CONFORTO AMBIENTAL DE ÔNIBUS: UM ESTUDO DE CASO EM
NITERÓI.
Vivian Figueiredo Pereira de Almeida ¹
Protasio Ferreira e Castro, PhD ²
O crescimento territorial dos aglomerados urbanos é função do dinamismo de produção do
município. A mobilidade dos habitantes exige um eficiente sistema de transporte de massa para que
a população percorra as distancias com conforto, segurança e rapidez.
Em 1808, a chegada da família real portuguesa ao Brasil trouxe consigo milhares de pessoas. Nesta
época também foram trazidos pela corte veículos para o transporte privado, tais como carruagens,
seges e coches.
Em 1817, com o objetivo de integrar a população social e economicamente, foi introduzido o
transporte público. Este era realizado por veículos de tração animal chamados de Diligências e
Gondôlas.
Dunlop (1973) esclarece que os primeiros ônibus, puxados por quatro animais, começaram a
trafegar no Rio em 1837 ou 1838. A prestação de serviço de transporte por ônibus no Rio de Janeiro
era feita por meio da “Companhia de Ônibus”. A oferta do serviço criou a opção de moradia fora da
região do centro histórico da cidade. Nessa época, a “Companhia de Gôndolas Fluminenses”,
composta por coches também puxados por burros era principal concorrente da “Companhia de
Ônibus”. Ambas, porém, sucumbiram em 1868 com a chegada dos bondes de tração animal da
“Botanical Garden Rail Road Company”.
Em torno de 1920, surgiram os ônibus motorizados e os bondes passaram a ter concorrência mais
acentuada. Nas grandes cidades brasileiras, entre 1950 e 1960, um sistema de lotações foi adotado.
A partir de 1960, o sistema de transporte público sofreu significativo impacto quando proprietários
de veículos uniram-se para constituírem empresas de ônibus.
A satisfação do usuário com o sistema de transporte tem entre seus indicadores o conforto
ambiental dos veículos. O objeto do estudo aqui apresentado foi o veículo de transporte coletivo em
seus aspectos do conforto ambiental: distribuição do espaço, iluminação, ventilação e ruído. Foi
realizado levantamento da satisfação dos usuários de três linhas municipais de ônibus. Todas de
uma única das nove concessionárias de transporte coletivos da cidade de Niterói. Ferramentas
estatísticas foram aplicadas aos dados do levantamento de campo.
LINHAS DE ÔNIBUS DO ESTUDO
Todas as três linhas de ônibus do estudo, denominadas de A, B e C, têm trajeto passando pelo
terminal das barcas, ligação marítima entre as cidades de Niterói e do Rio de Janeiro. A rota das
linhas é urbanizada e perpassa edificações residenciais e comerciais. Em toda a extensão das linhas
os veículos trafegam sobre pavimento flexível, isto é, revestimento betuminoso. O total da distância
do trajeto de cada linha é de aproximadamente 19, 20 e 23 km, respectivamente para linha A, B e C.
Ao longo do percurso estão distribuídas paradas com distância média entre elas de
aproximadamente 350m. As três linhas pertencem a uma única concessionária.
METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO
Inicialmente foi utilizada uma variante da técnica PNI para obtenção da percepção dos usuários
sobre o que é fator com aspecto positivo, fator de influência ou de interesse e fator com aspecto
negativo.
Uma primeira campanha de campo levantou junto aos clientes das linhas de ônibus os principais
fatores positivos, negativos e de influência no conforto ambiental dos veículos. As informações
obtidas foram tecnicamente tratadas para elaboração de formulários para as próximas campanhas de
levantamento de campo.
____________________
¹ Discente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, UFF
² Pró-Reitor de Pesquisa e Inovação, UNIGRANRIO
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A partir dos resultados da primeira campanha, foi constituído um conjunto de parâmetros para a
análise das diferentes dimensões, que constituem um sistema de transporte coletivo. Assim é que a
distribuição do espaço, a iluminação, a ventilação e o ruído no interior dos veículos são parâmetros
do conforto ambiental do veículo indicado por usuários do ônibus.
Faz-se necessário notar que, para os usuários, a acessibilidade para pessoas com necessidades
especiais, cadeirantes e idosos, por exemplo, não foi considerada como aspecto significativo do
conforto ambiental do veículo. Entretanto, ela foi considerada como elemento que compõe a
distribuição do espaço no interior do veículo.
A metodologia utilizada no levantamento de campo foi elaborada a partir do foco direcionado aos
aspectos qualitativos e quantitativos e às características do planejamento para aplicação da análise
estatística.
As entrevistas foram realizadas nos pontos finais, durante a viagem e em diversos pontos de parada
do trajeto das linhas. Além disso, as entrevistas foram realizadas em diferentes dias da semana,
período e condições climáticas distintas.
Os resultados indicam que a amostra de usuários entrevistados é constituída por 61% de mulheres e
39% de homens. A motivação para o uso das linhas de ônibus apontou que 57% usam para trabalho,
29% para diversas tarefas, 8% para estudos e 6% para compras de mercado. A faixa etária e o
percentual de cada uma dos usuários entrevistados foram: de 18 a 30 anos31%; de 31 a 40
anos25%; de 41 a 50 anos 25%; de 51 a 65 anos17% e maiores de 65 anos2%.
O cruzamento dos resultados indica que a demanda maior pelo transporte coletivo é uma
necessidade das mulheres, dos usuários que se destinam ao local de trabalho e da população com
idade entre 31 e 50 anos.
Dos usuários entrevistados, 55% consideraram o preço da passagem alto. A distribuição percentual
de utilização do transporte quanto a utilização do dia e necessidade do cliente podem assim ser
resumida:
Periodicidade de uso:
• 1 vez por semana = 1,5%
• 2 a 3 vezes por semana = 20,0%
• Esporadicamente = 13,6%
• Diariamente = 64,9%
• Somente em dias úteis = 66,5%
• Qualquer dia da semana = 32,5%
• Somente nos finais de semanas e feriados = 1,0%
CONFORTO AMBIENTAL DO VEÍCULO
Foram realizadas entrevistas diretas a população usuária das três linhas (A, B e C), que através de
questionário específico atribuiu notas de 1 a 5 a cada item. Esta valoração compreende que a nota
“1” é péssima, “2” ruim, “3” razoável, “4” bom e “5” ótimo.
A técnica estatística da ANOVA aplicada aos resultados indicou que não existe influência das
linhas de ônibus nas notas dos usuários. Entretanto, as notas atribuídas ao conforto influenciam nos
resultados obtidos.
Considerando-se que as notas atribuídas às variáveis influenciam nos resultados obtidos, a técnica
estatística da ANOVA foi aplicada a cada linha independentemente para verificação do teste de
hipótese. Foram utilizadas todas as notas obtidas de cada linha. Portanto, não foram utilizadas as
médias, mas os valores individuais nos testes de hipóteses. As análises estatísticas mostram a
confirmação de que há influência significativa, para um risco de 5%, das variáveis de conforto nas
notas aferidas pelos usuários dos ônibus.
A partir das notas individuais atribuídas às variáveis do conforto foi elaborada a matriz de
correlação. A matriz indicou que não existe forte correlação entre as variáveis do conforto.
Portanto, na avaliação dos usuários, as variáveis do conforto são consideradas independentes.
Aplicando-se teste de hipótese para comparar as notas atribuídas pelos usuários, nota-se que existe
diferença significativa ao nível de 5% entre as médias da iluminação e da distribuição de espaço.
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MODELO MATEMÁTICO APLICADO À AVALIAÇÃO
O Prof. Protasio Ferreira e Castro e alunos do Programa de Pós-Graduação de Engenharia Civil da
UFF desenvolvem um modelo matemático de avaliação da satisfação dos clientes de serviços, como
produto de mercado. A pesquisa sobre o modelo ainda não está concluída.
Aplicando-se o modelo aos resultados do conforto ambiental dos veículos, verifica-se que o índice
de satisfação dos clientes com a empresa varia de 7,50 a 7,99 pontos em um máximo de 10
possíveis.
A satisfação é a algo único, individual e capaz de ativar pensamentos positivos em função do
alcance de suas expectativas. O indivíduo plenamente satisfeito pode ser fiel ao serviço e/ou
produto ofertado pela empresa.
Na avaliação do transporte segundo aspectos do veículo, tanto a iluminação, quanto a ventilação e a
emissão de ruídos atendem as expectativas dos clientes entrevistados. A distribuição do espaço no
interior do veículo foi a variável que obteve menor nota, ou seja, a variável de menor índice de
satisfação do usuário.
As variáveis (distribuição do espaço, iluminação, ventilação e ruído) entre si possuem baixa
correlação. Elas são consideradas independentes uma das outras. Entretanto, influenciam
significativamente nas notas de conforto, aferidas pelos usuários, em todas as linhas de ônibus.
Por meio da aplicação de modelo matemático de satisfação do cliente, concluiu-se que o
atendimento às queixas sobre a distribuição de espaço interno do ônibus está no desejo dos usuários
para elevar a satisfação relativa ao conforto oferecido.
Portanto, o foco na ação da regulamentação de espaço interno dos veículos deve ser objeto dos
governantes, que buscam o bem-estar social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DUNLOP, Charles. Os meios de transporte do Rio antigo. Rio de Janeiro. Grupo de Planejamento
Gráfico, 1973.
FALCONI, Vicente. (2009). “O verdadeiro poder”, Nova Lima: INDG Tecnologia e Serviços Ltda,
ISBN 978-85-98254-41-8.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010). Cidades, 2010. Acessado em 18 de fevereiro
de 2011, em http://www.ibge.gov.br/
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2011). Sistema de Indicadores de Percepção Social,
2011, Mobilidade Urbana. Acessado em 18 de fevereiro de 2011, em http://www.ipea.gov.br/
LIMA Jr., O. F.; GUALDA, N. D. F. (1995) Qualidade em serviços de transportes: conceituação e
procedimentos para diagnóstico. In: IX Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Ensino
em Transportes – ANPET, São Carlos, SP. Anais, v. 2, p. 668-679.
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das empresas em operação. Disponível em http://www.setrerj.com.br/. Acessado em 17/02/2011
SISTEMA TRÓLEBUS NO RIO DE JANEIRO – CAPITAL. Disponível em
http://www.trolebusbrasileiros.com.br/sistemas_br_rj.htm. Acessado em 11 de abril de 2011.
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