CRESCIMENTO URBANO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Joilson Pessanha 1 CRESCIMENTO URBANO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Joilson Pessanha 2006 FBN 573.116 2 INTRODUÇÃO Nos últimos tempos, muito se tem discutido sobre a preocupação e importância do desenvolvimento e crescimento das cidades e do meio ambiente. A noção de desenvolvimento sustentável procura vincular estreitamente a temática do crescimento econômico com a do meio ambiente. Mais recentemente, ao enfoque urbano incorporou-se o ambiental, noção que, ao longo do tempo, passa a expressar um só objeto: urbano/ambiental. Com efeito, a problemática sócio-ambiental urbana “soa” como uma roupagem da moda para as velhas questões sociais (urbanas) (COSTA, 1999, p. 59). A ocupação das áreas vazias nas cidades, sem um prévio planejamento, causa problemas ambientais e conseqüentemente afeta a qualidade de vida da população. Conforme Jacobi (1999), estes problemas decorrem do impacto da urbanização predatória sobre o ecossistema e refletem os efeitos da ausência ou inadequação de políticas que atendam ao déficit habitacional cada vez mais acentuado. A sustentabilidade está baseada numa inter-relação entre justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a necessidade de desenvolvimento como tendo uma capacidade de suporte (JACOBI, 1999). A preocupação com o tema do desenvolvimento sustentável não diz respeito apenas à preocupação em manter o que se tem disponível no meio ambiente, mas também o alcance e limites das ações para reduzir o impacto dos danos na vida urbana cotidiana. O desafio do desenvolvimento sustentável tornou-se o foco das discussões em 1992, no Rio de Janeiro, onde foi realizada a maior das Conferências das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável até então. A preocupação com o meio ambiente passou a constituir uma preocupação não apenas dos países ricos, mas também dos países pobres. 3 Com a realização desta conferência, não restou dúvidas de que as relações que se impõem entre o homem e seu ambiente são constantes e que estão presentes em qualquer atividade durante nossa rotina. Partindo deste princípio, as políticas, as estratégias e as iniciativas de intervenção, formuladas pelos diversos setores, trazem o enfoque do desenvolvimento sustentável a ser aplicado no âmbito do crescimento urbano. Baseado nisso, este trabalho mostrará a importância de se adotar estratégias que enfatizem a igualdade social, procurando elevar as condições de vida da população, colocando não só o crescimento econômico como uma condição fundamental para que isso ocorra, mas sim destacando as condições de preservação ambiental como necessárias e, fundamentalmente, adotando uma perspectiva de desenvolvimento comprometida com as gerações futuras. No primeiro capítulo será apresentado o conceito de Crescimento Urbano, abordando o crescimento urbano no Brasil e a questão da urbanização. No segundo capítulo será abordada a questão do Desenvolvimento Sustentável, apresentando a Agenda 21 brasileira. No terceiro capítulo serão apresentados os problemas ambientais no município do Rio de Janeiro, abordando a questão da ocupação dos espaços, coleta e destinação do lixo, recursos hídricos e recursos ambientais. Como orientação metodológica, o estudo se dará com base em pesquisa bibliográfica abordando os principais autores conceituados na área, bem como artigos, textos, revistas eletrônicas entre outros, conservando a fidelidade dos autores consultados. 4 1. CRESCIMENTO URBANO A evolução da civilização ocorreu de forma diversa em diferentes períodos históricos. Neste sentido, Laurie (1983) aponta quatro principais estágios do relacionamento do homem com o meio: preocupação com as forças da natureza, quando, nos primórdios da sua existência, o ser humano desconhecia os processos naturais, praticando quase que exclusivamente atividades extrativistas, as quais, dada a sua escala, ainda provocavam impactos pouco relevantes; crescimento autoconfiante, viabilizado com base no aprendizado de práticas agropastoris, que promoveram, em última instância, o próprio surgimento das cidades como suporte permanente para estas atividades; agressões e conquistas, efetivadas a partir do aprimoramento de diversas técnicas, entre as quais estão inclusas as de ordem urbanística, gerando interferências significativas sobre o meio; responsabilidade e unificação, correspondente ao estabelecimento de amplo processo de retomada de consciência, especialmente ambiental, em nível planetário. Em relação aos estágios anteriormente citados, Hardt (2000) indica os seguintes períodos na evolução do processo de urbanização: início do conhecimento prático da ecologia e do urbanismo; domínio de técnicas simples, que fundamentam, no desenrolar da história, os atuais processos tecnológicos; ocorrência de impactos significativos, provocados, em síntese, pelo acentuado crescimento populacional, pelo extravasamento urbano 5 indiscriminado e pela intensa expansão industrial, sendo a técnica, o instrumento de transformação da realidade, e a economia, a base racional desta transformação; ampliação da conscientização ambiental, pelo desenvolvimento das ciências em vários campos, inclusive aqueles relacionados ao meio urbano. Atualmente, a sustentabilidade urbana é o que mais se almeja, porque não se concebe mais o crescimento urbano sem levar em consideração os critérios ambientais, econômicos, políticos e sociais. A falta de moradia, o desemprego, a miséria, a fome, a crise da educação, a inexistência de serviço de saúde de boa qualidade e ao alcance de todos são, sem dúvidas, aspectos da problemática ambiental. São elementos básicos na vida de qualquer pessoa e conforme as condições sócio-econômicas da população os problemas agravam-se ainda mais. Nas regiões metropolitanas brasileiras, os problemas ambientais cresceram rapidamente e as soluções lentas resultam em aumento das enchentes, dificuldades da administração do lixo sólido e interferência crescente do seu descarte inadequado em áreas potencialmente degradáveis, e mesmo um impacto ainda maior da poluição atmosférica sobre a saúde da população. Pode-se assim, verificar que danos expressivos de ordem ecológica ou socioeconômica, possibilitaram a reinterpretação de questões fundamentais à sobrevivência humana, tornando necessária a revisão da base racional e dos valores de forma mais ampla, com inclusão de valores éticos, culturais, sociais etc. 6 1.1 O CRESCIMENTO URBANO NO BRASIL No início do século XVI, teve início a colonização no Brasil com os portugueses. Eles começaram a implantar no Brasil o cultivo da cana de açúcar. A comercialização desse produto deu origem ao desenvolvimento das atividades urbanas e com isso começaram a surgir as primeiras cidades no país, geralmente ao longo do litoral brasileiro. No centro dessas cidades, se desenvolvia o comércio de açúcar, onde o governo Português controlava todas as atividades comerciais da colônia. Apenas no início do século XVIII, quando se desenvolveu, surgiu a mineração no Brasil que algumas cidades pequenas e médias começaram a surgir junto aos locais onde o ouro era encontrado. A mineração fez surgir a divisão entre o campo e a cidades e aos poucos entre as cidades. Cidades como Barbacena, Ouro Preto, Cárceres etc., surgiram devido a mineração. Rio de Janeiro devido ao Porto Exportador de ouro, que tornou-se em 1763 a capital da colônia, isso fez com que transforma-se numa grande cidade em pouco tempo. No século XIX, a lavoura do café fez surgir pequenas e médias cidades, e mais tarde, a construção de ferrovias para transportar a safra do café fez com que algumas cidades crescerem. No século XX, com o surgimento das indústrias, as cidades passaram a receber um grande número de pessoas, e passaram a ter uma população maior do que a do campo. O que caracteriza uma grande cidade é a prestação de serviços especializados que ela oferece, como bancos, indústrias, universidades, hospitais, laboratórios de pesquisa etc., pois estas tem uma maior capacidade de polarização sobre as outras. São Paulo e Rio de Janeiro tornaram-se Metrópoles Nacionais, pois polarizaram o resto do país. Existem as cidades médias que formam os centros regionais e as pequenas cidades. É através das pequenas cidades que as grandes e médias 7 recebem matéria-prima que necessitam para as indústrias, além do que, os gêneros alimentícios para poder atender as necessidades de suas populações. De acordo com Sposito (1997), a cidade existe porque houve necessidade de se ter um desenvolvimento maior na produção e isso fez surgir uma divisão do trabalho, pois as pessoas exerciam diferentes atividades nas relações de produção. No entanto, uma cidade cresce conforme vai aumentando o número de pessoas que ali se estabelecem. O crescimento pode ser observado um aumento de pessoas decorrentes da reprodução ou resultado do processo migratório, ou seja, ocorre com o fluxo de pessoas que vêm de outras regiões e que se instalam na cidade. A cidade pode crescer horizontalmente e verticalmente. A expansão territorial horizontal de uma cidade ocorre quando algumas áreas que eram usadas para a agricultura, pecuária e extrativismo, acabam sendo divididas em lotes e posteriormente vendidos para a população que vai aos poucos construindo casas, aumentando o tamanho da cidade. A expansão vertical de uma cidade pode ocorrer para atender a necessidade de moradia de sua população. 1.2 URBANIZAÇÃO O processo de urbanização ocorreu principalmente, mas não somente devido ao crescimento acelerado da população urbana, resultado do êxodo rural. As pessoas na ilusão de conseguirem um emprego na cidade, pensaram que vindo para as cidades iriam ter uma vida melhor. Desta forma acabaram por vender suas propriedades rurais e vieram morar na cidade. O espaço urbano de uma cidade é muito complexo e permite uma ansiedade muito grande usos do solo urbano, tanto é destinada as atividades 8 residenciais, comerciais, industriais, áreas de lazer. Devem ter infra-estrutura como energia elétrica, água, saneamento básico, telefone, entre outros. Se por um lado, a concentração de pessoas e de atividades nas cidades promove a otimização da infra-estrutura e serviços urbanos, por outro, a expansão da ocupação e o crescimento da população provocam pressão constante que determina a tendência à deficiência dos sistemas. Analisando de maneira contemporânea, não se pode enfocar a questão urbana sem destacar a história do processo de urbanização, que, por sua vez, introduz a problemática do desenvolvimento das sociedades. “Isto quer dizer, se é claro que o processo de formação das cidades é a base das redes urbanas e condiciona a organização social do espaço, que quase sempre se detém na taxa de crescimento demográfico, ligando num mesmo discurso ideológico a evolução das formas espaciais de uma sociedade e a difusão de um modelo cultural sobre a base de uma dominação política” (CASTELLS, 1973, p. 18). O termo urbano designa uma forma particular de ocupação do espaço por uma população, ou seja, a aglomeração, resultante de uma forte concentração e de uma densidade relativamente elevada, com uma grande diferenciação funcional e social. Mas é, sobretudo, pelas relações sociais que se estabelecem nesse espaço, decorrentes de uma aproximação físico-territorial e de um sistema cultural sintonizado com um projeto de modernidade, que se expressa o modo de vida urbano. (COSTA, 1999, p. 70) Assim, é importante que tenhamos a definição de urbanização, que segundo Castells (1973), tem dois sentidos distintos: i) concentração espacial de uma população, a partir de certos limites de dimensão e de densidade; e ii) difusão de sistema de valores, atitudes e comportamentos denominado “cultura urbana”. Pode-se assim dizer que o termo urbanização se refere à constituição de um espaço particular, caracterizado pela concentração de atividades e de população sobre um determinado espaço, bem como a existência de um sistema de organização cultural particular, denominada de cultura urbana. Costuma-se 9 relacionar urbanização à industrialização, construindo-se a dicotomia rural/urbano. Como a unidade industrial se localizou nos centros urbanos, passando a fazer parte da fisionomia físico-territorial do seu espaço, os dois processos se confundiram e conviveram numa relação simbiótica e interdependente. Essa dicotomia rural/urbano deixa de existir quando práticas, antes restritas ao meio urbano, são observadas também nos espaços rurais e, por sua vez, os espaços urbanos se expressam como uma extensão do rural. De outro lado, do ponto de vista das relações sociais, não é somente no ambiente urbano que se desenvolvem práticas em que predominam as características das relações das sociedades urbano-industriais, mas elas também são observadas em áreas destinadas à produção agrícola. Aqui no Brasil a questão urbana vem se formando ao longo processo geral da urbanização, que acabou integrando todas as regiões do Brasil, numa modernização e ajuste ao sistema capitalista, o desenvolvimento geral do nosso país sempre esteve ligado ao processo de urbanização, conforme foram surgindo e sendo povoadas as cidades. “A urbanização brasileira, no entanto, apresenta pelo menos duas peculiaridades em relação à de outros países. A primeira diz respeito a sua vinculação com o processo de industrialização. De um lado, nas cidades européias, e de certa forma nas norte americanas, o surgimento após a revolução industrial, de um proletariado urbano numericamente significativo, consolidou a urbanização. De outro, as relações com o exterior só assumiram maior importância quando já consolidados aos processos de diversificação da estrutura econômica e da urbanização, como conseqüência da industrialização”. (SCHMIDT E FARRET, 1986, p. 14). Outro fator marcante também na urbanização brasileira diz respeito ao importante papel desempenhado pelo estado na estruturação do nosso território. 10 Sem ignorar o setor privado, devemos ressaltar o caráter extraordinário da presença do estado na especialização da urbanização brasileira e, portanto, na determinação da questão urbana. O Brasil, com o passar do tempo teve que começar a planejar sua política urbana. A política urbana no Brasil é entendida como um conjunto de programas e de ações digeridas para a eliminação dos obstáculos para a completa socialização do espaço urbano através da reprodução expandida do capital. A política urbana desenvolvida no Brasil desde 1964 deve ser analisada de acordo com os programas públicos desenvolvidos pelos governos para melhorar os problemas urbanos. “No caso brasileiro, é preciso observar que a intervenção estatal numa formação social subdesenvolvida não pode ser examinada de uma perspectiva capitalista avançada. Ela deve, mais exatamente, ser vista como uma maneira de fornecer bases para o processo existente de acumulação de capital, bem como para o desenvolvimento de uma sociedade capitalista inteiramente urbanizada. Este tipo de intervenção precisa ser cuidadosamente examinado a fim de evitarmos interpretações simplistas ou mercantis. Como ainda não abrange um sistema maduro e relações sociais no qual prevaleça, indiscutivelmente o capitalismo moderno, o caso brasileiro tem de ser estudado como uma totalidade. É verdade que o Estado brasileiro tem de regulamentar, mas ele precisa principalmente expandir e aprofundar as relações sociais de produção no sentido de estabelecer um capitalismo integralmente desenvolvido. Além dos objetivos intrínseco, esta atividade serve para legitimar o Estado e o regime político frente aos interesses diversificados das classes sociais brasileiras”. (SCHMIDT E FARRET, 1986, p. 28-29). 11 O Estado desempenha um importante papel no que diz respeito a urbanização e a estruturação do nosso território. Aqui no Brasil, o processo de urbanização cresce cerca de 35% ao ano e na virada do século XXI, a população urbana no Brasil será de mais ou menos 160 milhões de habitantes. A partir de 1974, o Brasil passa a contar com uma política urbana explícita, definida sobre os eixos de desconcentração da população e atividades econômicas das metrópoles da região. Nessa política, implica um conjunto de ações entre capitais e cidades de porte e médio. Com o início do processo acelerado de urbanização, surge de imediato uma questão que é a carência de recursos, recursos esses necessários para a realização de obras urbanas, e esse processo acelerado de urbanização acarreta também o crescimento e o desenvolvimento econômico. “O processo de urbanização acelerada traz para as cidades brasileiras contingentes que, num primeiro momento, não se integram ao mercado, ou pelo menos não integram a comunidade dos contribuintes. Contudo, a própria integração paulatina desses migrantes na vida urbana colocará demandas crescentes sobre a infra-estrutura existente e sobre os equipamentos sociais urbanas. Está claro que, pelo menos a médio prazo, o aumento da população da cidade implica a adaptação de novos espaços, isto é, a criação de espaços, isto é, a criação de espaços urbanos. Esses processos envolvem portanto, o crescimento da demanda por investimentos em obras urbanas sem implicar o crescimento proporcional da receita municipal”. (SERRA, 1991, p. 56). O fenômeno da urbanização desenfreada por que passaram as cidades brasileiras nos últimos quarenta anos, resultante, em boa parte, do êxodo rural (SIQUEIRA, 2000), o qual desenhou o perfil de nossa população, que é predominantemente urbana. Segundo dados do IBGE, divulgados em 2000, o Brasil ultrapassou a marca de 80% de pessoas que residem nas áreas urbanas. 12 Nesse contexto de cidades despreparadas para acolher o imenso contingente humano e absorver as demandas sociais, era de se esperar algumas conseqüências negativas, como o colapso do sistema de transportes, os congestionamentos no trânsito, o aumento de processos erosivos, os assoreamentos dos rios e a impermeabilização do solo como fatores desencadeantes das inundações, a proliferação de habitações subnormais, a ocupação de áreas de proteção ambiental, a precariedade do saneamento básico, a "favelização", o desemprego e a violência. 13 2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Segundo Camargo (2003), o primeiro sinal de grave descontentamento popular com o modelo de capitalismo industrial no final do seu ciclo aconteceu em maio de 1968, com a eclosão do protesto estudantil em cadeia, iniciado em Paris, passando por Berkeley, Berlim e Rio de Janeiro. O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu no início da década de 1970, a partir de estudos realizados pela Organização das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, como uma resposta à preocupação da humanidade, diante da crise ambiental e social que se abateu sobre o mundo desde a segunda metade do século passado. O tema tornou-se indispensável na pauta de discussão das mais diversas organizações e nos mais diferentes níveis de organização da sociedade, como nas discussões sobre o desenvolvimento dos municípios e das regiões, correntes no dia-a-dia de nossa sociedade. O conceito de desenvolvimento sustentável procura conciliar a necessidade de desenvolvimento econômico da sociedade, com a promoção do desenvolvimento social e com o respeito ao meioambiente. Em relação ao conceito da expressão “desenvolvimento sustentável”, conforme Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva (2002, p. 164) a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada na ONU com o objetivo de propor novas medidas tendentes a combater a degradação ambiental e a obter melhoria das condições de vida das populações carentes, convencionou denominar desenvolvimento sustentável como o desenvolvimento capaz de garantir as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas necessidades. A noção de desenvolvimento sustentável, de tanta importância nos últimos anos, procura vincular estreitamente a temática do crescimento econômico com a do meio ambiente. Para compreender tal vinculação, são necessários 14 alguns conhecimentos fundamentais que permitem relacionar pelo menos três âmbitos: a) o dos comportamentos humanos, econômicos e sociais, que são objeto da teoria econômica e das demais ciências sociais; b) o da evolução da natureza, que é objeto das ciências biológicas, físicas e químicas; c) o da configuração social do território, que é objeto da geografia humana, das ciências regionais e da organização do espaço. É evidente que esses três âmbitos interagem, e sobrepõem-se, afetando-se e condicionando-se mutuamente. A evolução e transformação da sociedade e da economia no processo de desenvolvimento alteraram de várias maneiras o mundo natural. E esse relacionamento recíproco se articula e se expressa por meio de formas concretas de ordenamento territorial. (VEIGA, 2006) A Conferência de Estocolmo sobre Meio Ambiente, realizada em 1972, estabeleceu, em seus princípios, o planejamento racional e a adoção, pelos Estados, de uma concepção integrada e coordenada do planejamento de seu desenvolvimento, para compatibilizar a necessidade de proteger e de melhorar o ambiente, no interesse de sua população. O princípio 13 preconizou que “a fim de lograr um ordenamento mais racional dos recursos e, assim, melhorar as condições ambientais, os Estados deveriam adotar um enfoque integrado e coordenado da planificação de seu desenvolvimento, de modo a que fique assegurada a compatibilidade do desenvolvimento com a necessidade de proteger e melhorar o meio ambiente humano, em benefício da população”. (SILVA, 2002, p.48) No terceiro mundo, até então, a idéia do crescimento econômico tinha prioridade sobre qualquer outra preocupação que pudesse vir à tona, inclusive o meio ambiente. A Conferência da Organização das Nações Unidas - ONU, de 15 1972, estabeleceu um marco importantíssimo, pois, pela primeira vez, em âmbito mundial, mostraram-se os problemas ambientais resultantes do desenvolvimento e da industrialização sem planejamento e cautela na preservação dos recursos naturais. Sobre o desenvolvimento das cidades, a Declaração de Dublin sobre Recursos Hídricos e Desenvolvimento Sustentável de 1992, assim manifesta-se sobre o desenvolvimento urbano sustentável, considerando seu impacto nos recursos hídricos: “O crescimento urbano está hoje ameaçado pelo esgotamento e poluição das reservas hídricas, causados pelo desregramento do passado. Após uma ou mais gerações de uso excessivo e imprudente, lançamento de esgotos urbanos e industriais, a situação da maioria das grandes cidades do mundo é cada vez mais dramática. A escassez de água e sua poluição forçam o aproveitamento de recursos cada vez mais distantes, o que torna o atendimento das demandas mais oneroso, com custos marginais rapidamente crescentes. A garantia de suprimento futuro de água precisa basear-se na cobrança pela sua utilização, inclusive para o lançamento de efluentes, assim como no controle apropriado das descargas de poluentes. A contaminação residual da água e do solo não pode ser vista como preço a pagar pelo crescimento industrial em uma atitude de condescendência em face dos empregos e da prosperidade que ela proporciona” (PNUD, 1993). Conforme a The Habitat Agenda (1996), o desenvolvimento urbano enseja duas acepções: o quantitativo, que é o crescimento da população e da área ocupada, e o qualitativo, que consiste na melhoria da estrutura urbana, com a proteção dos recursos naturais e melhores índices de rendimento dos fatores de produção, o que repercute na qualidade de vida dos moradores. “O crescimento das cidades e vilas causa mudanças sociais, econômicas e ambientais, que alcançam o seu entorno”. Se for apenas quantitativo, sem o necessário planejamento e organização das cidades, pode ocasionar toda sorte de problemas, destacando-se, em face do presente tema, a poluição hídrica; o acúmulo de lixo em locais não apropriados, pondo em risco a saúde pública; o 16 desmatamento; a falta de áreas verdes e de proteção ambiental e o comprometimento da fauna, dentre outros. 2.1 AGENDA 21 O atual modelo de crescimento econômico gerou enormes desequilíbrios; se, por um lado, nunca houve tanta riqueza e fartura no mundo, por outro lado, a miséria, a degradação ambiental e a poluição aumentam dia-a-dia. Diante desta constatação, surge a idéia do Desenvolvimento Sustentável, buscando conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental e, ainda, ao fim da pobreza no mundo. O marco temporal que firmou o propósito de orientar o desenvolvimento das cidades sob a ótica da sustentabilidade remonta à criação da Agenda 21, documento que estabelece os princípios para atingir o desenvolvimento sustentável, assinado pelos países participantes da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro, em 1992. A partir desse momento, várias redes internacionais de municipalidades, principalmente européias, articularam-se para por em prática os princípios da Agenda 21 sob forma de orientações práticas. A Agenda 21 leva em conta que a humanidade de hoje tem a habilidade de desenvolver-se de uma forma sustentável, mas é preciso satisfazer as necessidades do presente, sem comprometer o acesso das futuras gerações ao encontro de suas necessidades. A Agenda 21 Brasileira é um processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento sustentável e que tem como eixo central a sustentabilidade, compatibilizando a conservação ambiental, a justiça social e o crescimento econômico. O documento é resultado de uma vasta consulta à população brasileira, sendo construída a partir das diretrizes da Agenda 21 global. Trata-se, portanto, de um instrumento fundamental para a construção da democracia ativa e da cidadania participativa no País. (BRASIL, 2006) 17 Conforme consta da Agenda 21 brasileira, as estratégias para se promover a sustentabilidade urbana devem: a) buscar o equilíbrio dinâmico entre população e a base ecológicoterritorial, diminuindo significativamente a pressão do homem sobre os recursos disponíveis ou remanescentes; b) ampliar a responsabilidade ecológica, disseminando informação e promovendo a capacidade dos diversos atores de identificar as relações de interdependência dos fenômenos (sociais, ecológicos, econômicos) e aceitar o princípio da co-responsabilidade (governo e sociedade) para a gestão de recursos (naturais e humanos); c) buscar a eficiência energética, implicando redução significativa do consumo desnecessário ou supérfluo, e políticas consistentes de investimento em energia renovável; d) desenvolver e utilizar tecnologias brandas (com menos agressividade ao meio ambiente) e apropriadas, seguindo a especificidade da necessidade e do lugar; e) formular e implementar políticas sistemáticas de alteração dos padrões atuais de produção e consumo. Buscar uma utilização menos intensiva de recursos naturais na própria confecção dos produtos. Controlar e diminuir resíduos. Na linha do consumo individual, vale a cultura dos “três erres” – reduzir, reciclar, reutilizar; f) recuperar áreas degradadas e repor estoque de recursos estratégicos (solo, água, cobertura vegetal); g) manter a biodiversidade natural e cultural; h) combater a pobreza urbana, praticando os princípios da economia solidária e promovendo sempre que possível estratégias de desenvolvimento econômico que integrem dimensões ambientais relevantes (troca de lixo reciclável por cestas básicas, mutirão de reflorestamento com remuneração da comunidade, 18 garis comunitários, recuperação de praças e jardins). (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) O desafio político da sustentabilidade, apoiado no potencial transformador das relações sociais que representam o processo da Agenda 21, encontra-se estreitamente vinculado ao processo de fortalecimento da democracia e da construção da cidadania. A metodologia de trabalho adotada selecionou seis áreas temáticas: Agricultura Sustentável, Cidades Sustentáveis, Infra-estrutura e Integração Regional, Gestão dos Recursos Naturais, Redução das Desigualdades Sociais, e Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável. A escolha desses temas centrais foi feita de modo a abarcar a complexidade do País e suas regiões dentro do conceito da sustentabilidade ampliada. Com efeito, são dimensões da realidade brasileira que estão presentes e dissecadas no processo de construção da Agenda 21. A metodologia de elaboração da Agenda privilegiou uma abordagem multissetorial da realidade brasileira, procurando focalizar a interdependência das dimensões ambiental, econômica, social e institucional. Além disso, determinou que o processo de elaboração e implementação deveria observar o estabelecimento de parcerias, entendendo que a Agenda 21 não é um documento de governo, mas um produto de consenso entre os diversos setores da sociedade brasileira. Diante dessas dimensões multifacetadas da sustentabilidade, Haddad admite que o conceito de desenvolvimento sustentável está em processo de construção e que, ao adotá-lo como idéia-força para formular e executar políticas públicas é preciso operacionalizá-lo sem, contudo, dar-lhe um tratamento fragmentado. E mais se a questão conceitual apresenta inúmeras dificuldades para se obter um certo grau de consenso entre pesquisadores acadêmicos e os que lidam com a prática de políticas, inúmeras e novas dificuldades emergem quando se busca operacionalizar o conceito de desenvolvimento sustentável na gestão do cotidiano das burocracias governamentais. É possível que uma 19 burocracia pública especializada possa fragmentar o conceito de desenvolvimento sustentável e adaptá-lo às suas necessidades de gestão setorial, como, por exemplo, a sustentabilidade cultural, e assim obter algum tipo de sucesso no seu planejamento de médio prazo. Mas, na Agenda 21 Brasileira, o que se busca é um mínimo de integração dentro de um processo de desenvolvimento entre transformações produtivas, equidade social e redução da degradação ambiental, numa perspectiva de sustentabilidade ampliada e progressiva, sendo que esta integração tem de acontecer dentro de um aparelho burocrático que se encontra em fase de reconstrução após uma seqüência de reformas administrativas mal sucedidas ao longo dos últimos anos (HADDAD, 2002). Pioneiro na implantação do Programa da Agenda 21 no Brasil, o Rio de Janeiro conseguiu aumentar a participação dos cidadãos em assuntos da administração do município. Em 1996 foi lançado o Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro, que envolveu mais de 700 pessoas e 400 organizações no planejamento de estratégias de desenvolvimento. Esse processo participativo continuou e, em 1998, foi criado por lei e instalado o Fórum da Agenda 21, que gerencia o programa, congregando membros do governo e da sociedade. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) 20 3. CRESCIMENTO URBANO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: O CASO DO RIO DE JANEIRO O crescimento urbano vem acompanhado da deterioração da qualidade de vida da população, notadamente nas cidades de paises em desenvolvimento. Os estudos sobre a questão urbana voltam-se cada vez mais para a relação sociedade e meio ambiente, pois à medida que o espaço urbano vai sendo construído, os problemas relativos ao ambiente natural passam a compor um somatório com os relativos ao ambiente sócio-cultural, tendo em vista que o meio ambiente é uma totalidade que engloba o meio físico, biótico e sócio-cultural. Hoje o país sofre intensamente as conseqüências desta ocupação desordenada. A falta de políticas públicas eficientes e de um planejamento adequado para as cidades, tem impedido principalmente o acesso à habitação para a maioria da população, o que tem causado vários problemas urbanos, como poluição de rios, lagos e praias pela falta de saneamento, o aumento do número de favelas, uma rede caótica de transportes coletivos, entre outros. Toda a sociedade sofre com os problemas causados pela ocupação mal planejada. Nos países desenvolvidos, possuidores de um padrão econômico elevado, a preocupação com o Desenvolvimento Sustentável tornou-se urgente, pois o aumento global da taxa de território urbanizado leva ao aumento da poluição, do consumo de área construída, dos gastos energéticos, e conseqüentemente os danos ao ambiente se multiplicarão, provocando problemas no padrão econômico e social. Assim, iniciamos o novo século com uma população densamente concentrada na zona urbana do país. E logo as conseqüências do despovoamento do campo brasileiro foram sentidas, principalmente em cidades maiores que se tornaram pólos de atração para essa população que migrou em busca de melhores condições de vida. Uma destas cidades é o Rio de Janeiro, que assim como outras cidades pólo do país, viu a sua população crescer em poucos anos sem planejamento necessário para receber esse contingente populacional. 21 Sem um correto planejamento ambiental, o desenvolvimento das cidades não se dará de maneira a contribuir com a população, causando assim prejuízos significativos para a sociedade. O crescimento urbano desordenado tem como resultado o acréscimo da poluição doméstica e industrial, cria condições ambientais inadequadas e propicia o desenvolvimento de doenças, poluição do ar e sonora, aumento da temperatura, contaminação da água subterrânea, entre outros problemas. Todos estes acontecimentos são resultantes da Degradação Ambiental. Conforme Souza (2000, p.113) a Degradação Ambiental é “o solapamento da qualidade de vida de uma coletividade na esteira dos impactos negativos exercidos sobre o ambiente que tanto pode ser o ambiente natural ou os recursos naturais quanto o ambiente construído, com seu patrimônio histórico-arquitetônico, seu valor simbólico-afetivo etc. por fenômenos ligados à dinâmica e à lógica do modelo civilizatório e do modo de produção capitalista”. No geral observa-se um crescente agravamento dos problemas ambientais nas metrópoles, já que o modelo de apropriação do espaço reflete as desigualdades sócio-econômicas imperantes, sendo o período marcado pela ineficácia ou mesmo ausência total de políticas públicas para o enfrentamento destes problemas, predominando a inércia da Administração Pública na detecção, coerção, correção e proposição de medidas visando ordenar o território do Município e garantir a melhoria da qualidade de vida. O Município do Rio de Janeiro não é apenas a capital do Estado, mas o centro de gravidade da metrópole fluminense, o que lhe confere particularidades econômicas, sociais, políticas e culturais. Nele se concentram 54,5% da população da metrópole, 41,4% da população do Estado (IBGE, 1996), 75,9% do PIB da Região Metropolitana (FCIDE, 1998) e 42,6% do eleitorado do Estado (TRE/RJ, 2000). Esta concentração é muito maior do que o verificado na metrópole paulista, por exemplo, na qual a Cidade de São Paulo concentra 69% do PIB. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001b) 22 A Cidade do Rio de Janeiro é centro de um amplo espaço geográfico e urbanístico, fortemente integrado, que forma a região metropolitana. Esta característica tem raízes na história da sua formação. A natureza na cidade do Rio de Janeiro é exuberante e bela, mas muito mais frágil do que se imagina, ecologicamente falando. Seu patrimônio natural, inclusive sob o ponto de vista que considera seus recursos paisagísticos como um bem econômico, está em franca degradação. Lenta, mas de modo inclemente, a ocupação humana do território do município, desde o século 16, vem desenhando uma nova geografia e inventando uma segunda natureza, que degrada o patrimônio natural e aos poucos vai apresentando a sua conta, afetando negativamente a qualidade de vida da população atual e comprometendo a das gerações futuras. Entre as características físicas da cidade, sobressai a topografia acidentada e extremamente diversa, marcada pela formação de maciços cujas encostas, originalmente cobertas com florestas da Mata Atlântica, apresentam altos graus de declividade. O clima é quente e úmido, com chuvas fortes. A presença da água é uma constante, nas praias de seus 86 km de costa, nas duas baías que lhe servem de limites, Guanabara e Sepetiba, e nas centenas de rios, canais e lagoas encontrados em seu território, cuja superfície tem 125 mil ha. Esse conjunto de elementos aponta para a grande fragilidade estrutural do ambiente natural, apresentando áreas de grande vulnerabilidade ecológica e de risco à ocupação humana, devido à resultante susceptibilidade à erosão natural e a enchentes. Isso é potencializado pela degradação ambiental sistemática que está ocorrendo, agravada pelo continuado parcelamento do solo, pelo desmatamento e asfaltamento – decorrente do contínuo processo de expansão urbana. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001b) 3.1 OCUPAÇÃO DOS ESPAÇOS Uma das questões preocupantes em relação ao ambiente urbano é a da ocupação dos espaços. A população com renda mais baixa é obrigada a 23 ocupar áreas menos valorizadas, em geral sem nenhuma infraestrutura, improvisando sua moradia às margens de rios, encostas de morros, alagadiços, áreas de manguezais, até mesmo as dunas, quando não se alojam em baixo de pontes, viadutos, beira de estradas, casas em ruínas, ou mesmo em praças e jardins públicos. Desde a sua implantação, na colina, a cidade do Rio de Janeiro, circundada pelo brejo, pelo mar e pela montanha, estabeleceu uma espécie de luta que se tornou uma constante na conquista do espaço urbano. Em etapas sucessivas e muitas vezes simultâneas, a cidade do Rio aumentou seu espaço urbano conquistando a planície, as colinas e os vales, avançando sobre os brejos, os mangues e também as montanhas, e fazendo recuar a linha do litoral. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) O fenômeno da ocupação é um movimento popular organizado de população carente, que em momentos pré-estabelecidos, ocupa áreas em estado de abandono, pertencente ao governo, construindo habitações precárias de materiais variados como caixotes, latas, papelão, plástico, entre outros. O movimento da ocupação é um dos movimentos mais bem organizado hoje no Rio de Janeiro. Enfrentando condições desfavoráveis a assentamentos, os efeitos da ocupação “voluntarista” foram sendo progressivamente agravados pelo desmatamento das encostas, aterro de brejos e mangues e canalização de cursos d’água. O processo de expansão urbana foi intensificado após a primeira onda de expansão da cidade, ao longo dos séculos 19 e 20. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001) A construção de casas em loteamentos ilegais ou terras ocupadas irregularmente conduziu a um grande desastre. Algumas das maiores aglomerações do mundo, como é o caso do Rio de Janeiro, tem regiões inteiras construídas a partir dos esforços fragmentados de incontáveis agentes isolados. O resultado é caótico, como se pode constatar na zona oeste do município do Rio de 24 Janeiro: terras sem lei, seja para a ocupação urbana seja para a resolução de conflitos entre os moradores.( MARICATO, 2002) Mas a irregularidade urbanística não pode ser atribuída apenas à população sem alternativas. A ocupação das encostas se efetivou nas décadas mais recentes e é atividade compartilhada pelos segmentos mais altos e mais baixos da população – os primeiros, obviamente menos numerosos, construindo residências de alto luxo; e os segundos, favelas. Ambos os movimentos degradam igualmente a cobertura vegetal nativa, contribuindo para o assoreamento dos cursos d’água, agravando as condições de alagamento das áreas inundáveis. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) Atualmente, os quase 6 milhões de habitantes da cidade do Rio de Janeiro ocupam uma área urbana já equivalente a 37% do território municipal, e a área urbana não-consolidada eqüivale a 9,8% do território. Somadas essas porções do território às demais áreas de solos expostos (2,3%), dos chamados campos antrópicos (20,4%) e às áreas de culturas e pastagens (4,2%), conclui-se que cerca de 70% do território municipal se encontra totalmente alterado pela ocupação humana. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) A análise da ocupação dos espaços exclusivamente no município do Rio de Janeiro mostra que nas áreas superiores da cidade ocorre forte tendência de diminuição da mistura social e, conseqüentemente, do aumento do peso das categorias superiores. Mesmo assim, os extensos e numerosos núcleos de moradias populares distribuídos nessas áreas estão longe de apresentarem sinais de desaparecimento – muito pelo contrário. As singularidades históricas da formação social e urbana da Cidade do Rio de Janeiro criam o que podemos chamar de modelo carioca de segregação. O seu principal traço é a combinação entre distância social, expressa pelas gritantes diferenças da estrutura social e das condições urbanas, e a forte proximidade territorial entre as favelas e os bairros que formam as áreas superiores da cidade. 25 Ainda que a população carioca apresente taxas decrescentes de crescimento na última década, a ocupação do território municipal vive um período de adensamento acelerado de suas últimas frentes de baixa densidade demográfica, devido ao deslocamento entre áreas urbanas. 3.2 COLETA E DESTINAÇÃO DO LIXO À medida que há o crescimento populacional, há modificações nos hábitos e valores, o que impõe um estilo de vida baseado no consumismo e no desperdício. Um grande número de localidades urbanas e rurais, em todo mundo, vem sofrendo também com a questão do lixo, decorrentes do crescimento populacional, industrial e da oferta de bens de consumo descartáveis. A grande preocupação é a questão tanto da sua produção quanto sua destinação. Na cidade do Rio de Janeiro, a coleta de lixo doméstico abrange 96% dos domicílios cariocas, e é um dos serviços ambientais mais valorizados pela população, como mostra pesquisa realizada pela SMAC. Com programas alternativos de coleta, que inclui o gari comunitário para a coleta em favelas e morros de difícil acesso e programas de reciclagem via cooperativas de catadores, a Comlurb tenta combinar estratégias de limpeza urbana a estratégias de geração de renda para famílias pobres. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) O município não tem ainda, contudo, um programa consistente de reciclagem, nem um programa que contemple especificamente os chamados resíduos sólidos perigosos à saúde humana. Os aterros sanitários são outro problema grave. Todo o lixo urbano da cidade é destinado a lixões que se localizam nos outros municípios, que por sua vez estão saturados. Usualmente, o lixo produzido pela cidade do Rio tem sido depositado nos municípios mais pobres do entorno, destacadamente em Gramacho (Caxias). Também já foram detectadas irregularidades, como o depósito de entulho e lixo resultante de dragagens em áreas de preservação. 26 O crescimento populacional, o aumento da produção dos resíduos sólidos que acabam nos lixões das cidades, acarretam sérios prejuízos para o meio ambiente. Sem a infra-estrutura necessária para oferecer a destinação adequada ao lixo podem ocorrer vários transtornos, que por vezes se refletem em problemas graves de saúde pública. Outro problema também é a questão da desigualdade urbana que pode ser encontrada nos lixões das cidades, onde uma significativa parcela da população pobre busca um meio de sobrevivência, não raro morando no local e alimentando-se dos restos que chegam diariamente, numa coleta seletiva do que pode ser aproveitado. Uns são produtores de lixo, sem nenhuma responsabilidade com seu destino e com as conseqüências para o meio ambiente, conforme o destino que lhe é dado, outros são sobreviventes do lixo. Não raro, encarados também como lixo. Lixo humano. (SILVA, 1992) Apesar desta desigualdade social, as campanhas de limpeza e de reciclagem são as que mais desfrutam de simpatia por parte da população, em todas as classes sociais, como demonstram pesquisas nacionais. Em pesquisa realizada na Zona Oeste, uma das mais carentes em termos de saneamento ambiental, mais de 70% da população se declarou disposta a participar ativamente de campanhas de reciclagem. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) As implementações de programas de reciclagem é um meio de proporcionar à população pobre e descriminada uma fonte de obter renda, além de colaborar com a preservação do meio-ambiente. Deve-se, portanto, incrementar os programas de reciclagem, através da classificação dos resíduos em casa, e implantar sistemas de compostagem da parte orgânica contida no lixo, que ultrapassa o percentual de 50% e têm um teor de umidade muito alto. Esta forma de valorização do lixo domiciliar vem sendo adotada com muito sucesso em Berlim, Alemanha, cidade onde a mobilização dos defensores de um meio ambiente saudável é muito ativa. Lá, cerca de 2.700.000 moradores já fazem a separação prévia em casa, não apenas dos materiais 27 potencialmente recicláveis, como também da matéria orgânica, que tem sido destinada à compostagem. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) 3.3 RECURSOS HÍDRICOS A principal bacia hidrográfica do Estado do Rio de Janeiro é formada pelo rio Paraíba do Sul e seus afluentes. Essa bacia, vital para o Estado e para a cidade do Rio de Janeiro em particular, nasce em São Paulo, percorre trecho na divisa do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, recebe importantes afluentes que drenam a área do território mineiro, e deságua no noroeste do litoral fluminense, no município de São João da Barra (RJ). Os resultados do monitoramento desse rio mostram que a contaminação de suas águas está acima dos padrões nacionais instituídos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) para manganês e cádmio, além da demanda biológica de oxigênio (DBO), oxigênio dissolvido, coliformes e fosfato. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) É certo que, quanto maior a intervenção do homem na natureza, sem os devidos cuidados, maiores os riscos de ocorrência de danos. Em uma cidade, esse risco multiplica-se, à medida que os corpos hídricos encontram-se fisicamente muito próximos da população. Além do grave problema da poluição causada pelos despejos de origem industrial e doméstica, o rio Paraíba ainda sofre a pressão por parte do seguinte conjunto de fatores: os lixões próximos ou às suas margens; ações de desmatamento e da conseqüente erosão; a retirada de recursos minerais para a construção civil (areia, argila e saibro) sem as devidas ações de recuperação; os acidentes com o transporte de cargas tóxicas; a ação dos agrotóxicos (nas lavouras próximas); a pesca predatória e a captação descontrolada de água. A região hidrográfica contribuinte à baía de Guanabara, com área em torno 4.000 km² , localiza-se dentro dos limites da Região Metropolitana do 28 Estado, abrangendo 15 municípios: Duque de Caxias, São João de Meriti, Belford Roxo, Nilópolis, São Gonçalo, Magé, Guapimirim, Itaboraí, Tanguá, Rio de Janeiro, Niterói, Nova Iguaçu, Cachoeira de Macacu, Rio Bonito e Petrópolis. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) Relatórios de avaliação da qualidade de águas das praias realizados pela FEEMA apontam desde 1975 a freqüência de impropriedade para banho em todas as enseadas localizadas no continente, como é o caso das praias nas áreas de Ramos, Urca, Botafogo, Ilha do Governador e outras. A perda de qualidade das praias tem impacto negativo direto no turismo da cidade do Rio de Janeiro e no lazer de sua população. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) As principais fontes de poluição da bacia da baía de Guanabara são: 1) cerca de 6.000 indústrias, das quais 52 foram selecionadas como prioritárias para o controle, por serem responsáveis por 80% da poluição industrial; 2) uma refinaria de grande porte – Refinaria Duque de Caxias – responsável pelo lançamento de três toneladas por dia de óleo na baía, representando 30% do total lançado, além de 218 kg de fenóis do total de 250 kg lançados; 3) dois portos comerciais (Rio e Niterói); 4) 16 terminais marítimos de petróleo que lançam diariamente uma tonelada de óleo na baía; 5) cerca de 2.000 postos de serviços e 12 estaleiros que contribuem com mais de 2,3 toneladas por dia de óleo, representando 25% do total lançado; 6) a produção de 17 metros cúbicos por segundo de esgoto doméstico, com 465 toneladas de carga orgânica diária, das quais apenas 68 toneladas, ou 13,2 metros cúbicos por segundo, recebem tratamento antes de serem lançados ou dispostos através de emissário; 29 7) a existência de vários vazadouros de lixos, localizados às margens dos rios contribuintes ou da própria baía, como é o caso do aterro de Gramacho, em Duque de Caxias, que recebe diariamente 5.500 toneladas de lixo. Isso, sem contar os aterros: calcula-se que nos últimos 50 anos foram feitos aterros na baía que, somados, correspondem a dez lagoas Rodrigo de Freitas. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) Os danos decorrentes do efeito cumulativo causado por essas fontes de poluição, sobretudo nos últimos 20 anos, são: d) declínio de 90% da pesca comercial; e) destruição dos manguezais, hoje reduzidos à metade; f) violação dos padrões de balneabilidade em todas as 53 praias do interior da baía; g) assoreamento crescente, estimado em 81 centímetros a cada 100 anos; h) ocupação desordenada e precária (sem infra-estrutura urbanosanitária) da região. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) No Brasil, a dinâmica de urbanização associada a uma crise na gestão pública têm como resultado uma explicitação das carências sociais e dos serviços públicos e uma dificuldade concreta de gestão administrativa. Isto tem provocado um crescente grau de deterioração ambiental que se manifesta na deterioração dos recursos hídricos e nas dificuldades de garantir qualidade nos serviços urbanos básicos associados ao saneamento ambiental. (FERREIRA, 1998 ). O abastecimento de água é uma das principais condições de permanência de uma população em determinado local. Um exemplo disso é o fato de, ao longo dos anos, as civilizações desenvolverem-se em locais próximos de rios e lagos. Portanto, a sobrevivência de uma população depende do 30 abastecimento de água eficiente, que satisfaça as necessidades da população atendida. O acesso à água potável e ao esgotamento sanitário no Rio de Janeiro têm sido tradicionalmente prestados à população pela esfera estadual, através da Cia. Estadual de Água e Esgoto (CEDAE). Segundo dados do Instituto Pereira Passos, o acesso à água potável no município do Rio é quase universal, estando 95% dos domicílios cariocas ligados à rede canalizada. O monitoramento da qualidade da água oferecida é feita por laboratórios da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. O município do Rio de Janeiro produz 470 toneladas de esgotos por dia, dos quais, segundo a CEDAE, apenas 64 toneladas recebem tratamento ou são eliminados através do emissário submarino de Ipanema. Em 1991, 69% dos domicílios estavam ligados à rede de esgotos. 3.4 FLORESTAS E RECURSOS AMBIENTAIS O crescimento populacional, a falta de planejamento e a implantação de projetos urbanos que não agregam os componentes ambientais agravam os problemas relacionados às enchentes, aos congestionamentos, às invasões de moradores nas áreas de mananciais e ausência de monitoramento do sistema de coleta e tratamento de esgoto. São necessárias assim, políticas urbanas que valorizem não só o homem, mas também o meio ambiente, precisam estar inseridas na organização dos espaços urbanos. O desmatamento no Estado do Rio de Janeiro é antigo e remonta às atividades coloniais, quando foi centro cafeicultor. Contudo, as taxas de perda de cobertura vegetal estão se acentuando drasticamente desde os anos 60, quando o processo de industrialização e de urbanização acelerada passaram a vigorar como necessidade do desenvolvimento. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) No município do Rio de Janeiro, dados selecionados entre os vários diagnósticos existentes são alarmantes. A pesca foi reduzida à metade desde o início do século. A maioria das praias viola atualmente os padrões de qualidade 31 convencionais, acarretando sérios prejuízos à atividade turística – que sustenta boa parte da economia dos municípios da costa – e a recreação, afetando diretamente o lazer mais barato das camadas mais pobres e colocando em risco sua saúde. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) Estudos realizados pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente a partir de 1997 mostram que a cidade perde a cada ano uma taxa de cobertura vegetal superior à taxa de reposição (reflorestamento). As conseqüências mais diretas desse fato são o aumento das enchentes e erosões, sobretudo deslizamentos de terras nas encostas, que se agravam durante os verões, com o maior volume de chuvas. Da mesma forma que o homem retira da natureza, deveria se preocupar em repor o que destruiu. Conforme afirma Ribeiro (2006) a taxa de emissão de efluentes tem que ser no máximo igual a taxa de regeneração do meio ambiente. Se essas condições não forem alcançadas, haverá crescente deteriorização ambiental e diminuição da base de recursos. Durante um período de quase 30 anos, os rios da região eram considerados importantes somente para exploração hidroelétrica, e o solo conquistado com desmatamento contínuo, sendo visto como um espaço para urbanização. E embora quase todas as cidades do Estado tenham sofrido processo similar, foi o município do Rio de Janeiro um dos mais atingidos por ele. Até meados dos anos 80, ser cidade “grande” significava estar “em desenvolvimento”. Virar metrópole ou uma megacidade era motivo de orgulho para residentes e gestores. Os problemas ambientais das cidades não eram percebidos sistematicamente e eram tratados como problemas localizados. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) O Estado do Rio de Janeiro se insere integralmente no bioma da Mata Atlântica, que originalmente estendia-se por uma faixa de 3.500 km ao longo do litoral brasileiro, desde a costa leste do Rio Grande do Norte até o norte do Rio 32 Grande do Sul, cobrindo pouco mais de 100 milhões de hectares (1 milhão de km), cerca de 12% do território nacional. Estimativas dão conta que o Estado possuía por volta do ano de 1500 uma cobertura florestal em 97% de seu território. Os diferentes ciclos de ocupação de sua área, entretanto, reduziram drasticamente esta cobertura. Atualmente, o estado de conservação da cobertura vegetal nativa do Estado do Rio de Janeiro é crítico. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) Dados publicados pela Fundação SOS Mata Atlântica, obtidos a partir da análise de imagens de satélite, mostram que em 1995 restavam cerca de 928.858 ha de florestas, correspondendo a 21,07% da superfície do Estado. O estudo revela ainda que, entre 1990 e 1995, as florestas fluminenses perderam 140.372 ha, o equivalente a 170 mil campos de futebol. Em relação ao total de florestas registrado em 1990 (1.069.230 ha), houve uma redução de 13,3%. Mantida a taxa atual de desmatamento, a mata Atlântica levará apenas 35 anos para desaparecer, deixando de existir em 2033. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) Além dos impactos diretos, a perda de cobertura significa empobrecimento da biodiversidade, desaparecimento de pássaros e outros animais que ajudam na dispersão das sementes, afetando a reprodução da vida animal e vegetal. A perda de vegetação causa mudanças radicais no microclima da cidade (mudança no regime das chuvas, temperatura, umidade etc.), com conseqüências ainda não inteiramente estimadas. A perda de cobertura vegetal do município é dramática. Restam somente 26,3% de áreas naturais em todo o território, com o agravante de que não se trata de vegetação contínua, mas fragmentos de grande fragilidade ecológica. Em relação à qualidade do ar, a maior concentração de poluentes aéreos ocorre na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, pois nela está a segunda maior concentração de população no Brasil, de veículos automotores, de indústrias e de fontes emissoras de poluentes. 33 A topografia desigual da cidade e o fenômeno da inversão térmica, que ocorre de maio a setembro, agrava consideravelmente a qualidade do ar, e o problema mais grave é o de partículas em suspensão. A área mais poluída por esse tipo de poluição é a chamada Bacia Aérea 3, que cobre uma extensão de aproximadamente 70 km, e tem aproximadamente 6,6 milhões de habitantes, abrangendo a parte nordeste do município do Rio e da Baixada Fluminense. O inventário das emissões na Bacia 3 demonstra que 80% do total de emissões de partículas vêm da indústria, 11% da queima do lixo e 9% dos veículos. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) Uma série de iniciativas para o controle da poluição aérea têm sido desenvolvida tanto por parte da FEEMA, órgão ambiental estadual, quanto pela SMAC, agência ambiental do município do Rio de Janeiro, principalmente no controle da fumaça negra (veículos automotores). Outras medidas: o fim dos incineradores de lixo residencial, a substituição dos fornos à lenha nas padarias por eletricidade ou gás natural e o controle de atividades mineradoras em áreas urbanas. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2001a) CONCLUSÃO A industrialização levou a uma elevada concentração de pessoas em grandes metrópoles. A tendência de crescimento urbano implica mudanças também na gestão urbana. Para lidar com problemas que dizem respeito a vários municípios (lixo, captação de água, segurança, transporte, poluição, por exemplo), deve-se pensar em novas formas de atuação e implementação de diferentes políticas públicas. No atual quadro urbano brasileiro, é visível a necessidade de implementar políticas públicas orientadas para tornar as cidades ambientalmente sustentáveis. Para implementação de uma estratégia de desenvolvimento sustentável, é necessário fugir de esquemas rígidos de formulação de políticas e da planificação excessiva. Assim, o desenvolvimento sustentável exige a democratização e o fortalecimento do Estado em sua capacidade política, técnico34 administrativa e de regulação e planificação, e para que se alcance do desenvolvimento sustentável, as políticas públicas devem ser orientadas a promover as capacidades empreendedora, econômica e social dos cidadãos. Apesar da comunidade internacional se reportar unanimemente favorável à concepção do desenvolvimento sustentável, dificilmente consegue-se reconhecer esse suposto compromisso com a defesa do meio ambiente e das gerações futuras nas ações e medidas atuais. Pelo menos os resultados referentes às determinações de metas concretas nas conferências internacionais e às políticas públicas adotadas em boa parte dos países ficam significativamente aquém das recomendações que boa parte dos cientistas e ambientalistas consideram indispensáveis a fim de alcançar a estabilização do clima mundial e um desenvolvimento ecologicamente sustentável. Ou seja, o reconhecimento de um déficit de ação não leva necessariamente a correspondentes acordos e medidas. Evidentemente, existem fatores inerentes aos sistemas políticos e econômicos impedindo que a orientação para o bem comum possa se impor no momento da negociação de acordos, como também na fase da implementação das estratégias de políticas públicas.(FREY, 2001) Encontrar alternativas de desenvolvimento que tragam melhoria da qualidade de vida aliadas à preservação do patrimônio ambiental tem sido um desafio. O simples reconhecimento de que algumas práticas adotadas na expansão das fronteiras em busca do crescimento econômico são nocivas ao meio ambiente e ao homem, não é suficiente. É preciso aceitar o desafio de promover mudanças nas políticas de desenvolvimento e encontrar alternativas para os modelos até agora adotados. A questão urbana não pode ser desvinculada da questão ambiental e nenhuma das duas pode ser compreendida se não tivermos em conta as contradições e os conflitos de interesses que estão presentes na estrutura de nossa sociedade, os antagonismos de classe e a ação predatória que um modelo sócio-econômico calcado no consumismo e no desperdício trás para o ambiente. 35 Mas apesar dos problemas ambientais visíveis nas grandes metrópoles, pode-se afirmar que chegamos ao século XXI com um conceito de desenvolvimento sustentável bem mais amadurecido, que se popularizou por todos os continentes, passando a fazer parte da vida cotidiana das pessoas. Muitos cidadãos comuns já têm consciência de atitudes como a separação e a reciclagem do lixo doméstico. Até mesmo algumas empresas utilizam esse processo como estratégia comercial, especializando-se em atender um mercado consumidor em franco crescimento. Isso demonstra que o desenvolvimento sustentável é um conceito que está presente em atitudes diferenciadas de comportamento. Uma forma de desenvolvimento que não está mais no plano abstrato, e que se mostra cada dia mais real e possível, principalmente no plano local. A sustentabilidade urbana deve, portanto, ter como objetivo gerar empregos com práticas sustentáveis e ampliar o nível de consciência ambiental da população, estimulando-a a participar mais intensamente nos processos decisórios, fortalecendo assim a sua responsabilização no monitoramento dos agentes responsáveis pela degradação sócio-ambiental. Em resumo, a situação de nossas cidades, principalmente das maiores, aquelas que aparentemente oferecem maiores oportunidades de trabalho, está insustentável, e o caos urbano instalado, somente será minimizado a longo prazo, se houver uma mudança significativa na estrutura política, econômica e social do país, sem falar na diminuição das forças que atuam contrariamente aos interesses públicos. A nossa terra vale mais do que todo o dinheiro, porque permanecerá para sempre aí. Não desaparecerá nas chamas de uma fogueira. Tanto tempo quanto o sol brilhar e a água correr, esta terra estará aqui para dar vida aos homens e aos animais. Não podemos vender a vida dos homens e animais. Ela foi colocada aqui pelo Grande Espírito e não podemos vendê-la porque não nos pertence. (SILVA, 1992, p. 45). 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. AGENDA (http://www.mma.gov.br). Acesso em 10/10/2006. 21. Disponível em CAMARGO, A. Governança para o século 21. In: TRIGUEIRO A. 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