Apresentação do Movimento Norte pela Vida
Intervenção de
José Pedro Aguiar-Branco
03 de Janeiro de 2007
Alfândega-Porto
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Vivemos tempos em que
- se exige uma militância activa contra o pessimismo,
contra a atracção pela futilidade, contra a desvalorização
do ideológico, contra a elevação do pragmatismo ao
patamar dos valores a preservar.
Vivemos tempos em que
- se exige a afirmação de uma sociedade dinâmica, crente
nas suas potencialidades, com vontade de elevar a sua
auto estima, confiante na sua capacidade de ultrapassar as
agruras sociais e económicas em que se move.
Vivemos tempos em que
- se exige a elevação do homem à dimensão que está para
lá
da
do
indivíduo,
que
rompe
as
fronteiras
do
egocentrismo narcísico de cada um - que leva à exclusão
do outro - e que condiciona a sua afirmação como ser
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eminentemente social – traço estruturante e distintivo da
sua condição humana.
Tempos estes - os nossos tempos - que nos enrodilham
na teia dos interesses materiais que preenchem as
motivações do nosso quotidiano, que nos consomem na
esfera, pequena, do bem estar dos nossos, na ilusão de
que o mundo se contem por aí.
Tempos estes – os nossos tempos – que colocam à
curta distância de um clique na Internet a informação sobre
mundo desesperado que nos comprime - e deveria merecer
a nossa solidariedade - mas que pela fácil confusão do real
com o virtual, nos faz ceder ao conforto intelectual de
acreditar que, ao navegarmos de página para página,
desaparecem,
também
aí,
os
problemas
que
momentaneamente atormentaram as nossas consciências.
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Tempos estes – os nossos tempos – que tudo querendo
para nós, esquecem, com arrogância, que foi o sacrifício, o
espírito de luta, a dedicação e a perseverança de outros,
antes de nós, que trouxe o nível de bem estar de que hoje
usufruímos.
Somos, no entanto, os agentes destes tempos.
Em nós reside a dinâmica que mantém, altera, constrói ou
destrói o que de bem ou mal a nossa sociedade irá legar
aos que a seguir a nós virão.
Os tais nossos filhos a quem – num chavão politicamente
correcto – dizemos querer entregar um mundo melhor,
mais rico, mais solidário e com mais oportunidades de
realização.
Mas…temos revelado mesmo essa capacidade de
abnegação?
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Em nós reside a responsabilidade pela sustentação dos
alicerces de uma sociedade que preserve como o primeiro
dos seus valores, como o pressuposto de todos os outros,
o direito à vida. Direito indisponível que só razões de
excepção poderão comprimir e ao qual devem ser
conferidas todas as condições para a sua afirmação de
modo digno.
Mas…temos mesmo exercitado essa responsabilidade
de sustentação?
Será que para lá do défice das contas públicas um outro,
mais profundo e corrosivo, não se tem consolidado,
paulatina e firmemente, na nossa sociedade: o défice da
nossa
participação
cívica,
da
nossa
exigência
comunitária, da nossa preocupação activa com o devir
comum ?
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Nestes tempos de fácil, rápida e visível possibilidade de
intervenção – são tantos e tantos os meios à nossa
disposição para que seja tida em conta a nossa vontade –
não podemos sistematicamente imputar aos outros – em
ladainha derrotista deprimente - a causa do mal de que
todos, afinal, vamos sofrendo.
E é esta capacidade pró-activa que se espera no
referendo que é a razão do nosso encontro de hoje.
Para que a sociedade possa conviver pacificamente na
indiscutível legitimidade da decisão tomada.
Mas…Caras amigas e amigos,
Recuso-me a aceitar que sejamos incapazes, no nosso
auto-governo colectivo, de reduzir a uma taxa marginal a
ausência de condições para que cada um nasça e viva com
a dignidade que é devida a cada ser humano.
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Recuso-me a aceitar que sejamos incapazes de educar,
informar e prevenir de modo a que a liberdade e a
responsabilidade na procriação andem, também aí, de
mãos dadas.
Recuso-me a aceitar que recuemos civilizacionalmente,
restabelecendo uma variante da pena de morte, de que nos
orgulhamos de ter sido dos primeiros a abolir.
Se acreditamos na ressocialização do homem, ainda que
delinquente grave,
se investimos fartos recursos humanos, financeiros e
logísticos no sentido da sua recuperação – tantas e tantas
vezes com o sabor amargo da frustração do resultado não
obtido –
mais
facilmente
se
justificará
que
invistamos,
com
acrescido empenho, na criação de condições para que uma
maternidade se desenvolva e ocorra num ambiente
saudável - para a mãe e para a criança –
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e uma educação se prossiga, para esta, duma forma
proporcionadora do seu desenvolvimento equilibrado.
Ceder na permissão da livre cessação da gravidez é aceitar
que o Homem – nós todos -
é incapaz de criar as
condições para a sua própria sobrevivência como espécie.
É aceitar, afinal, que até a avaliação do que fere ou não a
nossa dignidade humana
fica apeada do quadro referencial dos nossos valores
comuns,
fica na livre disponibilidade de interesses particulares,
desestruturando-se, assim, um elemento nuclear da nossa
sociedade.
Acreditamos que esse não é o caminho que conduz à
felicidade, individual e colectiva.
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A nossa posição não é contra ninguém. Não discrimina
ninguém. É a favor da mulher, do homem, da criança,
enfim, da vida. É uma posição positiva, optimista e que
acredita que depende também de nós, sobretudo de nós
próprios, sermos amanhã melhores do que somos hoje.
Como outros fizeram no passado.
A nossa posição é
determinada e sólida na convicção,
humilde na forma de se exprimir e
tolerante na sua relação com outros.
Nestes tempos complexos, a nossa posição é, afinal, bem
simples: a defesa inquebrantável do direito à vida.
E, como diz Agustina
“é nas coisas simples que reside o segredo do
sentimento humano”.
Disse.
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