Perfil dos professores de ensino médio PERFIL DOS PROFESSORES DE ENSINO MÉDIO PROFISSIONALIZANTE EM ENFERMAGEM PROFILE OF NURSING TEACHERS ENGAGED IN SECONDARY SCHOOL’S PROFESSIONAL EDUCATION Greicelene Ap. H. Bassinello* Eliete Maria Silva** RESUMO: O presente trabalho permitiu, a partir do conceito de análise sociológica das profissões, caracterizar o perfil e analisar as condições de trabalho do enfermeiro no exercício da docência. Este estudo configurou-se como descritivo de abordagem quantitativa, realizado em 2002, com 81 enfermeiros-docentes de ensino de nível médio de Piracicaba, São Paulo. Verificou-se a presença de um expressivo contingente de trabalhadores na faixa etária de 40 a 49 anos, a predominância do sexo feminino, com a maioria dos docentes casados. O modelo de contratação predominante foi o temporário, com uma jornada de até 20 horas semanais no ensino, que viabilizou a estratégia do multi-emprego, com predominância dos que trabalhavam em escola e hospital. A docência é atividade secundária para mais da metade dos participantes da pesquisa. Conclui-se que os enfermeiros-docentes investem em sua capacitação, apesar das dificuldades encontradas: reduzido reconhecimento e status profissional, baixos salários, perspectiva limitada de progressão na carreira e falta de condições e infra-estrutura na realização do seu trabalho. Palavras-chave: Docente de enfermagem; enfermagem; ensino; recurso humano. ABSTRACT ABSTRACT:: The present study allowed us to characterize the profile of nurses working in the exercise of teaching and to analyze their working conditions, from the concept of sociological analysis of the professions. It is a descriptive study of a quantitative approach, accomplished in 2002 with 81 nurses working as teachers in secondary schools, at Piracicaba, São Paulo. An expressive contingent of these workers was at the early and late forties, the majority being females and married. The predominant pattern of hiring was the temporary one. The work journey was up to twenty hours of teaching per week; this fact allowed for the multi-work strategy, mainly the simultaneous work in schools and hospitals. Teaching was the secondary activity for more than half of the participants in the research. We concluded the those nurse-teachers used to invest in their self training, in spite of the difficulties encountered: low professional recognition and status, low wages, short perspective of progression in the career, and lack of conditions and of infrastructure for he accomplishment of their job. Keywords: Nursing teacher; nursing; secondary education; human resource. INTRODUÇÃO A profissionalização dos trabalhadores de ní- vel médio na área de enfermagem começou a se intensificar a partir de 1986, com a publicação da Lei nº 7498, que regulamenta o exercício profissional1. Devido à necessidade de qualificação para atuar na área de enfermagem, acentuou-se a abertura de cursos por parte de diversas escolas de âmbito público e privado, o que demanda um corpo docente preparado. A atuação na docência em nível médio nos trouxe crescimento e indagações quanto à prática pedagógica do enfermeiro. Surgiu, assim, a quesp.76 • R Enferm UERJ 2005; 13:76-82. tão norteadora para este estudo: Quem são os enfermeiros que atuam no ensino médio profissionalizante? Entre as áreas da atuação do enfermeiro, a docência em ensino médio implica alguns aspectos críticos na formação adequada do profissional, destacando-se a ausência de preparação pedagógica dos professores, o reduzido salário (que acarreta desinteresse e falta de investimento em atualização profissional), mais o acúmulo de atividades de trabalho, relegando a docência à função secundária2. Bassinello GAH, Silva EM Para Bomfim e Torrez3, ensinar não é a atividade principal do enfermeiro, em virtude da variedade de determinantes, incluindo o modelo educacional e assistencial que se instalou no país, e a desvalorização da formação pedagógica. Muitos professores negam-se, então, a participar de qualquer projeto de formação pedagógica ou aperfeiçoamento na área. Boa parte da responsabilidade pelo descaso com essa necessária preparação deveu-se ao fato de as escolas nem sempre valorizarem o professor no desempenho de suas funções pedagógicas. Estudo realizado por Duarte4, no município do Rio de Janeiro, revela que a absorção pelo mercado, na década de 80, dos licenciados em enfermagem foi inexpressiva, devido principalmente à ausência de contrato de trabalho, má remuneração e incompatibilidade entre o nível de expectativa e a experiência profissional. As vagas no mercado de trabalho eram preenchidas por enfermeiros sem a devida formação pedagógica e/ou outros profissionais sem licenciatura. O interesse pela pesquisa visando o enfermeiro-docente e seu trabalho no ensino profissionalizante vem da necessidade de conhecer melhor esse profissional e abordar aspectos relevantes da situação atual da enfermagem em nível médio, que vem sofrendo evidente expansão. Contudo, ao procedermos à revisão de literatura, observamos que muito pouco foi escrito sobre o assunto. A sociologia das profissões foi o referencial teórico encontrado para o desenvolvimento do presente trabalho, fundamentado nas relações entre a formação profissional, o mercado de trabalho e o contexto em que a profissão é desenvolvida, sob a influência do avanço tecnológico ou inovações no mundo das profissões. Dentro dessa perspectiva, apreende-se as forças estruturais e sociais que modelam e constituem as profissões, que se diferenciam pela sua situação no mercado de trabalho5. Segundo Rabelo6, perfil é uma característica que aponta para recorte, isto é, para distinção em relação a outros profissionais, mas, ao mesmo tempo, remete à identidade dentro da própria categoria profissional, ao indagar: quem somos nós no mundo do trabalho? Delimitamos a área de nosso estudo a uma região do Estado de São Paulo, abrangendo professores-enfermeiros envolvidos no ensino médio profissionalizante em enfermagem. São objetivos desta pesquisa: caracterizar o perfil desse profissi- onal segundo variáveis relacionadas aos aspectos sociodemográficos, formação profissional, mercado de trabalho, acesso a informações científicas e analisar as condições do exercício da docência. METODOLOGIA O presente trabalho é um estudo descritivo, de abordagem quantitativa, contemplando 16 escolas públicas e privadas que oferecem cursos de auxiliar e técnico de enfermagem na região de Piracicaba. Dessas escolas, sete são públicas e nove, particulares. Inicialmente, solicitamos ao Conselho Regional de Enfermagem7 (COREN – SP) uma relação das escolas de ensino médio de enfermagem na região e, após o recebimento da listagem, efetuamos o contato por telefone com os responsáveis por cada escola, para obtermos informações como confirmação de endereço, responsabilidade técnica e número de docentes na instituição. A coleta de dados foi feita no período de fevereiro a março de 2002. Entregamos os questionários aos responsáveis técnicos das escolas, que os distribuíram aos docentes. Retornamos após duas semanas para buscar os questionários respondidos. Da população total constituída por 138 enfermeiros-docentes, recebemos 81 (76,4%) questionários preenchidos, já que 32 professores ministravam aula em duas escolas e responderam apenas um questionário, não caracterizando, assim, duplicidade nas respostas; 25 professores não efetuaram a devolução do instrumento de coleta. Contamos, então, com uma amostra representativa de 81 (76,4%) sujeitos. A região de Piracicaba está inserida nas 24 Direções Regionais de Saúde de São Paulo, pertencentes à estrutura da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, reorganizadas administrativamente a partir de 1995. São 25 municípios, englobando 1.222.550 habitantes, segundo censo de 1999 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O questionário para a coleta de dados continha 20 questões abertas e fechadas, compreendendo: identificação do profissional (dados demográficos: idade, sexo e estado civil), formação profissional e pedagógica, mercado de trabalho, acesso a informações técnico-científicas, tempo de docência, grau de realização no magistério e motivo que o levou à docência. R Enferm UERJ 2005; 13:76-82. • p.77 Perfil dos professores de ensino médio Para validação do instrumento de pesquisa, o pré-teste foi aplicado em outra amostra de 14 enfermeiros que trabalhavam no ensino médio profissionalizante, dos quais quatro trabalham na Escola Técnica Municipal de Paulínia e 10 em uma escola particular do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), no município de Itapira. O questionário foi aplicado a todos aqueles que concordaram em participar deste estudo, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, dirigido ao respondente, com explicações sobre o objetivo do trabalho, após aprovação do projeto da pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Os dados obtidos para caracterização da população foram analisados de forma descritiva e apresentados através de números absolutos e relativos quanto a cada uma das variáveis estudadas. O programa utilizado como banco de dados foi o EPI-INFO (Versão 6.0) e a análise estatística foi executada através do Statistical Analysis System for Windows - SAS, com o auxílio da Comissão de Pesquisa e Estatística da FCM UNICAMP. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observamos maior concentração de docen- tes na faixa etária entre 40 e 49 anos, totalizando 53,1%. Na faixa entre 30 e 39 anos, encontram-se 37% dos docentes e na faixa mais jovem (até 29 anos) encontram-se 7,4%. Somente 2,5% dos docentes estavam na faixa dos 50 anos e mais. Os dados relativos à distribuição de docentes por sexo confirmam a predominância do sexo feminino (95,1%) - característica peculiar da profissão – e um contingente de apenas 4,9% participantes do sexo masculino. Ficou então corroborada a hegemonia feminina conforme apresentada no relatório do Conselho Federal de Enfermagem e Associação Brasileira de Enfermagem COFEN/ABEn (1982/1983) envolvendo 94,1% de enfermeiros do sexo feminino, contra 5,6% do masculino8. Observa-se, na análise em relação ao estado civil, o aumento da porcentagem de mulheres casadas, o que denota uma variação em relação a estudos anteriores. No relatório COFEN/ABEn, de 1982/1983, do total da população de enfermeip.78 • R Enferm UERJ 2005; 13:76-82. ros estudados, 45,7% eram solteiros; 47,7%, casados; 2,0%, viúvos e 4,4%, separados, havendo, portanto, um aumento da proporção de casados. Esse aumento acentuou-se ainda mais no início do século XXI, conforme constatamos em nossa pesquisa, com a identificação de 76,5% de profissionais casados. Foram encontrados 14,8% solteiros, 4,9% divorciados, 2,5% separados e 1,2% viúvos. Para analisar o tempo de formados, foi tomada como base uma classificação proposta por Machado9 em estudo da vida profissional do médico, decomposta em cinco fases, a saber: adentrando a vida profissional: jovens com menos de 30 anos, com até 4 anos de formado; afirmando–se no mercado: com 5 a 9 anos de formação; consolidandose na vida profissional: com 10 a 24 anos de formação; desacelerando as atividades: com 50 a 59 anos de idade, há mais de 25 anos no mercado; e paralisando a vida profissional: com mais de 35 anos de formação. Comprovamos que, em relação ao tempo de formação profissional, 69,1% dos enfermeiros participantes da pesquisa se encontram consolidando sua vida profissional, isto é, entre 10 e 24 anos de conclusão dos cursos, enquanto 16% estão na fase de afirmação no mercado de trabalho; 13,6 % estão iniciando sua vida profissional;1,2 % desacelerando suas atividades profissionais e nenhum dos participantes paralisando a vida profissional. Em relação ao tempo de docência em enfermagem, há uma pequena inversão dos dados, sendo que 43,2% encontram-se em fase de iniciação de sua vida profissional, 40,7% encontram-se em fase de consolidação de sua vida profissional e 16% em fase de afirmação no mercado de trabalho. Verificou-se que 79% dos participantes freqüentaram alguma modalidade de cursos de atualização profissional, destacando-se os de especialização em enfermagem. Quanto às modalidades de formação - pós-graduação stricto sensu, cinco enfermeiros possuem mestrado, sendo dois em enfermagem e três na área de educação. Percebe-se, pelos resultados, que os enfermeiros-docentes respondentes investem na sua capacitação, uma vez que possuem uma ou mais titulações, o que enriquece a educação profissional continuada em enfermagem. Dos participantes da pesquisa, 51,85% possuem curso de Licenciatura em Enfermagem e 48,15% não possuem formação pedagógica e obtêm, através das Delegacias de Ensino, autorização provisória para ministrarem aulas. Bassinello GAH, Silva EM A Faculdade de Enfermagem de Araras (UNIARARAS), instalada na região, já oferecia, desde meados de 1980 até 2002, a opção da Licenciatura integrada com o bacharelado, o que deve justificar o atual cenário de formação docente na região. Entretanto, essa constatação pode não refletir a realidade de formação docente nas demais regiões do estado e do país. A preocupação com a busca de um caminho para sanar as dificuldades encontradas na formação pedagógica do enfermeiro tem sido demonstrada pelo Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores na Área de Enfermagem (PROFAE), através de sua proposta de capacitação dos enfermeiros - docentes para atuação no ensino médio. As contradições do mercado de trabalho e as instituições educacionais têm provocado distorções no exercício da docência, quando autorizam o enfermeiro a ministrar aulas, mesmo sem formação pedagógica. Entendemos que questões que envolvem o ensino-aprendizagem têm a ver com a formação do professor, que é o elo entre a teoria e a prática dessa atividade. Em nosso trabalho, verificou–se que 39,5 % dos participantes estão submetidos a contrato de trabalho por tempo indeterminado e 12,5% por tempo determinado - contratos temporários ou por serviços prestados, a forma mais comum de contratação de escolas particulares e uma das formas de contratação estadual: a admissão em caráter temporário (ACT), em que o docente é contratado sem concurso público para suprir deficiências de pessoal. Faz-se necessário citar que 23 (28,4%) participantes da pesquisa estão submetidos ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), modelo característico de contratação das escolas técnicas estaduais vinculadas ao Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. Para Angerami e Correia10, as transformações ocorridas no mercado de trabalho, atualmente chamadas reestruturação produtiva ou acumulação flexível, trouxeram uma tendência de empregar cada vez mais uma força de trabalho que entra facilmente no mercado e é demitida sem custos. Observamos em nossa pesquisa que 53% dos docentes se submetem a contratos temporários de trabalho, o que comprova a citação anterior. Na docência de ensino médio, principalmente nas escolas privadas, os professores são contratados mediante poucas exigências e demitidos sem receberem direitos adicionais, como férias, décimo terceiro salário e fundo de garantia. Outra forma de contratação mencionada na pesquisa foi aquela por módulos, isto é, o professor é contratado para ministrar algumas disciplinas ou estágios, que são distribuídos através de módulos seqüenciais, o que caracteriza também o contrato temporário. Também observamos que 18,5% dos respondentes são efetivos, uma das características das escolas públicas, cujos profissionais são admitidos mediante concurso. Os docentes são admitidos de duas formas na educação estadual: uma, em caráter efetivo, por meio de concurso público com provas e títulos e outra, em caráter temporário (ACT), sem nenhum processo seletivo com provas de conhecimento ou habilidade11. A carga horária semanal dedicada à docência prevalecente em nossa pesquisa é de até 20 horas semanais para um total de 48,1% dos participantes, seguida de 30 a 40 horas semanais (29,6%); 19,8% trabalham de 20 a 30 horas semanais e somente 2,5%, mais de 40 horas semanais. A jornada integral de trabalho docente tem duração de 40 horas aulas semanais; a completa, 30 horas aulas semanais e a jornada parcial de trabalho, 20 horas semanais. Os dados apontam que 67,9% dos profissionais possuem dois empregos, 23,5% dedicam-se apenas à docência e 8,6% possuem três vínculos empregatícios. A característica de múltiplos empregos denota o advento da diversidade e heterogeneidade dos postos de trabalhos atuais e as formas flexíveis de trabalho no setor. Vale mencionar o aumento dos contratos temporários, revelando a possibilidade de crescimento da rotatividade da força de trabalho empregada. Verifica-se que a maior parte dos professores (40,7%) trabalha em escola e hospital; 28,4% em escola e saúde pública; 22,2% só atuam em escolas; 3,7% em escola, hospital e saúde pública e 4,9% em outros tipos de instituição, ligadas a consultoria em enfermagem; instituição particular; empresa própria de enfermagem domiciliar, e enfermagem domiciliar. A docência é atividade secundária para a maioria (51,9%) dos enfermeiros-docentes participantes da pesquisa; para 46,9% é atividade principal e para 1,2% tem outra ordem de importân- R Enferm UERJ 2005; 13:76-82. • p.79 Perfil dos professores de ensino médio cia, que foi justificada como atividade em que é dedicada menor carga horária, mas que não é de menor importância. Aplicamos a terminologia atividade principal, com base em Nóvoa12 que a caracteriza como exercício em tempo integral ou quando o profissional só se dedica ao ensino, não o considerando uma atividade passageira, mas um trabalho importante na sua vida profissional. Entendemos que lecionar não é a principal atividade do enfermeiro-docente de nível médio profissionalizante em enfermagem; pode ser até a mais gratificante, porém parte da amostra investigada trabalha em hospitais, postos de saúde e conta com a área educacional para aumentar seus rendimentos. Dos pesquisados, a maioria (67,9%) nunca participou de nenhum tipo de pesquisa, enquanto 32,1% o fizeram. Esse dado nos parece peculiar, pois há pouca produção de conhecimento em nível médio profissionalizante em enfermagem. Verifica-se que também a maioria (75,3%) dos respondentes participou de eventos ligados à sua área, como: jornadas e congressos (50,8%), cursos (23%) seminários, reuniões e palestras (9,8%), campanhas de Prevenção da Hipertensão, Diabetes e AIDS – (8,2%) e outros (8,2%). Os dados revelam que a maior parte dos enfermeiros (90,1%) possui conhecimento de informática e acesso à Internet, enquanto 9,9% não se movimentam nesse sentido. Não exploramos, na aplicação do questionário, se o uso do computador ou Internet tem relação com melhor desempenho do trabalho pedagógico. CONCLUSÕES A visão tecnicista que norteou o ensino no Brasil durante várias décadas reduziu bastante a atuação do professor, principalmente nos programas de qualificação profissional de nível médio de enfermagem. Hoje, com as alterações ocorridas no mundo da produção, a questão do conhecimento e formação profissional implica novamente a articulação da educação com as questões referentes à empregabilidade, agravante que se impõe na prática docente13. Ao traçarmos o perfil do enfermeiro-docente na região de Piracicaba, em um nível micro de observação e análise, com base no modelo analítico da sociologia das profissões5,9, percorremos p.80 • R Enferm UERJ 2005; 13:76-82. uma trajetória que nos permitiu verificar o perfil demográfico com a presença de um expressivo contingente de trabalhadores na faixa etária de 40 a 49 anos, o que aponta para o envelhecimento da categoria e acompanha a transição demográfica da população, além da predominância do sexo feminino e maioria de docentes casadas, contribuindo para o orçamento familiar. As reflexões sobre a formação profissional apontaram para questões como: qual a real competência do enfermeiro credenciado para o exercício profissional dentro das especificações necessárias para a docência ? Nessa perspectiva e à luz da sociologia das profissões, a inserção do enfermeiro no campo de trabalho da docência necessita da construção de um campo de conhecimento e técnicas próprias da profissão docente, mais a organização de normas e valores pautados nessa atividade. As leis que regulamentaram o ensino e o exercício da enfermagem profissional no país enfocam como atribuições do enfermeiro a participação no ensino, em escolas de enfermagem e auxiliar de enfermagem, treinamento de pessoal em serviço e atividades extra-escolares. Ao mesmo tempo, a legislação pertinente à formação de professores abriu brechas para que, onde não houvessem licenciados, outros docentes de áreas específicas pudessem, em caráter provisório, assumir as atividades pedagógicas, com as delegacias de ensino emitindo autorização para tanto. Nesse sentido, o que deveria ser provisório se perpetua com a renovação anual dessa autorização precária14. Analisando a situação concreta das condições de trabalho de docentes em nível médio de enfermagem, fica evidente um mercado em crescente expansão, porém oferecendo contratos temporários que constituem opções secundárias de trabalho para os docentes, o que faz com que muitos dos enfermeiros se afastem dos projetos de formação adequada dessa área. Outro aspecto importante que devemos considerar é a atual estrutura dos cursos de licenciatura, longe de oferecer subsídios de que o enfermeiro precisa para se instrumentalizar no exercício das atividades de ensino, principalmente em relação às matérias específicas dos cursos profissionalizantes. O curso superior de enfermagem tem sido objeto de constantes análises e avaliações quanto às diretrizes e bases de formação profissional e estudiosos de enfermagem movimentaram-se no sentido de inserir o enfermeiro Bassinello GAH, Silva EM generalista nessa frente de trabalho: docentes de nível médio de enfermagem15. Em comparação a estudo anterior2 sobre corpo docente de nível médio profissionalizante, não encontramos profissionais de nível médio de enfermagem e profissionais de áreas distintas da enfermagem atuando como docentes. Os achados apontam uma preocupação com a formação contínua e a formação pedagógica se mostrou, mesmo que parcialmente presente, o que denota interesse pelo desenvolvimento de serviços especializados ou expertise profissional, pontos fundamentais para qualquer projeto profissional. Concluímos que o estudo que desenvolvemos nos forneceu algumas respostas a questões referentes ao cotidiano do enfermeiro-docente. Na visão de Angerami e Correia16, a enfermagem é plural e o profissional opta por um caminho frente à profissão e à sua prática. Se não houver a aceitação dessa multiplicidade, a enfermagem se fecha e não progride. É a vivência de ser enfermeiro e ser docente que nos leva a enfocar a caracterização do perfil do professor, procurando conhecer o espaço social em que esse profissional está inserido. Neste momento, acreditamos ser necessário aprofundar o processo de conhecer a realidade da formação profissional em nível médio de enfermagem, uma vez que poucos são os estudos nessa área. Ao refletir sobre a formação profissional, é preciso resgatar os processos de ensinoaprendizagem, bem como a enfermagem nele inserida, estimulando mudanças. Na preocupação com novos rumos, é importante estudar as condições concretas de trabalho docente e a formação pedagógica do enfermeiro, para então investir nos meios para a valorização dos cursos de formação profissional. REFERÊNCIAS 1. Vieira ALS, Oliveira ESA. A equipe de enfermagem no mercado de trabalho em saúde do Brasil. Saúde em Debate 2001; 25: 63-70. 2. Santos LHP. Vivendo em constante conflito: o significado da prática docente no ensino médio de enfermagem [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem da USP; 1997. 3. Bomfim MIRM, Torrez MNFB. A formação do formador no PROFAE: refletindo sobre uma proposta na área de enfermagem. Formação/ Ministério da Saúde 2002; 4:15-34. 4. Duarte MJRS. Formação pedagógica do enfermeiro para o ensino de nível médio. Rev Enferm UERJ 2001; 9: 52- 5. 5. Machado MH. Profissões de saúde: uma abordagem sociológica. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1995. 6. Rabelo MAM. Sobre os determinantes do perfil profissional: o caso da enfermagem. In: Anais do Seminário da região sudeste sobre perfil e competência do enfermeiro e o currículo mínimo para a graduação em enfermagem; 1988 nov 17-19; São Paulo, Brasil. São Paulo: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; 1988. p. 21-8. 7. Conselho Regional de Enfermagem (SP). Relação das escolas de enfermagem de nível médio. Disponível em: http://www.corensp.org. br. Acesso em 25 jun. 2001. 8. Conselho Federal de Enfermagem, Associação Brasileira de Enfermagem. O exercício da enfermagem nas instituições de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: COFEN; 1985. 9. Machado MH. Os médicos no Brasil: um retrato da realidade. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1997. 10. Angerami ELS, Correia FA. A modernidade na formação do enfermeiro: aspectos acadêmicos. In: Anais do Encontro Nacional de Escolas de Enfermagem; 1996 jul 2424; São Paulo, Brasil. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 1996. p1. 11. Souza NA. Sou professor, sim senhor: representações do trabalho docente. Campinas: Papirus; 1996. 12. Nóvoa A. Profissão professor. Portugal (Po): Porto Editora; 1995. 13. Catani AM, Oliveira JF, Dourado LF. Mudanças no mundo do trabalho e reforma curricular dos cursos de graduação no Brasil. XX Reunião da ANPEd, Caxambu; 2000.Caxambu (MG): ANPEd; 2000. 14. Bagnato MHS. Licenciatura em enfermagem para que? [tese de doutorado] Campinas (SP): Universidade Estadual de Campinas; 1994. 15. Dilly CML, Jesus MCP. Processo educativo em enfermagem: das concepções pedagógicas à prática profissional.São Paulo: Robe Editorial; 1995. 16. Angerami ELS, Correia FA. Em que consiste a enfermagem. In: Anais do 1º Seminário Nacional sobre Perfil e a Competência do Enfermeiro; 1987 set/out 29-02; Brasília, Brasil. Brasília (DF): Universidade de Brasília; 1987. p.38. R Enferm UERJ 2005; 13:76-82. • p.81 Perfil dos professores de ensino médio PERFIL DE LOS PROFESORES DE ENSEÑANZA MEDIA DE PROFESIONALIZACIÓN EN ENFERMERÍA RESUMEN: El presente trabajo permitió, partindo del concepto de análisis sociológico de las profesiones, caracterizar el perfil y analizar las condiciones de trabajo del enfermero en el ejercicio de la docencia. Este estudio se ha configurado descriptivo, de enfoque cuantitativo, realizado en 2002, con 81 enfermerosdocentes de enseñanza de nivel medio de Piracicaba-São Paulo-Brasil. Se ha verificado la presencia de un expresivo contingente de trabajadores en la franja etaria de 40 a 49 años, el predominio del sexo femenino, la mayoría de los docentes casados. El modelo de contratación predominante fue el trabajo temporal, con una jornada de 20 horas semanales en la enseñanza, lo que hizo factible la estrategia del multiempleo, principalmente para aquellos que trabajaban en escuelas y hospitales. La docencia es actividad secundaria para más de la mitad de los participantes de la encuesta. Se concluyó que los enfermeros-docentes invierten en su capacitación, a pesar de dificultades como reconocimiento pequeño y estatus profesional, sueldos bajos, perspectiva limitada de progresión en la carrera y falta de condiciones y de infraestructura en el cumplimiento de su trabajo. Palabras clave: Docente de enfermería; enfermería; enseñanza; recurso humano. Recebido em: 09.11.2004 Aprovado em: 08.03.2005 Notas Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Professora da Faculdade de Enfermagem do Centro Universitário Hermínio Ometto – UNIARARAS. E-mail: [email protected]. ** Enfermeira, Professora Doutora do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP e Coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem da FCM-UNICAMP. * p.82 • R Enferm UERJ 2005; 13:76-82.