1 Engenharia Aeronáutica Engenharia de Produção Mecânica Engenharia Mecatrônica 4º / 5° Semestre TERMODINÂMICA BÁSICA – APOSTILA 02 Prof Daniel Hasse Calor e Trabalho Primeira Lei da Termodinâmica SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SP Capítulo -3 CALOR E TRABALHO Capítulo - 3 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 2 3 - CALOR E TRABALHO Trabalho e calor são a essência da termodinâmica. Assim é fundamental que o estudante de termodinâmica entenda claramente as duas definições tendo em vista que a análise correta de muitos problemas térmicos dependem da distinção entre elas. 3.1 - Trabalho Podemos definir o trabalho termodinâmico como: "Um sistema realiza trabalho se o único efeito sobre o meio (tudo externo ao sistema) PUDER SER o levantamento de um peso." Note-se que o levantamento de um peso é realmente uma força que age através de uma distância. Observe também que nossa definição não afirma que um peso foi realmente levantado ou que uma força agiu realmente através de uma dada distância, mas que o único efeito externo ao sistema poderia ser o levantamento de um peso. O trabalho realizado por um sistema é considerado positivo e o trabalho realizado sobre o sistema é negativo. O símbolo W designa o trabalho termodinâmico. Em geral falaremos de trabalho como uma forma de energia. Vamos ilustrar a definição de trabalho fazendo uso de dois exemplos. Considere como sistema a bateria e o motor elétrico delimitados pela fronteira como mostrados na figura 3.1-1a , e façamos com que o motor acione um ventilador. A pergunta que segue é a seguinte: O trabalho atravessará a fronteira do sistema neste caso? Para responder a essa pergunta usando a definição de trabalho termodinâmico dada anteriormente vamos substituir o ventilador por um conjunto de polia e peso como mostra a figura 3.1-1b. Com a rotação do motor um peso pode ser levantado e o único efeito no meio é tão somente o levantamento de um peso. Assim para o nosso sistema original da Fig. 3.1-1a concluímos que o trabalho atravessa a fronteira do sistema. Agora, façamos com que o nosso sistema seja constituído somente pela bateria como mostra a figura 3.1-2. Neste caso quem cruza a fronteira do sistema é a energia elétricas da bateria. Constitui trabalho termodinâmico a energia elétrica cruzando a fronteira do sistema?. Sem dúvida, como o conjunto é o mesmo do caso anterior, poderá ocorrer o levantamento de um peso, então energia elétrica cruzando a fronteira do sistema também constitui trabalho como definido anteriormente. Unidades de Trabalho - Como já foi observado, consideramos trabalho realizado por um sistema, tal como o realizado Capítulo - 3 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 3 por um gás em expansão contra um êmbolo, como positivo, e o trabalho realizado sobre o sistema, tal como o realizado por um êmbolo ao comprimir um gás, como negativo. Assim, trabalho negativo significa que energia é acrescentada ao sistema. Nossa definição de trabalho envolve o levantamento de um peso, isto é, o produto de uma unidade de força ( Newton) agindo através de uma distância ( metro). Essa unidade de trabalho no sistema Internacional é chamada de Joule, ( J ). 1 J = 1N.m Definimos POTÊNCIA como trabalho por unidade de tempo, e a representamos por • W . Assim δw dt a unidade de potência é Joule por segundo, denominada Watt ( W ) • W≡ 1W=1 J s Trabalho Realizado Devido ao Movimento de Fronteira de um Sistema Compressível Simples num Processo Quase-Estático - Já observamos que há várias maneiras pelas quais o trabalho pode ser realizado sobre ou por um sistema. Elas incluem o trabalho realizado por um eixo rotativo, trabalho elétrico e o trabalho realizado devido ao movimento da fronteira do sistema, tal como o efetuado pelo movimento do êmbolo num cilindro. Neste curso vamos considerar com alguns detalhes o trabalho realizado pelo movimento da fronteira do sistema compressível simples durante um processo quase-estático. Consideremos como sistema o gás contido num cilindro com êmbolo, como mostrado na Fig 3.1-3. Vamos tirar um dos pequenos pesos do êmbolo provocando um movimento para cima deste, de uma distância dx. Podemos considerar este pequeno deslocamento de um processo quase-estático e calcular o trabalho, δW, realizado pelo sistema durante este processo. A força total sobre o êmbolo é P. A, onde P é a pressão do gás e A é a área do êmbolo. Portanto o trabalho δW é: δ W = P Adx ( 3.1-1) Figura 3.1-3 - Exemplo de trabalho efetuado pelo movimento de fronteira de um sistema num processo quase-estático Porém, da Fig. 3.1-3 verificamos que A dx = dV, a variação do volume do gás devido ao deslocamento, dx, do êmbolo logo: δ W = P dV ( 3.1-2) O trabalho realizado devido ao movimento de fronteira , durante um dado processo quase-estático, pode ser determinado pela integração da Eq. 3.1-2. Entretanto essa integração somente pode ser efetuada se conhecermos a relação en- Capítulo - 3 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 4 tre P e V durante esse processo. Essa relação pode ser expressa na forma de uma equação ou pode ser mostrada na forma gráfica. Consideremos "em primeira" a solução gráfica, usando como exemplo um processo de compressão tal como o que ocorre durante a compressão de ar em um cilindro como mostra a Fig. 3.1-4. No inicio do processo o êmbolo está na posição 1 e a pressão é relativamente baixa. Esse estado está representado no diagrama P x V como mostra a figura. No fim do processo, o êmbolo está na posição 2 e o estado correspondente do sistema é mostrado pelo ponto 2 no diagrama P x V. Vamos admitir que essa compressão seja um processo quase-estático e que, durante o processo, o sistema passe através dos estados mostrados pela linha que liga os pontos 1 e 2 do diagrama P x V. A hipótese de um processo quase-estático, aqui, é essencial, porque cada ponto da linha 1-2 representa um estado definido e estes estados corresponderão aos estados reais do sistema somente se o desvio do equilíbrio for infinitesimal. O trabalho realizado sobre o gás durante este processo de compressão pode ser determinado pela integração da Eq. 3.1-2, resultando: W2 = ∫ δ W = ∫ P dV 2 1 1 2 1 ( 3.1-3) O símbolo 1W 2 deve ser interpretado como o trabalho realizado durante o processo, do estado 1 ao estado 2. Pelo exame do diagrama P x V, é evidente que o trabalho realizado durante esse processo é representado pela área sob a curva 1-2, ou seja a área, a-1-2-b-a. Neste exemplo, o volume diminuiu e a área a-1-2-b-a representa o trabalho realizado sobre o sistema ( trabalho negativo). Se o processo tivesse ocorrido do estado 2 ao estado 1, pelo mesmo caminho, a mesma área representaria o trabalho realizado pelo sistema ( trabalho positivo ). Uma nova consideração do diagrama P x V, Fig. 3.1-5, conduz a uma outra conclusão importante. É possível ir do estado 1 ao estado 2 por caminhos quase-estáticos muito diferentes, tais como A, B ou C. Como a área sob a curva representa o trabalho para cada processo é evidente que o trabalho envolvido em cada caso é uma função não somente dos estados iniciais e finais do processo, mas também, do caminho que se percorre ao ir de um estado a outro. Por esta razão, o trabalho é chamado de função de linha, ou em linguagem matemática, δW é uma diferencial inexata . Na determinação da integral da Eq. 3.1-3 devemos sempre lembrar que estamos interessados na determinação da área situada sob a curva da Fig. 3.1-4. Relativamente a este aspecto, identificamos duas classes de problemas: Capítulo - 3 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 5 1- A relação entre P e V é dada em termos de dados experimentais ou na forma gráfica ( como, por exemplo, o traço em um osciloscópio ) Neste caso podemos determinar a integral da Eq. 3.1-3 por integração gráfica ou numérica. 2- A relação entre P e V é tal que seja possível ajustar uma relação analítica entre eles, e podemos então, fazer diretamente a integração. Um exemplo comum desse segundo tipo de relação é o caso de um processo chamado politrópico, no qual P V n = cons tan te , através de todo o processo. O expoente "n" pode tomar qualquer valor entre - ∞ e + ∞ dependendo do processo particular sob análise. PV = cons tan te = P1 V = P2 V n n 1 → n 2 cons tan te P1 V1n P2 V2n P= = = Vn Vn Vn Para esse tipo de processo, podemos integrar a Eq. 3.1-3, resultando em: ∫ PdV = cons tan te ∫ 2 1 2 1 dV V − n +1 = cons tan te ( ) Vn − n +1 P2 V2n V21− n − P1 V1n V11− n 1− n → ∫ 2 1 2 1 = PdV = cons tan te 1− n ( V2 − V11− n ) = 1− n P2 V2 − P1V1 1− n ( 3.1-4) Note-se que este resultado, Eq. 3.1-4, é válido para qualquer valor do expoente n, exceto n = 1. No caso onde n = 1, tem-se; PV = Constante = P1V1 = P2V2 , ∫ PdV = P1 V1 ∫ 2 1 2 1 dV V = P1 V1 ln e portanto, V2 V1 (3.1-5) Deve-se observar que nas Eqs. 3.1-4 e 3.1-5 não dissemos que o trabalho é igual às expressões dadas por aquelas equações. Aquelas expressões fornecem o valor de uma certa integral, ou seja, um resultado matemático. Considerar ou não, que aquela integral corresponde ao trabalho num dado processo, depende do resultado de uma análise termodinâmica do processo. É importante manter separado o resultado matemático da análise termodinâmica, pois há muitos casos em que o trabalho não é dado pelas Eqs. 3.1-4 ou 3.1-5. O processo politrópico conforme já descrito , expõe uma relação funcional especial entre P e V durante um processo. Há muitas relações possíveis, algumas das quais serão examinadas nos problemas apresentados no final deste capítulo. Exemplo 3.1-1 Capítulo - 3 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 6 Considere como sistema o gás contido no cilindro mostrado na figura, provido de um êmbolo sobre o qual são colocados vários pesos pequenos. A pressão inicial é de 200 kPa e o volume inicial do gás é de 0,04 m3. a) Coloquemos um bico de Bunsen embaixo do cilindro e deixe3 mos que o volume do gás aumente para 0,1 m , enquanto a pressão permanece constante. Calcular o trabalho realizado pelo sistema durante esse processo. como a pressão, neste caso é constante, concluímos pela Eq. 3.1- 3; W2 = P ∫ dV = P( V2 − V1 ) 2 1 1 → W2 = 200 kPa x ( 0,1 − 0,04) m 3 = 12,0 kJ 1 b) Consideremos o mesmo sistema e as mesmas condições iniciais e finais, porém, ao mesmo tempo que o bico de Bunsen está sob o cilindro e o êmbolo se levanta, removamos os pesos deste, de tal maneira que durante o processo a temperatura se mantém constante. Se admitirmos que o gás se comporta como gás ideal, então da Eq. 2.3.3, obtemos: PV = mRT e notamos que este processo é politrópico com o expoente n = 1, pois a massa, m, do sistema é constante, R é a constante do gás e sendo T constante, mRT = constante. Da nossa análise anterior, concluímos que o trabalho é dado pela Eq. 3.1-5, Portanto: W2 = ∫ PdV 2 1 1 = P1 V1 ln V2 0,1 = 200 kPa x 0,04 m 3 x ln = 7,33 kJ V1 0,04 c) Consideremos o mesmo sistema porém, durante a troca de calor removamos os pesos de 1,3 tal maneira que a expressão PV = constante descreva a relação entre a pressão e o volume du3 rante o processo. Novamente o volume final é 0,1 m . Calcular o trabalho. Esse processo é politrópico , no qual n = 1,3. Analisando o processo, concluímos novamente que o trabalho é dado pela Eq. 3.1- 4, assim: V1 1,3 0,04 1,3 ) = 200( ) = 60,77 kPa V2 0,1 2 P2 V2 − P1 V1 60,77 x 0,1 − 200 x 0,04 = 1W2 = ∫1 PdV = 1 − 1,3 1 − 1,3 P2 = P1 ( = 6,41 kJ d) Consideremos o sistema e o estado inicial dados nos três primeiros exemplos, porém mantenhamos o êmbolo preso por meio de um pino, de modo que o volume permaneça constante. Além disso façamos com que o calor seja transferido do sistema para o meio até que a pressão caia a 100 kPa. Calcular o trabalho. Como δW = P.dV, para um processo quase-estático, o trabalho é igual a zero porque, neste caso, não há variação do volume, isto é, dV=0. O processo em cada um dos quatro exemplos está mostrado na Figura ao lado. O processo 1-2a é um processo a pressão constante e a área 1-2a-f-e-1 representa o respectivo trabalho. Analogamente, a linha 1-2-b representa o processo em que PV = constante, a linha 1-2c representa o processo em que PV 1,3 = constante e a linha 1-2d representa o processo a volume constante. O estudante deve comparar as áreas relativas sob cada curva com os resultados numéricos obtidos acima. Exemplo 3.1-2 Capítulo - 3 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 7 Um cilindro com êmbolo móvel, como mostrado na figura, contém 3 kg d’água no estado de vapor úmido com título igual a 15 % e pressão de 2,0 bar (estado 1 ). Esse sistema é aquecido à pressão constante até se obter o título igual a 85 % ( estado 2 ). Pede-se: a) Representar o processo em um diagrama P-V. b) Calcular o trabalho realizado pelo vapor durante o processo. Resposta a) Resposta b) Da definição de Trabalho termodinâmico devido ao movimento de fronteira, e sendo a massa do sistema constante, temos: 2 2 2 1 1 1 W2 = ∫ PdV = P∫ mdv = P. m∫ dv = P. m.(v2 − v1 ) 1 (1) Assim, para calcularmos o 1W2 precisamos determinar o valor do volume específico 1 e 2. Considerando a tabela de propriedades da água saturada para P = 2,0 bar temos: VL = 0,0010605 m3/kg VV = 0,8857 m3/kg Da definição de título e da relação entre título e uma propriedade qualquer na região de vapor úmido temos: V = V L + X x( VV - V L ) V 1 = 0,0010605 + 0,15 ( 0,8857 - 0,0010605 ) V 1 = 0,133756 m3/kg V 2 = 0,0010605 + 0,85 ( 0,8857 - 0,0010605) V 2 = 0,7530 m3/kg Substituindo na expressão do trabalho, Eq.(1) temos: 1 W2 1 = 2,0.105 x 3 x (0,7530 - 0,133756 ) [ J ] W2 = 3,715.105 [ J ] Exemplo 3.1-3 ou 1 W2 = 371,5 [ kJ ] Capítulo - 3 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 8 Um cilindro com êmbolo móvel, como mostrado na figura, contém 5 kg d’água no estado de vapor úmido com título igual a 20 % e pressão de 5,0 bar (estado 1). Esse sistema é aquecido à pressão constante até se obter a temperatura de 200 OC (estado 2). Pede-se: a) Representar o processo em um diagrama P-ν e h-s b) Determinar o trabalho realizado pela substância de trabalho contra o êmbolo, em kJ Solução b) O trabalho devido ao movimento de fronteira é: W2 = ∫ PdV 2 1 1 como P = constante, então W2 = m P ∫ d ν 2 1 1 = m P (ν 2 − ν1 ) Da tabela de propriedades de saturação, para o estado 1, P1= 5,0 bar obtemos Vls1 = 0,0010926 m3 /kg, Vvs1= 0,3749 m3 /kg V1 = Vls1 + X1 ( Vvs1-Vls1) = 0,0010926 + 0,2 ( 0,3749 - 0,0010926) V1 = 0,0759 m3 /kg Da tabela de vapor superaquecido para P2 = 5,0 bar e T2 = 200 oC, obtemos V2 = 0,4249 m3 / kg Assim o trabalho entre o estado 1 e 2 resulta 10 5 m3 kPa x ( 0,4249 − 0,0759) = 872,5 kJ 1 W2 = 5, 0 kg x 5, 0 kg 10 3 Sistemas que Envolvem Outras Formas de Realização de Trabalho Capítulo - 3 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 9 Há sistemas que envolvem outras formas de trabalho, como por exemplo: sistemas que envolvem trabalho magnético e sistemas que envolvem trabalho elétrico. Também existem outros sistemas que envolvem trabalho devido ao movimento de fronteira; um fio esticado sujeito a uma força e uma película superficial. Deve-se observar também que há outras formas de trabalho que podem ser identificadas em processos que não sejam quase-estáticos. Um exemplo disso é o trabalho realizado por forças de cisalhamento, num processo que envolve atrito num fluido viscoso, ou trabalho realizado por um eixo rotativo que atravessa a fronteira do sistema. A identificação do trabalho é um aspecto importante de muitos problemas termodinâmicos. Já mencionamos que o trabalho só pode ser identificado nas fronteiras do sistema. Por exemplo, consideremos a Fig 3.1-6 que mostra um gás separado do vácuo por uma membrana. Fazendo com que a membrana se rompa, o gás encherá todo o volume. Desprezando-se qualquer trabalho associado com a ruptura da membrana, podemos indagar se há trabalho envolvido no processo. Se tomarmos como nosso sistema o gás e o espaço evacuado, concluímos prontamente que não há trabalho envolvido, pois nenhum trabalho é identificado na fronteira do sistema. Se, entretanto, tomarmos o gás como sistema, teremos uma variação do volume e poderemos ser induzidos a calcular o trabalho pela integral ∫ PdV 2 1 Entretanto este não é um processo quaseestático e, portanto, o trabalho não pode ser calculado por aquela relação. Ao contrário, como não há resistência na fronteira do sistema quando o volume aumenta, concluímos que, para este sistema não há trabalho envolvido. Um outro exemplo pode ser citado com a ajuda da Fig. 3.1-7. Na Fig. 3.1-7a, o sistema consiste no recipiente mais o gás. O trabalho atravessa a fronteira do sistema no ponto onde a fronteira intercepta o eixo e pode ser associado como forças de cisalhamento no eixo rotativo. Na Fig. 3.1-7b, o sistema inclui o eixo e o peso, bem como o gás e o recipiente. Neste caso não há trabalho atravessando a fronteira do sistema, quando o peso se move para baixo. Como veremos mais adiante, podemos identificar uma variação de energia potencial dentro do sistema, porém, isto não deve ser confundido com trabalho atravessando a fronteira do sistema. Exemplo 3.1-4 Capítulo - 3 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 10 Considere o sistema mostrado na figura ao lado. O volume 3 inicial do ar no interior do conjunto êmbolo-cilindro é de 0,03 m , 2 neste estado a pressão interna é de 1,1 kgf/cm , suficiente para contrabalançar a pressão atmosférica externa e o peso do êmbolo. A mola toca o êmbolo mas não exerce qualquer força sobre o mesmo nesse estado. O sistema ( ar) é então aquecido até que o volume do sistema seja o dobro do volume inicial. A pressão final do sistema é 2 de 3,5 kgf/cm e, durante o processo a força de mola é proporcional ao deslocamento do êmbolo a partir da posição inicial. Pede-se: a) Mostrar o processo em um diagrama, P - v b) Considerando o ar como sistema, calcular o trabalho realizado pelo sistema Solução: a) W2 = ∫ P d V , e, sendo 2 b) sendo o trabalho 1 W2 = ∫ ( Patm + Pemb + Pmolla ) d V 2 1 P = ( Patm + Pêmb + Pmola ), temos: 1 ou 1 W2 = ∫ ( Patm + Pemb ) d V 2 1 1 + ∫ Pmola d V 2 1 a pressão atmosférica + o peso do êmbolo é constante, e no sistema internacional vale 4 4 P êmb + P atm = 1,1 x 9,81 x 10 N/m2 = 10,791 x 10 Pa logo, o trabalho correspondente será: 1W2( atm ) = 10,791 × 10 4 ∫ 2 1 dV = 10,791x 10 4 [2V1 − V1 ] = 10,791 x 10 4 ( 2 x 0,03 − 0,03) → W2 ( ATM ) = 3,2373 kJ 1 O trabalho devido à força de mola contra o êmbolo será W2 = 1 ∫ Pmola d V mas, Pmola = F( volume), assim devemos determinar primeiro qual a função que relaciona a pressão devido à mola com relação à variação do volume. Entretanto, como ∫ 2PdV representa a área sob a curva, podemos resolver a integral calculando 1 diretamente a área sob a curva da figura a-2. Como sabemos, a área de um triângulo retângulo é 3 A= (b x h)/2, onde, para este caso, b= (V2 - V1) = (0,06 - 0,03) = 0,03 m , e 4 4 h= (P2 - P1) = (3,5-1,1)x 9,81x10 Pa = 23,544 x 10 Pa logo, Wmola = 0,03 x 23,544 x 104 = 3,5316 kJ 2 O trabalho total do processo, nada mais é que a soma dos dois trabalhos anteriores, como mostra a área sob a curva na figura a-3, ou seja: W2 = Watm + Wmola = 3,237 + 3,5316 1 3-2 CALOR → W2 = 6,7686 kJ 1 Capítulo - 3 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 11 A definição termodinâmica de calor é um tanto diferente da interpretação comum da palavra. Portanto, é importante compreender claramente a definição de calor dada aqui, porque ela se envolve em muitos problemas térmicos da engenharia. Se um bloco de cobre quente for colocado em um béquer de água fria, sabemos, pela experiência, que o bloco de cobre se resfria e a água se aquece até que o cobre e a água atinjam a mesma temperatura. O que causa essa diminuição de temperatura do cobre e o aumento de temperatura da água? Dizemos que isto é resultado da transferência de energia do bloco de cobre à água. É dessa transferência de energia que chegamos a uma definição de calor. Calor é definido como sendo a forma de energia transferida, através da fronteira de um sistema a uma dada temperatura, a um outro sistema (ou meio ) numa temperatura inferior, em virtude da diferença de temperatura entre os dois sistemas. Isto é, o calor é transferido do sistema de maior temperatura ao sistema de temperatura menor e a transferência de calor ocorre unicamente devido à diferença de temperatura entre os dois sistemas. Um outro aspecto dessa definição de calor é que um corpo ou sistema nunca contém calor. Ou melhor, calor só pode ser identificado quando atravessa a fronteira. Assim o calor é um fenômeno transitório. Se considerarmos o bloco quente de cobre como um sistema e a água fria do béquer como outro sistema reconhecemos que originalmente nenhum sistema contém calor (eles contêm energia, naturalmente). Quando o cobre é colocado na água e os dois estão em "comunicação térmica", o calor é transferido do cobre à água, até que seja estabelecido o equilíbrio de temperatura. Nenhum sistema contém calor no fim do processo. Infere-se, também, que o calor é identificado somente na fronteira do sistema, pois o calor é definido como sendo a energia transferida através da fronteira do sistema. Unidades de Calor - Conforme já discutimos, o calor, como o trabalho, é uma forma de transferência de energia para ou de um sistema. Portanto, as unidades de calor, ou sendo mais geral, para qualquer outra forma de energia, são as mesmas do trabalho, ou pelo menos, são diretamente proporcionais a ela. No sistema Internacional, SI, a unidade de calor ( e de qualquer outra forma de energia ) é o Joule. Calor transferido para um sistema é considerado positivo e transferido de um sistema é negativo. O calor é normalmente representado pelo símbolo Q. Um processo em que não há troca de calor ( Q = 0 ), é chamado de processo adiabático. Do ponto de vista matemático o calor, como o trabalho, é uma função de linha e é reconhecido como tendo uma diferencial inexata. Isto é, a quantidade de calor transferida quando o sistema sofre uma mudança, do estado 1 para o estado 2, depende do caminho que o sistema percorre durante a mudança de estado. Como o calor é uma função de linha, a sua diferencial é escrita como δQ. Na integração escrevemos: ∫ δQ = 2 1 1 Q2 ( 3.2-1) em outras palavras, 1Q2 é o calor transferido durante um dado processo entre o estado 1 e o estado 2. Capítulo - 3 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 12 O calor transferido para um sistema na unidade de tempo, é chamado taxa • de calor, e designado pelo símbolo Q , a respectiva unidade é o Watt ( W ) • Q≡ δQ dt (3.2-2 ) Comparação entre Calor e Trabalho - É evidente, a esta altura, que há muita semelhança entre calor e trabalho, que passaremos a resumir: a) O calor e o trabalho são, ambos, fenômenos "transitórios". Os sistemas nunca possuem calor ou trabalho, porem qualquer um deles ou, ambos, atravessam a fronteira do sistema, quando o sistema sofre uma mudança de estado. b) Tanto o calor como o trabalho são fenômenos de fronteira. Ambos são observados somente nas fronteiras do sistema, e ambos representam energia atravessando a fronteira do sistema. c) Tanto o calor como o trabalho são funções de linha e têm diferenciais inexatas. Deve-se observar que na nossa convenção de sinais, +Q representa calor transferido ao sistema e, daí é energia acrescentada ao sistema, e +W representa o trabalho realizado pelo sistema, que é energia que sai do sistema. A Fig. 3.2-1 mostra a convenção de sinais que adotamos. Um esclarecimento final pode ser útil para mostrar a diferença entre calor e trabalho. A Fig. 3.2-2 mostra um gás contido num recipiente rígido. Espiras de resistência elétrica são enroladas ao redor do recipiente. Quando a corrente elétrica circula através das espiras, a temperatura do gás aumenta. O que atravessa a fronteira do sistema, calor ou trabalho ? Na Fig. 3.2-2a, consideramos somente o gás como sistema. Neste caso calor atravessa a fronteira do sistema, porque a temperatura das paredes é superior à temperatura do gás. Na Fig. 2.3-2b, o sistema inclui o recipiente e as resistências elétricas. Neste caso a eletricidade atravessa a fronteira do sistema, e como anteriormente indicado, isto é trabalho. Formas de interação de Calor. As formas mais comuns de interação de calor são através de : Capítulo - 3 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 13 a) - Condução → Lei de Fourier A condução de calor pode ser considerada como a transferência de energia das partículas mais energéticas de uma substância para partículas menos energéticas, graças às interações entre partículas [Incropera, F. P. & Witt, D. P.]. A relação matemática é: • Q = − kA x dT dx ( 3.2-3) x onde: k = condutividade térmica A = área da parede perpendicular à direção x x = posição onde está sendo calculada a taxa de calor b) - Radiação térmica → lei de Stefan - Boltzmann A radiação térmica é a energia emitida pela matéria que estiver em uma temperatura finita. A energia do campo de radiação é transportada pelas ondas eletromagnéticas (ou fotons numa outra linguagem). Enquanto a transferência de calor por condução precisa de um meio material, a radiação não necessita de qualquer meio. Na realidade, a transferência de energia por radiação ocorre com maior eficiência no vácuo. A relação matemática para essa forma de calor é: • Q e = ε σ ATb4 (3.2-4) sendo: ε = emissividade, propriedade radiativa da superfície, 0≤ ε≤1 W ) m .K 4 Tb = Temperatura termodinâmica da superfície emitente A = área emitente da superfície σ = Constante de Stefan - Boltzmann, (σ = 5, 67 x 10 − 8 2 c) - Convecção - Lei de resfriamento de Newton O modo de transferência convectiva de calor é sustentado pelo movimento molecular aleatório e pelo movimento macroscópico do fluido no interior da camada limite. Capítulo - 3 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 14 A transferência convectiva de calor pode ser classificada de acordo com a natureza do escoamento. Convecção forçada, convecção livre, ou conveção combinada, dependendo da característica do movimento do meio que está em contato com a superfície. Independentemente da natureza particular do processo de transferência de calor por convecção, a equação da taxa apropriada tem a forma: [Incropera, F. P. & Witt, D. P.] • Q = hA(Tb − T f ) (3.2-5) onde: A = Área de troca de calor h = Coeficiente de convecção de calor ou coeficiente de película Tb, Tf = Respectivamente as temperaturas da superfície e do fluido. Capítulo - 4 PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 2 4 - PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA A primeira lei da termodinâmica é comumente chamada de " lei da conservação da energia". Nos cursos elementares de física, o estudo da conservação de energia dá ênfase às transformações de energia cinética e potencial e suas relações com o trabalho. Uma forma mais geral de conservação de energia inclui os efeitos de transferência de calor e a variação de energia interna. Esta forma mais geral é chamada de " Primeira Lei da Termodinâmica ". Outras formas de energia podem também serem incluídas, tais como: energia eletrostática, energia de campos magnéticos tensão superficial etc. Energia é uma noção familiar, e já conhecemos a maioria dos detalhes sobre ela. Neste capítulo vários aspectos importantes do conceito de energia são analisados alguns dos quais já foram vistos no capítulo anterior. A idéia básica, aqui, é que a energia pode ser armazenada dentro de um sistema, transformada de uma para outra forma de energia e transferida entre sistemas. Para o sistema fechado a energia pode ser transferida através do trabalho e da transferência de calor. A quantidade total de energia é conservada em todas transformações e transferências. 4-1 - Primeira Lei para Um Sistema Percorrendo Um Ciclo A primeira lei da termodinâmica estabelece que, durante um processo cíclico qualquer, percorrido por um sistema, a integral cíclica (somatório sobre todo o ciclo), do calor é proporcional à integral cíclica do trabalho, matematicamente ∫ δQ = ∫ δ W (4.1-1) ou ∑Q = ∑W ciclo (4.1-2) ciclo A base de todas as leis da natureza é a evidência experimental, e isto é verdadeiro, também, para a primeira lei da termodinâmica. Toda a experiência efetuada até agora provou a veracidade direta ou indiretamente da primeira lei. A primeira lei nunca foi contestada e tem sido satisfeita por muitas experiências físicas diferentes. Como discutido no capítulo 3 a unidade de calor e trabalho, para o sistema internacional, SI, é o joule ou seus múltiplos. Outras unidades são freqüentemente usadas, tais como aquelas do sistema prático inglês e do sistema prático métrico, respectivamente, BTU (British thermal units) e a kcal (quilocaloria) 1 kcal = 4,1868 kJ 1 kcal = 3,96744 BTU 1 BTU = 1,0553 kJ 1 kw = 860 kcal / h = 3 412 BTU / h 1 hp = 641,2 kcal / h = 2 545 BTU / h Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 3 Como exemplo de grandes sistemas industriais, que operam em um ciclo termodinâmico, podemos citar as termoeléctricas a vapor e os sistemas de refrigeração. Estes dois sistemas são projetados, operados e controlados através da análise termodinâmica, mais especificamente através dos princípios da primeira lei da termodinâmica. A seguir, como motivação, são apresentados os esquemas desses dois sistemas. Figura 4.1-1a - Sistema termelétrico de uma central de geração elétrica Figura 4.1-1b - Sistema de refrigeração por compressão de vapor 4-2 - Primeira Lei para Mudança de Estado de um Sistema A Eq. 4.1-1 estabelece a primeira lei da termodinâmica para um sistema operando em um ciclo. Muitas vezes, entretanto, estamos mais interessados a respeito de um processo que em um ciclo. Assim é interessante obter uma expressão da primeira lei da termodinâmica para um processo. Isto pode ser feito Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 4 introduzindo-se uma nova propriedade, a energia total, a qual é representada pelo símbolo E. Considere-se um sistema que percorre um ciclo, mudando do estado 1 ao estado 2 pelo processo A e voltando do estado 2 ao estado 1 pelo processo B. Este ciclo está mostrado na Fig. 4.2-1. Da primeira lei da termodinâmica temos; ∫ δQ = ∫ δW considerando os dois processo que constituem o ciclo separadamente obtemos; ∫ 2 1 δQ A + ∫ δQ B = ∫ δWA + ∫ δWB 1 2 2 1 1 2 agora, consideremos outro ciclo, com o sistema mudando do estado 1 ao estado 2 pelo mesmo processo A e voltando ao estado 1 pelo processo C como indicado na Fig 4.2-1. Para este ciclo podemos escrever: ∫ 2 1 δQ A + ∫ δQ C = ∫ δWA + ∫ δWC 1 2 2 1 1 2 Subtraindo a segunda destas equações da primeira, temos, ∫ δQ 1 2 B − ∫ δQ C = ∫ δWB − ∫ δWC 1 1 1 2 2 2 ou, reordenando ∫ ( δQ − δW ) 1 2 = ∫ ( δQ − δW ) C 1 B 2 (4.2-1) Visto que B e C representam caminhos arbitrários entre os estados 1 e 2 concluímos que a quantidade (δ δQ - δW) é a mesma para qualquer processo entre o estado 1 e o estado 2. Em conseqüência, (δ δQ - δW) depende somente dos estados inicial e final não dependendo do caminho percorrido entre os dois estados. Isto nos faz concluir que a quantidade, (δ δQ - δW ), é uma função de ponto, e portanto, é a diferencial exata de uma propriedade do sistema. Essa propriedade é a energia total do sistema e é representada pelo símbolo E. Assim podemos escrever δQ − δW = dE ou, δQ = dE + δW (4.2-2) Observe-se que, sendo E uma propriedade, sua diferencial é escrita dE. Quando a Eq. 4.2-2 é integrada, de um estado inicial 1 a um estado final 2, temos 1Q2 = E2 - E1 + 1W 2 (4.2-3) Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 5 onde, 1Q2 é o calor transferido para o sistema durante o processo do estado 1 para o estado 2, E1 e E2 são os valores inicial e final da energia total do sistema e 1W 2 é o trabalho efetuado pelo sistema durante o processo. O significado físico da propriedade E é o de representar toda a energia de um sistema em um dado estado. Essa energia pode estar presente em uma multiplicidade de formas, tais como; energia cinética, energia potencial, energia associada à estrutura do átomo, energia química, etc. No estudo da termodinâmica é conveniente considerar-se separadamente as energias cinética e potencial, as demais formas de energia do sistema são agrupadas em uma única variável, já definida, a energia interna, representada pelo símbolo U. Assim, E = U + EC + EP (4.2-4) sendo EC = 1 m V2 2 e EP = mgZ (4.2-5) onde, m é a massa do sistema, V é a velocidade, g a aceleração gravitacional e Z a elevação em relação ao referencial adotado para o sistema termodinâmico. A razão para trabalhar separadamente é que a energia cinética, (EC), e a energia potencial, (EP), estão associadas a um sistema de coordenadas que escolhemos, e podem ser determinadas pelos parâmetros macroscópicos de massa, velocidade e elevação. A energia interna U está associada ao estado termodinâmico do sistema. Como cada uma das parcelas é uma função de ponto, podemos escrever dE = dU + d(EC) + d(EP) (4.2-6) A primeira lei da termodinâmica para uma mudança de estado de um sistema pode, então, ser escrita como; δQ = dU + d( EC) + d( EP ) + δW (4.2-7) Três observações podem ser feitas relativa a essa equação: 1 - A energia total, E, realmente existe e podemos fazer uso desta para escrever a primeira lei. Entretanto é mais conveniente, em termodinâmica, trabalhar separadamente com a energia interna, U, a energia cinética, EC, e com a energia potencial EP. 2 - A equação 4.2-3 e 4.2-7 são de fato o enunciado da conservação de energia. A variação líquida de energia do sistema é sempre igual à transferência líquida de energia através da fronteira do sistema , na forma de calor e trabalho. 3 - A equação 4.2-3 e 4.2-7 somente tratam com variações de energia interna, energia cinética e energia potencial. Não conseguimos nos informar sobre os valores absolutos dessas quantidades através dessas equações. Se quisermos atribuir valores à energia interna, energia cinética e potencial, precisamos admitir estados de referência e atribuir valores às quantidades nesses estados. Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 6 Exemplo 4.2-1 Um sistema inicialmente em repouso sofre um processo no qual recebe uma quantidade de trabalho igual a 200 kJ. Durante o processo o sistema transfere para o meio ambiente uma quantidade de calor igual a 30 kJ. Ao final do processo o sistema tem velocidade de 60 m/s e uma elevação de 50 m. A massa do sistema é de 25 kg, e a aceleração gravitacional local é de 9,78 m/s2. Determine a variação de energia interna do sistema durante o processo, em kJ. Solução Conhecemos: Um sistema de massa conhecida sofre um processo recebendo uma quantidade de trabalho e transferindo uma quantidade de calor conhecidos. O sistema está inicialmente em repouso e no estado final tem velocidade de 60 m/s e elevação de 50 m. Obter: Determinar a variação de energia interna do sistema. Hipótese: 1- O sistema sob análise é um sistema fechado, constituído da massa de 25 kg 2- No estado final o sistema está em equilíbrio (velocidade uniforme) análise: a primeira lei da termodinâmica (balanço de energia) para o sistema fechado é 1 Q 2 = ∆E+ 1W2 ou 1 Q 2 = ∆U + ∆EC + ∆EP + 1W2 a variação de energia cinética e potencial é: ∆EC = 1 m ( V 22 − V 12 ) → 2 ∆EC = 1 m2 ( 2 5 k g )( 6 0 2 − 0 2 ) 2 → s 2 ∆ E C = 45 000 J m )(50 − 0) m → ∆EP = 12 225 J S2 substituindo os valores numéricos na expressão da 1 a lei obtemos o valor de ∆U, ∆EP = mg( Z 2 − Z 1 ) → ∆EP = 25 ( kg ) 9,78 ( ∆U = 1 Q 2 − ∆EC − ∆EP − 1W2 → ∆U = ( −30 kJ ) − ( 45,0 kJ ) − (12,225 kJ ) − ( −200 kJ ) ⇒ ∆U = − 87,225 + 200 = + 112,775 kJ Comentários: 1- O sinal positivo de ∆U indica que a energia interna do sistema aumentou. 2- Deve-se observar cuidadosamente a conversão de unidades 3- O balanço de energia pode ser obtido pela seguinte planilha Entradas 200 kJ (trabalho) 200 kJ Variações Internas 45,000 kJ (energia cinética) 12,225 kJ (energia potencial) 112,775 kJ (energia interna) 170,000 kJ (variação total) Saídas 30 kJ (calor transferido) 30 kJ Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 7 A entrada líquida de energia excede a saída líquida de energia em 170 kJ, e portanto, a energia interna do sistema aumentou.( a energia se conservou ! ) Exemplo 4.2-2 Considere 5 kg de vapor de água contida no interior do conjunto cilindropistão. O vapor sofre uma expansão do estado 1 onde P = 5,0 bar e T=240 oC para o estado 2 onde P=1,5 bar e T=200 oC. Durante o processo 80 kJ de calor é transferida para o vapor. Uma hélice é colocada no interior do conjunto através de um eixo para homogeneizar o vapor, a qual transfere 18,5 kJ para o sistema. O conjunto cilindropistão está em repouso. Determinar a quantidade de trabalho transferido para o pistão durante o processo de expansão. Solução: - Esquema do problema e o esquema gráfico da solução no plano P-V hipótese: 1- o vapor é o sistema termodinâmica fechado. 2- não há variação de energia cinética e potencial. Análise: O balanço de energia para o sistema fechado resulta Q 2 = ∆U + ∆EC + ∆EP +∑ 1W2 , como dos dados do problema, ∆EC = ∆EP = 0 , então; (1) 1 Q 2 = ∆ U +∑ 1W2 onde, ∑ 1W2 = Whelice + Wpistao , substituindo na expressão (1) 1 Wpistao = 1Q 2 − Whelice − m( u 2 − u1 ) (2 ) Da tabela de propriedades superaquecidas do vapor de água obtemos para o estado 1 e 2 u1 = 2707, 6 kJ , e u 2 = 2656,2 kJ substituindo os valores numéricos na expressão (2) temos: Wpistao = ( +80 kJ ) − ( −18,5 kJ ) − 5,0 kg ( 2656,2 − 2707,6) kJ ⇒ Wpistao = + 355,5 kJ Comentários: 1) O sinal positivo do trabalho indica que o sistema (vapor de água) realizou trabalho sobre o meio (pistão) quando o sistema sofreu a expansão 2) Em princípio, o trabalho do pistão poderia ser calculado através da expressão ∫ Pdv , Entretanto, não é possível utilizar tal equação uma vez que não se conhece a função P= P(volume), mas tão somente, os estados inicial e final. 3) A tabulação do balanço de energia para o sistema, resulta: Entradas 18,5 kJ (trabalho devido à hélice) 80,0 kJ (calor transferido para o sistema) 98,5 kJ Saídas 355,5 kJ (trabalho sobre o pistão) 355,5 kJ A saída total de energia, pelo balanço de energia, excede a energia de entrada, conseqüentemente a energia do sistema diminuiu da diferença, ∆U= (98,5 - 355,5) = - 257 kJ Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 8 4.3 - PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA EM TERMOS DE FLUXO Muitas vezes é vantajoso usar a primeira lei em termos de fluxo, expressando a taxa média ou instantânea de energia que cruza a fronteira do sistema — como calor e trabalho — e a taxa de variação de energia do sistema. Procedendo desse modo estamos nos afastando do ponto de vista estritamente clássico, pois basicamente a termodinâmica clássica cuida de sistemas que estão em equilíbrio e o tempo não é um parâmetro importante para sistemas que estão em equilíbrio. Entretanto, incluiremos neste texto essas equações, em termos de fluxo, pois são desenvolvidas a partir dos conceitos da termodinâmica clássica e são usadas em muitas aplicações da termodinâmica. Nesta forma, a equação do primeiro princípio para o volume de controle encontra amplas aplicações na termodinâmica, mecânica dos fluidos e transferência de calor. Consideremos um intervalo de tempo δt, durante o qual uma quantidade de calor δQ atravessa a fronteira do sistema, um trabalho δW é realizado pelo sistema, a variação de energia interna é ∆U, de energia cinética é ∆(EC) e da energia potencial é ∆(EP). Da primeira lei, podemos escrever δQ = ∆U + ∆EC = ∆EP + δW dividindo por δt teremos a taxa média de energia trocada, como calor e trabalho e de aumento de energia do sistema. δQ ∆ U ∆EC ∆EP δW = + + + δt δt δt δt δt calculando o limite desses valores quando δt tende para zero temos δQ • = Q , fluxo instantâneo de calor δt → 0 δ t lim • δW = W , potência δt → 0 δ t lim lim δt → 0 ∆U dU , = δt dt lim δt → 0 ∆ ( EC ) d( EC ) , = δt dt lim δt → 0 ∆ ( EP ) d( EP ) = δt dt Portanto a primeira lei em termos de fluxo é • Q= dU d( EC) d( EP ) • + + +W dt dt dt (4.3-1) ou • Q= dE • +W dt (4.3-2) Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 9 Exemplo 4.3-1 Durante a operação de carregamento de uma bateria, a corrente elétrica, I, é de 20 • ampères, e a tensão, ε, é de 12,8 Volts, A taxa de transferência de calor, Q , da bateria para o meio é de 10 W. Qual a taxa de aumento de energia interna? Solução Como não há variação de energia cinética e potencial a equação do primeiro princípio em termos de fluxo pode ser escrita na forma da Eq. 4.3-1 • Q= dU • + W , onde, como sabemos a potência elétrica é dada por: dt • W ele = − ε i = − 12,8 x 20 = − 256 W portanto a variação de energia interna do sistema (bateria) será: dU • • = Q− W = − 10W − ( −256 W ) = 246 J / s dt Do ponto de vista prático, é interessante escrever a equação 4.3-2 na forma de somatório para incluir os vários fluxos de calor e/ou trabalho que podem ocorrer no sistema. ∑ • 1 Q2 = dE + dt ∑ A figura 4.3-1, mostra um sistema termodinâmico sujeito às possíveis interações com o meio, a convenção de sinais usados e o • referencial. Na Fig 4.3-1, Σ Q + significa calor • liquido entrando no sistema, Σ W + significa somatório de trabalho liquido sendo realizado pelo sistema sobre o meio. A direção indicada de calor e trabalho na Fig. 4.3-1 está em acordo com a posição dos termos nas Eqs. 4.3-1, 4.3-2 e 4.3-3. • 1 W2 (4.3-3) Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 10 4.4 - Calor Específico a Pressão Constante e a Volume Constante Várias propriedades relacionadas à energia interna são importantes em termodinâmica. Uma delas é a entalpia, que já foi definida no capítulo 2. Duas outras conhecidas como calor específico a pressão constante, CP, e calor específico a volume constante, Cν , serão aqui consideradas. Os calores específicos a pressão e a volume constante, são particularmente úteis para a termodinâmica nos cálculos envolvendo o modelo de gás ideal. As propriedades intensivas Cν e CP são definidas para substâncias puras e compressíveis simples como sendo a derivada parcial das funções u(T,v) e h(T,P) respectivamente; ∂u Cν = (4.4-1) ∂ T ν CP = ∂ h ∂ T P (4.4-2) onde os índices ν e Ρ representam respectivamente (volume específico e pressão), variáveis fixadas durante a derivação. Valores para Cv e Cp podem ser obtidos por mecanismos estatísticos usando medidas espectroscópicas. Elas podem também ser determinadas macroscopicamente através de medidas exatas das propriedades termodinâmicas. As unidades macroscópicas de Cv e Cp, no sistema internacional, SI, são o kJ/kg-k ou kJ/kg -oC. Para unidades molares, kJ/ kmol-k. Observe que na definição de Cv e Cp estão envolvidas somente propriedades termodinâmicas, e portanto Cv e Cp são também propriedades termodinâmicas de uma substância. Aproximações para Líquidos e Sólidos Pode-se observar nas tabelas de propriedades saturadas e de líquido comprimido para a água que o volume específico do líquido varia muito pouco com a pressão e que a energia interna varia principalmente com a temperatura. Este comportamento é exibido por qualquer substância na fase líquida ou sólida. Para simplificar avaliações envolvendo líquidos ou sólidos, freqüentemente adotamos a hipótese, bastante razoável em termos de engenharia, que o volume específico do líquido é constante e a energia interna como sendo somente função da temperatura. A substância assim idealizada é chamada de incompressível. Assim para uma substância na fase líquida ou sólida, que satisfaz o modelo de substância incompressível a energia interna varia somente com a temperatura, e portanto, o calor específico a volume constante será função somente da temperatura. Logo podemos escrever a Eq. 4.4-1 como uma diferencial ordinária tendo em vista que Cv é função somente de uma variável, a temperatura. du Cν = (incompressível) ( 4.4-3) dT Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 11 Pela definição anterior de entalpia, para qualquer substância, sabemos que ela é função da energia interna, da pressão e do volume específico em qualquer fase, de acordo com a expressão: h = u + Pv Para substâncias modeladas como incompressíveis, o calor específico a pressão constante CP e a volume constante, Cv são iguais, Pode-se mostrar essa afirmação derivando a equação da entalpia mantendo-se a pressão constante, resultando: ∂ h du dv +P , sendo a substância incompressível = ∂ T P d T dT a derivada dv = 0 , portanto ∂ h du = ∂ T P dT (incompressível) (4.4-4) o lado esquerdo da igualdade é o calor específico a pressão constante, CP e o lado direito é o calor específico a volume constante de uma substância incompressível, Cv. Assim; C ν = C P = C , para sólidos e líquidos (4.4-5) O calor específico de alguns sólidos e líquidos são dados na tabela 4.4-1 a seguir. Tabela 4.4-1 - Calor específico de alguns sólidos e líquidos a 25 OC SÓLIDOS Alumínio Cobre Granito Grafite Ferro Chumbo Borracha (macia) Prata Estanho Madeira (maioria) Cp kJ/kg-K ρ kg/m3 LÍQUIDOS Cp kJ/kg-K 0,900 0,386 1,017 0,711 0,450 0,128 1,840 0,235 0,217 1,760 2700 8900 2700 2500 7840 11310 1100 10470 5730 350-700 Amônia Etanol Freon - 12 Mercúrio Metanol Óleo (leve) Água 4,800 2,456 0,977 0,139 2,550 1,800 4,184 ρ kg/m3 602 783 1310 13560 787 910 997 Para pequenos intervalos de variação de temperatura a variação do calor específico de um líquido ou sólido em geral é desprezível e o calor específico nestes casos pode ser admitido constante sem acarretar erros significativos. Resultado para a entalpia e a energia interna, Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica d h = CP ∫ d T 2 1 - pág. - 12 d u = Cν ∫ d T 2 e 1 como Cp = Cv então, dh ≅ du, para líquidos e sólidos Exemplo 4.4-1 Estimar o calor específico à pressão constante do vapor d'água a O temperatura de 375 C. 6,0 MPa e Solução: Se considerarmos uma mudança de estado à pressão constante sobre um pequeno intervalo de temperatura, que envolva a temperatura dada, a Eq. 4.4-2 pode ser escrita como: ∆ h CP ≅ ∆ T P (1) das tabelas de propriedades da água para vapor superaquecido na pressão de 6,0 MPa, temos para para T = 350 T = 400 C h = 3043,0 kJ/kg C h = 3177,2 kJ/kg O O substituindo na expressão (1) temos; CP ≅ 3177,2 − 3043,0 134,2 ≅ 400 − 350 50 → C P ≅ 2,684 kJ kg − k Obs. Foram usadas as temperaturas de 350 OC e 400 OC por incluírem a temperatura de 375 OC no intervalo, e por serem os valores tabelados mais próximos à temperatura de 375 OC Exemplo 4.4-2 Uma barra de metal cuja massa é de 0,30 kg é removida de um forno à temperatura inicial de 927 OC e imersa em um tanque contendo uma massa de O 9,0 kg de água com temperatura de 27 C. Cada substância pode ser modelada como incompressível. Um valor apropriado para o calor específico da água é 4,184 kJ/kg-OC e do metal é 0,42 kJ/kg-K. O calor transferido do tanque para o meio externo pode ser desprezado. Determinar a temperatura final de equilíbrio do sistema. Solução: conhecido: uma barra de metal é colocada em imersão em um tanque com água Capítulo - 4 determinar: - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 13 temperatura final de equilíbrio da água e do metal hipóteses: 1- a barra de metal e a água no interior do tanque formam o sistema fechado 2- o sistema é termicamente isolado 3- não há variação de energia cinética e potencial 4- a água e a barra de metal serão modeladas cada uma como substâncias incompressíveis com valores conhecidos de calor específico A temperatura final de equilíbrio pode ser avaliada de um balanço de energia para sistema fechado 1 Q 2 = ( U 2 − U 1 ) + ∆EC + ∆EP + 1W2 das hipóteses 2 e 3 resulta que, 1Q2 = 1W2 = ∆EC = ∆EP = 0. Como a energia interna é uma propriedade extensiva, seu valor para todo o sistema é a soma dos valores da água e do metal. Assim o balanço de energia fica: ∆U ]agua + ∆U ]metal = 0 considerando o metal e a água como incompressíveis podemos escrever as variações de energia interna em função da temperatura e dos respectivos calores específicos, logo m a C a ( Tf − Tia ) + m m C m ( Tf − Tim ) = 0 onde Tf é a temperatura final de equilíbrio, Tia e Tim são as temperaturas iniciais da água e metal respectivamente, resolvendo para Tf e substituindo os valores numéricos, temos: Tf = Tf = m a C a Tia + m m C m Tim m aC a + m mC m 9,0( kg ) 4,184( kJ / kg − o C) 27( o C) + 0,3( kg ) 0,42( kJ / kg − o C) 927( o C) 9,0( kg ) 4,184( kJ / kg − o C) + 0,3( kg ) 0,42( kJ / kg − o C ) Tf = 30 o C como o sistema termodinâmico está em equilíbrio, esta é a temperatura final da água e da barra de metal Exemplo 4.4-3 Um conjunto êmbolo cilindro, como mostrado na figura, contém no seu interior palha de aço em uma atmosfera de oxigênio puro. O peso do êmbolo e a pressão externa mantém a pressão interna do conjunto constante e igual a 1,0 bar. O ferro da palha de aço reage muito lentamente com o oxigênio para formar Fe2O3. Calor é removido do sistema de modo a manter a temperatura constante e igual a 25 OC. Para a reação de 2 moles de ferro, 2Fe + 1,5O2 → Fe2O3, é necessário remover 831,08 kJ de calor. Adotando como sistema o oxigênio e a palha de aço calcular: W e ∆U para o processo. Solução: Hipóteses: 1- O sistema (oxigênio + palha de aço) está em repouso 2- Tanto o Fe como o Fe2O3 são sólidos, podemos considera desprezível Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 14 o volume ocupados por eles, _ 3- O oxigênio se comporta como gás ideal, portanto, P ν = ℜ T Da hipótese 2 e 3, para a condição inicial e final do sistema podemos escrever: _ _ _ onde ν é o volume molar, V é o volume total ocupado pelo sistema (volume do oxigênio), e " n " o número de moles do oxigênio substituindo o volume molar e subtraindo a primeira da segunda equação temos: P1 ν1 = ℜ T1 , P2 ν 2 = ℜ T2 , entretanto, V = nv , P2 V2 − P1 V1 = n 2 ℜ T2 − n1ℜ T1 da equação de reação química, para formar os dois moles de Fe2O3 são necessários 1,5 moles de oxigênio. Observe que essa quantidade de oxigênio é consumida no processo para formar o Fe2O3, que é um sólido com volume desprezível comparado ao volume total do sistema. P( V2 − V1 ) = ( n 2 − n1 )ℜ T assim a variação do volume do sistema resulta: ∆V = ∆n ℜT P a) O trabalho do sistema devido á variação do volume será W2 = ∫ PdV = P ∫ dV = P ∆V = P∆n 2 1 ⇒ 2 1 1 W2 = − 1,5 ( mols) 1 ⇒ ℜT = ∆nℜ T P 1( kmols) J 8314 ( )( 25 + 27315 , )( K ) 1000 ( mols) Kmols − K W2 = − 3718,23 J = − 3,72 kJ 1 Trabalho negativo, significa que o êmbolo realizou trabalho sobre o sistema b) Da primeira lei para o sistema temos 1 Q 2 = ∆U + ∆EC + ∆EP + 1W2 , da 1a hipótese , ∆EC = ∆EP = 0 ∆U = 1Q 2 − 1W2 = ( − 831,08 kJ ) − ( −3,72 kJ ) = − 827,36 kJ Onde o sinal negativo indica que houve uma diminuição da energia interna do sistema que reflete a variação nas energias de ligação provocada pela reação química Exercícios 4-1) - Um tanque contendo um fluido é agitado por uma hélice como mostrado na figura. O trabalho aplicado à hélice é de 1280 kcal. O calor transferido do tanque para o meio é de 378 kcal. Considerando o tanque e o fluido como sistema, determinar a variação de energia interna do sistema, em kJ. Resposta ∆U = 3 738,8 kJ Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 15 4-2) - Considere um tanque contendo um volume de água de 400 litros à temperatura de 28,96 0C e na pressão atmosférica ao nível do mar (760 mmHg ). A água do tanque é aquecida através de uma resistência elétrica até que sua temperatura atinja 45,81 0C. determine a quantidade de energia, transferida para o sistema, em kcal. Resposta Energia = 680,2 kcal 4-3) - Considere um conjunto cilindro-êmbolo, como mostrado na figura. O sistema contém 10 kg de água à temperatura de 36,16 O C e pressão absoluta de 1,5 bar. Calor é transferido para o sistema até se obter vapor saturado seco (x=1). Determinar a quantidade de calor transferida à água no processo, em kcal. Resposta Q = 5 656,3 kcal 4.4) - A taxa de calor transferida de um motor elétrico, em funcionamento, • para o ambiente varia com o tempo conforme a expressão a seguir, Q = −02.(1 − e − 0,05t ) , • onde, t é o tempo em segundos, e a taxa de calor, Q , é em kJ. O eixo do motor tem rotação constante de ω = 100 rad / s e aplica, a uma carga externa, o torque de 18 N.m. O motor consome uma potência elétrica constante de 2,0 kw. Obtenha uma expressão para a taxa de variação de energia total do motor (dE / dt). Resposta, dE ( −0 , 05 t ) = 0,2 . e dt 4-5) - Um recipiente que tem um volume de 5 m3 contém 0,05 m3 de líquido saturado de água e 4,95 m3 de vapor de água saturada, a 10 bar. Calor é transferido até que o recipiente contenha somente vapor saturado seco. Determinar o calor transferido para o sistema. 4- 6) - Um coletor solar residencial possui uma área de 5,00 m2. A radiação solar média em um dia de céu limpo é de 1000 W/m2 no plano do coletor solar. O coletor solar aquece a água de um tanque termicamente isolado, o qual tem capacidade de 400,0 litros como mostra a Figura. Entre o tanque e o coletor solar existe uma bomba que faz com que a água circule pelo coletor com uma vazão de 0,020 l/s. Admitindo-se rendimento térmico do coletor solar, η = 45% e que o trabalho da bomba (potência) é desprezível pede-se: Qual será a temperatura da água no tanque ás 15 horas se às 8 horas a temperatura no tanque era de 20°C ? (admita temperatura uniforme da água no tanque). 4.5 - Energia Interna, Entalpia e Calor Específico para Gás ideal Para gases que obedecem o modelo de gás ideal, a energia interna específica é função somente da temperatura, como mostrou Joule através de uma Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 16 experiência clássica da termodinâmica em 1843. Assim , o calor específico a volume constante, Cv, definido pela Eq. 4.4-1 é função somente da temperatura, e pode ser escrito como: du C ν ( T) = (4.5-1) dT ou separando as variáveis, o valor da energia interna específica para o gás ideal fica: d u = C ν ( T) d T (4.5-2) integrando a Eq. 4.5-2 desde a temperatura T1 até T2 obtemos: u( T2 ) − u( T1 ) = ∫ C ν ( T) d T T2 T1 (4.5-3) A entalpia específica foi definida no capítulo 2 como: h = u + Pv Entretanto, para um gás ideal a equação de estado P-v-T, como já visto é: Pν = RT substituindo o valor do produto Pv na equação de definição da entalpia, temos; h = u + RT (4.5-4) A Eq. 4.5-4 mostra que no caso de gás ideal a entalpia específica também é função somente da temperatura. Assim da Eq. 4.4-2 de definição do calor específico a pressão constante, resulta para o gás ideal: C P (T ) = ou dh dT d h = C P ( T) d T (4.5-5) (4.5-6) integrando a Eq. 4.5-6 desde a temperatura T1 até T2 obtemos; h( T2 ) − h( T1 ) = ∫ C p ( T) d T T2 T1 (4.5-7) Uma relação importante entre os calores específicos dos gases ideais pode ser obtida, diferenciando a Eq. 4.5-4 em relação à temperatura dh du = +R dT dT substituindo o calor específico, obtemos: C p ( T) − C ν ( T) = R (4.5-8) (4.5-9) ou na base molar _ _ C P ( T) − C ν ( T) = ℜ (4.5-10) Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 17 Assim os calores específicos para um gás ideal diferem apenas do valor da constante particular do gás. Como R é sempre positivo então, Cp > Cv e _ _ conseqüentemente C P > C ν , Para um gás ideal o expoente da transformação isoentrópica, k, ( P V k = cons tan te ), é função somente da temperatura, por definição k≡ C P ( T) C ν ( T) (4.5-11) Como Cp > Cv segue-se que k >1. Combinando a Eq. 4.5-9 com a Eq. 4.5-11 resulta kR C P ( T) = (4.5-12) k −1 C ν ( T) = R k −1 (4.5-13) Os calores específicos para gases que tem comportamento de gás ideal, necessitam de equações como função da temperatura. Uma dessas equações é a seguinte: _ CP = α + β T + γ T 2 + δT 3 + ε T 4 ℜ (4.5-14) onde a tabela 4.5 -1 fornece valores de α, β , γ, δ e ε para alguns gases na faixa de temperatura de 300 a 1000 K. No limite quando a pressão tende para zero todos os gases tendem ao comportamento de gás ideal. _ Tabela 4.5 -1 variação de α Gás CO CO2 H2 H2O O2 N2 AR SO2 CH4 C2H2 C2H4 Gases monoatômicos C P com a temperatura para alguns gases Ideais β x 10 3 γ x 10 6 δ x 10 9 ε x 10 12 3,710 2,401 3,057 4,070 3,626 3,675 3,653 3,267 3.826 1,410 1,426 -1,619 8,735 2,677 -1,108 -1,878 -1,208 -1,337 5,324 -3,979 19,057 11,383 3,692 -6,607 -5,810 4,152 7,055 2,324 3,294 0,684 24,558 -24,501 7,989 -2,032 2,002 5,521 -2,964 -6,764 -0,632 -1,913 -5,281 -22,733 16,391 -16,254 0,240 0,000 -1,812 0,807 2,156 -0,226 0,2763 2,559 6,963 -4,135 6,749 2,5 0 0 0 0 Para gases monoatômicos, tais como He, Ne, Ar, C P é constante em uma grande faixa de temperatura sendo aproximadamente igual a 5ℜ ℜ / 2. Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 18 Exemplo 4.5-1 Determine a variação da entalpia específica , em kJ/kg para o vapor de água quando este sofre um processo desde o estado 1 onde T1 = 400 K e P1 = 0,1 MPa até o estado 2 onde T2 = 900 K e P2 = 0,5 MPa, por meio de: a) tabelas de vapor superaquecido da água b) por integração usando o modelo de gás ideal, com o calor específico dado pela Eq. 4.5-14. c) repita o item " a " e " b " para pressão final de 10 MPa. Resposta: a) Da tabela de vapor superaquecido temos h1 = 2730,5 kJ/kg e h2 = 3762,2 kJ/kg , então; h2 - h1= 1031,7 kJ/kg _ b) Substituindo a expressão de C P , na Eq. 4.5-7 , temos h 2 − h1 = ℜ T2 (α + β T + γT 2 + δT 3 + εT 4 )d T M ∫T1 integrando, h1 − h1 = = β γ δ ε ℜ α ( T2 − T1 ) + ( T22 − T12 ) + ( T23 − T23 ) + ( T24 − T24 ) + ( T25 − T15 ) M 2 3 4 5 8,314 1108 , 4,152 2 2 3 3 {4,070( 900 − 400 ) − 3 [( 900 ) − ( 400 ) ] + 6 [( 900 ) − ( 400 ) ] 18,02 2(10 ) 3(10 ) − 2,964 0,807 4 4 [(900)5 − ( 400)5 ]} 9 [( 900 ) − ( 400 ) ] + 4(10 ) 5(10 )12 h 2 − h 1 = 1025,0 kJ / kg A diferença percentual da variação de entalpia calculada pelos dois métodos é de 0,65%, que é bem próxima do valor obtida através da tabela. c) O valor de h1 é o mesmo do item a. Para pressão de 10 MPa e T= 900 K obtemos, da tabela de vapor superaquecido por interpolação h3 = 3691,72 kJ/kg, logo h3 - h1 = 961,19 kJ/kg O valor a ser obtido através da integração será o mesmo do item b) pois o calor específico é função somente da temperatura. Somente a pressão é diferente do caso anterior. O valor obtido com o modelo de gás ideal, agora, resulta 7% maior que o valor obtido através da tabela. Sem dúvida, os resultados do modelo de gás ideal para o item b) onde a pressão era de 0,5 MPa era esperado, pois como sabemos " todo gás tende a gás ideal quando a pressão tende para zero " Para o caso da pressão de 10 MPa , que é 20 vezes maior que o caso anterior, um desvio maior em relação ao valor correto era esperado. Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 19 4.6 - Conservação de Massa Na seção anterior consideramos o primeiro princípio da termodinâmica para um sistema que sofre uma mudança de estado. Um sistema já foi definido como tendo uma quantidade fixa de massa. Surge agora uma pergunta: variará a massa do sistema quando houver variação de energia do sistema? Se isto acontecer, então a nossa definição de sistema como tendo uma quantidade fixa de massa não mais será válida, quando variar a energia do sistema. Da teoria da relatividade, sabemos que a massa e a energia estão relacionadas pela equação bastante conhecida E = m C2 (4.6-1) onde C é a velocidade da luz, m a massa e E é a energia. Concluímos a partir dessa equação que a massa de um sistema varia quando sua energia varia. Calculemos a grandeza dessa variação de massa para um problema típico e determinemos se essa variação é ou não significativa. Consideremos um recipiente rígido que contém 1,0 kg de uma mistura estequiométrica de um hidrocarboneto combustível (por exemplo, gasolina, C8H18) e ar, que constitui o nosso sistema. Do nosso conhecimento do processo de combustão, sabemos que após a realização desse processo, será necessário transferir cerca de 2900 kJ de calor do sistema para o meio para que seja restabelecida a temperatura inicial do sistema. Do primeiro princípio 1 Q 2 = U 2 − U1 + 1W2 como, 1W2 = 0, e 1Q2 = - 2 900 kJ , concluímos que a energia interna do sistema decresceu de 2 900 kJ durante o processo de troca de calor. Calculemos, agora, a diminuição de massa durante o processo, utilizando a Eq. 4.6-1. A velocidade da luz é 2,9979x108 m/s. Portanto 2 900 000 (J) = m (kg) . (2,9979x108(m/s))2 → m = 3,23 x10 -11 kg Portanto, quando a energia do sistema varia de 2 900 kJ a redução de massa do sistema será de 2,23 x 10 -11 kg. Uma variação de massa dessa ordem de grandeza não pode ser detectada pela balança analítica de maior precisão. Certamente, uma variação relativa de massa dessa ordem de grandeza está além da precisão requerida essencialmente para todos os cálculos da engenharia. Portanto se usarmos as leis de conservação de massa e energia como leis independentes não introduziremos erros significativos na grande maioria dos problemas termodinâmicos, e nossa definição de sistema, tendo uma massa fixa, pode ser usado mesmo que haja variação de energia do sistema. Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 20 4.7 Conservação de Massa e o Volume de Controle Volume de controle é um espaço que nos interessa para um estudo ou análise particular, igualmente como foi definido anteriormente para o sistema termodinâmico. O espaço é demarcado pela superfície de controle, sendo esta uma superfície fechada. Como para o sistema, o volume de controle pode ter uma superfície de controle real ou imaginária, fixa ou móvel rígida ou flexível. Entretanto a superfície deve ser determinada em relação a algum sistema de coordenadas. A massa bem como o calor e o trabalho Figura 4.7-1 diagrama esquemático de um volume de controle podem atravessar a superfície de controle, e a massa contida no interior do volume de controle, bem como suas propriedades, podem variar no tempo. A Fig. 4.7-1 mostra o esquema de um volume de controle com transferência de calor, trabalho de eixo, acumulação de massa dentro do volume de controle e movimento de superfície. O princípio de conservação de massa para o volume de controle é introduzido usando-se a Fig. 4.7-2, a qual mostra um sistema (linha contínua) constituído de uma quantidade fixa de matéria , m, que ocupa diferentes regiões no tempo " t " e no tempo " t+dt ". No seu interior temos o volume de controle, (delimitado pelas linhas tracejadas). No tempo " t " a quantidade de massa dentro do sistema, m, sob consideração é a soma m = mVC ( t ) + δ m e (4.7-1) onde mVC(t) é a massa contida dentro do volume de controle e δme é a massa dentro da pequena região denominada " e " adjacente ao volume de controle como mostrado na Fig. 4.7-2a . Analisemos, agora, o que ocorre com a quantidade fixa de matéria " m " no decorrer do intervalo de tempo dt Figura 4.7-2 - Ilustração usada para desenvolver o princípio da conservação de massa para o volume de controle a) tempo " t " b) tempo " t+dt " Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 21 No intervalo de tempo dt, toda massa na região " e " atravessa a superfície do volume de controle, enquanto um pouco de massa , chamada de δms, inicialmente contida dentro do volume de controle, sai para encher a região denominada " s " adjacente ao volume de controle como mostra a Fig. 4.7-2b. No instante de tempo t+dt a quantidade de matéria sob consideração no sistema pode ser expressa pela equação: m = mVC ( t + dt ) + δ m S (4.7-2) Observe que as quantidades de massa nas regiões " e " e " s " não são necessariamente iguais e que, a quantidade de matéria dentro do volume de controle pode ter variado. Embora o sistema sob consideração ocupe diferentes regiões no espaço em tempos diferentes, ele contém a mesma quantidade de massa. Assim, mVC ( t ) + δ m e = mVC ( t + dt ) + δ m s ou rearranjando, mVC ( t + dt ) − mVC ( t ) = δ m e − δ m s (4.7-3) A Eq. 4.7-3 é uma " contabilidade " do balanço de massa, a qual afirma que a variação de massa dentro do volume de controle durante o intervalo de tempo dt é igual à quantidade de massa que entra menos a quantidade de massa que sai do volume de controle. A Eq. 4.7-3 pode ser expressa na base de taxa. Primeiro dividindo-a por dt para obter: mVC ( t + dt ) − mVC ( t ) δ m e δ m s = − dt dt dt (4.7-4) O lado esquerdo desta equação é a taxa média no tempo da variação de massa dentro do volume de controle durante o intervalo de tempo dt. Os termos do lado direito, envolvendo a massa que cruza a superfície de controle, são as taxas médias no tempo do fluxo mássico durante o mesmo intervalo de tempo dt. A equação para a taxa instantânea de massa é obtida tomando-se o limite de dt tendendo para zero na Eq. 4.7-4. No limite o volume de controle e o sistema coincidem. Assim, o limite do termo do lado esquerdo da Eq. 4.7-4 é: m ( t + dt ) − mVC ( t ) d mVC lim VC = dt → 0 dt dt Onde, dmVC dt é a taxa de variação de massa dentro do volume de controle no tempo t. No mesmo limite, quando dt tende para zero, os termos do lado direito da Eq. 4.7-4 tornam-se respectivamente; Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica • δ me = me , dt → 0 dt pág. - 22 • δ ms = ms dt → 0 dt lim • - lim • Nesta expressão m e e m s , são as taxas instantâneas de escoamento de massa na entrada e saída, respectivamente, no volume de controle. Em resumo a Eq. 4.7-4 quando dt → 0 é, • • d mVC = me − m s dt (4.7-5) Em geral podem existir várias localizações na superfície de controle através das quais a massa pode entrar ou sair. Assim, a Eq. 4.7-5 é reescrita introduzindose o somatório nos termos do lado direito da equação, como na Eq. 4.7-6 • d mVC = dt • ∑ me − ∑ m s e ( 4.7-6) s A Eq. 4.7-6 constitui a expressão geral do balanço de massa para um volume de controle, admitindo-se a hipótese de escoamento uniforme dos fluxos de massa na entrada e saída do volume de controle. Vamos considerar um outro aspecto do escoamento de massa através de uma superfície de controle. Para simplificar, admitamos que um fluido esteja escoando uniformemente no interior de um tubo ou duto como mostrado na Fig. 4.73. Desejamos examinar o escoamento em termos de quantidade de massa que cruza a superfície, A durante o intervalo de tempo dt. Conforme se observa na Fig. 4.7-3, o fluido se move de uma distância dx durante esse intervalo, e portanto o volume de fluido que cruza a superfície A é Adx. Conseqüentemente a massa que atravessa a superfície A é dada por Figura 4.7-3 - escoamento Adx através de uma superfície dm = de controle estacionária ν onde ν, é o volume específico do fluido, se agora, dividirmos ambos os membros dessa expressão por dt e tomarmos o limite para dt→ → 0, o resultado será: r AV m= (4.7-7) ν r onde V é a velocidade. Deve-se observar que este resultado, a Eq. 4.7-7, foi desenvolvido para uma superfície de controle estacionária A, e que, tacitamente admitimos que o escoamento era normal à superfície e uniforme através da superfície. Deve-se também considerar que a Eq. 4.7-7 se aplica a qualquer uma das várias correntes de escoamento que entra e sai do volume de controle , sujeito às hipóteses mencionadas. • Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 23 Exemplo 4.7-1 Ar está escoando no interior de um tubo de 0,2 m de diâmetro à velocidade uniforme de 0,1 m/s. A temperatura e a pressão são 25 OC e 150 kPa. Determinar o fluxo de massa . Solução r AV , e usando o modelo de gás ideal para o ar, temos: Da equação m = ν • ν= ℜ T 8314 ( 25 + 27315 , ) = M P 28,97 150000 a área da seção transversal do tubo é: A= → ν = 0,5704 m3 kg π d 2 π ( 0,2 ) 2 = = 0,0314 m 2 4 4 portanto, • m= 0,0314 x 0,1 = 0,0055 kg / s 0,5704 4.8 - Primeira Lei da Termodinâmica para o Volume de Controle Já consideramos a primeira lei da termodinâmica para um sistema, que consiste numa quantidade fixa de massa e mostramos que para um processo ela pode ser representada pela Eq. 4.2-3, isto é ∑ 1 Q 2 = E 2 − E1 + ∑ 1W2 (4.2-3) Vimos também que, dividindo por dt, ela pode ser escrita em termos de uma equação de fluxo médio num intervalo de tempo dt, como na Eq. 4.8-1 ∑ Q 2 E 2 − E1 W = +∑1 2 dt dt dt 1 (4.8-1) A fim de escrever a primeira lei em termos de fluxo para um volume de controle, procedemos de modo análogo ao usado para deduzir a equação da conservação da massa em termos de fluxo. Na Fig. 4.8-1 vemos um sistema e um volume de controle. O sistema é formado por toda a massa inicialmente contida no volume de controle mais a massa δme. Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 24 Consideremos as mudanças que ocorrem no sistema e volume de controle durante o intervalo de tempo dt. Durante esse intervalo de tempo, dt a massa δme entra no volume de controle através da área discreta Ae e a massa δms sai através da área discreta As. Em nossa análise admitiremos que o incremento de massa δme tem propriedades uniformes, o mesmo ocorrendo com δms. O trabalho total realizado pelo sistema durante o processo, δW, é o associado às massas δme e δms cruzando a superfície de controle, que é comumente chamado de trabalho de fluxo, e o trabalho Wv.c que inclui todas as outras formas de trabalho, tais como associadas com eixo que atravessa a fronteira, forças de cisalhamento, efeitos elétricos, magnéticos, ou superficiais, expansão ou contração do volume de controle. Uma quantidade de calor, δQ, atravessa a fronteira do sistema durante dt. Consideremos agora cada termo da primeira lei da termodinâmica escrita para sistema e transformemo-lo numa forma equivalente, aplicável ao volume de controle. Consideremos primeiramente o termo E2 - E1. Seja Et = energia do volume de controle no instante t Figura 4.8-1 Diagrama esquemático Et+ dt = a energia no volume de controle no para a análise de um volume de instante t+dt controle segundo a primeira lei mostrando calor, trabalho e massa atravessando a superfície d e controle Então E1 = Et + eeδme = a energia do sistema no instante t E2 = Et+ dt + esδms = a energia do sistema no instante t+dt Portanto, E2 - E1 = Et+ δt + esδms - Et - eeδme = (Et +δδt - Et) + (esδms - eeδme) (4-8-2) O termo (esδms - eeδme) representa o fluxo de energia que atravessa a superfície de controle durante o intervalo de tempo, dt, associado às massas δms e δme cruzando a superfície de controle. Consideremos com maior detalhe o trabalho associado às massas δme e δms que cruzam a superfície de controle. O trabalho é realizado pela força normal (normal à área A) que age sobre a δme e δms quando estas massas atravessam a superfície de controle. Essa força normal é igual ao produto da tensão normal - σn, pela área A. O trabalho realizado é: -σ σn A dl = - σnδV = - σnν δm (4.8-3) Uma análise completa da natureza da tensão normal, σn, para fluidos reais, envolve a pressão estática, e efeitos viscosos e está fora do objetivo deste texto. Admitiremos, neste texto, que a tensão normal, σn, num ponto é igual à pressão Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 25 estática, P, e simplesmente notaremos que esta hipótese é bastante razoável na maioria das aplicações e que conduz a resultados de boa precisão. Com essa hipótese, o trabalho realizado sobre a massa δme para introduzi-la no volume de controle é Peνeδme e o trabalho realizado pela massa δms ao sair do volume de controle é Psνsδms. Chamaremos a esses termos TRABALHO DE FLUXO. Na literatura encontramos muitos outros termos, como escoamento de energia, trabalho de introdução e trabalho de expulsão. Então, o trabalho total realizado pelo sistema durante, dt, será; δW = δWv .c + ( Ps ν s δm s − Pe ν e δm e ) (4.8-4) dividamos, agora, as Eq. 4.8-2 e 4.8-4 por dt e substituamos na primeira lei Eq. 4.8-1. Combinando os termos e rearranjando, − E t δm s δW v .c δQ δm e E + ( ee + Pe ν e ) = t + δt ( e s + Ps ν s ) + + dt dt dt dt dt (4.8-5) Cada um dos termos de fluxo mássico dessa expressão pode ser rescrito na forma: e + Pν = u + Pν + V2 V2 + gZ = h + + gZ 2 2 (4.8-6) usando a definição de entalpia específica dada pela Eq. 2.2-2. Deve ser ressaltado que o aparecimento da combinação (u + Pν ν) sempre que há fluxo de massa através de uma superfície de controle é a principal razão para se definir a propriedade entalpia. A sua introdução antecipada relacionada com o processo a pressão constante, foi feita para facilitar o uso das tabelas de propriedades termodinâmicas naquela altura. Utilizando-se a Eq. 4.8-6 para as massas entrando e saindo do volume de controle, a Eq. 4.8-5 torna-se − E t δm s V2 V2 δW v .c δQ δm e E + ( he + e + gZ e ) = t + δt ( hs + s + gZ s ) + (4.8-7) + dt dt 2 dt dt 2 dt Para reduzir essa expressão a uma equação em termos de fluxo, consideremos o que acontece a cada um dos termos da Eq. 4.8-7 quando dt tende para zero. Os termos de calor trocado e do trabalho tornam-se quantidades associadas à taxa de transferência, como no caso visto na seção 4.3. Analogamente as duas quantidades de massa tornam-se fluxos de massa, como na seção 4.7 e o termo de energia torna-se a taxa de variação de energia com o tempo, no volume de controle, de maneira análoga ao termo de massa na equação da conservação de massa. Adicionalmente admitimos originalmente propriedades uniformes de massa δme, que entra no volume de controle através da área Ae e fizemos uma hipótese análoga relativamente a δms, que sai do volume de controle através da área As. Em conseqüência, ao tomarmos os limites acima mencionados as hipótese se reduzem à restrição de propriedades uniformes ao longo das áreas Ae e As num dado instante. Naturalmente as propriedades podem depender do tempo. Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 26 Ao se utilizar os valores limites para exprimir a equação do primeiro princípio para um volume de controle em termos de fluxo, novamente incluímos os sinais de somatório nos termos de escoamento para considera a possibilidade de haver correntes de fluxo adicionais entrando ou saindo do volume de controle e diversos pontos onde calor e trabalho são acrescidos ao volume de controle. Portanto o resultado é: • ∑Q • v .c + ∑ m e (he + Ve2 2 + gZ e ) = • d E v.c + ∑ m s (hs + dt Vs2 2 • + gZ s ) + ∑ W v.c (4.8-8) que é, para nossa finalidade, a expressão geral da primeira lei da termodinâmica. Em outras palavras essa equação diz que a taxa líquida de transferência de calor para o volume de controle, mais a taxa de energia que entra no mesmo como resultado da transferência de massa, é igual à taxa de variação da energia dentro do volume de controle mais a taxa de energia que sai deste como resultado da transferência de massa, e mais a potência líquida associada a eixo, cisalhamento, efeitos elétricos e outros fatores que já foram mencionados. A Eq. 4.8-8 pode ser integrada ao longo do tempo total de um processo para se obter a variação total de energia que ocorre naquele período. Entretanto para se fazer isto é necessário o conhecimento da dependência com o tempo dos vários fluxos de massa e dos estados das massas que entram e saem do volume de controle. Um outro ponto que deve ser observado é que se não houver fluxo de massa entrando ou saindo do volume de controle, aqueles termos da Eq, 4.8-8 simplesmente desaparecem da Eq. 4.8-8, que então se reduz à equação da primeira lei para sistema fechado, em termos de fluxo, já discutida na seção 4.3, ou seja, • ∑Q = • dE +∑W dt (4.3-3) Como a abordagem pelo volume de controle é mais geral, e se reduz à expressão usual da primeira lei para um sistema quando não há fluxo de massa através da superfície de controle, usaremos como expressão geral da 1a lei, a Eq, 4.8-8. 4.9 - O processo em Regime Permanente Nossa primeira aplicação das equações de volume de controle será no desenvolvimento de um modelo analítico adequado para operações em regime permanente de dispositivos como: Turbinas, Compressores, Bocais, Caldeiras, Trocadores Calor etc. , ou seja, um grupo muito grande de problemas de interesse na engenharia. Esse modelo não incluirá as fases transitória de entrada em operação e parada de tais dispositivos, abordando apenas o período de tempo de operação estável. Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 27 Consideremos um certo conjunto de hipóteses (além daquelas que levaram à equação da 1a lei) que conduzem a um modelo razoável para esse tipo de processo, ao qual nos referimos como processo em regime permanente. 1 - O volume de controle não se move em relação ao sistema de coordenadas. - Esta hipótese significa que todas as velocidades medidas em relação aquele sistema são também velocidades relativas à superfície de controle, e não há trabalho associado com a aceleração do volume de controle. 2 - Quanto à massa no volume de controle, o estado da mesma em cada ponto do volume de controle não varia com o tempo. - Esta hipótese requer que d m v .c = 0, dt d E v .c =0 dt e também, portanto, concluímos para o processo em regime permanente, que podemos escrever a equação da continuidade, Eq. 4.7-4 como: • ∑m • s = ∑ me (4.9-1) e a primeira lei da termodinâmica como: • ∑Q • v .c + ∑ m e (he + Ve2 2 • + gZ e ) = ∑ m s ( h s + Vs2 2 • + gZ s ) + ∑ W V .c (4.9-2) 3 - Quanto à massa que escoa através da superfície de controle, o fluxo de massa e o estado dessa massa em cada área discreta de escoamento na superfície de controle não varia com o tempo. As taxas na qual o calor e o trabalho cruzam a superfície de controle permanecem constantes. Isto requer que cada quantidade nas Eq. 4.9-1 e Eq. 4.9-2 sejam invariáveis com o tempo, isto significa que a aplicação das Eq. 4.9-1 e 4.9-2 à operação de tais dispositivos é independente do tempo. Exemplo 4.9-1 O Vapor de água a 0,5 MPa e 200 C entra em um bocal termicamente isolado com uma velocidade de 50 m/s, e sai à pressão de 0,15 MPa e à velocidade de 600 m/s. Determinar a temperatura final do vapor se ele estiver superaquecido e o título se for saturado. Solução Hipóteses: processo em regime permanente, d E v.c =0 dt volume de controle termicamente isolado, → não há transferência de calor pela superfície de controle, Qv.c = 0, e do problema físico, Wv.c= 0, do esquema para o problema podemos adotar para os fluxos mássicos que (EP)e ≅ (EP)s Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 28 a Da 1 lei da termodinâmica, regime permanente resulta he + Ve2 2 = hs + Vs2 2 as velocidades de entrada e saída são conhecidas, a entalpia de entrada pode ser determinada da tabela de propriedades superaquecidas para o a vapor de água, → he = 2 855,4 kJ/kg. Assim substituindo os valores na 1 lei, temos Ve2 − Vs2 hs = he + 2 → 50 2 − 600 2 2 1 kJ (m 2 ) hS = 2855,4 kJ kg + ( J ) = 2855,4 kJ kg + ( −178,75) kJ kg s 2 1000 h s = 2 676,65 kJ / kg Do diagrama de mollier para a água a Ps = 0,15 MPa e com hs = 2 676,65 kJ, vemos que o estado 2 é de vapor úmido (hvs = 2693,6 kJ/kg, hls = 467,11kJ/kg ) assim, X2 = hs − he ( 2676,65 − 467,11) 2209,54 = = = 0,992 ou h vs − h ls ( 2693,6 − 467,11) 2226,49 X 2 = 99,2 % A temperatura é obtida da tabela de propriedades saturadas, para Ps = 0,15 MPa O a temperatura é, Ts = 111,4 C Exemplo 4.9-2 O fluxo de massa que entra em uma turbina a vapor d'água é de 1,5 kg/s e o calor transferido da turbina para o meio é de 8,5 kW. São conhecidos os seguintes dados para o vapor de água que entra e sai da turbina: Determinar a potência fornecida pela turbina. Condições Condições de Entrada de Saída Pressão 2,0 MPa 0,1 MPa Temperatura 350 OC ----------Título --------100 % Velocidade 50 m/s 200 m/s Plano de referência 6m 3m aceleração da gravidade g= 9,8066 m/s2 hipóteses: O volume de controle é como na figura ao lado • • • dE v .c Regime permanente, Σ me = Σ ms = m = 0, dt Modelo: Tabelas de Vapor d'água ou diagrama de Mollier Análise: Primeira lei da termodinâmica Solução Capítulo - 4 • • Q v.c + m( h e + - Ve2 2 Fundamentos da Termodinâmica • + gZ e ) = m( h s + Dos dados do problema, Vs2 2 • + gZ s ) + W v. c - pág. - 29 (1) • Q v . c = −8 ,5 kW Do diagrama de Mollier podemos ler os dados para as condições de entrada e saída da turbina he = 3137,0 kJ/kg, hs = 2675,5 kJ/kg, Se = 6,95 kJ/kg-K Ss = 7,36 kJ/kg-k Calculo dos termos de energia cinética e potencial dos fluxos mássicos Ve2 50 x 50 1 ( kJ ) x = = 1,25 kJ / kg ; 2 2 1000 ( J ) gZ e = 9,8066 x 6 x Vs2 200 x 200 1( kJ ) x = = 20,0 kJ / kg ; 2 2 1000 ( J ) gZ s = 9,8066 x 3 x 1( kJ ) = 0,059 kJ / kg 1000 ( J ) 1( kJ ) = 0,029 kJ / kg 1000 ( J ) Substituindo os valores numéricos na equação (1) temos • − 8,5 + 1,5( 3137 + 1,25 + 0,059) = 1,5( 2675,5 + 20,0 + 0,029) + W v .c • portanto, • W v .c = W T = − 8 ,5 + 4707 ,5 − 4043 ,3 = 655 ,7 kW Pode-se fazer mais duas observações em relação a esse exemplo. Primeiro, em muitos problemas de engenharia as variações de energia potencial (∆EP), são insignificantes, quando comparadas com as outras formas de energia. No exemplo acima a variação de energia potencial não afetou o resultado de modo significativo. Na maioria dos problemas onde a variação de altura é pequena, os termos de energia potencial podem ser desprezados Segundo, se as velocidades são pequenas, inferiores a cerca de 20m/s, em muitos casos a variação de energia cinética, (∆EC), também é insignificante quando comparado com os demais termos de a energia. Como é a variação de energia cinética que é importante na equação da 1 lei os termos de energia cinética podem ser comumente desprezados quando não houver grandes diferenças entre a velocidade de entrada e saída do fluxo mássico no volume de controle. Assim em muitas a aplicações da 1 lei deve-se julgar quais valores podem ser desprezados. Exemplo 4.9-3 Considere uma instalação motora a vapor simples como mostrada na figura abaixo. Os dados na tabela referem-se a essa instalação. Localização Saída do gerador de vapor Entrada da turbina Saída da turbina, entrada do condensador Saída do condensador, entrada da bomba Pressão 2,0 MPa 1,9 MPa Temperatura ou Título o 300 C o 290 C 15 kPa 90 % 14 kPa 45 C o Trabalho da bomba = 4,0 kJ/ kg Figura para o exemplo 5.5-4 Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 30 Determinar as seguintes quantidades , por kg de fluido que escoa através da unidade. 1 - Calor trocado na linha de vapor entre o gerador de vapor e a turbina 2 - Trabalho da turbina 3 - Calor trocado no condensador 4 - Calor trocado no gerador de vapor. Existe evidente vantagem em indicar um número para os diversos pontos do ciclo. Por esse motivo os índices e e s na equação da energia para um processo em regime permanente, são freqüentemente substituídos por números apropriados, como na figura deste exemplo. Como existem diversos volumes de controle a serem considerados na resolução deste problema, consolidemos até um certo grau, o nosso procedimento neste exemplo. Todos os processos: em regime permanente Modelo: Tabelas de vapor e/ou diagrama de Mollier para se obter as propriedades de todos os estados numerados na figura Como nada foi dito sobre as velocidades dos fluxos mássicos e suas posições, as variações de energia cinética e potencial, são desprezadas, pelos critérios discutidos no exemplo 5.5-2 As propriedades dos estados 1,2 e 3 podem ser lidos no diagrama de Mollier, assim: h1 = 3023,5 kJ/kg h2 = 3002,5 kJ/kg h3 =2361,8 kJ/kg S1 = 6,7664 kJ/kg-K S2 = 6,7508 kJ/kg-K S3 = 7,2831 kJ/kg-K exemplo para interpolação linear de valores na tabela de propriedades (valor de S3 ) Da tabela de propriedades superaquecidas o S P= 1,9, e T= 250 C S P=1,9, e o o T=250 C S 6,6066 S1,9 6,5453 → → → o T = 300 C T=300 C P 1,8 1,9 2,0 S 6,8226 → S1,9 → 6,7664 → 2,0 P 1,8 1,9 interpolando S1,9 − 6,6066 6,6066 − 6,5453 S1,9 = 6,6066 + = S1,9 − 6,8226 1,9 − 1,8 1,8 − 2,0 6,8226 − 6, 7664 (1,9 − 1,8) ( 6,6066 − 6,5453) (1,8 − 2,0) S1,9 = 6,57595 S1,9 = 6,8226 + P = 1,9 Mpa 1,9 − 1,8 1,8 − 2,0 (1,9 − 1,8 ) ( 6,8226 − 6,7664 ) (1,8 − 2,0 ) S 1, 9 = 6,79450 ST=290 oC e = Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica S - pág. - 31 T 6,57595 S290 6,79450 250 (valor obtido na interpolação acima) 290 300 (valor obtido na interpolação acima) S 290 − 6,57595 290 − 250 290 − 250 = → S 290 = 6,57595 + ( 6,79450 − 6,57595) = 6,7508 6,79450 − 6,57595 300 − 290 300 − 250 S 290 = 6,7508 kJ / kg − K As propriedades do estado 4 devem ser lidas da tabela de propriedades comprimidas ou de forma aproximada, da tabela de propriedades saturadas para a temperatura dada. Assim h4 = 188,5 kJ/kg S4 = 0,6387 kJ/kg-K Procedimento para obter os resultados específicos perguntados no problema: 1 - Calor trocado na linha de vapor entre o gerador de vapor e a turbina a Aplicando-se a 1 lei por unidade de fluxo de massa temos • 1 • • Q 2 = m( h2 − h1 ) → 1 Q2 • = 1 q 2 = ( h2 − h1 ) = 3002 ,5 − 3023 ,5 = − 21,0 kJ / kg m 2 - Trabalho da turbina Aplicando-se a primeira lei à turbina para fluxo unitário, temos • • • • Q V .c + m h 2 = m h 3 + W V .c Uma turbina é essencialmente uma máquina adiabática. Por tanto é razoável desprezar o calor trocado com o meio ambiente. Assim, • 2 w3 = W V .C • = ( h 2 − h 3 ) = ( 3002 ,5 − 2361 ,8 ) = 640 ,7 kJ / kg m 3 - Calor trocado no condensador Neste caso, não há trabalho, assim, • • • • Q V .c + m h 3 = m h 4 → 3 q 4 = Q V .C • = ( h 4 − h 3 ) = ( 188 ,5 − 2361 ,8 ) m 3 q 4 = − 2 173 ,3 kJ / kg Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 32 4 - Calor trocado no gerador de vapor. Neste caso não há realização de trabalho, e a primeira lei fica • • • Q V .C + m h 5 = m h1 → 5 q1 = • Q V .C • = ( h1 − h 5 ) m Na resolução, necessitamos do valor de h5, que pode ser obtido considerando um volume de controle na bomba do sistema A primeira lei aplicada à bomba, com a hipótese de que o processo é adiabático, (Q=0 ), não há transferência de calor da bomba para o meio ou vice-versa, resulta h4 = h5 + 4w5 , portanto, h5 = h4 - 4W5 → h5 = 188,5 - (- 4,0) h5 = 192,5 kJ/kg Assim para o gerador, obtemos: 5 q1 = (3023,5 − 192,5) = 2 831 kJ / kg A solução gráfica no diagrama de Mollier fica mais rápida, como mostrado na figura abaixo Exercícios 4-7) - Um chuveiro elétrico, cuja potência elétrica é de 4400 W , aquece a água da temperatura de 20 OC até 35 OC. Determina o fluxo mássico de água que está sendo aquecido. Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 33 4-8) - Em um secador de cabelo, funcionando em regime permanente, a temperatura do ar saindo é de 83 OC, a velocidade é de 9,1 m/s e a área da saída do ar é de 18,7 cm2. O ar entra no secador à temperatura de 25 OC, pressão de 1,0 bar e com velocidade de 3,7 m/s. a) - Admitindo-se que o ar se comporta como gás ideal determinar a potência elétrica do secador. b) - Usando dados tabelados de entalpia para o ar determine a potência elétrica e comente os dois resultados comparativamente (para T=295 K → h = 295,2 kJ/kg para T = 356 K → h = 356,5 kJ/kg ) 4-9) - Na Fig. 4-9 temos um coletor solar no qual está escoando 100 kg/h de água no estado líquido. A temperatura de entrada da água no coletor é de 30 °C. Se o fluxo de radiação solar que incide no coletor for de 500 kcal/h e o rendimento térmico do coletor, η = 40% determine a temperatura da água na saída do coletor. Admita que a pressão é constante Fig. 4-9 Coletor solar e igual a 1,01325 bar. plano residencial 4-10) - Na Fig. 4-10 está esquematizado um compressor aspirando refrigerante, R-12, cujo título, X = 1.0 e a pressão é de 3,817 kgf/cm2. Admitindo-se um processo isoentrópico e sendo a pressão de descarga do compressor de 9,80 kgf/cm2 determine a potência (taxa de trabalho), que deve ser fornecida ao compressor se ele deslocar uma Fig. 4-10 - Compressor Alternativo massa de 500 kg/h de refrigerante -12. 4-11) - Na Fig. 4-11 está esquematizado um tubo de um trocador de calor de uma caldeira. Determinar o estado termodinâmico 2 quando for fornecido 1000 kcal/h de calor à água que escoa no tubo entre o ponto 1 e 2. Considere que o fluxo de água no tubo é de 100 kg/h e que está escoando à pressão constante. As propriedades termodinâmicas no estado 1 são T=100 °C e o título, X=0. Fig. 4-11 - Tubo de caldeira recebendo calor 4-12)- Uma turbina a vapor pode ser operada em condições de carga parcial através do estrangulamento do vapor que entra na turbina para uma pressão mais baixa, como mostra a Fig. 4-12, (Em um processo de estrangulamento a entalpia de saída é igual a entalpia de entrada). As condições do vapor de água na linha de alimentação são: P1 = 7,0 kgf/cm2 e 320 °C. Na saída da turbina, P3 = 0,07 kgf/cm2. Supondo que o processo na turbina seja adiabático reversível, calcular o trabalho produzido pela turbina quando em plena carga, por kg de vapor Fig. 4-12 - Turbina a vapor com controle de capacidade Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 34 passando na turbina, e a pressão para a qual o vapor deverá ser estrangulado para produzir 75% do trabalho de plena carga. 4-13) - Um tanque contém 45 kg de água na fase líquida inicialmente a 45 oC com uma entrada e uma saída com igual fluxo de massa como mostra a Fig.4-13. O fluxo mássico de água na entrada e saída é de 270 kg/h. A temperatura da água entrando no tanque é de 45 oC. Uma serpentina imersa dentro da água no tanque remove da água 7,6 kW de calor. A água é bem mistura por uma hélice de forma que podemos considerar que a temperatura da água dentro do tanque é uniforme. A potência introduzida na água pela hélice é de 0,6 kW. A pressão da água entrando e saindo pode ser considerada igual e Figura. 4-13 Tanque com água no constante. A variação de energia cinética e estado líquido mostrando os dados potencial pode ser desprezada. Mostrar que a necessários ao exercício 4-13 temperatura da água no tanque é dada por: • Q − W• he ′lice serp. 1− e− TT = T1 + • m c PH 2 O • m t MT construir o gráfico TT (temperatura da água no tanque) função do tempo • t, e • calcular a temperatura mínima da água no tanque. (sendo m = m agua , de água no tanque) MT a massa 4.10 - Coeficiente de Joule - Thomson e o Processo de Estrangulamento O coeficiente de Joule - Thomson , µJ, é definido pela relação ∂ T µJ ≡ ∂ P h = cons tan te ( 4.10-1) Análogo à definição dos calores específicos, na seção anterior, essa quantidade é definida em termos de propriedades termodinâmicas e portando ela própria é uma propriedade de uma substância. A importância dessa propriedade pode ser demonstrada considerando-se um processo de estrangulamento como o da Fig. 4.10-1. Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 35 Considerando-se um balanço de energia, em regime permanente, por unidade de massa, para o volume de controle detalhado na Fig.4.10-1., tem-se: v12 v 22 + Z 1g ) = ( h 2 + + Z 2g ) + 1w 2 1 q 2 + ( h1 + 2 2 (4.10-1) Na Eq. 4.10-1 podem ser feitas algumas simplificações: 1. Não há interação de energia, com a vizinhança, sob as formas de calor ou de trabalho: 1q2 = 0 e 1w 2 Fig.4.10-1 Substância escoando através de uma Restrição = 0; então ( h1 + v12 v2 + Z 1g ) = ( h 2 + 2 + Z 2g ) 2 2 (4.10-2) 2. Desprezando-se a diferença em relação ao nível de referência: Z1=Z2 a Eq. 4.10-2 pode ser escrita como v 22 v12 h2 + = h1 + 2 2 (4.10-3) em geral, as parcelas relativas à energia cinética, representam uma parte muito pequena da energia envolvida no processo de estrangulamento, e desta forma, a Eq. 4.10-3 toma a forma final: h1 = h2 (4.10-4) A perda de carga envolvida na passagem do escoamento pelo ponto de estrangulamento, acarreta uma queda na pressão à jusante, e desta forma P2< P1. Se o fluido for um gás, com essa redução de pressão a vazão terá seu valor aumentado (se o duto for de diâmetro constante) e a energia cinética também se elevará. Porém, esse aumento não é significativo, na maioria dos casos de interesse, face à energia envolvida no processo como um todo. Portanto, a importância do coeficiente de Joule - Thomson para os processos de escoamento, em especial o de estrangulamento, está na indicação do comportamento da temperatura durante o processo. Quando µj tem valor positivo, a temperatura sofrerá uma redução ao passar pela obstrução. Entretanto um valor negativo de µj significa que haverá uma elevação de temperatura no escoamento. Para um valor nulo do coeficiente de Joule Thomson, temos o denominado ponto de inversão. A Fig. 4.10-2 ilustra essas Fig. 4.10-2. Gráfico T x P, mostrando o Comportaobservações, onde nota-se que o lugar mento do Coef. de Joule-Thomson geométrico definido por todos os Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 36 pontos de inversão constitui a curva de inversão. Freqüentemente, um processo de estrangulamento envolve um processo de mudança de fase do fluido escoando. Um exemplo típico é o escoamento através de uma válvula de expansão no sistema de refrigeração, na expansão do vapor. Um Exemplo da Utilidade das Informações contidas no Coeficiente de Joule Thomson. Na indústria de petróleo, durante a produção de gás natural ou associado (que é o gás que vem com o óleo, quando este último está sendo extraído), devido a estes serem uma mistura de vários hidrocarbonetos e mais o vapor de água, pode vir a ocorrer um fenômeno conhecido como a formação de hidratos. Isto pode ocorrer nas unidades de separação e também diretamente no local de produção do poço ("wellhead"), provocado por uma queda na temperatura do gás. Esses hidratos são compostos sólidos que podem obstruir uma tubulação, causando prejuízos de milhares de dólares à produção e, não raro, a necessidade de troca dos equipamentos bloqueados. Como o coeficiente de Joule - Thomson reflete o comportamento do gás em relação à temperatura e pressão, pode-se inferir para uma dada mistura gasosa, se ela terá tendência a se deslocar para a região de formação de hidratos e tentar prevenir esse problema com antecedência. Dado um gás em condições iniciais de pressão e temperatura e que sofrerá um processo de expansão até um estado de pressão mais baixa, freqüentemente deseja-se inferir se a expansão causará a obstrução da tubulação ou não. Uma curva P x T de formação de hidratos pode ser colocada sobre um diagrama como o da Fig. 4.10-2 para determinar onde há a interseção com a curva de resfriamento de Joule - Thomson, para as condições iniciais do gás. O ponto onde ocorre a interseção dá a máxima expansão que o gás pode sofrer, sem riscos de formar hidratos. A seguir, estão colocados alguns valores do coeficiente de Joule - Thomson, para o ar, em função da temperatura e da Pressão (Tabela 4.10-1.) Tabela 4.10-1. O Coeficiente de Joule - Thomson para o ar, em função da Temperatura e da Pressão. Pressão (atm) T = -25oC T = 0 oC T = 25oC T = 50oC T = 75oC T = 100oC T= 150oC 1 20 60 100 0,3225 0,3020 0,2610 0,2130 0,2745 0,2580 0,2200 0,1820 0,2320 0,2173 0,1852 0,1550 0,1956 0,1830 0,1571 0,1310 0,1614 0,1508 0,1293 0,1087 0,1355 0,1258 0,1062 0,0884 0,0961 0,0883 0,0732 0,0600 Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 37 Exemplo 4.10-1 Consideremos um processo der estrangulamento através de uma válvula de expansão, ou através de um tubo capilar, num ciclo de refrigeração por compressão de vapor. Nesse processo a pressão do refrigerante cai da alta pressão no condensador para a baixa pressão no evaporador e, durante este processo, uma parte do líquido se vaporiza. Se considerarmos o processo como adiabático, o título do refrigerante ao entrar no evaporador pode ser calculado. Seja considerado o seguinte processo, no qual a amônia é o fluido refrigerante. A 2 O amônia entra na válvula de expansão à pressão de 12,617 kgf/cm e à temperatura de 32 C. 2 Sua pressão ao deixar a válvula é de 1,342 kgf/cm Calcular o título da amônia na saída da válvula de expansão. Solução Para o processo de estrangulamento de um escoamento através de uma válvula, como sabemos as hipóteses leva a primeira lei da termodinâmica a ser escrita como: he = hs Das tabelas de saturação para a amônia a 32 OC ou diagrama de propriedades, hs=he ≅ hls= 136,18 kcal/kg. Para a pressão de 1,342 kgf/cm2 as condições de saturação são T= -28 OC, e hls = 69,56 kcal/kg e hvs = 392,95 kcal/kg Da relação entre título e uma propriedade na região de vapor úmido, X2 = h 2 − h ls → h vs − h ls X2 = 136,18 − 69,56 66,62 = 392,95 − 69,56 323,39 = 0,206 ou 20,6 % Exemplo 4.10-2 Em um sistema de refrigeração, onde o fluido de trabalho é o refrigerante, R-134a, este o o entra no compressor a 144,54 kPa e -10 C e sai com 1 000 kPa e 90 C. A vazão de refrigerante no sistema é de 0,013 kg/s, e a potência consumida pelo compressor é de 1,2 kW. O refrigerante após sair do compressor entra em um condensador, resfriado com água, com o o aproximadamente 1000 kPa e 80 C e sai como líquido a 964,14 kPa e 34 C. A água entra no o o condensador em contra corrente com o refrigerante, a 28 C e sai com 33 C . Determinar: 1 - A taxa de calor transferido para o meio pelo compressor. 2 - A vazão de água de resfriamento através do condensador. Hipótese: Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 38 1 - O sistema de refrigeração opera em regime permanente, (figura ao lado) 2 - A variação de energia cinética e potencial em cada equipamento do sistema é desprezível 3 - As propriedades do sistema são as do refrigerante 134a - no estado indicado - tabelas e diagrama 4 -Os volumes de controle são os indicados na figura, Volume de controle 1 e volume de controle 2 Análise: Primeira lei da termodinâmica para cada um dos equipamentos sob análise 1 - considerando o compressor, o volume de controle 1, sendo regime permanente e ∆(EC)=∆(EP) = 0, das tabelas ou diagrama para o R-134a, obtemos h2 = 473,1 kJ/kg , h1 = 395,0 kJ/kg • a • • • A 1 lei, resulta: Q v.c + m h1 = m h 2 + W v.c substituindo os valores, temos, • Q comp = 0,013 ( 4731 , − 395,0) + ( −1,2) = − 0,185 kW 2- considerando o condensador como volume de controle 2, para regime permanente e ∆(EC)=∆(EP) = 0, admitindo-se processo adiabático (Qv.c = 0), o das tabelas ou diagrama para o R -134a, obtemos, para P=1000 kPa e T=80 C, h2'= 462,7 kJ/kg. O estado 3 é de líquido comprimido. O valor de h3 pode ser lido de uma tabela de líquido comprimido, ou do diagrama de propriedades, ou ainda, de forma aproxio mada, da tabela de propriedades saturadas para a temperatura de 34 C, h3 = 247,7 kJ/kg a aplicando-se a 1 lei para este volume de controle, ela se reduz, com as hipóteses a; • • Σ m e he = Σ ms hs onde o somatório considera todos os fluxos entrando e saído do volume de controle, que neste caso é a água e o refrigerante R-134a.. • Assim, • • • m agua h e , agua + m R134 a h e , R134 a = m agua h s, agua + m R134 a h s, R134 a Uma hipótese bastante interessante, mas não obrigatória, é adotar o modelo de escoamento o incompressível para a água. Um valor adequado para o calor específico é, Cp = 4,184 kJ/kg C. A água entra no estado líquido e sai no estado líquido. Separando os termos, temos • m agua • m R134 a ( h 2 ' = h 3 ) R134 a = C agua ( Ts − Te ) agua = 0,013 ( 462,7 − 247,7) 4,184( 33,0 − 28,0) = 0,134 kg / s = 481 kg / h Este problema pode, também, ser resolvido considerando-se dois volumes de controle separados, um dos quais tem o fluxo do refrigerante R-134a através de sua superfície de controle , enquanto o outro tem o fluxo de água. O calor de um dos volumes de controle é transferido ao outro volume de controle. Como sabemos o calor é transferido do corpo de maior temperatura para o de menor temperatura. Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 39 Neste caso, o volume de controle de maior temperatura é, sem dúvida, o volume de controle onde escoa o refrigerante R - 134a. Assim o calor deste volume de controle será negativo enquanto o volume de controle onde ocorre o fluxo de água receberá o calor que é positivo. A figura ao lado mostra o esquema para esta solução. a Aplicando-se a 1 lei para o volume de controle do R-134a temos • • • Q V .C + m R −134 a h e = m R −134 h s ou • • (Q V .C ) R −1234a = m R 134a ( h s − h e ) R 134a = 0,013 ( 247,7 − 462,7) • (Q V.C ) R −134a = − 2,795 kJ a Aplicando-se, agora, a 1 lei para o volume de controle da água, temos • • • Q V.C + m agua h e = m agua h s • m agua , separando as variáveis e explicitando incompressível, obtemos • • m agua = (Q V .C ) Agua ( h s − h e ) agua com o modelo de escoamento • = (Q V .c ) Agua C agua ( Ts − Te ) = 2,795 = 0,134 kg / s 4,184(33 − 28) 4.11 - Processo em Regime Uniforme Na seção 4.9 consideramos o processo em regime permanente e vários exemplos de sua aplicação. Muitos processos de interesse em engenharia envolvem o escoamento transitório, que não se enquadram naquela categoria. Um certo grupo desses processos transitórios — por exemplo, o enchimento de tanques fechados com um gás ou líquido, ou a descarga de tanques fechados — podem ser razoavelmente representados por um outro modelo simplificado, chamado de processo em regime uniforme. As hipótese básicas desse processo são: 1- O volume de controle permanece fixo em relação ao sistema de coordenadas. 2- O estado da massa interna ao volume de controle pode variar com o tempo, porém em qualquer instante o estado é uniforme em todo o volume de controle (ou sobre várias regiões identificáveis que compõem o volume de controle total.) 3 - O estado da massa que atravessa cada uma das áreas de fluxo na superfície de controle é constante com o tempo, embora as vazões possam variar com o tempo. Examinemos as conseqüências dessas hipótese e deduzamos uma expressão para a primeira lei que se aplique a esse processo. A hipótese que o volume de controle permanece estacionário já foi discutida na seção 5.9 as demais hipóteses levam às seguintes simplificações da conservação de massa e da primeira lei. Todo o processo ocorre durante o tempo, t. Em qualquer instante, durante o processo, a equação da continuidade é: Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 40 • • d m V .C = Σ ms − Σ m e dt Integrando-se essa expressão em relação ao tempo t obtém-se a variação de massa no volume de controle durante todo o processo dm V.C dt = ( m 2 − m 1 ) v.c 0 dt ∫ t A massa total que deixa o volume de controle durante o tempo, t é: • Σ m ∫0 s dt = Σm s t e a massa total que entra no volume de controle durante o tempo, t é • Σ m ∫0 e dt = Σm e t Portanto para esse período de tempo , t podemos escrever a equação da continuidade para o processo em regime uniforme como ( m2 - m1)v.c + Σ ms - Σ me = 0 (4.11-1) Como em qualquer instante o estado no interior do volume de controle é uniforme, a primeira lei torna-se: • ∑Q V .C • • • d V2 V2 v2 + ∑ m e h e + e + gZ e = + gZ + ∑ m s h s + s + gZ s + ∑ W V.C m u + 2 2 2 V.C dt cuja integração em relação ao tempo t, resulta ∫ t 0 • ΣQ V .C dt = Σ Q V .C. • v 2e v 2e m h + + gZ d t = m h + + gZ e ∑ ∑ e e e e e ∫0 2 2 t • v 2s v 2s m h gZ d t m h gZ + + = + s s s ∑ s s 2 ∫0 ∑ e 2 t • ∫ ∑W t 0 V .C dt = ∑ WV .C (4.11-2) Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica ∫ t 0 v2 d m u + + gZ 2 dt - pág. - 41 = V .C v 22 v12 = m 2 u2 + + gZ 2 − m1 u1 + + gZ1 2 2 V .C resultando, então: v 2e Q + m h + ∑ V.C ∑ e e 2 + gZ e = v 22 v 12 m u gZ m u + + − + + gZ 1 + 2 2 2 1 1 2 2 V .C. v s2 m h + ∑ s s 2 + gZ s + ∑W V .C (4.11-3) Passando a ser esta a equação para o caso onde o modelo de escoamento uniforme seja aplicável Exemplo 4.11-1 Vapor d'água à pressão de 1,4 MPa e 300 OC escoa em um tubo , conforme mostra a figura. Um tanque em vácuo está ligado a este tubo através de uma válvula. Abre-se a válvula e o vapor enche o tanque até que a pressão seja de 1,4 MPa, quando então a válvula é fechada. O processo é adiabático e as variações de energia cinética e potencial são desprezíveis. Determinar a temperatura final do vapor no tanque. Volume de controle : Tanque como mostrado na figura Estado inicial do tanque : em vácuo → massa m1 = 0 Estado final: conhecido P2 Estado de entrada: conhecidos Pe e Te Processo de enchimento : hipótese — processo uniforme Modelo para as propriedades do sistema - Tabelas ou diagrama Análise: Primeira lei da termodinâmica ∑Q V .C - Solução v2 + ∑ m e h e + e + gZ e = 2 v 22 v 12 + gZ 2 − m 1 u 1 + + gZ 1 + m 2 u 2 + 2 2 V .C. ∑m v s2 h + + gZ s + s s 2 ∑W V .C Do problema: não há trabalho, Wv.c = 0, O processo de enchimento do tanque pode ser admitido adiabático, então Qv.c = 0 , tanque inicialmente em vácuo, (m1 = 0)v.c, sem dúvida, Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 42 ms= 0. Como foi admitido que as variações de energia cinética e potencial são desprezível a a equação da 1 lei resulta: mehe = m2u2 pela equação da conservação de massa, (m2 - m1)v.c + Σ ms - Σ me = 0 , → m2 = me Assim combinando a equação da continuidade com a primeira lei, resulta: he = u2 Isto é, a energia interna no tanque após o processo é igual à entalpia de entrada do vapor no tanque. o Do diagrama de Mollier para P= 14 bar e T= 300 c superaquecido. O correspondente valor da entalpia é vemos que o vapor está he = 3 040,4 kJ/kg, logo, u2 = 3040,4 kJ/kg O A temperatura correspondente, obtida por interpolação é, T= 452 C Como temos duas propriedades, P, e U então o estado está determinado, a temperatura não seria necessária para determinar o estado da substância dentro do volume de controle Se este problema tivesse envolvido uma substância para a qual a energia interna não consta das tabelas termodinâmicas, seria necessário calcular alguns poucos valores para u para se poder fazer a interpolação de forma a conseguirmos determinar a temperatura final. Exemplo 4.11-2 3 Admitamos que o tanque do exemplo anterior tenha um volume de 0,4 m e contenha inicialmente vapor saturado seco 350 KPa. Abre-se a válvula e o vapor de água na linha , a 1,4 O MPa e 300 C escoa para o tanque até que a pressão atinja 1,4 MPa. Calcular a massa de vapor d'água que escoa para o tanque. Volume de controle: Tanque como mostra a figura do exemplo anterior Estado inicial: P1, vapor estado conhecido Estado de entrada : Conhecido, Pe Te Processo: Modelo de regime uniforme Análise: A mesma do exemplo anterior, com exceção do fato que o tanque não está a inicialmente em vácuo. Assim a 1 lei para este problema é mehe = m2u2 - m1u1 m2 - m1 = me a equação da continuidade se reduz a a Portanto combinando a equação da continuidade com a equação da 1 lei, temos (m2 - m1)he = m2u2 -m1u2 → m2(he - u2) = m1(he - u1) (a) há duas incógnitas nessa equação m2 e u2, entretanto temos uma equação adicional que é V= m.ν ν2 = 0,4 m3 (b) assim, substituindo a eq." b " na eq. "a" e rearranjando, temos Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica V ν2 - pág. - 43 ( h e − u 2 ) − m 1 ( h1 − u1 ) = 0 (c) na qual as únicas incógnitas são ν2 e u2 , ambas função de P2 e T2. Como T2 é desconhecido isto significa que existe um único valor de T2 para a qual a equação "c" será satisfeita; devemos obter esse valor através do método de tentativa e erro Solução 3 v1 = 0,5243 m /kg, he = 3040,4 kJ/kg m1 = (0,4 / 0,5243) = 0,763 kg u1 = 2548,9 kJ/kg a Admitamos para 1 tentativa que T2= 342 OC O para esta temperatura, T2= 342 C e para a pressão P2=1,4 MPa, temos 3 v2=0,1974 m /kg u2 = 2855,8 kJ/kg Substituindo na equação " c " 0,4 (3040,4 − 2855,8 ) − 0,763( 3040,4 − 2548,9 ) = − 0,9517 ≅ 0 0,1974 O e concluímos que a temperatura admitida para T2 = 342 C está correta. A massa final do tanque é: m2 = (0,4 / 0,1974) = 2,026 kg e a massa de vapor de água que escoa para o tanque é me = m2 - m1 = 2,026 - 0,763 = 1,2673 kg Exemplo 4.11-3 3 O Um tanque de volume 1,4 m contém amônia à temperatura de 36 C. Inicialmente o tanque contem 50 % de líquido e 50% de vapor em volume. Vapor é retirado através do topo do tanque até que a temperatura no interior do tanque seja O de 15 C. Admitindo-se que somente vapor (ou seja nenhum líquido) saia e que o processo é adiabático, Estimar a massa de amônia que foi retirada. Volume de controle: Tanque como mostrado na figura Estado inicial: T1, Vliq, Vvap - estado conhecido Estado de saída: Vapor saturado seco (temperatura variando) Modelo: tabelas e diagramas de amônia Análise: Com as hipótese acima Qv.c = 0, Wv.c =0 e me= 0 e que ∆EC = ∆EP = (∆ ∆EC) v.c e (∆ ∆EP) v.c = 0. Entretanto, a entalpia do vapor saturado de amônia varia com a temperatura , que varia durante o processo. Assim não poderemos utilizar o modelo de processo uniforme para este volume de controle. No entanto, como a variação no valor de entalpia em todo o processo é pequena, podemos adotar a hipótese de um valor médio e constante para o processo. (isto resulta em uma solução aproximada). Assim hv 36 o C= 1 708,34 kJ/kg (408,03 kcal/kg), hv 15 o C = 1695,19 kJ/kg (404,89 kcal/kg). hs,médio = (1708,34 + 1695,19)/2 = 1 701,77 kJ/kg a Assim a equação da 1 lei da termodinâmica para este processo uniforme reduz-se a mshs,médio + m2u2 - m1u1 = 0 Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica e a equação da continuidade, fica: - pág. - 44 (m2-m1)+ms = 0 combinando as duas equações temos, (m1 - m2)hs, média + m2u2 - m1u1 = 0 0u m2(hs,médio- u2) = m1hsmédio - m1u1 (1 ) Solução: A seguir os valores obtidos da tabela de amônia 3 3 Vls1 = 0,0017068 m /kg hls1 = 140,44 kcal/kg (589,67 kJ/kg) Vvs1 = 0,0931 m /kg hvs1 = 408,03 kcal/kg (1708,34 kJ/kg ) 3 3 Vls 2= 0,0016193 m /kg hls2 = 116,73 kcal/kg ( 488,73 kJ/kg) Vvs2 = 0,1748 m /kg hvs2 = 404,89 kcal/kg (1 695,19 kJ/kg) 2 ( 2 P1 = 14,165 kgf/cm 1389,6 kPa) P2 = 7,427 kgf/cm ( 728,6 kPa ) Calculo dos valores de energia interna, uma vez que não temos os valores tabelados uls1 = hls1 - (P1v1)ls → uls1 = 589,67 - (1389,6 x 0,0017068) = 589,67 - 2,37 = 587,30 kJ/kg uvs1 = hvs1 - (P1v1)vs → uvs1 = 1708,34 - (1389,6 x 0,0931) = 1708,34 - 129,37 = 1578,97 kJ/kg uls2 = hls2 - (P2v2))ls→ uls2 = 488,73 - ( 728,6 x 0,0016193) = 488,73 - 1,18 = 487,55 kJ/kg uvs2 = hvs2- (P2v2)vs → uvs2 = 1695,19 - (728,6x 0,1748) = 1695,19 - 127,37 = 1567,83 kJ/kg Cálculo das massa iniciais de líquido e vapor no tanque: ml1 = (Vl1 / vls1) = 0,7 / 0,0017068 = 410,12 kg mv1 = (Vv1/vvs1) = 0,7/ 0,0931 = 7,52 kg m1 = ml1 + mv1 = 410,12+7,52 = 417,64 kg Assim o valor do produto m1 hsmédio = 417,64 x 1701,77 = 710 727,22 kJ m1u1= ml1 x ul1 + mv1 x uv1= (410,12 x 587,30)+(7,52 x 1578,97) = 240 863,48 + 11 873,85 → m1u1 = 252 737,33 a substituindo estes valores na 1 lei da termodinâmica, eq. (1 ) m2(hsmédio - u2) = m1hsmédio - m1u1 (1 ) m2(hsmédio - u2) = 710 727,22 - 252 737,33 = 457 989,89 kJ Existem duas incógnitas nesta equação m2 e u2 entretanto temos ainda a equação do volume, isto é, V 1, 4 , (2 ) m = = 2 ν2 ν2 entretanto o volume específico no estado 2 pode ser determinado através do título , isto é ν 2 = ν 2 ls + X 2 ( ν 2 vs − ν 2 ls ) → ν 2 = 0,0016193 + X 2 ( 0,1748 − 0,0016193) substituindo na equação para (2 ), para m2 temos m2 = 1,4 0,0016193 + X 2 ( 0,17318) Capítulo - 4 - Fundamentos da Termodinâmica - pág. - 45 substituindo na equação (1), para u2 obtemos u2 = 1 172,04 - 56 653,35 X2 (3 ) mas u2 é função do título, como sabemos assim, → u2 = uls2 + X2( uvs2 - uls2) u2 = 487,55 + 1080,28 X2 substituindo o valor de u função de X2 na equação (3 ), obtemos: 487,55 + 1 080,28 X2 = 1 172,04 - 56 653,54 X2 X2 = 684 , 49 = 0 , 011856 ou 57733,82 portanto X 2 = 1186 , % 3 v2 = 0,0016193 + 0,011856 x 0,17318 = 0,0036725 m /kg logo m2 = 1,4 / 0,0036725 = 381,21 kg assim a massa ms que saiu será, pela continuidade ms = m1 - m2 → ms = 417,64 - 381,21 → ms = 36,43 kg Exercícios 4-14) - Ar a 500 kPa e 20 oC escoa por uma tubulação. A linha é ligada através de uma válvula a um recipiente em vácuo. A válvula é então aberta e o ar escoa para o recipiente até que a pressão interna atinja 500 kPa. a) Se o processo ocorre adiabaticamente, qual é a temperatura final do ar no interior do recipiente? b) Desenvolver uma expressão para a relação entre a temperatura na linha e a temperatura final do recipiente 4-15)- Um tanque isolado de 2 m3, que contém amônia a -20 oC e título de 80% é ligado , através de uma válvula, a uma linha onde escoa amônia a 2 MPa e 60 oC. A válvula é aberta, permitindo à amônia escoar para o tanque. Determinar a pressão final interna na qual a válvula deve ser fechada para que se tenha 15 kg de amônia no tanque no estado final. 4-16)- Um tanque que tem um volume de 5 m3 contém vapor d'água saturado à pressão de 200 kPa. Ligado a esse tanque existe uma linha onde o vapor d 'água escoa a 800 kPa e 300 oC. A válvula é aberta e o vapor escoa para o tanque até que a pressão interna atinja 800 KPa, quando então a válvula é fechada. Sabendo-se que não há troca de calor entre o tanque e o meio durante o processo, determinar a massa de vapor que entra no tanque.