1 A compreensão da Educação Física em uma escola rural do Distrito Federal: uma experiência a partir do PIBID O presente trabalho tem o objetivo de apresentar de que forma as aulas de Educação Física tem sido desenvolvidas em uma escola rural do Distrito Federal. Essa pesquisa refere-se à primeira etapa da experiência do PIBID, subprojeto Educação Física da Universidade de Brasília - UnB. Para tal, foram aplicadas entrevistas aos gestores da escola e ao professor de Educação Física, além de observações sistematizas, realizadas nas 8 horas semanais que os estudantes do PIBID permanecem na escola. Trata-se de uma escola com aproximadamente 90 estudantes, distribuídos em 5 turmas, uma para cada ano. O índice de repetência é muito baixo, assim como a taxa de evasão. As aulas de Educação Física aconteciam somente uma vez por semana com duração de 45 minutos. O professor geralmente inicia com um alongamento e aquecimento, em seguida propõe atividades voltadas para o desenvolvimento da psicomotricidade e depois a maior parte dos meninos joga futebol na quadra, e as meninas realizam outras atividades, tais como pular corda, “ping-vôlei" e amarelinha. Foi constatado que diversos estudantes, cerca de 40%, possuem algum problema de ordem familiar (pais ausentes, parentes que estão na cadeia, algum familiar violento), e/ou de ordem psicológica (depressão, ansiedade, hiperatividade, deficiência intelectual). Essas questões de alguma forma se mostram presentes nas aulas de Educação Física. No 2º semestre de 2014 a análise dessas questões recebeu um tratamento mais profundo, a fim de se compreender melhor a realidade da Educação Física para esse público específico de escola rural. Ressalta-se que essa experiência tem contribuído de forma expressiva para a formação acadêmica dos estudantes envolvidos. 2 Introdução O presente trabalho tem o objetivo de apresentar resultados parciais de uma pesquisa que está em andamento, no qual busca compreender de que forma as aulas de Educação Física tem sido desenvolvidas em uma escola rural do Distrito Federal. Essa pesquisa refere-se à primeira etapa da experiência do PIBID, subprojeto Educação Física da Universidade de Brasília - UnB. O objetivo é mostrar como a Educação física é trabalhada em uma escola rural, e oportunizará aos interessados saber a respeito da visão que os alunos têm deste componente curricular. Serão apresentados os conteúdos abordados em sala e os métodos de ensino utilizados pelo professor. Podemos considerar o trabalho em campo como uma ferramenta que promove a reflexão sobre a investigação durante o curso de Educação Física, servindo também para compartilhar as ideias e atividades pelo fato de poder organizar uma grande diversidade de registros selecionados. Assim, foi desenvolvido este trabalho como forma de poder conhecer o trabalho que tem sido desenvolvido através das aulas de Educação Física. Experiências de aprendizagem e na expectativa de que este venha contribuir positivamente para as nossas práticas pedagógicas e também pela possibilidade de construir um espaço de partilha de experiência. Permitir fazer ligações entre a teoria e a prática. Desenvolvimento do projeto A escola surgiu no fim dos anos 60, alguns relatos indicam que ela tenha surgido em 1964. Inicialmente era localizada na casa de um senhor, o qual cedeu dois quartos de sua propriedade para que se pudesse realizar as aulas, desse modo as turmas de 1ª e 2ª série tinham aula em uma sala e a 3ª e 4ª série em outra. Esse mesmo senhor, doou parte de sua propriedade para a construção da escola e é nesse terreno que ela está situada até então. A Escola estudada é uma instituição pública rural da Região Administrativa Sobradinho, próximo ao Itapoã. Foi reformada em 2010 e após esse período suas maiores transformações foram devido ao apoio da comunidade (pais, alunos e professores), um exemplo é a construção da quadra que foi feita com materiais doados e construída por pais de alunos que trabalham na construção civil. Esse projeto foi desenvolvido com o apoio da direção, e é isso que promove as melhorias na escola. É uma quadra pequena e priva os alunos de desenvolverem atividades que ocupem mais espaço, é descoberta e não é poliesportiva, 3 mas ainda assim é o único espaço mais adequado para a prática das atividades de educação física. É uma escola de Ensino Fundamental I, 1º ao 5º ano, contando com apenas 5 turmas, e possui em torno de 90 alunos. São 5 professores por turno, além de uma coordenadora pedagógica e a coordenadora da educação integral. A escola não possuía um professor de Educação Física até Setembro deste ano, quando a professora aprovada no último concurso para professores temporários foi chamada pela secretaria de educação para assumir o cargo. O professor supervisor do projeto é fornecido pela Secretaria de Educação, esse professor não tem vivência com a escola e alunos, pois são apenas três horas de aula por semana, ocorridas nas segundas-feiras à tarde. A escola segue um plano curricular, o currículo em movimento da educação básica, que é uma forma de orientar o corpo docente com relação a quais conteúdos trabalhar e de qual maneira deve ser trabalhado. Para cada série existe um conteúdo especifico, sendo que o currículo é dividido em linguagens, matemática e ciências da natureza. A educação física está inclusa no conteúdo de linguagens, isso porque não havendo um professor de educação física na escola, qualquer professor tem a obrigação de trabalhar a questão da psicomotricidade, uma parte importante da educação física. As aulas de Educação Física são ministradas no turno vespertino a partir das 14h00 na segunda-feira, sendo 3 aulas, a primeira aula com o 3° ano, a segunda aula com o 4° e 5° ano e a terceira aula com o 2° ano. O 1° ano não participa das aulas de Educação Física. A escola possui um depósito com muitos materiais para a aula prática, porém são utilizados os mesmos recursos em todas as aulas, isto é, as mesmas brincadeiras, as mesmas bolas e cordas. A ideia é que pudessem ser trabalhadas novas práticas corporais, já que a escola possui recursos. Poderiam ser realizadas atividades lúdicas inclusivas para àqueles alunos que não participam das aulas. A maneira que as atividades acontecem despertou a atenção do grupo, isso porque, os gêneros não se misturam. Geralmente as meninas realizam as atividades em um outro espaço enquanto os meninos permanecem na pequena quadra jogando futebol. Após um pequeno intervalo as turmas são trocadas. O interessante é que essa divisão é algo natural, o professor não ordena que meninos joguem futebol e meninas pulem corda, automaticamente os alunos se dividem. É importante que sejam realizadas atividades que possam incluir meninos e meninas, pois é necessária uma interação entre indivíduos, isso é condição 4 indispensável à associação humana. Nesse momento nota-se a questão do papel social, a sociedade define um conjunto de normas que são herdadas e, atrás do processo de socialização, surgem aos poucos. Por que meninos devem jogar futebol e meninas pular corda? Esse conjunto de regras são baseadas nos comportamentos associados à masculinidade e feminilidade que são impostos por culturas e sociedades. Em relação aos alunos, quanto ao processo de desenvolvimento uma proposta centrada, o professor sempre procura trazer atividades relacionadas com o que é trabalhado em sala de aula, visando a psicomotricidade, ensinando-os a colaborar, existindo a preocupação de explorar a expressão do corpo do aluno para a melhor realização das atividades propostas. Metodologia Através de discussões com os gestores da escola e com o professor de Educação Física, além de observações sistematizadas, realizadas nas 8 horas semanais que os estudantes do PIBID permanecem na escola, constatou-se que devido ao apoio do corpo docente que trabalha junto à direção, repetência não é algo comum. A escola aderiu ao segundo ciclo, portanto, existe reprovação apenas no terceiro e quinto ano; quanto à evasão, pode-se dizer que não existem casos registrados, pois mesmo os alunos que se mudam para outros estados continuam estudando em outras escolas. Em algumas escolas e creches do Distrito Federal foi implantado o projeto PROEITI, o qual conta com monitores contratados pela secretaria de educação. Com o objetivo de desenvolver atividades recreativas e preencher o período vespertino, existem aulas de capoeira, oficinas na horta, às vezes algumas oficinas de artes e educação física. Por ser uma região carente, a maioria dos pais ou responsáveis trabalham o dia inteiro e não têm onde deixar os filhos. Sendo assim, esse programa foi criado na intenção de que ao mesmo tempo em que as crianças permanecem sob os cuidados da escola, aprendam valores e desenvolvam habilidades através de atividades que estimulem o cognitivo. Além de oficinas e projetos da Secretaria de educação, são realizados passeios com frequência para atividades culturais que acontecem no DF. Um exemplo disso foi a visita ao estacionamento do Mané Garrincha para conhecer a taça da Copa de 2014. Quando questionados a respeito da forma que a escola se organiza, verificou-se que suas normas e diretrizes são basicamente iguais as de qualquer outra escola, com 5 um diferencial quanto ao recreio onde foi criada uma escala, a função é a divisão das brincadeiras entre as 5 turmas, cada dia um turma realiza uma única brincadeira (parquinho, basquete, tênis de mesa, futebol e pular corda). O problema dessa divisão de atividades é que muitos alunos têm preferência por determinadas atividades, porém são obrigados a fazer outras que estão na escala. É uma forma de organizar a escola e evitar que haja desentendimentos entre alunos maiores e menores, mas a ideia da recreação é divertir e entreter o indivíduo, isto é, se a brincadeira não agrada a criança, não se trata mais de recreação, apenas uma prática imposta pelo professor. É importante que haja diálogo entre professores e alunos, pois o recreio deve ser um momento prazeroso onde o aluno se liberta da rotina em sala de aula e revigora a mente e o corpo. Deve-se levar em consideração que o momento de recreação não pode ser apenas um momento de divertimento, trata-se de um instrumento educacional. Existem disciplinas obrigatórias do curso de Educação Física que tratam da temática recreação e lazer, isso porque são necessárias habilidades até mesmo para saber a respeito do interesse do público que está lidando. Apresentação dos Resultados Parcialmente chegaram-se as seguintes constatações, trata-se de uma escola Classe, assim atende somente estudantes do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, com faixa etária entre 6 e 10 anos, com uma condição socioeconômica mediana. Trata-se de uma escola pequena com uma média de 90 estudantes, pois ao longo do ano saíram por volta de 10, mas entraram em torno de 10 alunos, alguns deles inclusive no terceiro e no quarto semestres. São 5 salas de aula, sendo distribuídas uma para cada ano. O índice de repetência é quase nulo. As aulas de Educação Física aconteciam somente uma vez por semana com duração de 45 minutos. O professor geralmente inicia com um alongamento e aquecimento, em seguida propõe atividades voltadas para o desenvolvimento da psicomotricidade e depois a maior parte dos meninos joga futebol na quadra, e as meninas realizam outras atividades, tais como pular corda, “ping-vôlei”, amarelinha. Em algumas das aulas que o professor teve de faltar, tivemos a liberdade de dar aula para as turmas, e nessas aulas buscamos trazer atividades novas para despertar o interesse das crianças que não gostam de educação física e para mostrar que eles podem fazer mais do que jogar bola, que eles podem e devem interagir entre si, cooperar uns 6 com os outros, aprender a lidar com as diferenças de sexo e idade, e respeitar não somente os professores como também seus colegas. Para isso realizamos uma série de jogos e atividades tais como: piquecorrentinha no qual as crianças devem pegar as outras e irem formando uma corrente com as mãos dadas até pegarem todos os participantes, e com isso visamos enfatizar a cooperação entre eles. Outra atividade foi o pique-bandeirinha, no qual são formados 2 times, e cada um tem que tentar pegar a bandeira do adversário e trazer para o seu lado do campo sem ser "colado", com essa atividade procuramos incentivá-los a se esforçar pelo grupo e pensarem nos colegas, pois para alcançar o objetivo eles precisam uns dos outros, e normalmente é esse o time vencedor da brincadeira. A última atividade foi uma simples brincadeira na qual formamos uma roda dando as mãos uns para os outros, e temos de passar o bambolê para o próximo sem romper a corrente, a intenção foi de unir a turma e novamente de mostrar a importância de cooperarem uns com os outros, pois especificamente na turma de 2º ano eles são muito competitivos, brigam muito durante as atividades e sempre culpam uns aos outros quando alguém perde nos jogos, então procuramos deixar a competição de lado e de fato as crianças lidaram bem umas com as outras, apenas um menino se irritou e disse que não conseguia sem mesmo tentar, mas depois de um tempo ele parou e voltou para a roda e com auxílio dos colegas ele conseguiu realizar a atividade. Como havia sido constatado, vários estudantes, cerca de 40%, possuem algum problema de ordem familiar e/ou de ordem psicológica, na segunda parte do buscamos avaliar as implicações de tais problemas e como eles se mostram durante as aulas de Educação Física. Pode-se perceber que algumas crianças que passaram ou que ainda passam por situações difíceis em casa se mostram mais agitadas ou quietas demais, algumas se sentem só e se isolam também na escola, outras por se sentirem só buscam chamar atenção de todas as formas, com brigas, com comportamentos exagerados, atrapalhando o andamento de atividades no recreio, em sala de aula e também na educação física. Uma das coisas que se busca fazer é dar um pouco de atenção para essas crianças, não muita para que os outros não se sintam menosprezados, mas o suficiente para que eles se sintam lembrados e vejam que não precisam de tais comportamentos para conseguir nossa atenção e que estamos lá para ajudá-los assim como seus colegas e professores. E já com as crianças comportadas tentamos ajudá-las a se incluírem, procuramos fazer isso da forma mais natural possível, brincamos com elas e depois 7 vamos saindo aos poucos para que elas conquistem sua independência e que busquem solucionar essas questões por si só mas sabendo que não estão tão sozinhas quanto pensam. Conclusão A oportunidade de participar das aulas foi de grande importância nesta fase inicial como bolsistas do PIBID. A postura e a forma como o professor trabalha com os alunos, como explana suas aulas desenvolvendo conteúdos práticos, tem contribuído positivamente. E nesse 2º semestre de 2014 a análise dessas questões recebeu um tratamento mais profundo, a fim de se compreender melhor a realidade da Educação Física para esse público específico de escola rural, assim como a identificação de problemas para que o PIBID possa ter uma ação que os problematize e busque contribuir para a mudança necessária. Até então, as intervenções tem sido bem sucedidas, temos aprendido muito com o que vemos e principalmente com as atividades que realizamos, e ao que parece as crianças também tem melhorado e aprendido conosco, e é esse nosso objetivo ensiná-los mas também aprender o máximo possível com as atividades, com as histórias de vida e com o que tudo que houver na escola que possa nos acrescentar experiências e vivências enquanto educadores e seres humanos. Referências bibliográficas FARIA, Luísa. Desenvolvimento do auto-conceito físico nas crianças e nos adolescentes; Análise psicológica(2005). Portal da Educação Física; Educação Física, recreação e lazer. Disponível em: http://www.educacaofisica.com.br/index.php/escola/canais-escola/lazerrecreacao/27522-educacao-fisica-recreacao-e-lazer. Acesso em 21 de Novembro de 2014. SANTANA, Vagner; BENEVENTO, Claudia. O conceito de gênero e suas representações sociais. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd176/o-conceito-de-genero-e-suasrepresentacoes-sociais.htm. Acesso em 23 de novembro de 2014. 8 ANEXO Entrada da escola. Horta utilizada para oficinas. 9 Espaço para a prática de basquete. Parquinho.