Comparação da força da musculatura respiratória em pacientes acometidos
por acidente vascular encefálico (AVE) com os esperados para a idade e
sexo
Camila Viana Benzoni1, Paulo Eduardo Gomes Ferreira2
1
Discente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Barão de Mauá;
Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Barão de Mauá.
2
[email protected]
1 INTRODUÇÃO
O acidente vascular encefálico (AVE), também denominado acidente vascular
cerebral (AVC), é definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um sinal clínico
de rápido desenvolvimento de perturbação focal da função cerebral e com mais de 24 horas de
duração (ZAMBERLAN; KERPPERS, 2010). Essa perturbação é em função da diminuição
ou interrupção do fornecimento sanguíneo que pode provocar lesões ou morte celular, além de
danos nas funções neurológicas (ABN, 2013).
Quando o fluxo sanguíneo é bloqueado, seja por um êmbolo ou ateroma, denominase AVE isquêmico e, caso o vaso se rompa, é chamado AVE hemorrágico (GUYTON;
HALL, 2002).
Dentre as manifestações clínicas presentes, estão a hemiplegia ou hemiparesia, que
são sinais clássicos de doenças cerebrovasculares provocadas por infarto dos tecidos, devido à
isquemia ou hemorragia nos hemisférios ou tronco cerebral. Essas manifestações físicas
atingem o lado do corpo contralateral à lesão cerebral e logo o controle voluntário apresentase ineficiente (MEYER et al., 1994).
Pavan et al. (2010) citam que a fraqueza muscular e a falta de propriocepção
impedem que o paciente descarregue o peso corporal no lado acometido. Nesse estudo foi
apresentado que 100% da amostra não descarregavam o peso adequadamente, levando a uma
posição de assimetria postural. Sabe-se que a capacidade respiratória ideal necessita de uma
postura de equilíbrio muscular perfeito (CURY; PINHEIRO; BRUNETTO, 2009).
Os indivíduos com sequelas de lesões neurológicas estão predispostos ao
aparecimento de complicações secundárias, tais como pneumonia, formação de coágulos que
podem provocar embolia pulmonar e infecções do trato respiratório (CANCELA, 2008).
Sendo assim, o presente estudo teve como meta selecionar indivíduos pós AVE em
tratamento na Clínica de Fisioterapia do Centro Universitário Barão de Mauá, em Ribeirão
Preto-SP, com o intuito de analisar a força muscular respiratória desses pacientes e comparar
com os esperados para idade e sexo descritos na literatura.
2 OBJETIVOS
Determinar a força da musculatura respiratória em indivíduos acometidos por AVE,
determinando assim, o déficit de força da musculatura respiratória em comparação com o
esperado.
3 MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado na Clínica Escola de Fisioterapia do Centro Universitário Barão
de Mauá, localizada em Ribeirão Preto-SP, durante o segundo semestre de 2013 e primeiro
semestre de 2014.
O recrutamento foi realizado por abordagem direta aos indivíduos que realizavam
tratamento fisioterapêutico na Clínica Escola de Fisioterapia do Centro Universitário Barão de
Mauá, de ambos os sexos, independente da raça, com idade mínima de 40 anos e com o
diagnóstico clínico de AVE.
Nesta consulta, o voluntário foi plenamente orientado quanto ao propósito do estudo,
as possíveis complicações decorrentes de sua participação, bem como os possíveis benefícios.
Após esse esclarecimento, caso aceitasse participar do estudo, foi solicitado que assinasse o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Foram considerados critérios de exclusão os seguintes fatores:
a) Incapacidade física e/ou intelectual que impossibilitasse a avaliação adequada;
b) Arritmias ventriculares complexas descontroladas;
c) Hipertensão arterial descontrolada (acima de 140/90 mmHg);
d) Infarto do miocárdio nos últimos três meses antes do estudo ou durante o estudo;
e) Acidente vascular cerebral nos últimos três meses antes do estudo.
O estudo seria prontamente interrompido caso os investigadores ou o próprio paciente
suspeitassem ou concluíssem que o programa estivesse causando prejuízo físico ou
psicológico.
Todos os voluntários foram submetidos a uma anamnese seguida da realização da
manovacuometria.
3.1 Anamnese
Foram colhidas informações sobre os dados pessoais, índice de massa corporal
(IMC), patologias associadas, antecedentes pessoais, tempo do AVE, condição de atividade
física, tratamentos realizados para as sequelas do AVE e há quanto tempo os realiza.
3.2 Manovacuometria
Foram determinadas a pressão inspiratória máxima (PIMáx) e a pressão expiratória
máxima (PEMáx) a partir do volume residual (VR) e capacidade pulmonar total (CPT),
respectivamente, pois os músculos geram maior força à medida que seu comprimento
aumenta (MEYER et al., 1994; DIRETRIZES PARA TESTES DE FUNÇÃO PULMONAR,
2002). Para essas medidas, foi utilizado o manovacuômetro modelo MV-150/300 (Ger-Ar
Comércio Equipamentos Ltda. São Paulo, SP, Brasil). Após orientação ao voluntário de como
proceder para obtenção dessas pressões, foram realizadas duas medidas como treinamento.
Após 20 minutos de descanso, foram realizadas três aferições consecutivas, com intervalo de
no mínimo 1 minuto entre elas, sendo levada em consideração a média dessas 3 aferições.
Foram descartadas as medidas que forneceram valores com diferença maior que 10% em
relação às demais, e o procedimento repetido para obtenção de menos 3 medidas consideradas
adequadas (DIRETRIZES PARA TESTES DE FUNÇÃO PULMONAR, 2002).
4 RESULTADOS
Durante o período de coleta de dados foram avaliados sete voluntários com
diagnóstico de AVE que se adequavam aos critérios de inclusão e exclusão, quatro do sexo
masculino e três do feminino. Um maior número de indivíduos com idade e patologia
compatíveis aos critérios foram avaliados, mas não selecionados devido à necessidade de
apresentarem condições de compreensão e capacidade de impedir o vazamento de ar pela
boca durante a avaliação.
Para a análise estatística foi utilizado o teste t de Student para cálculo comparativo
entre o encontrado e o esperado (significância p<0,05).
4.1 Dados antropométricos
A Tabela 1 mostra os dados antropométricos dos voluntários participantes da
pesquisa.
Tabela 1 - Dados antropométricos expressos como média e porcentagem.
GRUPOS
Masculino
n=4
Feminino
n=3
57%
61,75
43%
53
Sexo
Idade (anos)
A Tabela 2 demonstra os valores de força esperada, conforme o sexo e a idade, e os
encontrados durante a avaliação.
Tabela 2 - Valores de força de PIMáx e de PEMáx, esperados e médias
encontradas, e os valores de p (significância p<0,05).
PIMáx
PEMáx
Esperado
Encontrado
P
96,80 + 4,78
97,80 + 5,80
59,28 + 10,02
60,26 + 12,03
0,01
0,01
PIMáx: Pressão inspiratória máxima; PEMáx: pressão expiratória máxima.
5 DISCUSSÃO
Esse estudo mostra que a avaliação da musculatura respiratória é segura e impôs
pouco risco à segurança dos voluntários.
A julgar pela diferença encontrada nos valores de força da musculatura respiratória
entre o grupo pesquisado e o esperado conforme o sexo e a idade, a pesquisa se torna
relevante a respeito da possibilidade de criação de um trabalho preventivo de complicações
respiratórias nos pacientes acometidos por AVE.
Meneghetti et al. (2011) realizaram um estudo com 22 indivíduos acometidos por
AVE, de ambos os gêneros, com idade entre 30 e 87 anos. Os indivíduos realizaram avaliação
da força dos músculos respiratórios com a utilização do manovacuômetro. Assim como em
nosso trabalho, os autores encontraram valores de força dos músculos respiratórios nos
indivíduos acometidos por AVE menores quando comparados aos valores preditos descritos
na literatura brasileira.
Semelhantemente, Meneguzzi (2006) avaliou a PIMáx e PEMáx de um grupo de
pacientes disfágicos pós AVE que apresentavam aspiração traqueal e outro grupo que não
tinham aspiração traqueal. Notou-se que 90% dos pacientes do primeiro grupo evidenciaram
uma força muscular respiratória diminuída, enquanto que 78% dos pacientes do segundo
grupo apresentaram força da musculatura respiratória normal.
6 CONCLUSÃO
Indivíduos acometidos por AVE apresentam diminuição significativa dos valores de
força da musculatura respiratória, tanto da PIMáx como da PEMáx.
Palavras-chave: acidente vascular cerebral, fisioterapia, músculos respiratórios, avaliação de
resultados (cuidados de saúde).
REFERÊNCIAS
ABN. Academia Brasileira de Neurologia. Brasil sem AVC. São Paulo, SP, 2013. Disponível
em: <http://www.brasilsemavc.com.br/o-que-e-avc>. Acesso em: 07 set. 2013.
CANCELA, D. M. G. O. Acidente vascular cerebral: classificação, principais consequências e
reabilitação. Porto, 2008. 118 f. [Dissertação] Universidade Lusíada do Porto, Portugal, 2008.
Disponível em: <http://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0095.pdf>. Acesso em: 10 nov.
2014.
CURY, J. L.; PINHEIRO, A. R.; BRUNETTO, A. F. Modificações da dinâmica respiratória
em indivíduos com hemiparesia pós-acidente vascular encefálico. ASSOBRAFIR Ciência, v.
inaugural, p. 55-68, dez. 2009.
DIRETRIZES PARA TESTES DE FUNÇÃO PULMONAR. Pressões respiratórias estáticas
máximas. J Bras Pneumol, Brasília, v. 28, supl. 3, p. 155-165, out. 2002.
GUYTON, A. C; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 11. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2002, p. 762.
MENEGUETTI, C. H. Z. et al. Avaliação da força muscular respiratória em indivíduos
acometidos por acidente vascular cerebral. Rev Neurocienc, v. 19, n. 1, p. 56-60, 2011.
MENEGUZZI, D. Avaliação da força muscular respiratória em pacientes disfágicos pós
Acidente Vascular Cerebral. Curitiba, 2006. 60 f. [Dissertação] Universidade Tuiuti do
Paraná, Curitiba, 2006. Disponível em:
<http://tede.utp.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=77 e 78>. Acesso em: 10 nov. 2013.
MEYER, E. C. et al. Monitorização respiratória. In: KNOBEL, E. Condutas no paciente
grave. São Paulo: Atheneu, 1994. p. 289-311.
PAVAN, K. et al. Efeito da órtese anti-rotacional de tronco em pacientes hemiplégicos:
estudo preliminar. Med Reabil, São Paulo, v. 29, n. 1, p 14-18, fev. 2010.
ZAMBERLAN, A. L.; KERPPERS, I. I. Mobilização neural como um recurso
fisioterapêutico na reabilitação de pacientes com acidente vascular encefálico: revisão.
Revista Salus. Paraná, v. 1, n. 2, p. 185-191, jul./dez. 2010.
Download

Comparação da força da musculatura respiratória em pacientes