convidado
N
GENTE D‘AMANHÃ
AYYUB AXEL KÖHLER
Um muçulmano
bastante atípico
Ainda irão?
Palestina e o Líbano. E a mais imediata vítima de uma
O «Expresso», Outubro passado, sublinhei que a diacção militar seria o TNP, que importa a todo o custo
ficuldade da comunidade internacional em travar
salvar e reforçar, já que sem ele a proliferação em cascata se
os planos nucleares do Irão reflectia a erosão do
tornaria imparável por todo o mundo, começando na viziTratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP). Eronhança do Irão e estendendo-se muito além (a Venezuela
são por que as cinco potências nucleares autorizadas são
já ameaça e não se devem esquecer as origens militares do
também responsáveis, por negligenciarem as obrigações de
programa nuclear civil do Brasil).
desarmamento e fecharem os olhos a potências nucleares à
Como lidar então com o Irão quando propostas de dismargem do TNP (Israel, Índia e Paquistão).
suasão/punição no Conselho de Segurança esbarrarem nos
Contradições destas pagam-se caro: e o regime iraniainteresses divergentes dos cinco membros permanentes?
no é exímio a explorá-las, como demonstrou o MNE MotNo artigo de Outubro, citando o International Crisis
taki, num «show» diplomático no PE, esta semana, dizendo
Group, sugeri que «em vez de insistir com os ‘mulahs’
querer negociar, mas sem perder ensejo para lançar em capara que abandonem todas as capacidades de enriquera as incoerências ocidentais, desde o apoio a Saddam Huscimento de urânio», poderia
sein, até à cooperação no propermitir-se a Teerão manter
grama nuclear iraniano, pasl Ana Gomes
«um programa de enriquecisando pela «guerra» dos «carEurodeputada socialista e ex-dirigente do PS
mento de dimensões reduzitoons».
com Ferro Rodrigues, nasceu em Lisboa há 52 anos.
das e rigidamente controlaO ministro veio a Bruxelas
Diplomata formada em Direito, foi consultora
das pela AIEA».
quando a desconfiança sobre
de Mário Soares em Belém e representou Portugal
na ONU, Tóquio e Londres. Destacou-se na secção
O director da AIEA, o Noo Irão está no auge e a pressão
de interesses de Portugal na Indonésia (mais tarde
bel el-Baradei, vem agora prointernacional também, em reembaixada), pela defesa do povo de Timor-Leste
pô-lo. A tão falada «proposta
sultado de os países represenrussa» não inspira confiança:
tados na AIEA terem votado
Moscovo prima pelo jogo duplo e opaco. Urge antes tirar
esmagadoramente pelo envio do dossiê ao Conselho de Selições da aventura iraquiana: afinal, não havia armas de desgurança da ONU. Mas o Irão sabe que, à medida que a
truição maciça; e não havia, justamente, porque as inspeccomunidade internacional avançar por este caminho, tamções internacionais tinham funcionado.
bém será cada vez mais difícil manter frente unida.
É claro que a primeira condição para que a opção de
Não faz sentido negar que a opção militar seja concebíenriquecimento limitado no Irão esteja na mesa é a intervel, especialmente para Israel, que no programa nuclear
rupção imediata de todas as actividades nucleares, só retoiraniano vê uma ameaça existencial (legitimamente adensamáveis sob olhar atento dos inspectores da AIEA. O que
da pelas ignominiosas declarações do Presidente iraniano).
implica reforçar extraordinariamente esta Agência.
Mas tudo deve ser feito para evitar a guerra. Por várias
O Irão sabe que quanto mais inflexível se mostrar, mais
razões: há consenso sobre a dificuldade em eliminar de vez
une a comunidade internacional contra si. Não se perca,
o programa nuclear iraniano pela via militar; um ataque
pois, mais tempo e encoste-se à parede Teerão com a úniserviria apenas para despoletar reacções em cadeia inconca solução que pode garantir que o programa nuclear iraniatroláveis; sem falar no efeito mobilizador da sociedade irano (ou de outro país com idênticas veleidades) se restringe
niana em torno do regime dos «mulahs»; por outro lado, as
a finalidades civis. É a solução que pode evitar uma guerra
armas convencionais iranianas chegariam para infligir dade consequências imprevisíveis, tanto se presta a concretinos consideráveis a Israel, que retaliaria de forma imprevisízar os mais tenebrosos desígnios do revoltante Ahmadinevel; na melhor das hipóteses, ao regime iraniano não faltam
jad.
meios para retaliar, desestabilizando ainda mais o Iraque, a
PALAVRAS DITAS
cineasta americano
ELLEN JOHNSON-SIRLEAF,
Presidente da Libéria
l Surpreendido
l Inspirada
«Em Washington,
ainda há mais ficção do que em
Hollywood», declarou num discurso pronunciado na
Í Ilustração de Levine
Casa Branca por
para «The New York
ocasião da entreTimes Book Review»
ga de uma medalha à empresa de produção de efeitos especiais. The Washington Post, Washington
«Para mim é uma fonte de motivação ser
o porta-estandarte das mulheres da África e do resto do mundo. Não tenho o
direito de fracassar». Comentava assim a
sua recente eleição. Continental, Cotonu
l GEORGE LUCAS,
DESMOND TUTU,
arcebispo sul-africano
l Indignado
«Se me tivessem dito que um dia os
Estados Unidos da América e os seus
satélites utilizariam os mesmos argumentos que os segregacionistas
sul-africanos de ontem para justificar
as detenções sem culpa formada... É
vergonhoso!». A propósito da prisão secreta na base militar norte-americana em
Guantánamo. The New York Times, Nova
Iorque
ZACARIAS MOUSSAOUI,
terrorista francês e membro da Al-Qaeda
l Intolerante
«Recuso-me a ser julgado por uma nação de cruzados homossexuais». Dirigia-se ao tribunal de Alexandria, na Virgínia, que vai decidir se deve ser executado
por ter participado nos preparativos dos
ataques terroristas de 11 de Setembro.
The Independent on Sunday, Londres
mens mais ricos da revista ‘Forbes’», desabafou o mais liberal dos ministros russos a propósito dos seus compatriotas oligarcas. Izvestia, Moscovo
FIDEL CASTRO, ditador cubano
l Cooperante
«Apoio veementemente o direito do Irão
de aproveitar a energia nuclear, o que
pressupõe que este país consegue produzir o combustível apropriado». Durante a visita do Presidente do Parlamento iraniano, Gholam Ali Hadad-Adel, a Havana,
Castro falou de um «excelente diálogo político entre os dois países» e de «muitas
concordâncias na análise da situação internacional». Juventud Rebelde, Havana
ALESSANDRA MUSSOLINI, neta do «Duce»
l Crente
GUERMAN GREF,
ministro da Economia da Rússia
l Ameaçador
«Vêem-se evoluir no mundo dos negócios especuladores que se tornaram
multimilionários ao apropriarem-se de
bens de forma ilícita. Em vez de os vermos atrás das grades, lemos os seus nomes à cabeça dos palmarés dos ho-
«A instruir um processo contra Berlusconi, o único possível seria um processo
de beatificação». A presidente do partido
de direita Alternativa Social tomou a defesa do Presidente do Conselho cessante e
candidato à sua própria sucessão, quando da assinatura de um acordo político
com ele, tendo em vista as eleições legislativas de 9 Abril. Corriere della Sera, Milão
COURRIER INTERNACIONAL
EFENDO a
liberdade
de imprensa. Sei
o que significa viver numa sociedade privada dela». Na boca do
novo presidente
do Conselho Central dos Muçulmanos da Alemanha,
esta frase, relativa
às caricaturas de Maomé, tem peso, ainda
que, inevitavelmente, se lhe sigam palavras sobre a necessidade de compreender
o amor dos muçulmanos pelo profeta. Köhler, 67 anos, cresceu numa família cristã
pouco praticante, que vivia perto de Berlim; o seu pai era arquitecto. Após a guerra, viveu sob o regime comunista. Fugiu da
República Democrática Alemã quando era
estudante e acabou por ir estudar Geologia na Universidade de Friburgo, onde simpatizou com os alunos egípcios. Tocado
pela sua «profunda humanidade», interessou-se pelo Islão, casou com uma iraniana, instalou-se em Te- erão e converteu-se,
mudando o seu nome para Ayyub. Continuou a ensinar, divorciou-se e voltou à Alemanha em 1973, instalando-se em Colónia, onde trabalhou 26 anos para o Instituto de Economia Alemão. A sua segunda
mulher é germano-turca. Mas o Conselho
a que Ayyub Köhler preside tem mais imigrantes de origem árabe do que turcos. Estes aderem mais ao concorrente Conselho
Islâmico da Alemanha.
«D
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EDIÇÃO PORTUGUESA
BIBI AYISHA
Pomba combativa
no Afeganistão
sexo fraco já era: esta mulher combateu o exército russo, os talibãs e muitos senhores da guerra vizinhos que bem
gostariam de ter absorvido as suas tropas.
Bibi Ayisha, de 55 anos, é descrita pelo jornal The Daily Telegraph como «a única senhora
da guerra no Afeganistão». Cognominada «Kaftar» [pomba], tem um novo combate pela frente, contra a Organização das
Nações Unidas. Os negociadores da ONU
estão convencidos de que esta dama esconde um arsenal — armas anti-aéreas e
antiterrestres, metralhadoras pesadas, lançadores de «rockets» e AK47 — capaz de
equipar 50 homens e que, no quadro do
programa nacional de desarmamento, conviria que Bibi se livrasse delas. No seu refúgio fortificado, situado no Nordeste do
país, onde o jornalista do diário britânico a
foi encontrar, a duas horas de uma aldeia
remota, em automóvel, afirma que já só lhe
resta a «Makarov» — pistola automática de
fabrico russo — que leva no coldre pendurado ao ombro. Filha de um chefe tribal,
com aptidão natural para guerrear, assumiu o controlo de um grupo de 150 homens que era controlado pela sua família,
após a morte, em combate, dos seus irmãos e de dois dos seus seis filhos. O seu
marido, que trabalhava como comerciante, morreu há dois anos. Mas, como muitos
outros chefes de clãs, Bibi Ayisha resiste
ao desarmamento e a seguir o programa
de formação em gestão que lhe propõe a
ONU. «Espero continuar a combater»,
diz.
O
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courrier/courrier 24-02-06