esquisa e Extensã Pesquisa e Extensão Revista de Atividades de Pesquisa e Extensão da Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros - FACIT Volume II Coletânea de Artigos Selecionados da Comunidade Acadêmica da FACIT Copyright©2012, Fundação Educacional Montes Claros/FACIT PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Ariovaldo de Melo Filho DIRETORA SUPERINTENDENTE Ângela Maria de Carvalho Veloso DIRETOR ADMINSTRATIVO E FINANCEIRO Jackson Prates Oliveira DIRETORA ACADÊMICA Daniela Fernandes Jorge de Mello COORDENADOR ADMINISTRATIVO Haroldo de Moraes Lopes COORDENADORES DE PESQUISA Renato Dourado Maia Gilzeane dos Santos Sant'Ana Prazeres Luiz Fernando Oliveira Maia COORDENADORA DE EXTENSÃO Janne Ribeiro Timóteo COORDENADOR DE MATERIAIS E PATRIMÔNIO Jair Barbosa Silva SECRETÁRIA ACADÊMICA Mariuza Soares Santos COORDENADORES DOS CURSOS DE ENGENHARIA Profª. Ms. Gisele Figueiredo Braz Prof. Ms. Leonardo Santos Amaral Prof. Ms. Maurílio José Inácio Prof. Murilo Pereira Lopes Prof. Ms. Paulo Fernando Rodrigues Matrangolo Prof. Ms. Renato Dourado Maia PEDAGOGAS Maria de Lourdes Soares Maria Tereza Avelino Silva REVISORA DE TEXTO Marília Pimenta Peres REVISOR TÉCNICO Reinilson Nogueira CAPA Júnia Rebello Gráfica Uni-Set Ltda. IMPRESSÃO Gráfica Uni-Set Ltda. Revista Pesquisa & Extensão / FACIT - Vol. 2, Nº 1, Montes Claros: FACIT, 2012. Este documento pode ser reproduzido, no todo ou em partes, desde que seja citada a fonte. APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO O lançamento da segunda edição da Revista Pesquisa e Extensão, da Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros – FACIT -, vem abrilhantar as comemorações dos 10 anos da FACIT, ratificando a importância do processo de construção conjunta do conhecimento entre discentes e docentes para o crescimento, o amadurecimento e a consolidação de uma instituição de ensino superior. A Revista é um espaço para a publicação dos resultados de projetos desenvolvidos na FACIT, propiciando a alunos e professores a oportunidade de apresentarem seus trabalhos, e cumprindo o seu papel de incentivo e divulgação da produção científica. Através dos artigos apresentados nesta edição, constata-se a relevância das atividades de pesquisa e extensão, como pilares fortes da FACIT, que potencializam o processo de aprendizagem e oportunizam a inovação, contribuindo para o desenvolvimento de profissionais diferenciados. Destacamos nesse processo a importância do apoio da FAPEMIG, através da concessão de bolsas para o Programa de Iniciação Científica - PIC, o que tem contribuído para o crescimento da FACIT, incentivando a formação de novos grupos de pesquisa nas áreas das Engenharias de Computação, Controle e Automação, Química, de Produção e de Telecomunicações. Ao longo de seus 10 anos de existência, a FACIT realizou investimentos e estabeleceu parcerias para estruturar a tríade ensino, pesquisa e extensão, que hoje encontra-se consolidada. Este fato pode ser constatado nesta Revista, que está cada vez mais se firmando como um espaço de debate e reflexão, onde temas oriundos de várias áreas do conhecimento se complementam e enriquecem aos que tem a oportunidade de conhecê-la. Parabenizamos a todos os pesquisadores discentes e docentes autores dos artigos contidos neste número, e a equipe responsável pelo desenvolvimento desta relevante Revista. Desejamos a todos uma proveitosa leitura. Ariovaldo de Melo Filho Presidente do Conselho Administrativo Técnico Pedagógico da FACIT Presidente do Conselho de Administração da FEMC SUMÁRIO EDITORIAL Mensagem da Coordenação de Pesquisa..............................................................................................................................05 Renato Dourado Maia, Gilzeane dos Santos Sant'Ana Prazeres e Luiz Fernando Oliveira Maia ARTIGOS ORIGINAIS HEINRICH HERTZ E A REPRESENTAÇÃO DA MECÂNICA..................................................................................07 Eduardo Simões. COLÔNIAS DE ABELHAS COMO MODELO PARA DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS COMPUTACIONAIS.......................................................................................................................................................11 Renato Dourado Maia, Camila Tejada Berloffa e Dávila Patrícia Ferreira Cruz. UTILIZAÇÃO DA BIOMASSA NO DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS...........................................17 Sandra Matias Damasceno, Kamilla Alves Carvalho, Christina Thâmara Soares Oliveira, Ludmilla Louise Cerqueira Maia Prates, Izabela Aparecida Luiz Ribeiro e Maria Fernanda Silveira Sales. APLICAÇÃO DE RADIOFREQUÊNCIA EM DOMÓTICA.......................................................................................21 Leonardo Santos Amaral, Albert Michael Macedo Santos, Gabriel Figueiredo Freire Cardoso, Gabriel Santos Almeida e Thalis Antunes de Souza. TRANSPORTADOR PNEUMÁTICO: ESTUDO DOS FATORES QUE INTERFEREM NO SEU DESEMPENHO DURANTE O PROCESSOR DE MOAGEM NA FABRICAÇÃO DE CIMENTO.....................................................25 Gisele Figueiredo Braz e Leonard César Ferreira Santos. UTILIZAÇÃO DE INTELIGÊNCIA COMPUTACIONAL EM SISTEMAS EMBARCADOS: UM ESTUDO DE CASO................................................................................................................................................................................31 Maurílio José Inácio, Lucas Starick Lisboa e Thalis Antunes de Souza. PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA PLANTA DIDÁTICA PARA ENSINO DE ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DE NÍVEL, VAZÃO E TEMPERATURA EM CURSOS DE ENGENHARIA.....................................35 Rodrigo Baleeiro Silva. SISTEMA EMBARCADO BASEADO EM HARDWARE LIVRE COM UTILIZAÇÃO DE COMPUTAÇÃO NAS NUVENS APLICADO NO MONITORAMENTO DE AMBIENTES..........................................................................39 Maurílio José Inácio, João Carneiro Netto, Heveraldo Rodrigues de Oliveira, Renato Dourado Maia, Thalis Antunes de Souza, Felipe Túlio de Castro e Davidson Geraldo de Sousa Maria. DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE DE GERENCIAMENTO E CONTROLE DE VOLUME DE ÁGUA EM RESIDÊNCIAS................................................................................................................................................................45 Antônio Fábio Andrade Santos, Renato Dourado Maia, Marcos Vinícius Oliveira Lopes, Marla Núbia Santos Magalhães e Lucas Souza de Queiroz ARTIGOS DE REVISÃO HARDWARE EVOLUTIVO – APLICAÇÕES EM PROBLEMAS DE ENGENHARIA...........................................49 João Carneiro Netto e Carlos Valério Soares Brito ASSUNTOS GERAIS COMPUTAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: DESENVOLVIMENTO DE UM JOGO DIGITAL EM DEFESA DO MEIO AMBIENTE...........................................................................................................................................................53 Fellipe Gomes Versiani EXTENSÃO A PARTICIPAÇÃO DA FACIT NO PROJETO UNIVERSITÁRIO CIDADÃO.........................................................59 Luiz Fernando Oliveira Maia, Paulo Fernando Rodrigues Matrangolo, Laércio Rocha Franco e Ludmilla Louise Cerqueira Maia Prates EDITORIAL MENSAGEM DA COORDENAÇÃO DE PESQUISA A pesquisa científica tem por objetivo contribuir com a evolução dos saberes humanos em todos os setores, sendo sistematicamente planejada e executada de acordo com rigorosos critérios de processamento das informações. Dessa forma, a pesquisa compreende algumas das atividades desenvolvidas durante a vida acadêmica, as quais requerem do aluno-pesquisador habilidades necessárias ao pleno desenvolvimento de suas funções, tais como planejamento, conhecimento e adequação às normas científicas. É dentro dessa perspectiva que a inserção dos alunos de graduação da FACIT em projetos de pesquisa se torna um instrumento valioso para aprimorar qualidades desejadas em um profissional de nível superior, bem como para estimular e iniciar a formação daqueles mais vocacionados para a pesquisa. Nos dias atuais a globalização, o mercado cada vez mais competitivo e as novas tecnologias estão exigindo do profissional não apenas o conhecimento teórico, mas também e, especialmente, uma prática baseada na reprodução e produção de conhecimentos que deve ser acompanhada de uma análise crítica, reflexiva e criativa para que os profissionais formados possam ingressar na sociedade de maneira competente e atuante. Nesse sentido, o envolvimento dos estudantes da FACIT em projetos de pesquisa contribui para a sua formação profissional, auxiliando-os no desenvolvimento pessoal e no aprimoramento de sua capacidade de exercer com competência atividades referentes à sua profissão. Além disso, oportuniza ao aluno o contato com diferentes áreas do conhecimento, contribuindo para a formação integral, elemento essencial para o mercado de trabalho. Nesse contexto, objetivando a divulgação acadêmico-científica das produções da comunidade acadêmica, a Coordenação de Pesquisa da FACIT apresenta o segundo volume da revista Pesquisa & Extensão. Este segundo número é composto de 12 artigos de projetos desenvolvidos nas áreas das Engenharias de Computação, Controle e Automação, Química, de Produção e de Telecomunicações. As atividades de Pesquisa como o Programa de Iniciação Científica, o Seminário de Iniciação Científica, a Semana da Engenharia, o Workshop de Ciência, Cultura e Tecnologia, o Seminário da Interdisciplinaridade do Cálculo e as atividades de Extensão são prioridades nos trabalhos divulgados nesta Revista. Os artigos foram selecionados por meio de edital e passaram por uma etapa de avaliação. A Coordenação de Pesquisa parabeniza aos acadêmicos e professores pelo empenho e dedicação na formulação desses artigos que vão, além de abrir caminhos para docentes e discentes na busca de soluções inovadoras para os mais diversos problemas da humanidade, contribuir para o crescimento da FACIT como instituição de ensino superior que prepara profissionais cientificamente competentes e dotados de autonomia profissional. É importante destacar a relevância da divulgação científica, que têm múltiplos objetivos, dentre os quais merece destaque o incentivo à prática da Pesquisa e à participação nas atividades de Extensão oferecidas pela FACIT, visto que esses elementos são indispensáveis para a consolidação de um processo de ensino de qualidade. Ademais, por meio desse trabalho de divulgação, espera-se que outros acadêmicos e professores sintam-se instigados a se envolverem em atividades científicas e participarem da construção do conhecimento e do aumento da produção científica brasileira. Por fim, a equipe de profissionais da Coordenação de Pesquisa deseja a todos uma curiosa e agradável leitura dos artigos presentes nesta revista Renato Dourado Maia, Gilzeane dos Santos Sant’Ana Prazeres Luiz Fernando Oliveira Maia Coordenação de Pesquisa Editores da Pesquisa &Extensão 5 6 ARTIGO REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 HEINRICH HERTZ E A REPRESENTAÇÃO DA MECÂNICA Eduardo Simões Doutor em Filosofia, Professor da Faculdade de Ciência e Tecnologia - FACIT Resumo: O objetivo do presente artigo assenta-se na exposição da representação da mecânica proposta por H. Hertz. Em sua época, duas eram as representações da mecânica disponíveis: a mecânica clássica (newtoniana) e a mecânica energetista. Hertz verificará que essas imagens, apesar de oferecerem avanços na aplicação prática, eram providas de conceitos, segundo ele, supérfluos e vazios que, no limite, não apontariam para nada que se pudesse encontrar na natureza. Sendo assim, ele propõe sua própria imagem, da qual irá suprimir os conceitos em questão e em seu lugar apresentará uma representação fundamentada em sistemas com vínculos, regida por uma lei fundamental. O que ele consegue fazer é apresentar uma proposta original que figurará uma das mais interessantes filosofias da ciência do século XIX. Palavras-chave: Hertz, Física, Mecânica, Representação. as 'impressões' de Hume ou as 'sensações' de Mach), simplesmente acontecem” (JANIK; TOULMIN, 1991, p. 156). É da confusão na tradução desses dois termos que muitos problemas interpretativos surgem. 1. Introdução Publicado postumamente, Os Princípios da Mecânica: apresentados em uma nova forma de 1894 ocupou os três últimos anos da vida de Hertz. Sobre a estrutura e finalidade dessa obra, sua leitura parece apontar para a realidade da representação no interior das teorias científicas: sua forma, conteúdo e finalidade. 2. Representações da Mecânica e os critérios hertzianos de avaliação das mesmas O termo “representação” havia ganhado bastante destaque entre os cientistas-filósofos alemães no século XIX – é o caso de G. Kirchhoff, H. Helmholtz, E. Mach, L. Boltzmann – e teria entrado em circulação através das filosofias de Kant e Schopenhauer. Na época de Hertz havia duas representações da mecânica em voga: uma era derivada da mecânica newtoniana, que tinha no conceito de força um dos seus elementos fundamentais; a outra, baseada no princípio da conservação da energia, que partia dos mesmos fundamentos da primeira, com exceção do conceito de força, substituído pelo de energia. Na primeira representação, o conceito newtoniano de força era por Hertz considerado problemático e servia como uma espécie de engrenagem extra da descrição mecânica (tal conceito era ao mesmo tempo confuso e supérfluo). No caso da segunda representação, era o conceito de energia que se apresentava problemático – “surgem aqui problemas com o significado de energia: como distinguir, no caso geral, os dois tipos (cinética e potencial) e onde 'situar' a energia potencial (...)” (MOREIRA, 1995, p. 34). Certo é que Hertz procurará fazer a mais ambiciosa unificação da descrição mecânica da natureza. E por que isso? A mecânica até então desenvolvida não serviria mais à tarefa para a qual se dispunha? O próprio Hertz explica seus motivos: Segundo Janik e Toulmin (1991, p. 147-156), dois termos na língua alemã equivalem à palavra “representação”, com significados completamente diferentes, unindo duas noções encadeadas, que não se distinguiam claramente na época de Hertz e que, até hoje, são confundidas e trocadas uma pela outra: uma com sentido usualmente ligado ao “sensorial” ou “perceptivo” e a outra mais “público” ou “linguístico”. A primeira (sensorial) estava ligada à palavra alemã Vorstellung; e a segunda (pública), à palavra Darstellung. A primeira pode ser relacionada com a óptica fisiológica de Helmholtz ou com a psicologia de Mach e equivale ao termo lockiano “ideia” – termo utilizado pelos filósofos britânicos, equivalendo a “sensações”. Vorstellung “é a palavra corretamente empregada pelos alemães para denotar um quadro mental de um dado sensorial” (JANIK; TOULMIN, 1991, p. 156). Já Darstellung (termo utilizado na mecânica de Hertz) não quer significar uma representação como reprodução de impressões sensoriais. Mais do que isso, equivale a “esquemas cognitivos”, “fórmulas”, “modelos” – esquemas conscientemente construídos para o conhecimento: “nesse modo de representação, os homens não são meros espectadores passivos a quem as 'representações' (como Eu não me dediquei a esta tarefa porque a mecânica vem mostrando sinais de inadequação em suas aplicações, nem porque ela, de alguma forma, conflita com a experiência, mas, somente, como forma de me livrar do sentimento opressivo de que seus elementos não estariam livres de coisas obscuras e ininteligíveis. Não tenho procurado a única imagem da mecânica, nem ainda a melhor imagem, eu só tenho procurado encontrar uma imagem inteligível e mostrar por um exemplo que isso é possível e que se deve procurar como (HERTZ, 1956, p. 33 – grifos nossos). 7 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 Hertz não estava insatisfeito com o êxito da mecânica em suas aplicações; para ele mostravam-se problemáticos seus conceitos e proposições fundamentais. Tanto que não repudia as mecânicas concorrentes. Desse modo, eram os conceitos de força e energia, ponto fulcral da mecânica de seu tempo, “obscuros” e “ininteligíveis” e precisavam ser revistos. 3. A Representação Hertziana da Mecânica Segundo Videira (1995), o século em que viveram Helmholtz, Boltzmann e Hertz testemunhou o nascimento de um novo ramo de especialização da física, denominado física teórica – que se utiliza de modelos matemáticos e conceitos físicos, juntamente com técnicas de dedução como a lógica e a análise crítica, com o objetivo de prever fenômenos físicos e explicá-los de modo racional. “Essa especialização acarretou a impossibilidade, salvo honrosas exceções, como a dos três cientistas, de uma pessoa ser ao mesmo tempo, físico teórico e físico experimental” (VIDEIRA, 1995, p. 1213). Seu surgimento granjeou-lhes grande relevância, garantindo-lhes cadeiras nas maiores universidades do mundo. Como não era gratuita a insatisfação de Hertz e como pretendia demonstrar onde se encontravam os equívocos relacionados aos conceitos supracitados das mecânicas precedentes, em seu Os Princípios da Mecânica ele formula três critérios que o condicionarão a avaliar criticamente qualquer teoria científica, a saber, permissibilidade (Zulässigkeit) lógica, correção (Richtigkeit) e adequação (Zwegmässigkeit) (HERTZ, 1956, p. 2). E o que tem Os Princípios da Mecânica com física teórica? Trata-se de uma terceira via, alternativa às duas vias precedentes, denominada “mecânica de Hertz”, cuja representação teórica procura dar uma explicação racional aos fenômenos mecânicos, aperfeiçoando e corrigindo teorias precedentes e traduzindo-as para uma linguagem matemática mais apropriada. Alguém poderia, todavia, indagar: mas, na física teórica, a teoria formulada não é alimentada pelos dados obtidos na experiência, oferecendo explicações para esses dados e prevendo efeitos e fenômenos que possam ser testados experimentalmente, sendo assim submetida à falseabilidade? É exatamente o que faz a mecânica de Hertz, conforme vem expresso em seu Livro II. No entanto, nesse mesmo trabalho encontra-se uma componente filosófica precedente (o Livro I)1 sem a qual não é possível interpretar o conjunto da obra. Trata-se de uma argumentação que vai ao encontro dos objetivos de Hertz e que incide diretamente em sua filosofia da ciência. Diante disso, poder-se-ia levantar uma questão prévia à obra hertziana: estaria ele preocupado que sua teoria se confirmasse com a experiência? Se for levada em consideração somente a afirmação abaixo (de forma isolada), provavelmente a resposta seria negativa. Isso porque, segundo Hertz: A permissibilidade é o requisito de consistência lógica que tem de ser cumprido por qualquer teoria: as imagens não podem contrariar as “leis do nosso pensamento”, isto é, não podem ser logicamente contraditórias. A correção, por outro lado, atua como requisito de que haja correção empírica: qualquer teoria proposta tem de ser compatível com os dados da experiência – as imagens devem satisfazer à exigência de conformidade com os fatos. Por fim, a adequação, que tem a ver com a forma exterior da teoria, com a clareza e simplicidade dos conceitos e leis utilizados – além de serem claras na expressão dos traços principais dos fenômenos, não se devem incluir elementos supérfluos nas teorias. Se duas teorias são permissíveis e corretas empiricamente, então, pode-se ainda escolher entre elas olhando para a simplicidade e elegância dos seus conceitos e leis fundamentais. Contudo, a noção de simplicidade hertziana não é primordialmente estética, de gosto, mas lógica. Devem ser descartadas proposições ou suposições cuja exclusão em nada reduz o poder preditivo da mesma teoria. Com esses critérios é possível identificar problemas filosóficos no interior dos debates científicos, como no caso da questão sobre a natureza da “força” ou da “energia”. Na tradução desses conceitos encontram-se subjacentes pseudoproblemas que devem ser eliminados e não resolvidos, pois foram justamente eles quem promoveram as representações históricas da mecânica (newtoniana e energetista) e que representam nada mais que um emaranhado de problemas filosóficos. Sendo assim, Hertz propõe sua própria representação. O tema do primeiro livro é completamente independente da experiência. Todas as afirmações feitas são julgamentos a priori no sentido de Kant. Elas são baseadas nas leis da intuição interna, nas formas lógicas seguidas pela pessoa que faz as asserções; com a experiência externa elas não têm qualquer outra conexão além das que essas intuições e formas podem ter (HERTZ, 1956, p. 45). 1 Em virtude do escopo que delimita esta produção, não será possível tratar dos temas específicos dos livros I e II de Os Princípios da Mecânica de H. Hertz. Encontra-se no prelo o livro Wittgenstein, Hertz e a representação do Mundo (SIMÕES, 2012) que, em breve, estará disponível nas livrarias. 8 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 Essa afirmação representa um primeiro momento de Os Princípios, que introduz os conceitos físicos e teoremas sem referência ao mundo externo (daí sua filosofia da ciência). Elas são afirmadas pelas “leis da imaginação interior” e pelas formas da lógica. No segundo livro, as concepções físicas estão relacionadas a eventos no mundo externo. Para Hertz, embora a mecânica, vista como um sistema formal parecesse muito similar com o sistema formal de lógica, ela mantém sua relação referencial com a natureza. Do contrário, a afirmação acima contrariaria a exigência de que sua própria teoria não desrespeitasse o critério de “correção”. Em sua representação, o conceito de força somente aparecerá como uma espécie de auxílio matemático ou resultado da interdependência dos movimentos de dois corpos pertencentes a um mesmo sistema – “o movimento do primeiro corpo determina uma força e esta força, então, determina o movimento do segundo corpo” (HERTZ, 1956, p. 28). Conforme apontado pela lei fundamental, nesse caso, a força será considerada como causa e consequência do movimento, apresentando-se como “uma consequência necessária do pensamento” (ibidem). Outra substituição promovida pelo sistema hertziano, ou pela mecânica de Hertz, é o conceito de energia ou a estranheza do conceito de energia potencial. Na superação das dificuldades promovidas por esse conceito, Hertz se vê envolvido com a noção de objetos físicos não mensuráveis (massas ocultas), pelos quais irá pagar um alto preço: Como se caracteriza, então, a representação hertziana da mecânica? Primeiramente, ela evita a utilização de conceitos como “força” e “energia” e “parte de apenas três concepções fundamentais independentes, ou seja, tempo, espaço e massa” (HERTZ, 1956, p. 24) e o seu objetivo é “representar as relações naturais entre estas três concepções, e apenas três” (HERTZ, 1956, p. 25). As justificativas para a rejeição dos dois primeiros grandes sistemas mecânicos foram dadas acima, resta saber de que forma tais sistemas foram superados. Em termos gerais seu sistema assenta-se nas seguintes hipóteses: a) só há na natureza sistemas vinculados, mas subtraídos à ação de força externa; e b) se alguns corpos nos parecem obedecer a forças, é por estarem vinculados a outros corpos que nos são invisíveis; uma hipótese estranha, por sinal. Por que introduzir, fora dos corpos visíveis, corpos invisíveis hipotéticos? A resposta será adiada por enquanto. Se desejarmos obter uma imagem do universo que seja bem modelada, completa e conforme a lei, temos que pressupor, por trás das coisas que vemos, outras coisas invisíveis: devemos imaginar aliados ocultos além dos limites de nossos sentidos (HERTZ, 1956, p. 25 – grifos nossos). Mesmo admitindo que o conceito de massa oculta represente uma dificuldade extra no sistema de Hertz, visto que desrespeita seu próprio critério de simplicidade, dando a aparência de que a metafísica entrou pela porta dos fundos e tomou o lugar da física, para Hertz a questão não era bem assim: “não se remove uma dúvida que impressiona nossas mentes ao chamá-la de metafísica” (HERTZ, 1956, p. 23). Quanto às massas ocultas, “a razão da complicação é perfeitamente óbvia. A perda de simplicidade não se deve à natureza, mas ao nosso conhecimento imperfeito da natureza” (HERTZ, 1956, p. 39). Hertz promove, desse modo, uma distinção entre teses ontológicas (de que há “desígnios na natureza”, assim como pensava Aristóteles) e exigências metodológicas. No caso das massas ocultas, essas representam uma exigência metodológica importante em seu sistema e não se trata de uma tese ontológica. Em substituição ao conceito de força, Hertz introduzirá sistemas com vínculos regidos por uma lei fundamental que reza que “todo sistema livre persiste em seu estado de repouso ou de movimento uniforme na trajetória a mais retilínea” (HERTZ, 1956, p. 144). De acordo com ele, no enunciado da lei fundamental de sua imagem da mecânica estão condensados a lei da inércia de Newton e o princípio da ação mínima de Gauss. Trata-se de um princípio variacional local, ao contrário do princípio de Hamilton que possui um caráter global, mas cuja explicação é geral, aplicando-se, evidentemente, a qualquer outra representação caracterizada por um conjunto de princípios ou leis fundamentais. No entanto, a aplicação de sua lei fundamental restringe-se apenas a aplicação mecânica da natureza inanimada e não aos processos internos da vida. “Por enquanto, ela nos permite abordar todo o domínio da mecânica, ela nos mostra quais são os limites deste domínio” (HERTZ, 1956, p. 38). O problema que um sistema com massas ocultas oferece para a consideração da mecânica é o seguinte: - Predeterminar os movimentos das massas visíveis do sistema, ou as mudanças de suas coordenadas visíveis, não obstante nossa ignorância sobre as posições das massas ocultas (HERTZ, 1956, p. 224). Logo, não é necessariamente um problema, mas uma imagem, um modelo matemático, que na prática figuraria um evento do mundo. Uma boa representação teórica igual à mecânica hertziana, implicando pseudoobjetos como partes constitutivas, mostra a generalidade e a independência formal do sistema; este deveria ser o caso para qualquer representação das ciências naturais, independente de como possam aparecer. Com relação à 9 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 mecânica, a partir do que foi por ele estabelecido, pode-se derivar “todo o resto da mecânica por meio de puro raciocínio dedutivo” (HERTZ, 1956, p. 28). A própria organização de Os Princípios da Mecânica denuncia suas pretensões. A questão não era construir uma nova teoria mecânica. Sua intenção resumia-se em apresentar a mecânica sob uma nova forma, que fosse mais interessante do ponto de vista lógico e físico. É importante notar que Hertz é herdeiro da tradição dos físicos alemães que possuíam como prática uma abordagem formalista dos fenômenos naturais. Segundo essa abordagem, as teorias matemáticas objetivavam-se por articular a experiência através de equações diferenciais. “Tal postura contrastava com a necessidade que sentiam os físicos britânicos de visualizarem fisicamente o formalismo (...)” (ABRANTES, 1992, p. 3). O formalismo, no entanto, não erradica todos os problemas, sejam da eletrodinâmica ou da mecânica. Hertz admite que ele não é capaz de se eximir da obscuridade de conceitos, como das relações vazias. 4. Considerações Finais O presente artigo objetivou apresentar o conceito de representação na mecânica de H. Hertz. Dado às restrições editoriais que nos apresentam, não foi possível avançar sobre temas essenciais de seu Os Princípios da Mecânica. De qualquer forma, nossa pretensão era a de inseri-lo na tradição das mecânicas clássica (newtoniana) e energetista, em que se conseguiram identificar “relações vazias” promovidas, segundo ele, por ideias “supérfluas e rudimentares”, tal como foi demonstrado. Com isso, apresentou uma possível substituição das imagens anteriores, já arraigadas na comunidade científica, por uma terceira imagem, na qual ideias como as de força e energia desapareceriam. Em troca, propôs um sistema mecânico fundamentado na relação de conexões geométricas que admitia liberdade para introduzir elementos suprassensíveis (massas ocultas, éter). Hertz propõe, então, um misto de teoria que se apresenta primeiramente como um sistema dedutivo baseado na intuição interna e, depois, como proposições que são símbolos de objetos da experiência externa. A componente a priori de sua representação, antes de apontar para qualquer realidade metafísica, indica uma necessidade metodológica de seu sistema, isso porque, para ele, teoria e experiência são indissociáveis. E o que ele trata por inserção de “relações vazias” refere-se a um legítimo procedimento pelo qual o pensamento antecipa eventos futuros. Referências Bibliográficas ABRANTES, P. A Filosofia da Ciência de Heinrich Hertz. In: ÉVORA, F. R. R. (Ed.). Século XIX: O Nascimento da Ciência Contemporânea. Campinas: Unicamp, 1992. p. 351-375. HERTZ, H. The Principles of Mechanics: presented in a new form. Preface by Hermann von Helmholtz. Authorized English translation by D. E. Jones e J. T. Walley. With a new introduction by R. S. Cohen.New York: Dover Publication, 1956. JANIK, A.; TOULMIN, S. A Viena de Wittgenstein. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Campus, 1991. MOREIRA, I. C. As Visões Física e Epistêmica de Hertz e Suas Representações. In: Revista da Sociedade Brasileira de História da Ciência. n. 13, p. 33-43, janjun, 1995. VIDEIRA, A. A. P. A Física Entre a Mecânica Clássica e a Filosofia: os exemplos de Helmholtz, Boltzmann e Hertz. In: Revista da Sociedade Brasileira de História da Ciência. n. 13, jan.-jun, 1995, p. 11-14. Abstract: The aim of this paper lies on the exposure of the representation of mechanical proposed by H. Hertz. In his time, were the two representations of mechanics available: the classical mechanics (Newtonian) and the energetist mechanics. Hertz will verify that these images of mechanics, despite offering advances in practical application, were proved of concepts, according he, superfluous and empty that, ultimately, don't point to nothing that could be found in nature. Thus, he proposes his own image, which he will suppress the concepts in question and instead submit a representation based on systems with links, governed by a fundamental law. What he does is to present an original proposal, containing a most interesting philosophy of science of the nineteenth century. Keywords: Hertz, Physics, Mechanics, Representation. 10 ARTIGO REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 COLÔNIAS DE ABELHAS COMO MODELO PARA DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS COMPUTACIONAIS 1 Renato Dourado Maia, 2Camila Tejada Berloffa, 2Dávila Patrícia Ferreira Cruz Mestre em Engenharia Elétrica, Professor da Faculdade de Ciência e Tecnologia – FACIT, 2 Acadêmica do Curso de Engenharia de Computação da Faculdade de Ciência e Tecnologia – FACIT 1 Resumo: A utilização de algoritmos baseados em Inteligência de Enxame tendo em vista o desenvolvimento de técnicas para solução de problemas tem trazido resultados relevantes e se apresenta como uma linha de pesquisa promissora. Este artigo apresenta os resultados do OptBees, um algoritmo para otimização inspirado nos processos de tomada de decisão coletiva por colônias de abelhas, e da sua adaptação para aplicação em problemas de agrupamento ótimo de dados, o algoritmo ClustBees. Os resultados mostram que o algoritmo possui um comportamento interessante, tornando atrativa a sua adaptação para resolver outros tipos de problemas nos quais a geração e a manutenção de diversidade são necessárias, tais como problemas de agrupamento e problemas de determinação de regras de associação. Palavras-chave: Agrupamento. Inteligência de Enxame. Otimização. Regras de Associação. 1.2 Inteligência de Enxame aplicada à Mineração de Dados 1. Introdução 1.1 Inteligência de Enxame Segundo Elmasri & Navathe (2005, p. 624), Mineração de Dados se “refere à mineração ou a descoberta de novas informações em função de padrões ou regras em grandes quantidades de dados”. Essas descobertas podem ser expressas, por exemplo, na forma de regras de associação ou classificação e agrupamentos. Na natureza, muitas espécies são caracterizadas por um comportamento coletivo. Diversas espécies de peixes, pássaros e animais terrestres vivem em grandes grupos. Esses grupos são formados por uma necessidade biológica, pois individualmente a capacidade destes indivíduos pode ser limitada e existe uma maior probabilidade do ataque de predadores. Esse comportamento coletivo também pode ser observado nos insetos sociais, como abelhas, cupins e formigas. As sociedades de insetos mostram que a interação dinâmica entre organismos simples pode criar um sistema com alto desempenho e complexidade, pois o comportamento cooperativo e o sistema de comunicação entre os insetos da colônia contribuem para uma inteligência coletiva que tem sido alvo de diversas pesquisas (TEODOROVIC & DELL'ORCO, 2008; TEODOROVIC, 2009). A popularidade da Inteligência de Enxame incentivou o desenvolvimento de vários algoritmos de mineração de dados, pois as técnicas que contemplam os princípios dos sistemas de enxame têm apresentado desempenho competitivo em relação às técnicas tradicionais. De maneira geral, esses algoritmos podem ser divididos em duas categorias (MARTENS et al., 2011): a) Busca efetiva: os indivíduos do enxame se movem por um espaço (ambiente), buscando por soluções ou componentes de soluções para a tarefa de Mineração de Dados considerada. No âmbito da Mineração de Dados (MD), as técnicas que se destacam nessa categoria são Ant Colony Optimization (ACO) (DORIGO & STÜTZLE, 2004) o Particle Swarm Optimization (PSO) (KENNEDY & EBERHART, 1995). Um Sistema de Enxame, apesar de simples, é passível de apresentar comportamentos complexos. Todas as evidências sugerem que não há controle central, havendo apenas regras simples para cada agente que, por possuir uma capacidade limitada, toma apenas decisões locais. A integração das atividades individuais não requer supervisão, ou seja, o fenômeno é emergente e autoorganizado (DE CASTRO, 2006). b) Organização de dados: o enxame trabalha movendo padrões que são colocados em um espaço de características de dimensão reduzida, em geral bidimensional, com o objetivo de encontrar um agrupamento apropriado ou uma solução que represente um mapeamento (ou projeção) de dimensão reduzida dos dados. Nessa categoria destacam-se, no contexto da MD, Ant Based Sorting (LUMER & FAIETA, 1994) e Prey Model (GIRALDO et al., 2011). A utilização de algoritmos baseados em Inteligência de Enxame para o tratamento de problemas de Otimização tem trazido resultados relevantes e se apresenta como uma linha de pesquisa promissora. A Inteligência de Enxame está inserida no contexto da computação inspirada na natureza e o termo é utilizado para descrever técnicas de resolução de problemas e algoritmos inspirados no comportamento coletivo e autoorganizado dos organismos sociais (DE CASTRO, 2006). 11 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 muito clara, concentrando a maioria das forrageiras no alimentador que oferece o alimento de qualidade superior (SEELEY et al., 1991). 2. Metodologia 2.1 Colônias de abelhas como modelo para a tomada de decisão coletiva A seguir estão resumidas algumas características interessantes dos processos de tomada de decisão coletiva por colônias de abelhas em problemas de forrageamento, bem como de busca por locais para a construção de um novo ninho (GADAU & FEWELL, 2009): Os insetos sociais têm despertado interesse devido à sua forma de comportamento coletivo, especialmente a coleta de alimentos e o compartilhamento de informações. Dentre esses insetos, podem-se destacar as colônias de abelhas por sua autonomia, simplicidade e alta capacidade organizacional (SERAPIÃO, 2009). • as abelhas dançam para recrutar outras abelhas para uma fonte de alimento; De forma resumida, as seguintes habilidades de tomada de decisão coletiva por sociedades de insetos podem ser destacadas (MAIA et al., 2010): • as abelhas ajustam a exploração e recuperação de alimentos de acordo com o estado da colônia; • selecionar a melhor dentre diversas alternativas; • as abelhas, diferentemente das formigas, exploram múltiplas fontes de alimento simultaneamente, mas quase invariavelmente convergem para o mesmo novo local de construção do ninho; • comparar opções considerando diversos atributos; • ajustar as preferências de acordo com o contexto ambiental e o estado da colônia; • há uma relação positiva linear entre o número de abelhas dançando e a quantidade de abelhas recrutadas para uma fonte de alimento: esse sistema de recrutamento linear faz com que as trabalhadoras sejam equilibradamente distribuídas entre opções similares. • balancear a velocidade e a precisão da tomada de decisão. Os seguintes mecanismos subjacentes às habilidades da tomada de decisão coletiva por sociedades de insetos são apresentados por Gadau & Fewell (2009): • a dança das abelhas comunica a distância e a direção dos novos sítios para ninhos. O recrutamento para o novo sítio continua até que um limiar de número de abelhas seja atingido; • realimentação positiva gerada pelo processo de recrutamento; • regras de quórum e limiares que controlam transições nos processos de recrutamento e filtram os erros individuais; • a qualidade da fonte de alimentos influencia a dança das abelhas; • regras individuais de avaliação baseadas em dados simples, porém informativos; • todas as abelhas se aposentam após algum tempo, o que significa que, independentemente da qualidade do novo sítio, as abelhas param de recrutar outras. Essa aposentadoria depende da qualidade do sítio: quanto maior, mais tardia. • algoritmos de comportamento que podem ser sintonizados de acordo com o contexto da decisão; • tomada de decisão independente por um grande número de indivíduos e 2.2 Desenvolvimento Tendo como inspiração as características interessantes dos processos de tomada de decisão coletiva por colônias de abelhas, foi proposto em Maia et al. (2010) um algoritmo para problemas de otimização multimodal contínua. O algoritmo foi concebido com o objetivo de promover uma busca multimodal e de gerar e manter diversidade sem perder a capacidade de otimização global, de modo a ser passível de aplicação em problemas de otimização em ambientes incertos, o que representa uma inovação em relação aos algoritmos inspirados em abelhas existentes. • abandono de opções por trabalhadores individuais. Diversos algoritmos de inteligência de enxame inspirados no comportamento coletivo das abelhas já foram propostos e podem ser divididos em duas classes (MARINAKI et al., 2010): 1) algoritmos inspirados no comportamento de forrageamento e 2) algoritmos inspirados no comportamento de acasalamento. O comportamento de forrageamento tem sido muito importante para os estudos sobre tomada de decisão coletiva em sociedades de insetos. Colônias de abelhas Apis mellifera, por exemplo, utilizam o seu sinal de recrutamento, a dança, para direcionar os esforços de forrageamento para um local em particular: quando são oferecidos dois alimentadores artificiais que diferem na qualidade do alimento, as colônias fazem uma escolha Uma versão aprimorada desse algoritmo – o OptBees, foi apresentada em Maia et al. (2012). Esse algoritmo obteve sucesso na geração e manutenção de diversidade e alcançou resultados de boa qualidade na 12 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 otimização global. Essas características motivaram uma adaptação para a tarefa de agrupamento, apresentada em Maia et al. (2012), que tem por objetivo encontrar agrupamentos em determinada base de dados sem informação prévia alguma, mantendo diversidade de soluções. 3. Resultados e Discussão Para avaliar as principais características do algoritmo OptBees, tais como a habilidade para gerar e manter diversidade e, consequentemente, a possibilidade de obter múltiplos ótimos locais, o mesmo foi aplicado a cinco dos vinte e cinco problemas de otimização propostos pelo 2005 IEEE Congress on Evolutionary Computation (CEC): Figura 1: Representação gráfica de curvas de nível para o problema F9 e a solução retornada pelo algoritmo Optbees na execução 1. ? F2 – Shifted Schwefel's Problem 1.2: unimodal. ? F4 – Shifted Schwefel's Problem 1.2 with Noise in Fitness: semelhante ao F2, mas com ruído na aptidão. ? F9 – Shifted Rastrigin's Function: multimodal, com um grande número de ótimos locais. ? F15 – Hybrid Composition Function: multimodal, com um grande número de ótimos locais e dois platôs. ? F20 – Rotated Hybrid Composition Function with the Global Optimum on the Bounds: multimodal, com um grande número de ótimos locais, dois platôs e ótimo global localizado em na borda do espaço de busca. Para cada problema o algoritmo foi executado vinte e cinco vezes. Os resultados mostraram que o OptBees possui mecanismos eficientes para controlar a diversidade, sendo capaz de retornar um grande número de soluções (ótimos locais/globais) para problemas multimodais. As Figuras 1 e 2 mostram o resultado obtido pelo OptBees no problema F9 sendo comparado com o re- Figura 2: Representação gráfica de curvas de nível para o problema F9 e a solução retornada pelo algoritmo Optbees na execução 25. sultado dos algoritmos opt-aiNet (DE CASTRO & TIMMIS, 2002), apresentados nas Figuras 3 e 4, e cobaiNet (COELHO & VON ZUBEN, 2010), apresentados nas Figuras 5 e 6, que também se propõem a gerar e manter a diversidade. Figura 3: Representação gráfica de curvas de nível para o problema F9 e a solução retornada pelo algoritmo cob-aiNet na execução 1. 13 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 A adaptação do algoritmo OptBees para resolver problemas de agrupamento ótimo de dados também obteve resultados satisfatórios. Os resultados apresentados em Maia et al. (2012), mostram que o algoritmo conseguiu, nos casos testados, encontrar agrupamentos com o número de grupos esperado, além de apresentar outras boas soluções. Em relação aos efeitos dos parâmetros, os resultados dos testes realizados indicam que (MAIA et al., 2012): • o algoritmo é robusto em relação a variações em seus parâmetros; • o aumento da taxa de recrutamento aumenta a velocidade de convergência para boas soluções; Figura 4: Representação gráfica de curvas de nível para o problema F9 e a solução retornada pelo algoritmo cob-aiNet na execução 25. • o aumento da quantidade de abelhas do enxame, bem como de abelhas recrutado, faz com que o número de abelhas que representam soluções ótimas aumente significativamente; • um número reduzido de iterações faz com que, em alguns casos, a melhor solução para determinado agrupamento não seja encontrada. 4. Considerações Finais Os resultados confirmam que o OptBees é capaz de explorar a multimodalidade dos problemas, visto que apresentou sucesso na geração e manutenção da diversidade, obtendo vários ótimos locais e encontrando uma solução de boa qualidade na otimização global. Essas características sugerem que o algoritmo possui um comportamento interessante, tornando atrativa a sua adaptação para resolver outros tipos de problemas nos quais a geração e a manutenção de diversidade são necessárias. Sendo assim, como continuação do trabalho serão propostas duas adaptações do OptBees: a primeira consiste em adaptar o algoritmo para trabalhar com soluções representadas por meio de codificação inteira, a ser aplicada inicialmente a problemas de agrupamento (a versão apresentada em Maia et al. (2012) trabalha com codificação real) e a segunda para trabalhar com soluções representadas por meio de codificação binária, a ser aplicada inicialmente em problemas de determinação de regras de associação. Figura 5: Representação gráfica de curvas de nível para o problema F9 e a solução retornada pelo algoritmo opt-aiNet na execução 1. Agradecimentos Os autores agradecem à Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros e à Fapemig pelo apoio. Figura 6: Representação gráfica de curvas de nível para o problema F9 e a solução retornada pelo algoritmo opt-aiNet na execução 25. 14 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 Brasileiro de Automática, 2010. p. 4481-4488. MAIA, R. D.; CASTRO, L. N. ; CAMINHAS, W. M.. Bee Colonies as Model for Multimodal Continuous Optimization: the optBees algorithm. In: IEEE World Congress on Computational Intelligence, 2012, Brisbane. Proceedings do IEEE World Congress on Computational Intelligence, 2012. v. 1. p. 3316-3323. Referências Bibliográficas DE CASTRO, L. N. Fundamentals of Natural Computing: basic concepts, algorithms, and applications. [S.l.]: Chapman & Hall/CRC, 2006. DE CASTRO, L. N.; TIMMIS, J. An Artificial Immune Network for Multimodal Function Optimization, in: Proc. of the 2002 IEEE Congress on Evolutionary Computation (CEC), vol. 2, p. 699–704, 2002. DORIGO, M.; STÜTZLE, T. Ant Colony Optimization. 7 ed. Cambridge: MIT Press, p. 305, 2004. MAIA, R. D. ; BARBOSA, W. O. ; DE CASTRO, L. N. Colônias de Abelhas como Modelo para Agrupamento Ótimo de Dados: uma proposta e análise paramétrica qualitativa. In: XIX Congresso Brasileiro de Automática, 2012, Campina Grande. Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, 2012. p. 623-630. COELHO, G. P.; VON ZUBEN, F. J. A ConcentrationBased Artificial Immune Network for Continuous Optimization. In: Proc. of the 2010 IEEE Congress on Evolutionary Computation (CEC), p. 108–115, 2010. MARINAKI, M.; MARINAKIS Y.; AND ZOPOUNIDIS, C. Honey Bees Mating Optimization Algorithm for Financial Classification Problems. Applied Soft Computing, 2012. v. 10, Issue 3: 806-812. GADAU, J. E.; FEWELL, J. (eds.). Organization of Insect Societies: from genome to sociocomplexity. Cambridge: Harvard University Press, 2009. MARTENS, D.; BAESENS, B.; FAWCETT, T. Editorial Survey: swarm intelligence for data mining. Machine learning, [s.n.t.], v.82, n. 1, p. 1-42, 2011. GIRALDO, L. F.; LOZANO, F.; QUIJANO, N. 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These results has shown that the algo-rithm has an interesting behavior, being attractive its adaptation to deal with other kind of problems in which the generation and maintenance of diversity is necessary, such as clustering and determination of association rules. Keywords: Association Rules. Clustering. Optimization. Swarm Intelligence. 15 16 ARTIGO REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 UTILIZAÇÃO DA BIOMASSA NO DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS 1 Sandra Matias Damasceno, 2Kamilla Alves Carvalho, 2Christina Thâmara Soares Oliveira, 2Ludmilla Louise Cerqueira Maia Prates, 2Izabela Aparecida Luiz Ribeiro e 2Maria Fernanda Silveira Sales 1 Mestre em Química Orgânica, Professora da Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes ClarosFACIT , 2Acadêmica do curso de Engenharia Química da Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros-FACIT Resumo: A produção de biodiesel tem se destacado como uma solução para o problema ambiental relacionado aos combustíveis fósseis convencionais. Entretanto, no processo de obtenção do biodiesel, são produzidos resíduos da extração do óleo, bem como, subprodutos da reação de transesterificação. A crescente geração do subproduto do biodiesel – glicerina – gera acúmulo desse material nas usinas de processamento de óleos vegetais. Do ponto de vista econômico, o subproduto é inviável para venda devido ao baixo preço agregado. Nesse contexto, esse projeto tem por objetivo utilizar glicerina para o desenvolvimento de novos produtos, agregando outros materiais, sem comprometer o ambiente. Inicialmente busca-se uma substância aderente, que seja capaz de ligar um material particulado, como fibras vegetais, à glicerina, para obtenção de estrutura compacta e rígida, que futuramente seja utilizada como matéria - prima para o setor moveleiro e na indústria civil. Palavras-chave: biomassa, compósito, fibras vegetais. florestais plantados e para completar o mix, resíduos de serraria. As empresas dispõem de mais de 200 mil hectares de florestas próprias de pinus e de eucalipto. (JUVENAL e MATTOS, 2002). 1. Introdução No Brasil os painéis mais fabricados são os de aglomerados que, em 2001, representaram quase 62% do volume total produzido. A indústria alcançou, no país, um faturamento de cerca de US$ 500 milhões contribuindo com exportações de US$ 66 milhões, basicamente oriundos do comércio de chapas duras. (REVISTA DA MADEIRA- n°71, 2003). A fibra de coco utilizada na confecção do compósito foi escolhida devido à grande disponibilidade na região norte de Minas Gerais, ainda se trata de um resíduo que representa grande problema para a limpeza urbana. Cerca de 45,0% da composição do coco é de fibras que, após a retirada do albúmen para obtenção de coco ralado e água, são enviadas para lixões e aterros sanitários, gerando custos com transporte até os locais de descarte. Painéis de madeira reconstituída têm esse nome, pois são produzidos a partir de partículas ou fibras de madeira reflorestada. Para formar os painéis de madeira reconstituída, são adicionadas resinas a partículas ou fibras de madeira. O material é então submetido à alta pressão e temperatura para a cura das resinas e formação dos painéis. Fontenele (2005) afirma que o emprego da fibra de coco apresenta enormes vantagens, como o fato de ser uma matéria-prima totalmente biodegradável, ecologicamente correta e ter tempo de vida útil estimado em noventa anos, quando manufaturada, fator que possibilita a sua utilização para a confecção de bens duráveis, como moveis por exemplo. Outras características técnicas apontam vantagens para a utilização da fibra de coco são: a fibra é inodora, resistente à umidade, não origina fungos, é um ótimo isolante térmico e acústico (SEBRAE, 2010). Dentre os materiais que se enquadram dentro da categoria descrita podemos destacar como principais: aglomerado, aglomerado folheado marfim, madeira serrada, compensado, compensado laminado, compensado sarrafeado, Medium Density Fiberboard (MDF), Medium Density Particleboard (MDP), Oriented Strand Fiberboard (OSB). São empregados em diferentes graus de associação, tanto na fabricação de móveis, quanto na indústria da construção (como rodapés, pisos, portas, divisórias, elementos estruturais de casas, etc.) e, de acordo com as suas características específicas, oferecem vantagens e desvantagens quando comparados com a madeira maciça. O produto obtido a partir deste projeto tem apresentado as mesmas características dos painéis de aglomerados disponíveis no mercado como: resistência mecânica, homogeneidade, capacidade de receber acabamentos (tintas, vernizes), boa trabalhabilidade, com a vantagem de não requerer projeto de reflorestamento e de controle de desmatamento, já que se propõe o uso de biomassa (fibra de coco) como substituto da madeira. Os fabricantes de painéis de madeira reconstituída utilizam preponderantemente, na confecção de seus produtos, madeira virgem proveniente de maciços 17 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 A fécula de mandioca e a fibra de coco tem curto prazo de reposição. O Brasil é o quarto maior produtor mundial de coco e o segundo maior produtor mundial de fécula de mandioca. Além da fibra de coco, ensaios vêm sendo realizados para utilização de outras fibras disponíveis. empregada como aglutinante foi adquirida em supermercados da cidade de Montes Claros. As fibras tratadas foram misturadas manualmente com a fécula de mandioca e com a glicerina em diferentes composições até se obter uma massa homogênea com as características desejadas. Este projeto prevê a entrada do resíduo do coco na etapa de produção de fibras, suprimindo as etapas iniciais do processo de painéis, o que resulta em redução do consumo de energia da fábrica. No processo de fabricação dos painéis, a madeira passa por operações de descascamento, produção de cavacos e lavagem de cavacos antes do processo de produção de fibras. Amostras do produto obtido foram submetidas a testes a fim de se caracterizarem suas propriedades físicas e químicas. Os testes realizados foram: teor de umidade, densidade, resistência à tração perpendicular. Para analisar o teor de umidade das amostras fezse a pesagem das amostras durante o período de sete dias. Durantes o período as amostras foram mantidas em ambiente fechado sob as mesmas condições de temperatura, pesadas em intervalos regulares de 24 horas. A partir dos dados obtidos calculou-se a massa de água presente em cada uma delas. Quando não existia mais variação de massa, as amostras consideradas totalmente secas foram submetidas a ensaios de densidade, através do método do picnômetro. Uma massa determinada da amostra é introduzida num picnômetro devidamente seco de massa e volumes determinados, que posteriormente é preenchido com água. A diferença de volume é referente à amostra. O produto a ser desenvolvido deverá ser direcionado primeiramente para a fabricação de móveis e, em segundo plano, para a construção civil (portas, janelas, etc.). Esses segmentos têm apresentado crescimento nos últimos anos graças ao aumento de créditos facilitados no mercado e as expectativas são de até 8,5% de crescimento no mercado de móveis até 2013 (EMBRESP, 2012). Contudo, o presente trabalho tem por objetivo desenvolver um compósito a partir da fibra de coco, da fécula de mandioca e de glicerina. O material desenvolvido apresenta características semelhantes aos painéis de madeira comercializados atualmente, mas sem o uso de resinas sintéticas à base de formaldeído que, embora sejam de baixo custo e cura rápida, apresentam problemas potenciais relacionados à emissão de formaldeído no meio ambiente. O teste de tração perpendicular foi realizado com o auxílio de uma prensa pneumática, de modo que as amostras de mesma massa foram submetidas a uma faixa variada de valores de tensão, possibilitando a análise do maior valor de pressão suportado por amostra até o aparecimento de rachaduras ou sinal de rompimento da estrutura baseando-se, portanto, na compressão das amostras. 2. Metodologia As fibras utilizadas na composição do produto, cedidas por revendedores de água de coco da região de Montes Claros, foram separadas e deixadas à temperatura ambiente secando naturalmente por cerca de três dias. Após este período permaneceram em estufa a temperatura de 50°C durante 30 minutos para eliminar a umidade residual. Em seguida à secagem, as fibras foram trituradas e selecionou-se a fração com 0,5 mm de diâmetro através de um sistema de granulometria, tal escolha se deu devido a melhor trabalhabilidade das fibras em detrimento dos outros diâmetros testados. A glicerina usada no experimento foi cedida pelo laboratório de Engenharia Química da Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros, e possuía um grau de pureza para utilização cosmética e analítica, utilizou-se também glicerina com baixo teor de pureza, cedida por empresa de biocombustível da cidade. A fécula 3. Resultados e Discussão Os vários testes de composição realizados permitiram avaliar a influência da adição da glicerina como plastificante. A granulometria das fibras utilizadas também se mostrou um fator determinante da qualidade do painel a ser produzido, sendo que fibras menores originam uma massa mais homogênea em relação às fibras maiores. As propriedades aglutinantes do amido contribuíram para a criação de um composto compactado. Esta característica foi acentuada pela associação com a glicerina, fato evidenciado pelo aspecto uniforme adquirido pela mistura após a secagem. O resultado dos testes realizados demonstrou que o material testado possui potencial para aplicabilidade na indústria moveleira e construção civil. 18 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 Para os testes de umidade, obteveram-se resultados que permitiram o cálculo da densidade do material após a secagem completa. Amostra Densidade (g/cm3) F-30 0,78 F-40 0,88 F-50 1,07 F-60 1,65 4. Considerações Finais Conclui-se, portanto, que o material obtido mostrou-se compatível com as exigências necessárias para a sua aplicação na indústria moveleira uma vez que reúne as características principais para este emprego que são: a boa resistência, boa aceitação de tintas vernizes e perfurações e, principalmente, por se mostrar como uma solução sustentável tanto do ponto de vista de reciclagem e reaproveitamento de rejeitos, como no sentido de reduzir o desmatamento de florestas para a produção de móveis e similares. Como resultados para os ensaios, obtivemos resultados satisfatórios quanto à resistência e aparência do produto final, uma vez que ele se apresenta tal qual a imagem 1, tendo como principal vantagem sobre os painéis de madeira produzidos até então, a sua capacidade de ser moldado ainda quando em fase de massa. Os materiais produzidos, ainda aceitam bem vernizes, tintas, perfurações, utilização de ceras e material colante. Referências Bibliográficas CAMPOS, C. 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MATTOS, R. L. G.; GONÇALVES, R. M.; CHAGAS, F. B. dos. Painéis de Madeira no Brasil: panorama e perspectivas. Rio de Janeiro. BNDES n. 27, p. 121-156. 2008. Abstract: The production of biodiesel has emerged as a solution to the environmental problem related to conventional fossil fuels. However, in the process of obtaining biodiesel is produced from waste oil extraction, as well as by-products of transesterification reaction. The rising generation of biodiesel byproduct - glycerin - generates accumulation of this material in the mills processing vegetable oils. From an economic standpoint, the byproduct is impractical for sale due to low aggregate. In this context, this project aims to use glycerin to the development of new products, adding other materials, without compromising the environment. Initially looking up an adhesive which is capable of binding a particulate material such as vegetable fibers, the glycerin, for obtaining compact and rigid structure, which further be used as raw - material for the furniture industry and in civil industry. Keywords: Biomass. Composite. Vegetable Fibers. 19 20 ARTIGO REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 APLICAÇÃO DE RADIOFREQUÊNCIA EM DOMÓTICA 1 Leonardo Santos Amaral, 2Albert Michael Macedo Santos*, 3Gabriel Figueiredo Freire Cardoso*, 2 Gabriel Santos Almeida e 4Thalis Antunes de Souza* 1 Mestre em Engenharia Elétrica, Professor da Faculdade de Ciência e Tecnologia-FACIT, 2Acadêmico do Curso de Engenharia de Telecomunicações da Faculdade de Ciência e Tecnologia-FACIT, 3 Acadêmico do Curso de Engenharia de Controle e Automação da Faculdade de Ciência e TecnologiaFACIT, 4Acadêmico do Curso de Engenharia de Computação da Faculdade de Ciência e TecnologiaFACIT, *Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/FAPEMIG/FACIT. Resumo: O presente trabalho tem como objetivo apresentar o desenvolvimento de uma aplicação na área da domótica, onde foi feito um sistema capaz de atuar nas funções básicas de uma casa por meio da internet. Os hardwares e softwares envolvidos no projeto utilizaram recursos eletrônicos dispostos por microcontroladores e protocolos de comunicação, tais como Ethenet, RS232 e Zigbee. Palavras Chave: Domótica. Microcontroladores. Sistemas Embarcados. ZigBee. transmite informações entre dispositivos através de radiofrequência, dispensando o uso de fios e trazendo benefícios ao projeto. 1. Introdução Os sistemas de controle automatizado tem conquistado cada vez mais espaço em ambientes residenciais. Hoje em dia, já é possível encontrar residências inteligentes capazes de executarem diversas funções de maneira automática, como por exemplo, acender ou apagar lâmpadas e realizar o controle em irrigação de jardins. Essas novas residências têm o objetivo de oferecer maior conforto, comodidade, praticidade, segurança e economia aos usuários. A solução proposta visa oferecer simplicidade de instalação, baixo custo, interface amigável e flexibilidade. Para isso, a solução concebida envolve desenvolvimento de interface web para usuário, inteligência de controle (software operacional), meio de acesso (solução em radiofrequência) e hardware adaptável que poderá sofrer atualizações. Na figura 1 está representada a solução fim a fim através de um diagrama de blocos. Segundo dados da Associação Brasileira de Automação Residencial (AURESIDE), o número de empresas fabricantes e importadoras no mercado de automação residencial cresceu de 21(vinte e um) em 2008 para 46 (quarenta e seis) em 2011, um aumento de 120%. Crescimento esse que pode ser justificado pelo aumento em 40% na demanda de projetos entre 2008 e 2011. Com a ascensão de novas empresas, o que significa aumento na oferta, os preços desse tipo de sistema caíram cerca de 50% em 6 (seis) anos. Entretanto, as soluções disponíveis no mercado ainda apresentam custo elevado, restringindo seu uso para as classes de maior poder econômico. Figura 1: Diagrama de Blocos Fim a Fim. Fonte: Acervo do Autor. 2. Metodologia 2.1 Funções Básicas de controle O equipamento utilizado para controle básico consiste em um kit de desenvolvimento da empresa Microgenios modelo XBEENET contendo um microcontrolador Microchip PIC 18F87J60 com entradas e saídas digitais, entradas analógicas, saídas PWM, Timers, Relés e LEDS, além de interfaces para comunicação serial e Ethernet. A figura 2 representa a placa XBEENET. Sendo assim, diversas pesquisas vêm sendo realizadas na área de automação residencial, com o intuito de aperfeiçoar e reduzir ainda mais os custos finais, para que os sistemas se tornem acessíveis a uma maior parte da população. Nesse contexto, desenvolveu-se um projeto de automação residencial de baixo custo, que possibilita ao usuário o controle de iluminação, irrigação e segurança da sua residência por meio de uma página web. Essa página pode ser acessada por navegadores disponíveis tanto em computadores como em smartphones e tablets. O projeto utilizou o protocolo de comunicação ZigBee, que 21 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 De acordo com VASQUES (2010), os dispositivos Full Function Device (FFD) são aqueles aptos a funcionarem em qualquer um dos modos de operação padrão: coordenador, roteador ou dispositivo final. Já os dispositivos Reduced Function Device (RFD) são mais simples, de menor custo, com consumo ainda menor de energia e só conseguem se comunicam com dispositivos FFD. A ZigBee Alliance, associação que criou os padrões ZigBee, define três classificações para os dispositivos dessa rede: coordenador, roteadores e dispositivo final (ou End Device). O primeiro deles opera na formação e na segurança da rede, enquanto os roteadores aumentam seu alcance, repassando a informação para outros dispositivos e, por fim, o dispositivo final tem a função de executar ações específicas, como sensoreamento ou funções de controle. (ZigBee Alliance, 2012) Figura 2: Placa XBEENET. Fonte: Microgenios, 2012. Foi desenvolvido em linguagem C um algoritmo para controle das funções do microcontrolador que permite acionar, inicialmente por botões, saídas digitais. Utilizando a linguagem HTML, foi criada uma página WEB permitindo a interação do usuário com o sistema. Apesar de o acionamento ser feito pela WEB, o usuário também tem a opção de utilizar os botões convencionais. Com essas classificações é possível formar três tipos de topologias aplicáveis a uma rede ZigBee. A mais simples é a Estrela em que um coordenador comunica-se diretamente com os end devices ou routers, não havendo comunicação entre os dispositivos. A topologia árvore é uma derivação da estrela onde a comunicação de um setor pode ser centralizada em um roteador. Na topologia malha todos os roteadores se comunicam com o coordenador da Personal Area Network (PAN), porém os End devices só se comunicam com o seu nó pai. (Monsignore, 2007) Depois de desenvolvido e testado o sistema, inicia-se uma nova fase, a interconexão com o módulo ZigBee. Embora a empresa fornecedora dos kits XBEENET oferecer módulos ZigBee compatíveis, os preços ultrapassaram o orçamento do projeto, levando ao desenvolvimento dos próprios módulos ZigBee, que serão apresentados mais à frente. 2.1.2 Aplicando o ZigBee ao projeto 2.1.1 O ZigBee Foi proposta no projeto a criação de módulos de acionamento que permitissem o controle de funções de forma inteligente e de fácil conexão a uma rede de radiofrequência. Os módulos se diferem quanto a sua finalidade, tais como: módulo de irrigação, luminosidade, segurança, entre outros. Cada função requer um circuito que contenha os componentes eletrônicos necessários para a aplicação, podendo haver variação quanto aos componentes eletrônicos. Dantas (2010) afirma que a comunicação ZigBee se faz nos protocolos de alto nível para dispositivos de rádio digital de baixa potência, tornando-o muito utilizável a aplicações de baixo consumo de energia. A rede ZigBee opera no Brasil com frequência padrão global de 2,4GHz e velocidade de até 250Kbps. (Malafaya, Tomás e Souza, 2005). Ainda segundo Malafaya, Tomás e Souza (2005) uma rede ZigBee possui as seguintes características: Depois de desenvolvidas e confeccionadas as placas que facilitarão a utilização do ZigBee, foi discutido o desenvolvimento dos novos módulos que efetuaram as funções de controle. Esses módulos receberão as informações para acionamento da porta serial do ZigBee e as interpretará para tomar as decisões necessárias. Cada módulo desenvolvido terá um dispositivo ZigBee acoplado. O módulo ZigBee é apresentado na figura 3. • baixo consumo de baterias; • recursos de 4KB a 32KB; • possibilidade de aplicação de até 65535 nós; • alcance máximo de 100m. 22 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 2.2.3 Aplicações Futuras Seguindo a ideia de oferecer conforto e praticidade à residência, o projeto propõe a criação de novas funcionalidades como dispositivo dosador de ração para animais, controle de persianas, sistema de segurança, irrigação de jardins, e controle de luminosidade. O primeiro se mostraria útil em casos de viagens ou longos períodos que o usuário esteja fora de sua casa. Com o controle de persianas e luminosidade o ambiente se torna mais requintado e aconchegante. Pelo sistema de segurança seria possível monitorar toda a casa por meio da interface de usuário internet e a irrigação de jardins traria benefícios tanto em economia quanto em praticidade. Figura 3: Dispositivo ZigBee. Fonte: Acervo do autor. Todas as propostas acima agregam acessibilidade e conforto ao projeto, mas é importante ressaltar também que tais mudanças facilitariam muito o uso diário das funções da casa para pessoas portadoras de deficiências físicas. O software do microcontrolador recebe uma palavra via canal serial e compara os caracteres. Foi desenvolvido um sub-protocolo de comunicação em que os dois primeiros caracteres são para especificar a função, "ON" para ligar e "OF" para desligar. Depois da verificação ligar ou desligar, é analisado o terceiro caracter, que será um número inteiro significando qual saída será manipulada. Foi implementada também uma função de ligar ou desligar todas as saídas, "ON9" e "OF9" respectivamente. 3. Resultados e Discussão Foi obtido êxito no desenvolvimento de uma solução que usa uma rede de rádiofrequência para conectar diferentes módulos a uma central, podendo ser adicionadas novas funcionalidades seguindo o modelo dos módulos já feitos. O kit mostrou-se atrativo devido à interface amigável para o usuário, facilidade de implantação e custo mais baixo do que as soluções presentes no mercado. Depois de concluída a parte de tratamento e processamento da informação, foi desenvolvido um circuito de potência que isola e protege o microcontrolador, evitando danos por excesso de demanda de potência. Com Optoacopladores (MOC3020) o microcontrolador fornece baixa corrente ao circuito de acionamento e também é protegido contra possíveis correntes reversas. Para o acionamento de cargas de corrente alternada foi utilizado um TRIAC modelo (BTA12 6008). O microcontrolador a ser utilizado será o PIC 16F628A devido a seu baixo custo e facilidade de utilização. Na Figura 4 é possível observar a placa eletrônica referente ao módulo de iluminação. 4. Considerações Finais A domótica é um segmento que vem crescendo e ganhando destaque em todo o mundo. É importante que todas as classes tenham acesso a essas tecnologias e possam desfrutar de seus benefícios. O protocolo ZigBee demonstrou muita eficiência e simples utilização trazendo mobilidade e praticidade ao projeto. A solução desenvolvida em RF obteve resposta eficiente e a confecção dos módulos de acionamentos separadamente traz mais flexibilidade e organização ao produto final. Após a implantação do sistema ainda é possível realizar alterações e adicionar novos módulos. Figura 4: Módulo de iluminação. Fonte: Acervo do autor. 23 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 MURATORI, J. R. AURESIDE – Associação Brasileira de Automação Residencial. Mercado de Automação Residencial: Panorama Atual e Tendências. Disponível em: <www.revistaautomatizar.com.br /2010/cobertura_2010/apresentacoes_2010/aureside.ppt >. Acesso em 17 de ago. de 2012. Referências Bibliográficas DANTAS, M. Redes de Comunicação e Computadores: abordagem quantitativa. Florianópolis: Visual Books, 2010. 328 p. MALAFAYA, H.; TOMÁS, L.; SOUSA, J.P. (2005). Sensoriação Sem Fios Sobre Zigbee e Ieee 802.15.4. In: INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE LISBOA. Terceiras Jornadas de Engenharia de Eletrôniva e Telecomunicações e de Computadores. Lisboa, Portugal. VASQUES, B. L. R. P. et al. ZigBee. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2010. ZIGBEE ALLIANCE. ZigBee Specification Network T o p o l o g y . D i s p o n í v e l e m : <http://www.zigbee.org/Specifications/ZigBee/Networ kTopology.aspx>. Acesso em 17 ago. 2012 MICROGENIOS. XBEENET Módulo p/ Projetos com TCP/IP, ZigBEE e Microcontrolador PIC. Disponível em: <http://www.microgenios.com/?1.32.0.0,193, xbeenet-modulo-p-projetos-com-tcp-ip-zigbee-emicrocontrolador-pic.html>. Acesso em 20 ago. 2012. MONSIGNORE, F. Sensoriamento de Ambiente Utilizando o Padrão ZigBee. 2007. 74f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) - Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, São Paulo. 2007. Abstract: This present paper has the objective to show the development of a domotic application, where was made a system able to act in basics home’s functions by the internet. The hardwares and softwares involved in this project used electronic resources provided for microcontrollers and communication protocols, such as Ethernet, RS232 and ZigBee. Keywords: Domotics. Embedded Systems. Microcontrollers. ZigBee. 24 ARTIGO REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 TRANSPORTADOR PNEUMÁTICO: ESTUDO DOS FATORES QUE INTERFEREM NO SEU DESEMPENHO DURANTE O PROCESSO DE MOAGEM NA FABRICAÇÃO DO CIMENTO 1 Gisele Figueiredo Braz e 2Leonard César Ferreira Santos Mestre em Produção, Professora da Faculdade de Ciência e Tecnologia-FACIT, 2Acadêmico do Curso de Engenharia de Produção da Faculdade de Ciência e Tecnologia-FACIT 1 Resumo: A área da moagem de cimento é uma das etapas do processo produtivo de cimento da unidade de Montes Claros, responsável pelo produto final, tendo um impacto significativo na produtividade da unidade de fabricação. Dentre os equipamentos da área de moagem tem-se o transportador pneumático como um dos seus equipamentos mais importantes, pois é responsável pelo transporte do produto acabado aos silos. Nesse sentido, este estudo teve como objetivo geral o de estudar os fatores que interferem no desempenho do transportador pneumático no processo de moagem na fabricação de cimento. Ao mesmo tempo, procurou-se conhecer os princípios fundamentais de funcionamento do transportador pneumático, diagnosticar os problemas enfrentados pela unidade local e apresentar soluções para melhoria do desempenho do transportador pneumático da área de moagem de cimento. O trabalho realizado foi um estudo de caso na empresa Lafarge, unidade em cidade de Montes Claros, MG. A pesquisa realizada caracteriza-se como empírica-analítica, que utilizou ferramentas estatísticas como o Gráfico de Pareto e Failure Modeand Effect Analysis(FMEA), para análise do sistema de transporte pneumático na moagem do cimento utilizado na empresa, a fim de se estabelecer um diagnóstico sobre o seu funcionamento e propor medidas de aprimoramento para melhorar a eficiência do sistema. Palavras-Chave: Cimento, Moagem e Transportador Pneumático. centros consumidores, e garantir a competitividade da empresa no mercado de cimento. Esse produto tem um mercado estável, porém, com as perspectivas de crescimento do país, as tendências do mercado tendem a ser proporcionais a esse desenvolvimento tornando-se necessário que as fábricas se preparem, cada vez mais, para suportar o aumento de demandas. 1. Introdução A área da moagem de cimento é uma das etapas do processo produtivo de cimento da unidade de Montes Claros, responsável pelo produto final, tendo um impacto muito significativo na produtividade da unidade de fabricação. Dentre os equipamentos da área de moagem tem-se o transportador pneumático como um dos seus equipamentos mais importantes, pois é responsável pelo transporte do produto acabado aos silos. Esse equipamento tem apresentado uma baixa confiabilidade, sendo responsável por várias paradas incidentais da instalação, causando um elevado custo com manutenção e impactando de maneira negativa na performance da instalação, provocando perda de produtividade, e, consequentemente, aumento do custo de produção da unidade. Considerando que a unidade de Montes Claros já tem sua instalação de moagem já bem otimizada com relação à capacidade nominal dos equipamentos, e um aumento de capacidade demanda de altos investimentos, a exploração da manutenção da performance e confiabilidade dos equipamentos, poderá garantir à unidade de Montes Claros um aumento de produtividade, suprindo assim um aumento na demanda do mercado. Nesse sentido, o objetivo central deste estudo foi estudar os fatores que interferem no desempenho do transportador pneumático no processo de moagem na fabricação de cimento. De maneira específica procurouse conhecer os princípios fundamentais de funcionamento do transportador pneumático; diagnosticar os problemas enfrentados pela unidade local e apresentar soluções para melhoria do desempenho do transportador pneumático da área de moagem de cimento. A Lafarge é líder mundial em materiais de construção abrangendo três áreas de negócio: cimento, gesso e concreto e agregados. Fabricante de cimento, a unidade de Montes Claros, empresa do Grupo Lafarge desde 1996, é responsável por atender os mercados do Norte de Minas, Sul da Bahia e Triângulo Mineiro, produzindo cimento em sua planta industrial, localizada na cidade de Montes Claros/MG. Voltada para produção de cimento, a unidade de Montes Claros é uma das Fábricas do Grupo com situação mais desafiadora devido à sua posição logística afastada dos grandes centros consumidores de cimento, exigindo assim uma alta produtividade a fim de manter baixos custos de produção para compensar a distância dos 2. Metodologia 2.1 Caracterização do estudo A presente pesquisa é um estudo empíricoanalítico, pois se ocupa da codificação do contexto 25 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 mensurável da realidade de empresa a LAFARGE, utilizando técnicas de coletas, tratamento e análise de dados documentais, técnicos e quantitativos. Segundo Gil (1991), este tipo de pesquisa têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. feitas as intervenções propostas e, por fim, foram analisados os resultados obtidos após tais intervenções que podem ser verificadas através das figuras abaixo. A figura 1 abaixo ilustra uma tabela de frequência acumulada com os dados de paradas da instalação da moagem de cimento ao longo de um período com os respectivos equipamentos que contribuíram para as mesmas antes da realização do estudo. 2.2 Procedimentos Inicialmente foi feita uma solicitação do setor de manutenção da Lafarge unidade Montes Claros, ao setor de otimização da mesma, para realização de um estudo com vistas à melhoria da performance do transportador pneumático na moagem de cimento, tendo em vista o baixo índice de fiabilidade da instalação da moagem de cimento. Nesse sentido elaborou-se um projeto de estudo que foi submetido à aprovação das gerências dos setores mencionados acima. Após aprovação, teve-se início a sua execução. 2.3 Instrumentos Figura 1: Síntese das causas das paradas por seção (antes). Fonte: Dados do sistema de gerenciamento de paradas da Lafarge (2011). A técnica utilizada nesse estudo foi o aprofundamento teórico em temas como o processo de fabricação de cimento, etapas do processo de moagem de cimento, processo de transporte pneumático de sólidos finos e ferramentas estatísticas- Gráfico de Pareto e Failure Mode and Effect Analysis (FMEA). O gráfico da figura 2 melhor representa os equipamentos que mais contribuíram para baixa fiabilidade do sistema. Observa-se que o transportador pneumático bomba flux foi o que mais contribuiu negativamente nos dois índices avaliativos (tempo e frequência). O Gráfico de Pareto é uma ferramenta da qualidade em forma de gráfico de barras que dispõe a informação de tal modo que se torne evidente e visual a priorização de temas. A informação assim disposta, também permite o estabelecimento de metas numéricas viáveis de serem alcançadas (VASCONCELOS & PEREIRA,2011). Por outro lado, a metodologia de Análise do Tipo e Efeito de Falha, conhecida como Failure Mode and Effect Analysis- FMEA é uma ferramenta que busca, em princípio, evitar, por meio da análise das falhas potenciais e propostas de ações de melhoria, que ocorram falhas no projeto do produto ou do processo (DESIDÉRIO, 2007). 3. Resultados e Discussão Figura 2: Equipamentos mais significativos (antes) Fonte: Dados do sistema de gerenciamento de paradas da Lafarge (2011). Os resultados obtidos, através da pesquisa de campo realizada na Lafarge Montes Claros, no que diz respeito à utilização do Transportador Pneumático no processo de moagem do cimento, apresenta inicialmente o diagnóstico do sistema feito através do Gráfico de Pareto e FMEA. Com o diagnóstico do sistema elaborado, foram Os problemas levantados levaram a uma avaliação mais detalhada em todo o sistema de transportador pneumático, quando foi percebido um problema de obstrução nos tubos anelares que direcionam 26 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 o ar no interior da bomba para o transporte do material, pois os tubos se encontravam impregnados com crosta de material. Após várias análises mais detalhadas foi possível detectar que o motivo da incrustação era excesso de condensado no ar gerado pelos compressores de ar de transporte, o que foi solucionado através da implementação de uma sistemática para limpeza dos tubos, uma vez que o custo para instalação de secadores de ar, nos compressores do ar de transporte, inviabilizava a aquisição. quando a carga circulante estivesse baixa, o que trazia, como consequência, o agarramento de material na bomba no momento do transporte, provocando paradas indesejáveis do sistema; d) Elaboração de uma tabela de capacidade máxima de alimentação para cada silo de cimento, uma vez que a distância de transporte tinha impacto direto no sistema de transporte pneumático; e) Criação do sistema de manutenção semanal de alguns itens identificados no FMEA, considerados primordiais para o bom funcionamento da Bomba de Flux. Outro problema verificado, nos tubos anelares, foi a perfuração constante dos mesmos, causando enormes transtornos ao sistema. Para solução desse problema foi proposto o desenvolvimento de material mais resistente para fazer enchimento da parede do tubo a fim de minimizar o citado problema. Dessa forma, os resultados positivos podem ser percebidos através da figura 4, uma tabela de frequência acumulada com os dados de paradas da instalação da moagem de cimento ao longo de um período com os respectivos equipamentos que contribuíram para as mesmas após a realização do estudo. A figura 3 ilustra o sistema já com os melhoramentos feitos nos tubos anelares e na válvula de desvio da bomba de flux. Figura 4 - Síntese das causas das paradas por seção (depois). Fonte: Dados do sistema de gerenciamento de paradas da Lafarge (2011). Pela figura 5, percebe-se, através do gráfico, uma redução relevante nas horas acumuladas de paradas do transportador, bem como das frequências de paradas, diminuindo de 158,41 para 41,78 horas e de 152 para 40 em relação à frequência. Figura 3: Modificações feitas nos tubos anelares e na válvula de desvio da bomba de flux. Outras ações implementadas com o objetivo de melhorar o desempenho no sistema de transporte pneumático foram: a) Mudança no tempo de espera para transporte da Bomba, antes havia uma lógica que variava este tempo de 280 a 400 segundos, conforme a alimentação do Moinho, esse tempo foi reduzido para 280 segundos fixo, visto que com a variação do tempo e conforme a alimentação do Moinho a bomba enchia muito causando caixa cheia; b) Contato com fornecedores para mudança do tipo de material utilizado na borracha de vedação da válvula de desvio, visando um aumento da vida útil da peça e consequente minimização de problemas; c) Mudanças na lógica de injeção de água na saída do moinho, para evitar o excesso de umidade no material Figura 5: Equipamentos mais significativos (depois) Fonte: Dados do sistema de gerenciamento de paradas da Lafarge (2011). 27 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 A figura 6 apresenta uma comparação do total de horas paradas do moinho 3 x bomba flux. Pela mesma é possível perceber que, em relação ao total de horas paradas, ao serem comparados os números do ano de 2010 com os de 2011, quando foram implementadas ações propostas através deste estudo, registra-se uma redução acentuada, o que demonstra eficiência das ações desenvolvidas. Essa redução traduz-se em ganhos significativos para a empresa, uma vez que, quando o sistema para, a empresa deixa de produzir, além do fato de que essas paradas no sistema de transporte geram despesas com equipamentos e mão de obra especializada para sanar os defeitos. ar por tonelada de material a ser transportado, baixo consumo de energia elétrica, desgaste mínimo de tubulação, curvas e silos, baixo nível de manutenção, pois não possui partes móveis, possibilidade de utilização de ar comprimido da rede existente, sem necessidade de compressores especiais, além de evitar a contaminação do material transportado. Nessa mesma linha de raciocínio, a Empresa Dynamic Air (2008) destaca, dentre os benefícios desta tecnologia, a redução no consumo de energia, maior confiabilidade, habilidade para transportar materiais muito frágeis, altamente abrasivos, difíceis, coesivos e pesados. Essa mesma empresa destaca ainda, como benefícios, habilidade para iniciar e interromper o processo de transporte com uma linha de transporte cheia de material; reduzida “carga dinâmica” nas curvas da tubulação através do controle da velocidade de transporte; menores e mais simples sistemas de coleta de pó, além de reduzida degradação do material transportado. Não muito menos que isso Marques (2009) enfatiza como benefícios do sistema de transporte pneumático o fato de que os produtos serão transportados de maneira eficiente, limpa e segura, com um mínimo de peças móveis e aumentando a eficiência e a conveniência de operação das instalações e fábricas que o utilizam, o que justifica a utilização do transportador pneumático gerenciado por ferramentas de controle como o Gráfico de Pareto e a Análise do Tipo e Efeito de Falha, que neste estudo mostraram-se altamente eficazes no gerenciamento do sistema de transporte na moagem do cimento. Figura 6: Horas paradas do moinho 3 x bomba flux. De acordo com dados fornecidos pelo departamento de produção da empresa, essa redução de 90,19 horas de paradas multiplicada por uma produção média de 138 t/h obtém-se uma somatória de 12.446,22 toneladas de cimento produzido. Levando-se em consideração uma margem de contribuição de R$ 136,00 por tonelada de cimento expedida, obteve-se um ganho de R$ 1.696.685,90 no período estipulado. 4. Considerações Finais Os resultados aqui apresentados encontram amparo teórico em material publicado no Site Manutenção e Suprimento (2011) onde é citado que o gerenciamento eficaz dos sistemas de transporte pneumático ajuda as empresas a evitarem as enormes quantidades de desperdício de tempo, economia, aumento na produção, que traduzem em maiores faturamentos. Corroborando com esses dados, foram verificados em estudo realizado por Fontes et al. (2007), através do qual apontou-se que a utilização do transporte pneumático, por meio do gerenciamento e sistema de controle efetivo, garantiu ao projeto desenvolvido maior estabilidade e confiabilidade, ganho de eficiência, economia de espaço e facilidade de manutenção e operação do sistema. O presente estudo demonstrou que, no processo de moagem do cimento, o transportador pneumático demonstra ser uma forma precisa e eficiente, capaz de gerar benefícios econômicos significativos, em relação a outras técnicas também utilizadas no ramo cimenteiro, desde que gerenciado através de ferramentas de controle eficientes. Devido às ações de melhoria implementadas no sistema da empresa local, visando corrigir falhas e aprimorar o funcionamento no setor, constataram-se efeitos positivos, os quais refletiram no aumento da produção e, consequentemente, no faturamento mensal da mesma. Contudo, sugere-se a realização de trabalhos futuros, como o estudo de oportunidades para ampliação da capacidade de transporte do transportador pneumático. Com relação à utilização do transportador pneumático na moagem do cimento, de acordo com a Empresa MSP (2011), este é capaz de gerar vários benefícios, dentre os quais destacam o baixo consumo de 28 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991. Agradecimentos Em especial a minha orientadora, Profª. Gisele Figueiredo Braz, pela paciência, direcionamento e dedicação na elaboração deste trabalho. LAFARGE. Apresentação coorporativa 2011. Citação de Referências e Documentos Eletrônicos A Lafarge no mundo. 2011. Disponível em <www.lafarge.com>. Acesso em 15 out. 2011. Aos colegas de trabalho José Delo, Juliano Mota, que deram sua contribuição para o sucesso desse trabalho. MARQUES, R. F. Controle de Processo em Batelada: aplicação ao sistema de mistura veramix. 48f. 2009. Monografia de Graduação. Universidade Federal de Ouro Preto. Disponível em <www.em.ufop.br>. Acesso em 21 SET. 2011. A empresa LAFARGE por não só permitir a publicação deste trabalho, mas por ser o motivo do desenvolvimento desse artigo. DESIDÉRIO, A. Análise do Tipo e Efeito de Falha. 2007 Disponível em <www.oficinadanet.com.br>. Acesso em 16 set. 2011. VASCONCELOS, N. V. C.; PEREIRA, C. B. Análise do Processo Logístico Através das Ferramentas da Qualidade: um estudo de caso na DDEX. Revista Inovação, Gestão e Produção – INGEPRO, v. 3, n. 2, fev/2011. Disponível em <www.ingepro.com.br>. Acesso em 17 out. 2011. EMPRESA DYNAMIC AIR. Dynamicair Sistemas de Transporte Pneumático. 2011. Disponível em <www.dynamicair.com/br/systems>. Acesso em 21 set. 2011. SITE MANUTENÇÃO; SUPRIMENTOS. Transportadores Pneumáticos. Disponibilizado em 2011, em <www.manutencaoesuprimentos.com.br>. Acesso em 13/10/2011. Referências Bibliográficas EMPRESA MSP. Equipamentos Eletromecânicos Ltda. Transporte Pneumático. 2011. Disponível em <www.msp.ind.br/empresa>. Acesso em 13 out. 2011. FONTES, A. F.; et al. Transporte Pneumático. 96f. 2007. Trabalho de Graduação. Escola de Engenharia de Mauá. Disponível em<http://pt.scribd.com/doc/ 55854619/3/>. Acesso em 10 out. 2011. Abstract: The area of the cement mill is one of the stages of the production process of cement unit Montes Claros, responsible for the final product, having a major impact on the productivity of the manufacturing unit. Among the area milling equipment has the pneumatic conveyor as one of its most important since it is responsible for transporting the finished product to silos. Therefore, this study aimed to study the factors that affect the performance of the pneumatic conveyor in the milling process in the manufacture of cement. At the same time tried to know the basic principles of operation of pneumatic conveyor, diagnose the problems faced by the local unit and provide solutions to improve the performance of the pneumatic conveyor area for cement grinding. The work was a case study in company Lafarge plant in the city of Montes Claros, Brazil. The research is characterized as empirical-analytic, who used statistical tools such as Pareto Charts and Failure Mode and Effect Analysis (FMEA) for analysis of pneumatic conveying system in the grinding of cement used in the company, to establish a diagnosis on its operation and propose measures to improve efficiency enhancement system. As a result, the diagnosis system failures indicated as clogging and drill pipes contained in the flux ring pump, which caused excessive stops the cement mill. These failures led to the introduction of a series of measures that solved the problem and improved system performance. Keywords: Cement Grinding and Tire Carrier. 29 30 ARTIGO REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 UTILIZAÇÃO DE INTELIGÊNCIA COMPUTACIONAL EM SISTEMAS EMBARCADOS: UM ESTUDO DE CASO 1 Maurílio José Inácio, 2Lucas Starick Lisboa* e 2Thalis Antunes de Souza* Mestre em Engenharia Elétrica, Professor da Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros – FACIT, Acadêmico do Curso de Engenharia de Computação da Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros – FACIT, *Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/FAPEMIG/FACIT. Resumo: Este trabalho consiste em um estudo de caso sobre utilização de sistemas inteligentes em sistemas embarcados. A partir de pesquisas realizadas, foi escolhida uma rede neural artificial para utilização em um sistema embarcado baseado em microcontrolador. O sistema desenvolvido foi aplicado em detecção e diagnóstico de falhas em motores de corrente contínua. O sistema foi avaliado inicialmente em PC com ambiente de programação MATLAB e, posteriormente, implementado no sistema embarcado. Os resultados obtidos nos testes comprovaram a viabilidade do sistema para aplicação prática. Palavras-chave: Inteligência Computacional. Detecção e Diagnóstico de Falhas. Sistemas Inteligentes. Sistemas Embarcados. maneira análoga à utilizada pelos seres humanos ou outra forma de vida inteligente (REZENDE, 2005). Um dos sistemas inteligentes da área de Inteligência Computacional são as Redes Neurais Artificiais (RNA) (Figura 1). 1. Introdução As indústrias em geral têm grande interesse em métodos que possibilitem o diagnóstico de falhas em equipamentos tais como, por exemplo, motores elétricos. Em função disso, neste trabalho é estudada a utilização de inteligência computacional em sistemas embarcados para aplicação em detecção e diagnóstico de falhas. O desenvolvimento do sistema baseou-se na utilização de redes neurais artificias e sistemas embarcados com microcontrolador. A detecção e diagnóstico de falhas permitem diminuir perdas econômicas, aumentar a segurança, e diminuir impactos ambientais (INÁCIO, et. al., 2009). Essas perdas vão desde parada na produção por algum tempo até a perda total da mesma, ou ainda perda de equipamentos ocasionados por falhas graves. Falhas em equipamentos podem ser menos críticas, como por exemplo, falha de um sensor de velocidade (que pode gerar algum problema em controles que são dependentes da sua leitura), ou falhas severas, como por exemplo, falhas de lubrificação (que, se não corrigidas rapidamente, podem ocasionar grandes prejuízos). Figura 1. RNA com camada de entrada, duas escondidas. Fonte: www.din.uem.br/ia/neurais/e uma de saída. As Redes Neurais Artificiais são modelos computacionais inspirados no sistema nervoso de seres vivos (Figura 2) que possuem a capacidade de aquisição e manutenção do conhecimento baseado em informações e que podem ser definidas como um conjunto de unidades de processamento, chamadas de neurônios artificiais (Figura 3), interligados por um grande número de interconexões (SILVA, et. al., 2010). A utilização de Inteligência Computacional é de grande valia em problemas nos quais não exista um modelo matemático já formalizado. Anteriormente denominada de Inteligência Artificial, é uma das ciências mais recentes, tendo surgido logo após a Segunda Guerra Mundial e tendo seu nome original cunhado em 1956 (GOLDSCHIMIDT, 2010, p. 7). Faz parte da taxonomia da Inteligência Computacional a Lógica Nebulosa, Redes Neurais, Computação Evolucionária e Inteligência Artificial (GOLDSCHIMIDT, 2010). Sistemas Inteligentes são programas computacionais que tentam resolver problemas de Figura 2: Neurônio biológico utilizado como inspiração. Fonte: http://www.infoescola.com/sistema-nervoso/neuronios/ 31 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 2. Metodologia 2.1 Equipamentos Neste trabalho, em termos de hardware, foram utilizados apenas um computador PC e um kit de desenvolvimento baseado em um microcontrolador. 2.2 Software Para o desenvolvimento da RNA, neste trabalho, foram utilizados o software MATLAB, o software o Visual Studio 2005 para conversão do código escrito em MATLAB para a linguagem C#, e ainda o software Windows Media Center, para comunicação do kit de desenvolvimento com o PC. Figura 3: Neurônio biológico artificial. Fonte: www.cerebromente.org.br/n05/tecnologia/rna.htm As RNA's atualmente têm sido empregadas com sucesso em várias aplicações, tais como reconhecimento de padrões, classificação de dados, controle, previsão, dentre outras. (HAYKIN, 2001). Para a aplicação estudada neste trabalho (detecção e diagnóstico de falhas), que se trata de um problema complexo e que necessita de um alto nível de abstração, foi escolhida a RNA do tipo Perceptron Múltiplas Camadas (PMC), ou Multilayer Perceptron (MLP). 2.3 Procedimentos Utilizando o simulador do motor elétrico de corrente contínua, foram simuladas cinco condições de operação, sendo uma normal e quatro de falhas. As falhas são: abertura da bobina de armadura, curto-circuito do conversor do campo, falha de lubrificação dos mancais e falha no sensor de velocidade. Três variáveis do motor foram utilizadas: tensão do campo, corrente da armadura e velocidade de rotação. Para cada condição de operação foram utilizadas 500 leituras (padrões). Do total, 2250 padrões foram utilizados para o treinamento da RNA e os outros 250 foram utilizados para validação. Sistemas Embarcados são sistemas computacionais desenvolvidos geralmente para uma aplicação específica e com garantia de funcionamento e suporte muito maior que Sistemas Computacionais de uso geral (OLIVEIRA, 2006). A fim de diminuir o tempo com o desenvolvimento de um hardware neste trabalho, optouse pela utilização de um kit de desenvolvimento baseado em um microcontrolador. O Kit Didático DevKit 8000 foi produzido pelo fabricante TIMLL (Figura 4) e conta com o microcontrolador OMAP3530 baseado na arquitetura ARM da Texas Instruments (TI). Esse conta ainda com uma Placa Aceleradora 2D e 3D, controlador de memória SDRAM, interface para câmera ISP, interface para LCD, dentre outros periféricos. Antes de a rede ser implementada em C#, foram realizados testes em MATLAB, visando estudar a sensibilidade na variação da quantidade de neurônios na camada escondida com a quantidade de épocas de treinamento. A partir dos resultados dos testes, determinou-se a arquitetura que melhor se adaptaria ao problema. Para cada condição foram realizados 30 testes e calculada a média no percentual de acertos após a validação. 3. Resultados e Discussão Para o problema de detecção e diagnóstico de falhas em motores elétricos de corrente contínua, foi feito um estudo e após a RNA implementada em MATLAB, foram analisados os resultados e a arquitetura que melhor se adaptou ao problema contém 11 neurônios na camada escondida e 5 na camada de saída. Com essa arquitetura foi obtido nos testes um percentual de acerto médio de 99% (Figura 5). Figura 4: Kit de Desenvolvimento. Fonte: o autor. Os testes iniciais do sistema de detecção e diagnóstico de falhas proposto neste trabalho foram feitos na plataforma PC e em ambiente MATLAB, sendo posteriormente programado na linguagem de programação C# e implementado no kit, onde foram avaliadas a sua eficiência e viabilidade. Para os testes, utilizaram-se dados gerados artificialmente a partir de um modelo de motor elétrico de corrente contínua. 32 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 Como proposta para trabalhos futuros, tem-se o melhoramento do algoritmo para o diagnóstico de novos tipos de falhas do motor, a fim de se tornar o sistema mais completo. E ainda, sugere-se a utilização de novas técnicas de Inteligência Computacional, e de sua aplicação em novos problemas de diagnóstico de falhas. Agradecimentos Ao Professor Maurílio José Inácio, orientador deste trabalho, ao Professor Renato Dourado Maia, à FACIT e à FAPEMIG. Figura 5: Resultado obtido nos testes do sistema de detecção e diagnóstico de falhas. Fonte: Acervo do autor. Os testes realizados neste trabalho demonstraram que, para a solução de um dado problema envolvendo RNA, análises devem ser feitas a fim de determinar a arquitetura da rede que melhor se adapta ao problema. Utilizar uma quantidade de neurônios em um número arbitrário pode representar em um erro menor no treinamento, mas em um erro muito grande na validação devido à rede não alcançar um nível de generalização satisfatório (overfitting) ou ainda, em outra situação indesejada, alcançar um nível de abstração do problema muito precário (underfitting). Referências Bibliográficas GOLDSCHIMIDT, Ronaldo Ribeiro. Uma Introdução à Inteligência Computacional: fundamentos, ferramentas e aplicações. HAYKIN, S. Redes Neurais: princípios e prática. Trad. Paulo Martins Engel. 2 ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. INÁCIO, Maurílio J., et al,. Aprendizado Participativo Aplicado à Detecção e Diagnóstico On-line de Falhas em Sistemas Dinâmicos – In: IX Congresso Brasileiro de Redes Neurais / Inteligência Computacional - CBRN, 2009, Ouro Preto. Anais do IX Congresso Brasileiro de Redes Neurais / Inteligência Computacional, 2009. No caso avaliado neste trabalho, a RNA com a melhor arquitetura encontrada nos testes e implementada no sistema embarcado apresentou uma eficiência e execução computacional satisfatória. OLIVEIRA, A. S.; ANDRADE, F. S. Sistemas Embarcados: hardware e firmware na prática. São Paulo: Editora Érica, 2006. 4. Considerações Finais A solução de problemas devido a falhas de equipamentos na indústria é de suma importância. Neste trabalho foi proposto um sistema de detecção e diagnóstico de falhas baseado no uso de RNA em sistemas embarcados com microcontrolador. O sistema implementado foi avaliado com um simulador de motor elétrico e mostrou-se eficiente e viável para aplicações praticas. REZENDE, S. O. Sistemas Inteligentes: fundamentos e aplicações. Barueri: Manole, 2005. SILVA, Ivan Numes da, et al,. Redes Neurais Artificiais: para engenharia e ciências aplicadas – São Paulo: Artliber, 2010. Abstract: This work is a case study on use of intelligent systems in embedded systems. From accomplished research, was chosen an artificial neural network for use in an embedded system based on microcontroller. The system developed was applied to faults detection and diagnosis in DC motors. The system was initially evaluated on PC with MATLAB programming environment and subsequently implemented on embedded system. The results obtained in the tests demonstrated the feasibility of the system for practical applications. Keywords: Computational Intelligence. Embedded Systems. Fault Detection and Diagnosis. Intelligent Systems. 33 34 ARTIGO REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UMA PLANTA DIDÁTICA PARA ENSINO DE ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DE NÍVEL, VAZÃO E TEMPERATURA EM CURSOS DE ENGENHARIA. Rodrigo Baleeiro Silva Professor da Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros – FACIT Resumo: A maioria das plantas didáticas existentes nos laboratórios das faculdades de engenharia, apesar de cumprirem com o seu propósito, apresentam limitações em suas simulações quando comparadas à realidade da prática industrial. Instrumentos como sensores, atuadores e transmissores desses equipamentos possuem configurações pré-definidas, e quase sempre se comportam como se os problemas de engenharia apresentassem soluções ideais. Neste sentido, o presente trabalho objetiva a concepção de um projeto de construção de uma planta didática que possibilite a implementação de práticas mais próximas da realidade. Para isso foram utilizadas estratégias de controle de nível, vazão e temperatura com instrumentos industriais e configurações livres para situações reais encontradas no dia-a-dia de trabalho de muitos engenheiros. Com o resultado desse estudo a faculdade poderá proporcionar aos futuros engenheiros condições de ensino e aprendizagem de experimentações diversas de comando e controle de nível, vazão e temperatura, alinhadas às demandas práticas da vivência profissional. Palavras-Chave: Ensino. Planta Didática. Nível. Vazão e Temperatura. possam proporcionar aos alunos e professores um complemento aos conteúdos ministrados nas unidades curriculares, verificando as aplicações próximas da realidade das indústrias. O presente trabalho teve como objetivo o projeto e construção de uma planta didática para ensino de estratégias de controle de nível, vazão e temperatura para ser utilizada no ensino das disciplinas Controle de Sistemas I e II, Instrumentação, Informática Industrial e Redes Industriais, dos cursos de Engenharia de Controle e Automação e de Engenharia da Computação. 1. Introdução O ensino de controle automático e instrumentação requer práticas de laboratório em que são demonstrados os conceitos trabalhados em sala de aula e sua aplicação na indústria. A esse respeito, os educadores carecem de se apropriar desses princípios, que se dão na medida em que amplia a consciência de uma práxis transformadora, que deve vir subsidiada pela ética profissional e pela autonomia sobre o seu saber-fazer. Tais princípios se referem ao tipo de identidade profissional que o educador vai construindo ao longo da sua trajetória de vida (GARRIDO, 1999). O objetivo da Planta Didática é demonstrar didaticamente a operação das diversas malhas de controle utilizando os mesmos equipamentos e ferramentas de configuração, em software, desenvolvidos para aplicação em controle industrial. Em um arranjo compacto, essa planta torna acessível aos instrutores e aprendizes todos os componentes desta malha, não sendo apenas uma estrutura para ser observada, mas também para ser manipulada. Na implementação destas malhas estão contidas as mesmas características e situações encontradas pelos profissionais de instrumentação com os recursos da alta tecnologia disponível no mercado.(SMAR, 2012,http://www.smar.com/ brasil2/products/pilot_plant3.asp Acesso em: 28 maio 2012). Dessa forma, o ato de ensinar requer o exercício constante da reflexão crítica sobre as práticas cotidianas docentes, sendo também necessário inserirem-se no processo de formação, a fim de aprimorar os conhecimentos, buscar novos saberes, apreender novas estratégias de ensino. Tais mecanismos que favorecem a tomada de consciência pelo próprio educador e são estreitamente complementares entre si. (PERRENOUD, 2001). O projeto prevê ainda a elaboração de documentos com todas as informações técnicas da planta e de um manual de instrução para uso nas aulas práticas no laboratório integrador da instituição. Neste contexto, a escola é o espaço social que tem como papel específico possibilitar ao aluno a apropriação de conhecimentos científicos, filosóficos, matemáticos dentre outros, sistematizados ao longo da história da humanidade, bem como a função de propiciar e estimular o desenvolvimento de habilidades e competências para a construção de um novo saber, que possam ajudá-lo a compreender as relações, como condição do seu processo de formação, e que transcorrem as entrelinhas das iniquidades sociais, tão atuais em nossa sociedade (ALBUQUERQUE & SOUKI, 2006). Segundo Freire (1996) “não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”. Isso indica que não cabe ao educador transmitir conteúdos acabados, mas sim, oportunizar ao discente para que ele possa construir e, também, apropriar de instrumentos necessários para se situar no mundo como sujeito plural dotado de valores e crenças. Neste sentido, compete ao educador apontar caminhos aos discentes, e a estes cabe como sujeitos do processo de ensinoaprendizagem, desenvolver os conhecimentos necessários a sua formação tanto pessoal como profissional. As práticas de laboratório, para atingirem seu objetivo, devem ser realizadas em plantas didáticas que 35 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 2. Metodologia Com o intuito de melhorar a qualidade das aulas práticas de laboratório da Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros, foi desenvolvido o projeto e construção de uma planta didática para ensino das estratégias de controle de nível, vazão e temperatura, com a orientação dos professores Mauro César Fonseca Cardoso e Renato Dourado Maia. O projeto foi dividido nas seguintes etapas: planejamento e projeto da estrutura física, especificação de atuadores, controladores e instrumentos de medição, orçamentos e aquisição de equipamentos, instalação dos equipamentos na estrutura física, configuração dos instrumentos de medição e do controlador, testes, estudo sobre as mais diversas estratégias de controle, planejamento de experimentos didáticos para ensino de instrumentação e controle e documentação da planta didática e dos experimentos didáticos desenvolvidos. Figura 1: Projeto da Planta didática em Autocad 2.2 Especificações de atuadores, controladores e instrumentos de medição 2.1 Planejamento e projeto da estrutura física da planta didática Foram realizados estudos e pesquisas de mercado considerando qualidade, durabilidade, preço e manutenção para a definição dos equipamentos a serem utilizados na planta. Foi realizado o planejamento didático para maior abrangência dos cursos e das disciplinas que utilizariam a planta nas aulas práticas de laboratório. O projeto inicial proposto foi composto de uma estrutura metálica móvel de 1,75m x 0,75m x 1,1m (comprimento/largura/altura), com dois pisos, responsável pelo suporte de todos os elementos do sistema. O piso inferior contendo o reservatório auxiliar TQ-01, com 100 litros, para fornecimento e depósito do fluido, uma bomba hidráulica centrífuga de 0,33 CV, quatro transmissores inteligentes (microprocessados, sendo três de pressão e um de temperatura) e dois painéis, e o piso superior contendo o reservatório principal TQ-02, com 41 litros, uma válvula esférica linear e o seu posicionador pneumático. 2.3 Construção da estrutura física / Instalação dos equipamentos na estrutura física A partir de desenhos da estrutura física e definições dos materiais a serem utilizados, deu-se início à construção da estrutura física da planta. Os dois tanques foram construídos em aço inox e a bancada em aço carbono. Sobre a estrutura física foram instalados os instrumentos. 2.4 Documentação de práticas realizáveis na planta didática e Manual Ao final do projeto, foi elaborada a documentação de todos os testes e práticas realizáveis na planta didática e o manual com a descrição de todos os equipamentos e suas utilidades para facilitar o uso dos mesmos pelos alunos e professores. Acoplados ao TQ-02, planejou-se a instalação de um sensor resistivo de temperatura PT-100 (3 fios), um rotâmetro conectado na entrada de fluido, um termômetro, o resistor espiral de aquecimento (diâmetro de 220mm) e seu circuito atuador, duas tomadas de pressão (para medição do nível), um orifício para entrada do fluido e outro para saída (válvula manual). Um painel com pinos-bananas, responsável por todas as ligações elétricas da planta, foi instalado na região superior esquerda do primeiro piso. 3. Resultados e Discussão O equipamento projetado consegue demonstrar didaticamente a operação de diversos componentes de controle, utilizando as mesmas ferramentas desenvolvidas para aplicação em controle industrial. No segundo piso, foi instalado outro painel com o CD600 e conversor estático e os circuitos de proteção de todo sistema. Após tais definições a estrutura metálica e elétrica foi desenhada (Figura 1) utilizando o software AUTOCAD. Além de melhorar a qualidade das aulas práticas e de permitir a imersão do aluno bolsista no processo completo da pesquisa, a construção de uma planta didática para a instituição também representou economia, uma vez que o valor de aquisição de uma planta pronta seria superior ao valor investido na construção de uma unidade 36 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 própria. Outra vantagem na construção da planta é a possibilidade de implementar uma diversidade maior de estratégias de controle, visando reproduzir as mais diversas situações encontradas nas indústrias. A planta didática mostrada na figura 2 possui outros diferenciais em relação à maioria das plantas “prontas”: permite a manipulação de três variáveis de processo, enquanto as demais são projetadas para controlar apenas uma ou duas variáveis, e, como toda instalação elétrica será em pinos-banana, permitirá a adição de outros controladores externos à planta, promovendo maior multidisciplinaridade ao projeto. Dessa forma, a planta projetada e construída, instalada no Laboratório Integrador do curso de Engenharia de Controle e Automação, permite ao estudante de engenharia estudos de controle e regulagem de nível, vazão e temperatura, simulando as operações que ocorrem na indústria. 4. Considerações Finais Algumas das aplicações didáticas que a planta oferece são: estudo do processo e dos componentes industriais utilizados; controle manual de processos, determinação das características de um sistema com malha aberta; determinação das características de um sistema com malha fechada com controle PID e o efeito das três ações de controle (proporcional, integral, derivativa); estudo da estabilidade do sistema em diversas condições e calibração em diferentes ações de controle; determinação das características do sistema de malha aberta com regulagem ON-OFF e os efeitos dos parâmetros de regulagem; estudo da resposta do sistema a distúrbios periódicos ou não periódicos de diversos tipos; demonstração do uso de um regulador local do tipo eletrônico com entrada por setpoint remoto. A figura 2 mostra o projeto da planta didática concluída. A planta didática representa um grande avanço para o desenvolvimento de diversas disciplinas dos cursos de engenharia, permitindo a integração entre disciplinas como Controladores Lógicos Programáveis, Acionamento, Instrumentação, Eletrônica de Potência e Controle de Processos. Os resultados obtidos no projeto mostraram satisfatórios, já que com a aplicação dessa Planta Didática no ensino da engenharia, os acadêmicos terão a oportunidade de se aproximarem ainda mais da sua futura realidade de trabalho. Referências bibliográficas ALBUQUERQUE, Cícera Maria Gomes e SOUKI, Fadhia Gonçalves El. A Prática Docente: o ensinar e aprender, 2006. FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. 8ª ed. Paz e Terra. Rio de Janeiro:1978. GARRIDO, Selma Pimenta. Saberes Pedagógicos e Atividades Docente. Cortez. São Paulo:1999. PERRENOUD, P. Formando Professores Profissionais: quais estratégias? quais competências?. Artmed. São Paulo: 2001. SMAR. Transmissor Inteligente (de Pressão e de Temperatura) LD301, TT301e o CD600. Manual de Instruções, Operação e Manutenção. Versão 5. Sertãozinho-SP, 2003. Figura 2: Foto da Planta didática SMAR, 2012. Disponivel em: <http://www.smar.com /brasil2/products/pilot_plant3.asp>. Acesso em: 28 maio 2012. Abstract: Most existing teaching plants in the laboratories of engineering colleges, despite complying with their purpose, have limitations in their simulations when compared to the reality of industrial practice. Instruments such as sensors, actuators and transmitters of these devices have default settings, and often behave as if the engineering problems presented optimal solutions. In this sense, the present work aims to design a project to build a plant for teaching that enables the implementation of practices closer to reality, for this, we used control strategies level, flow and temperature with industrial tools and settings for free real situations encountered in day-to-day work of many engineers. With the results of this study may provide college future engineers conditions for teaching and learning trials of various command and control level, temperature and flow, aligned to the practical demands of professional experience. Keywords: Teaching. Plant Didactics. Level. Flow and Temperature. 37 38 ARTIGO REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 SISTEMA EMBARCADO BASEADO EM HARDWARE LIVRE COM UTILIZAÇÃO DE COMPUTAÇÃO NAS NUVENS APLICADO NO MONITORAMENTO DE AMBIENTES 1 Maurílio José Inácio, 1Renato Dourado Maia, 1João Carneiro Netto, 2Heveraldo Rodrigues de Oliveira, 3 Thalis Antunes de Souza*, 3Felipe Túlio de Castro e 3Davidson Geraldo de Sousa Maria 1 Mestre em Engenharia Elétrica, Professor da Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros – FACIT , 2Mestre em Ciência da Computação, Professor da Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros – FACIT, 3Acadêmico do Curso de Engenharia da Computação da Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros – FACIT, *Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/FAPEMIG/FACIT. Resumo: Quando o ambiente é observado atentamente, torna-se possível enxergar o mundo de outra forma. Partindo desse principio, pode-se afirmar que no campo agrícola acontece o mesmo e, se o conhecimento sobre ele for aprofundado, faz-se plausível a ideia de otimizar o trabalho do agricultor e gerar conteúdo técnico para pesquisadores de órgãos ambientais. Esse artigo propõe um modelo de monitoramento de ambientes utilizando algumas tecnologias e serviços computacionais que, integrados, podem contribuir com a aquisição de informações do ambiente em que o sistema estiver localizado. A combinação da tecnologia embarcada de hardware livre com o serviço de armazenamento de dados baseado na nuvem pode tornar-se poderosa aliada no estudo da Natureza. Palavras-chave: Computação nas nuvens. Hardware Livre. Sistema embarcado. Monitoramento de ambientes. pelos sensores e pela comunicação com o servidor na nuvem, onde os dados são armazenados para análise posterior, conforme . 1. Introdução A aplicação da tecnologia de automação vem crescendo nos processos do campo agrícola, o que faz com que eles se tornem mais produtivos, desde que uma boa estratégia de gerenciamento seja utilizada. Com a crescente demanda por tecnologia na agricultura, especialmente no contexto do processo de irrigação, os sistemas passam a demandar ferramentas rápidas e de fácil utilização para gerenciar as informações. Tendo em vista que a manipulação de um campo agrícola consome tempo considerável, é válido otimizar a utilização desse, promovendo conforto, ganho de tempo e confiabilidade dos dados. De acordo com Cruz (2009), uma das melhores formas para se obterem boas avaliações sobre as condições do solo é por meio da utilização de um sistema de aquisição de dados. Seguindo essa ideia, hoje existem várias pesquisas com o intuito de utilizar a tecnologia a fim de maximizar a produção de alimentos, minimizando a área plantada e a degradação do meio ambiente, bem como o consumo de energia. A tecnologia é uma ótima ferramenta para essa gestão de recursos, tendo como base principalmente sensores que permitam converter dados correspondentes a grandezas analógicas para o formato digital. Figura 1: Estrutura do projeto. Fonte: o autor. O objetivo desse trabalho é propor um modelo de sistema de aquisição de dados e monitoramento do ambiente, utilizando algumas tecnologias computacionais que facilitem o registro e o armazenamento de dados. Para isto foi desenvolvida uma estrutura composta de um gateway, responsável pela aquisição dos dados fornecidos 2. Metodologia O projeto consiste em duas etapas principais: a montagem do hardware livre e o desenvolvimento da forma de conexão entre o hardware e o serviço de computação baseado na nuvem. 39 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 2.1 Módulo central de controle O módulo central de controle, apresentado na , é responsável por converter os dados analógicos coletados pelos sensores em dados digitais que, por sua vez, vão ser tratados e utilizados para o acionamento dos atuadores: válvulas e motores. Para que haja comunicação via Internet, esse módulo possui um componente Ethernet que é responsável pela comunicação utilizando os protocolos TCP/IP (do inglês Transmission Control Protocol / Internet Protocol) que são utilizados na transferência de dados pela Internet. Esse módulo é composto basicamente por um microcontrolador, uma interface Ethernet, uma interface de rádio frequência (RF), conexão para fonte de alimentação e bateria externa. Figura 3: Pinagem do microcontrolador ATMEGA328p. Fonte: http://www.atmel.com/Images/doc8161.pdf 2.1.2 Interface Ethernet A interface Ethernet utilizada é a W5100 da marca WIZnet, que tem como principais características a faixa de operação entre 3,3 e 5V, suporte de até 04 sockets simultâneos, compatibilidade com 10/100mbps de velocidade e suporte aos protocolos TCP/IP. O módulo Ethernet está apresentado na Figura 4. Figura 2: Módulo central de controle. Fonte: o autor. 2.1.1 Microcontrolador O microcontrolador utilizado foi o ATMEGA328p da Atmel, um componente de alto desempenho e baixo consumo de energia. O microcontrolador escolhido atende à necessidade de portas de entrada, saída e conversores analógicos digitais (A/D) para conexão dos sensores, atuadores e interfaces Ethernet e RF. A pinagem do processador pode ser observada na . O ATMEGA328p tem como principais características: arquitetura Reduced Instruction Set Computer (RISC), conjunto de 131 instruções, tensão de alimentação entre 1,8 e 5,5V, temperatura de operação entre -40ºC e 80ºC, seis canais Pulse-Width Modulation (PWM), barramento de dados de 8 bits, frequência de 20MHz, memória do programa de até 32KB e memória dos dados de 2KB. Figura 4: Interface Ethernet WIZnet W5100. Fonte: http://www.wiznet.co.kr/Admin_Root/UpLoad_Files/ ProductImgs/Dtl_1011_20101026200428.jpg. 2.2 Sensor de umidade e temperatura do ar Foi utilizado como sensor de temperatura e umidade do ar o componente eletrônico RHT03 da marca Maxdêtect, como mostra a , que tem como principais características a alimentação entre 3,3 e 6V, a capacidade de medição de temperaturas entre -40 e 80ºC com 40 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 precisão de +/- 0,5ºC, a medição de umidade entre 5 e 99% com precisão de +/- 2% e um tempo de resposta entre 6 e 20 segundos. Esse sensor envia os dados para o módulo central de controle através de dados digitais, não sendo necessária a conversão analógico-digital dos dados adquiridos. Figura 6: Conexão do sensor ao Arduino. Fonte: o autor. Tendo o circuito pronto, é necessário configurar o ambiente web da Cosm para que os dados do sensor sejam capturados. Para tanto, basta acessar o site da Cosm e fornecer as informações básicas. Com o cadastro efetuado, deve-se ir à página “My API Keys” para criar uma chave de acesso e um número de feeds que permitirá fazer o upload dos dados. Esses números são necessários quando for enviar os dados através do Arduino. Figura 5: Sensor de umidade e temperatura do ar. Fonte: o autor. 2.3 Cosm API O serviço baseado na nuvem da Cosm, conhecido antigamente como Pachube, é um serviço para gerenciamento de dados de sensores. De acordo com Charalampos Doukas (2012) o serviço de cloud computing, ou computação na nuvem, da Cosm provê uma API leve para envio de dados diretamente dos sensores e um ambiente web que permite a visualização dos dados em forma de gráficos. Por fim, um código criado por Tom Igoe, Usman Haque e Joe Saavedra em 2010 e atualizado por Thalis Antunes em 2012, denominado de “V2.ino”, é carregado no Arduino para conectar o dispositivo com a versão 2.0 da API do Cosm. Com o código é possível criar instâncias que acessem e controlem o sensor e a comunicação com a API. Cosm é uma plataforma que fornece conexão entre produtos e dispositivos de modo a prover controle, bem como o armazenamento de dados. Ela funciona tendo como alicerce um conceito idealizado em meados de 1980 no Massachusetts Institute of Technology (MIT), chamado Internet das Coisas (do inglês Internet of Things) que, segundo o portal Inovação Tecnológica, representa a interação dos objetos físicos por intermédio de uma simples conexão com a Internet. 3. Resultados e Discussão As e apresentam a interface gráfica fornecida pelo site da Cosm que possibilita ao usuário visualizar, em forma de gráfico, as informações alimentadas pelo módulo Arduino. Os resultados apresentados nessas figuras foram obtidos em testes realizados das 12 horas e 30 minutos do dia 18 de agosto de 2012 até as 13 horas do dia 19 de agosto de 2012. 2.4 Montagem do circuito, configuração do serviço e programação do Arduino Dois terminais do sensor RHT03 (sensor de temperatura e umidade do ar), identificados como VCC e GND podem ser alimentados com tensão entre 3.3 e 6 Volts: logo, são ligados nos terminais de 5V e de GND (conhecido como “terra”) do Arduino. O terceiro terminal fica encarregado de gerar as informações de temperatura e umidade, onde foi conectado na entrada A0 do Arduino, conforme . Figura 7: Gráfico de apresentação dos dados de temperatura do ar. Fonte: https://cosm.com/feeds/66879 41 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 O ambiente web, que faz o intermédio coma API do serviço na nuvem, possui ferramentas e recursos interessantes. Caso seja necessária mais flexibilidade no manuseio dos dados, eles são disponibilizados em três formatos: Javascript Object Notation (JSON), Extensible Markup Language (XML) e Comma-Separated Values (CSV), os quais podem ser utilizados como dados de entrada para um aplicativo. Figura 8: Gráfico de apresentação dos dados de umidade do ar. Fonte: https://cosm.com/feeds/66879 4. Considerações Finais Para a realização desses testes preliminares, a montagem do módulo central com os sensores e a conexão com a Internet foi feita em laboratório, com observação cuidadosa do ambiente em torno da construção e comunicação entre as tecnologias. Dentro desse ambiente, os resultados mostraram-se satisfatórios, apresentando uma boa estabilidade na conexão entre o dispositivo Arduino e o ambiente web da Cosm. A apresenta a janela de monitoramento da porta serial do ambiente de desenvolvimento do Arduino versão 1.0.1, onde se pode observar o recebimento dos valores da temperatura e da umidade adquiridos e tratados pelo Arduino através do sensor RHT03. A leitura e seu respectivo envio são feitos periodicamente a cada 20 segundos. Este trabalho consistiu no desenvolvimento e integração de um sistema embarcado de hardware livre com conceitos e serviços de computação na nuvem. O resultado dessa integração foi aplicado no problema de monitoramento de ambientes. Com os resultados obtidos nos testes realizados, verificou-se que o sistema alcançou o desempenho esperado e demonstrou-se que a ideia é viável para entrar em uma nova fase de testes em campo. Dessa forma, conclui-se que os objetivos do trabalho foram alcançados. Para a continuidade do projeto, propõe-se a realização de novos experimentos no sistema desenvolvido, colocando-o em um ambiente real e nãocontrolado. Utilizando os dados gerados por esses novos testes será possível comparar o desempenho desse modelo de sistema com os demais modelos existentes hoje para monitoramento de sensores. Agradecimentos Os autores agradecem primeiramente ao produtor rural Carlos Humberto Souza Mendes pelo seu apoio técnico e financeiro para o desenvolvimento do projeto. Também agradecem aos colegas da Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros e ao professor Júlio César Guedes Antunes, pela contribuição técnica no desenvolvimento deste trabalho. Figura 9: Valores de temperatura e umidade do ar que foram encontrados pelo sensor periodicamente. Fonte: o autor 42 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 Referências Bibliográficas CRUZ, Tadeu Macryne Lima. Estratégia de Monitoramento e Automação em Sistemas de Irrigação Utilizando Dispositivos de Comunicação em Redes de Sensores Sem Fio. UFCE, 2009. 84f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2009. Equipe Cosm. Portal de Serviços em Monitoramento e Armazenamento de Dados Baseado no Conceito da Internet das Coisas. Disponível em: <https://cosm.com/about_us> Acesso em: 08 ago. 2012. DOUKAS, C. Introducing Cosm as a Cloud Service. In: building internet of things with the Arduino, Lexington: 2012. p.[212]-269. Pachube Client: Código aberto. Versão 2. Disponível em: <http://arduino.cc/en/Tutorial/ PachubeClient?from=Tutorial.CosmClient > Acesso em: 08 ago. 2012. Abstract: When the environment is carefully observed, it becomes possible to see the world differently. Based on this principle, one can say that in the agricultural field the same thing happens and, if the knowledge about it is thorough, it is plausible the idea of optimizing the work of the farmer and generate technical content for researchers of environmental agencies. This article proposes a model of monitoring environments using some computational technologies and services that, integrated, may contribute to the acquisition of information from the place where the system is located. The combination of open source hardware embedded technology with a data storage service based on the cloud may become a powerful ally in the study of Nature. Keywords: Cloud Computing. Open Hardware. Embedded Systems. Monitoring environments. 43 44 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 ARTIGO DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE DE GERENCIAMENTO E CONTROLE DE VOLUME DE ÁGUA EM RESIDÊNCIAS 1 Renato Dourado Maia, 2Antônio Fábio Andrade Santos, 3Marcos Vinícius Oliveira* Lopes, 4Marla Núbia Santos Magalhães* e 4Lucas Souza de Queiroz 1 Mestre em Engenharia Elétrica, Professor da Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros – FACIT, 2Engenheiro de Controle e Automação – SAGA, 3Acadêmico do Curso de Engenharia de Produção – FACIT, Acadêmico de Curso de Engenharia de Controle e Automação – FACIT, *Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/FAPEMIG/FACIT Resumo: O objetivo deste projeto de pesquisa é oferecer ao mercado uma alternativa de medição individualizada de água visando à transparência e justiça na sua cobrança. Como resultado, espera-se uma redução do consumo, pois cada cliente pagará somente o que consome, estimulando-se, assim, o uso consciente. Com a população mundial crescendo a cada dia, os impactos da humanidade sobre os recursos naturais são evidentes. Nesse contexto, este trabalho aborda exatamente um desses recursos mais importantes, a água. Com a utilização da medição individualizada, cada residência conhecerá o volume consumido e pagará uma tarifa proporcional a esse consumo, podendo minimizar os desperdícios e perceber uma economia financeira real. Em virtude das grandes discussões mundiais sobre meio ambiente e sustentabilidade, desenvolver um software de controle e gerenciamento de água contribuirá para evitar o desperdício desse bem tão importante para a vida humana. Palavras-chave: Individualização. Água. Medição. Software. A utilização de um sistema individualizado de medição embarcado com softwares de controle e medição do volume de água permitirá análises mais precisas dos gastos, com a consequente detecção de pontos de vazamentos e até a identificação dos apartamentos que consomem ou desperdiçam água (GOMÊS, 2007). Isso tornará possível, inclusive, a realização de trabalhos de conscientização mais direcionados para que as pessoas utilizem a água de forma racional. 1. Introdução A água é um recurso natural de grande valor econômico, pois é indispensável para a vida humana. Com o crescimento populacional, o consumo desse recurso vem aumentando consideravelmente. A má utilização está provocando sua escassez e, em função disso, ocorrem conflitos e, por todo o planeta, há discussões que têm como objetivo amenizar a poluição das fontes e o desperdício. Como resultado dessas discussões, são propostas alternativas, simples ou tecnológicas, para a utilização mais consciente da água (CAVALCANTI, 1999). 2. Metodologia 2.1. Área de Estudo É possível observar com frequência o desperdício de água em edificações coletivas. Nesse contexto, o sistema coletivo de medição e distribuição em apartamentos é muito discutido, visto que constitui uma forma injusta de cobrança do volume que se consome por apartamento. Com esse modelo é difícil economizar e, ao mesmo tempo, pagar menos pelo consumo da água, pois fazer com que todas as pessoas do prédio procurem evitar o desperdício de água não é uma tarefa trivial. Como esse sistema não contribui para evitar a má utilização da água, a individualização da cobrança pela utilização do recurso se apresenta como uma definitiva solução, proporcionando ganhos significativos em economia e fazendo com que as pessoas se tornem mais conscientes em suas rotinas diárias, uma vez que, ao evitar o desperdício, o consumo será reduzido e, consequentemente, o valor cobrado na conta será significativamente menor. A pesquisa está sendo desenvolvida nos laboratórios da Fundação Educacional Montes Claros – FEMC, com o auxilio técnico das empresas Saga Medição e Ética Individualizadora e Administradora de Água em Condomínios. 2.2. Procedimento A metodologia adotada na pesquisa segue as três diretrizes básicas de desenvolvimento de projeto: concepção, protótipo e lote piloto. Na fase de concepção, foram levantadas todas as variáveis envolvidas na obtenção do resultado esperado. Algumas dessas variáveis estavam sob controle e outras precisaram de alguns ajustes para se adequar ao objetivo. Foi pesquisada a viabilidade e também a possibilidade de se obter sucesso com a implementação do método. Nessa fase de concepção é que foi descoberta a grande 45 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 possibilidade de se obter uma significativa economia de água aplicando-se as proposições do projeto. A Figura 1 ilustra a instalação hidráulica de uma edificação individualizada. fez o consumo ser reduzido, de acordo com um levantamento realizado sete meses após a individualização, para 94m³ por mês, ou seja, em pouco tempo chegou-se a uma economia de 67%. O gráfico apresentado na Figura 2 representa o volume de água consumido pelo condomínio citado no decorrer dos meses: pode-se notar que a proposta é funcional e pode garantir uma utilização mais consciente da água. Figura 2: Consumo de água no Conjunto Habitacional Jaraguá. Figura 1: Exemplo de hidrômetros instalados em um apartamento. A questão da economia da água está ligada ao comportamento das pessoas: sem a individualização, a utilização da água é coletiva e, portanto, a economia de cada um pouco reflete no pagamento do valor global, pois ao final é feita uma divisão do valor coletivo em quotas iguais; com a individualização, uma vez que cada apartamento fará o pagamento individual do seu consumo, as medidas de economia adotadas pelas pessoas terão reflexo direto no pagamento da água, o que fará com que a água seja consumida de forma mais consciente. O protótipo foi a fase mais técnica do projeto, na qual são estudados os aspectos de implementação do que foi identificado na fase de concepção. O protótipo está sendo elaborado e o sistema computacional está sendo desenvolvido a partir de um software de gerenciamento no qual é possível cadastrar os condomínios, apartamentos e medidores, além de gerenciar dinamicamente todos os dados referentes ao consumo, perfil, pagamentos, dentre outros. O protótipo está sendo desenvolvido e alguns ajustes estão sendo necessários para que a versão final esteja consolidada, de forma que seja o mais isenta possível de falhas. Pode-se perceber que, no Brasil, é raro encontrar um método automatizado de individualização do gerenciamento do volume de água em apartamentos em funcionamento, haja vista que a maioria dos meios de individualização existentes são manuais: são instalados hidrômetros em cada apartamento e a medição é efetuada com a visita de um responsável que coleta os dados e os armazena de maneira manual. Mesmo com esse método, percebe-se uma diminuição na utilização desse recurso e o aumento da consciência ambiental dos condôminos em preservar este bem tão especial e importante para a vida, a água. O lote piloto será a fase do projeto que se dará em sua fase de conclusão e será o momento de teste do protótipo. Nessa fase serão realizados os testes em campo do sistema e será feita uma observação do funcionamento em caráter contínuo. Após a finalização dessa fase, com todos os ajustes já realizados, o projeto inicial chega ao fim, com o seu objetivo alcançado. 3. Resultados e Discussão O software, programa de gerenciamento do volume de água em residências, pode sanar os problemas gerados pelo deslocamento de um colaborador para monitorar os hidrômetros e também permitir um maior controle dos gastos, com a possibilidade de gerar relatórios, promover um gerenciamento preciso do volume total de cada apartamento, além de outras possibilidades de integração, uma vez que os dados seriam coletados, transmitidos e armazenados sem a necessidade da O resultado esperado com o desenvolvimento deste projeto é a economia da água. Os resultados finais ainda não foram obtidos, pois o projeto está em fase de desenvolvimento, mas já se podem constatar alguns resultados parciais: os ganhos em economia são significativos, visto que a individualização da cobrança no Conjunto Habitacional Jaraguá A-2 Bloco 17 (São Paulo), que antes da individualização consumia 287m³ por mês, 46 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 intervenção humana, o que reduziria a probabilidade de ocorrência de falha. Secundariamente, o software será um detector de vazamentos e problemas na tubulação, evitando dessa forma desperdícios – tarefa que os métodos manuais convencionais dificilmente executam. Os autores agradecem à Fapemig, pelo apoio financeiro, à Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros e às empresas Saga Medição e Ética Individualizadora pelo suporte. 4. Considerações Finais Referências Bibliográficas Agradecimentos Os resultados, ainda que parciais, mostram que a individualização promove economia significativa no consumo da água em edificações coletivas. A individualização automatizada irá contribuir ainda mais para essa finalidade, uma vez que as informações a respeito do consumo da água estarão mais disponíveis e serão atualizadas de forma dinâmica. O Brasil possui uma condição muito favorável no que diz respeito à disponibilidade desse recurso natural. Entretanto, se o consumo não for racional, grandes dificuldades para obter água com qualidade poderão surgir no futuro. Essa iniciativa de buscar uma forma de minimizar os desperdícios e desenvolver uma consciência ambiental nas pessoas por meio de uma cobrança individual reflete diretamente nos hábitos de cada ser humano, que precisa ser lembrado com frequência sobre a importância de economizar água. CAVALCANTI, C.A. Medição Individualizada de Água em Apartamentos. Editora Comunicarte, Recife,1999. GOMES, P.L.; SANGOI,O.I.M. Avaliação da Submedição de Água em Edificações Residenciais Unifamiliares: o caso das unidades de interesse social localizadas em Campinas, no estado de São Paulo, 2007. Abstract: The objective of this research project is to offer the market an alternative to individ¬ual metering of water aiming at transparency and fairness in charging that, as a result, the con¬sumption economy, because each customer will pay only what it consumes, thus stimulating the conscious use. With the world population growing every day the impact of humanity on natural resources are evident and this methodology addresses exactly one of these most important re¬sources, water. Using this methodology each resident will know the volume consumed and will pay a rate proportional to this consumption, minimize waste and can realize real financial sav¬ings. Because, the big global discussions about the environment, develop software control and management of water contribute to not waste this good so important to human life. Keywords: Individualization. Water. Management, Software. 47 48 REVISÃO REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 HARDWARE EVOLUTIVO APLICAÇÕES EM PROBLEMAS DE ENGENHARIA 1 João Carneiro Netto e 2Carlos Valério Soares Brito* Mestre em Engenharia Elétrica, Professor da Faculdade de Ciência e Tecnologia-FACIT, Acadêmico do Curso de Engenharia de Computação da Faculdade de Ciência e Tecnologia-FACIT, *Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/FAPEMIG/FACIT 1 Resumo: Os sistemas envolvidos no desenvolvimento tecnológico atual tendem, cada vez mais, a exigir dos projetistas técnicas eficazes, tanto em nível de hardware como de software. O Hardware Evolutivo tem como base o uso de circuitos eletrônicos reconfiguráveis e algoritmos genéticos. Apesar de envolver uma área de pesquisa relativamente nova, tem atraído a atenção da comunidade científica de forma a intensificar o seu estudo, buscando aplicar essa idéia na resolução de problemas e na inovação de soluções tecnológicas. Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica das bases que definem o EHW e da situação atual das pesquisas relacionadas a este, bem como dá margem a possíveis aplicações a serem feitas a partir de então e expõe as expectativas para a utilidade dessas aplicações. Palavras-chave: Hardware Evolutivo. Algoritmos Genéticos. Circuitos Eletrônicos Reconfiguráveis. 1. Introdução 2. Hardware Evolutivo A adaptação é certamente a chave que possibilitou a sobrevivência de organismos vivos na Terra por milhões de anos. Essa característica presente na natureza tem sido durante os últimos tempos, objetivo de estudo de cientistas da computação, a fim de dominar o que é chamada computação evolutiva. 2.1 Descrição e desenvolvimento Hardware Evolutivo, segundo conceito introduzido por De Garis (1991), é o uso da Computação Evolutiva para síntese e implementação de circuitos eletrônicos (geralmente em aplicações envolvendo evolução em chips reconfiguráveis) capazes de resolver problemas do mundo real. No que se refere à evolução artificial existem duas formas de aplicá-la ao Hardware Evolutivo: extrínseca e intrínseca. Conforme Thompson (1995), na evolução extrínseca o algoritmo produz uma configuração baseada na avaliação por simulação em software do hardware reconfigurável, sendo que somente a configuração final é transferida para o hardware real. Na evolução intrínseca, cada configuração nova gerada pelo algoritmo evolucionário é transferida para o hardware real, onde é avaliada em sua execução. O segundo método permite que as restrições impostas pelo hardware possam ser superadas automaticamente e que todas as suas características possam ser avaliadas na resolução do problema, logo esse método se demonstra mais eficaz que o primeiro. A essência da idéia, portanto, é buscar inspiração nos processos naturais e aplicá-los na área da computação. Essa busca tem produzido técnicas de programação, como Algoritmos Evolutivos, para atuarem juntamente com circuitos integrados reconfiguráveis, como os FPGAs2. O Hardware Evolutivo consiste em integrar a característica de evolução dos seres vivos em prol da tecnologia, através do uso de algoritmos que imitam os processos de reprodução, mutação, recombinação e seleção entre outros, até que o sistema alcance uma estrutura que satisfaça as especificações previamente estabelecidas. Este artigo aborda a área de Hardware Evolutivo (Evolvable Hardware – EHW), com o emprego de algoritmos genéticos como técnica evolutiva. Em resumo, nas palavras de Thompson (1995), “Hardware Evolutivo é um circuito eletrônico reconfigurável que pode ser alterado por um processo adaptativo como um algoritmo genético”. Por volta de 1980, foram usadas técnicas evolutivas para otimização e roteamento de componentes em placas de circuito impresso (Heicken e König, 1980). Em Louis e Rawlis (1991), foram utilizados Algoritmos Evolutivos para interligar portas digitais que poderiam resolver um problema específico, tal como uma função de paridade. Com o surgimento dos FPGAs em 1990, circuitos mais complexos puderam ser evoluídos, tendência impulsionada pela empresa Xilinx, fabricante de FPGAs, que introduziu a Unidade de Processamento Reconfigurável, viabilizando a capacidade de 2 Field Programmable Gates Arrays - são dispositivos que consistem de uma matriz de blocos lógicos, formada por blocos de entrada e saída, e conectada por fios de interconexão, onde todos esses itens são reconfiguráveis. 49 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 interconectar células em nível de porta arbitrariamente com muitas topologias flexíveis. No final da década de 1990, aplicações reais para EHW foram criadas, tais como: rede neural em chip capaz de reconfiguração autônoma, chip analógico para celulares, chip para compressão de dados em uma impressora fotográfica( Higuchi et al, Levy et al, 2000) entre outros. posicionamento e roteamento, quando é feita a atribuição de componentes particulares do circuito integrado aos componentes lógicos do projeto. No roteamento é realizada a atribuição de trilhas e elementos programáveis, utilizando dos recursos de interconexão disponíveis para comunicação entre os componentes. Continuando o processo, geralmente são feitos, com uso de simuladores, a verificação e teste na fase inicial do projeto e na fase de configuração do dispositivo. Finalmente é gerado um arquivo de configuração que será gravado e carregado no dispositivo alvo. Devido à ampla gama de aplicações que os FPGAs proporcionam graças a sua arquitetura flexível e mais avançada, eles são considerados os mais importantes circuitos integrados reconfiguráveis. Em Higuchi et al (1994), foi proposta uma arquitetura de Hardware Evolutivo e descrita uma série de experimentos como um multiplexador, contador binário e uma máquina de estados finita. Em Higuchi et al (1996), circuitos digitais foram evoluídos para reconhecimento de padrões e foi confirmado através do Exclusive-or Problem, que EHW pode reconhecer padrões de funções não-lineares separáveis. Em 1996, Thompson evoluiu intrinsecamente um circuito em um FPGA. Esse experimento, publicado em Thompson (1996), é um marco histórico na área e impulsionou o desenrolar dos estudos sobre o Hardware Evolutivo. 2.3 Algoritmos Evolutivos Segundo Zebulum, et al (2002), desde os anos 40, cientistas da computação buscam utilizar mecanismos naturais como metáforas para problemas de caráter computacional, como exemplo muito popular podemos citar as redes neurais artificiais. No final dos anos 50, cientistas começaram a desenvolver novos modelos para a computação, com a mesma essência de se basear no comportamento natural dos organismos vivos. Esses novos modelos inicialmente possuíam os problemas de otimização como principal aplicação. Com o tempo, surgiram algoritmos que, baseados em princípios similares, constituíam poderosas ferramentas que foram aplicadas em uma ampla variedade de problemas, as quais foram denominadas Algoritmos Evolucionários. 2.2 Circuitos integrados Reconfiguráveis Os PDLs3 foram introduzidos no mercado nas últimas décadas com o diferencial de não possuírem uma configuração interna padrão, dando ao seu projetista a liberdade de moldar a programação utilizada de acordo com o seu desejo e necessidade. No âmbito que envolve o Hardware Evolutivo, existe uma família de dispositivos lógicos programáveis conhecidos como os HCPLDs , esses englobam os dispositivos CPLDs e os FPGAs. Os FPGAs são ferramentas com características altamente compatíveis com os conceitos e propostas do Hardware Evolutivo. Os projetos possuem uma entrada, geralmente implementada em uma linguagem de descrição de hardware HDL (Hardware Description Language). A entrada também pode ser descrita como um diagrama esquemático com uma ferramenta gráfica de projeto assistido por computador, substituindo a programação comum em texto. Segundo Costa (2006), a fase de desenvolvimento desses projetos identifica diversas etapas. Primeiramente é realizada uma otimização das expressões booleanas e o mapeamento, em que as equações são convertidas em células da biblioteca da tecnologia usada. As próximas etapas envolvem o 4 5 A ideia de aplicar o princípio biológico da evolução natural para sistemas artificiais foi assim continuamente se tornando mais consistente, e sob essa perspectiva, novos campos que propunham a união entre a ciência computacional e processos naturais ganharam olhares atentos. Usualmente agrupados sobre o termo Algoritmos Evolucionários (evolutionary algorithms – Eas), encontramos os domínios dos algoritmos genéticos, estratégias de evolução, programação evolutiva e programação genética. Um desses domínios, que envolve os algoritmos genéticos, é considerado um exemplo genérico no desenvolvimento da evolução artificial. A busca pela aplicação dos melhores padrões de regras e métodos, e modelar algoritmos para obter os melhores resultados possíveis na busca por uma solução qualquer, é considerada uma arte por muitos. 3 Programmable Logic Devices - São dispositivos semicondutores que podem ser programados para executar uma funcionalidade específica. 4 High Complex Progammable Logic Devices - Dispositivos de alta capacidade que tipicamente contém mais de 600 portas lógicas; os mais modernos atingem mais de 250.000 portas. A essência dos algoritmos genéticos está na repetição de determinados procedimentos em uma população de tamanho constante de indivíduos, que 5 Complex Progammable Logic Devices - São dispositivos programáveis e reprogramáveis constituídos por células capazes de realizar uma função lógica universal de n-variáveis( multiplex, memória, array ANDOR, etc.). 50 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 representam possíveis soluções para o problema. Esses procedimentos são nada mais do que instruções que representam os processos naturais que sujeitam organismos vivos a evoluírem. Logo um algoritmo genético irá simular essas condições naturais de forma adaptada para determinado problema representado no algoritmo, e com o uso de processos como mutação, cruzamento e seleção, aliados a definições de instruções paralelas que melhoram a eficiência da busca por um resultado ótimo, efetuará o treinamento da população até que um fator preestabelecido seja satisfeito. Comparando aos outros EAs, segundo Soares (1997), os algoritmos genéticos vêm ganhando popularidade, estando presentes em diversos trabalhos de pesquisadores em aplicações variadas e áreas diferentes como síntese de circuitos analógicos, síntese de protocolos, gerenciamento de redes, problemas de otimização complexos e autômatos auto-programáveis. O sucesso da aplicação desses algoritmos em problemas de otimização pode ser explicado através da análise de algumas características típicas desse grupo de Algoritmos Evolucionários. Ao contrário dos outros domínios de EAs, que controlam as variáveis diretamente, os algoritmos genéticos utilizam da manipulação de código, explorando a semelhança entre boas soluções através da sua codificação. Como a procura pelo melhor resultado é feita a partir de uma população de pontos, a probabilidade de cair numa solução local se reduz. Algoritmos genéticos usam operadores estocásticos e não regras determinísticas, ou seja, os operadores genéticos agem baseados em uma probabilidade, não com regras definidas. Devido os algoritmos genéticos geralmente tratarem de um grande número de variáveis, populações elevadas, e um alto número de gerações para cobertura do espaço de soluções, esses possuem um custo computacional alto, que é uma desvantagem. controle e locomoção de um robô bípede e outro para restauração da mobilidade de um robô quadrúpede. • O projeto de arquiteturas reconfiguráveis abrange uma ampla gama de aplicações. Em Temperature- Adaptative Circuits on Reconfirurable Alalog Arrays (Stoica, et. Al, 2007), os autores apresentam uma nova arquitetura reconfigurável, denominada de Reconfigurable Alanog Array (RAA) e um circuito integrado. Esse foi utilizado para mapear um circuito analógico que se adapta a temperaturas extremas. Uma adaptação direcionada por evolução foi realizada em um circuito integrado RAA, guiado por um algoritmo genético implementado em um FPGA colocado com o RAA em temperaturas extremas. O experimento demonstrou a adaptação do circuito sobre uma grande faixa de temperaturas desde 180ºC até 120ºC. • A NASA (National Aeronautics and Space Administration) vem empregando o desenvolvimento de sistemas baseados em FGPAs para reparação e reconfiguração de circuitos que sofreram danos. As reparações são realizadas automaticamente e são de grande importância na exploração espacial que necessita de um mecanismo eficiente que proteja os circuitos eletrônicos de impactos de partículas de alta energia. A NASA também vem explorando o uso de sistemas evolutivos, com o uso de algoritmos que possam projetar e otimizar sistemas sem que seja especificado exatamente como fazer isso. • Outra bem-sucedida aplicação no emprego de técnicas evolutivas está na otimização de parâmetros, como em Parameter Optimization of an On-chip Voltage Reference Circuit using Evolutionary Programming (Nam,et. al, 2001). Neste trabalho os autores utilizam da programação evolucionária aplicada à otimização de parâmetros de projeto de um circuito regulador de tensão. A determinação de parâmetros no projeto de um circuito exige do projetista a atenção para muitos fatores simultaneamente. Quanto mais preciso for o circuito requerido, mais complexa se torna a otimização dos parâmetros. A programação evolucionária foi então utilizada como método efetivo de encontrar bons valores de parâmetros para os elementos de um circuito regulador de tensão para o uso em circuitos integrados VLSI (Very large Scale integration) de memórias SRAM (Static Random Access Memory) e DRAM (Dynamic Random Access Memory). Os resultados das simulações provaram que esse método fornece boa performance e pode ser usado como método efetivo para projeto de circuitos. 3. Aplicações Aplicações do uso de técnicas evolutivas na tecnologia já foram criadas. Seguem alguns exemplos: • O EHW vem sido usado no projeto de redes neurais com capacidade para reconfiguração autônoma. Em (Berenson, Estévez e lipson, 2005), por exemplo, os autores apresentam um método para evoluir e implementar redes neurais artificiais em FPAA, dispositivos que possuem características desejáveis em aplicações espaciais, pois oferecem pequeno espaço e baixo consumo. Foram evoluídos controladores efetivos para várias diferentes morfologias de robôs, e demonstrou-se eficácia na evolução de controladores baseados em redes neurais: um para 6 Field Programmable Analog Arrays - Circuitos programáveis analógicos que devido as suas características permitem que também sejam empregados em aplicações de Hardware Evolutivo. 51 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 • Técnicas evolutivas vem sendo usadas na otimização global de circuitos complexos como demonstrado em A Hybrid Evolutionary Programming Method for Circuit Optimization (Damavandi, 2005). O algoritmo de programação evolucionária gera uma população em torno de regiões do espaço de busca que podem conter um mínimo, mas com sobreposição. O algoritmo de clusterização foi usado para identificar essas regiões dinamicamente. De forma a aumentar a velocidade de otimização, a programação evolucionária foi combinada com um eficiente método de busca baseado em gradiente. A busca local é realizada do centro de cada cluster identificado de forma a encontrar o mínimo da região rapidamente. O algoritmo híbrido também pode reduzir o espaço de busca por evitar áreas que já haviam sido identificadas, o que aumenta a velocidade de otimização e prevê a convergência prematura. O algoritmo obteve boa performance em vários problemas de benchmark, incluindo uma minimização de uma função teste e otimização global de um diplexer de RF (radiofrequência) complexo. Referências Bibliográficas CASILLO, L. A. Projeto e Implementação em FPGA de Um Processador com Conjunto de Instrução Reconfigurável Utilizando VHDL. Disponível em: <ftp://ftp.ufrn.br/pub/biblioteca /ext/bdtd/LeonardoAC.pdf> DEHON, André; HAUCK, Scott. Reconfigurable Computing. Ed. Elsevier Inc, 2008. 908p, il. FERRARI, A. B. F; SKLIAROVA, I. S. Introdução a Computação Reconfigurável. Disponível em: <http://www.ieeta.pt/~iouliia/Papers/2003/1_SF_ET Set2003.pdf> INÁCIO, MAURÍLIO; FACULDADE DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MONTES CLAROS. Controlador de Robô Baseado em Hardware Evolutivo, 2007. 71p. Projeto de Graduação. INÁCIO, MAURÍLIO; UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Programação Evolucionária Aplicada em Hardware Evolutivo. Belo Horizonte, Dezembro de 2007. 36p. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica – PPGEE. MIRANDA, M. N. M. Algoritmos Genéticos: fundamentos e aplicações. Disponível em: http://www.nce.ufrj.br/GINAPE/VIDA/alggenet.htm 4. Considerações Finais O Hardware Evolutivo tem demonstrado ser um ramo promissor, e as expectativas, até então, são que ele possa ser cada vez mais utilizado no controle de falhas em sistemas, detecção e reparação de erros ou danos para a indústria eletrônica, por exemplo. Na exploração espacial essa área tem atraído grande atenção e com certeza métodos que exploram o Hardware Evolutivo serão cada vez mais utilizados dadas as possibilidades de se criarem sistemas adaptativos. Os desafios a serem superados para a exploração de novas utilidades e melhoramento do Hardware Evolutivo em aplicações reais ainda existem. Contudo esse é um caminho que vale a pena ser percorrido, se analisarmos os resultados obtidos até hoje. OLIVEIRA, J. R. de O; JUNGBECK, M. J; CAMPOS, T. J de C. Programação Genética Aplicada ao Desenvolvimento de Hardware Evolutivo. Disponível em: <http://www.lti.pcs.usp.br/robotics /grva/ publicacoes/outras/cba2004-cdrom/cba2004/pdf/1279.pdf> SILVA, B. de A. S.; TOLEDO, C. F. M. T; LACERDA, W. S. L. Síntese de Circuitos Digitais Utilizando Computação Evolutiva. Disponível em: <http://www.labplan.ufsc.br/congressos/CBA2010/Art igos/65847_1.pdf> TORTATO, J. T. J; LOPES, H. S. L.; KUGLER, M. K. Desenvolvimento de Uma Rede Neural LVQ em Linguagem VHDL Para Aplicação em Tempo-Real. Disponível em: http://tupi.elcom.nitech.ac.jp /publications/cbrn2003_mauricio_kugler.pdf Abstract: The systems involved in technological development today are increasingly demanding designers of effective techniques both in hardware and software. The Evolvable Hardware is based on the use of reconfigurable electronic circuits and genetic algorithms. Although involving a relatively new area of research, has attracted the attention of the scientific community in order to intensify its study, seeking to apply this idea in problem solving and innovation of technological solutions. This article presents a literature review of the bases that define the EHW and the current status of research related to this, and gives rise to possible applications to be made thereafter and outlines expectations for the usefulness of these applications. Keywords: Evolvable Hardware. Genetic Algorithms. Reconfigurable Electronic Circuits. 52 GERAL REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 COMPUTAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: DESENVOLVIMENTO DE UM JOGO DIGITAL EM DEFESA DO MEIO AMBIENTE Fellipe Gomes Versiani Acadêmico do Curso de Engenharia de Computação da Faculdade de Ciência e Tecnologia - FACIT Resumo: O veloz desenvolvimento tecnológico da sociedade implicou em um abalo à harmonia ambiental, sendo os impactos negativos notados e enfatizados apenas no final da década de 80, fixando-se o conceito de sustentabilidade no contexto social. No entanto, é possível por meio de aperfeiçoamento de técnicas computacionais, produzir alternativas para soluções de problemas ambientais em prol da sustentabilidade. Uma dessas técnicas surgiram de mainframes em bases militares, técnicas de programação aplicadas para desenvolvimento de jogos digitais. Aliada aos jogos digitas, a cultura sustentável pode-se arraigar de forma consistente, sobremaneira, quando destinadas às novas gerações. Visando minimizar impactos negativos provocados pela globalização, foi desenvolvido um jogo digital através de técnicas computacionais direcionadas para a Geração Z. Jogos são ferramentas lúdicas que se moldam às necessidades da geração em questão, tornando divertido o aprendizado. Para analisar a efetividade desse projeto, em se tratando de introduzir uma cultura sobre a importância da conservação do meio ambiente, foram realizadas observações, analisando o grau de imersão e satisfação de seus jogadores. Palavras-chave: Geração Z, Jogos Digitais Educativos, Sustentabilidade. área da psicopedagogia. Congressos, seminários e diferentes pesquisas científicas são realizados acerca do tema, estimulando novos conceitos e soluções para os desafios emergentes. 1. Introdução A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, na Inglaterra, provocou a substituição de trabalhadores por máquinas. Com isso, acelerou o processo produtivo, propiciando maior circulação de riquezas, aquecendo a economia e gerando grande transformação no meio ambiente. 1.1 Nova Geração Há uma gama de expressões designadas para se referir a jovens e crianças nascidos desde 1995: Geração Z, Geração Milênio e Geração Net. Ainda que se possa ter uma diferença sutil dessa conceituação entre países, seja por motivos culturais, seja por acontecimentos históricos, em se tratando de exercer um sistema educativo eficaz por meio de tecnologia, a análise geracional fornece hipóteses e desenvolve estratégias para que se aproveite o máximo da nova geração em prol da sustentabilidade. Como alternativa para contornar o problema da degradação ambiental, numa postura voltada à sustentabilidade, cita-se, por exemplo, emprego de tecnologias que possam inibir ou amenizar os efeitos nocivos à natureza, sobretudo tecnologias que possam conscientizar as pessoas em defesa do meio ambiente. Será que profissionais da computação podem fazer uso das diversas técnicas computacionais, como de jogos digitais, para auxiliar a introdução de um paradigma cultural em defesa do meio ambiente, partindo do ambiente escolar e comunitário? Ensejando utilizar-se dos benefícios dos jogos digitais no processo educativo, isto é, no desenvolvimento cognitivo, social e afetivo das crianças (PIAGET apud MOITA, 2007), aproveitando o impacto influenciador de tal tecnologia para a nova geração, este artigo pretende contribuir para formulação de soluções referentes ao desafio de implantar uma cultura pautada no desenvolvimento sustentável, através da educação escolar e comunitária. Em uma pesquisa concluída pela Target Group Index, em 2010, indica-se que há uma progressão positiva, quando se diz respeito à proteção ao meio ambiente. Nessa pesquisa, em 2001, 47% da Geração Z entrevistada afirmaram ter interesse com a proteção ao meio ambiente, enquanto em 2010, 81% concordaram que proteger o meio ambiente é importante. Comprovando também a facilidade com equipamentos tecnológicos, a pesquisa salienta que mais de 50% dessa geração possuem videogames, além do fato de que, para essa geração, o celular e internet são tecnologias indispensáveis para o cotidiano (SAWAIA, 2011). Trabalhar a favor de um aprendizado diferente das escolas tradicionais, a exemplo, por meio de jogos digitais educativos, faz-se necessário preencher lacunas, resultantes de dúvidas do conjugar conhecimentos da área de Engenharia de Computação e afins, às sabedorias da Para lidar com a nova geração, segundo a psicóloga Paula Pessoa Carvalho, é necessário que educadores criem dinamismo e criatividade, repelindo os métodos tradicionais de ensino, que são pouco produtivos, pois demonstram incapazes de despertar o 53 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 principalmente, disponibilizar um crescimento empresarial aos seus funcionários. Gamification é uma maneira de fazer com que coisas entediantes possam se tornar divertidas, através de jogos digitais. A International Business Manchines, IBM, exemplo, há duas décadas já utiliza tal processo em treinamento empresarial (YURI et al., 2011). total interesse dessa geração. Em conformidade, diante do estudo do Comitê de Promoção da Indústria de Desenvolvimento de Jogos Eletrônicos no Brasil, organizado pela Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames), em 2004, os jogos digitais foram tidos como boas ferramentas educativas, de alto potencial, haja vista que criam ambientes construtivos participativos para os usuários, diferentemente de ambientes passivos, como num filme ou música (CARVALHO et al., 2004). A informática na educação no ensino educativo atual é minimamente aproveitada e consequentemente pouco se explora dos demais sentidos das crianças, uma vez que essas apenas escutam e escrevem, agindo o tempo todo de forma passiva, e não como sujeitos do processo educativo, tal qual sugere a melhor metodologia e didática. Os Jogos educativos mesclados à educação poderão aumentar o potencial de aprendizado, de forma implícita e não forçada. Chamado de aprendizado tangencial (MATTAR, 2010), acredita-se que o ensino baseado em estratégias indiretas de aprendizagem são mais eficientes. Entretanto, a educação não acompanha a tecnologia como o deveria. O inverso também ocorre, poucos profissionais de computação preocupam-se com questões educacionais. Isso talvez se explica devido à dificuldade de alguns professores em lidar com materiais lúdicos; pouca influência da tecnologia na grade curricular de cursos de licenciatura; escassez de interesse dos profissionais da computação no desenvolvimento de softwares educativos eficientes, tanto para o aluno, quanto para o seu tutor; falta de estrutura e valorização na área pedagógica e de tantos outros desafios que devem ser superados, a fim de uma maior compatibilidade entre o ensino e a nova geração. 2. Metodologia 2.1 Desenvolvimento de jogo ambiental e educativo Na tentativa de testar o que se fundamentou nesse estudo, desenvolveu-se um jogo educativo, voltado para a educação ambiental no âmbito do ensino fundamental nas redes pública e privada. O mencionado jogo digital foi apresentado no evento X da Semana da Engenharia da Instituição de Ensino Superior Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros (FACIT). Na oportunidade, em visitação ao evento testaram o software, em média, 20 crianças e jovens com idades entre 4 e 15 anos. Na tese de que novas tecnologias em salas de aula estimulam e despertam na Geração Z o interesse pelo aprendizado, deveriam os profissionais da computação e educadores, o quanto antes, trabalharem a favor de um enlace entre tecnologia e educação que permita um aperfeiçoamento na estrutura do ensino atual. 1.2. Informática na educação: jogos digitais educativos Diversas conjecturas se completam e intensificam a potencialidade dos jogos aplicados à educação, como: edutainmen e, gamification. 2.2 Equipamentos Antes de tudo foi necessário um computador que atendesse os pré-requisitos dos softwares e ferramentas de auxílio para o desenvolvimento do game, como: sistema operacional: Windows 7 Home Basic; compilador: MinGW 4.5.2; linguagem de programação: C/C++; linguagem de marcação: XML; bibliotecas: Allegro 4.4.2, AllegroFont 2.0.5, AllegroPNG 1.2 e TinyXML 2.3.4; Integrated Development Environment (IDE): Dev-C++ 4.9.9.2 e Code Blocks 10.05; editor de mapa: Tiled 0.6.2; editor de texto: Notepad++ 5.9; editor de imagens: Paint.NET 3.5.8; compactador de imagens: OptiPNG 0.6.5. Nomeado como edutainment, o entretenimento educativo, não pode ser confundido com técnicas específicas para recreação dos alunos em escolas. Essa arte, e possivelmente, um futuro nicho profissional, otimiza a curva de aprendizado para um crescimento profissional em diferentes contextos: empreendedorismo, estratégias militares, cirurgias médicas e manuais complexos. Embora, numa visão pessimista, possa causar uma diferença grande entre as classes econômicas, uma vez que a aquisição de tecnologias não está disponível a toda sociedade, beneficiando somente uma classe mais privilegiada economicamente. Renomadas empresas e organizações, cada vez mais, adotam um processo chamado de gamification como estratégia, a fim de superar metas de vendas, mas 54 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 2.3 Procedimentos ticks” é um método usado para estabilizar a velocidade de processamento do software, mesmo que em computadores de diferentes poder de processamento. Foi traçado um plano de desenvolvimento do game antes de fazer a sua implementação, o game design document. Foi feito um registro de como os cenários gráficos estariam dispostos na tela, quais figuras seriam utilizadas, como seria seu enredo, quais seriam os softwares de apoio a serem utilizados, dentre outros. Uma classe de timers também foi utilizada, para auxiliar no desenvolvimento dos desafios impostos nos mini-games dentro do jogo desenvolvido. Além disso, várias rotinas de mouse e teclado também foram manipuladas, para maior interação entre o usuário e o game. Certos efeitos, como fade in e fade out (que fazem imagens, respectivamente, surgirem e desaparecerem lentamente da tela) foram empregados para proporcionar um jogo mais realista e profissional, bem como a simulação de chuva, utilizando primitivas gráficas. Escrevendo em linguagem de programação C/C++, o código-fonte foi compilado com auxílio de um dos compiladores do MinGW. Para desenvolvê-lo foi instalado no sistema operacional corrente, Windows 7, a IDE Code Blocks, utilizada a maior fatia de tempo. O primeiro passo após instalação e configuração do compilador na IDE foi instalar o devpak allegro com um plugin do Code Blocks e fazer o seu processo de linkagem. Esses procedimentos foram repetidos para instalação das demais bibliotecas: AllegroFont, AllegroPNG e TinyXML. Após a programação do jogo, uma ferramenta de compactação de imagens foi utilizada, através do prompt de comandos, chamada OptiPNG, gerando assim, um melhor desempenho no jogo. Por fim, testes de detecção de erro foram realizados, visando não comprometer a qualidade de imersão dos jogadores. Após, um planejamento foi elaborado para controle de versões, tendo em vista a importância de prevenir erros advindos ao longo do desenvolvimento do programa. A padronização das variáveis feita no game foi consequentemente implementada, pois também é considerada uma boa prática de programação. Conforme o desenvolvimento do programa tornou-se viável a modularização do código-fonte. Essa seguimentação otimizou o desenvolvimento do jogo, uma vez que facilitou a identificação de trechos importantes do código, por exemplo, do tratamento de colisões entre personagem e objetos e características específicas dos cenários do jogo. Todos esses métodos citados, bem como comentários feitos no software e a organização de seus arquivos, auxiliaram o desenvolvimento ágil do projeto. 3. Resultados e Discussão Percebeu-se, nesta pequena apresentação ocorrida na segunda semana de Junho de 2011 (figura 01 e 02), que os jogadores aparentaram alto interesse e concentração durante os desafios impostos pelo jogo (figura 03), proporcionando um aprendizado tangencial (MATTAR, 2010) relativo à proteção ambiental. O software se mostrou uma interessante ferramenta lúdica voltada para educação ambiental. Acredita-se que, se utilizado como material complementar em salas de aula ou extraclasse, contribuirá para que seus usuários adotem atitudes compatíveis com o desenvolvimento sustentável, melhorando seu desempenho como cidadãos educados ecologicamente. Feita a edição com o Paint.NET para criação dos chipsets do game, esses foram importados para o software de edição de mapas 2D, o Tiled, a fim de desenhar o cenário do game e exportar o cenário no formato XML para se interagir diretamente com o software. O Notepad++ foi utilizado especificamente para interpretação desse arquivo XML, gerado pelo Tiled. Técnicas de programação de jogos foram empregadas, algumas delas: Double Buffer, Scrolling e um “controlador de ticks”. Double Buffer foi uma das técnicas empregadas no game para contornar o que se chama de flicker, que é o desaparecimento momentâneo e perceptível dos gráficos da tela. Scrolling é uma técnica de jogos que permite a movimentação do cenário, dando a impressão de locomoção do personagem. O Scrolling basicamente é um algoritmo de rolagem de cenário que proporciona uma sensação cinética. O “controlador de Figura 01: Imagem do jogo desenvolvido. Fonte: acervo do autor. 55 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 4. Considerações Finais Esse software, se aplicado como instrumento educativo lúdico, certamente auxiliará os alunos na construção de atitudes ecológicas (capacidade de reciclar, plantar, racionar energia, dentre outros), que em larga escala, isto é, disseminada num contingente considerável de crianças, contribuirão para o nascedouro de cidades ecologicamente sustentadas, pois composta por cidadãos que foram educados e ensinados neste sentido. É preciso cuidar do ambiente a nossa volta e ficar em alerta para os impactos ambientais decorrentes da ação humana, com intuito de restabelecer essa harmonia. Quem tem a ganhar com essa estratégia é a comunidade e geração por vir, além de todo ecossistema. Figura 02: Imagem do "desafio da reciclagem" do jogo desenvolvido. Fonte: acervo do autor. Agradecimentos Agradeço à Dr. Tátilla Gomes Versiani e Giane Christina Dantas da Silveira pelo apoio durante a elaboração do artigo e à Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros (FACIT), pelo espaço para apresentação do software no evento da X Semana da Engenharia, em Montes Claros - Minas Gerais, que ocorreu na segunda semana de Junho de 2011. Figura 03: Jogo apresentado às crianças durante a X Semana da Engenharia da FACIT. Fonte: acervo do autor. A computação deve ser mais ativa no contexto educativo visando servir de instrumento facilitador de aprendizado. Por isso, mais congressos e seminários com o tema de informática na educação estão surgindo, projetos como sistemas operacionais personalizados para ensino estão sendo elaborados (como o Edubuntu e o Linux Educaional) e jogos digitais estão sendo cada vez mais adotados como apoio a aprendizagem de disciplinas específicas. Já que, atualmente, o mercado de jogos digitais produz uma receita financeira maior em comparação à cinematográfica e de concertos nos Estados Unidos (NOVAK, 2010) e de tantos outros fatores citados em capítulos anteriores, convêm, desenvolver projetos de cunho educativo, para que se possa estabelecer uma cidadania sustentável. Dia a dia, diversos países estão desenvolvendo jogos pedagógicos e com resultados bastante positivos. E ainda afirmam: “caberia ao governo incentivar e fomentar para que modelos de ambientes lúdico-pedagógicos fossem criados, promovendo especialmente o desenvolvimento de jogos educativos” (CARVALHO et al., 2004, p. 46). 56 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 Referências Bibliográficas CARVALHO, Marcelo Nunes de et al. Plano Diretor da Promoção da Indústria de Desenvolvimento de Jogos Eletrônicos no Brasil. São Paulo: Abragames, 2004. NOVAK, Jeannie. Desenvolvimento de Games. São Paulo: Cenage Learning, 2010. MATTAR, João. Games em Educação: como os nativos digitais aprendem. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. MOITA, Filomena. Game On: jogos eletrônicos na escola e na vida da geração @. Campinas: Alinea, 2007. SAWAIA, J. Gerações Y e Z: juventude digital. Disponível em: <http://www4.ibope.com.br/ download/geracoes%20_y_e_z_divulgacao.pdf> Acesso em: 09 ago. 2012. YURI, Flávia et al. O Jogo só Está Começando, Bem Vindo a Era do Gameficação: mais e mais empresas se valem dos jogos para selecionar e treinar pessoas. Como isso pode afetar sua carreira e o jeito de trabalhar. 2011 março, época. Disponível em: <http://bracademy. com.br/portal/images/flippingbok/epoca001/epoca.05.2 011.pdf> Acesso em: 07 ago. 2012. Abstract: The fast technological development of society resulted in a concussion for environmental harmony, and the negative impacts noted and emphasized only at the end of the 80, setting up the concept of sustainability in the social context. However, it is possible through improvement of computational techniques to produce alternative solutions to environmental problems for sustainability. One of these techniques have military bases in mainframe programming techniques applied to digital game development. Allied games to digital, sustainable culture can take root consistently, greatly, when intended for new generations. In order to minimize negative impacts caused by globalization, has developed a digital game through computational techniques targeted to Generation Z. Games are play tools that shape the needs of the generation in question, making learning fun. To analyze the effectiveness of this project, when it comes to introducing a culture about the importance of conserving the environment, observations were made by analyzing the degree of immersion and enjoyment of its players. Keywords: Generation Z. Digital Educational Games. Sustainability 57 58 EXTENSÃO REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 A PARTICIPAÇÃO DA FACIT NO PROJETO UNIVERSITÁRIO CIDADÃO 1 Luiz Fernando Oliveira Maia, 1Paulo Fernando Rodrigues Matrangolo, 2Laércio Rocha Franco, 2 Ludmilla Louise Cerqueira Maia Prates 1 Mestre em Agroquímica, Professor da Faculdade de Ciência e Tecnologia-FACIT, 2Acadêmicos do Curso de Engenharia Química da Faculdade de Ciência e Tecnologia-FACIT Resumo: A extensão universitária é vista como articuladora do ensino e pesquisa, vinculando as universidades e a sociedade de forma fecunda, oportunizando a contribuição do conhecimento na transformação da realidade, envolvendo docentes, discentes e comunidades no sentido comum de aprender e enriquecer a produção do conhecimento. Sendo assim, o objetivo do artigo é apresentar as ações desenvolvidas pelos estudantes de engenharia química da Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros – FACIT durante a execução do projeto universitário cidadão mostrando a relevância da extensão, sob o prisma da universidade e da sociedade, como também os resultados do desenvolvimento dessas atividades em municípios carentes do Norte e Nordeste de Minas Gerais. Palavras-chave: Extensão. Universitários. Cidadão. endógenos são potencializados através de novos pensamentos produtivos, destacando-se o conhecimento, a informação e o desenvolvimento experimental”. 1. Introdução As instituições de ensino superior (IES) têm papeis relevantes na realização de pesquisas com o intuito de diminuir as desigualdades econômicas e sociais, promovendo o desenvolvimento regional e reforçando seu compromisso social, através da difusão dos conhecimentos oriundos dessas pesquisas (OLIVEIRA et al., 2008). Em Minas Gerais, destaca-se a importância de políticas públicas no combate a pobreza, como as ações de programas como o Saúde em Casa, Ensino Fundamental de 9 anos, Poupança Jovem, Travessia e Proacesso, entre tantos outros, que repercutem diretamente na vida da população mais pobre, melhorando os indicadores de educação e saúde e de geração de renda (VILHENA, 2012). Desta forma, as IES têm passado por processos de grandes cobranças, pois recai sobre ela a difícil tarefa de promover a formação de cidadãos que sejam capazes de enfrentar e resolver os problemas da sua época. Com a finalidade de combater as desigualdades regionais e sociais de renda no Norte de Minas, no Jequitinhonha e no Mucuri, o Governo do Estado criou a Sedvan (Secretaria de Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas) destinada a atender às demandas dessas regiões mais pobres do Estado, sendo fundamental para redirecionar o crescimento do Estado e desenvolver os municípios do semiárido castigados pelas secas (VILHENA, 2012). Nesse sentido, as práticas extensionistas aproximam sociedade com as IES ajudando-a a sanar suas deficiências, como também apresentando novos rumos de crescimento e modernização. Diversas são as possibilidades de atuação via extensão, como: práticas de serviço, assistência técnica, ensino de extensão, difusão cultural, entre outros. Essa função tem grande poder de influência no cumprimento da formação de um novo paradigma de conhecimento, pois amplia e fortalece o vínculo com a sociedade (CHATEAUBRIAND, et al., 2004). Sendo assim, o projeto Universitário Cidadão é uma ação do Governo do Estado por meio da Sedvan e da Assessoria de Articulação, Parceria e Participação Social, da Governadoria. A ideia é a inclusão do estudante universitário em políticas sociais para desenvolver ações que estimulem a participação do jovem no enfrentamento das desigualdades sociais, por meio do conhecimento adquirido em seu curso de formação profissional. As ações englobadas da extensão são instrumentos eficientes na transferência de tecnologias que podem ser agentes estimuladores de efeitos desenvolvimentistas em âmbito regional. Essa dinâmica tem ganhado cada vez mais espaço em programas sociais de governos. É o que afirma SICSÚ (1997, p. 65) Os investimentos do Governo de Minas para a viabilização desse projeto foram de R$ 1 milhão. Os estudantes e professores responsáveis pela execução do projeto atenderam a população dos 12 municípios de menor Índice Mineiro de Responsabilidade Social (IMRS), no Norte e nos Vales do Jequitinhonha e do “Contudo, o que deve ser ressaltado é que a tendência atual de maior ênfase à extensão universitária e de sua inserção nos principais programas de desenvolvimento regional vem ao encontro dos novos rumos do planejamento regional em que fatores 59 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 Mucuri: Pedra de Maria da Cruz, Bonito de Minas, Mamonas, Montezuma, Virgem da Lapa, Rubelita, Palmópolis, Santo Antônio do Jacinto, Itaipé, Setubinha, São João do Manteninha e Nova Belém. FACIT durante a execução do projeto universitário cidadão nas cidades de Pedra de Maria da Cruz, Bonito de Minas, Rubelita e Virgem da Lapa. Criado pela Fundação João Pinheiro, o Índice Mineiro de Responsabilidade Social reúne 40 indicadores relacionados às dimensões saúde, educação, renda, segurança pública, meio ambiente e saneamento, cultura e esporte e finanças municipais. Sendo assim, uma das metas do projeto Universitário Cidadão é possibilitar a coleta de informações complementares que permitam a construção de um cenário mais realista das condições socioeconômicas dos municípios mineiros enriquecendo ainda mais o IMRS (PINTO, 2011). 2. Metodologia O projeto Universitário Cidadão, parceria da Sedvan com o Instituto Travessia e com apoio das instituições de ensino superior que atuam na região dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e Norte de Minas, selecionaram equipes interdisciplinares que visitaram doze municípios, que apresentavam baixo índice de desenvolvimento humano. As cidades foram distribuídas por seis rotas (tabela 1) no norte e nordeste de Minas Gerais. Cada equipe de estudantes e professores foram responsáveis pelo trabalho em duas cidades durante 15 dias no período de 16 a 30 de julho de 2011. As equipes multidisciplinares que atenderam os 12 municípios integrantes do projeto foram formadas por estudantes universitários e professores de universidades do Norte e Nordeste de Minas. Participaram do projeto, a Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha, Mucuri (UFVJM); Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes); Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE), Faculdade de Cidade e Tecnologia de Montes Claros (FACIT); Faculdade de Saúde Ibituruna (FASI); Faculdade Prisma; Faculdade Vale do Gorutuba (FAVAG); Faculdades Integradas Pitágoras (FIPMOC); Faculdades Santo Agostinho (FASA); Faculdade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC/Bocaiúva – Teófilo Otoni); Instituto de Ciências Agrárias (ICA/UFMG); Instituto Federal de Educação (IFNMG/ Januária – Salinas) e Faculdades Unificadas Doctum. Tabela 1: Localidades atendidas Rota Cidades 1 Bonito de Minas e Pedras de Maria da Cruz 2 Mamonas e Montezuma 3 Rubelita e Virgem da Lapa 4 Palmópolis e Santo Antônio do Jacinto 5 Itaipé e Setubinha 6 Nova Belém e São João do Manteninha As atividades realizadas nas cidades foram desenvolvidas por 120 alunos e 30 professores. Os universitários receberam ajuda de custo do Governo de Minas de R$ 150, pagos em parcela única. Antes de irem a campo, os alunos foram capacitados e conheceram a metodologia de trabalho, os objetivos do projeto, as propostas de ações e as localidades de atuação. Cada município recebeu uma equipe interdisciplinar de 35 acadêmicos de todas as IES envolvidas. A Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros - FACIT foi representada pelos universitários do curso de Engenharia Química. A FACIT destaca a importância do projeto universitário cidadão para o crescimento profissional e pessoal dos seus alunos, promovendo a integração entre os acadêmicos, professores e sociedade e, ao mesmo tempo, exercitando ações concretas de cidadania. O projeto ainda proporciona o protagonismo juvenil, permitindo que o estudante universitário apreenda conhecimento empírico para sua inserção no mercado de trabalho. A atuação da FACIT no universitário cidadão, por intermédio dos alunos do curso de engenharia química, foi realizado através de oficinas para fabricação de produtos de limpeza. Os estudantes levaram para as comunidades atendidas, materiais e procedimentos para a produção de detergentes, água sanitária, amaciante de roupas e desinfetante, acessíveis economicamente e bastante demandados no mercado. Além disso, orientações eram repassadas à comunidade para uso correto dos produtos e incentivos a elaboração de cooperativas para comercialização local garantindo uma renda extra ao fim do mês. A FACIT por meio de programas de iniciação científica e projetos de extensão tem promovido o acesso à pesquisa cientifica e extensão universitária, abrindo caminhos para docentes e discentes na busca de soluções inovadoras para os mais diversos problemas da humanidade, preparando profissionais com maior competência científica e autonomia profissional. Este artigo relata as atividades que foram desenvolvidas pelos estudantes de engenharia química da 60 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 Os acadêmicos da FACIT foram distribuídos por duas rotas (1 e 3) tendo um professor como coordenador. O grupo foi supervisionado por funcionários da Sedvan e do Instituto Travessia que zelavam pelo bom andamento do projeto em cada localidade. deficiências e necessidades urgentes para o fornecimento de água de qualidade para a população atendida, usinas de reciclagem e compostagem de lixo e comunidades ribeirinhas desprovidas de saneamento básico. As oficinas técnicas foram realizadas em comunidades urbanas e rurais escolhidas pelas prefeituras dos municípios com base na situação sócio-econômica dos moradores. A população era atendida em escolas, centros de apoios (ex: Crás), ginásios poliesportivos, praças dentre outros lugares. Para o desenvolvimento das atividades para produção de materiais de limpeza, os moradores eram divididos em grupos e acompanhados por um estudante que os auxiliava na execução do procedimento. Os equipamentos (vidrarias, reagentes, materiais de segurança e roteiros experimentais) necessários para a formulação dos produtos eram dispostos em mesas onde eram executados os trabalhos. Figura 1: Oficinas de produtos de Limpeza realizadas nos Municípios de Rubelita e Virgem da Lapa Nos municípios de Bonito de Minas e Pedras de Maria da Cruz (rota 1) o grupo de estudantes da engenharia química composto por Bruno Magalhães Silva e Laércio Rocha Franco do sexto período, Daniela Duarte Oliveira e Núbia Ribeiro Silva do oitavo período e Fabíola Medeiros da Costa do décimo período, coordenado pelo professor Paulo Matrangolo, ressalta a importância de realização de projetos como esse em regiões carentes do estado. O projeto é uma via de mão dupla, já que a comunidade é contemplada com a prestação de serviços pelos universitários, e por outro lado, os alunos têm a oportunidade de colocar conceitos e aprendizados antes vistos apenas na teoria, na sua real função, que é o trabalho e o retorno para a comunidade. 3. Resultados e Discussão O projeto Universitário Cidadão oferece a oportunidade de aliar a teoria à prática, em cidades marcantes por contrastes sociais. O retorno para os estudantes, com o contato direto com outra realidade bem diferente das suas, é ainda maior do que os benefícios gerados com as ações junto às comunidades atendidas, assim destacam as experiências vividas pelo grupo coordenado pelo professor Luiz Fernando composta dos alunos, Ludmilla Louise, Maria Clara Alves, Helberth Júnnior, Ravel Santos e Valdemir Soares, todos do décimo período do curso de Engenharia química que visitaram as cidades de Rubelita e Virgem da Lapa (rota 3). Nesses municípios, a capacitação para fabricação de produtos de limpeza foi realizada em escolas públicas, quadra poliesportiva, crás e salões cedidos pelas prefeituras. Através de uma abordagem instigante, os estudantes ajudaram a população urbana e rural no desenvolvimento dos materiais de limpeza, em contrapartida tiveram uma recepção muito calorosa devido às atividades desenvolvidas nas comunidades. Todo o processo foi acompanhado com registros fotográficos como mostram as imagens da figura 1. Figura 2: Oficinas de produtos de Limpeza realizadas nos Municípios de Bonito de Minas e Pedras de Maria da Cruz Outras atividades foram desenvolvidas pelo grupo de estudantes e professor nos municípios visitados como demanda solicitada pelas prefeituras locais. Dentre as quais, visitas técnicas em estação de tratamento de água e esgoto com registros fotográficos e análise de suas 61 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 As oficinas técnicas foram realizadas em centros de apoios, escolas e praças. Tanto as comunidades urbanas como rurais foram atendidas. As imagens da figura 2 mostram o momento das realizações das oficinas nesses municípios. Ao final das oficinas os acadêmicos destacavam o pequeno custo de produção dos produtos para a população como é o caso do litro de água sanitária que ficaria em torno de R$ 0,40, viabilizando a montagem de uma pequena cooperativa pelos moradores e a garantia de um aumento na renda familiar. 4. Considerações Finais As informações coletadas durante a realização do projeto irão apoiar a construção de um conjunto de índices sintéticos para cada uma das dimensões do IMRS. Assim, o governo terá mais condições de propor e colocar em prática políticas públicas que efetivamente gerem ações que modifiquem as condições socioeconômicas dos municípios mineiros. A FACIT destaca a importância de inserir-se em ações que promovam e garantam valores democráticos, igualdade e desenvolvimento social, contribuindo para o resgate da cidadania, ao mesmo tempo conduzam ao desenvolvimento sustentável e à melhoria das condições de vida das populações. Complementando as ações do Universitário Cidadão, os acadêmicos de outras instituições participantes, desenvolveram atividades diversas, como orientação familiar sobre prevenção de doenças, alimentação saudável, necessidade de atividade física; palestras educativas sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e capacitação dos conselheiros tutelares; campanhas contra abuso de álcool e outras drogas; palestras sobre o uso racional dos recursos hídricos e ambientais entre outros. Referências Bibliográficas CHATEAUBRIAND, A. D.; ANDRADE, E. B.; MELO, P. P. A Extensão Universitária como Instrumento de Cidadania, Organização Comunitária e Desenvolvimento Sustentável. Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária. Belo Horizonte, 2004. Após 15 dias de trabalho intenso, o projeto Universitário Cidadão promoveu um seminário de combate à pobreza realizado em Belo Horizonte, no mês de setembro. Durante o evento, além de conhecer o diagnóstico e ações de superação da pobreza desenvolvidas pelo Governo de Minas, as instituições de ensino superior e seus alunos debateram sobre novas propostas de enfrentamento da pobreza nas comunidades durante os trabalhos de campo, desenvolvidos pelo projeto. A proposta do seminário foi promover a atuação intensa e direta, dos estudantes de ensino superior, por meio de ações denominadas de interação social, contemplando a realidade, as carências e demandas dos municípios. OLIVEIRA, R. A.; CARNIELLO, M. F.; TADEUCCI, M. R. Promoção do Desenvolvimento Regional Através de Atividades Extensionista: O caso da UFT. VII Congresso Nacional de Excelência em Gestão. Rio de Janeiro, 2008. PINTO, H. Universitátio Cidadão Envolve 700 Estudantes e 21 Municípios. Hoje em dia, Belo Horizonte, 08 agosto, 2011, p. 8 a 11. SICSÚ, A. B. O Papel da Extensão Universitária no Desenvolvimento Regional: considerações sobre o caso brasileiro. Revista de Ciência e Tecnologia Política e Gestão para a Periferia - RECITEC, v. 1, n. 1, jan./dez, Recife, p. 52-67, 1997. VILHENA, R. Disponível em: <http://blogrena tavilhena.blogspot.com.br/2012/02/reducao-da-pobrezaem-minas-e-resultado.html> Acesso em: 16 de agosto, 2012. Abstract: University extension is seen as an articulator of education and research, linking universities and society so fruitful, allowing the contribution of knowledge to transform reality, involving teachers, students and communities common sense to learn and enrich the knowledge production. Therefore, the aim of the paper is to present the activities developed by chemical engineering students of the Faculty of Science and Technology of Montes Claros - FACIT during the execution of national university project shows the importance of the extension, through the prism of the university and society, as well as the results of these development activities in needy cities North and Northeast of Minas Gerais. Keywords: Extension. University. Citizen. 62 63 REVISTA PESQUISA & EXTENSÃO – VOLUME 2, NÚMERO 1, 2012 – ISSN 2236-7160 Distribuição Gratuita FACULDADE DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MONTES CLAROS - FACIT Avenida Deputado Esteves Rodrigues, 1637 – Centro CEP 39400-164 – Montes Claros – MG Fone: (38)4009-5777 / Email: [email protected] Impresso na Gráfica Uni-Set Ltda. Rua Urbino Viana, 593 – Vila Guilhermina – CEP 39400-087 – Montes Claros – MG Email: [email protected] 64 Pe