Discurso de Sua Excelência Manuel Vicente, Vice-Presidente da República de Angola, na 69ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas Nova Iorque, 29 de Setembro de 2014 SENHOR PRESIDENTE, SENHOR SECRETÁRIO-GERAL, EXCELÊNCIAS CHEFES DE ESTADO E DE GOVERNO, DISTINTOS MINISTROS, MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES, Permitam-me, em nome do Governo da República de Angola, felicitar Sua Excelência Sam Kutesa pela sua eleição para Presidente da presente sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas e assegurar-lhe o apoio do meu país no cumprimento da sua missão. Gostaria igualmente de felicitar Sua Excelência o Embaixador William John Ashe, pela forma como conduziu os trabalhos da sessão precedente. As nossas saudações vão também para Sua Excelência Ban Ki-Moon, Secretário-Geral das Nações Unidas, pelo seu empenho na procura de soluções para as questões que afligem a comunidade internacional. Senhor Presidente, A presente sessão da Assembleia-Geral tem lugar num contexto preocupante, com o agravamento da tensão internacional, o recrudescimento de conflitos e o aprofundamento de crises globais que exigem soluções eficazes e sustentadas, sendo consensual que as soluções aos desafios comuns devem ser encontradas no quadro multilateral, tendo em atenção as especificidades de cada país e de cada povo. A ONU sempre foi e continuará a ser o pilar da participação dos Estados membros no processo decisório das questões que preocupam a comunidade internacional, pelo resgate dos valores globais 1 da tolerância e da coabitação pacífica e harmoniosa de países e povos, com base nos princípios da Carta das Nações Unidas e do Direito internacional. Senhor Presidente, Angola gostaria de, uma vez mais, reiterar a importância de todos os Estados membros conjugarem esforços no sentido de tornar a ONU numa organização forte e eficaz, que sirva de base para uma ordem jurídica internacional e um sistema de segurança mundial mais equilibrado, justo e inclusivo, promovendo a confiança entre os Estados e fortalecendo as relações de amizade e de cooperação internacional. A nossa Organização deve prestar uma atenção especial ao recrudescimento dos conflitos armados e dos seus efeitos nefastos para as populações; ao desarmamento; ao combate ao tráfico de drogas e de seres humanos; ao crime transnacional organizado; ao terrorismo internacional e à pirataria, pela implicação directa que estes fenómenos têm no desenvolvimento económico e, consequentemente, na melhoria das condições de vida das populações. O fundamentalismo religioso em certos países africanos está a tomar proporções de violência tais, que constitui uma ameaça à segurança regional, com consequências graves para a paz, a estabilidade e o desenvolvimento. Angola condena veementemente os actos praticados por grupos terroristas e manifesta o seu apoio aos esforços desenvolvidos para a sua total neutralização. Angola apoia os esforços que visam fortalecer a capacidade da ONU na gestão de crises e considera o diálogo e a negociação como as melhores formas de resolução de conflitos. Continuaremos a cumprir as nossas obrigações na arena internacional, com especial ênfase para o continente africano e para os agrupamentos regionais nos quais estamos inseridos, nomeadamente a SADC, a CEEAC, os PALOP, o Golfo da Guiné e os Grandes Lagos, para a definição de mecanismos que visem a materialização das formas de cooperação com as Nações Unidas, a União Africana, a CPLP e outros parceiros internacionais. Angola assumiu a presidência rotativa da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos, em Janeiro de 2014, e, neste âmbito, continua a promover a resolução de conflitos no continente africano, visando a estabilidade, o desenvolvimento político e institucional, a segurança interna e transfronteiriça, a boa governação e os direitos humanos. É neste âmbito que Angola está comprometida com os processos de pacificação na República Democrática do Congo, na República Centro Africana e na Região dos Grandes Lagos. 2 Questão deveras preocupante é a epidemia de ébola. A posição do Conselho de Segurança, ao declarar a epidemia como ameaça à paz e segurança internacional, traduz plenamente a gravidade da situação, que requer um compromisso decisivo da comunidade internacional para o seu combate e erradicação. Senhor Presidente, Reiteramos a necessidade da reforma e revitalização do sistema das Nações Unidas, em particular da reforma do Conselho de Segurança, que deverá ser mais consentânea com o actual contexto internacional, reflectindo uma representação geográfica equitativa, pelo alargamento dos seus membros permanentes. Angola reitera o direito do continente africano ter assento entre os membros permanentes do Conselho. O conflito Israelo/Palestino e a falta de progressos na procura de uma solução duradoura constitui a causa principal da instabilidade generalizada no Médio Oriente e também a causa profunda do reacender do terrorismo na região. Esta situação preocupa o Governo de Angola, que apela à vontade e flexibilidade política das duas partes e encoraja o Secretário-Geral da ONU e o Secretário de Estado norte-americano a prosseguirem os seus esforços de mediação, com vista à criação do Estado palestino soberano e independente e ao estabelecimento de um ‘modo vivendis’ que garanta aos dois Estados a coexistência em paz e segurança, dentro das fronteiras internacionalmente reconhecidas. O impasse na resolução da questão do Sahara Ocidental continua a adiar o exercício do direito à autodeterminação do povo deste território. Angola apela às partes para que prossigam as negociações sob os auspícios das Nações Unidas e da União Africana, para encontrarem uma solução de acordo com os princípios da Carta das Nações Unidas e da Resolução 1514 (XV), de Dezembro de 1960. No que diz respeito à situação na Ucrânia, Angola deplora a perda de vidas humanas decorrente da instabilidade na região e apela ao diálogo entre as partes envolvidas para uma solução política do conflito. A situação na Somália e no Sudão do Sul permanecem um motivo de preocupação. No entanto, registaram-se alguns progressos encorajadores, pelo que exortamos as autoridades desses países e a comunidade internacional a prosseguirem os seus esforços no sentido da estabilização. Angola congratula-se com a normalização constitucional nalguns países africanos. 3 Saudamos a realização de eleições democráticas na Guiné-Bissau, Egipto e Madagáscar e manifestamos a nossa solidariedade em relação aos processos de reconciliação e de reconstrução nacional para o desenvolvimento económico e social desses países. Senhor Presidente, O Governo de Angola expressa a sua apreciação pela escolha do tema central da presente sessão – “Realizar e implementar uma agenda transformadora pós 2015”. O mesmo é de grande pertinência, sobretudo para os Países Menos Avançados. Os avanços registados nalguns destes países estão muito aquém das metas dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, devido a questões estruturais, e demonstram ser insuficientes para minorar os efeitos dos problemas conjunturais que ainda persistem. A um ano do balanço final dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, as nossas economias continuam a sofrer os efeitos da crise económica e financeira internacional, que criam entraves ao crescimento económico e dificultam a implementação de programas de combate à pobreza e de melhoria das condições de vida das populações. No entanto, notamos com satisfação que o continente africano deixou de apresentar a imagem de desolação do início do milénio, tendo emergido uma nova realidade com os países africanos a apresentarem um crescimento médio de 5 por cento ao anoe melhorias em vários indicadores de desenvolvimento humano. Acreditamos que a tendência de progresso irá prevalecer nos próximos tempos e tudo faremos para que assim seja, investindo nas gerações futuras, com base nos objectivos do NEPAD, do Roteiro pós2015 e da Agenda Africana de 2063. Angola está a implementar o Programa Nacional de Desenvolvimento 2013-2017, que visa aumentar a oferta de serviços sociais à população, a diversificação da economia e a consolidação da estabilidade macroeconómica, lançando assim as bases do processo de graduação a País de Renda Média. Senhor Presidente, Angola reitera a necessidade do fim ao embargo económico e financeiro imposto aCuba, que limita o direito do povo cubano ao desenvolvimento e constitui uma clara violação dos princípios e regras do Direito internacional. Finalmente,agradecemos sensibilizados o apoio que Angola tem recebido de inúmeros países para a sua candidatura a Membro Não Permanente do Conselho de Segurança da ONU para o biénio 20152016, cujas eleições terão lugar durante a presente sessão da Assembleia-Geral. 4 Uma vez eleitos para este importante órgão, iremos trabalhar com os parceiros do Conselho na procura de soluções para os graves problemas que a comunidade internacional enfrenta e dar uma contribuição efectiva à paz e segurança no mundo. Muito obrigado pela vossa atenção! * 5