Perfil dos professores de ensino médio
PERFIL DOS PROFESSORES DE ENSINO
MÉDIO PROFISSIONALIZANTE EM
ENFERMAGEM
PROFILE OF NURSING TEACHERS ENGAGED IN
SECONDARY SCHOOL’S PROFESSIONAL EDUCATION
Greicelene Ap. H. Bassinello*
Eliete Maria Silva**
RESUMO: O presente trabalho permitiu, a partir do conceito de análise sociológica das profissões,
caracterizar o perfil e analisar as condições de trabalho do enfermeiro no exercício da docência. Este
estudo configurou-se como descritivo de abordagem quantitativa, realizado em 2002, com 81 enfermeiros-docentes de ensino de nível médio de Piracicaba, São Paulo. Verificou-se a presença de um expressivo contingente de trabalhadores na faixa etária de 40 a 49 anos, a predominância do sexo feminino,
com a maioria dos docentes casados. O modelo de contratação predominante foi o temporário, com
uma jornada de até 20 horas semanais no ensino, que viabilizou a estratégia do multi-emprego, com
predominância dos que trabalhavam em escola e hospital. A docência é atividade secundária para mais
da metade dos participantes da pesquisa. Conclui-se que os enfermeiros-docentes investem em sua
capacitação, apesar das dificuldades encontradas: reduzido reconhecimento e status profissional, baixos salários, perspectiva limitada de progressão na carreira e falta de condições e infra-estrutura na
realização do seu trabalho.
Palavras-chave: Docente de enfermagem; enfermagem; ensino; recurso humano.
ABSTRACT
ABSTRACT:: The present study allowed us to characterize the profile of nurses working in the exercise of
teaching and to analyze their working conditions, from the concept of sociological analysis of the
professions. It is a descriptive study of a quantitative approach, accomplished in 2002 with 81 nurses
working as teachers in secondary schools, at Piracicaba, São Paulo. An expressive contingent of these
workers was at the early and late forties, the majority being females and married. The predominant pattern
of hiring was the temporary one. The work journey was up to twenty hours of teaching per week; this fact
allowed for the multi-work strategy, mainly the simultaneous work in schools and hospitals. Teaching was
the secondary activity for more than half of the participants in the research. We concluded the those
nurse-teachers used to invest in their self training, in spite of the difficulties encountered: low professional
recognition and status, low wages, short perspective of progression in the career, and lack of conditions
and of infrastructure for he accomplishment of their job.
Keywords: Nursing teacher; nursing; secondary education; human resource.
INTRODUÇÃO
A profissionalização dos trabalhadores de ní-
vel médio na área de enfermagem começou a se intensificar a partir de 1986, com a publicação da Lei
nº 7498, que regulamenta o exercício profissional1.
Devido à necessidade de qualificação para
atuar na área de enfermagem, acentuou-se a abertura de cursos por parte de diversas escolas de
âmbito público e privado, o que demanda um corpo docente preparado.
A atuação na docência em nível médio nos
trouxe crescimento e indagações quanto à prática
pedagógica do enfermeiro. Surgiu, assim, a quesp.76 •
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tão norteadora para este estudo: Quem são os
enfermeiros que atuam no ensino médio
profissionalizante?
Entre as áreas da atuação do enfermeiro, a
docência em ensino médio implica alguns aspectos críticos na formação adequada do profissional, destacando-se a ausência de preparação
pedagógica dos professores, o reduzido salário
(que acarreta desinteresse e falta de investimento
em atualização profissional), mais o acúmulo de
atividades de trabalho, relegando a docência à
função secundária2.
Bassinello GAH, Silva EM
Para Bomfim e Torrez3, ensinar não é a atividade principal do enfermeiro, em virtude da variedade de determinantes, incluindo o modelo
educacional e assistencial que se instalou no país,
e a desvalorização da formação pedagógica. Muitos professores negam-se, então, a participar de
qualquer projeto de formação pedagógica ou aperfeiçoamento na área.
Boa parte da responsabilidade pelo descaso
com essa necessária preparação deveu-se ao fato
de as escolas nem sempre valorizarem o professor
no desempenho de suas funções pedagógicas.
Estudo realizado por Duarte4, no município
do Rio de Janeiro, revela que a absorção pelo
mercado, na década de 80, dos licenciados em
enfermagem foi inexpressiva, devido principalmente à ausência de contrato de trabalho, má
remuneração e incompatibilidade entre o nível
de expectativa e a experiência profissional. As
vagas no mercado de trabalho eram preenchidas
por enfermeiros sem a devida formação pedagógica e/ou outros profissionais sem licenciatura.
O interesse pela pesquisa visando o enfermeiro-docente e seu trabalho no ensino
profissionalizante vem da necessidade de conhecer
melhor esse profissional e abordar aspectos relevantes da situação atual da enfermagem em nível médio, que vem sofrendo evidente expansão. Contudo, ao procedermos à revisão de literatura, observamos que muito pouco foi escrito sobre o assunto.
A sociologia das profissões foi o referencial teórico encontrado para o desenvolvimento do presente trabalho, fundamentado nas relações entre a
formação profissional, o mercado de trabalho e o
contexto em que a profissão é desenvolvida, sob a
influência do avanço tecnológico ou inovações no
mundo das profissões. Dentro dessa perspectiva,
apreende-se as forças estruturais e sociais que modelam e constituem as profissões, que se diferenciam pela sua situação no mercado de trabalho5.
Segundo Rabelo6, perfil é uma característica
que aponta para recorte, isto é, para distinção em
relação a outros profissionais, mas, ao mesmo tempo, remete à identidade dentro da própria categoria profissional, ao indagar: quem somos nós no
mundo do trabalho?
Delimitamos a área de nosso estudo a uma
região do Estado de São Paulo, abrangendo professores-enfermeiros envolvidos no ensino médio
profissionalizante em enfermagem. São objetivos
desta pesquisa: caracterizar o perfil desse profissi-
onal segundo variáveis relacionadas aos aspectos
sociodemográficos, formação profissional, mercado de trabalho, acesso a informações científicas e
analisar as condições do exercício da docência.
METODOLOGIA
O
presente trabalho é um estudo descritivo, de abordagem quantitativa, contemplando
16 escolas públicas e privadas que oferecem cursos de auxiliar e técnico de enfermagem na região de Piracicaba. Dessas escolas, sete são públicas e nove, particulares.
Inicialmente, solicitamos ao Conselho Regional de Enfermagem7 (COREN – SP) uma relação das escolas de ensino médio de enfermagem
na região e, após o recebimento da listagem, efetuamos o contato por telefone com os responsáveis por cada escola, para obtermos informações
como confirmação de endereço, responsabilidade técnica e número de docentes na instituição.
A coleta de dados foi feita no período de fevereiro
a março de 2002. Entregamos os questionários aos
responsáveis técnicos das escolas, que os distribuíram aos docentes. Retornamos após duas semanas
para buscar os questionários respondidos.
Da população total constituída por 138 enfermeiros-docentes, recebemos 81 (76,4%) questionários preenchidos, já que 32 professores ministravam aula em duas escolas e responderam
apenas um questionário, não caracterizando, assim, duplicidade nas respostas; 25 professores não
efetuaram a devolução do instrumento de coleta.
Contamos, então, com uma amostra representativa de 81 (76,4%) sujeitos.
A região de Piracicaba está inserida nas 24
Direções Regionais de Saúde de São Paulo, pertencentes à estrutura da Secretaria de Estado da
Saúde de São Paulo, reorganizadas administrativamente a partir de 1995. São 25 municípios, englobando 1.222.550 habitantes, segundo censo de
1999 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O questionário para a coleta de dados continha 20 questões abertas e fechadas, compreendendo: identificação do profissional (dados
demográficos: idade, sexo e estado civil), formação profissional e pedagógica, mercado de trabalho, acesso a informações técnico-científicas, tempo de docência, grau de realização no magistério
e motivo que o levou à docência.
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Perfil dos professores de ensino médio
Para validação do instrumento de pesquisa,
o pré-teste foi aplicado em outra amostra de 14
enfermeiros que trabalhavam no ensino médio
profissionalizante, dos quais quatro trabalham na
Escola Técnica Municipal de Paulínia e 10 em
uma escola particular do Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial (SENAC), no município de Itapira.
O questionário foi aplicado a todos aqueles
que concordaram em participar deste estudo,
mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, dirigido ao respondente,
com explicações sobre o objetivo do trabalho, após
aprovação do projeto da pesquisa pelo Comitê de
Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências
Médicas (FCM) da Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP).
Os dados obtidos para caracterização da população foram analisados de forma descritiva e
apresentados através de números absolutos e relativos quanto a cada uma das variáveis estudadas. O programa utilizado como banco de dados
foi o EPI-INFO (Versão 6.0) e a análise estatística foi executada através do Statistical Analysis
System for Windows - SAS, com o auxílio da Comissão de Pesquisa e Estatística da FCM UNICAMP.
RESULTADOS
E
DISCUSSÃO
Observamos maior concentração de docen-
tes na faixa etária entre 40 e 49 anos, totalizando
53,1%. Na faixa entre 30 e 39 anos, encontram-se
37% dos docentes e na faixa mais jovem (até 29
anos) encontram-se 7,4%. Somente 2,5% dos docentes estavam na faixa dos 50 anos e mais.
Os dados relativos à distribuição de docentes por sexo confirmam a predominância do sexo
feminino (95,1%) - característica peculiar da profissão – e um contingente de apenas 4,9% participantes do sexo masculino. Ficou então corroborada a hegemonia feminina conforme apresentada no relatório do Conselho Federal de Enfermagem e Associação Brasileira de Enfermagem COFEN/ABEn (1982/1983) envolvendo 94,1% de
enfermeiros do sexo feminino, contra 5,6% do
masculino8.
Observa-se, na análise em relação ao estado
civil, o aumento da porcentagem de mulheres
casadas, o que denota uma variação em relação a
estudos anteriores. No relatório COFEN/ABEn,
de 1982/1983, do total da população de enfermeip.78 •
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ros estudados, 45,7% eram solteiros; 47,7%, casados; 2,0%, viúvos e 4,4%, separados, havendo,
portanto, um aumento da proporção de casados.
Esse aumento acentuou-se ainda mais no início do
século XXI, conforme constatamos em nossa pesquisa, com a identificação de 76,5% de profissionais casados. Foram encontrados 14,8% solteiros,
4,9% divorciados, 2,5% separados e 1,2% viúvos.
Para analisar o tempo de formados, foi tomada como base uma classificação proposta por Machado9 em estudo da vida profissional do médico,
decomposta em cinco fases, a saber: adentrando a
vida profissional: jovens com menos de 30 anos,
com até 4 anos de formado; afirmando–se no mercado: com 5 a 9 anos de formação; consolidandose na vida profissional: com 10 a 24 anos de formação; desacelerando as atividades: com 50 a 59
anos de idade, há mais de 25 anos no mercado; e
paralisando a vida profissional: com mais de 35
anos de formação.
Comprovamos que, em relação ao tempo de
formação profissional, 69,1% dos enfermeiros participantes da pesquisa se encontram consolidando
sua vida profissional, isto é, entre 10 e 24 anos de
conclusão dos cursos, enquanto 16% estão na fase
de afirmação no mercado de trabalho; 13,6 % estão
iniciando sua vida profissional;1,2 % desacelerando
suas atividades profissionais e nenhum dos participantes paralisando a vida profissional.
Em relação ao tempo de docência em enfermagem, há uma pequena inversão dos dados, sendo que 43,2% encontram-se em fase de iniciação
de sua vida profissional, 40,7% encontram-se em
fase de consolidação de sua vida profissional e 16%
em fase de afirmação no mercado de trabalho.
Verificou-se que 79% dos participantes freqüentaram alguma modalidade de cursos de atualização profissional, destacando-se os de especialização em enfermagem. Quanto às modalidades
de formação - pós-graduação stricto sensu, cinco
enfermeiros possuem mestrado, sendo dois em
enfermagem e três na área de educação.
Percebe-se, pelos resultados, que os enfermeiros-docentes respondentes investem na sua
capacitação, uma vez que possuem uma ou mais
titulações, o que enriquece a educação profissional continuada em enfermagem.
Dos participantes da pesquisa, 51,85% possuem curso de Licenciatura em Enfermagem e
48,15% não possuem formação pedagógica e obtêm, através das Delegacias de Ensino, autorização provisória para ministrarem aulas.
Bassinello GAH, Silva EM
A Faculdade de Enfermagem de Araras
(UNIARARAS), instalada na região, já oferecia,
desde meados de 1980 até 2002, a opção da Licenciatura integrada com o bacharelado, o que
deve justificar o atual cenário de formação docente na região. Entretanto, essa constatação pode
não refletir a realidade de formação docente nas
demais regiões do estado e do país.
A preocupação com a busca de um caminho
para sanar as dificuldades encontradas na formação pedagógica do enfermeiro tem sido demonstrada pelo Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores na Área de Enfermagem (PROFAE),
através de sua proposta de capacitação dos enfermeiros - docentes para atuação no ensino médio.
As contradições do mercado de trabalho e
as instituições educacionais têm provocado
distorções no exercício da docência, quando autorizam o enfermeiro a ministrar aulas, mesmo sem
formação pedagógica. Entendemos que questões
que envolvem o ensino-aprendizagem têm a ver
com a formação do professor, que é o elo entre a
teoria e a prática dessa atividade.
Em nosso trabalho, verificou–se que 39,5 %
dos participantes estão submetidos a contrato de
trabalho por tempo indeterminado e 12,5% por
tempo determinado - contratos temporários ou por
serviços prestados, a forma mais comum de
contratação de escolas particulares e uma das formas de contratação estadual: a admissão em caráter temporário (ACT), em que o docente é contratado sem concurso público para suprir deficiências de pessoal.
Faz-se necessário citar que 23 (28,4%) participantes da pesquisa estão submetidos ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
modelo característico de contratação das escolas
técnicas estaduais vinculadas ao Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza.
Para Angerami e Correia10, as transformações
ocorridas no mercado de trabalho, atualmente
chamadas reestruturação produtiva ou acumulação flexível, trouxeram uma tendência de empregar cada vez mais uma força de trabalho que entra facilmente no mercado e é demitida sem custos. Observamos em nossa pesquisa que 53% dos
docentes se submetem a contratos temporários de
trabalho, o que comprova a citação anterior.
Na docência de ensino médio, principalmente nas escolas privadas, os professores são contratados mediante poucas exigências e demitidos sem
receberem direitos adicionais, como férias, décimo terceiro salário e fundo de garantia.
Outra forma de contratação mencionada na
pesquisa foi aquela por módulos, isto é, o professor é contratado para ministrar algumas disciplinas ou estágios, que são distribuídos através de
módulos seqüenciais, o que caracteriza também
o contrato temporário.
Também observamos que 18,5% dos
respondentes são efetivos, uma das características das escolas públicas, cujos profissionais são
admitidos mediante concurso.
Os docentes são admitidos de duas formas
na educação estadual: uma, em caráter efetivo,
por meio de concurso público com provas e títulos e outra, em caráter temporário (ACT), sem
nenhum processo seletivo com provas de conhecimento ou habilidade11.
A carga horária semanal dedicada à
docência prevalecente em nossa pesquisa é de até
20 horas semanais para um total de 48,1% dos
participantes, seguida de 30 a 40 horas semanais
(29,6%); 19,8% trabalham de 20 a 30 horas semanais e somente 2,5%, mais de 40 horas semanais.
A jornada integral de trabalho docente tem
duração de 40 horas aulas semanais; a completa,
30 horas aulas semanais e a jornada parcial de
trabalho, 20 horas semanais.
Os dados apontam que 67,9% dos profissionais possuem dois empregos, 23,5% dedicam-se
apenas à docência e 8,6% possuem três vínculos
empregatícios.
A característica de múltiplos empregos denota o advento da diversidade e heterogeneidade
dos postos de trabalhos atuais e as formas flexíveis
de trabalho no setor. Vale mencionar o aumento
dos contratos temporários, revelando a possibilidade de crescimento da rotatividade da força de trabalho empregada.
Verifica-se que a maior parte dos professores
(40,7%) trabalha em escola e hospital; 28,4% em
escola e saúde pública; 22,2% só atuam em escolas; 3,7% em escola, hospital e saúde pública e
4,9% em outros tipos de instituição, ligadas a
consultoria em enfermagem; instituição particular; empresa própria de enfermagem domiciliar, e
enfermagem domiciliar.
A docência é atividade secundária para a
maioria (51,9%) dos enfermeiros-docentes participantes da pesquisa; para 46,9% é atividade principal e para 1,2% tem outra ordem de importân-
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Perfil dos professores de ensino médio
cia, que foi justificada como atividade em que é
dedicada menor carga horária, mas que não é de
menor importância.
Aplicamos a terminologia atividade principal, com base em Nóvoa12 que a caracteriza como
exercício em tempo integral ou quando o profissional só se dedica ao ensino, não o considerando
uma atividade passageira, mas um trabalho importante na sua vida profissional.
Entendemos que lecionar não é a principal
atividade do enfermeiro-docente de nível médio
profissionalizante em enfermagem; pode ser até a
mais gratificante, porém parte da amostra
investigada trabalha em hospitais, postos de saúde e conta com a área educacional para aumentar seus rendimentos.
Dos pesquisados, a maioria (67,9%) nunca
participou de nenhum tipo de pesquisa, enquanto 32,1% o fizeram. Esse dado nos parece peculiar, pois há pouca produção de conhecimento em
nível médio profissionalizante em enfermagem.
Verifica-se que também a maioria (75,3%)
dos respondentes participou de eventos ligados à
sua área, como: jornadas e congressos (50,8%),
cursos (23%) seminários, reuniões e palestras
(9,8%), campanhas de Prevenção da Hipertensão, Diabetes e AIDS – (8,2%) e outros (8,2%).
Os dados revelam que a maior parte dos enfermeiros (90,1%) possui conhecimento de
informática e acesso à Internet, enquanto 9,9%
não se movimentam nesse sentido. Não exploramos, na aplicação do questionário, se o uso do
computador ou Internet tem relação com melhor
desempenho do trabalho pedagógico.
CONCLUSÕES
A
visão tecnicista que norteou o ensino
no Brasil durante várias décadas reduziu bastante a atuação do professor, principalmente nos programas de qualificação profissional de nível médio de enfermagem. Hoje, com as alterações ocorridas no mundo da produção, a questão do conhecimento e formação profissional implica novamente a articulação da educação com as questões referentes à empregabilidade, agravante que
se impõe na prática docente13.
Ao traçarmos o perfil do enfermeiro-docente na região de Piracicaba, em um nível micro de
observação e análise, com base no modelo analítico da sociologia das profissões5,9, percorremos
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uma trajetória que nos permitiu verificar o perfil
demográfico com a presença de um expressivo
contingente de trabalhadores na faixa etária de
40 a 49 anos, o que aponta para o envelhecimento da categoria e acompanha a transição
demográfica da população, além da predominância do sexo feminino e maioria de docentes casadas, contribuindo para o orçamento familiar.
As reflexões sobre a formação profissional
apontaram para questões como: qual a real competência do enfermeiro credenciado para o exercício profissional dentro das especificações necessárias para a docência ? Nessa perspectiva e à luz
da sociologia das profissões, a inserção do enfermeiro no campo de trabalho da docência necessita da construção de um campo de conhecimento
e técnicas próprias da profissão docente, mais a
organização de normas e valores pautados nessa
atividade.
As leis que regulamentaram o ensino e o exercício da enfermagem profissional no país enfocam
como atribuições do enfermeiro a participação no
ensino, em escolas de enfermagem e auxiliar de
enfermagem, treinamento de pessoal em serviço e
atividades extra-escolares. Ao mesmo tempo, a legislação pertinente à formação de professores abriu
brechas para que, onde não houvessem licenciados, outros docentes de áreas específicas pudessem, em caráter provisório, assumir as atividades
pedagógicas, com as delegacias de ensino emitindo autorização para tanto. Nesse sentido, o que
deveria ser provisório se perpetua com a renovação anual dessa autorização precária14.
Analisando a situação concreta das condições de trabalho de docentes em nível médio de
enfermagem, fica evidente um mercado em crescente expansão, porém oferecendo contratos temporários que constituem opções secundárias de
trabalho para os docentes, o que faz com que
muitos dos enfermeiros se afastem dos projetos de
formação adequada dessa área.
Outro aspecto importante que devemos considerar é a atual estrutura dos cursos de licenciatura, longe de oferecer subsídios de que o enfermeiro precisa para se instrumentalizar no exercício das atividades de ensino, principalmente em
relação às matérias específicas dos cursos
profissionalizantes. O curso superior de enfermagem tem sido objeto de constantes análises e avaliações quanto às diretrizes e bases de formação
profissional e estudiosos de enfermagem movimentaram-se no sentido de inserir o enfermeiro
Bassinello GAH, Silva EM
generalista nessa frente de trabalho: docentes de
nível médio de enfermagem15.
Em comparação a estudo anterior2 sobre corpo docente de nível médio profissionalizante, não
encontramos profissionais de nível médio de enfermagem e profissionais de áreas distintas da
enfermagem atuando como docentes. Os achados apontam uma preocupação com a formação
contínua e a formação pedagógica se mostrou,
mesmo que parcialmente presente, o que denota
interesse pelo desenvolvimento de serviços
especializados ou expertise profissional, pontos fundamentais para qualquer projeto profissional.
Concluímos que o estudo que desenvolvemos nos forneceu algumas respostas a questões
referentes ao cotidiano do enfermeiro-docente.
Na visão de Angerami e Correia16, a enfermagem
é plural e o profissional opta por um caminho frente à profissão e à sua prática. Se não houver a
aceitação dessa multiplicidade, a enfermagem se
fecha e não progride.
É a vivência de ser enfermeiro e ser docente
que nos leva a enfocar a caracterização do perfil
do professor, procurando conhecer o espaço social em que esse profissional está inserido.
Neste momento, acreditamos ser necessário
aprofundar o processo de conhecer a realidade
da formação profissional em nível médio de enfermagem, uma vez que poucos são os estudos
nessa área. Ao refletir sobre a formação profissional, é preciso resgatar os processos de ensinoaprendizagem, bem como a enfermagem nele
inserida, estimulando mudanças. Na preocupação com novos rumos, é importante estudar as
condições concretas de trabalho docente e a formação pedagógica do enfermeiro, para então investir nos meios para a valorização dos cursos de
formação profissional.
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Perfil dos professores de ensino médio
PERFIL DE LOS PROFESORES DE ENSEÑANZA MEDIA DE PROFESIONALIZACIÓN EN ENFERMERÍA
RESUMEN: El presente trabajo permitió, partindo del concepto de análisis sociológico de las profesiones,
caracterizar el perfil y analizar las condiciones de trabajo del enfermero en el ejercicio de la docencia.
Este estudio se ha configurado descriptivo, de enfoque cuantitativo, realizado en 2002, con 81 enfermerosdocentes de enseñanza de nivel medio de Piracicaba-São Paulo-Brasil. Se ha verificado la presencia de
un expresivo contingente de trabajadores en la franja etaria de 40 a 49 años, el predominio del sexo
femenino, la mayoría de los docentes casados. El modelo de contratación predominante fue el trabajo
temporal, con una jornada de 20 horas semanales en la enseñanza, lo que hizo factible la estrategia del
multiempleo, principalmente para aquellos que trabajaban en escuelas y hospitales. La docencia es
actividad secundaria para más de la mitad de los participantes de la encuesta. Se concluyó que los
enfermeros-docentes invierten en su capacitación, a pesar de dificultades como reconocimiento pequeño
y estatus profesional, sueldos bajos, perspectiva limitada de progresión en la carrera y falta de condiciones
y de infraestructura en el cumplimiento de su trabajo.
Palabras clave: Docente de enfermería; enfermería; enseñanza; recurso humano.
Recebido em: 09.11.2004
Aprovado em: 08.03.2005
Notas
Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Professora da Faculdade de Enfermagem do Centro Universitário Hermínio Ometto – UNIARARAS.
E-mail: [email protected].
**
Enfermeira, Professora Doutora do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP e Coordenadora do
Curso de Graduação em Enfermagem da FCM-UNICAMP.
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