1 Papel Kraft L. M. Ardjomand, 991984-8 Resumo - Este documento explica o que é o papel Kraft e como este é fabricado. Apresenta também qual a utilização deste material e como sua qualidade pode ser aferida. Palavras-chave— papel, Kraft, dielétrico, isolante, transformador I. PROCESSO DE FABRICAÇÃO O papel isolante Kraft é feito geralmente de sulfato de polpa de madeira obtida de coníferas ou outras árvores de madeira macia. [1] O primeiro passo do processo consiste em remover certos componentes da madeira a ser utilizada, principalmente pentoses e lignina. Pentoses são carboidratos complexos que, ao sofrerem hidrólise, se transformam em açúcar. A lignina é um polímero de estrutura amorfa que funciona como uma cola, mantendo unidas as fibras de celulose. Esse material é obtido fervendo, sob pressão, partículas de madeira misturadas a uma solução de sulfeto de sódio. O material restante (do qual apenas 5% é material sólido) é agitado em um tambor composto por uma parte fixa e outra móvel, ambas equipadas com lâminas. Quando a parte móvel gira, as lâminas cortam as fibras presentes na mistura. Essa parte é a mais crítica do processo, sendo necessário um controle preciso das concentrações de cada ingrediente da mistura e do tempo durante a qual esta ficará submetida à ação das lâminas. O tempo durante a qual a mistura é agitada depende do tipo e da qualidade do papel a ser produzido. Quanto mais tempo a mistura permanecer no agitador, maior será a capacidade do papel pronto de absorver umidade. Uma folha de papel contínua é formada em uma máquina chamada Fourdrinier, onde a mistura é primeiro diluída até que a concentração de água chegue a 98%. Em seguida a mistura passa por um filtro, para remover impurezas e através de ímãs, para remover partículas metálicas. Depois atravessa um coador, onde fibras indesejáveis são retidas. A mistura é jogada em uma tela que se move lateralmente para induzir um agrupamento das fibras. Parte da água é retirada com o auxílio de caixa de sucção sob esta tela. O restante da água é retirada passando a mistura entre rolos e, por fim, por uma série de tambores aquecidos a vapor, até que a umidade presente no papel tenha sido reduzida para 4 a 6%. II. PROPRIEDADES Papéis de celulose isolantes não tratados têm constante dielétrica pouco melhor que o ar e fatores de perda dielétrica que aumentam bastante com o aumento da freqüência, além de absorver umidade com muita facilidade. [1] Para que se tornem isolantes úteis, estes papéis são tratados ou combinados com outros materiais isolantes. Exemplos de tratamentos realizados incluem, para aplicações em baixa tensão, impregnar ou revestir o papel com resinas e vernizes e, para aplicações em alta tensão, impregnar o papel com dielétricos líquidos. Um papel, quando impregnado com óleo mineral pode ser sua constante dielétrica aumentada quase 6 vezes. O papel e o óleo são secados a uma temperatura de 115oC e pressão absoluta de 0,02 torr por 16 horas antes de serem misturados. A secagem do papel e o óleo é essencial para a produção de um papel de boa qualidade, pois este processo faz com que a umidade presente no papel ceda lugar ao líquido dielétrico. III. QUALIDADE DO PAPEL A qualidade do papel Kraft deve ser avaliada logo após sua produção e também durante seu uso, para determinar se o envelhecimento do papel comprometeu suas características. Por exemplo, mesmo depois de colocado dentro de um transformador o papel pode ser testado, injetando-se substâncias químicas dentro do aparelho, para que se possa saber se o tempo comprometeu suas características isolantes. [1] A qualidade do papel é estabelecida levando-se em conta, principalmente, três parâmetros: • • Grau de polimerização: Determinação do número médio de anéis de glicose que constituem a molécula polimérica de celulose. [4] Acidez e alcalinidade: Determinação da acidez ou alcalinidade de um extrato diluído de papel isolante. Uma amostra do papel é batida com água, mantida a 95oC, dentro de um tubo de Erlenmeyer. A mistura de papel e água é filtrada e colocada em um aparelho medidor de pH. [2] 2 Figura 1: preparação do papel para que este tenha seu pH medido [2] • • • Teste de tração: Estabelece a quantidade de energia que pode ser absorvida por uma amostra de papel até que a mesma se rompa. [2] Concentração de compostos furânicos: Compostos furânicos são substâncias geradas a partir do envelhecimento de materiais celulósicos. O aumento da concentração do 2-furaldeído, por exemplo, é utilizado como indicador do envelhecimento do papel isolante. [4] Unidade relativa da superfície isolante (URSI): A URSI é determinada colocando-se o papel isolante em contato com algum gás altamente higroscópico, normalmente nitrogênio. Determinando-se o ponto de orvalho do nitrogênio em contato com o papel, pode-se determinar a umidade relativa da superfície deste. [4] IV. UTILIZAÇÃO Geralmente o papel Kraft é utilizado na fabricação de embalagens, no entanto, neste caso, não são necessárias preocupações para melhorar suas qualidades dielétricas. Na indústria elétrica, o papel é utilizado na fabricação da capas para cabos, bobinas, capacitores, espaçadores para transformadores e equipamentos girantes. [1] Figura 2: detalhe do núcleo de um transformador [3] V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] W. Tillar Shugg, Handbook of Electrical and Electronic Insula ting Materials, 2 nd Edition, New York: Institute of Electrical and Electronics Engineers, 1995, p. 321. [2] Standard Test Method for Sampling and Testing Untreated Paper used for Electrical Insulation, ASTM Standard D202-92, Nov. 1992. [3] MYERS, S. D., KELLY, J. J., PARRISH, R. H. A guide to transformer maintenance. Ohio: Transformer Maintenance Institute. s. a. 830p. [4] DARVENIZA. M., SAHA, T. K., HILL, D. J. T. et . al. Studies of the insulation in aged power transformers Part 2 - Fundamental electrical and chemical considerations properties. In: International Conference on Properties of Dielectric Materials, 3, Tokyo, Japan. 1991. Proceedings, Tokyo, 1991. p. 11201123.