OPINIÃO ]OSÉ ELLIS RIPPER FILHO Da academia para a empresa Uma proposta para tornar pesquisadores empresários ciativa e conhecimentos; a universidade, em troca raças ao apoio à pesquisa acadêmica, no qual a FAPESP se destaca, vem crescendo a da remuneração do pesquisador durante a licença participação brasileira na produção cientíe eventuais usos de laboratórios; a FAPESP, em troca do financiamento da transformação dos cofica. A produção tecnológica nem de longe tem acompanhado esse progresso; poucas empresas banhecimentos básicos em produtos, e, em alguns seiam seus negócios em tecnologias desenvolvidas casos, capitalistas de riscos. Um dos critérios para localmente. Enquanto governos de países do a renovação seria a demonstração da viabilidade da empresa. Após o período máximo, o pesquisador Primeiro Mundo concentram a maior parte de seus teria de optar em se demitir da universidade ou se recursos na contratação de desenvolvimentos em afastar da administração da empresa. empresas, visando ao seu desenvolAlém dos benefícios óbvios vimento tecnológico, no Brasil se para a sociedade como um todo, a espera que o mercado resolva tudo sozinho. Também é incipiente a universidade ganharia muito com passagem de conhecimentos do o programa. Ao interagir com a em"Deveria haver meio acadêmico para o empresarial. presa, inclusive participando do uma licença O sucesso da Embraer é a exceconselho de administração, outros especial para ção que confirma a regra; sua tecdocentes passariam a ter mais conhepesquisadores nologia original foi contratada pelo cimento da vida empresarial, traque desejem governo e teve apoio de uma instizendo para dentro da universidamontar empresas tuição pública de ensino e pesquisa de conhecimentos que ajudarão sua a partir dos praticamente criada com esse fim . missão de formação de recursos resultados de suas Em relação à contratação de desenhumanos. Será natural a participapesquisas, volvimentos em empresas, a FAPESP, ção de alunos em estágios, colabocom seu Programa de Inovação ·rando na sua formação. Essas vantaTecnológica em Pequenas Empregens superam em muito o risco da sas, deu o primeiro passo. O que poperda de talentos pela universidaderia fazer em relação à transferênde. Aliás, esse risco não é relevante. cia de conhecimentos acadêmicos Mesmo que o programa seja extrepara a empresa? Um dos mecanismos mais eficienmamente bem-sucedido, poucos pesquisadores estes, o próprio pesquisador "empresariar" essa transtarão de fato envolvidos: a maioria das pesquisas da ferência, ocorre raramente no Brasil. Falta de capiuniversidade não é apropriada para gerar empretal de risco é um fato r, mas talvez o maior inibidor sas; poucos pesquisadores têm vocação empresarial seja a diferença dos regimes de aposentadoria púe estarão dispostos a correr os riscos, e, finalmente, blico e privado, que aumenta o risco pessoal. essa licença só deve ser concedida nos casos onde No Estado de São Paulo o problema poderia houver interesse também da parte da universidade. ser resolvido se houvesse uma colaboração entre a Finalmente, não se deve desprezar o fato de FAPESP e as universidades (e/ou institutos de pesque o programa poderá se tornar um bom negóquisas) . Estas deveriam criar a possibilidade de uma cio. Se ele existisse quando a AsGa foi criada, a licença especial para pesquisadores que desejem Unicamp estaria auferindo bons lucros. montar empresas a partir dos resultados de suas pesquisas. Essa licença deveria ser por um período inicial de um ano, renovável no máximo por duas ]OSÉ E LLIS RIPPER FILHO, ex-professor do Instituto de vezes. A empresa teria como acionistas o próprio Física da Unicamp, é diretor presidente da AsGa pesquisador, que participaria com seu trabalho, iniMicroeletrônica. G PESQUISA FAPESP • OUTUBRO DE 1000 • 7