Cultura e Turismo como viés para o desenvolvimento do distrito de Maragogipinho (BA): uma contribuição da produção oleira artesanal Msc. Chelly Costa Souza — Universidade Salvador — Pesquisadora1 Profª Dra. Regina Celeste A. Souza — Universidade Salvador — Co-orientadora2 Resumo: Este estudo se propõe a analisar a produção oleira artesanal do distrito de Maragogipinho (BA), e mostrar como seus aspectos culturais poderão contribuir para o desenvolvimento do lugar e da região na qual está inserido a partir do turismo. A produção oleira artesanal é uma prática de sobrevivência de muitas comunidades e a principal atividade econômica de Maragogipinho. Metodologicamente, a investigação envolveu pesquisa bibliográfica, de campo e coleta de dados através de entrevistas semiestruturadas com 118 oleiros, o prefeito do município de Aratuípe e a presidente da Associação de Auxílio Mútuo dos Oleiros de Maragogipinho, aos quais foram aplicados questionários. Conclui ser possível afirmar que a produção artesanal, com a implementação de políticas públicas efetivas, além de ser referência cultural, poderá ser viabilizada como fator de desenvolvimento local e/ou regional. Palavras-chave: Cultura. Produção Artesanal. Turismo. Desenvolvimento Regional. Maragogipinho. A cerâmica, arte de fabricação de artefatos de argila cozida, é uma das manifestações culturais mais antigas. Através de suas criações, o homem expressa sua vivência, seu imaginário, seus sentimentos, dando forma a seu pensamento. Segundo 1 Mestre em Análise Regional e Bacharela em Turismo pela UNIFACS (Universidade Salvador). Pesquisadora do GPTURIS (Grupo de Pesquisa em Turismo e Meio Ambiente) do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano da Universidade Salvador — PPDRU. Este artigo é fruto da dissertação de Mestrado em Análise Regional defendida em agosto/2008 com orientação do Prof. Dr. Jorge Antonio Silva e coorientação da professora Dra. Regina Celeste A. Souza. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Geografia pela Université de Rouen (França) e Geógrafa pela UFBA (Universidade Federal da Bahia). Coordenadora do GPTURIS (Grupo de Pesquisa em Turismo e Meio Ambiente) do Programa de Pósgraduação em Desenvolvimento Regional e Urbano da Universidade Salvador — PPDRU. E-mail: [email protected] Almeida (1980, p. 54), “a necessidade de criar é inerente ao homem. Ela acontece naturalmente e não pode ser detida”. O homem, ao criar, expressa a sua necessidade de agir e de ser. Esta necessidade de expressão permite-lhe não apenas manifestar seus desejos e sonhos, mas, também, pode constituir um meio de sobrevivência. Por um lado, tem um significado simbólico, porque concerne à identidade cultural de uma comunidade; por outro, tem um significado econômico, na medida em que, como produção, gera emprego e renda. No universo da cultura popular brasileira, a cerâmica feita de barro ganha destaque, por ser uma técnica milenar, que envolve o trabalho de comunidades tradicionais. Como assinala Almeida (1980), nesta forma de expressão “se guarda a história mais antiga dos homens, a história do mundo, feita pelas mãos, o aparecer-mundo pela plasmação dos elementos” (ALMEIDA, 1980, p. 54). Além disso, o artesanato merece atenção na chamada economia da cultura, já que, por sua procura, gera ocupação, renda e o aproveitamento dos recursos naturais de forma equilibrada. Isto pode ser evidenciado, principalmente, nas regiões mais pobres do país, haja vista que o artesanato funciona como fator de inserção social. Além de gerar renda, a atividade ajuda a preservar as tradições locais e a fortalecer o sentimento de cidadania. O presente estudo visa a analisar a produção oleira artesanal do distrito de Maragogipinho (BA) e mostrar como seus aspectos culturais poderão contribuir para o desenvolvimento do lugar e da região na qual está inserido e para o fortalecimento cultural a partir do incremento da atividade turística. O distrito de Maragogipinho, no município de Aratuípe, está localizado no Recôncavo Sul da Bahia, a 225 km de Salvador. Atualmente, este lugarejo é considerado o maior centro de produção artesanal da Bahia. Os aspectos culturais de sua comunidade são reproduzidos na lógica da herança cultural, em que o legado artesanal é passado de geração a geração. Maragogipinho é produtor de algo muito singular e peculiar que é a confecção artesanal de cerâmica em barro. Especialmente nesta localidade, o artesanato se configura como a principal atividade econômica e representa a única fonte de renda da maior parte de sua população. Além disso, essa atividade vem contribuindo para o surgimento de outro tipo de atividade econômica: o turismo. Cultura como fator de desenvolvimento: uma perspectiva integrada Segundo Laraia (1986), no final do século XVIII e início do XIX, o termo germânico Kulter era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade. Nesse mesmo contexto, o termo passara a ser usado no plural, “culturas”, o que veio a favorecer o desenvolvimento da antropologia no século XIX. Em conseqüência, adotou-se “cultura” para designar o modo de vida global e característico de um povo, donde a circulação ampla e cada vez mais aceita do que se chama “diversidade cultural” (SAMPAIO, 2003). Podemos, pois, entender como cultura tudo aquilo que os homens criam, dão sentido, atribuem identidade, compreendem e transformam de acordo com a sua realidade. É tudo que faz com que os homens se transformem e possam ser apresentados, conhecidos e compreendidos por seus semelhantes. Daí a sua importância estratégica na atualidade. De acordo com Sampaio (2003), é essa a percepção de cultura que vigora na contemporaneidade. Para Tylor (1871), o termo “cultura” apresenta um sentido amplo e etnográfico, sendo “um todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” (TYLOR, 1871 apud LARAIA, 1986, p. 25). Não por outro motivo, o que é cultural concerne às práticas de organização simbólica, de produção social de sentido, de relacionamento com o real. A cultura significa uma construção histórica. Não é algo natural, pois não decorre de leis físicas ou biológicas. Por ser um produto coletivo da vida humana, a cultura está sempre em constante mudança. Historicamente, as culturas nascem, desenvolvem-se, entram em decadência e desaparecem. Por causa disso, de acordo com José Luiz Santos (1996), essas alterações estão relacionadas ao próprio desenvolvimento da humanidade, o qual é marcado por contatos e conflitos entre modos diferentes de organizar a vida social. Sendo assim, cultura está relacionada “à humanidade como um todo e ao mesmo tempo a cada um dos povos, nações, sociedades e grupos humanos” (SANTOS, 1996, p. 8). Cada povo, nação, sociedade e grupo humano possui a sua própria cultura, o que constitui um mosaico, já que o universo simbólico é imenso e muito variado. Há mais de 150 definições de cultura levantadas pelos antropólogos Kroeber e Kluckhohn (SODRÉ, 1988). Por esse motivo, o tema suscita muita discussão e gera polêmicas entre os estudiosos. De acordo com Yúdice (2004, p. 31), a cultura tem a capacidade de promover a coesão social em questões divergentes e, desde que é um setor de trabalho intenso, ela ajuda na redução do desemprego. A cultura, segundo o autor, “pode gerar renda através do turismo, do artesanato, e outros empreendimentos culturais”. Os diversos elementos culturais existentes significam traços marcantes de um povo e podem ser utilizados como fatores de atratividade para o turismo e de contribuição das potencialidades culturais e ambientais. Pois, quando planejado, o turismo acaba contribuindo para a valorização da identidade de um povo. Tendo em vista o desenvolvimento, Reis (2007) destaca, primeiro, a necessidade da quebra de paradigmas, razão pela qual enfatiza a importância das potencialidades e recursos que ultrapassam os naturais e tecnológicos, navegam pela sociedade do conhecimento e pela busca da experiência, unem passado e futuro, e ancoram-se na criatividade para se concretizar em inovação. A referida autora afirma que há duas formas de relacionar cultura e desenvolvimento. A primeira delas considera a cultura como um instrumento que permeia todas as outras dimensões da vida em sociedade. A segunda adiciona a seu potencial de geração de renda e empregos a distribuição equânime e sustentável dos bens e serviços como alternativa norteadora para o desenvolvimento econômico-social de diversos países. Acrescenta Reis (2007): [...] o resgate da diversidade cultural, sua promoção e divulgação, a ampliação do acesso cultural e seus efeitos sobre a coesão social, auto-estima e a criatividade caracterizariam um modo de desenvolvimento social; por outro lado, é a possibilidade da distribuição interna e externa dessas manifestações culturais que solidifica os recursos para o desenvolvimento econômico da sociedade. As duas facetas do desenvolvimento, social e econômico, não se sustentam isoladamente, mas constituem de fato um monolito, que tem em seu cerne a dimensão cultural. Nota-se com isso uma fragorosa derrocada da visão que contrapõe a dimensão econômica à cultural e categoriza os países entre desenvolvidos e em desenvolvimento, por meio de critérios simplistas. (REIS, 2007, p. 220). Nesse mesmo estudo, Reis (2007) ressalta que, ao constituir um bem simbólico de difusão de ideias e valores, a cultura resgata na alma da sociedade aquilo que só ela pode oferecer ao mundo; porque possui igualmente um valor econômico, a cultura pode colaborar de modo plausível para a pauta de fluxos nacionais e internacionais de bens e serviços. De acordo com a autora, tal conclusão não é recente e não tem sido considerada nos termos que merece. Em estudo da Comissão Mundial sobre Cultura e Desenvolvimento da Unesco (Apud REIS, 2007, p.218), lê-se: [...] em 1988, já era claro para nós que o desenvolvimento era uma empreitada muito mais complexa do que se pensara originalmente. Ele não poderia mais ser visto como um caminho único, uniforme, linear, por que isso eliminaria inevitavelmente a diversidade cultural e a experimentação e limitaria perigosamente as capacidades criativas da humanidade, frente a um passado rico e a um futuro imprevisível. Na verdade, a cultura pode contribuir — e muito — para o desenvolvimento de uma comunidade. Desenvolvimento esse que é tanto econômico quanto principalmente social. Porém, apesar dessa conclusão, os órgãos governamentais, em escala global, ainda não adotaram essa visão de desenvolvimento. A cultura se expandiu bastante nas esferas política e econômica (YÚDICE, 2004). Nessa proporção, a relação entre as esferas cultural e política ou cultural e econômica não é nova. Por um lado, a cultura é o veículo no qual a esfera pública emerge no século XVIII, e, como argumentam os pesquisadores dos estudos culturais, ela se tornou um meio de internalizar o controle social — isto é, via disciplina e governabilidade — ao longo dos séculos XIX e XX. O artesanato como fator de produção cultural e elemento de atratividade turística Falar em artesanato implica olhar o passado, examinar as tradições, avaliar a cultura e o desenvolvimento social de um povo. Ao longo da história, o artesanato serviu de embrião para o comércio, a indústria, a ciência e para o florescimento das comunidades (MOREIRA, 2001). Na atualidade, os estudiosos do assunto definem artesanato como sendo um objeto, fruto de um trabalho predominantemente manual, feito com a ajuda de ferramentas simples ou máquinas rudimentares, que se baseia em uma temática popular, utilizando a matéria-prima local ou regional. Neste artigo adota-se a seguinte definição de artesanato proposta por Lima (2005): [...] produtos do fazer humano em que o emprego de equipamentos e máquinas, quando e se ocorre, é subsidiário à vontade de seu criador que, para fazê-lo, utiliza basicamente as mãos. Nesse sentido, diríamos que o objeto artesanal é definido por uma dupla condição: primeiro, o fato de que seu processo de produção é em essência manual. São as mãos que executam basicamente todo o trabalho. Segundo: a liberdade do artesão para definir o ritmo da produção, a matéria-prima e a tecnologia que irá empregar, a forma que pretende dar ao objeto, produto de sua criação, de seu saber, de sua cultura. (LIMA, 2005, p. 13-14). Pereira [195?] classifica o artesanato como sistema de produção; por isso o insere no campo da “Arte Popular” e da “Pequena Indústria”, em que analisa as características e manifestações de uma e de outra. Argumenta Pereira [195?] que o artesanato representa um sistema de produção à parte da indústria. Entretanto, como o artesanato e a indústria tendem a se confundir, ou se fazem confundir, termos como “artesanato industrial” ou “indústria artesanal” foram surgindo ao longo do tempo. Apesar do uso de tais expressões, o autor esclarece que o artesanato não representa apenas estratégias de sobrevivência de grupos sociais frente ao mundo globalizado, mas significa a cultura material, a forma de conservação e preservação da arte popular de comunidades tradicionais. Não se pretende aqui discutir o que se entende por produção industrial, mas valorizar o homem enquanto criador, e este aspecto constitui um benefício que o artesanato pode lhe proporcionar, como assinala Vives (1983, p. 147). O referido autor ainda observa que “o papel fundamental do artesanato é testemunhar a vida, dar peso, importância, felicidade ao cotidiano, seja pela eficácia mágica atribuída aos objetos — ritualísticos e de adorno, seja pela própria utilidade intrínseca das peças destinadas à facilitação do existir”. No âmbito das relações de mercado, é importante sublinhar que o objeto artesanal não seja entendido apenas como produto e sim como um produto peculiar, porque a dimensão cultural está intrinsecamente ligada ao objeto. Ou seja, o artesanato sempre estará agregando valor cultural. Ora, considerar o artesanato no campo da economia, significa avaliar o que daí decorre: a possibilidade de geração de trabalho e renda; a cadeia produtiva e de distribuição e comercialização; as relações de troca, os hábitos e costumes que propicia. Neste sentido, a produção artesanal surge como um fator de sobrevivência e como uma oportunidade para estimular o surgimento de elementos não convencionais de participação produtiva. De acordo com Pereira (1979), o artesanato pode ser feito em qualquer lugar e em qualquer tempo. Além disso, a atividade artesanal é capaz de proporcionar mais emprego e produção com menos dispêndio de capital, o que a torna um importante fator de fomento tanto social quanto econômico. Assim, o artesanato significa uma via para o desenvolvimento de uma localidade através da demanda do mercado, da geração de ocupação, de renda e do aproveitamento dos recursos naturais de forma equilibrada. A atividade artesanal permite a continuidade dos hábitos culturais de um povo. Por isso, Lima (2005) chama a atenção para o que é crucial: a conservação da produção artesanal, isto é, a conservação do objeto nas condições em que foi produzido, por entender que ele é testemunho de um passado a ser preservado. A característica principal da arte ceramista é a relação que abrange essa produção. Em geral, a produção envolve membros da família ou pequenos grupos, o que facilita a transferência de conhecimento sobre técnicas, processos e desenhos originais. Sua importância e seu valor cultural decorrem do fato de ser depositária de um passado, de acompanhar histórias transmitidas de geração a geração, de fazer parte integrante e indissociável dos usos e costumes de um determinado grupo social (SEBRAE, 2006). Etchevarne (1994) assinala que a cerâmica atual, no Brasil, é reflexo do resultado da dinâmica aculturativa produzida desde a chegada dos portugueses, em 1500. Como a relação com o artesanato começa na infância, muitos indivíduos deixam a escola para se dedicar exclusivamente ao ofício. Por essa razão, seu grau de instrução é baixo. São poucos os que completaram o ensino fundamental e médio; na verdade, a maior parte dos artesãos não sabe ler e escrever. Foi o que se constatou no distrito de Maragogipinho (BA). O artesão, além de ser um empreendedor solitário que muitas vezes trabalha e produz em seu âmbito familiar, é também um componente formador de cultura que, através do seu ofício, traduz, reproduz e mantém a identidade de seu grupo. De modo geral, o artesanato é visto como um setor da economia porque movimenta capitais e, em consequência, favorece as relações sociais de uma comunidade. No contexto estudado dos artesãos de Maragogipinho, o artesanato significa, basicamente, a possibilidade de emprego, renda e, pois, de sobrevivência. Maragogipinho: identidade cultural e as possibilidades de um desenvolvimento com base na produção artesanal de cerâmica e no turismo O distrito de Maragogipinho constitui-se em um reduto de oleiros com características peculiares e que tem a produção de cerâmica como o principal meio de sobrevivência. Na atualidade, o distrito, responsável pela exportação de peças para os principais pontos do país e do exterior, é considerado o maior centro de produção artesanal da Bahia; para a comunidade e a liderança local, é o maior centro de produção artesanal da América Latina. Sabe-se que é bastante antigo o artesanato de barro nessa localidade, onde é praticamente impossível estabelecer com precisão a data de seu aparecimento. Com base no último censo realizado pelo IBGE no ano 2000, em Maragogipinho vivem cerca de 2.500 pessoas (IBGE, 2000), com uma vida simples, porém dinâmica, aprazível e independente; uma população que, apesar da pobreza material em que vive, demonstra um espírito rico de sabedoria e consciente da importância simbólica do que faz e preserva. Não é exagero afirmar que essa comunidade respira arte. A cerâmica de Maragogipinho constitui-se em uma valiosa atividade para seus habitantes, tanto pelo que hoje vale como fonte de arte popular na Bahia, enquanto meio de vida, quanto por sua antiguidade. Nesse distrito, atualmente, a produção artesanal sobrevive às mais diversas fases de altos e baixos do consumo de artigos cerâmicos e hoje se constitui em um símbolo de resistência às diversas mudanças culturais no nosso país3 (COIMBRA, 1980). A figura que representa a identidade do lugar é o oleiro. A maior parte deles aprendeu esse ofício muito cedo, ainda na infância. Quando criança, além de brincar nas olarias, muitos meninos observavam os mais velhos fazerem as peças no torno e assim iam aprendendo. No início, as peças confeccionadas pelos aprendizes eram os caxixis4; após dominar essa técnica, eles passavam a dar forma às peças maiores. O desenvolvimento de um artesanato exige uma organização das pessoas envolvidas no processo, desde o momento de criação, execução, comercialização, distribuição e avaliação do próprio processo. Williams (1992) explica que essa organização é fundamental e indispensável, mesmo que aconteça de maneira informal, pois contribuirá para o rendimento da produção, favorecendo, inclusive, na redução de custo e tempo do profissional. Para Ribeiro (1983), alguns aspectos devem ser enfatizados nessa atividade: a produção artesanal para o mercado possibilita ao artesão exercer um ofício a que está acostumado e que faz parte de seu patrimônio cultural; inibe sua saída da comunidade 3 Grifo nosso. Os caxixis, conforme esclarece Bittencourt (1951) citado por Leal (2006, p. 77), são “miniaturas de louça grande, caprichosamente trabalhadas e originariamente destinadas a uma finalidade lúdica, tudo pequeno, destinado ao enlevo e à alegria dos meninos”. 4 para alugar sua força de trabalho como trabalhador braçal; promove a confraternização dos homens e das mulheres nas horas de trabalho coletivo, além de garantir uma renda que muitas vezes é superior à que ganhariam como empregados de ínfima categoria nos empreendimentos regionais e garantir a sobrevivência da cultura local. Ao analisar o cenário em que Maragogipinho está inserido, vislumbra-se para a localidade outro potencial que ainda está sendo explorado de forma muito tímida: o turismo. Isto porque a potencialidade turística de um lugar concentra múltiplos aspectos que a caracterizam, como: o histórico, o geográfico, o econômico, o cultural e outros. Neste sentido, é que se buscou, neste artigo, abordar o distrito de Maragogipinho também sob o aspecto do turismo. Sublinhe-se que a produção artesanal do lugar é vista como o principal atrativo para os turistas e visitantes que ali chegam. Além dos ricos elementos culturais que se fazem presentes no distrito de Maragogipinho, esse lugar possui uma posição geográfica privilegiada, pois está localizado no Recôncavo Sul do Estado, próximo à capital baiana e a localidades com potenciais turísticos. A região na qual Maragogipinho e o seu município estão inseridos já tem o turismo como uma atividade organizada e explorada. Assim, ao analisar o contexto turístico do distrito, acredita-se que tal localidade e seu entorno também podem ser fatores ponderáveis para o desenvolvimento de tal atividade. O potencial turístico da região deve-se, sobretudo, às suas belezas naturais, sendo viável a prática do turismo náutico, turismo cultural, turismo histórico e o turismo de eventos, através das festas populares, em que se destaca a Feira dos Caxixis, realizada anualmente na vizinha cidade de Nazaré, durante a Semana Santa. Este evento concentra toda a produção artesanal que vem de Maragogipinho para ser comercializada. Esses aspectos podem vir a fazer parte dos roteiros para os que visitam o Estado da Bahia. O turismo é uma das atividades econômicas que mais crescem no mundo. Seus benefícios estão relacionados à geração de emprego e renda, à capacidade de reduzir distâncias, promover o intercâmbio cultural e, assim, favorecer a valorização e reprodução da identidade local. Todos os elementos que envolvem a história, a cultura e o modo de vida daqueles que vivem no distrito de Maragogipinho representam um conjunto de atrativos que podem enriquecer ainda mais a experiência turística na região. Entretanto, embora reúna expressivo potencial para o desenvolvimento de atividades do setor terciário, conforme descrito anteriormente, a localidade aqui analisada apresenta uma infraestrutura turística deficitária para receber o visitante. Conclusão Após a análise dos dados e das informações provenientes das pesquisas bibliográficas e de campo, foi possível conhecer a realidade da produção artesanal de cerâmica e de seu desenvolvimento no distrito de Maragogipinho. Essa produção é parte essencial da cultura do lugar e não está dissociada, em nenhum momento, de sua cultura popular. Por isso, o povoado de Maragogipinho se distingue, hoje, pelo seu artesanato peculiar, tradicional, que se diferencia nitidamente do artesanato moderno. A produção artesanal desse distrito é capaz de atuar como fator de desenvolvimento local e/ou regional. Para isso, entretanto, necessita — e com urgência — de maior articulação entre os órgãos governamentais do Estado e do município, a fim de que sejam implementadas políticas públicas efetivas para que os atores locais possam ter melhores condições de trabalho, auferir uma renda mais compensadora e, concomitantemente, elevar sua qualidade de vida. Através da inclusão dessas condições, a comunidade local poderá se tornar referência econômica e cultural. Também é imperiosa a inclusão de políticas públicas voltadas para o turismo, especialmente no sentido de oferecer uma infraestrutura adequada aos visitantes ou turistas, além de qualificação profissional no que se refere ao atendimento. Assim, estimular o desenvolvimento do artesanato e do turismo, principalmente na localidade, significa abrir possibilidades de diminuição das desigualdades sociais. Em seus limites, este trabalho visa a contribuir para a discussão de um tema relevante: a implementação de políticas públicas que reforcem a identidade cultural de Maragogipinho, ao invés de descaracterizá-la. Nessa perspectiva, poderá ser pensado e viabilizado o desenvolvimento sustentável da região — o que, por si só, já justifica um estudo mais aprofundado do tema em questão. Todavia, pode-se afirmar que, se o desenvolvimento do turismo e a preservação do patrimônio cultural desse distrito forem estimulados, os cidadãos envolvidos terão maiores oportunidades de divulgar e resguardar sua tradição, além de se tornar os principais promotores deste desenvolvimento, beneficiando tanto a localidade da qual fazem parte quanto o seu entorno regional. À luz das considerações precedentes, o presente texto permitiu a seguinte reflexão: a produção artesanal, além de constituir um importante atrativo turístico para a região na qual se situa, também é uma referência econômica, histórica e cultural para a comunidade local. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Marluce Ribeiro. A obra realiza-se com a arte. In: Artesanato Brasileiro. Fundação Nacional de Arte. 2 ed. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1980. p. 54 – 57. ALMEIDA, Rômulo. Exposição sobre o problema do artesanato na Bahia. 10 p. In: Artesanato e arte popular – Bahia. Salvador: Progresso, 1957. BARRETO. Margarita. Turismo e legado cultural: as possibilidades do planejamento. 4. ed. Campinas, SP: Papirus, 2003. CARVALHO, Heidi Cristina Buzato de. Artesanato de Caixeta em São Sebastião – SP. 2001. Dissertação (Mestrado em Ciências) — Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz — ESALQ/USP, Piracicaba, 2001. COIMBRA, Silvia Rodrigues; MARTINS, Flávia; DUARTE, Maria Letícia. 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