JORNAL DA associação médica Página 4 • Outubro/Novembro 2010 ESPECIALIDADE ica Atualização científ O Jornal da AMMG publica sugestões de artigos médicos avaliados pelo Conselho Científico da entidade. Nesta edição, o presidente da Sociedade Brasileira de Videocirurgia – Capítulo Minas Gerais, Henrique Eloy Bueno Câmara, comenta trabalho sobre cirurgia metabólica e diabetes tipo 2. De Paula AL et al. Prospective randomized controlled trial comparing 2 versions of laparoscopic ileal interposition associated with sleeve gastrectomy for patients with type 2 diabetes with BMI 21-34 kg/m2. Surg Obes Relat Dis, v.6 n.3 p.296-304, 2010. O diabetes mellitus tornou-se um dos maiores problemas de saúde em todo mundo por causa de sua crescente prevalência. Estima-se que 333 milhões de indivíduos estarão acometidos em 2.025. Evidências científicas irrefutáveis demonstram que as operações bariátricas mostram-se eficazes no controle a longo prazo da obesidade, assim como do diabetes mellitus tipo 2 (DMT2). Pensou-se que o principal responsável pelo controle glicêmico era o emagrecimento, mas constatou-se que a glicemia retorna ao normal já nos primeiros dias do pós-operatório. Então, será que as operações bariátricas tais como realizamos hoje de forma rotineira, inclusive por videolaparoscopia, podem ser modificadas com vistas ao tratamento de pacientes não-obesos portadores de DMT2? Estudos postulam que a chegada de nutrientes pouco digeridos ao íleo possa estimular a secreção de hormônios (incretinas) capazes de desencadear a proliferação das células beta-pancreáticas e a secreção de insulina, dentre outros efeitos anti-diabetogênicos. Além disso, a exclusão do duodeno do trânsito alimentar parece reduzir a secreção de hormônios anti-incretínicos. Neste sentido, este estudo publicado por De Paula e cols. avaliou os resultados de duas versões de interposição laparoscópica de segmento de íleo na porção proximal do intestino delgado (jejuno) associada a gastrectomia longitudinal (sleeve). Foram avaliados, prospectivamente, dois grupos de pacientes diabéticos, com IMC variando entre 21 e 34 kg/m2: no grupo 1 (n=18), realizou-se apenas gastrectomia longitudinal e interposição ileal; no grupo 2 (n=20), a exclusão do duodeno foi adicionada ao procedimento. Os pacientes foram acompanhados por dois ou mais anos após a intervenção. Todos apresentaram importante redução dos níveis de hemoglobina glicosilada (A1c): grupo 1 (A1c média = 6,35%) e grupo 2 (A1c média = 5,39%). Os resultados obtidos por este e outros estudos são bastante animadores, mas ainda incipientes. Somente o seguimento a longo prazo de mais estudos, com maiores casuísticas, poderá responder, definitivamente, se e quando poderemos iniciar o tratamento cirúrgico de nossos pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2 e com IMC abaixo de 34. 4 O trabalho mencionado acima pode ser encontrado no Centro de Documentação Científica da AMMG. Acesse www.cdc.inf.br ou informe-se pelo telefone (31) 3247 1633. Associação Mineira de Psiquiatria completa 40 anos Reprodução Em novembro, a Associação Mineira de Psiquiatria (AMP), departamento científico da AMMG, comemora 40 anos de sua fundação. As celebrações já começaram com o lançamento do livro “O Melhor d’ O Risco”, no final de outubro, durante o Congresso Brasileiro de Psiquiatria, em Fortaleza. A publicação, que terá novo lançamento em Belo Horizonte no dia 3 de dezembro, reúne artigos que remontam o percurso da psiquiatria e da AMP ao longo desses anos. De acordo com a presidente da AMP, Sandra Carvalhais, a história da entidade sempre foi pautada no diálogo com organismos de classe, gestores públicos, institutos de formação e de assistência, ciências e demais especialidades médicas, cultura e sociedade de forma ampla. “Por esses e outros motivos não poderíamos deixar de registrar e celebrar os avanços técnicos da nossa especialidade”, pondera a psiquiatra. Apesar de todo o avanço, Carvalhais chama a atenção que ainda há muito o que fazer. Em 2010, a médica aponta duas importantes situações que interferiram fortemente na evolução da psiquiatria no Brasil e, em particular, em Minas Gerais: o avanço no conhecimento das doenças mentais e o desenvolvimento da psicofarmacologia e das políticas públicas na assistência ao paciente psiquiátrico. A consequência positiva desses avanços, segundo ela, foi a possibilidade de mudança de paradigma na assistência: de um modelo asilar, em que o hospital era o ponto central do tratamento, para um modelo em que o tratamento ambulatorial é privilegiado, com a inserção dos serviços na cidade e a diminuição da segregação do paciente. “Essa rede de atendimento não hospitalar está em desenvolvimento e ainda não comporta toda a necessidade da população, mas a mudança veio para ficar e precisa ser aprimorada”, comemora a especialista. Website no ar Em sintonia com a evolução da medicina e dos canais de comunicação, a AMP também investiu na criação de um portal: www.ampmg.org.br. Para Sandra Carvalhais, a mídia eletrônica permite maior agilidade e pode atingir um grande número de pessoas. “A criação desse site é muito importante para divulgar o alcance da nossa especialidade e também para informar sobre o nosso trabalho, abordando temas de interesse geral e que ajudam a desmistificar e diminuir o estigma que ainda hoje acompanha a psiquiatria, o psiquiatra e o portador de transtornos mentais”, explica a médica. Na página principal, o internauta tem a oportunidade de conhecer um pouco sobre a história da psiquiatria em Minas, eventos que acontecem na área e artigos que podem esclarecer dúvidas sobre diversas doenças psiquiátricas e outros assuntos relevantes. Psiquiatras, médicos de outras especialidades e profissionais da área de saúde encontrarão informações sobre eventos, resenhas de livros, acesso ao jornal “O Risco”, órgão informativo da Associação Mineira de Psiquiatria. Além desses conteúdos, associados terão uma área restrita, com prestação de serviço. Medicina Paliativa será área de atuação Em reunião realizada no dia 23 de setembro, no Conselho Federal de Medicina (CFM), a Comissão Mista de Especialidades (CME) emitiu parecer favorável à criação da área de atuação em Medicina Paliativa. A área tem interface com as especialidades médicas de Clínica Médica, Cancerologia, Geriatria e Gerontologia, Medicina de Família e Comunidade e Pediatria. Após a aprovação, o assunto foi encaminhado para a Comissão Nacional de Re- sidência Médica (CNRM) para a autorização da sua criação. De acordo com o secretário-geral da Associação Médica Brasileira e representante da entidade dentro da CME, Aldemir Soares, a formação em Medicina Paliativa será de um ano, mas em 2011 ainda não será possível oferecer essa opção aos médicos interessados, devido a todos os trâmites que o processo ainda tem que percorrer. A intenção é que, em 2012, a nova residência já seja uma realidade.