A INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA EM PATOS DE MINAS E
UBERABINHA PARA AS REGIÕES DO ALTO PARANAÍBA E TRIÂNGULO
MINEIRO DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA (1888-1930)
Amanda Caroline Rodrigues Marques– Graduanda em Engenharia Civil
E-mail: [email protected]
Cinira Aparecida de Oliveira– Graduanda em Engenharia Civil
E-mail: [email protected]
Felipe Henrique Moura Andrade– Graduando em Engenharia Civil
E-mail: [email protected]
Agências financiadoras: FAPEMIG/CNPQ
Resumo: O tema da pesquisa está voltado para o estudo das conquistas da Educação Pública
durante o período da República Velha e sua influência em âmbito nacional. O objetivo deste
trabalho é analisar a documentação oficial de Uberabinha e Patos de Minas, a qual consiste
nas Atas das Câmaras Municipais, Atos do Executivo, Reportagens de Imprensa e Bibliografia
Especializada para uma análise imparcial dos fatos encontrados. Na questão metodológica da
pesquisa estamos transcrevendo a documentação do Arquivo Público Mineiro de Belo
Horizonte. Simplificando, foi finalizada a organização, análise, checagem das categorias e
transcrição das fontes pesquisadas que foram jornais de época, legislação e atas das câmaras
municipais. Dessa maneira, foi possível relacionar as categorias mencionadas nas
documentações municipais como por exemplo os planos, programas, reformas e inciativas,
perfil do professor, promovidos pelas esferas mais altas da política educacional estadual e
nacional. Nosso estudo, além de ser uma pesquisa bibliográfica, é também uma pesquisa
documental com o referencial em Bardin (2009). Como referencial teórico-metodológico do
período, trabalhamos com Jorge Nagle (2002), José Murilo de Carvalho (2004), Marta Chagas
de Carvalho (2001), Wenceslau Gonçalves Neto (2009) e Justino Magalhães (2000), entre
outros. Todos esses autores trabalham com a educação na Primeira República. No que se
refere aos dados das Atas das Câmaras Municipais, para análise foram coletados de 26 livros
provenientes dos Arquivos Públicos de Uberlândia e 23 livros de Patos de Minas. Quanto aos
jornais de época, transcrevemos mais de 400 artigos que versam sobre a educação dos dois
municípios. Como resultados parciais, apresentamos a transcrição e categorização das Atas
Legislativas e periódicos, organizados em ordem cronológica com tudo o que se refere a
educação no período. No momento, estamos trabalhando com dados do Arquivo Público
Mineiro e desenvolvendo um artigo científico com tema voltado para as construções das
escolas nesse período.
Palavras-chave: Políticas públicas - História da educação - Primeira República - UberabinhaPatos de Minas.
Introdução
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Esta pesquisa12 teve origem através da documentação das Câmaras Municipais de
Uberabinha e Patos de Minas, mas especificamente as Atas do Legislativo, no que tange à
educação no período de 1888 a 1930, pois percebemos a riqueza documental e decidimos
explorar tais fontes.
Trabalhando nas Atas da Câmara Municipal de Uberabinha (Uberlândia, a partir de
1929), encontramos uma preocupação decisiva pela instrução pública, de tal forma que as 4
primeiras leis aprovadas pela primeira edilidade em 1892 (o município é de 1888), referem-se
todas à educação, incluindo Lei de Instrução e Regulamento Escolar, além de determinações
com relação às aulas noturnas e à divisão do município em circunscrições literárias. Ou seja,
encontramos um “plano de educação”, caracterizando o município como um território
pedagógico e não apenas político-administrativo. Percebemos que o município pedagógico 13
é, provisoriamente, entendido como uma entidade político-administrativa do final do séc. XIX
pela presença de uma legislação descentralizadora da gestão do ensino e a extensão da
responsabilidade para com a instrução primária aos seus limites, levando à regulamentação
local dessa obrigação. No âmbito da crença no poder regenerador da educação e da difusão
dos sistemas escolares, as elites locais fazem uso desse processo para a definição de uma
12Temos como orientadora desta pesquisa a Profa. Dra. Luciana Beatriz de Oliveira Bar de
Carvalho, professora do Programa de Mestrado em Educação da UNIUBE.
13O professor Wenceslau Gonçalves Neto definiu a categoria de município pedagógico como:
o município pedagógico é a entidade administrativa local na qual as autoridades constituídas,
avançando para além das dimensões político-administrativas, promovem a educação a uma
posição de centralidade para o alcance do desenvolvimento sócio-econômico e para a
legitimação do poder. Trata-se de uma categoria ainda em formação, dado seu uso recente, e
tem sido identificada no Brasil na segunda metade do século XIX, possibilitada pela
existência de uma legislação descentralizadora da gestão do ensino e a extensão da
responsabilidade para com a instrução primária aos limites municipais, levando à
regulamentação e implementação locais dessa obrigação. Também inclui-se nesse conceito a
apropriação que as elites fazem dessa responsabilização, tirando proveito para a concretização
de objetivos particulares, relacionados à manutenção da ordem, disseminação de ideologia e
delimitação de uma identidade municipal. Deve-se acrescentar que esse movimento é
impulsionado, na época, pela crença no poder regenerador da educação e da necessidade de
implantação de sistemas escolares para sua implementação.
http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_municipio_pedagogico.htm,
acesso em 10 de julho de 2013.
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identidade municipal e para a defesa de objetivos particulares. Esta concepção nos motivou a
avançar o estudo da formação do sistema de instrução pública no Brasil para além da análise
estadual, estendendo essa investigação aos municípios, no caso, tomando Uberabinha como
referência. Em seguida, estas constatações nos levaram a pensar um projeto de História da
Educação Comparada, buscando compreender o fenômeno da formação do município
pedagógico em algumas cidades do estado de Minas Gerais. Esta opção remeteu a uma
reflexão sobre a importância e os cuidados para com a história comparada, bem como à
discussão do processo de difusão dos sistemas escolares de ensino na segunda metade do séc.
XIX e início do XX, avançando a análise para além das perspectivas nacional e estadual. O
limite temporal estabelecido foi, por um lado, 1889, com o início da República e, por outro, o
ano de 1906, marcado pela reforma João Pinheiro, que institui o sistema de grupos escolares
no estado, abrindo caminho para uma nova fase na educação mineira. Deve-se chamar a
atenção que essas datas são apenas referenciais, não se configurando qualquer tipo de camisa
de força para as orientações da pesquisa, que podem se voltar tanto para períodos anteriores
como posteriores. Neste momento, propõe-se a ampliação do universo de estudo, incluindo a
cidade de Patos de Minas. Tal ampliação visa utilizar categorias comuns de análise, para se
aquilatar as proximidades e os distanciamentos na formação do município pedagógico nessas
localidades. Tomamos como unidade de comparação estes municípios, por terem sua
documentação organizada nos Arquivos Municipais e por contarem com instituições de ensino
superior, o que facilita o diálogo com outros pesquisadores e parcerias institucionais na
catalogação e interpretação dos dados.
Ao iniciar a exposição deste trabalho, é necessária uma pequena introdução,
historiando a imbricação da mesma com atividades de pesquisa anteriormente desenvolvidas
por nós junto ao grupo de pesquisadores do NEPHE - Núcleo de Estudos e Pesquisas em
História da Educação, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
de Uberlândia.
Desenvolvimento
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O estudo da História da Educação na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba,
em particular nos municípios de Uberabinha 14 Uberlândia e Patos de Minas, de forma
sistematicamente organizada, é uma manifestação recente. Mais precisamente, estes estudos
originários datam de 1993, com a implementação do projeto de “Levantamento e Catalogação
das Fontes Primárias e Secundárias de Interesse para a História da Educação Brasileira e do
Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba”, ligado a uma proposta nacional estruturada a partir da
Faculdade de Educação da UNICAMP, sob a coordenação geral do Prof. Dr. Dermeval
Saviani.
A partir desta primeira incursão, realizamos um levantamento mais pormenorizado nos
Arquivos Públicos Municipais de Uberlândia e Patos de Minas, recuperando todas as
informações relativas à educação que aparecem na imprensa local, catalogando as revistas que
tratam de educação e anotando o conteúdo destas informações em fichas especificamente
preparadas para este fim. Também foi realizado o levantamento do conjunto da documentação
existente nas escolas mais importantes da região, em termos de influência político-cultural e
também pelo período de inauguração, para que se pudesse aquilatar, pela via da história das
instituições escolares, o processo de escolarização regional.
Da experiência adquirida nestes trabalhos catalográficos e do contato com importantes
documentos ligados à educação regional, amadureceu a nossa preocupação em proceder à
análise e interpretação não apenas destes, mas de diversas outras documentações
identificadas, o que permitiria a recuperação do “percurso” da educação no palco de estudo,
bem como a identificação das correntes de pensamento que circulavam pelas cidades da
região, em particular da então Uberabinha, viabilizando a compreensão tanto do processo de
crescimento material – fundação, ampliação, etc de escolas -, como também das ideias, das
representações, dos jogos de poder que se faziam presentes, e que se encontram dispersos na
documentação, em particular nas Atas das Câmaras Municipais dos municípios anteriormente
citados, principalmente no final do século XIX e primeiras décadas do século XX.
14Pela Lei nº 1126 de 19 outubro de 1929, sancionada pela então Presidente do Estado de
Minas Gerais Dr. Antônio Carlos Ribeira de Andrada, o município, cidade e comarca de São
Pedro de Uberabinha, passou a denominar Uberlândia.
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Ao lado destas preocupações identificamos a quase inexistência de estudos específicos
sobre a temática histórico-educacional na região, existindo apenas trabalhos monográficos de
caráter geral, esforços não acadêmicos, descrições diversas, etc., que, apesar de importantes
para a compreensão da história regional, mantêm a História da Educação como universo
praticamente intocado na região.
Assim sendo, diante destas colocações iniciais, não podemos trabalhar com segurança
a História da Educação nacional sem o domínio do processo nas diversas regiões, o que
permite aquilatar a extensão das propostas teóricas e promover as necessárias correções,
quando for o caso. Da mesma forma, não se pode promover o estudo isolado da realidade
regional, desvinculado da interpretação de caráter geral, mais abrangente. Assim, não nos
propomos a fazer História da Educação regional mas, sim, História da Educação brasileira
com ênfase no regional, utilizando de documentações específicas que auxiliem no processo de
compreensão da realidade nacional.
Ao lado dessas preocupações, começamos a identificar várias séries de documentações
que poderiam contribuir significativamente para a compreensão da História da Educação da
região, mas que se encontravam intocadas nos arquivos, distantes tanto do trabalho dos
memorialistas das cidades ora em estudo como dos pesquisadores acadêmicos. Referimo-nos
principalmente às Atas das Câmaras Municipais de Uberabinha e Patos de Minas,
complementarmente, aos registros dos Atos dos Agentes Executivos e dos Prefeitos dos
municípios, aos livros que contêm leis, decretos, etc, aos registros contábeis envolvendo
gastos com a educação, entre outros. O estudo dos dados da imprensa mostrou-se bastante
rico mas, ao mesmo tempo, indicou a necessidade do cruzamento com outras fontes, para que
se possa alargar ainda mais o campo de visão sobre a educação na região. E esta passou a ser
nossa preocupação: identificar as representações de sociedade, civilização, progresso,
educação, presentes no imaginário e na ação das elites de Uberabinha e Patos de Minas no
período republicano, notadamente nas suas ações políticas. Estes elementos já foram
identificados na imprensa, mas apenas a partir de 1907, quando se encontra uma prática
jornalística efetiva nas cidades, com periódicos se mantendo por anos, ininterruptamente,
tornando necessário buscar-se a sua matriz que, supomos, está nos projetos dos grupos
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políticos dominantes, que poderão ser identificados na documentação das Câmaras, das
Prefeituras15. Do cruzamento destas informações com o que já se captou na imprensa,
julgamos poder oferecer uma interpretação sobre o movimento da educação na região do Alto
Paranaíba e do Triângulo Mineiro16.
Desta forma, como já dissemos, não nos propomos a fazer História da Educação
regional, mas sim, História da Educação brasileira com ênfase no regional, utilizando
documentações específicas que auxiliem no processo de compreensão da realidade nacional.
Esta é a preocupação central que sempre norteia esta proposta de pesquisa.
A utilização de documentação de caráter político, como a que indicamos acima, tem
sido de fundamental importância para o conhecimento e compreensão dos processos sociais
ao longo do tempo. A partir destes dados é possível recuperar-se as relações, os conflitos de
poder, a formação das alianças, a ascensão e queda de grupos políticos, a ideologia
dominante, as principais representações, etc. Mas esse manancial de dados não interessa
apenas ao campo da política, da economia, etc, ligando-se, também, diretamente às
preocupações de setores mais ligados às questões culturais, como a educação ou, mais
especificamente, a História da Educação.
Para sustentar nosso debate tivemos como interlocutores alguns memorialistas locais,
conseguimos identificar elementos que configuraram a constituição da cidade de Patos de
Minas. A partir da análise de documentos publicados por FONSECA (1974) recolhemos os
seguintes dados.
15Estamos referindo-nos a elite como “grupos funcionais, sobretudo ocupacionais, que possuem status elevado
(por uma razão qualquer) em uma sociedade” (BOTTOMORE, T. B. As elites e a sociedade. Rio de Janeiro:
Zahar, 1965, p. 15; cf. também o verbete “elites” em BOBBIO, N. et. al. Dicionário de Política. Brasília: UNB,
1997). Em Uberabinha, portanto, esta elite incluiria não apenas a classe dominante em termos econômicos, mas
também professores, padres, jornalistas, intelectuais em geral, etc. Deve se considerar, ainda, que a elite não é
um estrato homogêneo: existe a elite política dominante e sua oposição, entre outras diferenciações.
16Estamos referindo-nos a elite como “grupos funcionais, sobretudo ocupacionais, que possuem status elevado
(por uma razão qualquer) em uma sociedade” (BOTTOMORE, T. B. As elites e a sociedade. Rio de Janeiro:
Zahar, 1965, p. 15; cf. também o verbete “elites” em BOBBIO, N. et. al. Dicionário de Política. Brasília: UNB,
1997). Em Uberabinha, portanto, esta elite incluiria não apenas a classe dominante em termos econômicos, mas
também professores, padres, jornalistas, intelectuais em geral, etc. Deve se considerar, ainda, que a elite não é
um estrato homogêneo: existe a elite política dominante e sua oposição, entre outras diferenciações.
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No ano de 1832, através de edital baixado pela Câmara de Paracatu é criado o distrito.
Dessa maneira, a antiga povoação denominada “Os Patos”, passa denominar-se Santo Antônio
da Beira do Paranaíba. O pedido de elevação do distrito à categoria de vila foi formalizado em
25 de dezembro 1856. Entretanto, a espera durou dez anos, pois somente em 30 de outubro
1866 seria promulgada a carta emancipatória através da lei 1291. E somente em 29 de
fevereiro de 1868 se deu a efetiva instalação do município do Santo Antônio dos Patos. É
importante ressaltar que a instalação da vila consubstanciou grande luta da população.
Segundo FONSECA, no pedido para a elevação de Santo Antônio dos Patos à vila
constava:
O Arraial de Santo Antônio dos Patos, banhado por um grande rego de excelente
água, mais de cento e noventa casas habitadas, cuja Freguesia tem perto de 4.000
almas, é situada em alta e aprazível planície, entre a Mata da Corda e o Rio
Paranaíba, na estrada que se dirige para o Sertão dos Alegres, Santo Antônio do
Garimpo, Paredão, Arraial da Catinga, Ouro-Cuia, e para a cidade do Paracatu, cujos
lugares são abastecidos pelos víveres e tabaco, que superabunda a agricultura de que
trata o crescido número de fazendeiros desta Freguesia, e que além dos precitados
atributos, também a importação aproximada é de 120:000$000 rs... e a exportação de
200:000$000 rs.. anualmente. (...) Os representantes esperam das mãos benéficas da
Digníssima Assembléia a deliberação pretensa, como epítema eficaz dos males que
sofrem, não só acerca do expendido, como até da falta de polícia, que será reparada
logo que haja uma casa de custódia, ao passo que prospera a educação pública. Deus
vos guarde. Freguesia de Santo Antônio dos Patos, 25 de dezembro de 185617.
Na documentação ainda publicada por Fonseca temos: em 24 de maio de 1892, o
governo eleva a “toque de caixa” à categoria de cidade todas as vilas-sedes de comarcas.
Dessa maneira, a vila de Santo Antônio de Patos foi uma das elevadas, pois encontrava-se na
condição de sede de comarca.
Deste modo estava concebida a cidade de Patos de Minas que começava a encorpar-se,
dando sinais de sua emancipação. Embora, podemos observar que todo o ato de
“emancipação” emanava do poder central; logo a autonomia das regiões estava condicionada
às elites dirigentes do país que a despeito dos interesses dos habitantes exercia um forte
controle social e determinava as diretrizes a serem seguidas. Nesse sentido, a direção política
da cidade de Patos, encontrava-se nas mãos dos “homens bons” que almejando o progresso da
17FONSECA, Geraldo. Domínios de Pecuários e Enxadachins: História de Patos de
Minas. Belo Horizonte: Inorabras, 1974. Coleções Especiais: Autores Patenses, PP- 77 e 78.
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cidade conduzia o povo rumo à urbanização. E sob o julgo daqueles que concentravam em
torno de si maior poder econômico e consequentemente maior poder político, configurou-se
juntamente com o crescimento da cidade, a hierarquia do poder.
Simultaneamente à urbanização, surgem necessidades urgentes de desenvolvimento
em todos os setores da sociedade. E o discurso progressista conclamado pelas elites, apelava
para a ampliação do transporte, comunicação, saúde e educação objetivando assim, a criação
de uma infra-estrutura que desse sustentáculo ao desenvolvimento e ao progresso. Surgem
então, em 1825, a escola de primeiras letras. Entretanto, existem aí elementos que, segundo
Fonseca, caracterizavam-se como dificultadores do processo educacional:
A vastidão da Província, escassos meios de comunicação, as distâncias que
medeavam entre os habitantes constituíam alguns dos fatores, pelos quais o governo
dava maior atenção ao ensino nas regiões de formação populacional mais compacta.
Outro fator, o maior, era mesmo a falta de mestres, capazes de preencher as
exigências do ensino. Ainda, a pouca disposição que os mais capacitados tinham de
arredar pé das cidades ou vilas mais importantes: Ouro Preto, Sabará, Barbacena,
São João Del Rei e outras18.
A oficialização do ensino em Patos de Minas data 1853, ocasião em que é criada a
primeira “cadeira de instrução primária” tendo como primeiro professor Francisco de Paula e
Souza Bretas, nomeado em 13 de maio de 1853, permanecendo no cargo até 1957, ano em
que, devido a interesses políticos locais pede demissão.
O governo enfrentou sérios problemas no que refere à instrução, pois era muito difícil
encontrar professores disponíveis ou devidamente habilitados para ensinar em lugares
distantes e em vilas de maior importância. Além disso, constituiu problema de maior
dimensão a falta das cadeiras do sexo feminino. Apesar das dificuldades, a nomeação da
primeira mestra, Maria Madalena de Negreiros Maciel, ocorreu em 1868. A partir de dados
levantados por FONSECA (1974), observamos que:
O presidente da Câmara de Patos, Dr. Marcolino de Barros informava em 1912, o
número de escolas mantido pelo legislativo municipal. Quatro escolas, sendo 3 do
sexo masculino e 1 de ambos os sexos. Nas 3 primeiras, estudavam 154 alunos. Na
escola mista,36 alunos e 11 alunas. Na mesma época funcionavam 4 escolas
particulares, sendo 2 do sexo masculino com 31 alunos, 1 do feminino com 23
18Idem, ibem, p.123.
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III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015
alunas, e 1 mista com 39 alunos e 24 alunas. (...) O recenseamento de 1920 apurou,
1.088 mulheres sabendo ler e escrever na sede do município. (...)19.
O Grupo Escolar Marcolino de Barros representa um grande avanço no campo
educacional e apresentando-se como imponente elemento do progresso em Patos de Minas, é
instalado em 4 de junho de 1917, tendo como diretor o professor Modesto de Mello Ribeiro.
Dessa maneira, paulatinamente, o cenário educacional de Patos de Minas começa a
firmar-se enquanto palco de manifestações culturais que anunciavam paradigma de conduta e
posturas individuais em nome da harmonia coletiva, tão almejada pelos benfeitores de Patos;
incasáveis “guardiões do progresso” que tomam para si a missão de guiar o povo para a
edificação da cidade civilizada. Idéia essa, amalgamada pelos princípios da moral e dos bons
costumes.
A elite, tomando para si os “louros” do progresso da cidade conduzia o povo rumo à
modernidade, através da disciplinização, articulando mecanismos de controle com o intuito de
moralizar a mesma; fazendo com que o povo assimilasse suas idéias sentindo-se como parte
constitutiva e indispensável do processo de modernização.
Assim, vários elementos são utilizados para disseminar a idéia de progresso, que
atinge em cheio a vida cotidiana e o imaginário das pessoas. Isto posto, surge em Patos de
Minas da elite para as elites, a imprensa, processo que não poderia ser diferente, uma vez que
o povo não tinha instrução para encabeçar a criação de um evento de tamanha magnitude,
tarefa atribuída a homens letrados como foi o caso de Fortunato Pinto da Cunha que, segundo
FONSECA, cria o primeiro jornal de Patos de Minas, “O Trabalho”, lançando o primeiro
número a 15 de agosto de 1905.
Aparecem então em Patos, os jornais que apesar de não circularem regularmente,
reclamam para si a responsabilidade de propagar e exaltar valores e normas de conduta que
não raro, estavam em conformidade com as representações vigentes da ordem e do progresso.
19Idem, ibem, p.134
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III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015
Neste sentido, a imprensa passa simbolizar mais do que a informação e por ser
portadora da verdade apresenta-se altiva e inquestionável aos olhos do povo. Assim, consta
nos registros de FONSECA:
Nestas colunas nunca tal permitimos, nem permitiríamos, pois compreendemos a
imprensa como a luz serena e imperturbável que com seus raios tranqüilos nos
apontam o caminho do bem, pois quer a LIBERDADE; da razão, pois quer a
JUSTIÇA; do coração pois, quer a DIGNIDADE, do benefício de todos nós, pois
tem por fim problemas a se resolverem, princípios a se discutirem, fins a colimarem,
todos tendendo o benefício comum. Dr. Antonio Nogueira de Almeida Coelho “O
Trabalho” – n°36 15/08/190620.
Dessa forma, a Imprensa destes dois municípios segue produzindo e cristalizando no
seu interior valores e personagens, ditando regras de bem viver, exaltando a necessidade de se
combater valores que ameacem a ordem social vigente, bem como as representações que por
ventura possam desmistificar os ideais que apontam para o progresso.
Considerações finais
Portanto, ao estudarmos o período proposto, podemos ressaltar que a elite dirigente do
país, ao implantar o Regime Republicano, tomou para si a responsabilidade de alcançar a
passos largos, o progresso da nação, usando como elementos de sustentação, os princípios
liberais de democracia e cidadania e os preceitos harmônicos do positivismo. Tais elementos,
iriam contribuir para disseminação dos ideais ordem de civilidade e do progresso pelo país.
Neste sentido, para atingir seus objetivos, era necessário que os governantes,
reestruturassem a sociedade aos moldes do novo regime. Para tanto, deveriam criar um novo
homem que em consonância com o novo tempo, contribuiria de maneira efetiva para a
constituição de uma nação. O regime republicano fez da educação o instrumento ideal para
amalgamar as massas, recrutando o povo, via instrução para a grande marcha em prol de
desenvolvimento do país.
Todo este processo, deveria propiciar o ajustamento social do indivíduo que inserido
em uma sociedade que buscava a ordem e o progresso, não poderia destoar da estampa
20Idem, ibem, p.201
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harmônica que ilustrava a nação, sob pena de transformar-se em um grande mal, que deveria
ser extirpado da sociedade, para não comprometer a harmonia vigente.
Entretanto, para que estas concepções educativas penetrassem no imaginário das
pessoas e se transformasse em um corpus social, era necessária sua disseminação. Dessa
forma, a imprensa apresenta-se como principal elemento propagador dos ideais republicanos.
Nesse sentido, o pensamento divulgado pela imprensa patense e uberlandense, ia de encontro
aos setores dominantes nacionais, ao divulgar a necessidade de criação de escolas na região,
enfatizando com caráter de urgência, a importância da instrução para o progresso da nação e
chamando o povo para participar da condução do país em direção a modernidade.
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III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015
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a influência da educação pública em patos de minas e uberabinha