XVII Encontro de Modelagem Computacional V Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Petrópolis/RJ, Brasil. 15-17 out. 2014 EQUILÍBRIO LÍQUIDO-VAPOR NO SISTEMA CICLOHEXANO + N-HEPTANO EM PRESSÕES SUBATMOSFÉRICAS: ASPECTOS EXPERIMENTAIS E FERRAMENTAS NUMÉRICO-COMPUTACIONAIS Jorge Morvan Marotte Luz Filho – [email protected] Anna Bárbara Coré Pinto – [email protected] Domenio de Souza Faria – [email protected] Dayana Lacerda Custódio – [email protected] Gustavo Mendes Platt – [email protected] Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto Politécnico, 28630-050 – Nova Friburgo, RJ, Brasil Resumo. O presente trabalho tem por objetivo o estudo do equilíbrio líquido-vapor em baixas pressões para o sistema binário ciclohexano + n-heptano. Foram obtidos dados experimentais de equilíbrio líquido-vapor em um ebuliômetro para diversas composições da mistura binária. A massa de dados experimentais foi utilizada para a estimação de parâmetros de interação binária do modelo de Wilson, para a mistura em questão, empregando-se um método de otimização estocástico e um algoritmo determinístico. A determinação de tais parâmetros é útil para a geração de lugares de coexistência líquidovapor para a mistura e, em última análise, para o projeto e/ou simulação de processos de separação. Palavras-chave: Equilíbrio líquido-vapor; evolução diferencial; estimação de parâmetros. 1. INTRODUÇÃO O ciclohexano e o n-heptano são compostos orgânicos pertencente ao grupo dos hidrocarbonetos e apresentam diversas aplicações industriais. O ciclohexano constitui material de partida na obtenção de ciclohexanona, ciclohexanol, caprolactama, entre outros. Sua síntese é feita principalmente a partir da hidrogenação catalítica do benzeno, sendo a separação entre o produto e o benzeno não reagido um processo inevitável (Garcia Villaluenga, & Tabe-Mohammadi, 2000, Wang et al., 2008a). Entretanto, neste caso a destilação convencional é inviável devido a proximidade dos pontos de ebulição (Zhou et al., 2012, Lu et al., 2010, Wang et al., 2008b). O n-heptano é empregado em vários estudos, como cinéticas químicas de n-alcanos de cadeia longa, os quais estão presentes em frações significantes de combustíveis comerciais de composição complexa como a gasolina, o querosene e o diesel (Karwat et al., 2013). Em muitas situações, a purificação de misturas dessas substâncias torna-se um procedimento inviável, tanto por características semelhantes como pontos de ebulição XVII Encontro de Modelagem Computacional V Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Petrópolis/RJ, Brasil. 15-17 out. 2014 próximos, quanto por questões práticas como o alto custo de processos de destilação industrial. Sendo assim, a estimação de parâmetros de interação binária e o estudo do comportamento das fases líquida e vapor dessas misturas torna-se uma importante ferramenta para a otimização dos processos de purificação dessas substâncias (Wisniak & Tamir, 1976, Gau et al., 2000, Rodrigues et al., 2005). Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo a estimação de parâmetros do modelo de coeficientes de atividade para o par de hidrocarbonetos ciclohexano e n-heptano, envolvendo a geração de massa de dados experimentais e o desenvolvimento de ferramentas numéricas para a estimação de parâmetros. Jan et al. (1994) estudaram o equilíbrio líquido-vapor para os sistemas binários formados por n-hexano, ciclohexano e n-heptano a 101.3 kPa. O trabalho de Jan et al. (1994) difere do presente trabalho pelos seguintes pontos: (i) as pressões são distintas: enquanto a pressão é fixada em 101.3 kPa no trabalho de Jan et al. (1994), no presente trabalho a pressão foi de 92 kPa; (ii) Jan et al. (1994) avaliaram as composições das fases em equilíbrio por técnica cromatográfica, enquanto no presente estudo foi construída uma curva de calibração densidade versus fração molar. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Metodologia Experimental Obtenção da curva de calibração Inicialmente foi obtida a curva de calibração, necessária à identificação da composição das fases líquida e vapor obtidas no ebuliômetro. Para tanto, foram utilizadas misturas de ciclohexo e n-heptano com variações de zero a 100% (em quantidades molares) das substâncias. As soluções foram preparadas com volume total de 10 mL, sendo desta retirada uma alíquota de 1 mL para a pesagem em balança analítica, obtendo-se assim a densidade. Para cada solução de ciclohexano e n-heptano foram retiradas três alíquotas de 1mL, sendo os pontos da curva de calibração obtidos em triplicata. Os dados de densidade e fração molar obtidos foram analisados em Origin Pro 8 para a obtenção da curva de calibração. Obtenção dos dados de equilíbrio líquido-vapor para o ciclohexano e n-heptano Os dados de equilíbrio líquido-vapor, em condição isobárica, foram obtidos para o ciclohexano e o n-heptano em ebuliômetro Labodest® VLE 602, produzido pela Fischer Engineering®. Foram empregadas misturas dos solventes ciclohexano e n-heptano de concentrações variadas, sob pressão atmosférica local (cerca de 92 kPa, com altitude de 800 m, na cidade de Nova Friburgo), com recirculação das fases líquida e vapor. O aquecimento foi ajustado para o gotejamento da fase vapor (condensada) de uma gota por segundo e o equilíbrio foi normalmente atingido após 40 minutos (verificado pela estabilização da temperatura no equipamento). Nos experimentos foram obtidas as fases líquida e de vapor (condensado) de cada mistura, com dados de temperaturas das fases líquida e temperaturas da fase de vapor. Alíquotas de 1mL de ambas as fases líquida e vapor foram pesadas, em triplicata, para a obtenção das densidades de ambas. As temperaturas de vapor e as frações molares das fases líquida e de vapor foram utilizadas para a obtenção do diagrama de fases do par ciclohexano e n-heptano. XVII Encontro de Modelagem Computacional V Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Petrópolis/RJ, Brasil. 15-17 out. 2014 2.2 Modelagem Termodinâmica e Metodologia Numérica Nesta subseção serão descritos a obtenção de função-objetivo (a ser minimizada para obtenção dos parâmetros de interação binária entre as substâncias, a partir da definição de um modelo de coeficiente de atividade) e uma metodologia numérica para o processo de minimização. Inicialmente, serão apresentados os modelos termodinâmicos empregados no estudo (que, em última análise, serão empregados na função-objetivo). Cálculo do Coeficiente de Atividade Experimental Uma vez obtidos os dados experimentais citados, seguiu-se a parte numérica, começando pela geração dos coeficientes de atividade experimentais. Tendo em vista as baixas pressões nas quais os experimentos foram conduzidos, uma abordagem via Lei de Raoult modificada parece ser adequada. Neste caso, a fração molar da fase vapor, para um componente i, em equilíbrio com a fase líquida é dada por: yi xi i Pi sat , P (1) onde: xi = fração molar do componente i na fase líquida. yi = fração molar do componente i na fase vapor. i = coeficiente de atividade do componente i; fisicamente representa a razão entre as fugacidades real e ideal, expressando o comportamento não-ideal da fase líquida. P = pressão absoluta medida no experimento (reportada em mPa no ebuliômetro). Pi sat = pressão de saturação do componente i puro, expressa em milímetros de mercúrio. A pressão de saturação de componentes puros foi avaliada via equação de Antoine: Bi . (2) ln Pi sat Ai T Ci Nesta equação, Ai , Bi e Ci são as constantes de Antoine para o componente i, com a temperatura T em graus Celsius. O Modelo de Wilson e a determinação da Função-Objetivo O modelo de Wilson (1964) tem sido popularmente empregado em cálculos de equilíbrio líquido-vapor, face a sua simplicidade e acurácia (superior, em alguns casos, a modelos mais complexos, como o NRTL). A expressão para energia livre de Gibbs em excesso para uma mistura binária pode ser expressa pela seguinte equação, segundo o modelo de Wilson (1964): GE x1 ln x1 x2 12 x2 ln x2 x1 21 . RT (3) XVII Encontro de Modelagem Computacional V Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Petrópolis/RJ, Brasil. 15-17 out. 2014 A partir da Eq. (3), podem ser obtidos os correspondentes coeficientes de atividade dos componentes 1 e 2 (Wilson, 1964): 21 12 ln 1 ln x1 x2 12 x2 , x1 x2 12 x2 x1 21 (4) 21 12 ln 2 ln x2 x1 21 x1 . x1 x2 12 x2 x1 21 (5) Nestas três últimas expressões, o parâmetro ij é calculado por: ij Vj Aij exp Vi RT , (6) onde Vi é o volume molar da substância i, R é a constante universal dos gases e T representa a temperatura em escala absoluta. Os parâmetros Aij são os chamados parâmetros de interação binária – a serem estimados – para uma mistura binária, A12 e A21 . Assim, mediante uma massa de dados oriundos da fase experimental deste projeto, há então a tarefa de otimização pela minimização da seguinte função-objetivo: 2 exp ijcalc FO A12 , A21 ij exp , ij j 1 i 1 np nc (7) onde np é o número de pontos experimentais, nc é o número de componentes do sistema (aqui, nc 2 ). Os subscritos exp e calc referem-se aos coeficientes de atividade experimental (determinados a partir da Lei de Raoult modificada) e calculado [gerados pelo modelo de Wilson, segundo as Eqs. (4) e (5)], respectivamente. Estudo de técnicas de otimização – O Algoritmo de Evolução Diferencial Foram feitos estudos para minimização da função-objetivo, sendo aplicado um método estocástico de otimização conhecido como Evolução Diferencial (Storn & Price, 1995). Este método consiste em um algoritmo relativamente simples e eficiente, com características evolutivas e que consiste resumidamente dos seguintes passos: Criação de uma população candidata: levantamento de uma população de pares de candidatos dentro de um intervalo real. Os pontos gerados são, então: X i ,G ,i 1, , pop . (8) Aqui, X i ,G representa o vetor i (elemento da população), de uma geração G. O tamanho da população é representado por pop. Mutação: Criação de uma população mutante ( Vi ,G 1 ) através da diferença de dois indivíduos ( X R 3 ,G e X R 2 ,G ), um indivíduo base ( X R1,G ), sendo os três da geração atual e escolhidos de XVII Encontro de Modelagem Computacional V Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Petrópolis/RJ, Brasil. 15-17 out. 2014 forma aleatória, e um fator de perturbação (F), onde os índices R1 , R 2 e R3 são índices aleatórios. O vetor mutante é calculado por: Vi ,G 1 X R1,G F X R 2 ,G X R 3,G . (9) Cruzamento: é a criação de uma população de teste a partir do cruzamento dos pares de dados de indivíduos da população corrente com os indivíduos da população mutante. O parâmetro C, da expressão a seguir, é chamado constante de crossover, e está no intervalo 0,1 . rnbr( i ) é um índice aleatoriamente escolhido entre as dimensões do problema (no caso, 2). Então, cada elemento do vetor-tentativa ui ,G 1 é dado por: V ji ,G 1 , se rand 0,1 C ou j rnbr( i ) . u ji ,G 1 X , se rand 0 , 1 C e j rnbr(i) ji ,G (10) Na expressão anterior, j refere-se ao elemento do vetor. Seleção: Consiste em testar se o vetor-tentativa produz um menor valor de função-objetivo do que o ponto corrente. Portanto, para a próxima geração, G+1, tem-se: ui ,G 1 , se FO ui ,G 1 FO X i ,G . X i ,G 1 X i ,G , caso contrário (11) A criação de novas populações se estende até que um critério de parada venha ser alcançado. No presente trabalho foi empregado a versão conhecida como DE/rand/1 (para detalhes, ver Storn & Price, 1995). 3. RESULTADOS 3.1 Resultados Experimentais A curva de calibração foi obtida para o par ciclohexano – n-heptano e ajustada por um modelo polinomial, com R = 0,997 (coeficiente de correlação). A equação obtida foi empregada na identificação das fases líquida e de vapor obtidas nos experimentos conduzidos no ebuliômetro. A Figura 1 apresenta a curva de calibração de fração molar versus densidade (a rigor, massa específica) obtida para o ciclohexano e o n-heptano. Assim, a partir de um valor de densidade (para a fase líquida ou vapor condensada), a fração molar de cada componente pode ser obtida por este polinômio. Tal procedimento evita o uso de técnicas cromatográficas para a identificação dos componentes presentes nas fases. XVII Encontro de Modelagem Computacional V Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Petrópolis/RJ, Brasil. 15-17 out. 2014 Figura 1 – Curva de calibração densidade versus fração molar para a mistura binária ciclohexano + n-heptano. Os experimentos realizados no ebuliômetro geraram uma série de dados, em condição isobárica, de temperaturas de vapor para as fases líquida e de vapor obtidas. As fases líquida e de vapor tiveram suas densidades medidas de forma similar à realizada para a obtenção da curva de calibração. Os dados das densidades das fases líquida e de vapor foram então substituídos na curva de calibração, sendo assim obtidas frações molares das fases líquida e de vapor nas diferentes temperaturas de equilíbrio (Tabela 1). Tabela 1: Valores de temperaturas de equilíbrio ( T ), fração molar da fase líquida ( x1 ) e fração molar da fase de vapor ( y1 ) obtidos nos experimentos realizados no ebuliômetro, sob P 920 mbar. T( K ) x1 y1 368,40 366,33 364,02 363,65 362,75 360,94 359,58 357,53 356,41 354,70 353,13 352,16 0,0564 0,1051 0,2884 0,2856 0,3505 0,4611 0,4835 0,5928 0,6355 0,7008 0,7966 0,8746 0,0643 0,1857 0,3958 0,4166 0,4798 0,5598 0,6344 0,7196 0,7117 0,7859 0,8447 0,9072 Com os dados experimentais apresentados na Tabela 1 foi construído o diagrama de fases para o par ciclohexano e n-heptano, conforme a Figura 2. As temperaturas de saturação dos XVII Encontro de Modelagem Computacional V Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Petrópolis/RJ, Brasil. 15-17 out. 2014 componentes puros estão de acordo com resultados disponíveis na literatura, para a pressão de 92 kPa. Este conjunto de dados experimentais foi então utilizado para o processo de estimação de parâmetros. Figura 2 – Diagrama de fases isobárico para mistura o sistema ciclohexano + n-heptano. Pontos em vermelho: curva de pontos de bolha. Pontos em azul: curva de pontos de orvalho. É importante ressaltar que esses dados só são válidos para a pressão em que o experimento foi realizado, nesse caso, aproximadamente 920 mbar. Os resultados experimentais foram empregados nos estudos de modelagem, apresentados na seção seguinte. 3.2 Resultados Numéricos A última etapa do trabalho consistiu da aplicação do método de Evolução Diferencial na minimização da função-objetivo descrita pela Eq. (7), de maneira a encontrar-se o conjunto de parâmetros de interação binária ( A12 e A21 ) que minimizam os desvios entre os resultados experimentais e aqueles preditos pelo modelo de Wilson. A Figura 3 ilustra as curvas de nível da função-objetivo neste problema. Nota-se, claramente, a existência de um “vale”, onde se encontra o ótimo global. Tal característica de função-objetivo leva, usualmente, à existência de diversos ótimos locais, tais como reportado no trabalho de Gau et al. (2000). Portanto, o uso de métodos estocásticos de otimização é justificável nestes casos. Os resultados obtidos pela aplicação do algoritmo de Evolução Diferencial ao problema foram A12 298, 28 cal/mol e A21 861,97 cal/mol. XVII Encontro de Modelagem Computacional V Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Petrópolis/RJ, Brasil. 15-17 out. 2014 Figura 3 – Curvas de nível da função-objetivo. 4. CONCLUSÕES Neste trabalho foram descritos aspectos experimentais e numérico-computacionais para o processo de estimação de parâmetros de interação binária (para modelos de coeficiente de atividade) a partir de dados experimentais produzidos em um ebuliômetro, para a mistura binária ciclohexano + n-heptano. Os resultados indicam uma função-objetivo com a presença de um “vale”, apontando para a possibilidade de múltiplos ótimos. O algoritmo de Evolução Diferencial foi capaz de identificar o ótimo do problema, compatível com as curvas de nível da função-objetivo. Agradecimentos Os autores agradecem à Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), ao Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e ao Programa PIBIC/UERJ. REFERÊNCIAS Jan, D.-S., Shiau, H.-Y. & Tsai, F.-N., 1994. Vapor-liquid equilibria of n-hexane + cyclohexane + n-heptane and the three constituent binary systems at 101.0 kPa. J. Chem. Eng. 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VAPOR-LIQUID EQUILIBRIUM IN THE SYSTEM CYCLOHEXANE + NHEPTANE AT SUBATMOSPHERIC PRESSURES: EXPERIMENTAL ASPECTS AND NUMERICAL-COMPUTATIONAL TOOLS Abstract: The present work aimed to study the vapor-liquid equilibrium at low pressures for the binary system formed by cyclohexane + n-heptane. Experimental data of vapor-liquid equilibrium were obtained in an ebulliometer for several compositions of this binary mixture. The set of experimental data was employed for the estimation of binary interaction parameters of the Wilson model, using a stochastic optimization algorithm. The determination of such parameters is useful for the description of the vapor-liquid coexistence loci for the mixture and, in a last instance, for the design and/or simulation of separation processes. Keywords: Vapor Liquid Equilibrium; Differential Evolution and Parameter Estimation.