UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE GEOLOGIA DO PETRÓLEO CONVÊNIO UFRGS/ANP AGÊNCIA NACIONAl DO PETRÓLEO CARACTERIZAÇÃO PETROLÓGICA E GEOQUÍMICA DOS ARGILOMINERAIS ESMECTÍTICOS DO CAMPO DE FAZENDA ALEGRE, BACIA DO ESPÍRITO SANTO Vanius Silveira Drozinski ORIENTADOR Prof. Dr. Luiz Fernando De Ros COMISSÃO EXAMINADORA Prof. Dra. Ana Maria Pimentel Misuzaki Prof. Dra. Márcia Boscato Gomes Prof. Dr. Marcus Vinícius Dornelles Remus COMISSÃO DOS PROJETOS TEMÁTICOS Prof. Dr. Norberto Dani Prof. Dr. Claiton M. S. Scherer Prof. Dr. Marcus V. D. Remus Trabalho de Conclusão do Curso de Geologia apresentado na forma de monografia, junto à disciplina Projeto Temático em Geologia III, como requisito parcial para a obtenção do grau de Geólogo. Porto Alegre, janeiro de 2004 II Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Sumário 1. Introdução 1 2. Objetivos 3 2.1. Objetivos gerais.....................................................................................................3 2.2. Objetivos específicos.............................................................................................3 3. Área de Estudo 5 3.1. Evolução Tectônica................................................................................................5 3.2. Preenchimento Sedimentar....................................................................................6 3.3. Magmatismo...........................................................................................................8 3.4. Histórico exploratório da bacia...............................................................................9 4. O Campo de Fazenda Alegre 11 4.1. Características estruturais..................................................................................11 4.2. Fácies Deposicionais e Geometria dos Corpos Turbidíticos..............................13 5. Metodologia 17 5.1. Levantamento Bibliográfico.................................................................................17 5.2. Petrografia Quantitativa......................................................................................17 5.2.1. Definição do Método........................................................................................17 5.2.2. Aplicação do Método.......................................................................................21 5.3. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV).......................................................21 5.3.1. Definição do Método........................................................................................21 5.3.2. Aplicação do Método.......................................................................................23 6. Resultados 24 6.1. Textura e Composição Detrítica.........................................................................24 6.2. Constituintes diagenéticos..................................................................................25 6.2.1. Esmectita.........................................................................................................25 6.2.2. Caulinita...........................................................................................................27 6.2.3. Feldspato Potássico.........................................................................................27 6.2.4. Pirita.................................................................................................................28 6.2.5. Calcita..............................................................................................................28 6.1.2.6. Outros constituintes diagenéticos.................................................................28 6.1.3. Compactação e Porosidade.............................................................................29 7. Discussão 32 7.1. Sequência Paragenética.....................................................................................32 7.2. Autigênese de Esmectita....................................................................................33 7.3. Hipóteses das condições genéticas das esmectitas...........................................34 7.4. Impacto das esmectitas sobre a qualidade dos reservatórios............................37 7.5. Autigênese de caulinita e seu impacto na qualidade dos reservatórios.............38 7.6. Autigênese precoce de K-feldspato e seu impacto na qualidade dos reservatórios..............................................................................................................40 7.7. Cimentação por calcita.......................................................................................41 7.8. Pirita Autigênica..................................................................................................42 __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo III Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 7.9. Gipsita.................................................................................................................42 7.10. Papel da dissolução na qualidade dos reservatórios........................................42 8. Conclusões 44 __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo IV Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Índice de Figuras Figura 1: Localização da área estudada n Bacia do Espírito Santo. Detalhe da porção centro sul da bacia mostrando o Canyon de Fazenda Cedro com a posição dos principais campos, entre eles o Campo de Fazenda Alegre.................................6 Figura 2: Coluna estratigráfica condensada da Bacia do Espírito Santo (mod. Biassusi et al., 1990)....................................................................................................8 Figura 3: Seção geológica regional (W-E) do Canyon de Fazenda Cedra ilustrando a locação de alguns poços e geometria dos reservatórios do Campo de Fazenda Alegre, e a estruturação do Canyon..........................................................................12 Figura 4: Seções geológicas do Campo de Fazenda Alegre (NE-SW e S-N) ilustrando a geometria e o fluido de preenchimento dos corpos turbidíticos.............13 Figura 5: Sucessão vertical típica dos turbiditos do Campo de Lagoa Parda mostrando as principais fácies deposicionais, bem como os tipos de icnofósseis ocorrentes (Th = Thalassinoides, Op = Ophiomorpha, Pl = Planolites e He = Helminthopsis). Os símbolos à direita da coluna indicam ripples, laminação planoparalela e bioturbação. Dentro da coluna, em preto estão ilustrados as camadas de folhelhos e intraclastos lamosos. A granulometria é indicada pela escala na base da coluna. (mod. de Bruhn, 1997)..................................................................................15 Figura 6: ilustra o cabeçalho da planilha de quantificação petrográfica...................18 Figura 7: Esquema mostrando os constituintes detríticos e diagenéticos encontrados em uma lâmina delgada e como os constituintes detríticos são registrados na planilha...............................................................................................18 Figura 8: Esquema mostrando os constituintes detríticos e diagenéticos encontrados em uma lamina delgada e como os constituintes diagenéticos são registrados na planilha.........................................................................................................19 Figura 9: esquema mostrando alguns dos diferentes tipos de porosidade encontrados em uma lâmina delgada e como são registrados na planilha...............20 Figura 10: posição final da tabela de quantificação..................................................20 Figura 11: Imagem produzida por elétrons retroespalhados de uma das amostras de FAL onde um cristal de feldspato (cinza) está sendo substituído ao longo das clivagens por pirita (branco).......................................................................................22 Figura 12: Espectro EDS das gIpsitas de FAL. Os diferentes picos para um mesmo elemento (Ca) representam energias variadas dos fótons, ou seja, elétrons arrancados de uma determinada camada são supridos por elétrons de diferentes camadas orbitais mais energéticas............................................................................23 Figura 13: ilustra a composição média dos arenitos de FAL. Os arenitos caem no campo de subarcoseos........................................................................................................25 Figura 14: Espectro de EDS obtido sobre as franjas de esmectitas autigênicas.................................................................................................................27 Figura 15: Diagrama de cimento intergranular versus volume intergranular (cf. Houseknecht, 1987) mostrando a predominância da redução de porosidade por compactação nos reservatórios porosos (losangulos pequenos) e por cimentação nos níveis cimentados por calcita (quadrados maiores)............................................30 Figura 16: mostra a sequência paragenética simplificada dos reservatórios de FAL. A espessura das barras indica a importância do processo.......................................32 Figura 17: ilustra a semelhança entre as feiçoes de cutículas encontradas nos arenitos pleistocênicos da Bacia de Cagayan (esquerda) e nos reservatórios de FAL (direita).......................................................................................................................34 Figura 18: esquema esplicando como ocorrem os agregados complexos de cutículas e franjas pela alteração de minerais pesados: A) arenito de composição imatura composto por (Q) quartzo, (F) feldspato, (Gr) granada, (Anf) anfibólio e (Bi) biotita; B) incipiente alteração dos minerais pesados e precipitação das cutículas; C) __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo V Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 progressiva dissolução dos minerais pesados e formação e precipitação de franjas associadas as cutículas; D) contração, fragmentação e encrespamento das cutículas gerados por desidratação..........................................................................................35 Figura 19: as fotomicrografias ilustram as principais alterações do embasamento: A) carbonatação e B) serpentinização...........................................................................36 Figura 20: Esquema ilustrando o efeito da cimentação por esmectita pore-lining em reservatórios. As setas indicam pontos onde as gargantas dos poros foram totalmente obliteradas diminuindo consideravelmente a permeabilidade. Entretanto, a porosidade é pouco reduzida..................................................................................37 Figura 21: fotomicrografia ótica mostrando a disposição da caulinita vermicular. No zoom, imagem de elétrons secundários ilustrando os defeitos cristalinos típicos de caulinitas meteóricas.................................................................................................38 Figura 22: Ilustra a disposição em “ninhos” das caulinitas intergranulares. Mesmo com as caulinitas ocupando uma significativa parcela do volume intergranular, o óleo, dentro dos reservatórios, migra com facilidade entre os agregados, como indicado pelas setas..................................................................................................39 Figura 23: Representação esquemática do impacto da caulinização sobre um reservatório rico em micas. A expansão das micas pode ocupar um grande espaço do volume intergranular.............................................................................................40 Figura 24: Ilustra como o crescimento limitado e disseminado dos K-feldspatos autigênicos gera um impacto insignificante nos reservatórios...................................41 __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo VI Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Índice de Figuras e Tabelas dos Anexos Figuras (Anexo I) Figura 1: grão de quartzo plutônico monocristalino. Figura 2: grão de quartzo policristalino. Figura 3: grão de microclinio. Figura 4: grão de ortoclásio. Figura 5: grão de plagioclásio. Figura 6: grão de microclínio pertitizado. Figura 7: fragmento de rocha plutônica. Figura 8: lamela monocristalina de biotita. Figura 9: lamelas monocristalinas de muscovita. Figura 10: grão de granada. Figura 11: grão detrítico de oxido de titânio. Figura 12: grão de turmalina Figura 13: intraclasto lamoso. Figura 14: cristaloclasto de sanidina. Figura 15: visão em detalhe das franjas de esmectita. Figura 16: visão mais ampliada da disposição das franjas nos reservatórios. Figura 17: imagem de elétrons secundários mostrando detalhe das franjas de esmectita sobre um grão detrítico. Figura 18: imagem de elétrons secundários mostrando o crescimento das franjas a partir das cutículas de esmectita. Figura 19: cutícula de esmectita sobre um grão de feldspato. Figura 20: agregados complexos de cutículas e franjas duplas produzido pela dissolução de feldspatos. Figura 21: imagem de elétrons retroespalhados mostrando detalhe da disposição dos agregados complexos de cutículas e franjas duplas. Figura 22: esmectita autigênica preenchendo os espaços intergranulares (pore filling). Figura 23: imagem de elétrons retroespalhados mostrando detalhe da dissolução e substituição de um cristal de K-feldspato por esmectita. Figura 24: imagem de elétrons retroespalhados mostrando detalhe da substituição de um cristal de biotita por esmectita. Figura 25: esmectita substituindo um cristal de plagioclásio. Figura 26: imagem de elétrons secundários mostrando a substituição da caulinita por esmectita. Figura 27: caulinita substituindo e expandindo um cristal de muscovita. Figura 28: caulinita substituindo um cristal de feldspato. Figura 29: caulinita preenchendo os espaços intergranulares. Figura 30: imagem de elétrons secundários mostrando detalhe da caulinita intergranular. Figura 31: crescimento secundário epitaxial de K-feldsdpato ao redor de um grão de microclínio. Figura 32: imagem de elétrons retroespalhados mostrando o padrão de crescimento serrilhado dos K-feldspatos autigênicos. Figura 33: cristais isolados discretos de K-feldspato autigênico. Figura 34: imagem de elétrons retroespalhados mostrando em detalhe a coprecipitação do K-feldspato autigênico com a esmectita. Figura 35: pirita substituindo biotita. Figura 36 pirita substituindo um cristal de K-feldspato. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo VII Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Figura 37: pirita substituindo agregado de cutícula e franjas duplas. Figura 38: imagem de elétrons secundários mostrando o detalhe de um agregado de pirita framboidal. Figura 39: calcita poiquilotópica corroendo de forma irregular a borda dos grãos. Figura 40: calcita substituindo mica. Figura 41: substituição pseudomórfica de mica caulinizada por calcita. Figura 42: calcita microcristalina substituindo material argiloso inetrgranular. Detalhe da calcita preenchendo e alargando as fraturas do cristal de feldspato. Figura 43: calcita poiqulotópica afastando os grãos. Figura 44: detalhe da relação paragenética entre a calcita e os crescimentos secundários de K-feldspato. Fica claro que a calcita é mais tardia. Figura 45: romboedro de dolomita parcialmente substituído por calcita (vermelha). Figura 46: intraclasto lamoso parcialmente dissolvido substituído por pequenos romboedros de dolomita. Figura 47: cristal de óxido de titânio autigênico substituindo a esmectita pore filling. Figura 48: imagem de elétrons retroespalhados mostrando um cristal discreto isolado de quartzo autigênico. Figura 49: imagem de elétrons secundários mostrando um cristal de gipsita. Figura 50: cristal de apatita diagenética associado aos agregados complexos de cutículas e franjas duplas. Figura 51: esmectita pore-fill contraída e parcialmente dissolvida. Figura 52: grão de feldspato parcialmente dissolvido ao longo das clivagens gerando porosidade intragranular. Figura 53: grão de mica parcialmente dissolvido gerando porosidade intragranular. Figura 54: grão totalmente dissolvido gerando um poro móldico. Figura 55: poros agigantados (oversized) gerados pela dissolução completa de grãos. Figura 56: fraturamento do grão de quartzo gerando porosidade. Figura 57: fraturamento da rocha gerando porosidade. Figura 58: contração de intraclasto gerando porosidade. Figura 59: contração das franjas e cutículas de esmectita gerando porosidade. Tabelas (Anexo II) Tabela 1: Resultado da Quantificação dos Reservatórios do Campo Fazenda Alegre. Tabela 2: Resultado da Quantificação dos níveis cimentados. Tabela 3: Estatística das médias e máximos dos Reservatórios e Níveis Cimentados. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo VIII Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Resumo Argilominerais diagenéticos do tipoesmectita são extremamente abundantes nos reservatórios turbidíticos do Maastrichtiano Superior da Formação Urucutuca na área do Campo de Fazenda Alegre, Canyon de Fazenda Cedro, Bacia do Espírito Santo. Esta composição contrasta fortemente com a composição essencialmente caulinítica dos argilominerais desta unidade em outras áreas do canyon e da bacia. Este estudo tratou da caracterização petrológica, mineralógica e geoquímica das esmectitas e dos constituintes diagenéticos associados para a definição de suas condições de evolução e seu impacto na qualidade dos reservatórios. Para isso, foram executadas petrografia ótica quantitativa e microscopia eletrônica de varredura de amostras representativas de testemunhos de cinco poços. Os processos diagenéticos mais importantes dos reservatórios de Fazenda Alegre consistem na precipitação de esmectita, caulinita, K-feldspato, pirita e calcita, bem como na dissolução de grãos detríticos instáveis, e na compactação mecânica. As esmectitas diagenéticas ocorrem em 4 hábitos principais: 1) como finas cutículas, e 2) franjas recobrindo a superfície dos grãos; 2) como agregados complexos de cutículas e franjas duplas produzidos pela dissolução completa de grão; 4) como agregados maçiços substituindo grãos de feldspatos e biotitas, bem como agregados de caulinita vermicular. Analises de EDS indicam que essas argilas são montmorilonitas potássicas que contém significativo Mg na estrutura. A co-precipitação de crescimentos secundários e cristais discretos de K-feldspato autigênico com as esmectitas indica que estas argilas precipitaram-se sob condições de alta alcalinidade. Os hábitos, as relações paragenéticas e a composição das esmectitas indicam que a sua origem pode estar intimamente associada à interação de fluidos extremamente salinos através de arenitos com composição inicial bastante imatura, particularmente enriquecida em minerais pesados e feldspatos. Estes fluidos podem ter sido produzidos por evaporitos do Aptiano, processos hidrotermais do embasamento ou lutitos intercalados e circundantes aos arenitos, que apresentam grãos de sanidina com aspecto de cristaloclastos vulcânicos. Entretanto, não foram encontrados nos arenitos __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo IX Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 estudados restos de materiais vulcânicos, tais como fragmentos de rocha vulcânica ou shards que possam ter constituído uma fonte interna para estas argilas. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo X Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Abstract Diagenetic smectite clay minerals are extremely abundant in the Upper Maastrichtian Urucutuca Formation turbidite reservoirs of the Fazenda Alegre Field, Fazenda Cedro Canyon in the Espírito Santo Basin. This composition strongly contrasts with the overall kaolinitic composition of the clay minerals from other areas of the canyon and the basin. This studied dealt with the petrological, mineralogical and geochemical characterization of the smectite clay minerals and associated diagenetic phases, with the objective of defining their evolution conditions and impact on the quality of the reservoirs. For that, quantitative optical petrography and scanning electron microscopy analysis were performed over representative samples from five cored wells. The main diagenetic processes comprise the precipitation of smectite, kaolinite, Kfeldspar, pyrite and calcite, as well as the dissolution of unstable grains and the mechanical compaction. The diagenetic smectites occur in 4 major habits: 1) as thin coatings, and 2) rims covering the grains; 3) as complex aggregates of coatings and double rims produced by complete replacement of grains, and; 4) as massive aggeregates replacing detrital grains, as well as kaolinite vermicular aggregates. EDS analyses indicate that the smectites are potassic montmorillonites that contain significant Mg in their structure. The coprecipitation of overgrowths and discrete prismatic crystals of potassic feldspar with the smectites indicate that they were formed under high alkaline conditions. The habits, paragenetic relationships and composition of the smectites suggest that their occurrence is related to the inflow of strongly saline fluids through the immature turbidite sands rich in unstable grains, essentially of detrital heavy minerals and feldspars. Such alkaline fluids may be related to the dissolution of Aptian evaporites, to hidrotermal processes in the crystalline basement, or to the interbedded and surrounding mudrocks, some of which contain sanidine grains that remble volcanic crystalloclasts. However, no remnants of volcanic materials, such as volcanic rock fragments or glass shards, that could have acted as internal sources for smectite authigenesis, were detected in the studied sandstones. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 1. Introdução A importância do estudo de argilominerais vem sendo fundamental na industria do petróleo ao longo dos anos (e.g. Houseknecht, 1992; Worden e Morad, 2003). Os argilominerais influenciam fortemente a porosidade, a permeabilidade e os padrões de fluxo de fluidos nos reservatórios de hidrocarbonetos (Galloway, 1979; Hawlader, 1990; Hurst et al., 1982; Silva et al., 1996; Crossey et al., 1992; Stonecipher, 1984; Tang et al., 1994). Além disso, as argilas podem mascarar a resistividade nos perfis elétricos, utilizados para a avaliação de reservatórios em subsuperfície. Este estudo trata da ocorrência anômala de argilominerais diagenéticos do tipo esmectita nos arenitos-reservatório turbidíticos da Formação Urucutuca na área do Campo de Fazenda Alegre (FAL), situado no Canyon de Fazenda Cedro, Bacia do Espírito Santo (Fig. 1). Esta composição contrasta fortemente com a composição essencialmente caulinítica dos argilominerais diagenéticos desta unidade estratigráfica em outras áreas do cânion e da bacia. Além disso, a caracterização cristalográfica, geoquímica e petrológica das esmectitas em Fazenda Alegre é incompleta e seu comportamento a médio e longo prazo em resposta à aplicação continuada de métodos de recuperação de hidrocarbonetos pela injeção de vapor há pouco iniciada em parte do campo, é pouco previsível. Adicionalmente, a ocorrência anômala destas esmectitas, restritas aos turbiditos do Maastrichtiano Superior, deve corresponder a um evento e/ou a condições particulares cujas implicações estratigráficas e/ou estruturais devem envolver aspectos da evolução da bacia com significância exploratória. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 É importante ressaltar que o estudo proposto corresponde a parte de um amplo projeto intitulado: “Origem, Distribuição e Evolução dos Argilominerais do Campo de Fazenda Alegre , Canyon de Fazenda Cedro, Bacia do Espírito Santo”, que envolve uma grande gama de conhecimentos e técnicas analíticas, executado por um grupo de pesquisadores do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tendo como conveniente a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – FAURGS – em cooperação com a PETROBRAS. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 3 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 2. Objetivos 2.1. Objetivos Gerais Os principais objetivos deste estudo envolvem a caracterização petrológica, geoquímica e paragenética dos argilominerais do grupo das esmectitas e das fases diagenéticas associadas nos reservatórios turbidíticos do Campo de Fazenda Alegre, visando compreender a sua origem e condições de evolução, bem como definir a sua distribuição e influência na qualidade dos reservatórios. 2.2. Objetivos Específicos Os objetivos específicos envolvem: 1) A quantificação petrográfia dos constituintes detríticos, diagenéticos e tipos de poros por contagem de pontos em lâminas representativas. 2) A determinação dos hábitos e padrões de distribuição espacial das esmectitas e principais constituintes diagenéticos em relação à composição detrítica, estratigrafia, estruturas deposicionais e de deformação. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 4 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 3) A caracterização cristaloquímica das esmectitas, com o uso de análises de microscopia eletrônica de varredura (MEV) com suporte de microssonda de energia dispersada (EDS). 4) O reconhecimento de potenciais materiais precursores das esmectitas (intraclastos ou extraclastos argilosos, materiais piroclásticos, fragmentos de rochas vulcânicas, outros fragmentos líticos, minerais ferromagnesianos detríticos). 5) A construção de modelos conceituais dos padrões de distribuição dos argilominerais esmectíticos, dos processos diagenéticos associados e dos parâmetros geoquímicos e geológicos de controle, com a aplicação integrada de técnicas analíticas, petrográficas e geoquímicas. 6) A caracterização da influência das argilas esmectíticas sobre a qualidade dos reservatórios (porosidade, permeabilidade e eficiência de recuperação de hidrocarbonetos). __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 5 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 3. Área de Estudo 3.1. Evolução Tectônica A Bacia do Espírito Santo situa-se na margem leste brasileira entre os paralelos 18º 20'e 21º 00'e geologicamente é delimitada pelo Alto de Vitória ao sul, o “Paleocanyon” de Mucuri ao Norte, o embasamento cristalino a oeste e o Complexo Vulcânico de Abrolhos a leste (Carvalho et al., 1989). Sua área abrange aproximadamente 25.000 Km2 em suas porções emersas e submersas. A bacia originou-se no Cretáceo Inferior, ao final do Neocomiano, como produto provavelmente de um soerguimento local do manto, que propiciou a formação de um longo e estreito rift responsável pela separação do Supercontinente Gondwana. A continuação deste soerguimento ensejou o rompimento da crosta continental sobrejacente e o aparecimento de crosta oceânica separando a placa Gondwana em duas placas distintas (Sul-americana e Africana). O afastamento destas placas permitiu a entrada do mar durante o Aptiano, transformando o antigo rift numa bacia marinha restrita. Com a continuada geração de crosta oceânica, a bacia perdeu sua característica de mar restrito passando, a partir do Cenomaniano, a ser uma bacia marginal aberta, por efeito do abatimento dos blocos do embasamento em direção ao oceano (Alves, 1979). __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 6 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Figura 3: Localização da área estudada n Bacia do Espírito Santo. Detalhe da porção centro sul da bacia mostrando o Canyon de Fazenda Cedro com a posição dos principais campos, entre eles o Campo de Fazenda Alegre. 3.2. Preenchimento Sedimentar A Bacia do Espírito Santo é uma das bacias de margem continental leste brasileira onde está bem representada a seqüência evolutiva característica das bacias marginais (Carvalho et al., 1989). Sua coluna estratigráfica (Fig. 2) envolve sedimentos do Eocretácio ao Terciário assentados sobre o embasamento cristalino Pré-Cambriano, representado por migmatitos, granulitos e granitóides. As rochas sedimentares mais antigas constituem os depósitos continentais da fase rift __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 7 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 (Neocomiano; cerca de 130 Ma) da Formação Cricaré. Pertencem a esta seção folhelhos lacustres que são os principais geradores de hidrocarbonetos da bacia. Sobre esta seção assenta-se a Formação Mariricu (Andar Alagoas; Aptiano). Sua parte inferior, denominada de Membro Mucuri é constituída por arenitos e conglomerados depositados em sistemas aluviais, fluviais e estuarinos, com intercalações de folhelhos, calcários e anidritas representando curtos períodos de transgressão marinha. Sobrepostos a estes sedimentos ocorrem os evaporitos do Membro Itaúnas, representando uma transgressão marinha sob condições restritas de circulação e clima árido (Biassusi et al., 1990). Durante o Albo-Cenomaniano a bacia evoluiu para condições marinhas rasas, propiciando o desenvolvimento de ampla plataforma carbonática assoreada, na borda leste, por um sistema de leques costeiros, pertencentes à Formação Barra Nova (Carvalho et al., 1989). Litologicamente, a seção é representada por calcarenitos e calcirruditos oncolíticos peletoidais, calcilutitos, folhelhos, margas e arenitos. A seção predominantemente clástica terrígena é denominada de Membro São Mateus, e a carbonática de Membro Regência. A partir do Albiano a bacia evolui para uma situação de subsidência flexural crustal. O basculamento para leste causa o escorregamento dos evaporitos. Com o basculamento, a seção de plataforma albo-cenomaniana é recoberta pelos depósitos marinhos profundos do Neo-Cretáceo ao Terciário da Formação Urucutuca, pelos carbonatos plataformais da Formação Caravelas e pelos leques costeiros da Formação Rio Doce. Nesta seção marinha identifica-se, em escala regional, um episódio predominantemente transgressivo em onlap e outro, a partir do Eoceno médio, regressivo em offlap (Biassusi et al., 1990). __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 8 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Figura 4: Coluna estratigráfica condensada da Bacia do Espírito Santo (mod. Biassusi et al., 1990). 3.3 Magmatismo O Complexo Vulcânico de Abrolhos é uma província terciária caracterizada pela presença de uma associação litológica complexa (Formação Abrolhos), que se situa na porção setentrional das Bacias do Espírito Santo, Mucuri e Camuruxatiba (Conceição et al. 1996). As rochas ígneo básicas de composição toleítica a alcalina, os pacotes vulcanoclásticos e as eventuais intercalações com sedimentos distribuemse em três litofácies vulcânicas, de acordo com a posição em relação aos condutos alimentadores: fácies de cone, proximal e distal (Mizusaki et al. 1994). A idade principal deste magmatísmo, no Eoceno, é caracterizada por grande atividade vulcânica mundial, fenômeno atribuído ora a um aumento global do fluxo de calor, ora a uma reorganização global das placas. Do ponto de vista da tectônica, o vulcanismo terciário de Abrolhos classifica-se do tipo hotspot, por causa de sua situação intraplaca, mas ele teve um condicionamento complexo. Sua gênese não se aplica apenas pela atividade de uma pluma ascendente, mas envolve a reativação de zonas de fratura na crosta oceânica e, ainda, a uma zona de cisalhamento dextral de idade Proterozóica no sudeste brasileiro. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 9 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 3.4 Histórico Exploratório da Bacia Nos últimos cinco anos, as atividades de exploração e produção da PETROBRAS no Espírito Santo tornaram-se um exemplo de revitalização no sentido amplo da expressão. Desde o rejuvenescimento de campos maduros em terra, passando pela exploração em novas fronteiras em águas profundas e ultraprofundas, até o desenvolvimento de campos de gás natural há muito tempo descobertos. Em 1957, foram iniciadas as atividades exploratórias no estado do Espírito Santo, porém o primeiro reservatório em terra a apresentar óleo com produção comercial só foi descoberto 12 anos depois, no município de São Mateus. Até hoje a região norte do estado concentra importantes atividades de exploração e produção de gás natural e óleo. Em 1984, a produção atingiu o apogeu da 1ª fase e, logo depois, entrou num processo de declínio. A partir de 1999/2000, iniciou-se o processo de revitalização de campos maduros e o desenvolvimento do Campo de Fazenda Alegre, no norte do estado registrando um crescimento na produção terrestre. Em 1996, foi descoberto o Campo de Peroá, em águas rasas, no norte do estado (Foz do Rio Doce), ora em desenvolvimento. Em 2001, foi descoberto o Campo de Jubarte, o primeiro em águas profundas no litoral capixaba, que entrou em produção antecipada no final de 2002. Atualmente, as atividades operacionais de exploração e produção da PETROBRAS no Espírito Santo estão distribuídas em três frentes: Pólo Terra, caracterizado pela produção terrestre no norte do estado; Pólo Gás, representado pela produção e processamento de gás natural em terra e futura produção no campo marítimo de Peroá; e o Pólo Águas Profundas, representado pelas descobertas no litoral sul do estado, incluindo os campos gigantes de Jubarte e Cachalote e novas áreas com grandes descobertas a sul. Para traduzir em poucos números esse exemplo de transformação, as reservas totais do Espírito Santo, todas em concessão PETROBRAS, cresceram de 20 milhões de barris, na década de 90, para cerca de 1,1 bilhão em 2002. Esse número pode chegar a 2,3 bilhões de barris de reserva, caso as recentes descobertas anunciadas venham a ter sua comercialidade declarada. Esse é um impressionante crescimento de 115 vezes em cinco anos. A produção do Espírito Santo que registrou um apogeu em 1984, com cerca de 25 mil barris/dia, esteve declinante até 1998, atingindo o mínimo de 9 mil barris/dia. Começou a crescer estimulado pela revitalização terrestre e o __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 10 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 desenvolvimento de Fazenda Alegre, voltando para os 25 mil barris/dia, em dezembro de 2001. Com a entrada do piloto de produção de Jubarte no final de 2002, a produção do Espírito Santo atingiu um recorde de quase 49 mil barris/dia em abril deste ano. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 11 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 4. O Campo de Fazenda Alegre (FAL) 4.1. Características Estruturais Os reservatórios da Formação Urucutuca (Cretácio Superior – Terciário Inferior) no Paleocanyon de Fazenda Cedro correspondem a sedimentos de água profunda depositados durante a principal fase transgressiva da bacia. São arenitos turbidíticos, escoados através de um grande canyon submarino gerado por erosão submarina ao longo de estruturas geradas pelos esforços tencionais de rifteamento (Stanley, 1969). Estes arenitos correspondem aos mais importantes reservatórios emersos da Bacia do Espírito Santo. O arcabouço estrutural do Paleocanyon de Fazenda Cedro é caracterizado por um sistema de falhas normais geradas na fase “rift”, com direções predominantes Norte-Sul e secundariamente Nordeste-Sudoeste/Noroeste-Sudeste, com as primeiras alcançando rejeitos da ordem de centenas de metros (Fig. 3). A zona de falhamento principal Norte-Sul, denominada Zona de Charneira Cedro-Rio Doce, divide o Paleocanyon em dois blocos, com altos desníveis no Embasamento (Fig. 3). Associado às falhas normais Norte-Sul ocorre um sistema de falhas transversais, denominada zona de transferência, com direções predominantes N35E e N50W, assumindo um importante papel no controle estrutural do Paleocanyon (Bonora et al., 1992). O Campo de Fazenda Alegre é seccionado por uma série de falhas normais que cortam o embasamento, sendo reativadas sucessivamente ao longo da deposição da Fm. Urucutuca (Fig. 3). Tais falhas limitam paleoaltos de rochas pré__________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 12 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 cambrianas e servem como dutos para migração do óleo; conectando-se com superfícies erosivas. Esse tipo de erosão está de alguma maneira relacionada ao sistema de falhamentos e controla a distribuição dos reservatórios turbidíticos, bem como a migração de hidrocarbonetos para estes corpos. Figura 3: Seção geológica regional (W-E) do Canyon de Fazenda Cedra ilustrando a locação de alguns poços e geometria dos reservatórios do Campo de Fazenda Alegre, e a estruturação do Canyon. O controle dos níveis erosivos pela tectônica sobre a distribuição dos turbiditos é marcante. No entanto, o trapeamento de óleo é estritamente estratigráfico como pode ser observado nas seções geológicas (Fig. 4) e sísmicas da área. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 13 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Figura 4: Seções geológicas do Campo de Fazenda Alegre (NE-SW e S-N) ilustrando a geometria e o fluido de preenchimento dos corpos turbidíticos. 4.2. Fácies Deposicionais e Geometria dos Corpos Turbidíticos Os turbiditos de Fazenda Alegre são muito semelhantes aos do Campo de Lagoa Parda no Canyon de Regência descritos detalhadamente por Bruhn (1997). Por esta razão, a geometria e distribuição das fácies turbidíticas dos reservatórios de Lagoa Parda serão utilizadas como análogos das dos reservatórios de Fazenda Alegre. Nos reservatórios de Lagoa Parda foram definidos quatro fácies deposicionais, distribuidas ao longo de três complexos de canais que correspondem a uma megassequência transgressiva marinha do Eoceno Inferior. O estudo se baseou na descrição e correlação de testemunhos de sondagem e perfilagem elétrica via raio-gama e resistividade. Os fácies (Fig.5) foram distinguidas com base nas texturas e estruturas sedimentares, espessura das camadas e bioturbação. São eles: Fácies 1: corresponde a conglomerados e arenitos muito-grossos, maciços, pobremente selecionados com menos de 5% de matriz lamosa. A fração cascalho é constituída por quartzo, fragmentos de rochas plutônicas, e intraclastos lamosos erodidos do talude. Esta fácies é interpretada como turbiditos depositados rapidamente por correntes de turbidez de alta densidade sob condições neríticas a batiais (com base em dados paleontológicos; Bruhn, 1997). Fácies 2: constituído por arenitos interestratificados com folhelhos bioturbados. As areias são, na base, maciças com granulometria variando de muito grossas a grossas gradando em direção ao topo para arenitos médios a finos, estratificados e __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 14 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 apresentando pervasiva bioturbação. O topo destes últimos apresenta laminação cruzada produzida por pequenas ripples. O Fácies 2 é interpretada como turbiditos depositados por correntes de turbidez de menor densidade do que as da Fácies 1. Fácies 3: consiste de folhelhos de coloração verde-escura interestratificados com arenitos finos a muito finos, estratificados. É bastante comum a presença de climbing ripples e laminação convoluta, indicando altas taxas de sedimentação por suspensão. Pervasiva bioturbação ocorre nos arenitos e folhelhos e a razão arenito/folhelho é de 0,2 – 0,8. Estes turbiditos foram depositados por correntes de baixa densidade. . Fácies 4: constituído por sucessões de folhelhos verde–escuros com raras intercalações com arenitos muito finos (com ripples). Foram depositados possivelmente por correntes de turbidez lamosas. Esta fácies estabelece o background da sedimentação no Canyon. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 15 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Figura 5: Sucessão vertical típica dos turbiditos do Campo de Lagoa Parda mostrando as principais fácies deposicionais, bem como os tipos de icnofósseis ocorrentes (Th = Thalassinoides, Op = Ophiomorpha, Pl = Planolites e He = Helminthopsis). Os símbolos à direita da coluna indicam ripples, laminação plano-paralela e bioturbação. Dentro da coluna, em preto estão ilustrados as camadas de folhelhos e intraclastos lamosos. A granulometria é indicada pela escala na base da coluna. (mod. de Bruhn, 1997) __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 16 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Estes fácies preenchem 38 canais individuais que se amalgamam e formam complexos de canais. Ao todo foram identificados nove complexos de canais onde apenas os três mais jovens foram devidamente descritos CC1, CC2 e CC3 : CC1: compreende 12 canais preenchidos principalmente pela Fácies 1 que é substituída no topo e nas margens pela Fácies 2. As terminações upstream e downstream (Fig.4) dos canais preenchidos mostram afinamento relativamente abrupto em direção aos pacotes de folhelhos. CC2: compreende 23 canais preenchidos pelos fácies 1, 2 e 3. Apresenta um espesso pacote de folhelhos que separa o CC1 de CC2 (~48m). As terminações downstream são muito pouco amostradas, mas mostram claramente uma gradação da fácies 2 para fácies 3. Entretanto as terminações upstream apresentam afinamento abrupto em direção aos folhelhos com gradação das Fácies 1 e 2 para Fácies 3. CC3: compreende apenas 3 canais estreitos e pouco espessos preenchidos pelos Fácies 2 e 3 que são separados do CC2 por um pacote de folhelhos de 24 metros de espessura. As terminações upstream mostram um afinamento relativamente abrupto em direção as camadas de folhelhos onde a Fácies 2 é substituída pela Fácies 3. As terminações downtream não foram observadas. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 17 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 5. Metodologia 5.1. Levantamento Bibliográfico Consiste na compilação das publicações, relatórios e dados disponibilizados pela PETROBRAS, com cadastramento das informações pertinentes sobre os reservatórios estudados e sua situação geológica. 5.2. Petrografia Quantitativa 5.2.1. Definição do Método As lâminas delgadas, preparadas de amostras impregnadas com resina epoxy azul, são examinadas através de um microscópio óptico de luz polarizada, dotado de um dispositivo (charriot) capaz de movimentar a lâmina segundo intervalos regulares. A dimensão dos intervalos é proporcional à textura (tamanho de grão) da amostra para evitar-se que dois ou mais pontos caiam sobre o mesmo grão. A contagem é executada segundo transversas perpendiculares à laminação ou orientação dos grãos. A cada espaço percorrido pelo charriot é contado e registrado diretamente em planilhas Excel o constituinte da amostra situado sob o cruzamento dos fios do retículo da ocular do microscópio. Repete-se este procedimento até totalizar 300 pontos contados, calculando-se a percentagem correspondente a cada __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 18 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 um dos constituintes do arcabouço (grãos detríticos), constituintes diagenéticos e tipos de poros identificados na lâmina. A planilha de quantificação petrográfica (Anexo 2, Tabela 1 e 2) é estruturada em cinco partes principais: 1) Cabeçalho: neste setor são registrados a procedência da amostra, envolvendo poço e profundidade, e o número de pontos contados. (Fig. 6) Well Deeph Component Total FAL-04 713,85 Points % 0 0,0 Figura 6: ilustra o cabeçalho da planilha de quantificação petrográfica. 2) Constituintes detríticos: São os grãos depositados, oriundos da desagregação da litologias da área fonte e/ou de altos internos da bacia. Este setor da tabela apresenta os tipos de grãos detríticos (Fig. 7). Porosidade Intergranular Quartzo detrítico Feldspato detrítico Detrital Quartz Quartz Monocrystalline Quartz Polycrystalline Quartz in plutonic r.f. Detrital Feldspar Detrital K-feldspar Orthoclase Microcline Perthite K-feldspar in plutonic r.f. Detrital Plagioclase Plagioclase monocrystalline Plagioclase in plutonic r.f. Plutonic rock fragment Total fine-cryst. lithics Metamorphic rock fragment Volcanic r.f. Muscovite Biotite Mica in plutonic r.f. Garnet Opaques Other Heavy Minerals Smectitic clay grain Mud intraclast Carbonate bioclast/intraclast Carbonaceous fragment Pseudomatrix 2 1 1 3 2 1 1 1 1 0 0 Figura 7: Esquema mostrando os constituintes detríticos e diagenéticos encontrados em uma lâmina delgada e como os constituintes detríticos são registrados na planilha. 3) Constituintes diagenéticos: São os constituintes precipitados quimicamente após a deposição dos sedimentos. Este setor (Fig. 8) apresenta os diferentes constituintes __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 19 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 diagenéticos e para cada um é realizada uma subdivisão de acordo com o seu hábito e localização de ocorrência (ex.: esmectita substituindo feldspato, franjas de esmectita, cutículas de esmectita, etc). Esta subdivisão é necessária, para que se definam com precisão quais os constituintes diagenéticos que possuem influência direta no controle da permo-porosidade do reservatório. Por exemplo, esmectita substituindo feldspato não possui impacto direto na qualidade do reservatório, uma vez que ocupa o lugar de um grão, entretanto franjas e cutículas de esmectita controlam fortemente a permeabilidade. Porosidade Intergranular Quartzo detrítico Feldspato detrítico Total Diagenetics Smectitic clay coatings Smectitic clay rims Smectite replacing biotite Smectite in K-feldspar Smectite in plagioclase Smectite in heavy mineral Smectite replacing kaolinite Quartz overgrowth Quartz fracture healing K-feldspar overgrowth Kaolin intergranular Kaolin in feldspar grain Kaolinite in grain Kaolinite in mica Kaolinite replacing mud intraclast Kaolinite replacing smectitic clay grain Calcite replacing kaolinized mica Siderite in mica Dolomite replacing intracl./pseudomatrix TiO2 intergranular TiO2 replacing grain Pyrite intergranular Pyrite in smectitic coating/rim Pyrite in mud intraclast Pyrite in smectitic clay grain Pyrite in biotite Pyrite in feldspar grain Pyrite in other grains Iron oxides on pyrite Bitumen 6 1 1 1 1 1 1 Figura 8: Esquema mostrando os constituintes detríticos e diagenéticos encontrados em uma lamina delgada e como os constituintes diagenéticos são registrados na planilha. 4) Tipos de macroporosidade: corresponde às diferentes geometrias dos espaços preenchidos por fluidos. Este setor (Fig. 9) apresenta os tipos de poros encontrados na amostra, ex. (intergranular, intragranular em feldspato, dissolução de intraclasto, móldico, etc.). __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 20 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Macroporosity Intergranular Intragranular in K-feldspar Intragranular in plagioclase Intragranular in plutonic r.f. Intragranular in mica Intra/intercrystal. in carbonate Moldic Fracture Dissolution of smectitic clay grain Shrinkage of clay grain Shrinkage of clay coating/rim Oversized 4 1 1 1 1 Macroporosidade Quartzo Feldpato Fragmento argiloso Figura 9: esquema mostrando alguns dos diferentes tipos de porosidade encontrados em uma lâmina delgada e como são registrados na planilha. A parte final da planilha traz uma série de dados importantes que são calculados durante a quantificação (ex.: volume intergranular, volume total de grãos, volume total de caulinita, etc). Além disso são igualmente tabuladas, após o término da quantificação, características texturais e de fábrica como: Tamanho granulométrico modal: É obtido pela observação geral da lâmina e pela medida de grãos representativos da classe modal, calculando-se a média aritmética das medidas (Fig.10). Seleção: obtida pela observação direta de toda amostra e por comparação com desenhos esquemáticos (ex.: Pettijohn et al., 1972) infere-se o grau de seleção da amostra; tanto nominalmente (ex.: bem selecionado, moderadamente selecionado, etc) quanto numericamente (desvio padrão variando entre 0 e 2) (Fig.10). Intergranular volume Grain volume Smectite Total Kaolin Total Nominal grain size Modal grain size (mm) Nominal Sorting Sorting 80 220 33 12 26,7 73,3 11,0 4,0 medium 0,32 moderately sorted 0,8 Figura 10: posição final da tabela de quantificação. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 21 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 5.2.2. Aplicação do Método: Foram coletadas amostras do intervalo de ocorrência das esmectitas em cinco poços (FAL-4, FAL-27, FAL-33, FAL-50 e FAL-75) situados entre 713 e 850 metros de profundidade. Foram quantificadas 57 lâminas delgadas, onde 49 correspondem a amostras dos reservatórios e 8 são referentes a intervalos cimentados por carbonato. As lâminas foram examinadas detalhadamente ao microscópio ótico e as principais feições foram documentadas em fotomicrografias digitais (Anexo 1). Os constituintes detríticos, diagenéticos e tipos de poros foram quantificados na planilha Excel organizada para o estudo (Anexo 2). Foram ainda avaliadas qualitativamente (simples observação otica), três amostras do embasamento cristalino referentes ao poço FAL-2 e duas amostras de lutitos intercalados aos reservatórios do poço FAL-4. 5.3. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) 5.3.1. Definição do Método Na microscopia de varredura um feixe de elétrons gerado em um canhão é focalizado por um conjunto de lentes eletromagnéticas sobre a amostra, e mediante bobinas defletoras, percorre uma varredura sobre uma pequena região da mesma. Como conseqüência, uma série de sinais são emitidos. Os elétrons do feixe refletidos pela superfície da amostra (elétrons secundários) são captados por um detector cuja resposta modula o brilho de um tubo de raios catódicos, e que é varrido em sincronismo com o feixe eletrônico. Portanto, a cada ponto da amostra corresponde um ponto da tela, e nele é mapeada a resposta do objeto ao feixe de excitação. Os elétrons secundários são gerados a pequena profundidade e, portanto, a imagem resultante é mais sensível às feições topográficas. As imagens adquiridas a partir dos elétrons arrancados da amostra, denominados retroespalhados (backscattered), retratam as variações de número atômico dos elementos dos minerais na forma de um “mapa de número atômico médio”. Quanto maior for o número atômico médio mais claro será o tom de cinza e vice-versa (Fig. 11). Isto porque elétrons arrancados de átomos cujo núcleo possui muitos prótons são mais energéticos do que átomos que apresentam pequeno número de prótons. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 22 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Esta metodologia é de considerável importância nos estudos mineralógicos, tendo-se em vista que possibilita coligir informações diversas sobre a amostra, tais como: textura e topografia, distribuição dos elementos presentes, composição e homogeneidade química dos minerais, etc, em imagens de elétrons secundários e/ou retroespalhados com alta definição e em aumentos da ordem de alguns milhares de vezes registradas fotograficamente: Figura 11: Imagem produzida por elétrons retroespalhados de uma das amostras de FAL onde um cristal de feldspato (cinza) está sendo substituído ao longo das clivagens por pirita (branco). As imagens de elétrons secundários e retroespalhados são suplementadas por análises de espectrometria por dispersão de energia (EDS). Este método consiste na resposta característica de cada elemento químico à emissão do feixe de elétrons, capaz de arrancar elétrons das camadas menos energéticas dos átomos (mais próximas ao núcleo). Este buraco é suprido pela migração de um elétron mais energético (mais distante do núcleo). Como neste trânsito de elétrons sobra energia, o excesso é emitido como fótons na faixa dos raios-X com comprimentos de onda característicos para cada elemento químico, possibilitando assim, a sua identificação discriminada no espectro obtido na análise (Fig.12). __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 23 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Figura 12: Espectro EDS das gipsitas de FAL. Os diferentes picos para um mesmo elemento (Ca) representam energias variadas dos fótons, ou seja, elétrons arrancados de uma determinada camada são supridos por elétrons de diferentes camadas orbitais mais energéticas. 5.3.2. Aplicação do Método Foram selecionadas, com base na petrografia ótica, quatro lâminas delgadas representativas das principais feições a serem analisadas (substituição de grãos por esmectita, intraclastos, fragmentos esmectíticos, franjas e cutículas de esmectita, crescimento secundário de feldspato, caulinização de micas). Essas lâminas foram polidas e cobertas por carbono para análise de microscopia eletrônica de varredura por elétrons retroespalhados (BSE) com suporte de espectroscopia por dispersão de energia (EDS). Oito pequenas lascas foram coletadas das amostras de testemunhos, montadas em placas de alumínio e recobertas por carbono e por ouro para exame por microscopia eletrônica de varredura de elétrons secundários (SEM) com suporte de espectroscopia por dispersão de energia (EDS), a fim de obter melhor detalhamento e compreensão da relação paragenética das argilas em relação aos constituintes diagenéticos e detríticos. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 24 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 6.Resultados 6.1. Textura e Composição Detrítica Os arenitos-reservatório do Campo de Fazenda Alegre apresentam uma granulometria que varia de areia muito grossa a muito fina, com predominância de arenitos médios. Em analogia aos turbiditos de Lagoa Parda, os testemunhos de FAL se encaixam nos fácies 1 e 2 de Bruhn, 1997. Alguns níveis estratificados das amostras correspondem a depósitos de rompimento de dique marginal. Como em Lagoa Parda os turbiditos de FAL apresentam camadas de lutitos intercaladas. Na maior parte, são moderadamente e pobremente selecionados. Existe uma marcante mistura entre grãos arredondados e angulosos indicando interação entre sedimentos reciclados e de primeiro ciclo. Composicionalmente, os arenitos são subarcóseos (sensu Folk, 1968; Fig.13). Os grãos de quartzo (méd. 29,7% - máx. 39,3%) são essencialmente monocristalinos plutônicos (Anexo I, Fig.1) com raros cristais de quartzo policristalinos (Anexo I, Fig.2). Os feldspatos detríticos (méd. 22,6% - máx. 29%) são dominantemente microclínio (Anexo I, Fig.3), e em teores subordinados ocorrem ortoclásio (Anexo I, Fig.4), plagioclásio (Anexo I, Fig.5) e pertita (Anexo I, Fig.6). Os feldspatos mostramse comumente dissolvidos (Anexo I, Fig. 23 e 52) e substituídos por esmectita (Anexo I Fig. 23 e 25 ) ou caulinita (Anexo I, Fig. 28). Os fragmentos de rocha incluem somente tipos plutônicos granítico-gnáissicos (Anexo I, Fig. 7), alcançando teores médios de 6,9% do volume total (máx. 16,3%). Outros constituintes detríticos importantes incluem lamelas monocristalinas de micas, __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 25 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 com predominância de biotita (Anexo I, Fig. 8) em relação a muscovita (Anexo I, Fig.9), minerais pesados (Anexo I, Fig.10, 11 e 12), e intraclastos lamosos (Anexo I, Fig.13). A porção síltica destes intraclastos comumente mostra cristais euédricos de sanidina (Anexo I, Fig.14), identificados como possíveis cristaloclastos, provenientes de uma fonte vulcânica contemporânea. Figura 13: ilustra a composição dos arenitos de FAL. Os arenitos caem no campo de subarcóseos. 6.2. Constituintes diagenéticos Os principais processos diagenéticos que afetam os arenitos turbidíticos de Fazenda Alegre são a compactação mecânica, a precipitação intergranular de esmectita, caulinita, K-feldspato e carbonato e a dissolução e substituição de minerais detríticos por carbonato, esmectita, caulinita e pirita. A Tabela 2 (Anexo II) apresenta todas as médias e máximos de todas as formas de ocorrência dos constituintes diagenéticos, detríticos e tipos de porosidade. 6.2.1. Esmectita A esmectita é o constituinte diagenético mais abundante nos reservatórios de Fazenda Alegre (méd. 3,4%; máx. 15%) apresentando elevados teores em todos os poços amostrados. Ela ocorre com quatro hábitos principais: __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 26 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 (1) Franjas contínuas, com espessura média de 3 µm, depositadas perpendicularmente sobre a superfície dos grãos (rims; Anexo I, Fig. 15, 16, 17, 18). Este hábito é o mais difundido nos turbiditos ocupando em média 1,4% (máx. 10%) do volume total. (2) Cutículas (coatings), com espessura média de 4 µm, recobrindo os grãos (Anexo I, Fig. 19) ocorrem com teores médios de 1,1% (máx. 3,7). São normalmente contínuas, entretanto, em algumas lâminas ocorrem descontínuas e localizadas nas partes côncavas da superfície dos grãos, indicando uma provável herança por retrabalhamento de grãos de sistemas fluviais/aluviais contemporâneos (sensu Wilson, 1992). Freqüentemente estão substituídas por pirita. (3) Agregados complexos de cutículas múltiplas e franjas (Anexo I, Fig.20 e 21), ocorrem como produto da total substituição de grãos, provavelmente de minerais pesados (ex.: piroxênios e anfibólios) e/ou de feldspatos. A disposição concêntrica das cutículas sugere sua precipitação durante a gradual e progressiva dissolução dos grãos, tal como observados em outros arenitos ricos em minerais pesados (e.g., Mathisen, 1984; Figs.). Freqüentemente estes agregados estão substituídos por pirita (Anexo I, Fig. 37). (4) Agregados maciços preenchendo os espaços intergranulares (pore-filling, Anexo I, Fig.22 e 51), ou, principalmente, como produto da substituição de minerais detríticos, incluindo K-feldspatos (Anexo I, Fig.23), biotita (Anexo I, Fig.24), plagioclásio (Anexo I, Fig.25) e minerais pesados. Minerais diagenéticos como caulinita também são freqüentemente substituídos (Anexo I, Fig.26). Em análises semi-quantitativas por EDS (ex. Fig.14) sugerem que estas argilas são montmorilonitas potássicas com significativo magnésio octaédrico (Fig) __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 27 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Figura 14: Espectro de EDS obtido sobre as franjas de esmectitas autigênicas. 6.2.2. Caulinita A caulinita é o segundo constituinte diagenético mais abundante dos reservatórios de Fazenda Alegre (méd. 4,3% - máx. 14%). Ocorre como agregados de cristais lamelares vermiformes que preenchem os poros intergranulares (Anexo I, Fig. 29 e 30) e substituindo minerais detríticos, incluindo feldspatos (Anexo I, Fig.28), intraclastos lamosos e principalmente micas (com preferência das muscovitas; Anexo I, Fig. 27) na qual gera forte expansão. Freqüentemente, os agregados de caulinita mostram sinais de dissolução e substituição por esmectita (Anexo I, Fig.26). 6.2.3. Feldspato Potássico Feldspato potássico autigênico é um importante constituinte diagenético dos arenitos de Fazenda Alegre (média 0,4%; até 1,3%). Os K-feldspatos diagenéticos ocorrem principalmente como crescimentos secundários epitaxiais (overgrowths) ao redor dos grãos de feldspatos detríticos, principalmente de microclínio (Anexo I, Fig.31). O desenvolvimento inicial desses crescimentos assume a forma de diversos cristais de forma pseudo-romboédrica que se projetam da superfície dos grãos (outgrowths) coalescendo posteriormente para formar crescimentos de contorno serrilhado (Anexo I, Fig.32). Os feldspatos autigênicos são encontrados ainda como cristais prismáticos discretos (Anexo I, Fig.33) ou misturados aos agregados complexos de cutículas e franjas múltiplas de esmectita que substituem __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 28 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 pervasivamente grãos, aparentemente de minerais pesados e de feldspatos. Os crescimentos estão comumente intercrescidos com franjas de esmectita, sugerindo sua co-precipitação (Anexo I, Fig.34). 6.2.4. Pirita Pirita microcristalina ocorre em agregados framboidais (Anexo I, Fig.38) e cristais cúbicos isolados com teores médios de (2,3% - máx. 8,3%). Está, basicamente, associada à substituição de grãos detríticos como biotita (Anexo I, Fig.35), feldspatos (Anexo I, Fig.36) e intraclastos lamosos (Anexo I, Fig.13) e diagenéticos como esmectita pore-filling e pore-lining. 6.2.5. Calcita A cimentação carbonática (méd. 16% - máx. 59,7%) ocorre em níveis específicos descontínuos e de pequena espessura intercalados aos reservatórios. Estes intervalos foram amostrados nos poço FAL-27, FAL-33, FAL-50 e FAL-75. No geral, a cimentação predominante é por calcita poiquilotópica intergranular altamente corrosiva que substitui de maneira irregular a borda dos grãos (Anexo I, Fig.39). A substituição ocorre principalmente sobre os grãos de feldspatos, micas (Anexo I, Fig.40) e quartzo, mas afeta também os agregados de caulinita onde, algumas vezes, a substituição é pseudomórfica (Anexo I, Fig.41). Quando a calcita substitui os intraclastos ou material argiloso intergranular esta adquire um caráter microcristalino e coloração mais escura (Anexo I, Fig.42). Além disso, a calcita freqüentemente ocorre preenchendo fraturas nos grãos maiores onde se percebe com clareza o seu caráter deslocante alargando as fraturas (Anexo I, Fig. 42) ou mesmo afastando os grãos do arcabouço (Anexo I, Fig.43). 6.2.6. Outros constituintes diagenéticos A dolomita (méd. 0,6% – máx. 3,7%) ocorre na forma de romboedros substituindo intraclastos lamosos (Anexo I, Fig.46) ou ocupando espaço intergranular. É comum estar substituído por calcita (Anexo I, Fig.45). __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 29 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Cristais prismáticos discretos isolados de quartzo ocorrem raramente e foram identificados somente em microscópio eletrônico (Anexo I, Fig.48). Oxido de titânio ocorre em pequenas quantidades geralmente relacionado com a substituição da esmectita pore-filling (Anexo I, Fig.47) Cristais aciculares de gipsita identificados somente com uso de microscopia eletrônica (Anexo I, Fig.49). Estão sobre os grãos detríticos e associados com os agregados de esmectita sem nenhuma relação de substuição. Cristais aciculares de apatita ocorrem muito raramente associados aos agregados complexos de cutículas e franjas (Anexo I, Fig.50) 6.1.3. Compactação e Porosidade Os reservatórios de Fazenda Alegre estão situados a pequenas profundidades (entre 713 e 850 m) o que favorece a preservação da porosidade primária devido à compactação limitada. Esta relação é bastante clara em análise de microscopia óptica onde são encontradas somente evidências de compactação mecânica como o fraturamento dos cristais maiores de quartzo, feldspatos e fragmentos plutônicos (Anexo I, Fig.56) e mais raramente deformação dúctil de micas e intraclastos. Os intraclastos apresentam deformação apenas em suas bordas não ocorrendo transformação para pseudomatriz (Anexo I, Fig.13). Os contatos são dominantemente pontuais e retos, com raros côncavo-convexos (geralmente associados a amostras de granulometria mais fina). Em média, estes reservatórios apresentam altos valores de volume intergranular (méd. 19,4% - máx. 28%). Nos níveis cimentados à compactação é ainda mais limitada pela abundância de cimento calcítico precoce (Fig 15). Isto é corroborado pelos valores de volume intergranular (méd. 28,4 % - máx. 36,7%) bastante superiores destes níveis em relação à média dos reservatórios. Os arenitos de Fazenda Alegre apresentam alta porosidade (méd. 23% - máx. 33,3%). Aproximadamente metade da porosidade é intergranular primária com valor médio de 12,6% do volume total (máx. 24,3%). Os poros secundários (méd.10,4% máx. 34,3%) são produzidos principalmente por dissolução. Os poros intragranulares gerados por dissolução ocorrem mais comumente em grãos de feldspatos (Anexo I, __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 30 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Fig.52), micas (Anexo I, Fig. 53), e fragmentos plutônicos. Além desses, ocorrem poros agigantados (Anexo I, Fig.55) e móldicos (Anexo I, Fig.54) produzidos pela dissolução completa dos minerais. Os Poros secundários também são gerados pelo fraturamento da rocha (Anexo I, Fig.57) ou preferencial dos grãos maiores do arcabouço (Anexo I, Fig.56) e pela contração por desidratação de intraclastos lamosos (Anexo I, Fig.58) e das franjas/cutículas de esmectita que se deslocam da superfície dos grãos (Anexo I, Fig.59). Nos níveis cimentados por calcita praticamente não existe macroporosidade. Figura 15: Diagrama de cimento intergranular versus volume intergranular (cf. Houseknecht, 1987) mostrando a predominância da redução de porosidade por compactação nos reservatórios porosos (losangulos pequenos) e por cimentação nos níveis cimentados por calcita (quadrados maiores). O diagrama de volume intergranular versus cimento intergranular (cf. Houseknecht, 1987) mostra claramente que nos reservatórios porosos (losângulos pequenos) o principal processo de redução de porosidade foi a compactação. Considerando-se a alta média de porosidade dos reservatórios (23%) fica evidente __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 31 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 que a compactação dos reservatórios foi pouco intensa, devido ao seu limitado soterramento. A plotagem das amostras cimentadas por calcita (quadrados maiores) mostra que nestas a cimentação foi muito mais importante que a compactação na redução da porosidade. As altas médias de volume intergranular (28%) e a ausência de porosidade sugerem que nos níveis cimentados a precipitação precoce de calcita limitou a compactação mecânica. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 32 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 7. Discussão 7.1. Seqüência Paragenética A seqüência paragenética simplificada para os arenitos de Fazenda Alegre, construída com base nas relações espaciais entre constituintes e processos observados por microscopia ótica e eletrônica, está esquematicamente representada na Figura 16. a qual mostra os principais processos diagenéticos atuantes e sua importância relativa. Figura 16: mostra a seqüência paragenética simplificada dos reservatórios de FAL. A espessura das barras indica a importância do processo. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 33 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 O primeiro processo diagenético importante que atuou sobre os arenitos de FAL foi a dissolução provocada por fluidos de origem meteórica. Este processo foi grande responsável pela dissolução dos grãos de feldspato e pela caulinização das micas. Parte do material dissolvido precipitou-se como caulinita intergranular. Uma nova dissolução ocorreu posteriormente, produzida por fluidos alcalinos que podem ter sido oriundos dos lutitos intercalados, dos evaporitos Aptianos, ou do embasamento da bacia. A maior parte dos minerais detríticos pesados foram dissolvidos e alterados para esmectita disponibilizando Ti para a formação de óxido de titânio. Os feldspatos também foram significativamente substituídos por esmectita. Cutículas e franjas de esmectita se formaram durante a passagem deste fluido, assim como os crescimentos secundários de K-feldspato e a gipsita. Um terceiro evento de dissolução afetando parte do material esmectítico parece estar relacionado com a precipitação de abundante pirita. Ainda sob condições de soterramento raso, ocorreu a cimentação localizada por calcita. 7.2. Autigênese de Esmectita Como as esmectitas são argilominerais quimicamente complexos, hidratados e com grande riqueza iônica, todos os processos de significativa autigênese de esmectita em arenitos envolvem fontes internas de íons, representadas basicamente pela alteração eodiagenética de constituintes detríticos reativos e pouco estáveis. Esmectitas são argilominerais típicos de ambientes alcalinos, com abundância de íons. A fonte dos íons em muitos arenitos com esmectitas autigênicas é a alteração eodiagenética de fragmentos vulcânicos (e.g, Davies et al., 1979; Surdam e Boles, 1979; Hawlader, 1990; Tang et al, 1994; De Ros et al., 1997; Ryu e Niem, 1999). Esmectitas autigênicas também são produzidas pela alteração de feldspatos e minerais ferromagnesianos detríticos em ambientes eodiagenéticos continentais de clima seco (Walker, 1976: Kesler, 1978; Walker et al, 1978; Winspear e Pye, 1995; Silva e Anjos, 1996). Todavia, Isso não deve ser confundido com a infiltração mecânica de esmectitas detríticas em sedimentos continentais sob clima seco (Walker et al, 1998; Moraes e De Ros, 1990). A ocorrência de esmectitas nos reservatórios de Fazenda Alegre deve ser examinada em relação a esses processos, mantendo-se em vista o fato de que os arenitos fazem parte de uma seqüência marinha de água profunda. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 34 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 7.3. Hipóteses das condições genéticas das esmectitas 1) As esmectitas poderiam ser produto da alteração diagenética completa in situ de material vulcanoclástico (possivelmente fragmentos vítreos, shards) de uma fonte próxima, pois sua presença está restrita a um intervalo de profundidade bem definido (entre 713 e 850 m) apresentando um alto controle estratigráfico. Entretanto, detalhadas análises de petrografia ótica e microscopia eletrônica de varredura, não autorizaram a identificação positiva de materiais vulcânicos ou seus resquícios nos arenitos estudados. Delicados cristais aciculares de apatita (Anexo I, Fig.50), preliminarmente identificados como possíveis cristaloclastos, residuais da alteração e dissolução de materiais piroclásticos, são provavelmente de origem diagenética. Delicadas formas curvas de algumas cutículas de esmectita, preliminarmente interpretadas como moldes de shards dissolvidos, revelaram-se na microscopia eletrônica de varredura como cutículas múltiplas, produzidas por diversos estágios de precipitação e de dissolução de grãos, seguidos de contração e encrespamento, provavelmente por desidratação durante o soterramento (Fig.18) muito semelhante as feições descritas por Mathisen, 1984 em arenitos Pleistocênicos da Bacia de Cagayan nas Filipinas (Fig.17). Além disso, a deposição de cinzas vulcânicas e sua alteração em ambientes marinhos tipicamente geram camadas de lutitos de grande extensão lateral (Rettke, 1981; Caddah et al., 1994; 1998), compostas por esmectita denominadas de bentonitas, e não cimentos esmectíticos em arenitos. Adicionalmente, não são conhecidos centros vulcânicos próximos e/ou correlatos estratigraficamente (Maaestrichtiano) com os turbiditos de FAL. Figura 17: ilustra a semelhança entre as feições de cutículas encontradas nos arenitos pleistocênicos da Bacia de Cagayan (esquerda) e nos reservatórios de FAL (direita). __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 35 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 A Q Gr B Anf F Bi C D Figura 18: esquema explicando como ocorrem os agregados complexos de cutículas e franjas pela alteração de minerais pesados: A) arenito de composição imatura composto por (Q) quartzo, (F) feldspato, (Gr) granada, (Anf) anfibólio e (Bi) biotita; B) incipiente alteração dos minerais pesados e precipitação das cutículas; C) progressiva dissolução dos minerais pesados e formação e precipitação de franjas associadas as cutículas; D) contração, fragmentação e encrespamento das cutículas gerados por desidratação. 2) Entretanto, se materiais vulcânicos ou seus resquícios não foram inequivocamente identificados nos arenitos, o mesmo não pode ser afirmado para os lutitos intercalados aos turbiditos nem para os intraclastos produzidos pela erosão desses depósitos de talude pelos fluxos turbidíticos. Ocorrem comumente nos lutitos e nos intraclastos cristais euédricos de sanidina que são aparentemente cristaloclastos de uma fonte piroclástica não muito distante, (Anexo I, Fig.13), embora não possam ser reconhecidos nos arenitos. Isso indica a possibilidade de que as esmectitas diagenéticas possam ser o produto da alteração in situ generalizada de diferentes constituintes detríticos, particularmente de feldspatos e minerais detríticos feromagnesianos, por fluidos provenientes da alteração de constituintes vulcânicos nos lutitos intercalados e circundantes. A presença de materiais piroclásticos nos lutitos deste intervalo estratigráfico específico explicaria a distribuição restrita das esmectitas. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 36 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 3) As esmectitas poderiam ser produto da alteração in situ generalizada de diferentes constituintes detríticos, particularmente de feldspatos e minerais detríticos feromagnesianos, por fluidos alcalinos hidrotermais provenientes do embasamento subjacente e adjacente ao campo de Fazenda Alegre. Analisando-se seções sísmicas da área identificam-se falhas que cortam o embasamento e os reservatórios de FAL, que possibilitariam potencialmente tal migração de fluidos. É, entretanto, difícil de conciliar uma extensa migração vertical de fluidos reativos com a ocorrência estratigraficamante restrita das esmectitas em FAL. Adicionalmente, em 3 amostras analisadas de testemunho do embasamento no poço FAL-2 a alteração para esmectita é muito limitada, predominando a carbonatação e subordinada serpentinização (Fig.19). Figura 19: as fotomicrografias ilustram as principais alterações do embasamento: A) carbonatação e B) serpentinização. 4) A autigênese de esmectitas em FAL seria o produto da interação entre uma composição detrítica fortemente imatura das areias turbidíticas do intervalo estudado, particularmente rica em minerais pesados instáveis, com o influxo de fluidos alcalinos fortemente concentrados, provenientes da dissolução dos evaporitos aptianos do Membro Itaúnas. O forte controle estratigráfico sobre a ocorrência das esmectitas pode estar relacionado com um evento tectônico responsável por um pulso de sedimentação proveniente de um terreno-fonte específico do embasamento, particularmente rico em minerais instáveis. Adicionalmente, apesar de evaporitos do Membro Itaúnas não ocorrerem dentro do canyon, é possível que os reservatórios de FAL estejam em contato com esta unidade em algum ponto ao longo das bordas do canyon. Em análises de detalhe feitas por microscopia eletrônica pode-se observar a co-precipitação de K-feldspato, gipsita e esmectita o que sugere que estas argilas se depositaram sob alta alcalinidade. Além disso, a ocorrência de cimentação extensa __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 37 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 por franjas de esmectita atinge também os arenitos Mucuri, sotopostos aos evaporitos Itaúnas o que favorece esta hipótese. 7.4. Impacto das esmectitas sobre a qualidade dos reservatórios Em geral, argilominerais que costumam adquirir hábitos pore-lining (franjas e cutículas ao redor dos grãos) como as esmectitas de FAL causam significante impacto na qualidade dos reservatórios, principalmente no que diz respeito à permeabilidade (Neasham, 1980). A disposição das argilas de se depositarem sobre a superfície dos grãos, gera estreitamento e até congestionamento total das gargantas dos poros não permitindo assim o fluxo do óleo. Entretanto, o impacto dessa morfologia das argilas diagenéticas sobre a porosidade dos reservatórios é bem menos severo (Fig.20). Figura 20: Esquema ilustrando o efeito da cimentação por esmectita pore-lining em reservatórios. As setas indicam pontos onde as gargantas dos poros foram totalmente obliteradas diminuindo consideravelmente a permeabilidade. Entretanto, a porosidade é pouco reduzida. Em FAL, o efeito das cutículas e franjas de esmectita sobre a redução de permeabilidade é minimizado pela granulometria grossa e pela compactação limitada dos arenitos, bem como pela intensa dissolução de grãos. Além disso, um volume substancial das esmectitas ocorre substituindo grãos, e não preenchendo os poros intergranulares. Embora, estes fatores tenham contribuído para a suavização do impacto da autigênese das esmectitas, o óleo pesado explotado de FAL necessita do máximo possível de permeabilidade para uma boa recuperação, e isto faz das esmectitas pore–linining um importante fator limitante na qualidade dos reservatórios. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 38 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 7.5. Autigênese de caulinita e seu impacto na qualidade dos reservatórios As causas da formação de caulinita autigênica durante o soterramento de arenitos são usualmente justificadas na literatura como produto de lixiviação gerada: 1) pela infiltração de água metórica (Bjφrlykke, 1989); 2) pela percolação de fluidos ácidos carregados de CO2 da alteração de matéria orgânica (Schimidt e McDonald, 1979; Franks and Forester, 1984), ou; 3) pela percolação de fluidos contendo ácidos carboxílicos derivados da maturação térmica da matéria orgânica (Surdam et al., 1984). A abundante caulinita contida nos reservatórios de FAL mostra características nitidamente meteóricas. Essas características incluem lamelas largas, mas finas, a dominância de agregados vermiformes com marcante defeito cristalino das lamelas, refletido em reentrâncias alinhadas nas arestas (Fig.21; cf. McAulay, 1994), e a ampla expansão das muscovitas, indicando uma precipitação a pequena profundidade com balanço positivo de Al trazido pelos fluidos meteóricos. Figura 21: fotomicrografia ótica mostrando a disposição da caulinita vermicular. No zoom, imagem de elétrons secundários ilustrando os defeitos cristalinos típicos de caulinitas meteóricas. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 39 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Embora as caulinitas ocupem valores substanciais do volume intergranular dos reservatórios de FAL, o seu habito tipicamente pore-filling e sua distribuição em “ninhos” isolados dentro dos reservatórios não causa impacto importante sobre a permeabilidade. A distribuição isolada dos agregados permite que o óleo migre com facilidade entre eles (Fig.22). Figura 22: Ilustra a disposição em “ninhos” das caulinitas intergranulares. Mesmo com as caulinitas ocupando uma significativa parcela do volume intergranular, o óleo, dentro dos reservatórios, migra com facilidade entre os agregados, como indicado pelas setas. A caulinização de micas, também contribui na diminuição dos espaços livres, pois grande parte dos poros intergranulares adjacentes as micas são ocupados durante sua expansão. Devido a este fato, em amostras enriquecidas em muscovitas (preferencialmente alteradas) o efeito de redução de porosidade nos reservatórios de FAL pode ser um pouco mais severo (Fig.23). __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 40 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Figura 23: Representação esquemática do impacto da caulinização sobre um reservatório rico em micas. A expansão das micas pode ocupar um grande espaço do volume intergranular. O somatório de caulinitas intergranulares e substituindo micas pode ocupar algumas vezes mais de 14% do volume total das amostras. Mesmo assim, o balanço entre poros livres e obliterados faz com que o efeito da caulinita na qualidade dos reservatórios seja limitado. Em comparação com as esmectitas pore-lining, as caulinitas pore-filling ocupam valores superiores do volume intergranular dos arenitos de FAL, entretanto seu impacto sobre a permeabilidade é significativamente menor. Isto ilustra a importância da caracterização da forma de distribuição dos cimentos, e não apenas de sua abundância, em estudos de qualidade de reservatórios. 7.6. Autigênese precoce de K-feldspato e seu impacto na qualidade dos reservatórios O felspato potássico autigênico ocorrente nos reservatórios de FAL apresenta, como é característico dos feldspatos autigênicos, uma composição extremamente pura. A neoformação dos K-feldspatos está vinculada comumente à dissolução de K-feldspatos detríticos e alteração de micas (muscovita a caulinita, e biotita a esmectita). Adicionalmente, em FAL a precipitação de feldspato potássio pode estar conectada a fluidos alcalinos originados da dissolução de camadas evaporíticas. A íntima relação de crescimentos e cristais discretos de K-feldspato com as esmectitas fornece informações sobre o tipo de fluido relacionado à sua __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 41 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 geração, uma vez que feldspatos autigênicos são precipitados em baixas temperaturas por fluidos altamente alcalinos e salinos. Adicionalmente, a possibilidade de datação radiogênica dos feldspatos diagenéticos (Girard et al., 1988, 1989 e Hagen, 2001) poderá permitir obter a idade da autigênese das esmectitas. Esta informação pode ser bastante importante, uma vez que estes argilominerais poderiam estar relacionados com algum evento significativo da evolução da bacia. O efeito dos crescimentos de K-feldspato na qualidade dos reservatórios é bastante semelhante ao das argilas pore-lining, causando perda da permeabilidade. Entretanto em FAL, este constituinte, embora não raro, ocorre disseminado e ocupa um percentual muito pequeno do volume intergranular, representando um impacto insignificante sobre a qualidade dos reservatórios, como pode ser observado na Figura 24. Figura 24: Ilustra como o crescimento limitado e disseminado dos K-feldspatos autigênicos gera um impacto insignificante nos reservatórios. 6.7. Cimentação por Calcita Em termos globais, a calcita é volumetricamente o cimento mais comum nos arenitos. Por isso, a compreensão de seus padrões de distribuição e evolução geoquímica é fundamental para a caracterização de reservatórios. Em FAL, as relações paragenéticas da calcita nos raros níveis cimentados indicam que a calcita foi precipitada posteriomente a todos os constituintes diagenéticos observados nos reservatórios porosos. Entretanto, a disposição da calcita em relação aos grãos sugere que a cimentação foi pré-compactacional e algumas vezes deslocante. A __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 42 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 ausência de dados isotópicos impede a interpretação mais exata das condições genéticas da cimentação calcítica. Todavia, as relações paragenéticas da calcita permitem sugerir duas possíveis fontes: 1) a redução bacteriana de sulfato e 2) a fermentação metanogênica bacteriana, sugerida pela precipitação da calcita após a pirita microcristalina (Morad, 1998). A cimentação por calcita não representa um impacto sobre os reservatórios de Fazenda Alegre devido à sua disposição em intervalos delgados e descontínuos, incapaz de promover compartimentação efetiva, nem de gerar a interferência sobre os padrões de fluxo do óleo. 6.8. Pirita Autigênica Pirita autigênica é o sulfeto de ferro mais comum das rochas sedimentares. Nos arenitos de FAL a pirita foi formada durante a eodiagênese, tem sua provável origem vinculada à redução de sulfato (provavelmente contido nos fluidos alcalinos responsáveis pela autigênese da esmectita) por bactérias anaeróbicas que produzem H2S. Este reage com o Fe dos minerais ferromagnesianos precipitando a pirita. Este processo ocorre comumente em ambientes anóxicos, onde ocorre abundante concentração de bactérias anaeróbicas. 6.9. Gipsita A ocorrência de gipsita ao final da autigênese de esmectita, associadas com feldspato potássico indicam que tal precipitação ocorreu sob condições de extrema alcalinidade. A disposição de aparente co-precipitação com as últimas esmectitas formadas não sugere que a precipitação de gipsita tenha ocorrido durante a secagem dos fluidos, após o corte dos testemunhos. 6.10. Papel da dissolução na qualidade dos reservatórios Somente no final da década de 70 a porosidade secundária passou a ser considerada como um fator importante na qualidade dos reservatórios (Schimdt e McDonald, 1979). Antes disso, considerava-se que apenas uma pequena parcela de poros era de origem secundária. Nos arenitos de FAL, entretanto, a porosidade secundária gerada principalmente pela intensa dissolução de grãos não contribuiu significativamente para a melhoria da qualidade dos reservatórios. Todavia, é difícil __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 43 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 quantificar com precisão o incremento de volume poroso gerado pela dissolução de grãos, pois parte do material dissolvido pode se reprecipitar como minerais diagenéticos, o que representa basicamente uma redistribuição da porosidade original. Nos reservatórios de FAL a maior parte da caulinita e esmectita são originadas a partir da alteração de feldspatos, micas e minerais pesados, o que implica em considerável redistribuição de espaço poroso. Além disso, os valores do volume total de grãos dissolvidos (9,8%) é praticamente o mesmo que a soma das fases conseqüentemente precipitadas nos espaços intergranulares (2,1%) com a substituição dos grãos afetados (espaços intragranulares, 7,1%). Este balanço (9,8% dissolução – 9,2% reprecipitação) indica que a dissolução contribuiu muito pouco para a geração de porosidade. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 44 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 8. Conclusões 1) A composição detrítica (quartzo-feldspática) e os processos diagenéticos atuantes em Fazenda Alegre são bastante homogêneos sendo facilmente rastreados em todos os poços amostrados. 2) Os reservatórios de FAL são predominantemente subarcóseos médios a grossos, moderadamente e pobremente selecionados, originalmente muito ricos em minerais detríticos pesados. 3) Os principais processos diagenéticos dos arenitos de Fazenda Alegre são dissolução, compactação mecânica, cimentação por esmectita, caulinita, K-feldspato, dolomita, titânio, pirita, gipisita e calcita. Ocorrem ainda em quantidades desprezíveis cristais de isolados de quartzo e apatita. 4) As esmectitas diagenéticas ocorrem de 5 maneiras distintas: franjas, cutículas, agregados complexos de cutículas e franjas duplas como resultado da dissolução de minerais pesados e feldspatos, agregados maciços substituindo feldspatos e minerais pesados. 5) A composição detrítica imatura destes arenitos foi uma importante fonte de ions para a formação das esmectitas autigênicas, entretanto a ocorrência destas argilas provavelmente é produto da intersecção deste fator com a circulação de fluidos altamente alcalinos e reativos, como pode ser observado pela co-precipitação de K-fedspato e gipsita com as esmectitas. 6) Quatro hipóteses principais podem ser aventadas para a ocorrência anômala destas argilas: 1) alteração in situ de material vulcânico piroclástico, 2) reação de uma composição detrítica imatura, rica em minerais detríticos pesados e feldspatos com fluidos alcalinos provenientes de camadas de pelitos intercalados e intraclastos lamosos contendo materiais vulcânicos; 3) alteração desta composição detrítica imatura por fluidos alcalinos oriundos do embasamento e; 4) alteração da composição detrítica imatura por fluidos alcalinos provindos das camadas de evaporitos do Membro Itaúnas. 7) Ainda que limitada, a compactação mecânica foi mais importante que a cimentação na redução de porosidade dos reservatórios de FAL. 8) A disposição intergranular das esmectitas pore-lining promoveu redução significativa da permeabilidade, ainda que seu impacto sobre a porosidade tenha sido limitado. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 45 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 9) Os arenitos sofreram três eventos de lixiviação, sendo que o primeiro responsável pela formação das caulinitas, o segundo pela formação das esmectitas, e o terceiro por sua dissolução parcial. Embora parte do material dissolvido tenha se reprecipitado, o balanço entre porosidade de dissolução de grãos, material reprecipitado no espaço intergranular e ocupando espaço intragranular, mostra que a dissolução teve um papel importante na qualidade dos reservatórios de Fazenda Alegre. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 46 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Referências Bibliográficas Alves, R. J., 1979, Modelo Estratigráfico de Acumulação Petrolífera na Plataforma Continental do Espírito Santo. In: Congresso Brasileiro de Petróleo, IBP, P. 79-93. Biassusi, A. S.; Maciel, A. A.; Carvalho, R. S., 1990, Bacia do espírito Santo: o “estado da arte” da exploração: Boletim de Geociências da PETROBRAS, v. 4, p. 13-19. Bjǿrlykke, K., Ramm, M., Saigal, G. C., 1989, Sandstones diagenesis and porosity modification during basin evolution. Geol. Rundsch., v.78(1), p.243-268. Bruhn, C. H. L., and Moraes; M. S. A. 1989. Turbiditos da Formação Urucutuca na Bacia de Almada, Bahia: um laboratório de campo para estudos de reservatórios canalizados: Boletim de Geociências da Petrobrás, v. 3, p. 235-267. Bruhn, C. H. L. and Walker R. G., 1997, Internal architecture and sedimentary evolution of coarse-grained, turbidite channel-levee complexes, early Eocene Regencia Canyon, Espirito Santo Basin, Brazil. Sedimentology, v.44, p.17-46. Caddah, L. F., D. B. Alves, M. Hanashiro and A. M. P. Mizusaki, 1994, Caracterização e origem do Marco 3 Dedos (Santoniano) da Bacia de Campos: Boletim de Geociências da PETROBRAS, v. 8, p. 315-334. Caddah, L. F., D. B. Alves and A. M. P. Mizusaki, 1998, Turbidites associated to bentonites in the Upper Cretaceous of the Campos Basin, offshore Brazil: Sedimentary Geology, v. 115, p. 175-184. Carvalho, S. C., Biassusi, A. S., Maciel, A. A., 1989, Bacia do Espírito Santo: O Estado da Arte da Exploração. Seminário de Interpretação Exploratória, Rio de Janeiro, p.127-133. Crossey, L. J., and D., Larsen, 1992, Authigenic mineralogy of sandstones intercalated with organic-rich mudstones: integrating diagenesis and burial history of the Mesaverde Group, Piceance Basin, NW Colorado, in D. W. Houseknecht, and E. W. Pittman, eds., Origin, Diagenesis and Petrophysics of Clay Minerals in Sandstones: SEPM Special Publication, v. 47: Tulsa, Okla., Society of Economic Paleontologists and Mineralogists, p. 125-144. Davies, D. K., Almon, W.R., Bonis, S.B. and Hunter, B.E., 1979, Deposition and diagenesis of Tertiary-Holocene volcaniclastics, Guatemala, in P. A. Scholle, and P. R. Schluger, eds., Aspects of Diagenesis: SEPM Special Publication, Tulsa, OK, Society of Economic Paleontologists and Mineralogists, p. 281-306. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 47 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 De Ros, L. F., S. Morad, and I. S. Al-Aasm, 1997, Diagenesis of siliciclastic and volcaniclastic sediments in the Cretaceous and Miocene sequences of NW African margin (DSDP Leg 47A, Site 397): Sedimentary Geology, v. 112, p. 137-156. Folk, R. L., 1968, Petrology of Sedimentary Rocks. Hemphill, Austin, Texas, 107pp Franks, S. G., and R. W., Forester., 1984, Relationships among secondary porosity, pore fluid chemistry and carbon dioxide, Texas Gulf Coast. In: D.A. McDonald and R.C. Surdam (Editors), Clastic Diagênesis. Am. Assoc. Pet. Geol. Mem., V.37, p.63-79. Galloway, W. E., 1979, Diagenetic control of reservoir quality in arc-derived sandstones: implications for petroleum exploration, in P. A. Scholle, and P. R. Schluger, eds., Aspects of Diagenesis: SEPM Special Publication, Tulsa, Okla., Society of Economic Paleontologists and Mineralogists, p. 251-262. Giles, M. R., and R. B. deBoer, 1990, Origin and significance of redistributional Girard, J.-P., J. L. Aronson, and S. M. Savin, 1988, Separation, K/Ar dating and 18 O/16O ratio measurements of diagenetic K-feldspar overgrowths: an example from the Lower Cretaceous arkoses of the Angola Margin: Geochimica et Cosmochimica Acta, v. 52, p. 2207-2214. Girard, J. P., S. M. Savin, and J. L. Aronson, 1989, Diagenesis of the Lower Cretaceous arkoses of the Angola Margin: petrologic, K/Ar dating and 18O/16O evidence, v. 59, p. 519-538. Hawlader, H. M., 1990, Diagenesis and reservoir potential of volcanogenic sandstones - Cretaceous of the Surat Basin, Australia: Sedimentary Geology, v. 66, p. 181-195. Hurst, A.; and H. Irwin, 1982, Geological modelling of clay diagenesis in sandstones: Clay Miner., v. 17, p. 5-22. Houseknecht, D. W., and E. D. Pittman, eds., 1992, Origin, Diagenesis, and Petrophysics of Clay Minerals in Sandstones: SEPM Special Publication, v. 47: Tulsa, OK., Society of Economic Paleontologists and Mineralogists, 282 p. Houseknecht, D. W.. 1987, Assessing the relative importance of compactation processes and cementation to reduction of porosity in sandstones. Am. Ass. Pet. Geol. Bull., v.71, p.633-642. Kessler II, L. G., 1978, Diagenetic sequence in ancient sandstones deposited under desert climatic conditions: Journal of Geological Society, London, v. 135, p. 41-49. Mathisen, M. E., 1984, Diagenesis of Plio-Pleistocen Non-marine sandstones, Cagayan Basin, Philipines: early development of secondary porosity in volcanic __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 48 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 sandstones, in R. Surdam, and D. A. McDonald, eds., Clastic Diagenesis: AAPG Memoir, Tulsa, OK, American Association of Petroleum Geologists, p. 177-193. McAulay, G. E., S. D. Burley, A. E. Fallick, and N. J. Kusznir, 1994, Palaeohydrodynamic fluid flow regimes during diagenesis of the Brent Group in the Hutton-NW Hutton reservoirs: constraints from oxygen isotope studies of authigenic kaolin and reverse flexural modelling: Clay Minerals, v. 29, p. 609-626. Misuzaki, A. M. P., Alves, D. B., Conceição, J. C. J., 1994, Eventos magmáticos da nas Bacias do Espírito Santo, Mucuri e Camuruxatiba. In: Congres. Brás. Geol., 38, Balneário de Camboriu. 1994. Anais…Balneário de Camburiu, SBG, v.1, p.566-568. Morad, S., 1998, Carbonate cimentation in sandstones: distribution patterns na geochemical evolution. Spec. Publs Int. Ass. Sediment, v.26, p.1-26. Moraes, M. A. S., and L. F. De Ros, 1990, Infiltrated clays in fluvial Jurassic sandstones of Recôncavo Basin, northeastern Brazil: Journal of Sedimentary Petrology, v. 60, p. 809-819. Moraes, M. A. S., and L. F. De Ros, 1992, Depositional, infiltrated and authigenic clays in fluvial sandstones of the Jurassic Sergi Formation, Recôncavo Basin, northeastern Brazil, in D. W. Houseknecht, and E. W. Pittman, eds., Origin, Diagenesis and Petrophysics of Clay Minerals in Sandstones: SEPM Special Publication, Tulsa, Okla., Society of Economic Paleontologists and Mineralogists, p. 197-208. Rettke, R. C., 1981, Probable burial diagenetic and provenance effects on Dakota Group clay mineralogy, Denver Basin: Journal of Sedimentary Petrology, v. 51, p. 541-551. Ryu, I.-C., and A. R. Niem, 1999, Sandstone diagenesis, reservoir potential, and sequence stratigraphy of the Eocene Tyee Basin, Oregon: Journal of Sedimentary Research, v. 69, p. 384-393. Schimidt, V., and D. A. McDonald, 1979. The role of secondary porosity in the course of sandstones diagenesis. In: P.A. Scholle and P.R. Schulger (Editors), Aspects of Diagenesis. Soc. Econ. Paleontol. Mineral. Spec. Publ. V.26, p.175-207. Silva, C. M. A., and S. M. C. Anjos, 1996, Diagênese dos arenitos do Membro Mucuri, Cretáceo Inferior das Bacias do Espírito Santo e de Mucuri: Boletim de Geociências da PETROBRAS, v. 10, p. 61-80. Stanley, D. J, 1969, Sedimentation in slope and base of slope environments. In: The newconcepts of Continental Margin Sedimentation, editor AGI, Washington, p.8-1 a 8-18. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo 49 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Geociências Programa UFRGS-ANP- PRH-12 Stonecipher, S. A.; Winn J., R.D.; Bishop M. G., 1984, Diagenesis of the Frontier Formation, Moxa Arch: A function of sandstone geometry, texture and composition, and fluid flux, in D. A. McDonald, and R. C. Surdam, eds., Clastic Diagenesis: AAPG Memoir, v. 37: Tulsa, Ok., American Association of Petroleum Geologists, p. 289-316. Surdam, R. C., and J. R. Boles, 1979, Diagenesis of volcanic sandstones, in P. A. Scholle, and P. R. Schluger, eds., Aspects of Diagenesis: SEPM Special Publication, Tulsa, Okla., Society of Economic Paleontologists and Mineralogists, p. 227-242. Surdam, R. C., Boese, S. W. and Crossey, L. J., 1984, The chemistry of secondary porosity. In: D.A. McDonald and R.C. Surdam (Edtors), Clastic Diagênesis. Am. Assoc. Pet. Geol. Mem., v.37, p.127-149. Tang, Z., J. Parnell, and A. H. Ruffell, 1994, Deposition and diagenesis of the lacustrine-fluvial Cangfanggou Group (uppermost Permian to Lower Triassic), southern Junggar Basin, NW China: a contribution from sequence stratigraphy: Journal of Paleolimnology, v. 11, p. 67-90. Walker, T. R., 1976, Diagenetic origin of continental red beds, in H. Falke, ed., The Continental Permian in Central, West, and South Europe, Dordrecht, D.Reidel Pub., p. 240-282. Walker, T. R., B. Waugh, and A. J. Crone, 1978, Diagenesis in first-cycle desert alluvium of Cenozoic age, southwestern United States and northwestern Mexico: Geological Society of America Bulletin, v. 89, p. 1932. Wilson, M. D., 1992, Inherited graim-rimming clays in sandstones from eolian and shelf environments: their origin and control on reservoir properties, in D. W. Houseknecht, and E. D. Pittman, eds., Origin, Diagenesis, and Petrophysics of Clay Minerals in Sandstones: SEPM Special Publication, v. 47: Tulsa, OK., Society of Economic Paleontologists and Mineralogists, p. 209-225. Winspear, N. R., and K. Pye, 1995, The origin and significance of boxwork clay coatings on dune sand grains from the Nebraska Sand Hils, USA: Sedimentary Geology, v. 94, p. 245-254. Worden R. H., and Morad, S., 2003, Clay Mineral in Sandstones. Int. Assoc. Sedimetol. Spec. Publ. 34: p. 3-41. __________________________________________________________________________________ Drozinski, V. S. 2003 – Caracterização Petrológica e Geoquímica dos Argilominerais Esmectíticos na Área do Campo de Fazenda Alegre, Bacia do Espírito Santo