Das Ciências do Léxico ao léxico nas Ciências: uma proposta de dicionário português-espanhol de Economia Monetária Odair Luiz Nadin (UNESP/Car)1 Introdução A tese Das Ciências do Léxico ao léxico nas Ciências: uma proposta de dicionário portuguêsespanhol de Economia Monetária, orientada pela Profa. Dra. Maria Teresa Camargo Biderman e coorientada pela Profa. Dra. Clotilde de Almeida Azevedo Murakawa, objetivou elaborar um protótipo de dicionário bilíngue dessa área do conhecimento. A partir dos pressupostos teóricos da Teoria Comunicativa da Terminologia (CABRÉ, 1999), articulando-os com alguns princípios da Lexicografia Bilíngue, descrevemos e analisamos o uso especializado das línguas portuguesa e espanhola no contexto econômico-financeiro e pensamos o citado protótipo de dicionário. A tese em questão está organizada em duas partes: (i) da contextualização do tema ao problema da variação terminológica em Economia Monetária e (ii) da teoria à prática: elaboração do dicionário bilíngue. Na primeira parte apresentamos todo o processo de execução da pesquisa. Inicialmente delineamos o objeto de descrição e análise, em seguida discorremos sobre o como e a partir de quais critérios descrevemos e analisamos tal objeto para, na sequência, apresentarmos uma resenha crítica da teoria que fundamenta todo o trabalho. Na segunda parte, o objetivo foi o de propor uma estrutura de dicionário bilíngue no par de línguas português e espanhol, nas variedades supramencionadas, do domínio da Economia Monetária. 2. Metodologia Para o desenvolvimento da pesquisa, observamos as etapas sugeridas em Cabré (1999, p. 144). A autora orienta que antes de se iniciar um trabalho terminológico cumpram-se algumas etapas, tais como: a determinação e delimitação do tema, a perspectiva teórica, o tipo de produto que se pretende produzir, os destinatários, os objetivos, entre outros. No quadro abaixo, sintetizamos e adaptamos à nossa pesquisa a proposta da autora: Tema Tipo de trabalho Aspectos teóricometodológicos Destinatários Objetivos Finalidade 1 Terminologia da Economia Monetária. Bilíngue – descritivo. A Teoria Comunicativa da Terminologia – TCT. A Lexicografia Bilíngue. Alunos de Graduação ou Pós-Graduação em Economia e áreas afins. Especialistas em Economia (docentes, economistas, etc.). Profissionais envolvidos em transações comerciais entre Brasil, Espanha e Argentina. Mediadores lingüísticos no âmbito econômico-financeiro. Descrever unidades léxicas de valor especializado no âmbito da Economia Monetária em seus contextos reais de uso e defini-las. Discutir o problema da variação terminológica e da ausência de equivalência na elaboração de um dicionário terminológico bilíngue. Elaborar uma proposta de dicionário terminológico bilíngüe portuguêsespanhol/espanhol-português da economia monetária. Facilitar a compreensão mútua entre os falantes de português e de espanhol no domínio econômico-financeiro. Facilitar a produção e compreensão de textos da economia monetária em língua E-mail: [email protected]. portuguesa e em língua espanhola. Propor um instrumento de pesquisa que sirva aos aprendizes, tradutores, revisores, etc., no âmbito da economia monetária. Quadro 01: Síntese da abrangência do estudo proposto. Fonte: Adaptado de Cabré (1999). Nosso objeto de estudo é, portanto, as unidades léxicas da língua portuguesa (variedade brasileira) e da língua espanhola (variedades peninsular e argentina) que se realizam como unidades terminológicas (UTs) no âmbito da Economia Monetária. Essas unidades léxicas de valor especializado serão analisadas a partir de uma perspectiva descritiva, sem pretensões de discutir questões prescritivas e/ou normalizadora. Um aspecto relevante contemplado na pesquisa a fim de estabelecer algum critério para seu tratamento na elaboração do dicionário é a questão da variação terminológica. Propusemo-nos, assim, a identificar e a descrever a ocorrência de variação denominativa e/ou conceitual no português e no espanhol no discurso econômico-financeiro. 2.1. A constituição dos corpora: fontes dos textos e critérios de seleção Os corpora textuais que serviram à extração das UTs e à elaboração do dicionário-piloto foram constituídos de textos escritos selecionados de sites oficiais de bancos públicos e privados, de instituições financeiras, de revistas, jornais e livros referentes ao domínio econômico-financeiro. Foram constituídos dois corpora: um do português do Brasil (PB) e um de língua espanhola, no qual contemplamos as variedades argentina e peninsular. O corpus do Português Brasileiro foi organizado pela Profa. Dra. Maria Tereza Camargo Biderman. As fontes que serviram à extração dos textos foram classificadas em seis blocos: (i) Associações Financeiras; (ii) Bancos e Bolsas de Valores; (iii) Jornalismo (fonte internet); (iv) Livros; (v) Revistas especializadas e; (vi) Sites de economia. O corpus de língua espanhola foi organizado seguindo os mesmos critérios utilizados na constituição do corpus do PB. Organizamos um corpus de textos escritos, de diferentes gêneros e veículos de divulgação, também em seis blocos, conforme citado acima. Desse modo, selecionamos as unidades léxicas de valor especializado que descrevemos e analisamos e que compõem a nomenclatura do dicionário-piloto. 2.2. A problemática da variação e das lacunas terminológicas O tema da variação linguística em Terminologia é demasiado relevante para não considerá-lo em trabalhos terminológicos descritivos. Confirmamos, ao longo da pesquisa, a ocorrência de variação na terminologia da Economia Monetária tanto no nível intralinguístico, isto é, dentro do português do Brasil ou no interior de cada uma das variedades da língua espanhola, quanto no nível interlinguístico, ou seja, entre o PB e o espanhol. Essa variação pode ser provocada por diferentes fatores: (i) usos de diferentes afixos (sobretudo sufixos) para bases iguais; (ii) oscilações na estrutura sintática da unidade terminológica, ou seja, a coocorrência de UTs formadas por sintagma preposicionado ou nome mais adjetivo; (iii) uso de siglas ou acrônimos que co-ocorrem com as formas plenas da UT; (iv) usos de metáforas e (v) empréstimos linguísticos. A partir das reflexões sobre variação terminológica e com base no perfil do possível usuário, pudemos elaborar uma proposta de dicionário bilíngue. Esse dicionário está pensado para dois tipos de usuários: o falante de português e o falante de espanhol. Em qualquer um dos casos, o possível usuário é um individuo envolvido no contexto econômico-financeiro, seja como profissional, seja como aprendiz. 4. Estrutura e funções do dicionário O dicionário terminológico bilíngüe que propomos possui as seguintes características: parte de uma descrição in vivo (CABRÉ, 1999) das unidades léxicas de valor especializado em ambas as línguas que compõem as nomenclaturas; é elaborado a partir de um perfil devidamente delineado de possíveis usuários e de suas necessidades; propõe-se: (i) servir às funções de produção e de compreensão de textos em espanhol ou em português no âmbito da Economia Monetária e (ii) a atender às necessidades de falantes de espanhol e falantes de português em interação nessa área do conhecimento. apresenta informações sobre as principais Instituições que compõem os sistemas financeiros dos três países em questão, o que facilita o trabalho dos profissionais da área bem como dos aprendizes. A microestrutura que propomos para o dicionário está organizada da seguinte forma: termoentrada; informação gramatical; termo em relação de equivalência; definição; contexto; siglas e acrônimos; formas variantes; redes de remissivas e nota. No dicionário espanhol-português, a entrada com a definição será sempre o termo pertencente à variedade peninsular da língua espanhola. Assim, sempre que houver diferença denominativa entre as duas variedades do espanhol, o termo na variedade argentina constituirá uma entrada com o equivalente em português e com remissiva ao termo da variedade peninsular. A opção por apresentar juntamente com a entrada da variedade argentina o termo em relação de equivalência no português se justifica pelo fato de que se o usuário busca apenas a UT em relação de equivalência, não necessitará fazer uso da remissiva. Ainda no dicionário espanhol-português, se o termo-entrada se referir a significados diferentes entre Espanha e Argentina, encontrar-se-á junto a ele o símbolo (≠) indicando que há diferença de significado entre os dois países. Nesse caso, cada acepção é indicada por uma flecha (→). No caso de a UT entre o português e o espanhol possuírem equivalência parcial, independente do dicionário (português-espanhol ou espanhol-português), será sinalizado junto à entrada com o símbolo matemático de valor aproximado ( ). Desse modo, o dicionário se propõe a contemplar questões de variação, de lacunas e de equivalências entre as línguas portuguesa e espanhola no domínio econômico-financeiro. Considerações Finais A partir da descrição e da análise dos contextos no português e no espanhol, organizamos, portanto, uma proposta de dicionário terminológico bilíngue direcionado tanto ao falante de português quanto ao falante de espanhol. O modelo de dicionário proposto parte de um fator fundamental: o perfil do usuário em potencial da obra. Assim, a tese apresentada se propôs a cumprir um objetivo teórico e um prático. O objetivo teórico se refere às reflexões e propostas que desenvolvemos e que poderão, em algum momento, dar margem a novos questionamentos e reflexões, originando novas pesquisas. O objetivo prático está relacionado à proposta de dicionário que, por sua vez, também poderá vir a ser um instrumento de reflexão sobre Terminologia e Terminografia Bilíngue no Brasil. Referências CABRÉ, M. T.. Theories of terminology. Their description, prescription and explanation. Terminology 9:2, p. 163-200, 2003. ______. La terminología: Representación y comunicación. Elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Institut Universitari de Lingüística Aplicada. Universitat Pompeu Fabra. Barcelona, 1999. FUENTES MORÁN, M. T. Gramática en la lexicografía bilingüe. 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