A QUESTÃO DO ACONSELHAMENTO PASTORAL: LUTANDO PELA VIDA DOS DEPENDENTES QUÍMICOS ANTONIO PAULO PAULINHO DA MOTA RESUMO A Teologia na tentativa de conhecer a Deus e de torná-lo conhecido, parte do principio de que o conhecimento a respeito do Supremo Ser já tenha sido revelado. Esta revelação é o fundamento de todas as informações e pronunciamentos teológicos. Aquele que cuida do rebanho do Senhor com responsabilidade deve ter como alvo a saúde, a segurança e o bem estar de suas ovelhas. Assim neste sentido entendemos a necessidade dos obreiros de Deus ter um vida ilibada, ou seja, não tocada, sem mancha. A bíblia fala mais de como deve ser o líder sobre suas atribuições. Isso nos mostra que Deus pensa acerca desse importante pré requisito. Não importa a formação ou a experiência que alguém possa ter. se não preencher as qualidades da moralidade bíblica, é inapto para ser líder na igreja de Deus. Considerável literatura tem surgido sobre o assunto. Mas também tem havido abuso, por parte de alguns ministros que pouco ensinam da Bíblia, porquanto eles se tornaram mais psicológicos do que pastores e mestres, e sua prédica está eivada do vocabulário usado na psicologia. Outro tanto tem sucedido a conferências onde, antes, a Bíblia era o centro das atenções. Mas agora elas se assemelham mais a sessões psicológicas populares, com algum verniz de religiosidade. Por outra parte, é bom que os ministros do evangelho tenham algumas noções básicas sobre o assunto, sabendo também como outros ministros, que se tornaram especialistas nesse campo, manipulam essas questões. Assim, são melhor capazes de examinar, expressar e manipular idéias. Palavras Chave: Teologia, psicológicos, pastores e religiosidade. ABSTRACT The theology in an attempt to know God and make it known, on the assumption that knowledge about the Supreme Being has been revealed. This revelation is the basis of all information and theological pronouncements. One who takes care of the sheep of the Lord with responsibility should be subject to health, safety and welfare of their sheep. So in this sense we understand the needs of the workers of God have a spotless life, that is not played, without stain. The Bible speaks more of how to be a leader on their mission. This shows us that God thinks about this important requirement. No matter the training or experience that 1 someone may have. if it does not meet the biblical standard of morality, is unfit to be leader in the church of God. Considerable literature has emerged on the subject. But there has been abuse by some ministers who just teach the Bible because they have become more psychological than pastors and teachers, and his sermon is eivada the vocabulary used in psychology. Another much has happened to conferences where, before, the Bible was the center of attention. But now they are more similar to psychological popular sessions, with a veneer of religiosity. On the other hand, it is good that the ministers of the gospel have some basics about it, knowing well as other ministers, who have become experts in this field, handling such issues. They are therefore better able to examine, manipulate and express ideas. Keywords: Theology, psychological, pastors and religion. 1 INTRODUÇÃO Os debates sobre as questões morais ocupam um lugar central no mundo de hoje. Os jornais diários, as revistas semanais, os livros, os filmes, os meios de comunicação em geral veiculam situações e problemas que atingem diretamente a dimensão ética da vida humana. Isso se deve as grandes transformações políticas, sociais, econômicas, culturais e cientificas que impregnam atualmente as sociedades inteiras, estabelecendo discussões permanentes em torno de questões inovadoras e cada vez mais complexas. A Teologia na tentativa de conhecer a Deus e de torná-lo conhecido, parte do principio de que o conhecimento a respeito do Supremo Ser já tenha sido revelado. Esta revelação é o fundamento de todas as informações e pronunciamentos teológicos. Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme obra de Deus. (1Pe 4:10) a graça de Deus é realmente multiforme vários sendo o modo como ela se manifesta, quando a graça de Deus 2 encontra expressão através da vida do ministro, muitos são as suas maneiras de tornar-se evidente. Neste estudo monográfico demonstrarei quais os princípios que circundam o aconselhamento pastoral através da psicologia e da ética para as pessoas dependentes químicas citando principalmente o trabalho realizado no Ministério Resgate. 2 A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA PARA O ACONSELHAMENTO PASTORAL A ética no sentido geral designa a reflexão filosófica sobre a moralidade, isto, sobre regras e códigos morais que norteiam a conduta humana. Sua finalidade é esclarecer e sistematizar as bases do fato moral, determinar as diretrizes e os princípios abstratos da moral. Nesse caso, a ética é uma criação consciente e reflexiva de um filósofo sobre a moralidade, que é, por sua vez, criação espontânea e inconsciente do grupo. A ética passou a representar um dos grandes eixos de preocupação e de discussão em diversos campos sociais: a ética na política; ética na religião; a ética na ciência; a ética na mídia. O conhecimento claro seria suficiente para sempre orientar a conduta humana as ações lícitas e boas. Etimologicamente a palavra Ética vem do vocábulo grego ethos que, originalmente, significou toca ou esconderijo de um animal e também a moradia humana. Na Grécia passou a designar o modo como o homem vivia em seus “esconderijos”, os hábitos e costumes dentro do lar e da família. No grego posterior, ganha o significado de “comportamento - padrão pessoal” ou até mesmo “caráter pessoal” (VALLS, 1986). 3 Nessa mesma direção, a Ética é definida por Henrique C. de Lima Vaz (1999), como "a ciência do ethos“, ou o estudo do ethos, dos juízos de julgamento que se aludem à conduta humana capaz de denominação do ponto de vista do bem e do mal , relativamente à determinada sociedade ou de modo absoluto, sempre presente na cultura. O ethos é a moradia do animal e passa a ser a “casa” (oikuos) do ser humano, não já a casa material que lhe proporciona fisicamente abrigo e proteção, mas a casa simbólica que o acolhe espiritualmente e da qual irradia para a própria casa material uma significação propriamente humana, entretecida por relações afetivas, éticas e mesmo estéticas, que ultrapassam suas finalidades puramente utilitárias e a integram plenamente no plano humano de cultura (VAZ, 1999, p.39). Para Nalini (1999, p. 34) a ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. É ciência de uma forma específica de comportamento humano, seu objeto é a moral, que está diretamente relacionada à conduta humana. Esse autor alerta para a confusão que se opera quando se trata desses dois conceitos. Segundo seus escritos a Mora é uma expressão decorrente da palavra romana, Mores, costumes. O objeto da ética é a moralidade positiva. Portanto, não se confunde com moral. Ethos em grego, e mos, em latim, que querem dizer costumes. A ética é a teoria dos costumes ou a ciência dos costumes ou seja, é uma teoria que realiza reflexões criticas sobre a experiência moral e que tem por fim discutir as noções e princípios que fundamentem a conduta moral. Por sua vez, a Moral é o objeto da ciência. A ética, como ciência, retirar fatos morais e os princípios a eles aplicáveis. Para Vázquez (1999) a Ética é uma disciplina normativa, não por que cria normas, mas por que as descobre. Seu fundamento está baseado em valores, 4 geralmente positivo. Parte do conceito do bom, do que é valioso e do mau o que não tem valor, ou um vício. Segundo Nalini (1999) uma norma é regra de conduta que postula dever, pois todo entendimento normativo, é regra de conduta, entretanto nem toda a regra de conduta é norma. As noções de normas ficam mais claro quando confrontadas à lei natural ou as leis físicas. As físicas têm finalidades explicativas e as normas têm fim prático. As normas não têm a ambição de explicar nada, mas provocar um comportamento. A norma, por sua vez demonstra um dever, direcionada as pessoas com capacidade para cumprir ou não. É próprio da norma à possibilidade de violação. O pensamento de Marilena Chauí (1994) ajuda a completar esse raciocínio ao situar a discussão dentro da sociedade e da cultura, demonstrando que é a sociedade quem institui uma moral, isto é, valores relativos ao bem e ao mal, ao permitido e ao proibido, e à conduta correta, validas para todos os membros. No entanto, aponta que não é a existência da moral que determina a existência de uma ética, como filosofia da moral, uma reflexão que discuta, problematize e interprete o significado dos valores morais. De modo geral, a Ética tem a virtude como o fazer social através do bem. A virtude é compreendida o agente da felicidade dos seres humanos ,quer individualmente ou coletivamente. Através da virtude é que são avaliados os desempenhos humanos em relação às normas comportamentais relacionado. Juízos de valores avaliam coisas, pessoas, ações, experiências, acontecimentos, sentimentos, estados de espírito, intenções e decisões como bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis. Os juízos éticos de valor nos dizem o que são o bem, o mal, a felicidade. Os juízos éticos normativos nos dizem que sentimentos, intenções, atos ou comportamentos devemos ter ou fazer para alcançarmos o bem e a felicidade (...) senso moral e consciência moral são inseparáveis da vida cultural, uma vez que define 5 para seus membros os valores positivos e negativos que devem respeitar ou detestar (CHAUI, 1994, p. 336) A virtude é um caminho possível de ser almejado pelo homem. Enquanto o homem existir, tem ele a possibilidade de modificar sua conduta e transformando suas ações. E todos os homens orientam-se na vida por um critério valorativo, conferindo um sentido pessoal em suas vidas. Nem sempre é tranqüilo atingir-se o conceito de bem, principalmente vivenciálo de maneira coerente. Por mais severas que sejam as convicções morais, pode permear a consciência sensível uma certa insegurança quanto à definição dos padrões e a marcação concreta das atitudes humanas. Entretanto, Vaz nos aponta que: Sendo o ethos coextensivo à cultura e sendo a cultura essencialmente expressão da vida como vida propriamente humana, é licito concluir que a vida humana é igualmente, por essência, uma vida ética, e todas as suas expressões são expressões do ethos como forma universal da vida. Assim sendo, o saber ético se difunde por todas as formas de cultura, e o vemos consubstanciado nas mais diversas manifestações culturais, constituindo propriamente a tradição ética dos vários grupos humanos (VAZ, 1999, p.49) Não se pode esperar da Ética, enquanto ciência, um grau de cientificidade tal qual pode ser esperado das ciências experimentais. . Não se pode esperar prova absoluta dos princípios gerais ou certeza objetiva de julgamentos, morais específicos , o admirável é a procura de bons pretextos para a opção moral palpável .É sempre possível de avaliação a consideração atribuído a cada valor, no momento determinado de toda historia individual ou coletiva. A avaliação individual propicia guiar adequadamente a procura de felicidade própria , que não será integral se não se harmonizar com todos os homens, isto é, a prática do bem é a felicidade e deve ser praticada como ideal e como ato consciente. Assim, a ética cristã encarada como uma filosofia, parte de um conjunto de 6 verdades reveladas a respeito de Deus, das relações do homem e seu criador para obter a vida eterna. Através da Bíblia Sagrada, no livro do Gênesis, capítulos de 1 à 26, apresenta-se a criação do homem e do mundo, Deus é venerado com um ser supremo, o único, o bom e admirável. O homem sendo filho de Deus, e sabendo que seu bem maior é a salvação, estabelece critérios sobre o comportamento e as virtudes. Como virtudes fundamentais temos a prudência, fortaleza, temperança e a justiça, citadas anteriormente por Platão. Vê-se que o cristianismo para o homem terreno se eleva a uma ordem sobrenatural, onde ele possa viver plenamente, feliz, sem desigualdades e injustiças sociais. A partir daí se estabelece à igualdade ente os homens, sem distinção entre escravos e livres, cultos e ignorantes, todos são iguais perante Deus. Esta mensagem é lançada sobre um povo que é tratado com tamanha discriminação e desigualdade pelos senhores feudais. Neste sentido, a ética cristã não condena as desigualdades e vem justificálas, promulgando aos oprimidos e explorados, esta consciência da sua igualdade, devido ao fato de que não existiam condições reais, sociais, somente as sobrenaturais e espirituais. Portanto, pretendia-se determinar o comportamento dos homens, visando outro mundo, ou seja, o ser supremo que é Deus. Deste comportamento são estabelecidas regras de conduta que procedem de Deus e apontam para Deus. O cristianismo oferece ao homem certos princípios morais com caráter de imperativos absolutos e incondicionais. Assim, a ética cristã é fundamentada em São Tomáz de Aquino, visto que suas idéias estão intimamente voltadas ao estudo da ética de Aristóteles, porque visualizam a Deus como um fim último e que traz felicidade. O cristianismo não é uma filosofia é uma religião, uma fé, um dogma. 7 Nota-se que com base nos estudos realizados por Valls (1986), os gregos antigos produziam doutrinas práticas, que eram voltadas para o bem, através da virtude e harmonia com a natureza. Não se trata da natureza como ecologia, mas afirmavam que devia existir uma lei moral no mundo, que permitisse ao homem viver como homem. Neste sentido, o Deus de Abraão, Isaac e Jacó não se identificam com as forças da natureza, estando elevado acima de tudo o que há de natural. O grande questionamento em relação aos termos éticos e morais é do homem relacionado com suas atitudes. Não se satisfaz com a resposta que manda agir de acordo com a vontade do Deus pessoal. Sendo necessário conhecer este Deus, que ele é todo voltado para a educação e o aperfeiçoamento do homem. Em Jesus Cristo os ensinamentos são uma continuação, ele não nega a lei antiga, ele renova com o mandamento do amor, incluindo o perdão, motivo que pelo qual justifica-se sua passagem na terra e deixando o maior mandamento de amor que já existiu. Incontestavelmente, o cristianismo, estabeleceu um grande progresso moral para a humanidade. A Moral elevou-se numa santidade, sendo sinônimo de um amor perfeito, devendo ser buscada mesmo que fosse inatingível. Por outro lado não podemos esquecer que os fanatismos religiosos prejudicam a profunda mensagem ética da liberdade, do amor e da fraternidade universal. Ela serviu de estímulo aos filósofos e moralistas. Logo, na idade média européia aconteceu no pensamento ocidental uma grande revolução. O mundo do conhecimento sensível e o pensamento ético estão ligados à religião, à interpretação da Bíblia e à teologia. Entre a idade média e a modernidade ocorreu uma ruptura, onde o italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527) provoca uma revolução na ética ao romper com a moral cristã, que impõe valores 8 espirituais como superiores aos políticos, quando defendeu a adoção de uma moral própria em relação ao estado. Já na idade moderna que a humanidade tomou consciência de que era possível, e extremamente útil, organizar os conhecimentos do mundo real, que dominou por aproximadamente cinco séculos, onde aparecem as doutrina éticas com suas tendências antropocêntricas em contraste com a ética teocêntrica da idade média. Assim, a ética moderna é influenciada pelos conhecimentos científicos, e três grandes cientistas são responsáveis pelas novidades de reconhecer um mundo material: Nicolau Copérnico, astrônomo polonês, viveu entre 1473 e 1543, foi responsável pela transformação da idéia de que a terra gira em torno do sol, apresentando as duas formas de movimento dos planetas: rotação e translação. O segundo cientista foi Galileu Galilei, que viveu de 1564 a 1642, foi astrônomo, físico e escritor italiano, estabeleceu as Leis da queda dos corpos, foi criador da luneta telescópica e provou cientificamente a teoria de Copérnico, o heliocentrismo. O terceiro foi Descartes, filósofo e matemático francês, viveu de 1596 a 1650, enunciou as leis do reflexo e da refração da luz, criou a geometria analítica, juntamente com Fermat, também tendo grande influência em outras áreas matemáticas. Na área literária fundou o método que permite ter acesso ao conhecimento claro e distinto, aquele cuja veracidade situa-se em Deus. Neste contexto o Pragmatismo é caracterizado pelo reconhecimento da verdade como o útil, no sentido de que melhor ajudar a viver e conviver. No seu aspecto ético, afirmar que algo é bom, é dizer que conduz eficazmente a obtenção de um fim, que leva ao êxito. Diminuindo o comportamento moral aos atos que 9 chegam ao êxito pessoal, sendo absolutamente egoísta, excluindo a existência de normas e valores objetivos (VÁZQUEZ, 1999). Deste modo, a Psicanálise ética, afirma que existe uma parte da personalidade, que o sujeito não tem consciência, que é o inconsciente, ele é o ativo e real, interferindo principalmente no comportamento. Freud, que viveu no período de 1856 a 1939, define muito bem a parte da personalidade, o superego, onde estão os valores e normas morais adquiridos no período da educação. Em suas abordagens ele deixa sua contribuição para a ética no que diz respeito à motivação, enfatiza que o ato moral é aquele no qual o indivíduo age consciente e livremente. É imoral julgar como moral o ato que obedece a forças inconscientes e irresistíveis (CHAUI, 1994, 342-347). O Marxismo, por sua vez, crítica severamente o conjunto de valores morais do passado, cunhando teorias e práticas para uma nova moral. O homem real é um ser espiritual e sensível, natural, teórico e prático, objetivo e subjetivo. É um ser da práxis, isto é, produtor, transformador, criador mediante seu trabalho. Ele é um ser social e histórico, pois produz relações sociais e humanas sem deixar de lado a moral. Como histórico são homens que fazem a sua própria história, de acordo com a época e sua evolução. Em sua função social a moral exerce a condição de existência de acordo com a classe dominante. No decorrer do tempo foram várias as tentativas de unificar a moral e nunca foi possível fazer uma moral universal, porque visam expressar interesses particulares (VÁZQUEZ, 1999, p. 290). 10 3 PSICOLOGIA DO ACONSELHAMENTO PASTORAL Segundo Cunha (2000, p. 15) a avaliação psicológica foi fundamentalmente influenciada durante o século XX pelas principais correntes de pensamento que salientaram, cada uma, a primazia do comportamento, do afeto e da cognição na organização e no funcionamento do psiquismo humano. As estratégias de avaliação psicológica, como expressão cada vez mais utilizada na literatura específica, aplica-se a uma variedade de abordagens e recursos a disposição do psicólogo no processo de avaliação. (CUNHA, 2000) Durante as últimas décadas, a Psicologia utiliza vários instrumentos de avaliação psicológica, porém, muitas vezes, sem a devida compreensão sobre os procedimentos e metodologias necessários à avaliação científica dos fenômenos humanos, principalmente no que tange à utilização de um pensamento mais sistemático e organizado. Diante do exposto pode-se entender que a avaliação psicológica pode ser entendida como um processo de coleta de dados que visa descrever e classificar comportamentos usando para isso, instrumentos psicológicos a fim de se obter um maior conhecimento do indivíduo e conseqüentemente poder tomar determinadas decisões. Quando nos dispomos a realizar um psicodiagnóstico, presumimos possuir conhecimentos teóricos, dominar procedimentos e técnicas psicológicas. Como são muitas as teorias existentes, e nem sempre convergentes, a atuação do psicólogo em diagnóstico varia consideravelmente. Ela, então, enfatiza a necessidade de integração entre todas as correntes em Psicologia. (CUNHA, 2000) 11 Para se compreender o homem, é necessário organizar conhecimentos que digam respeito à sua vida biológica, intrapsíquica e social, não sendo possível excluir nenhum desses horizontes. O fato de o homem ser um objeto de estudo bastante complexo, gera um obstáculo a mais quando pensamos na Psicologia como ensino, e principalmente, na formação do aluno. O objetivo maior é o de conhecer o potencial de cada pessoa, suas competências individuais e, para isso, o teste psicológico ainda é o melhor instrumento de que se dispõe, pois além de resultar em dados confiáveis, já que suas características psicométricas são comprovadas cientificamente, ele permite que o psicólogo tenha uma visão total da pessoa, que consiga definir quais são as suas competências ou características mais vantajosas e quais aquelas em que precisaria investir um pouco mais. O plano de avaliação se estabelece baseadas em questões ou hipóteses iniciais, definindo-se não só quais os instrumentos necessários, mas também como utiliza-los. O processo do psicodiagnóstico pode ter um ou vários objetivos, dependendo dos motivos alegados ou reais do encaminhamento da consulta que norteiam o elenco de hipóteses inicialmente formuladas e delimitam escopo da avaliação. Assim conforme aborda CHAMPLIN (1997, p. 874) os ministros da palavra com freqüência são chamados a dar conselhos, de maneira formal ou informal. Em anos recentes, o aconselhamento cristão tem recebido um renovado impulso e interesse, como o surgimento de especialistas, dotados de bom treinamento nesse campo de atividades. 12 Considerável literatura tem surgido sobre o assunto. Mas também tem havido abuso, por parte de alguns ministros que pouco ensinam da Bíblia, porquanto eles se tornaram mais psicológicos do que pastores e mestres, e sua prédica está eivada do vocabulário usado na psicologia. Outro tanto tem sucedido a conferências onde, antes, a Bíblia era o centro das atenções. Mas agora elas se assemelham mais a sessões psicológicas populares, com algum verniz de religiosidade. Por outra parte, é bom que os ministros do evangelho tenham algumas noções básicas sobre o assunto, sabendo também como outros ministros, que se tornaram especialistas nesse campo, manipulam essas questões. Assim, são melhor capazes de examinar, expressar e manipular idéias. A ignorância nunca é recomendável. Um ministro do evangelho deve estar bem informado em várias áreas, e quanto mais, melhor, ao mesmo tempo em que jamais deve olvidar-se dos requisitos do seu chamamento como pregador do Evangelho de Cristo. Ainda de acordo com Champlin (1997, p. 874) em nosso moderno e complexo mundo, o ministro é uma pessoa que se dispõe a ajudar os outros, e cuja ajuda não seja dispendiosa em termos econômicos. Portanto, um pastor será procurado para aconeslhar e ajudar quanto a muitos problemas, como aqueles envolvidos no matrimonio, no vício com drogas, nos casos de ansiedade, de tristezas, de aspirações, de necessidade e orientação, ou de qualquer coisa que aborde a vida humana diária. Ocasionalmente, um ministro do evangelho não se sentirá apto a aconselhar sobre determinados problemas, pelo que deveria ser capaz de encaminhar as pessoas a médicos, advogados. Naturalmente no campo das questões religiosas, um pastor jamais poderá desistir de suas funções, deixando o bem estar das almas entregue aos cuidados de quem não entende que o principal 13 problema humano é como corrigir seu relacionamento com Deus e com os nossos semelhantes. Infelizmente isso tem sucedido. Assim de acordo com vários autores desta área mister se faz dizer que um dos mais conhecidos conselheiros cristãos da atualidade, um pastor presbiteriano, surpreendeu-se quando descobriu, na universidade onde estava estudando psicologia, que a melhor técnica de aconselhamento é aquela que segue os moldes bíblicos, ou seja, fazendo os pacientes enfrentarem sua realidade moral diante de Deus, dos homens e de si mesmos. A esse método ele chamou de aconselhamento noutético, ou seja, alicerçado sobre a iluminação da mente do paciente, com o uso da Palavra de Deus. Assim o ministro que busca aconselhar, deve dispor-se a enfrentar certo número de responsabilidades. Em primeiro lugar, ele precisa ser um homem de sólidos conhecimentos. A ignorância oculta por detrás de citações bíblicas, não é grande ajuda. Além disso, ele precisa ser um exemplo de espiritualidade, afim de que suas palavras tenham peso. Também é mister que entenda a linguagem das emoções. Nunca deveria devolver hostilidade pela hostilidade recebida, prestando conselhos com termos aceitáveis. Haverá de tratar com mulheres, casadas, viúvas e solteiras, que enfrentam muitos tipos de problemas com homens, mas tem sede de afeição. Isso posto, será objeto de tentativas de sedução. No caso de mulheres atraentes, será tentado a seduzi-las, porquanto um pastor é uma pessoa como outra qualquer, impulsionado por impulsos irracionais, como qualquer outra pessoa. Um dos piores escândalos que envolvem o tratamento psiquiátrico é a freqüência das relações sexuais entre os médicos e suas pacientes. Acrescente-se a isso que um ministro do evangelho, tal e qual um médico ou um advogado, deve saber guardar segredos, sempre que as pessoas aconselhadas 14 solicitarem segredo, e sempre que o senso de propriedade do pastor assim mostrar que deve ser. Há aquele velho escândalo da esposa do pastor que espalha tudo quanto ouve. E um ministro também não deve usar os casos que trata como ilustrações em seus sermões. As pessoas não terão dificuldades em perceberem a quem ele se refere. Quanto um ministro torna-se conselheiro profissional, deve cuidar para não promover sua igreja ou sua denominação, embora, necessariamente, promova princípios bíblicos e espirituais. Em todo o seu envolvimento no campo da psicologia, sempre deveria conferir suprema importância a espiritualidade do homem, tratando com as pessoas como almas necessitadas, e não apenas como mentes perturbadas. Um pastor sabe que o Senhor Jesus é o médico da mente, das emoções, do espírito, e não apenas do corpo. Neste contexto, os pensamentos das pessoas transparecem em suas reuniões, e isso empresta autoridade as suas palavras de uma maneira como não se verifica quando alguém fala isoladamente. No entanto, também há conselhos ímpios, negativos e também aqueles conselhos que são desobedecidos e ignorados. (Sl. 33:10, 11; II Sam. 15:34; Isa. 49:19; 19:3). O Messias como conselheiro. Izaias previu a vinda do grande Conselheiro (Isa 9:6; 11:2) o conselho da paz seria estabelecido entre o Messias vindouro e o sumo sacerdócio (Zac. 6:13) O Novo Testamento tem um sistema de amor conhecimento. O nome grego para isso é gnosis. O amor e o conhecimento são os dois grandes alicerces da espiritualidade. O amor é a virtude cardeal sobre a qual se alicerçam todas as demais virtudes, a prova da mesma da espiritualidade de alguém. Assim 15 enfatizamos que as crenças são importantes, mas a transformação da alma mediante a atuação do Espírito de Deus, é a própria substância da nossa fé cristã. Por outro lado, a pessoa que faz aconselhamento pastoral também traz consigo uma história, que é a história de sua vida. Esta é impregnada de imagens e símbolos que vão ajudá-la a interpretar. Além disso traz consigo todo um conhecimento teológico, psicológico e social. São mundos de linguagem diferentes que oferecem interpretações da condição humana. O aconselhamento pastoral é, assim, O processo dialógico hermenêutico envolvendo a comunicação do conselheiro e do aconselhando através dos limites do mundo e da linguagem. O diálogo acontece em muitos níveis, alguns entre o conselheiro e o aconselhando, outro dentro do conselheiro, quando ele a classifica as imagens, temas e símbolos das várias disciplinas das quais se tem apropriado em busca daqueles que parecem apropriados ou permitem entender aquilo que está sendo ouvido. As interpretações que resultam precisam então ser relacionadas com quem está procurando ajuda de formas que capacitem aquela pessoa a reestruturar sua experiência (STRECK, 1999, p. 103). Novas histórias emergem e a relação de aconselhamento proporciona um novo significado. Referindo-se à perspectiva de Anton Boisen, que é considerado o fundador do treinamento clínico em aconselhamento pastoral nos Estados Unidos, Gerkin comenta que o objetivo principal de Boisen era de que a linguagem teológica não perdesse o contato com as histórias da experiência humana. Por isto, segundo Gerkin, Boisen enfatizou o estudo de "documentos humanos vivos" para que se aprendesse ali o significado do sofrimento humano. Interpretar um "documento humano vivo" não é somente como interpretar um texto, mas signifíca que este texto merece o mesmo respeito que é dispensado aos textos que se encontram na tradição judaico cristã. 16 No entanto, ao entrar em contato com a outra pessoa, o conselheiro pastoral não vem de mãos vazias. Traz consigo sua própria experiência. Traz sua história e seu mundo de linguagem. Destarte, para entender o outro não pode haver uma barreira entre os mundos de linguagem. Para conhecer o outro temos que permitir que o outro entre em nosso mundo. Essa compreensão mútua é possível, na opinião de Gerkin, que usa o paradigma da "fusão de horizontes" da hermenêutica de Gadamer. Esta perspectiva mostra que não encontramos o outro de mãos vazias, mas com o nosso pré-entendimento e preconceitos. E é a partir da consciência destes que podemos estar abertos para o novo que o texto nos traz. Por isto, o cuidado pastoral e o aconselhamento pastoral não são um processo de relação sujeito-objeto. Esta seria uma maneira de usar os conhecimentos para interpretar e avaliar o texto. Aqui, ao contrário, o texto deve poder dizer algo novo para a pessoa que faz o aconselhamento pastoral. Deve haver um "encontro intersubjetivo" onde não aconteça um simples entendimento do que aconteceu, mas onde surja a pergunta sobre a mudança que deve haver através do processo de aconselhamento. Assim, a idéia de fusão de horizontes de Gadamer traz para o aconselhamento pastoral a compreensão de uma "mudança consiste simplesmente em um entendimento alterado. Através de uma reorganização do mundo interno da pessoa com problemas e da fusão de horizontes das suas histórias, que representam as suas relações de objeto, com as histórias da tradição cristã é possível chegar a uma reinterpretação da sua vida em relação ao evangelho. Gerkin busca uma hermenêutica teológica e psicológica para compreender o texto. Assim como há uma identidade histórica e escatológica, há também uma identidade individual e ecológica que precisam ser consideradas no aconselhamento, pois essas identidades são forças que dão significado e moldam 17 a vida humana. Ao mesmo tempo, o aconselhamento pastoral deve acontecer no âmbito da igreja e não fora dela, pois não é possível se distanciar, no aconseIhamento pastoral, da dimensão escatológica e evangélica. Na hermenêutica psicológica, que é denominada "a hermenêutica do self no aconselhamento pastoral, Gerkin faz uso de conceitos da psicologia do ego de enfoque psicanalítico. Na perspectíva psicológica cada pessoa é um self que tem um desenvolvimento no qual se formam narrativas a respeito do mundo em que vive. Essas narrativas constituem um horizonte que se encontra com outro horizonte do contexto familiar, sócio-cultural e da tradição de fé da pessoa. Assim se fundem os diversos horizontes. Os três termos self, ego e alma apontam para a mesma identidade que é o centro da vida humana; no entanto, são desenvolvidos em linguagens diferentes. Olhando para a vida da alma, podem-se ver as relações que existem com as diferentes linguagens. Geralmente a vida pessoal é a mais enfatizada e trabalhada; isto também no aconselhamento. A área mais negligenciada é a perspectiva da fé e cultura. Todas as três áreas se interrelacionam e são igualmente importantes. Denomina-se esse processo interpretativo central com o título dual "a hermenêutica da alma" primariamente para indicar dois aspectos um psicológico e o outro teológico. Da perspectiva psicológica, baseada em Boisen, localiza-se o problema central do self no processo hermenêutico: a conexão da experiência com as idéias e símbolos. De uma perspectiva teológica afirma que a vida da alma não tem a ver isoladamente com a relação "espiritual" com Deus separada da vida do self no mundo. Antes, a vida da alma em relação a Deus é parte integrante da vida do self em todos os relacionamentos, sua luta pela integridade no nexo da conexão de uma confluência de forças e significados. Esta concepção da vida da alma 18 pressupõe um Deus que é ativo no mundo, encamado na vida criada e com um propósito na história. O envolvimento pastoral requer não só um bom preparo e experiência de quem faz o aconselhamento, mas também um envolvimento pessoal e interpes-soal que toca nos níveis mais profundos da alma do aconselhante, bem como nos aspectos vulneráveis profundos da alma de quem faz aconselhamento, pois há uma inter-relação em diferentes níveis. Este é o modelo hermenêutico. No ato de interpretação, inicia-se uma relação dialógica que implica uma troca de significados entre intérprete e texto. Na concepção de Gadamer, na medida em que o diálogo avança, o diálogo em si mesmo assume o comando e acontece um processo que ele denominou de fusão de horizontes. Os significados que surgem dessa fusão são históricos, isto é, eles são singulares em relação àquela ocasião interpretatíva histórica. É no processo contínuo da fusão de horizontes entre os textos clássicos de uma tradição e intérpretes que vêm com diferentes horizontes moldados historicamente que uma tradição permanece viva e viável em diferentes situações ao longo do tempo. Sem tal processo de fusão de horizontes, uma tradição se torna fixa e morta; seu poder para falar à cena cambiante da existência histórica se perde (STRECK, 1999, p. 111). Para um auto-entendimento como conselheiro pastoral é preciso um “desvio hermenêutico” que permita refletir sobre as imagens teológicas e os símbolos que dão forma ao entendimento da tradição cristã. É na tradição bíblica e teológica que são buscadas imagens e símbolos que se tomam importantes para interpretar problemas e responder perguntas. E aqui não se está totalmente só, pois há uma comunidade que compartilha essas imagens e símbolos. O modelo de aconselhamento pastoral ou cuidado pastoral proposto por John Patton olha para o contexto dando atenção a questões de raça, gênero e injustiça social. Ao mesmo tempo presume que a tarefa de cuidar deve ser repartida entre os membros da comunidade e não cabe somente ao pastor. Trazendo uma perspectiva holística e não-hierárquica de ministério, John Patton usa a imagem do corpo de Cristo (1 Co 12 e Ef 4), apontando para a igreja como 19 uma comunidade de muitos ministérios e não uma comunidade em tomo de um pastor. Desta forma, entende-se que o "ministério de cuidar" deve ser exercido tanto por leigos como por pastores. A perspectiva comunitária contextual surge, conforme Patton, de vários momentos históricos, entre eles a nova perspectiva de ecumenismo do Vaticano II, a busca de união das igrejas, a concepção de superar o modelo hierárquico das igrejas e dos movimentos sócio-econômicos, de gênero e raça. O aconselhamento pastoral que tem a perspectiva do contexto abre os horizontes para um novo paradigma em que leigos e clérigos são envolvidos igualmente na tarefa de cuidar. Com esta perspectiva, tem-se três modelos de cuidado pastoral que se integram. O primeiro é o modelo clássico, que vem do início do cristianismo e se estende até o início deste século, quando começa a psicologia moderna. O modelo clássico tinha como elemento principal a mensagem baseada na teologia e na tradição. O segundo, denominado de modelo clínico, predominou nos últimos 50 anos e se preocupou com a pessoa que faz o aconselhamento, dando-lhe uma boa formação na área da psicologia e ao mesmo tempo proporcionando-lhe um bom autoconhecimento que a capacitava para compreender o outro. Já o terceiro modelo, o proposto por Patton, engloba os dois primeiros e acrescenta a dimensão do contexto. A intenção de englobar os dois primeiros modelos é de complementar o terceiro, pois a) o modelo clássico, que considera o enfoque bíblico e da tradição judaico-cristã, traz formas e metáforas que ajudam a compreender que, como seres humanos, as pessoas são criadas para cuidar umas das outras. A idéia central do modelo clássico é de que Deus criou a pessoa com carinho para que ela pudesse se relacionar com as outras. 20 b) o modelo clínico traz a idéia central de que, assim como uma pessoa cuida das outras, ela também deve poder cuidar de si. Cuidar dos outros requer uma reflexão e uma participação experiencial. O treinamento clínico e a supervisão que sempre foram enfatizados neste modelo são importantes para o bom desempenho do cuidado pastoral tanto por parte de leigos como de clérigos. Englobando esses dois modelos, o terceiro, chamado de modelo comunitário contextual, oferece um paradigma novo e ao mesmo tempo tradicional. O aconselhamento pastoral comunitário contextual proposto por John Patton é realizado tanto por leigos como por clérigos e implica a idéia de uma comunidade que cuida porque ela é cuidada por Deus. Patton fundamenta esta perspectiva no paradigma do contexto bíblico, onde a lembrança do cuidado de Deus para com o seu povo aconteceu durante toda a história da tradição judaico-cristã. Esta perspectiva, quando lembrada pelos relatos bíblicos, faz com que a comunidade memorize esse cuidado. Ao mesmo tempo, é através dessas lembranças do cuidado que se tem a perspectiva da mensagem do evangelho, do ser humano e do contexto em que se vive. Por isto, segundo Patton, quem faz aconselhamento pastoral deve lembrar da ação de Deus para as pessoas que buscam o aconselhamento bem como lembrar das pessoas para quem ministrarão o cuidado. Deus criou os seres humanos para a relação com Deus e para a relação uns com os outros. Deus continua em relacionamento com a criação ouvindo-nos, lembrando-se de nós e nos colocando em relação uns com os outros. O cuidado humano e a comunidade humana são possíveis porque somos mantidos na memória de Deus; por isto, como membros de comunidades que cuidam, nós expressamos nosso cuidado de forma analógica ao cuidado de Deus também ouvindo e lembrando (STRECK, 1999, p. 117) Conforme este entendimento, o cuidado que existe entre as pessoas só é possível porque elas sabem que Deus se lembra delas. Da mesma forma como 21 Deus se lembra e cuida delas, assim existe o cuidado entre a comunidade. A imagem da lembrança é afirmada tanto no Novo como no Antigo Testamento. Destarte, também quem faz o aconselhamento pastoral é constantemente solicitado por pessoas em crises, doentes ou moribundas para lembrá-Ias em orações. É a lembrança de ser cuidado que acontece no contexto da comunidade. Para que haja uma comunidade que cuida e se lembra de seus membros é preciso que haja um compartilhar de identidade, de autoridade, de memória e de vida, bem como de visão de mundo. Uma comunidade que cuida e que lembra não é um lugar onde todos se dão bem e não existem conflitos, mas é aquele lugar onde os membros estão juntos porque como seres humanos, seus membros necessitam uns dos outros para poder fazer seu trabalho de ministério. Os relacionamentos com os outros membros da comu-nidade são iinportantes, porém aparentemente mais importante é a consciência de participar de uma tarefa comum e de não estar sozinho nas dificuldades e respon-sabilidades da vida (...) A conexão simbólica interna das pessoas envolvidas juntas no ministério parece ser mais importante do que experienciar o prazer de determinados relacionamentos comunitários. Estar com o outro no ministério é mais importante do que a satísfação de simplesmente estar com (STRECK, 1999, p. 117). . A sensibilização que acontece entre as pessoas que são cuidadas faz com que elas se mobilizem para poder também cuidar dos outros. Usando a imagem da lembrança e do cuidado, que faz com que as pessoas possam se agrupar numa comunidade que cuida e que tem a visão aberta para diferentes contextos em que pode ajudar outros, Patton mostra como o "aconselhamento pastoral comunitário contextual" desencadeia uma rede de solidariedade. Essa rede não tem só no pastor o centro de liderança, mas a tarefa de cuidar é distribuída entre membros leigos da comunidade que também podem ser treinados para o aconselhamento pastoral. 22 Usando a imagem de lembrar e ser lembrado, Patton diz que no cuidado pastoral o importante é ouvir, para poder, como um "minietnógrafo", observar o que acontece nos diferentes contextos em que as pessoas que precisam de ajuda estão envolvidas. Observar e entender as diferentes culturas, ouvindo os diferentes mitos, ritos e as atividades diárias são aspectos que não foram observados nos modelos tradicionais de aconselhamento pastoral e que são enfatizados por Patton sempre na perspectiva de que o aconselhamento pastoral não tem o objetivo de resolver problemas ou de curar, mas de ouvir e relembrar. Ele discute diferentes contextos como "raça, gênero, poder, problema e moralidade" e diz que para a maioria das situações os leigos podem e devem ser engajados em forrna de um grapo que recebe um treinamento especial e que opera como uma rede de apoio. Este enfoque implica a idéia de uma comunidade terapêutica. Essa rede de apoio é formada por pessoas que foram ajudadas e que agora também apóiam e cuidam. A perspectiva de subsistemas e sistemas com o enfoque do aconselhamento de casais e famílias é descrita no livro Christian Marriage and Family, em que são trabalhadas de uma perspectiva sistêmica as diferentes gerações e constelações familiares, Ao contexto das famílias atuais é contraposto o contexto bíblico. Patton foge do padrão interpessoal-individualista de cuidado pastoral. Sendo uma atividade da comunidade, o cuidado pastoral não é uma prática só do pastor, mas repartida entre a comunidade de fé. Porém também as pessoas leigas devem ter um treinamento específico em aconselhamento pastoral. Pelo fato de ser uma atividade da comunidade, todos são responsáveis pelas situações difíceis que acontecem nesta. A preocupação de uma integração de leigos no aconselhamento pastoral também é articulada por Lothar C. Hoch, que propõe 23 sua participação neste ministério. Refere-se também ao modelo de aconselhamento de grupos "onde a dor seja repartida de forma solidária". 4 ENTENDENDO O QUE A BÍBLIA FALA SOBRE OS VÍCIOS A Bíblia condena a embriaguez, e o abuso do álcool, mas não faz nenhuma referência específica ao abuso de drogas, aos transtornos alimentares, ao vício do trabalho e a maioria dos vícios que nos preocupam hoje em dia. Porém, há alguns princípios bíblicos que podem ser aplicados a questão do vício como os seguintes: • Não se deixe dominar por coisa alguma: Podemos ser escravizados até mesmo por coisas permitidas e que são intrinsecamente ruins. Ao se afirmar sua determinação de não se deixar dominar por coisa alguma. Além disso, o apóstolo também crítica pessoas que são sexualmente imorais, gananciosas, idólatras, alcoólatras e dominadas por outros comportamentos que não conseguem controlar. • Obedeça a lei: a Bíblia nos instrui a sermos cidadãos cumpridores da lei. Portanto, é errado comprar, vender, tolerar, possuir ou usar qualquer droga ilegal. Praticar atos violentos ou criminosos, dirigir bêbado e cometer outros atos ilícitos é errado, mesmo quando o indivíduo que os pratica é viciado. • Não pense que drogas e outros vícios podem resolver problemas e reduzir tensões: o estresse é uma das maiores causas de vícios. Quando as pressões se intensificam, algumas pessoas usam o álcool ou outras drogas para amortecer o estresse e experimentar uma sensação de euforia, que as ajuda a esquecer os problemas e sentir que tudo vai bem. Durante muito tempo, esses comportamentos, podem ajudar a pessoa a fugir da responsabilidade de resolver a situação, que está causando o estresse, mas 24 os problemas acabam aflorando e o vício não consegue mais aliviar a pressão. Em vez de proporcionar uma solução, os vícios acabam provocando mais estresse. Agindo assim, estão ignorando a diretriz bíblica que nos manda colocar nossas cargas aos pés de Cristo, onde podemos encará-las honestamente e resolvê-las sem rodeios. • O corpo do crente é o templo do Espírito Santo e, por isso, devemos fazer tudo o que pudermos para manter nosso corpo livre de poluentes, inclusive drogas, pensamentos lascivos e comportamento sexual imoral. Todo corpo humano foi feito por Deus, e o corpo do crente pertence a ele por duas razões: por causa da criação e da redenção divina. A Bíblia e o senso comum nos dizem, portanto, que devemos cuidar de nós mesraos para podermos glorificar a Deus com o nosso corpo. Não espere cbegar a Deus através das drogas. Há muitos anos, um livro bastante controvertido (escrito por um professor de seminário) defendeu a tese de que as drogas psicodélicas podiam oferecer um caminho melhor para chegar à verdade e ter uma experiência religiosa significativa. Esta idéia nega o fato de que só podemos chegar a Deus por intermédio de Jesus Cristo, e que devemos chegar com a mente sóbria, e não com o cérebro drogado por substâncias alucinógenas. Praticar a temperança, a autodisciplina e o autocontrole. Estas características são proeminentes na lista de qualificações exigidas do líder cristão, mas também se aplicam aos que não são líderes". Todos os crentes devem dizer não à iniquidade e às paixões mundanas, vivendo "no presente século, sensata, justa e piedosamente". O amor à boa-vida e a ambição egoísta são condenados"; o autocontrole é uma ordem e aparece na lista dos frutos do Espírito. A glutonaria (que pode ser relacionada com o vício de comer em demasia), a cobiça (que 25 pode ser relacionada com a compulsão de adquinr bens matenais) e a luxúna (que pode levar ao vício do sexo) são práticas condenadas, sobre as quais a Bíblia nos alerta. A embriaguez é clara e explicitamente condenada na Bíblia, que a classifica como um pecado'. Creio que é coerente com o ensinamento bíblico estender esta clara proibição a outros tipos de vícios perniciosos. Portanto, não devemos nos embriagar nem nos deixar viciar por nenhuma substância química. Em Efésios 5.18 ensina que não devemos nos embriagar, e sim nos encher do Espírito Santo. A Bíblia afirma que uma vida controlada pelo Espírito é superior a tudo, ínclusive a uma vida controlada pelas drogas ou qualquer outro tipo de vício. 4.1 AS CAUSAS DOS VÍCIOS Os vícios não são nenhuma novidade, e não estão restritos apenas a determinadas culturas. Em diferentes épocas, e em diversas regiões geográficas, certos vícios têm gozado uma populariedade passageira. O abuso do álcool, por exemplo, pode ser mais comum agora do que era há alguns anos. Cheirar cola deixou de ser tão importante, mas o crack - uma forma de cocaína extremamente viciante e perigosa - tornou-se uma das princípais fontes de vício, principalmente quando associado ao álcool. Ao longo de toda a história, e em países do mundo inteiro, sempre houve uma percentagem da população com sérios problemas de abuso de drogas e outros tipos de vícios. Pode-se enumerar algumas causas do alcoolismo: fisiologia e hereditariedade, ambiente prejudicial (que inclui o ambiente doméstico, os grupos de amigos e as tradições étnico-culturais), estresse, influências espirituais e circunstâncias que 26 alimentam o vício, depois que ele se instala. Todos esses fatores podem contríbuir, também, para outros tipos de vício, além do alcoolismo. Além disso, o abuso de substâncias químicas, os transtornos alimentares e outros comportamentos compulsivos parecem ter causas singulares. As causas da dependência química, George Mann, diretor médico do Instituto Johnson de Minneapolis, um centro dedicado ao estudo e tratamento da dependência química, afirmou que todas as substâncias químicas que causam dependência tem uma coisa em comum, elas provocam alterações de humor. Algumas destas substâncias são extremamente potentes e altamente viciantes; outras tem efeito mais brando. Segundo Mann, as drogas podem ser exposta numa escala evolutiva que vai desde aquelas com menor potencial para causar dependência até as de altíssimo potencial. Praticamente qualquer pessoa pode se tornar psicológica ou fisicamente dependente de drogas se for exposta a uma alta dosagem, durante um tempo suficientemente longo. Uma droga como a heroína, vicia num tempo curto e os efeitos são rápidos e muito perigosos. Já a cafeína precisa de um tempo maior, e os efeitos são quase desprezíveis. Nossa vida poderia ser dividida em quatro áreas gerais: vida familiar, vida social, vida profissional e vida espiritual. Quando uma substância química interfere com a produtividade, tranquilidade e eficiência ou bem estar de qualquer uma dessas áreas, e a pessoa percebe que isto está acontecendo mas continua usando a substância, esta pessoa está dependente, pelo menos psicologicamente. Se, além disso, a pessoa se sente fisicamente doente e quando a droga é retirada, então também existe a dependência física. 27 O que provoca esta dependência física? Provavelmente uma combinação de diversos fatores. Vivemos numa sociedade de consumidores de comprimidos. Logo cedo, as crianças são apresentadas aos remédios que tiram a dor e fazem a gente se sentir melhor. Os adolescentes vêem seus pais tomarem, aspirinas, antigripais, pílulas para dormir e um monte de outras drogas. Milhões de pessoas relaxam tomando uma xícara de café, ou fumando um cigarro, ou bebendo um aperitivo antes do jantar. Quando surgem os problemas, aparecem logo os tranquilizantes para acalmar nossos nervos. Não é de admirar que os jovens sigam este exemplo dos adultos e perpetuem a idéia de que as drogas são a primeira linha de defesa contra o sofrimento físico e psicológico. Poucas pessoas diriam que as drogas, em si, sao ruins. Seu valor medicinal é bem conhecido e até reconhecido na Bíblia. A maioria das pessoas não vê mal algum no uso eventual de estimulantes suaves, analgésicos ou drogas relaxantes. Porém, mesmo as drogas leves podem causar dependência, às vezes por causa do exemplo familiar. Se os pais tomam um comprimido ou uma bebida alcoólica para relaxar em momentos de crise, é de estranhar que os filhos façam o mesmo? Se a droga atua sobre os filhos com o mesmo efeito calmante que tem sobre seus pais, seu uso é reforçado, e existe grande probabilidade de que venha a ser utilizada novamente, talvez com maior freqúência e em quantidades cada vez maiores. Muitos dependentes químicos vem de lares onde as drogas não eram mal empregadas, mas isso não invalida a importância do exemplo dos pais. Uma grande porcentagem de adolescentes e adutros dependentes (principalmente os que utilizam drogas pesadas e altamente viciantes) foram criados em ambientes onde os vícios e a instabilidade familiar eram comuns. 28 (b) Pressões do grupo e outras influências sociais. Na nossa sociedade, as pessoas, e principalmente os jovens, vivem num mundo permeado pelas drogas. Por que algumas pessoas se tornam usuárias dessas drogas, enquanto outras não? Existem várias teorias que tentam responder a esta pergunta e explicar o abuso de drogas. As teorias que consideram a dependência como uma doença defendem a tese de que pessoas saudáveis experimentam uma droga (talvez movidas por curiosidade ou pela pressão do grupo de amigos) e se tornam fisicamente dependentes, de modo que o abuso de drogas se torna uma doença. Parece haver poucas evidências que apóiem a idéia de que a tendência de tornar-se dependente de drogas não-alcoólicas é hereditária. A teoria da escada sugere que o uso de um tipo de droga é um degrau que leva a drogas mais pesadas. Por exemplo, um jovem pode começar com o cigarro e a cerveja, depois passar para a maconha e ir avançando na direção de drogas mais poderosas. Contudo, esta teoria não explica por que alguns fazem esta progressão e outros não. As teorias sociais dizem que fatores como raça, idade, condição sócioeconômica, vizinhança, grau de instrução, influência do grupo e outros podem se combinar para determinar se a pessoa usará drogas, que tipo de droga é mais provável de ser usada, como o hábito será sustentado financeiramente, e se o uso será continuado ou não. As teorias psicológícas voltam-se para o íntimo do usuário de drogas para determinar se características de personalidade, estresses psicológicos, conflitos internos, medos ocultos ou necessidades individuais contribuem para a dependência química. Muitos usuários de drogas realmente apresentam tensões internas e 29 frustrações. Alguns procuram experiências (inclusive experiências com drogas) que possam causar excitação, estimulação, intoxicação e sensação de estar livre das preocupações dos pròblemas da vida. Contudo, estas teorias também não conseguem explicar com clareza por que algumas pessoas angustiadas se voltam para as drogas, e outras não. A teoria da influência do grupo contém elementos das teorias descritas anteriormente e supõe que, quando um jovem usa drogas, é quase sempre por influência direta do grupo a que pertence. Amigos, conhecidos e irmãos conseguem a droga e ensinam os mais jovens a utlizá-la. O grupo dita a atitude de seus membros em relação às drogas, proporciona o contexto social para sua utlização e, nas conversas sobre o assunto, ajuda a elaborar as razões que a juventude usa para explicar e justificar o uso de drogas. Após algum tempo, formam-se subgrupos e seus membros usam drogas juntos, em determinadas ocasiões e lugares, compartilhando as mesmas idéias, valores e crenças sobre drogas. Esses subgrupos são as chamadas tribos ou turmas; (...) agrupamentos fechados e coesos, em que os membros se caracterizam por atitudes e comportamentos claramente definidos (STRECK, 1999, p. 135) . A formação de grupos não é um fenômeno restrito aos adolescentes. O consumo é estimulado pela interação social. Quando as pessoas bebem cerveja, ou bebidas alcoólicas mais fortes, ou quando a nicotina é substituída por drogas que causam maior dependência, a agradável interação do grupo estimula o uso de substâncias perigosas. Tudo isso indica que as causas do abuso de drogas são múltiplas: físicas, familiares, sociais, ambientais, psicológicas e espirituais. Cada uma delas deve ser levada em conta no aconselhamento de dependentes químicos. 30 CONCLUSÃO Vários termos são utilizados para designar um acompanhamento pastoral por parte da comunidade cristã a pessoas que passam por dificuldades nas diferentes fases de suas vidas. Entre estes encontramos termos como psicologia pastoral, que indica o uso da psicologia na assistência as pessoas em crise; a clínica pastoral, que se refere mais a saúde física e psíquica e a atenção por parte da igreja a pessoas doentes; a cura das almas. Desta forma acredita-se que o aconselhamento pastoral tem como objetivo descobrir com as pessoas em diferentes situações da sua vida e especialmente em conflitos e crises o significado concreto da liberdade cristã dos pecadores, cujo direito de viver e cuja aceitação vem da graça de Deus. O objetivo primordial do Ministério Resgate é ajudar os jovens para que possam viver a relação com Deus e com o próximo de uma maneira consciente e adulta, incluindo a capacitação das pessoas para assumirem a sua responsabilidade como cidadãos que se engajam em favor de uma melhora das condições de vida do seu povo numa sociedade livre, justa e democrática. Assim enfatiza-se também que a moralidade do Pastor neste caso trata-se de um fato intransponível da nossa condição humana, é um sistema de proteção de seres vulneráveis pela via da socialização. Ela traduz as nossas ações ideais associadas a uma certa ordem superior de exigências, como as de dignidade e de respeito, que funcionam como critérios de avaliação e que explicam os sentimentos consecutivos de remorso e de vergonha perante uma falta cometida, mas também de indignação diante de um tratamento injusto ou desigual. Hoje podemos ver em vários momentos da nossa sociedade o aumento progressivo no interesse pela psicologia. Visto que a mesma passou de uma 31 disciplina especulativa, para ocupar espaço em quase todos os ambientes que circundam a vida cotidiana de pessoas de todos os níveis sociais. A psicologia está sendo imposta ao povo de Deus, com o propósito único de conduzi-los ao descrédito na plena suficiência das Escrituras. Percebemos que muitos pastores que fazem aconselhamento procuram muitas vezes respostas na psicologia em ver de buscar na Bíblia Sagrada. Diante disto concluimos que um conhecimento religioso sólido também é util num mundo que se torna cada vez mais multicultural e também onde todos os nossos conceitos, seja ele filósofo, morais, sociais, antropológicos ou de outro tipo, ficam profundamente abalados com acontecimentos que fogem ao controle psicológico. BILIOGRAFIA ALMEIDA, João Ferreira. BIBLIA SAGRADA. Sociedade Bíblica do Brasil, São Paulo, 1995. CAPRA, F. O Ponto de Mutação. São Paulo: Círculo do Livro, 1986. CASTORIASIS, Cornelius. A instituição imaginária da sociedade. Rio de Janeiro, Ed. Paz e Terra, 1982. CHAMPLIN, R.N et al. Enciclopédia de Bíblia: Teologia e filosofia. Candeia: SP, 1997 CHATELET, François. História da Filosofia. Rio de Janeiro: Ed. Zahar. CHAUÍ, Marilena et alii. Primeira Filosofia. São Paulo: Brasiliense, 1985. CHIAVENATO, J. J. Ética Globalizada & Sociedade de Consumo. 3ª. ed. São Paulo: Editora Moderna, 2000. CLINEBELL, Howard J. 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