O Escritor
O ESCRITOR
Ele tem o destino em suas mãos
Fábio da Silva
1
Fábio da Silva
Copyright © 2013 by Fábio da Silva
TÍTULO ORIGINAL
O Escritor
EDITOR
PerSe
DIAGRAMAÇÃO
Fábio da Silva
CAPISTA
Fábio da Silva
GÊNERO
Romance / Literatura
Brasileira
EDIÇÃO
3ª
Todos os direitos reservados à
Fábio da Silva
http://blogdofabiodasilva.blogspot.com/
[email protected]
[email protected]
2
O Escritor
DEDICATÓRIA
Dedico esta obra à minha família:
meu pai Ayrton, minha mãe Adelvair e meu
irmão Wagner que, sempre presentes em
minha vida, depositaram em mim toda a
confiança. Sem esquecer meu sobrinho e
afilhado, o pequeno Pedro, que acabou de
nascer para alegrar os nossos corações.
AGRADECIMENTO
Também quero agradecer a Deus por
tudo o que tenho até o presente momento
e, ainda, por ter me concedido o dom da
escrita e a força de vontade.
3
Fábio da Silva
4
O Escritor
SUMÁRIO
I – SEGUNDA-FEIRA......................7
II – TERÇA-FEIRA.......................9
III – QUINTA-FEIRA....................20
IV – SEXTA-FEIRA......................22
V – SEGUNDA-FEIRA.....................36
VI – TERÇA-FEIRA......................43
VII – QUARTA-FEIRA....................53
VIII – QUINTA-FEIRA...................60
IX – SEXTA-FEIRA......................68
X – SÁBADO............................79
XI – DOMINGO..........................84
XII – SEGUNDA-FEIRA...................91
XIII – TERÇA-FEIRA...................112
XIV – DOMINGO........................141
5
Fábio da Silva
6
O Escritor
I - SEGUNDA-FEIRA
Na escuridão da noite, uma moça de
branco, com longos cabelos claros e pele
alva, corria desesperadamente, chorando,
por uma rua deserta. Entrou num beco sem
saída; ali, forçou as maçanetas das
portas,
sem
sucesso.
Enquanto
experimentava a última, olhava para a
entrada e via, surgindo da penumbra, um
homem de preto. Como estava escuro, só
era possível identificar sua silhueta:
alto e magro. Ele entrou.
Apavorada, a jovem colou as costas
na parede, ao final do beco. Calmamente,
o Homem de Preto caminhou em direção à
Moça de Branco, que estava encurralada.
Então, ela implorou:
- Por favor, não me machuque! Não me
machuque!
Lentamente, abaixou-se, chorando. O
perseguidor aproximou-se e, com o punhal
na mão, serenamente, disse:
- Não se preocupe, criança. Vamos
brincar.
De repente, o silêncio da noite foi
interrompido por um grito de mulher que
ecoou, rasgando a escuridão. O grito
foi-se e, com ele, a noite. E, naquele
momento, era o som de um pássaro
cantando que regia o alvorecer de um
7
Fábio da Silva
novo dia na Avenida Rio Branco e
adjacências, na cidade do Rio de Janeiro
de 1929, então capital da República.
A citada via, inaugurada em 15 de
novembro de 1905, inicialmente com o
nome de Central, foi a primeira avenida
construída no Rio de Janeiro. Com quase
dois quilômetros de extensão, mais de 30
metros de largura, calçadas de sete
metros
(confeccionadas
em
pedra
portuguesa), possuía, entre as duas
pistas, um refúgio para pedestres. E
fora construída à moda dos boulevards
parisienses. Era arborizada, iluminada,
pavimentada, cheia de canteirinhos e
candelabros.
As fachadas das suas edificações
apresentam
colunas,
frisos,
figuras
alegóricas, guirlandas e outros detalhes
que
lhes
conferem
grande
beleza
arquitetônica.
Começava
na
Prainha
(atualmente Praça Mauá) e terminava na
Praia de Santa Luzia (onde hoje está o
Obelisco). Dividia-se em três partes; a
primeira
foi
ocupada
por
empresas
ligadas ao comércio de exportação e
importação,
em
virtude
da
sua
proximidade com a Zona Portuária. A
segunda parte encerrava o comércio, como
por exemplo: os bancos, os jornais, os
magazines, as confeitarias e as lojas de
roupas. A última, onde se encontra a
8
O Escritor
Praça
Floriano
(região
que
ficaria
popularmente conhecida por Cinelândia),
é composta por inúmeros edifícios no
entorno da referida praça, tais como: a
Escola Nacional de Belas-Artes (atual
Museu
Nacional
de
Belas-Artes),
a
Biblioteca Nacional, o Palácio Monroe
(já
demolido),
o
edifício
Wolfgang
Amadeus Mozart (vulgo Amarelinho), a
Câmara Municipal do Rio de Janeiro
(Palácio Pedro Ernesto) e o Teatro
Municipal. Com a morte do Barão do Rio
Branco, em 10 de fevereiro de 1912,
passou a chamar-se Avenida Rio Branco,
em sua homenagem. Essa via é o principal
palco
dos
acontecimentos
dos
dias
seguintes...
II - TERÇA-FEIRA
Na sala da casa, notava-se que a
mobília era simples. Num canto, havia
uma pequena estante repleta de livros.
Na cozinha, existiam louças por lavar.
Lá fora, alguém batia à porta.
Carlos de Assis era um jovem homem
branco, de 26 anos de idade, alto e
magro, com cabelos castanho-escuros.
Levantou-se da cama preguiçosamente,
saiu do quarto e foi atender à porta da
sala, arrastando-se. Abriu-a para o seu
9
Fábio da Silva
amigo Waldir Medeiros. Este era um jovem
homem moreno claro, também de 26 anos de
idade e de mesmo tipo físico que o seu.
- É você, Waldir?! Ainda é cedo.
- Já passou da hora, meu amigo.
Carlos olhou para o relógio de
ponteiros na parede da sala: 07h30min.
- Perdi a hora de novo. – disse
Carlos.
Então, deixou o amigo e seguiu para
o banheiro; de lá, ouvia-se o som de
água caindo da torneira. A seguir, foi
para o quarto e trocou de roupa. Na
sala,
Waldir,
calmamente,
tirou
o
chapéu, sentou-se numa cadeira próxima à
mesa e perguntou:
- Como anda o livro?
- Está indo. – respondeu ele, do
quarto.
Em cima da mesa, o amigo viu uma
garrafa de vinho pela metade, um copo
sujo,
algumas
anotações,
folhas
em
branco, uma caneta-tinteiro e alguns
jornais.
- Afogar-se na bebida não é a
solução, Carlos.
No quarto, ele terminava de abotoar
a camisa e nada respondeu. Da sala,
Waldir continuou:
- Esqueça-se dela, meu amigo.
- Que Deus me perdoe, Waldir, mas eu
preferia vê-la morta!
10
O Escritor
Tinham uma relação de amizade muito
forte, que começara já na infância.
Possuíam muitas afinidades. Mas existia
uma diferença marcante entre os dois.
Carlos não era um jovem dos mais
entusiastas. Ainda criança, perdera os
pais e o irmão mais velho num terrível
acidente e, para completar sua tragédia,
foi traído por Antônia, sua ex-noiva.
Quanto
a
Waldir,
este
era,
psicologicamente, o antônimo do amigo.
Dir-se-ia que era o entusiasmo em
pessoa. Sempre alegre e sorridente,
encarava a vida com muito bom humor.
Finalmente, Carlos entrou na sala.
- Cuidado com o que deseja, meu
amigo, pois pode conseguir.- advertiu
Waldir.
- Não é um pouco cedo pra sermões?!
Waldir sorriu. Carlos retribuiu,
colocou o chapéu e disse:
- Estou pronto!
E o amigo completou animado:
- É assim que se fala! Nada como um
dia após o outro. Vamos curar essa
ressaca!
Waldir e Carlos saíram. E este
fechou a porta atrás de si. Eles
cumprimentaram
Dona
Catarina,
uma
senhora simpática já de certa idade que
varria a calçada do outro lado da rua,
cuja principal atividade era tomar conta
da vizinhança e, para tal, adotava a
11
Fábio da Silva
estratégia de ficar horas e horas
varrendo a frente de sua casa. Os amigos
caminharam por uma típica rua do Rio de
Janeiro, de onde era possível ver o
Aqueduto da Carioca, ou, se preferir, os
Arcos da Lapa, por onde passam os
bondes. A seguir, após a passagem de uma
carroça e de um automóvel, atravessaram
a rua e compraram um exemplar do “Jornal
do Brasil”.
Os dois prosseguiram a caminhada.
Cumprimentaram duas belas jovens que
viram no sentido oposto. Então, seguiram
pela Avenida Rio Branco; o movimento de
automóveis e pedestres já era intenso
àquela hora. Lá, entraram na Padaria
Aurora e tomaram um cafezinho, enquanto
conversavam. Carlos olhou para o relógio
de pulso.
- Estamos atrasados.
Ambos
deixaram
a
padaria
e
caminharam,
aceleradamente,
pela
avenida, rumo à Biblioteca Nacional. Lá
chegando,
Carlos
e
Waldir
subiram,
apressados,
a
escadaria
externa
da
biblioteca e alcançaram o saguão de
entrada; foram recebidos pelo senhor
Gumercindo Rabelo, um alto funcionário
da biblioteca e pai de Maria Clara.
Tratava-se de um homem forte, de cabelos
grisalhos, com idade permeando os 50
anos. Ele disse exaltado, com o dedo em
riste:
12
O Escritor
- Isso são horas, vocês dois?!
- Desculpe, senhor Gumercindo. Não
vai acontecer de novo. – respondeu
Carlos.
- Desculpe, chefe. – disse Waldir.
- Chefe?! Por acaso eu tenho cara de
índio, ô Waldir?! – e colocando as mãos
na cintura - Já é a segunda vez esta
semana; fiquem sabendo vocês dois! – fez
outra observação - E olha que a semana
só está começando! A sorte é que vocês
trabalham bem e são bons rapazes – por
fim, ordenou – Agora, vocês dois, mãos à
obra!
Antes de partirem, Gumercindo tomou
o jornal das mãos de Waldir, concluindo:
- Agora, podem ir!
Sem guardar uma distância segura, o
amigo sussurrou para Carlos:
- A sorte é que a filha dele gosta
de você.
Eu
ouvi
isso!
–
completou
Gumercindo.
Então, os amigos seguiram correndo
para a escadaria interna. Subiram o
primeiro lance, alcançando o patamar em
que estava o busto em mármore de D. João
VI. Depois, pegaram o lance da esquerda
e, a seguir, o último lance, chegando ao
terceiro andar.
O
escritório
era
uma
típica
repartição pública carioca do final da
13
Fábio da Silva
década de 20. Lá, Carlos e Waldir, cada
qual em sua mesa, em lados opostos da
sala,
realizavam
suas
tarefas.
Gumercindo, em sua mesa, ao fundo, de
costas para a janela, lia, em voz alta,
o exemplar do “Jornal do Brasil” que
tomara de Waldir:
- “Mais uma mulher é morta nas
proximidades da Avenida Rio Branco.
Segundo relatos do Delegado Ernesto
Paranhos, a jovem de 22 anos, encontrada
em um beco sem saída, foi morta com uma
estocada no abdômen. Já é a segunda
morte em duas semanas.” – a seguir,
comentou - Que mundo é este?!
- Num beco sem saída?! Mas a que
horas foi isso?! – perguntou Carlos.
O chefe respondeu:
- Diz aqui que, possivelmente, entre
22 e zero hora de ontem.
- Que importância tem as horas,
Carlos? – indagou Waldir.
- Nada. Só curiosidade.
Como era hora do almoço, os amigos
caminhavam pela Avenida Rio Branco.
Viram Antônia Gonzaga; era uma jovem e
bela morena, de estatura mediana, de
longos cabelos negros, de 24 anos de
idade. Estava acompanhada de Fernando,
um jovem alto e magro, de 28 anos. O
casal caminhava na calçada do lado
oposto da avenida. Ela acompanhava-o,
14
O Escritor
segurando-o pelo braço. Ao ver aquela
cena, Carlos estacou. Waldir caminhou
mais alguns metros, até perceber que o
amigo ficara para trás. Então, volveu e
caminhou na direção de Carlos.
- Como ela pôde fazer isso comigo?!
– lamentou Carlos.
- Meu amigo, você merece uma mulher
melhor que a Antônia.
- Me trocou por aquele Fernando! E
eu nem desconfiei dela.
- Ela não passa de uma interesseira.
Sim; Antônia era uma interesseira.
Traíra Carlos faltando poucos meses para
o casamento. Também pudera, Fernando,
irresistível e cortejador, era o filho
mais velho de uma abastada e tradicional
família carioca. Ao contrário de Carlos,
um humilde funcionário público, sem
muitas
pretensões
e
aspirante
a
escritor.
E
ela
não
perderia
a
oportunidade por nada. Waldir tentou
animá-lo:
- Não deixe que isso acabe com o seu
dia.
Carlos
meneou
a
cabeça
positivamente. Então, Waldir completou:
- Agora vamos!
Em um modesto estabelecimento de
nome Café Carioca, situado na avenida,
no qual garçons iam e vinham, atendendo
às
mesas,
os
amigos
conversavam,
15
Fábio da Silva
enquanto
terminavam
o
almoço.
Após
colocar o último garfo de comida na
boca, Waldir, batendo com ambas as mãos
na barriga, perguntou:
- Sabe qual é a parte chata de
terminar o almoço?
- Qual? – indagou Carlos.
- Perde-se a fome.
Olharam um para o outro e riram.
Depois, cumprimentaram os dois policiais
que entraram e sentaram-se a uma mesa
próxima. A seguir, Waldir disse:
- Até que você está bem pra quem
bebeu meia garrafa de vinho.
- Não exagera. Foi só um terço; só
um terço.
Antes que pudesse tecer qualquer
outro comentário, Waldir olhou para a
entrada do restaurante e anunciou:
- E, agora, a sua felicidade estará
completa, meu amigo.
Carlos volveu o olhar na mesma
direção para ver a jovem Maria Clara
Rabelo, filha de Gumercindo, entrando no
estabelecimento e caminhando em direção
a eles. Maria era uma moça pequena, de
20 anos, pele alva, com longos cabelos
claros e olhos cor de mel. Waldir não se
conteve:
- Com o devido respeito, meu amigo,
ela é simplesmente encantadora!
E Carlos, enfeitiçado, concordou:
- Eu sei.
16
O Escritor
A moça continuou caminhando naquela
direção. Waldir levantou-se da mesa, deu
um tapinha no ombro do amigo e opinou:
- Dê uma chance a ela, dê uma chance
a você. – e completou, lembrando - Ah!
Hoje você paga a conta.
Cumprimentou a moça e seguiu rumo à
saída. Ela aproximou-se e disse:
- Olá, Carlos!
Era um tímido na lida com as
pessoas, principalmente com as mulheres.
Em especial, com aquela jovem de frágil
aparência, rostinho angelical e uma voz
terna, mas de grande força interior, que
representava o objeto de seu desejo, e
que atendia pelo nome de Maria Clara. De
certa forma, possuía uma influência
sobre ele, algo que o intimidava e, ao
mesmo
tempo,
atraía-o,
fascinava-o.
Quando ela estava perto, ele queria-a
distante; e, quando ela distanciava-se,
ele
desejava-a
mais
perto.
Esse
sentimento dúbio enlouquecia-o. O fato
era que o medo de contrair um novo
relacionamento somado ao fato de aquela
jovem
ser
a
filha
do
seu
chefe
apavorava-o. Então, desconcertado, ele
cumprimentou-a:
- Olá, Maria Clara!
A moça ficou de pé, parada em frente
à mesa.
- Onde está o seu cavalheirismo?
17
Fábio da Silva
Rapidamente, Carlos levantou e puxou
uma das cadeiras para Maria Clara. Ela
sentou-se. Ele imitou a ação a seguir e
perguntou:
- Posso lhe oferecer algo?
E a jovem, sem hesitar, respondeu:
- Seu coração.
O rapaz respirou fundo e desviou o
olhar de sua direção.
- Olha pra mim, Carlos.
Prontamente, voltou o olhar para a
moça, que perguntou:
- Por que não foi assistir ao meu
ensaio, ontem à tarde?
- Não estava me sentindo muito bem.
Fui direto pra casa. Desculpe-me.
- Tudo bem. Quando a gente ama, a
gente
perdoa
tudo.
–
disse
ela,
compreensiva.
- Maria Clara, eu...
Ela interrompeu-o:
- Sei que quer me amar também. Só
que o seu coração ainda tem medo.
- Meu coração demora pra se curar.
A jovem, reclinando-se sobre a mesa,
completou:
- Não sou como Antônia. Jamais vou
decepcioná-lo. Sempre o esperei. – e
acrescentou - Estou me guardando pra
você; está ouvindo?
O rapaz olhou para mesa; depois,
voltou a olhar para ela.
18
O Escritor
- Eu ainda não estou pronto. Não
quero a magoar, nem me magoar novamente.
– pausou e continuou - Talvez fosse
melhor você me esquecer, Maria.
Acenou ao garçom. A jovem insistiu:
- Acha que é assim? Acha que posso
mandar e desmandar no meu coração,
Carlos?
Ansiosa por uma resposta, Maria
observava-o; contudo, ele nada disse.
Por fim, o garçom aproximou-se. Pagou a
conta e, antes de partir, falou:
- Só não quero que crie falsas
esperanças.
Carlos levantou-se e seguiu rumo à
saída, deixando a bela e doce Maria
Clara ali, sozinha, sentada à mesa, com
os olhos marejados.
À medida que anoitecia, na Avenida
Rio Branco e adjacências, todo o som da
cidade dava lugar ao solitário som de um
cachorro latindo. Na sala de sua casa,
Carlos sentou-se à mesa em que estavam
suas anotações e folhas em branco. Pegou
a caneta-tinteiro e começou a escrever
ao mesmo tempo em que narrava:
- “São por volta das 21 horas. No
bairro da Lapa, um casal está sentado à
mesa
de
um
bar.
A
mulher,
já
balzaquiana,
mas
de
beleza
ainda
invejável, está trajando um vestido
vermelho. O homem, um pouco mais jovem,
19
Fábio da Silva
está de terno preto. Parecem bastante
íntimos. Então, ele faz o convite. Ela
aceita.
E,
juntos,
deixam
o
estabelecimento.
Ela
está
bastante
entusiasmada.
Ele,
com
maldade
nos
olhos. Alguns minutos depois, caminham
pelos arredores do Aqueduto da Carioca.
Mais adiante, o casal adentra num
modesto hotel. Pega a chave com o
recepcionista e sobe as escadas...”
III - QUINTA-FEIRA
Duas noites, mais tarde, algumas
pessoas estavam no estabelecimento de
nome Recanto da Lapa; ao fundo, um
cavaquinista tocava um choro. Dentre os
clientes, havia uma mulher de vermelho e
um homem de preto que conversavam
sentados a uma mesa. Eles riam bastante.
Pareciam
íntimos.
Instantes
depois,
levantaram-se e saíram. Seguiram por uma
rua de onde era possível ver os Arcos da
Lapa. Após alguns minutos de caminhada,
o casal entrou no Hotel Flor-de-Lis.
Aproximou-se do balcão, no qual se
encontrava o recepcionista que entregou
a chave ao homem. Então, ele e a mulher
subiram as escadas, eufóricos. Entraram
no quarto e começaram a se beijar e a se
tocar. A seguir, o Homem de Preto
20
O Escritor
começou a despir a Mulher de Vermelho,
que tentava despi-lo também, mas era
impedida por ele.
- Primeiro as damas. - disse.
Segurou-a pelo pescoço.
- Nunca fui dama. - respondeu.
Ele deu um bofetão em sua face. Ela
sorriu. Depois, jogou-a violentamente na
cama. A Mulher de Vermelho demonstrava
grande prazer com a agressividade do
Homem de Preto. Naquele momento, ela
estava completamente nua na cama. E o
Homem de Preto, de pé, colocara-se em
frente a ela. Sacou o punhal de dentro
do
paletó.
Ela
não
se
intimidou,
demonstrava ainda mais prazer levando
uma das mãos à boca. A seguir, ele
disse:
- Vamos brincar, criança.
Na recepção do Hotel Flor-de-Lis, o
recepcionista estava sentado, lendo uma
revista. Súbito, lá em cima, um grito de
mulher ecoou. Assustou-se. Então, o
recepcionista
subiu
correndo
pelas
escadas. Arrombou a porta do quarto e
entrou. Viu a mulher nua e morta,
deitada em seu próprio sangue. A cena
embrulhou-lhe o estômago. Pôs a mão na
boca, olhou para a janela aberta. Olhou
novamente para o corpo na cama. Voltou à
porta. Não se aguentava mais; vomitou.
21
Download

“OLHANDO POR OUTRO PRISMA”