FUNDAMENTOS DA NOSSA CONFISSÃO
Este documento tem por base uma série de palestras proferidas pelo
irmão Romeu Bornelli intitulada “Fundamentos da Nossa Confissão”
5. EXPIAÇÃO - PROPICIAÇÃO
i. O Pecado
O nosso assunto agora, o terceiro alicerce, é a expiação do pecado. Mas, antes de falarmos
da expiação, precisamos falar do pecado, porque a visão do pecado é essencial para a a
visão da expiação. Se não vemos a realidade de como a Bíblia aponta o pecado, iremos ter
dificuldade com a expiação, com aquele sacrifício que o Senhor realizou na cruz do Calvário.
Por que é que eu preciso ser perdoado? Por que é que eu tenho um problema em mim que
se chama culpa, esse carrasco universal? Isso está na consciência, na mente de todo
homem, desde que ele nasce. Ninguém precisa colocar culpa em ninguém, porque desde
que o homem nasce, ele nasce com senso de culpa. Por que é que nós somos assim? Será
que a Bíblia mostra por quê? Claro que mostra. A Bíblia coloca tudo isso debaixo dessa
grande doutrina, a doutrina bíblica do pecado. Dentro de cada um dos oito grandes
alicerces existem outros menores, e dentro do alicerce Expiação há duas doutrinas
importantes: a doutrina do pecado e a doutrina da queda.
Pregar sobre pecado é fora de moda, porque é algo que agride a decência humana. Quando
examinamos os movimentos de hoje, até mesmo dentro da igreja, vemos pessoas achando
que o homem pode ser salvo por mecanismos psicológicos ou sociais. Mas, isso tudo é uma
ofensa à cruz, porque a Bíblia ensina outra coisa a respeito do pecado. A Bíblia nos ensina
que nós somos semelhantes a um carro que sofreu um acidente e que foi avaliado pela
seguradora como de perda total. Não tem como ser reformado.
Nós não precisamos ser reformados. Precisamos ser regenerados. Precisamos de um novo
homem aqui dentro, uma nova natureza, um novo coração, novos sentimentos. O
Evangelho não prega reforma, prega regeneração. O homem só pode ser mudado por
regeneração. Ele só pode ser mudado se Cristo for formado nele, se uma nova natureza for
dada a ele, para que ele tenha uma nova maneira de pensar, nova maneira de ver a vida,
nova maneira de se relacionar, de sentir, de escolher.
A Bíblia é muito clara, quando ela diz que nós, por natureza, nascemos em pecado. Nós
nascemos alienados, separados. Ninguém precisa nos ensinar para sermos egocêntricos.
Ninguém precisa ensinar a rebeldia para um menininho de um ano quando ele diz: “isso é
meu, me dá”. Ninguém precisa ensinar para ele bater no seu coleguinha a fim de obter o
que ele quer. Ninguém precisa dessa aula. Essa aula está na natureza humana. O homem
nasceu em pecado. Davi diz assim:
Sl 51:5 Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.
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Sl 58:3 Desviam-se os ímpios desde a sua concepção; nascem e já se desencaminham,
proferindo mentiras.
Esse é o homem. Não há um homem verdadeiro, não há um homem honesto por natureza.
Toda verdade, toda honestidade, toda sinceridade, toda incorruptibilidade tem o seu limite,
porque o homem é pecador. Nascem e já se desencaminham, proferindo mentiras. A nossa
compreensão dessa verdade é a primeira necessidade para vermos a beleza da cruz no que
concerne à nossa salvação. Precisamos entender por que o Senhor naquela cruz, com o
pecado (no singular) de todos nós colocado sobre Ele, clamou ao Pai: “Deus meu, Deus meu,
por que me desamparaste?” Alienação, separação, isso significa o pecado. Pecado significa
exatamente essa quebra de relação, essa alienação para com Deus.
Algumas vezes dizemos: “Aquela pessoa só falta conhecer a Cristo. Ela é uma pessoa boa,
uma pessoa honesta, pessoa cumpridora dos seus deveres”. Pode ser que seja cumpridora
dos seus deveres, mas, estritamente falando, não há ninguém bom, ninguém honesto,
ninguém verdadeiro. Somos todos igualmente pecadores. Se fôssemos bons, não
precisaríamos de expiação; se fôssemos sinceros, não precisaríamos de expiação.
A expiação foi feita para os mentirosos, para os rebeldes, para os indignos. Não é para os
dignos. Vejamos o que diz Paulo para Tito:
Tt 3:3 Porque também nós éramos noutro tempo insensatos, desobedientes, extraviados,
servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiandonos uns aos outros
Paulo não era um ladrão, assassino, um bêbado. Nada disso! Era um fariseu, um homem
zeloso da lei, super moral. Humanamente falando, era um bom caráter. No entanto, ele
está se incuindo na frase acima, onde cada adjetivo revela o que, de fato, é o homem
depois da queda. Chega a dizer que o homem é escravo dos seus desejos iníquos. Essa
palavra ofende muito porque a palavra que o homem mais gosta é liberdade ou autonomia.
A palavra autonomia significa lei própria. Autônomo significa aquele que tem sua própria
lei: “Eu não me guio por nada, não me rejo por nada. Eu sou a minha própria lei”. O único
ser autônomo no universo é Deus. Só Deus tem autonomia. Todo ser criado é dependente,
porque foi criado, e não pode ser autônomo, não pode viver sem o criador. Mas o homem
gosta da palavra autonomia: “Ninguém me dirige, ninguém me governa, eu compreendo, eu
entendo”.
No entanto, Paulo fala o contrário, fala que ele é escravo de suas paixões e prazeres,
vivendo em malícia.
Rm 3:9-20 9 Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes
demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado; 10 Como
está escrito: Não há um justo, nem um sequer. 11 Não há ninguém que entenda; Não há
ninguém que busque a Deus. 12 Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não
há quem faça o bem, não há nem um só. 13 A sua garganta é um sepulcro aberto; Com as
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suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; 14
Cuja boca está cheia de maldição e amargura. 15 Os seus pés são ligeiros para derramar
sangue. 16 Em seus caminhos há destruição e miséria; 17 E não conheceram o caminho da
paz. 18 Não há temor de Deus diante de seus olhos. 19 Ora, nós sabemos que tudo o que a
lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o
mundo seja condenável diante de Deus. 20 Por isso nenhuma carne será justificada diante
dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado.
Rm 3:23 Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;
Todos os nossos atos são maliciosos. Nenhum homem faz nada sem uma segunda
intenção. Toda mão que dá na frente tem outra atrás esperando alguma recompensa, nem
que seja um agradecimento. Ninguém dá nada de graça, porque o homem é malicioso por
natureza. Todos os nossos melhores atos são contaminados pelo pecado. Que situação!
Precisamos de uma compreensão bíblica sobre o pecado para que possamos ter uma visão
clara da glória da cruz. Só assim o que Paulo fala em Fl 3:3 sobre a verdadeira circuncisão
poderá ser uma verdade para nós, que não era aquela que o judeu praticava, a circuncisão
da carne, literal, natural.
Cl 2:10-13 10 E estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo o principado e potestade; 11
No qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do
corpo dos pecados da carne, pela circuncisão de Cristo; 12 Sepultados com ele no batismo,
nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos.
13 E, quando vós estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos
vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas,
Fp 3:3 Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em
Jesus Cristo, e não confiamos na carne.
Paulo fala que a verdadeira circuncisão se compõe dos que adoram a Deus em Espírito.
Sabe quem são estes? São os que sabem que são pecadores. Ninguém adora a Deus se não
sabe que é pecador e não conhece a graça de Deus em Cristo. Esse adora só a si mesmo.
Continuando no texto acima, quem se gloria em Cristo? Só os que sabem que são
pecadores, pois não confiam na carne. Sabem que seus recursos naturais jamais irão
agradar a Deus.
Então, a visão adequada do pecado nos dá uma visão adequada da cruz. Precisamos de um
salvador, um salvador de fora de nós, porque por nós mesmos não é possível. Tem que ser
um salvador adequado a Deus. Ele tem que ser homem, homem que responda por nós,
homem que nos represente fielmente diante de Deus, homem que possa nos acudir nas
nossas provações, homem que possa nos salvar em tudo o que somos. Não só regenerar o
nosso espírito, mas homem que possa mudar a nossa mente. Alguém que experimentou a
mente humana e que possa mudar a nossa vontade, porque na sua vontade em tudo foi
obediente a Deus. Homem que possa mudar as nossas emoções, porque sentimos errado.
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Precisamos de um salvador assim, um salvador que regenere, que comece tudo de novo, e
um salvador que mude mente, mude vontade, mude sentimento, mude tudo. Esse é o
nosso salvador adequado.
Nós somos inábeis para servir enquanto confiamos na carne, e vamos continuar confiando
na carne a não ser que vejamos o tamanho do nosso pecado, porque o pecado não gerou
só culpa sobre nós. Além de gerar culpa, o pecado nos escravizou e nos corrompeu.
ii. O Pecado gerou culpa
Primeiro, o pecado trouxe culpa. Essa é uma doutrina Bíblica clara e é uma experiência
humana universal. Nossa experiência só vai confirmar a doutrina, como sempre. Nós
nascemos culpados, nascemos com senso de culpa e nada refresca essa culpa. A nossa
prática de boas obras, a nossa educação, a busca de sucesso ou aprovação social, seja o que
for, não muda a questão da culpa na consciência humana. Culpa é uma experiência
universal porque o pecado nos alienou de Deus e trouxe a nós um senso de culpa que só
um reatar com Deus pode nos livrar. E isso está diretamente ligado à Expiação. Somente
através da nossa relação com o Senhor Jesus, nosso salvador, aquele que fez expiação por
nós, o problema da culpa pode ser resolvido. A culpa permeia a grande maioria das nossa
atitudes e a grande maioria dos nossos relacionamentos. A culpa é um assunto não
resolvido, a não ser que vejamos bem a Cristo. Se a culpa não é um assunto bem resolvido,
estaremos vivendo uma vida infinitamente aquém daquela que o Senhor planejou para nós
e, consequentemente, gerando em outros todas as conseqüências desse viver anormal,
refletindo isso em outros. Então a culpa é um assunto muito sério na palavra de Deus. A
Bíblia diz:
Rm 1:18 Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos
homens, que detêm a verdade em injustiça.
A nossa alienação de Deus e a consciência de Sua ira sobre o pecado é que geram a culpa
em nossa consciência. O fato de que Deus, para nós, não é alguém que nos dá prazer, mas,
sim, medo, provoca vários tipos de reação. Alguns tentam lidar com a culpa negando a
Deus. Muito do ateísmo é resultado disso: “quem sabe, negando Deus, amenizemos a
questão culpa”. Mas, isso é uma bobagem. Ninguêm resolve o problema da culpa negando
a existência de Deus. O problema da culpa é consequência do pecado e só vai ser resolvido
pela expiação do pecado, só vai ser resolvido através da morte substitutiva de Cristo na
cruz:
Jo 1:29 No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus,
que tira o pecado do mundo.
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iii. O Pecado escravizou o homem
Há um outro problema que o pecado nos trouxe: escravidão. Não apenas culpa, mas
também escravidão. O pecado se assenhoreou de nós. Esse é um outro ensino bíblico claro.
Em Romanos 6, por exemplo, Paulo está mostrando o que o Senhor Jesus fez na cruz,
dizendo: “E o pecado agora não terá domínio sobre vós”. Ele está mostrando que Cristo
nos libertou do pecado. Ao usar a palavra domínio as Escrituras mostram que o pecado em
Romanos 6 é um senhor sobre o homem. Não é apenas questão de culpa. É mais grave. É
questão de Senhorio. Sobre isso, Paulo diz:
Rm 7:19-24 19 Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. 20
Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. 21
Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. 22 Porque,
segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; 23 Mas vejo nos meus membros
outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do
pecado que está nos meus membros. 24 Miserável homem que eu sou! quem me livrará do
corpo desta morte?
Esse dilema é de todos os homens: o querer fazer o bem está em mim, mas não o efetuar.
De que adianta querer fazer o bem sem conseguir realmente fazê-lo? Não adianta nada.
Então Paulo dá aquele grito: “Miserável homem que eu sou. Quem vai me livrar desse corpo
do pecado?” Tremendo grito de angústia, de agonia, na sua experiência espiritual.
Imediatamente, na expressão seguinte, vem a resposta:
Rm 8:1-2 1 Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus,
que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. 2 Porque a lei do Espírito de vida,
em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.
No Senhor Jesus foi tratada a culpa, no senhor Jesus foi tratado o domínio do pecado.
Agora o querer o bem está em mim e o efetuá-lo também:
Fp 2:13 porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua
boa vontade.
Então, em Cristo, tudo mudou. É para aqueles que são de Cristo, não para todos nós, não
para aqueles que não crêem. Mas, é para aqueles que vivem uma vida de união com Cristo,
para aqueles que foram salvos: “Não mais vivo eu, mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20).
iv. O Pecado corrompeu o homem
A Bíblia ensina que o pecado não só gerou culpa na consciência e domínio nos membros do
nosso corpo, mas o pecado nos corrompeu totalmente, contaminou tudo o que há dentro
de nós. Então a nossa mente é uma mente corrompida, nossa vontade é uma vontade
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corrompida, nossos sentimentos são sentimentos corrompidos, nossas afeições são
afeições corrompidas. Tudo o que há em nós é corrompido.
É como se fosse uma virulência. A lepra é a figura bíblica mais explícita sobre o pecado na
tipologia do Velho Testamento. A lepra era uma doença sem cura, uma doença que
condenava a pessoa à exclusão social. Isso foi o que o pecado promoveu em nós. Alienação
de Deus, alienação de nós mesmos, alienação dos outros. Era o que a lepra fazia com o
leproso. A lepra não era uma doença que paralisava. Era uma doença que sempre
prosseguia, contagiava, degenerava e corrompia, e a pessoa ia se desfigurando
completamente. Assim é o pecado. Ele é progressivo, ele destroi, ele degenera, ele tira a
sensibilidade.
Pela Sua graça, Deus fez provisão por nós na cruz do calvário. O Senhor Jesus disse: “Abraão
viu o Meu dia e se alegrou”. Que coisa impressionante! Aqueles homens, aqueles santos
profetas do Velho Testamento, eles viam que Deus iria prover uma redenção em um
salvador que viria. Falaram sobre Ele. Ele foi tipificado em todos os assuntos do Velho
Testamento. Ele foi profetizado pelos profetas. Imaginem Isaías, naquele capítulo 53,
falando sobre o Cordeiro. Isaías não deveria estar entendendo nada sobre o que ele estava
falando, porque ele não profetizava para ele, como Pedro diz, mas ele profetizava para nós,
nas coisas que viriam sobre nós, na dispensação da plenitude dos tempos. Então ele falou
sobre esse cordeiro mudo que era levado perante os seus tosquiadores, que não abria a sua
boca, que foi considerado aflito, oprimido de Deus e levou sobre si as nossas iniqüidades.
v. A revelação da Expiação nas Escrituras
A idéia de Expiação corre como um fio de prata em toda a Escritura, já que prata é um
símbolo da Expiação. Muito lindo! Esse fio começa em Gênesis e termina em Apocalipse.
Começa em Gênesis 3, logo depois da queda, quando o próprio Deus faz vestimentas de
peles de animais para cobrir a nudez de Adão e Eva.
Interessante que a palavra Expiação em hebraico é Kaphar, que significa cobrir. Depois da
queda, as consequências do pecado impactaram completamente Adão e Eva. Não
adiantava fazer folhas de figueira para tentar cobrir sua nudez. Aquilo era apenas uma
tentativa humana inútil. E, quando Deus faz as vestimentas de pele, o sacrifício do cordeiro
estava sendo anunciado pela primeira vez: “Sem derramamento de sangue não há remissão
de pecados” (Hb 9:22).
Em Êxodo há um progresso na revelação. Quando chegou na noite em que o povo iria sair
do Egito, o Senhor ordenou para cada família do povo de Israel tomar um cordeiro. Para
que fazer isso? Poderia sair sem esse cordeiro, sem esse sangue derramado. Não podia?
Deus estaria com eles da mesma forma, se olhássemos apenas o lado do seu poder. Mas,
temos que ver o lado da Sua santidade. Ele não poderia sair com esse povo de qualquer
maneira. A Redenção tem o preço do sangue. Então, naquela Noite do Senhor descrita em
Gênesis 12, eles tomaram aquele animalzinho, colheram seu sangue numa bacia, passaram6
no do lado de fora da porta para que o Senhor visse aquele sangue e passasse por cima do
povo de Israel. De novo a Expiação! Agora a idéia está mais elaborada. Agora não é Deus
vestindo aquele casal com peles. Agora há a idéia do sangue, a idéia do sangue pelo lado de
fora da porta, uma idéia muito importante. Não houve isso no Éden, mas houve no Egito.
Sangue do lado de fora, porque não é para que o povo o visse do lado de dentro, mas para
que Deus o visse do lado de fora. O sangue era para Deus em primeiro lugar, para que Deus
ficasse satisfeito. O sangue do cordeiro tipificava aqui o sangue de Cristo. É claro que
somente o sangue de Cristo, do próprio Deus encarnado, poderia satisfazer a Deus. Aquilo
ainda era uma tipologia.
A revelação da Expiação avança nos profetas. Em Êxodo era um animal, mas Isaías 53 não
fala de um animal, fala de uma pessoa. Não é um avanço na revelação? E Isaías chama essa
pessoa de Cordeiro. Coloca as idéias do animal e da pessoa juntas:
Is 53:7 Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao
matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua
boca.
Is 53:11 11 Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu
conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniqüidades deles levará
sobre si.
Mais tarde, com João Batista, a revelação da Expiação chega ao seu ápice, quando ele diz:
“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29).
Agora vemos o Cordeiro encarnado. Ele vive aqui três anos e meio revelando Sua pessoa, a
pessoa do Pai, a obra que iria fazer. O Filho do Homem vai ser morto, vai ressuscitar e no
final dos evangelhos vemos o Cordeiro crucificado. E depois, no comecinho de Atos, vemos
o Cordeiro ascenso. O Cordeiro ressuscitou, foi ascenso e depois, lá em Apocalipse 5, o
passo final: o Cordeiro foi entronizado. João diz que viu no meio do trono um cordeiro
como que recentemente imolado.
Então temos o Cordeiro anunciado no Éden, o Cordeiro tipificado no Egito, o Cordeiro
profetizado pelos profetas, o Cordeiro encarnado nos evangelhos, o Cordeiro ascenso em
Atos e o Cordeiro entronizado em Apocalipse. A idéia da Expiação corre como um fio de
prata por toda a Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse.
vi. O Dia da Expiação de Lv 16
Lv 16: 1 E falou o Senhor a Moisés, depois da morte dos dois filhos de Arão, que morreram
quando se chegaram diante do SENHOR. 2 Disse, pois, o SENHOR a Moisés: Dize a Arão, teu
irmão, que não entre no santuário em todo o tempo, para dentro do véu, diante do
propiciatório que está sobre a arca, para que não morra; porque eu aparecerei na nuvem
sobre o propiciatório. 3 Com isto Arão entrará no santuário: com um novilho, para expiação
do pecado, e um carneiro para holocausto. 4 Vestirá ele a túnica santa de linho, e terá
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ceroulas de linho sobre a sua carne, e cingir-se-á com um cinto de linho, e se cobrirá com
uma mitra de linho; estas são vestes santas; por isso banhará a sua carne na água, e as
vestirá. 5 E da congregação dos filhos de Israel tomará dois bodes para expiação do pecado
e um carneiro para holocausto. 6 Depois Arão oferecerá o novilho da expiação, que será
para ele; e fará expiação por si e pela sua casa. 7 Também tomará ambos os bodes, e os
porá perante o SENHOR, à porta da tenda da congregação. 8 E Arão lançará sortes sobre os
dois bodes; uma pelo SENHOR, e a outra pelo bode emissário. 9 Então Arão fará chegar o
bode, sobre o qual cair a sorte pelo SENHOR, e o oferecerá para expiação do pecado. 10
Mas o bode, sobre que cair a sorte para ser bode emissário, apresentar-se-á vivo perante o
SENHOR, para fazer expiação com ele, a fim de enviá-lo ao deserto como bode emissário. 11
E Arão fará chegar o novilho da expiação, que será por ele, e fará expiação por si e pela sua
casa; e degolará o novilho da sua expiação. 12 Tomará também o incensário cheio de
brasas de fogo do altar, de diante do SENHOR, e os seus punhos cheios de incenso
aromático moído, e o levará para dentro do véu. 13 E porá o incenso sobre o fogo perante o
SENHOR, e a nuvem do incenso cobrirá o propiciatório, que está sobre o testemunho, para
que não morra. 14 E tomará do sangue do novilho, e com o seu dedo espargirá sobre a face
do propiciatório, para o lado oriental; e perante o propiciatório espargirá sete vezes do
sangue com o seu dedo. 15 Depois degolará o bode, da expiação, que será pelo povo, e
trará o seu sangue para dentro do véu; e fará com o seu sangue como fez com o sangue do
novilho, e o espargirá sobre o propiciatório, e perante a face do propiciatório. 16 Assim fará
expiação pelo santuário por causa das imundícias dos filhos de Israel e das suas
transgressões, e de todos os seus pecados; e assim fará para a tenda da congregação que
reside com eles no meio das suas imundícias. 17 E nenhum homem estará na tenda da
congregação quando ele entrar para fazer expiação no santuário, até que ele saia, depois
de feita expiação por si mesmo, e pela sua casa, e por toda a congregação de Israel. 18
Então sairá ao altar, que está perante o SENHOR, e fará expiação por ele; e tomará do
sangue do novilho, e do sangue do bode, e o porá sobre as pontas do altar ao redor. 19 E
daquele sangue espargirá sobre o altar, com o seu dedo, sete vezes, e o purificará das
imundícias dos filhos de Israel, e o santificará. 20 Havendo, pois, acabado de fazer expiação
pelo santuário, e pela tenda da congregação, e pelo altar, então fará chegar o bode vivo. 21
E Arão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele confessará todas
as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, e todos os seus pecados; e
os porá sobre a cabeça do bode, e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de um homem designado
para isso. 22 Assim aquele bode levará sobre si todas as iniqüidades deles à terra solitária; e
deixará o bode no deserto. 23 Depois Arão virá à tenda da congregação, e despirá as vestes
de linho, que havia vestido quando entrara no santuário, e ali as deixará. 24 E banhará a
sua carne em água no lugar santo, e vestirá as suas vestes; então sairá e preparará o seu
holocausto, e o holocausto do povo, e fará expiação por si e pelo povo. 25 Também
queimará a gordura da expiação do pecado sobre o altar. 26 E aquele que tiver levado o
bode emissário lavará as suas vestes, e banhará a sua carne em água; e depois entrará no
arraial. 27 Mas o novilho da expiação, e o bode da expiação do pecado, cujo sangue foi
trazido para fazer expiação no santuário, serão levados fora do arraial; porém as suas peles,
a sua carne, e o seu esterco queimarão com fogo. 28 E aquele que os queimar lavará as suas
vestes, e banhará a sua carne em água; e depois entrará no arraial. 29 E isto vos será por
estatuto perpétuo: no sétimo mês, aos dez do mês, afligireis as vossas almas, e nenhum
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trabalho fareis nem o natural nem o estrangeiro que peregrina entre vós. 30 Porque
naquele dia se fará expiação por vós, para purificar-vos; e sereis purificados de todos os
vossos pecados perante o SENHOR. 31 É um sábado de descanso para vós, e afligireis as
vossas almas; isto é estatuto perpétuo. 32 E o sacerdote, que for ungido, e que for sagrado,
para administrar o sacerdócio, no lugar de seu pai, fará a expiação, havendo vestido as
vestes de linho, as vestes santas; 33 Assim fará expiação pelo santo santuário; também fará
expiação pela tenda da congregação e pelo altar; semelhantemente fará expiação pelos
sacerdotes e por todo o povo da congregação. 34 E isto vos será por estatuto perpétuo,
para fazer expiação pelos filhos de Israel de todos os seus pecados, uma vez no ano. E fez
Arão como o SENHOR ordenara a Moisés.
Na tipologia talvez este seja o texto mais importante sobre a Expiação. Trata do dia
chamado Dia da Expiação, o dia mais importante do calendário judaico. No versículo 17
vemos a instrução para somente Arão entrar na tenda da congregação para fazer Expiação
(algumas traduções falam em Propiciação) no santuário, primeiro por si mesmo e por sua
casa, e depois por toda a congregação de Israel.
É interessante, neste ponto, dizer que o Novo Testamento não usa a palavra Expiação. No
entanto, usa a palavra Propiciação, que tem o mesmo sentido de Expiação, que é tirar a
culpa, remover a culpa, desviar a ira. Assim, estas duas palavras podem ser intercambiadas.
O versículo 29 nos mostra que o Dia da Expiação era um dia único do ano no calendário do
povo de Israel. Parece que Deus queria marcar esse dia na mente, na visão, na memória do
povo de Israel de uma forma indelével. No décimo dia do sétimo mês, o Sumo Sacerdote,
que era representante do povo, deveria entrar em uma comunhão face a face com Deus
para fazer Expiação pela nação usando o sangue daqueles animais. Nós sabemos pelo livro
de Hebreus que, tanto Arão como o sangue expiador que usava, tipificavam o verdadeiro
Sumo Sacerdote que é o Senhor Jesus, que entrou além do véu e abriu esse caminho pelo
seu próprio sangue. Arão era o sumo sacerdote e a vítima era o animal. Quando lemos no
livro de Hebreus, vemos que Jesus é os dois, o sacerdote e a vítima. Ele é aquele que faz a
oferta e Ele próprio é a oferta. Esse dia memorável tipificava aquele dia maravilhoso em
que nossa Expiação se daria naquela cruz.
Também no versículo 29 podemos ver que naquele dia ninguem podia fazer obra alguma.
Era um dia em que todos tinham que parar para observar uma única pessoa fazer uma
única obra. Esse conceito de “nenhuma obra fareis” é muito importante. Deveria ser um dia
de descanso para todo o povo (versículo 31). A nossa vida de segurança, a nossa vida de
descanso no Cordeiro de Deus, a nossa vida que honra a Deus com esse descanso, com essa
segurança, ela não começa a não ser que vejamos a profundidade dessa obra.
Todo o erro que decorre da nossa vida cristã, tem por base a má compreensão dessa
verdade. Quanto tempo você passou, ou ainda está passando, a lutar com Deus para ser
aceito por Ele? Em relação à Expiação nós não podemos fazer obra alguma. Não há
nenhuma obra que possamos fazer para acertar a questão de culpa na nossa consciência;
nenhuma obra para nos livrar do domínio do pecado; nenhuma obra nos livraria da
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corrupção do pecado. Estamos claros sobre isso? O Versículo 20 diz para o povo afligir sua
alma, significando que precisamos reconhecer nossa condição de pecado e que não
podemos fazer nada para saná-lo por nós mesmos. Temos apenas que contemplar o que
Cristo fez por nós na cruz do Calvário e receber por fé a Expiação. O Senhor Jesus ofereceu
uma única oferta, como diz o livro de Hebreus e, com uma única oferta, Ele nos aperfeiçoou
para sempre, nós os que nEle cremos. Agora podemos estar justificados diante de Deus.
Baseados em que Deus pode nos justificar? Será porque somos melhores que os outros?
Não! Baseados somente em nossa fé no sangue precioso do Cordeiro derramado, ou seja,
na Expiação proveniente daquela cruz.
1Pe 3:18 Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para
levar-nos a Deus.
O Dia da Expiação devereria ser um dia de descanso. O livro de Hebreus, falando sobre o
descanso diz:
Hb 4:11 Procuremos, pois, entrar nesse descansoo, para que ninguém caia no mesmo
exemplo de desobediência.
O descanso que o autor de Hebreus está falando para os seus leitores, para nós está em
Cristo. Nenhum homem deveria estar na tenda da congregação. Esse era um dia muito
singular, porque nos outros dias havia turnos de serviço de sacerdotes, turno da manhã,
turno da tarde, muitos sacerdotes servindo. Mas, no Dia da Expiação, Arão faria a obra
sozinho. Que cena linda! Ninguém vai acompanhar Arão porque ninguém acompanhou
Cristo. Ninguém vai oficiar junto com Arão porque ninguém oficiou junto com Cristo. Esse
lagar da ira de Deus sobre o pecado o Senhor Jesus pisou sozinho. Não há ninguém que se
possa colocar do lado dele como co-redentor.
1Tm 2:5 Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo
homem.
Outro detalhe impressionante é sobre as vestes que o sumo sacerdote deveria usar no dia
da Expiação. As vestes usuais do sumo sacerdote eram bem paramentadas e multicoloridas.
Tinha azul, púrpura, carmesim, tipificando os ministérios de Cristo como sacerdote e rei.
Tinha o linho fino retorcido misturado com tudo isso. Tinha uma mitra da cabeça com uma
lâmina de ouro, escrito “Santidade ao Senhor”. No entanto, no dia da Expiação ele não
usava essas vestes, como mostra o versículo 4. Era uma túnica de linho, calça de linho, cinto
de linho, mitra de linho. Quatro elementos só. Não é aquele homem plenamente
manifestado nos seus ofícios, no seu ministério sumo sacerdotal, mas agora há um homem
despido de tudo aquilo e vestido só com linho. Por que? O linho fino, branco, puro, na Bíblia
tem uma figura só, um símbolo só: a perfeita justiça de Deus. Essa é uma das figuras mais
sublimes do Senhor Jesus em sua pureza, conforme diz o livro de Hebreus:
Hb 7:26 Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos
pecadores, e feito mais sublime do que os céus;
10
O sumo sacerdote Arão, como representante do povo, só tinha acesso ao Santo dos Santos
uma única vez ao ano, para que ficasse gravado na mente do povo que aquela oferta,
aquele ato, até mesmo aquele dia, não resolviam o problema da separação do povo do seu
Deus de uma vez por todas. O próprio fato de Arão entrar uma vez por ano era uma prova
de que aqueles sacrifícios eram transitórios.
Hb 10:3 Mas nesses sacrifícios cada ano se faz recordação dos pecados,
O autor de Hebreus diz que quando o sumo sacerdote entrava no santo dos santos, aquilo
era uma recordação dos pecados. As pessoas não podiam esquecer quem eram. Eram
pecadores, inadequados para obter por si mesmos o acesso a Deus. Eles precisavam de
alguém que pudesse obter esse acesso, representando-os em primeiro lugar, alguém que
pudesse estar lá por eles, e não só isso, alguém que, fazendo essa obra, pudesse conceder a
eles um lugar nesse acesso. Arão, como sumo sacerdote tipificava a Jesus Cristo, o
verdadeiro sumo sacerdote, como mostra tão claramente o livro de Hebreus, que é o livro
que traz Levíticos para a luz. O sangue de Jesus é mostrado no livro de Hebreus como
aquele com o qual o Senhor fez uma eterna redenção. Não uma redenção transitória que
precisava ser repetida todo ano, mas uma redenção eterna, feita uma vez para sempre.
Hb 10:10-14 10 É nessa vontade dele que temos sido santificados pela oferta do corpo de
Jesus Cristo, feita uma vez para sempre. 11 Ora, todo sacerdote se apresenta dia após dia,
ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar
pecados; 12 mas este, havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, assentou-se
para sempre à direita de Deus, 13 daí por diante esperando, até que os seus inimigos sejam
postos por escabelo de seus pés. 14 Pois com uma só oferta tem aperfeiçoado para sempre
os que estão sendo santificados.
João, em sua primeira epístola, diz assim:
1Jo 1:5-7 5 E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e não
há nele trevas nenhumas. 6 Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos em
trevas, mentimos, e não praticamos a verdade. 7 Mas, se andarmos na luz, como ele na luz
está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica
de todo o pecado.
Deus é luz, perfeito em santidade. Há, então, possibilidade de termos comunhão com Ele?
Isso é absolutamente impossível a não ser por um único caminho, pelo sangue expiador de
Jesus Cristo que nos purifica de todo o pecado, pela propiciação que nos é dada nesse
sangue.
Hb 10:19-22 19 Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de
Jesus, 20 Pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne,
21 E tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, 22 Cheguemo-nos com verdadeiro
11
coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o
corpo lavado com água limpa.
Durante a peregrinação no deserto, descrita nos livro de Levíticos, Números e
Deuteronômio, vemos a mesma coisa. Qual o centro do mover de Deus nessa jornada? Era
o Tabernáculo. Qual era o centro do Tabernáculo? Era a Arca da Aliança. O que é que se
fazia na Arca da Aliança uma vez por ano? O derramamento do sangue, celebrando a
Expiação, a relação com Deus baseada no sangue. Então podemos ver aquele fio de prata
de novo. Esse fio nunca se perde.
Depois que o povo entra em Canaã, a mesma coisa. O Altar é erguido, a adoração é
resgatada. Depois que o templo é construído, a mesma coisa, o mesmo sacrifício, a mesma
adoração. Depois o povo vai cativo para a Babilônia pelo juízo de Deus. Quando retorna
para Israel tudo está queimado, tudo destruído, mas o altar é levantado em primeiro lugar.
O altar está sempre no centro da mente, do coração e do culto do povo. Um culto sem altar
não é culto. Se não cultuamos o Senhor baseado no altar, não cultuamos sobremaneira.
Nós não podemos cultuar a Deus sem altar. Nós não podemos cultuar a Deus com boas
obras, com nada que haja em nós. Só podemos cultuar a Deus sendo gratos a Ele pelo
Cordeiro que Ele nos deu. É assim que cultuamos.
Sl 116:12-13 12 Que darei eu ao SENHOR, por todos os benefícios que me tem feito? 13
Tomarei o cálice da salvação, e invocarei o nome do SENHOR.
Não temos nada para ofertar a Deus a não ser o Seu Cordeiro, o Cordeiro que nos foi dado.
Deus nos deu Seu Filho e nós O ofertamos para Ele. Como que nós ofertamos Seu Filho para
Deus? Adorando Seu Filho. Amando Seu Filho, cantando ao Seu Filho, falando do Seu Filho,
servindo Seu Filho na vida da Igreja.
Por que é que celebramos a mesa do Senhor, vez após vez? Pelo mesmo motivo: porque
esse fio de prata, a expiação, ela permeia toda a revelação de Deus. Não podemos deixar de
celebrar a mesa do Senhor, até que Ele venha, como Ele nos ordenou na Sua palavra. Por
que irmão? Porque o Senhor quer manter diante de nós duas grandes verdades: que somos
pecadores e que Cristo morreu por nós.
Rm 5:8-9 8 Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo
nós ainda pecadores. 9 Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue,
seremos por ele salvos da ira.
As tábuas do tabernáculo tinham base de prata (Ex 36: 25-30). A prata na bíblia fala de
redenção, fala de Expiação e isso é base para tudo. Não podemos edificar nada em outra
base a não ser nessa: o sangue expiador do Senhor Jesus. Quão sólido e sério é esse
fundamento!
Em Lv 16:11 vemos que Arão deveria oferecer um novilho como sacrifício por si mesmo e
por sua casa. Ele era uma figura importante no meio do povo, o sumo sacerdote, mas era
12
um pecador e também precisava da Expiação. Não podia oferecer qualquer animal. Era uma
exigência de Deus que o sumo sacerdote oferecesse um novilho, um animal grande, um
animal caro, porque Arão era uma figura proeminente no meio do povo. Arão deveria ter
uma compreensão desses sacrifícios maior do que o povo. Então deveria oferecer um
novilho, um grande sacrifício, um grande animal, porque era uma figura desse grande sumo
sacerdote, que é Cristo. Além disso, também deveria oferecer um carneiro como
holocausto.
Para o povo eram oferecidos dois bodes, e um carneiro, totalizando cinco animais ao todo.
Os carneiros eram oferecidos como holocausto, aquela oferta para a satisfação de Deus.
Tipificam Cristo na cruz se oferecendo a Deus, para fazer a Sua vontade, para agradá-lo.
O sangue de Cristo foi derramado para satisfação de Deus, da santidade de Deus, da justiça
de Deus e da glória de Deus. Não é, como muita gente pensa, para satisfazer o Diabo, pois
ele é só um usurpador.
Havia também dois bodes. Esses bodes são especiais para o dia da Expiação porque, se
alguém quisesse oferecer uma oferta pelo pecado em qualquer outro dia, levaria um animal
só, um animal inocente oferecido em lugar do pecador, tipificando Cristo como nossa
redenção. Mas, no dia da Expiação, era uma oferta de dois animais. Um bode era
sacrificado, oferecido ao Senhor como oferta pelo pecado do povo. O outro bode não era
morto. Arão impunha suas mãos sobre esse bode e confessava as iniqüidades do povo de
Israel. O bode era então levado para o deserto e solto lá. De tal forma esse bode estava
imundo que, quando o homem que o levara retornasse, deveria banhar-se e trocar suas
vestes antes de reentrar na comunhão do arraial.
O livro de Hebreus vai nos trazer luz sobre essa simbologia. Não é uma analogia. É uma
comparação por contraste.
Hb 7:26-28 26 Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado,
separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus; 27 Que não necessitasse,
como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus
próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez, oferecendo-se a si
mesmo. 28 Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a palavra do
juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito para sempre.
Arão oferecia sacrifício para si mesmo. Cristo não ofereceu nenhum sacrifício por Si porque
Ele era o perfeito sacrifício. Quando olhamos aquelas cerimônias temos que separar Arão e
o animal. Cada um é um, mas os dois tipificam uma única pessoa que é Cristo. Cristo é o
ofertante, aquele que fez a propiciação, e Cristo é a oferta, aquele que é a propiciação. Ele
não só fez propiciação como Ele é a propiciação.
Hb 9:6-14 6 Ora, estando estas coisas assim preparadas, a todo o tempo entravam os
sacerdotes no primeiro tabernáculo, cumprindo os serviços; 7 Mas, no segundo, só o sumo
sacerdote, uma vez no ano, não sem sangue, que oferecia por si mesmo e pelas culpas do
povo; 8 Dando nisto a entender o Espírito Santo que ainda o caminho do santuário não
13
estava descoberto enquanto se conservava em pé o primeiro tabernáculo, 9 Que é uma
alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à
consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço; 10 Consistindo somente em
comidas, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da
correção. 11 Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais
perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, 12 Nem por sangue de
bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo
efetuado uma eterna redenção. 13 Porque, se o sangue dos touros e bodes, e a cinza de
uma novilha esparzida sobre os imundos, os santifica, quanto à purificação da carne, 14
Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado
a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?
Como afirma o versículo 9, o propiciatório, os querubins, o candelabro, tudo é uma
alegoria. O sangue de bodes e o altar do propiciatório constiuem figura, sombra, tipo,
símbolo, ineficazes para aperfeiçoar aquele que presta culto. Cristo é a realidade. Nele se
cumpre a essência de toda essa tipologia. Arão servia em um tabernáculo inferior, feito por
mãos humanas. Jesus entrou no Santo dos Santos real, o trono de Deus, a presença de Deus
(Hb 4:14, 8:1).
O versículo 12 nos mostra que Cristo se ofereceu uma única vez pelos pecadores, obtendo
eterna redenção. Ele não tem de morrer de novo, não tem que se encarnar de novo. O
sacrifício de Cristo não é repetido quando comemos o pão e tomamos o cálice. Isso é uma
heresia de um ramo do cristianismo. O sacrifício de Cristo não se repete. Foi feito uma vez
para sempre. Quando comemos o pão e tomamos o cálice, apenas estamos nos lembrando,
de modo vívido, daquele momento redentor na cruz.
O versículo 14 afirma que só poderemos servir ao Deus vivo se o sangue de Cristo tiver
purificadado nossa consciência de obras mortas. Esse assunto precisa estar plenamente
resolvido em nosso coração. Precisamos ver o sangue de Cristo e crer na Expiação realizada
pelo nosso Sumo Sacerdote.
A única coisa capaz de renovar os cristãos é uma visão renovada de Cristo, e é isso que o
livro de Hebreus faz: Cristo, o nosso grande Sumo Sacerdote; Cristo, e o seu sangue
precioso; Cristo, pelo qual nós temos livre acesso ao Pai; Cristo, que nos colocou em uma
relação filial com o Pai, que muitas vezes nos disciplina como filhos amados.
vii. A ira e o amor de Deus
É importante que percebamos que toda essa visão do capítulo 16 de Levíticos tem como
base a ira de Deus. É uma necessidade para nós, como filhos de Deus, a igreja de Deus,
termos uma compreensão clara a respeito da ira de Deus, porque tendemos a fazer uma
separação, de uma forma errada, entre a ira e o amor de Deus. Porém, a contraparte da ira
de Deus é o Seu amor, como verso e reverso de uma mesma moeda.
14
Na nossa mente natural, costumamos colocar o amor como o oposto à ira de Deus, mas
isso não corresponde. O oposto da ira de Deus e do Seu amor, seria a indiferença. Todas as
vezes que Deus exerce Seu amor, Ele exerce Sua ira, e todas as vezes que Deus exerce Sua
ira, está exercendo Seu amor. A ira de Deus e Seu amor não são antônimos, são sinônimos.
Os textos abaixo comprovam isso:
Hb 12:6-8 6 Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho. 7
Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não
corrija? 8 Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então
bastardos, e não filhos.
Pv 13:24 O que não faz uso da vara odeia seu filho, mas o que o ama, desde cedo o castiga.
Por que é que é importante essa compreensão dentro do panorama da Expiação? Porque
Deus quando realizou Expiação na pessoa do Filho, no Filho do seu amor, Ele estava
exercendo Sua ira, de tal forma que, no pleno exercício da sua ira, Ele pudesse exercer
plenamente Seu amor. Não foi assim que aconteceu na cruz do calvário?
Sl 85:10 A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram
Quando manifestou Seu amor em Cristo, Ele manifestou, deu vazão, a toda Sua ira naquele
mesmo ato. Ali Ele estava demonstrando o quanto Ele ama o homem que se perdeu, que se
alienou Dele por causa do pecado e, na mesma cruz, Ele estava demostrando o quanto
odeia o pecado, ou seja, tudo aquilo que não é coerente com Seu caráter.
Quando nós homens falamos sobre ira, pensamos em rancor, em raiva, em atitudes
intempestivas, precipitadas, fora de controle, ou qualquer coisa desse tipo. Mas isso nunca
existe em Deus. Deus não é precipitado nem intempestivo, não se deixa levar por emoções.
Deus exerce uma ira santa. Ele exerce Sua ira contra tudo que não é compatível com Ele.
Por que? Porque tudo que não é compatível com Ele, não trás bem aventurança, realização,
satisfação, alegria, paz, e tudo o mais que nós quisermos nomear em termos de virtudes.
Tudo o que é antagônico a Deus, ou seja, o pecado, não trás essas realidades. O pecado é,
portanto, independência, separação, alienação de Deus. É por isso que Jesus, na cruz,
recitou o Salmo 22:
Sl 22:1 Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas do meu auxílio
e das palavras do meu bramido?
Aqui podemos ver ira santa de Deus sendo despejada sobre o pecado do homem. Claro que
não sobre o pecado do Filho, mas do nosso pecado sobre Êle:
Is 53:6 Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu
caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós.
1Jo 3:5 E bem sabeis que ele se manifestou para tirar os pecados; e nele não há pecado.
15
Aquele desamparo sofrido pelo Filho só teve um motivo, o nosso pecado que estava sobre
Êle, que foi julgado sobre Êle, que foi expiado por Êle, sobre o qual se manifestou a ira
santa de Deus. Ele só perdeu de vista a face do Pai naquele momento em que a ira de Deus
foi despejada sobre o pecado que Ele pode, como perfeito substituto, assumir ali na cruz.
Pode nos substituit porque Êle era perfeito, sem pecado. Se não fosse perfeito, só poderia
assumir seu próprio pecado. Somente alguém sem pecado pode representar o pecador de
uma forma justa, aceitável aos olhos de Deus.
Se não compreendermos bem a ira e o amor de Deus, iremos compreender mal a cruz.
Quando vemos bem o caráter de Deus, o seu amor e sua ira, exercidos ao mesmo tempo,
então vemos que a cruz é o ápice de Seu amor e o ápice de Sua ira. Temos estudado em
Levítico 16 sobre a Expiação ou Propiciação. Um dos sentidos desses termos significa
desviar a ira. Essa ira tinha um destino, não ia sofrer desvio. Que destino? Paulo afirma:
Rm 1:18 Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e perversão dos
homens, que detêm a verdade em injustiça.
Poderia ser assim, até o fim, sem nenhum problema moral com Deus. Qual seria o
problema moral de Deus se julgasse que merece ser julgado? Que injustiça há em mandar
para o inferno quem é digno do inferno? Não há injustiça nenhuma. Muito pelo contrário,
hveria um brilho, um fulgor nessa justiça, pois Deus estaria condenando quem merece ser
condenado.
Mas há uma questão dentro do coração de Deus. É que esses pecadores que são objetos de
Sua ira, esses ímpios e perversos, são amados por Êle. Deus ama o pecador. Então, dentro
do coração de Deus, por uma compulsão do Seu amor, Ele decidiu salvar de forma justa o
pecador que Ele ama. Só que surge uma dificuldade com Êle mesmo. Como colocar junto a
Si pessoas ímpias e perversas que precisam ser julgadas e condenadas? Surge um conflito
entre Seu amor e Sua ira, entre seu caráter santo e o pecado. Como Deus vai fazer para
resolver este dilema? Ele tomou o nosso pecado e o julgou totalmente na pessoa de um
santo substituto, Ele mesmo na pessoa do seu filho; não uma terceira parte, mas Deus
mesmo.
2Co 5:19 Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando
os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.
Se Deus fosse moralmente neutro, Ele não exerceria nem Seu amor, nem Sua ira. Mas,
porque Ele não é moralmente neutro, não é indiferente, então Ele exerce Sua ira e Seu
amor. A alternativa para ira não é o amor. A alternativa para a ira é a indiferença. Se Deus
não exercesse Sua ira, Ele seria indiferente para com o pecado, o que não se coaduna com
seu caráter santo que não deixa o mal sem punição.
viii. A Expiação vicária em Cristo
16
A idéia da Expiação vicária, através de um substituo pelo pecador, substituto tal que
pudesse satisfazer a Deus, remonta as origens da revelação bíblica. Inicia com Abel, que
ofertou das primícias das suas ovelhas, sacifício este que foi agradável a Deus. Ele ofereceu
uma vida inocente, sem pecado, simbolizada por aquele animal. A oferta de Caim foi do
fruto da terra, fruto do seu esforço pessoal, oferta para a qual Deus não atentou. Sem
dúvida, o sacrifício de Abel foi aceitável a Deus por ser ela é uma figura de Cristo.
Interessante não é? Muito tempo antes do cerimonialismo judaico ser instituído, Abel
ofereceu este sacrifício. Baseado numa revelação da redenção e do culto que agrada a
Deus, Abel ofereceu mais excelente sacrifício do que Caim (Hb 11:4).
Agora podemos ver com clareza o significado da cruz, porque na cruz foi isso que
aconteceu. Deus julgou ali o nosso pecado na pessoa santa do seu Filho de tal forma que
ele fosse completamente liquidado. Aquela dívida relacionada com o pecado totalmente foi
paga. O sacrifício de Cristo é um sacrifício todo inclusivo. Ele assumiu nosso pecado, no
singular. Nós podemos dizer que o pecado não se limita a atos. Não é uma coisinha que
façamos aqui e ali. O pecado é como se fosse uma tronco do qual brotam muitos galhos.
Então, quando o Senhor Jesus foi feito pecado na cruz, pecado no singular, na pessoa Dele
Deus julgou todo o pecado, todo o tronco. Não apenas uma quantidade de pecados, mas
todo o pecado. Por isso o capítulo 6 de Romanos nos diz que nós não estamos mais debaixo
da lei e sim da graça e que o pecado não mais terá domínio sobre nós. Lá não fala sobre um
ato ou outro específico, mas fala do pecado como um princípio. Não importa o que ele
produza: mentira, inveja, ciúme, ódio, ou seja o que for. Está dizendo que o pecado, como
princípio, e tudo que ele produz como conseqüência, não mais terá domínio sobre nós.
2Co 5:21 Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos
feitos justiça de Deus.
Então, a idéia da substituição vicária é importantíssima na Bíblia. A substituição efetuada
por Cristo na cruz era para satisfazer a Deus e não ao diabo. O diabo não tem nada com
isso. A dívida era para com Deus e não para com ele. E aquele sacrifício para satisfazer a
Deus é o que vemos em Levíticos 16. Onde está o diabo nessa história? Totalmente fora. O
sangue é levado para o Santo dos Santos para ser apresentado a Deus e não ao diabo,
porque é Deus quem deve ser satisfeito para que o homem possa ser justificado.
Em Lv 16:5, para o povo de Israel eram usados três animais: um carneiro para holocausto e
dois bodes para expiação do pecado. O carneiro para holocausto tipifica a Cristo
satisfazendo a Deus, não tem nada a ver com o pecado. Do holocausto ninguém come
nada. O holocausto era queimado totalmente. Tudo era queimado porque a satisfação de
Deus está em primeiro lugar; do contrário as ofertas pelo pecado não teriam sentido.
Depois, lançavam sortes sobre aqueles dois bodes, e um deles era sacrificado. O sangue
dele era passado nos quatro chifres do altar de bronze, na parte mais alta, onde era
apresentado a Deus, e depois levado para dentro do Santo dos Santos, onde Arão já tinha
levado o sangue do novilho, por ele mesmo e por sua casa. E quanto ao bode vivo?
17
Lv 16:21-22 21 E Arão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele
confessará todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, e todos
os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode, e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de um
homem designado para isso. 22 Assim aquele bode levará sobre si todas as iniqüidades
deles à terra solitária; e deixará o bode no deserto.
Olhe a ênfase: todas as iniquidades, todas as transgressões, todos os pecados. Que o
Senhor possa revelar em nossos corações a grandiosidade de Sua obra em nosso favor!
Mas, por que o bode ia para o deserto? Em primeiro lugar, porque aquele bode, indo para
um lugar remoto, afastava da vista de Deus todas as iniquidades, todas as transgressões,
todos os pecados do povo que tinham sido transferidos para ele. É claro que Deus é
onipresente, e está em todo lugar. Mas, figuradamente, naquele dia da expiação ele estava
no Santo dos Santos, e aquele bode era levado para longe de Si.
Is 43:25 Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus
pecados não me lembro.
Is 44:22 Apaguei as tuas transgressões como a névoa, e os teus pecados como a nuvem;
torna-te para mim, porque eu te remi.
Jr 31:34 E não ensinará alguém mais a seu próximo, nem alguém, a seu irmão, dizendo:
Conhecei ao SENHOR; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior, diz o
SENHOR; porque perdoarei a sua maldade e nunca mais me lembrarei dos seus pecados.
É claro que Deus não se esquece de nada. O que Êle está falando aqui é que não mais
imputa o pecado. Ele não imputa os nossos pecados a nós porque Ele os imputou a Cristo. É
por isso que Ele não se lembra mais.
1Pe 3:18 Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para
levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito.
Um segundo sentido daquele bode indo para o desero é que ele está afastando da vista das
pessoas todas as iniquidades, todas as transgressões, todos os pecados que tinham sido
transferidos para ele. Por que é que nós não precisamos ficar olhando para os nossos
pecados? Porque Deus não olha para os nossos pecados. Por que é que quando pecamos, a
nossa atitude é de confessarmos os nossos pecados? Porque
Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos
purificar de toda a injustiça (1Jo 1:9).
E por que é que Ele é fiel e justo para nos perdoar? Porque Cristo assumiu, como tipifica o
bode emissário de Levíticos 16, todas as nossas iniquidades, todas as nossas transgressões,
e todos os nossos pecados. Que a revelação dessa verdade venha a dar firmeza à nossa fé e
confiança na grande salvação que temos em Cristo Jesus!
18
ix. A Propiciação pelos nosso pecados
Como falamos, o Novo Testamento não usa a palavra Expiação, mas, sim, a palavra
Propiciação. Existe uma versão grega do Velho Testamento chamada Septuaginta, onde a
palavras hebraicas que tem a raiz Kaphar, usadas para Expiar e Expiação, foram traduzidas
por palavras gregas que têm a raiz Hilas, que significam Propiciação, ou Fazer Propiciação.
O Novo Testamento contempla essas palavras, tanto em forma de verbo, como de
susbstantivo, e, cada vez que aparecem, trazem uma revelação diferente da obra de Cristo:
Hb 2:17 Pelo que convinha que em tudo fosse feito semelhante a seus irmãos, para se
tornar um sumo sacerdote misericordioso e fiel nas coisas concernentes a Deus, a fim de
fazer propiciação pelos pecados do povo.
Aqui temos o verbo Hilascomai, que significa Fazer Propiciação. Fica claro que é Jesus quem
faz Propiciação por nossos pecados, que Ele é o nosso Sumo Sacerdote. Quando Cristo faz
Propiciação, Êle torna-se propício, favorável a nós. Esse verbo aparece mais uma vez em
Lc 18:13, onde podemos ver esse significado claramente:
Lc 18:13 Mas o publicano, estando em pé de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao
céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, o pecador!
Vejamos outro texto do Novo Testamento:
Rm 3:25 Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a
sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus;
Agora aqui temos o substantivo Hilasterion, que seria melhor traduzido como Propiciatório.
É a mesma palavra usada em Hb 9:5:
Hb 9:5 E sobre a arca os querubins da glória, que faziam sombra no propiciatório; das quais
coisas não falaremos agora particularmente.
Onde que a Propiciação era feito no Velho Testamento? Era no Propiciatório, onde o
sangue era aspergido. Não era no Átrio, nem no Santo Lugar. Era no Santo dos Santos. Ali se
fazia a propiciação, e por isso aquela tampa da arca se chamava Propiciatório. E o
Propiciatório também é uma figura de Cristo. Por que Cristo é o Propiciatório? Porque “o
sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1Jo 1:7). Por isso que Paulo
escreveu para Timóteo:
1Tm 2:5 Porque há um só Deus, e um só Mediador (um só lugar) entre Deus e os homens,
Jesus Cristo homem.
Cristo Jesus, homem: Ele é o propiciatório. Assim, Cristo não é somente quem fez a
Propiciação, Êle também é o lugar da Propiciação.
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Finalmente, temos também no Novo Testamento o substantivo Hilasmos:
1Jo 2:1-2 1 MEUS filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém
pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. 2 E ele é a propiciação
pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.
Note que esse texto não diz que Jesus faz Propiciação, nem que Êle é o lugar da
Propiciação, mas que Êle é a Propiciação pelos nossos pecados.
Portanto, considerando as palavras Hilascomai, Hilasterion e Hilasmos, podemos concluir
que Jesus é tanto o Sumo-sacerdote, como o Propiciatório, como a Oferta Propiciatória
pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas ainda pelo do mundo inteiro.
Portanto, a Expiação de Cristo não é limitada na sua abrangência. Ela é plena na sua
abrangência, pois é pelos pecados do mundo todo. Ela é limitada nos seus efeitos, porque
somente os que crêem se apropriam dela.
Para terminar este estudo vejamos o texto de Romanos abaixo:
Rm 5:8-9 8 Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo
nós ainda pecadores. 9 Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue,
seremos por ele salvos da ira.
Nós éramos merecedores da ira santa de Deus, mas Ele desviou Sua ira de nós e a despejou
sobre Cristo, o nosso substituto. Como que Deus prova o seu amor? Porque a sua ira foi
despejado sobre o mediador. Cristo morreu por nós. No exercício do Seu amor, Deus
derramou Sua ira santa sobre Cristo, nosso redentor.
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1 - Seguindo a Cristo