao camping AN3 Castelhanos - Em frente ao 2ª chuveiro, sentido Vitória- Anchieta AN4 Anchieta - Praia Central - Meio da Praia AN5 Iriri - Em frente à praça, próx. ao Res. Cheiro de Mar AN6 Iriri - Areia Preta, próximo às pedras, quiosque Ja1000 P1 Piúma - Prainha em frente a R. da Escola de Pesca P2 Piúma - Quiosque do Gelson, meio da praia I1 Itaipava - Meio da praia, em frente ao Mineiro's Bar nº 500 S 20º48’06.3” W 40º35’39.3” S 20º48’15.1” W 40º36’11.1” S 20°50’03,7” W 40°37’28,8” S 20º48’23.6” W 40º38’57.0” S 20º49’52.0” W 40º41’38.9” S 20°49”57,5” W 40°41”51,7” S 20º50’29.4” W 40º43’30.3” S 20º50’56.1” W 40º44’45.0” S 20º53’36.8” W 40º46’27.0” S 20º54’30.9” I2 Itaoca - em frente ao Camping M1 Areia Preta - Em frente ao Bar Verão, meio da praia M2 Marataízes - Meio da praia, em frente ao Bar Chalé M3 Marataízes – Praia Cidade Nova, em frente ao Quiosque Toa Toa M4 Lagoa do Siri – Em frente ao Caiacos Bar W 40º46’59.3” S 21º02’14.3” W 40º49’06.5” S 21º02’42.4” W 40º49’43.2” S 21º03’06.8” W 40º49’54.5” S 21º06’24.1” W 40º51’10.6” 118 PRESIDENTE KENNEDY PK1 Praia de Marobá - em frente ao 2º quiosque, meio da praia PK2 Praia das Neves -Meio da praia, em frente ao Rest. do Ivo S 21º11’27.7” W 40º55’40.7” S 21°16’37,8” W 40°57’44,8” * Informação não encontrada 119 Livros Grátis ( http://www.livrosgratis.com.br ) Milhares de Livros para Download: Baixar livros de Administração Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral Baixar livros de Ciência da Computação Baixar livros de Ciência da Informação Baixar livros de Ciência Política Baixar livros de Ciências da Saúde Baixar livros de Comunicação Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE Baixar livros de Defesa civil Baixar livros de Direito Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia Baixar livros de Economia Doméstica Baixar livros de Educação Baixar livros de Educação - Trânsito Baixar livros de Educação Física Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmácia Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Física Baixar livros de Geociências Baixar livros de Geografia Baixar livros de História Baixar livros de Línguas Baixar livros de Literatura Baixar livros de Literatura de Cordel Baixar livros de Literatura Infantil Baixar livros de Matemática Baixar livros de Medicina Baixar livros de Medicina Veterinária Baixar livros de Meio Ambiente Baixar livros de Meteorologia Baixar Monografias e TCC Baixar livros Multidisciplinar Baixar livros de Música Baixar livros de Psicologia Baixar livros de Química Baixar livros de Saúde Coletiva Baixar livros de Serviço Social Baixar livros de Sociologia Baixar livros de Teologia Baixar livros de Trabalho Baixar livros de Turismo