OS ESPAÇOS LIVRES NA CONFIGURAÇÃO DA PAISAGEM DE PATOS DE
MINAS – MINAS GERAIS
THE OPEN SPACES IN LANDSCAPE CONFIGURATION OF PATOS DE MINASMINAS GERAIS
AMORIM, Nayara Cristina Rosa (1)
COCOZZA, Glauco de Paula (2)
(1)Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela UFU. Mestranda pelo PPGAU, bolsista da
FAPEMIG, email: [email protected]
(2) Professor Adjunto PPGAU-UFU, email: [email protected]
Resumo:
O presente artigo apresenta a influência e importância dos espaços livres na configuração e
transformação da paisagem urbana de Patos de Minas. O estudo ressalta a organização da forma
urbana pelo viés dos espaços livres, elemento essencial para a estrutura da cidade. O objetivo central
é contribuir com a valorização e manutenção dos valores da paisagem. É necessário aliar o
crescimento econômico aos seus potenciais paisagísticos, urbanos e naturais. O estudo da paisagem
urbana pode ser um instrumento decisivo para a compreensão, melhoria e manutenção dos valores
da paisagem, capaz de auxiliar o planejamento e gestão do sistema de espaços livres patense,
regular e direcionar o crescimento e desenvolvimento urbano.
Palavras Chave: Espaços Livres; Paisagem Urbana; Patos de Minas.
Abstract:
This article presents the influence and importance of open spaces in the configuration and
transformation of the urban landscape of Patos de Minas. The study emphasizes the organization of
urban form by the open spaces, essential to the structure of the city. The main objective is to
contribute to the recovery and maintenance of landscape values. It is necessary to combine economic
growth to its potential landscape, urban and natural. The study of urban landscape can be a key tool
for understanding, improvement and maintenance of landscape values, able to assist the planning and
management of patense, regular clearances system and direct the growth and urban development.
Key-words: Open Spaces; Urban Lanscapes; Patos de Minas.
INTRODUÇÃO
O presente artigo busca contribuir para o entendimento da configuração da
paisagem urbana de Patos de Minas, suas características físicas, estruturais e
transformações sob o enfoque do sistema de espaços livres.
O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade, a
compreensão do sítio natural e da interferência humana no mesmo, esse
conhecimento pode direcionar o planejamento urbano. Segundo Pellegrino & Oseki
(2004), um planejamento ecológico da paisagem pode fornecer as ferramentas
necessárias para integração entre sociedade e natureza, incorporando diretrizes
ambientalmente desejáveis para a melhoria da habitabilidade da cidade, de sua
sustentabilidade e de sua imagem.
A estrutura do artigo se dará da seguinte forma: partindo da análise do conceito de
paisagem, buscando entender como o termo á abordado nas diferentes ciências; em
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seguida a abordagem do conceito de espaços livres para, então, ressaltar os
espaços livres na paisagem local, em seguida a leitura da paisagem de Patos de
Minas
sobre
o enfoque dos espaços livres,
evidenciando
seus agentes
estruturadores, características e diretrizes de intervenção.
O CONCEITO DE PAISAGEM
Não existe um consenso sobre o significado do conceito de paisagem, o termo foi
estudado sob diferentes ênfases. Segundo Maximiano (2004), para os sociólogos ou
os economistas a paisagem é a base do meio físico, onde o homem a utiliza e a
transforma, ou não; para os botânicos ou ecólogos a paisagem é um conjunto de
organismos num meio físico, cujas propriedades podem ser explicadas segundo leis
ou modelos, com ajuda das ciências físicas e/ou biológicas; para os geógrafos a
paisagem, resulta da relação dinâmica de elementos físicos, biológicos e antrópicos.
Apesar dos diferentes conceitos, existe um consenso entre as áreas de estudo: a
ação humana é determinante: transforma a paisagem e o entendimento da mesma.
Segundo o geógrafo Bertrand (2004), as diferenças de abordagem no conceito de
paisagem são uma questão de método, que sofre influência de acordo com a
formação e objetivos do observador; poderá enfatizar: a vegetação, hidrografia,
clima, relevo, economia, arquitetura ou processo histórico. A metodologia de análise
poderá ser: temporal, baseada nos aspectos físicos, se referir as relações e
dinâmicas internas, ou, ainda, um conjunto de diversas análises. Ou seja, a
percepção individual somada aos objetivos e enfoque do observador interfere
diretamente na leitura da paisagem e para este estudo atentaremos o olhar sobre os
espaços livres ou espaços abertos, buscando entender sua função na composição
da cidade.
De acordo com Gregotti(1994), nossa percepção individual ou em sociedade da
paisagem se converte em percepção estética de dois modos: primeiro quando uma
se atribui valor cultural e simbólico a um espaço, diferenciando-o do restante da
paisagem, mesmo que o espaço contenha as mesmas características físicas do
entorno; segundo quando é baseado no testemunho, a paisagem enquanto
representação, partindo de instrumentos como: a pintura, fotografia, cinema e
fotometria. A segunda categoria de análise é que mais se aplica no presente estudo,
a paisagem enquanto representação.
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Consideraremos que a análise da paisagem urbana é o estudo dos diversos atores
que nela interferem, seus aspectos físicos, socioeconômicos, culturais e seu
processo evolutivo. Segundo Lynch (1990) a análise não deve ser composta apenas
de dados e números, mas também poética e simbólica, deve falar das
características naturais do sítio, dos indivíduos, da sociedade, das tradições,
aspirações, das funções e dos movimentos do mundo citadino.
OS ESPAÇOS LIVRES DE PATOS DE MINAS
A forma urbana de Patos de Minas teve seus primeiros traços no final do século XIX,
as margens de uma lagoa de patos silvestres. As primeiras ocupações formaram um
povoado, que cresceu e se transformou em arraial, depois vila e então cidade.
Desde sua formação a malha urbana foi atrelada a hidrografia e aos espaços
verdes, elementos que direcionaram, limitaram e influenciaram o planejamento da
cidade o sistema de espaços livres e a paisagem urbana.
Patos de Minas é uma cidade de médio porte com aproximadamente 138.710
habitantes (IBGE-2011), localizada no Alto Paranaíba, Estado de Minas Gerais.
Surgiu com o movimento das entradas e bandeiras rumo às terras de Paracatu, um
local de parada dos bandeirantes as margens do Rio Paranaíba.
Figura 01: Paisagem de Patos de Minas na década de 2000. Fotografo: Saulo Alves.
Fonte: https://maps.google.com.br/maps?q=patos+de+minas&ie=UTF8&ei=1iKCUrq2H9CDkQfnvIHwDQ&ved=0CAoQ_AUoAg
A cidade é um conjunto de elementos, sistemas e funções, os espaços livres são um
dos principais sistemas que formam o organismo, capazes até de estruturar toda a
configuração urbana. Segundo Magnoli (1982), os espaços livres são os não
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edificados: quintais, jardins, ruas, avenidas, praças, parques, rios, matas, mangues,
praias urbanas, ou simples vazios urbanos. Sua localização, acessibilidade e
distribuição formam um complexo sistema de conexões com múltiplos papéis
urbanos:
atividades do
ócio,
circulação
urbana,
conforto,
conservação
e
requalificação ambiental, drenagem urbana, imaginário e memória urbana, lazer e
recreação, dentre outros.
É preciso ressaltar que os espaços livres são aqueles livres de edificação e não de
ocupação, são espaços projetáveis. De acordo com Macedo (1999), as praças e os
parques são os tipos mais comuns de espaços livres urbanos públicos do Brasil.
Entretanto, devemos levar em consideração que existe uma diferença de gestão,
implantação e manutenção dessas praças e parques ao longo do traçado urbano.
Os espaços livres devem ser tratados e geridos enquanto sistema, onde todos
elementos estão interligados.
[...] entende-se como sistemas de espaços livres (SEL) urbanos os
elementos e as relações que organizam e estruturam o conjunto de todos os
espaços livres de um determinado recorte urbano, independentemente de
sua dimensão, qualificação estética, funcional e de sua localização e
propriedade, sejam eles públicos ou privados. [...] toda cidade possui um
sistema de espaços livres que é produzido durante seu processo de
formação tanto pelo Poder Público como pela iniciativa privada (MACEDO,
2010, p. 3 e 4).
Os espaços livres são importantes na articulação do tecido urbano, essenciais para
a qualidade da vida urbana e para a formação da identidade cultural das cidades.
Um dos principais espaços livres que configuram a paisagem patense é a Avenida
Getúlio Vargas (antiga Avenida Municipal), um prolongamento do núcleo inicial da
cidade.
Figura 02: Avenida Municipal, atual Av. Getúlio Vargas em 1950 e em 2010 (Prefeitura Municipal de Patos de
Minas).
181
Observando uma foto da avenida em dois momentos históricos diferentes podemos
perceber a evolução da ocupação urbana e a transformação da paisagem que
passou por um processo de verticalização na área central. Em entrevista concedida
a Borges(2008), o arquiteto do setor de planejamento da Prefeitura de Patos de
Minas, Marcelo Rodrigues ressalta: ao longo das gestões públicas há uma
preocupação estética e social com a Avenida Getúlio Vargas, a legislação municipal
desde o início do século XX já deveria controlar o gabarito e uso do solo no entorno
da avenida, com intuito de conservar seu caráter físico e monumental. Percebe-se
que esta imagem é mantida até os dias atuais, com a permanência do desenho da
praça e dos edifícios históricos do entono.
Outro elemento importante na estrutura do sistema de espaços livres de Patos de
Minas é o Parque Municipal do Mocambo, um fundo de vale que abriga a Mata do
Tonheco uma das maiores áreas verdes dentro da cidade. O parque urbano engloba
diversas funções, entre elas: área de proteção permanente (APP) do Córrego da
Caixa d’Água, espaço de lazer, esporte, contemplação, potencial paisagístico,
importância cultural e histórica para a cidade.
Figura 03: Vista do Parque Municipal do Mocambo para a cidade.
Fonte: AMORIM, 2013.
As cidades de médio porte, em geral, como é o caso de Patos de Minas,
apresentam problemas referentes à produção, gestão da paisagem e análise dos
sistemas de espaços livres. O Parque Municipal do Mocambo, por exemplo,
atualmente encontra-se depredado, com problemas estruturais e sem manutenção
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adequada. Um dos principais problemas do parque são as descontinuidades da
gestão, que fazem com que o parque passe por períodos de descaso e pouco
investimento, esse problema não afeta somente o parque mas todo o sistema de
espaços livres, visto que o planejamento ambiental da cidade e implantação do
mesmo necessita de uma fração de tempo superior a uma gestão política.
LEITURA DA PAISAGEM PATENSE
A paisagem de Patos de Minas é composta pelo entrelaçar de seus espaços livres
com a malha edificada, desde os seus primórdios onde o planejamento da cidade já
previa seus espaços livres vistos não como espaços residuais, mas como parte do
desenho da cidade, fios condutores da ocupação urbana. Para o entendimento da
paisagem de Patos de Minas é preciso analisar suas características naturais, que
antecedem a ocupação humana.
Figura 04:Leitura da estrutura da paisagem de Patos de Minas.
Org.: AMORIM, 2013.
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Entre os elementos naturais estruturadores da paisagem patense o que exerce
maior influência é a hidrografia, composta: pelo Rio Paranaíba (pertencente a bacia
do Rio Paraná) limitador do perímetro urbano a oeste, pelos córregos presentes na
mancha urbana (canalizados, canalizados a céu aberto) e pelas lagoas (temporais e
permanentes).
As lagoas temporais, formadoras de brejos, estão muito presentes na paisagem
local, a cidade se formou no entorno de uma dessas lagoas que desapareceu com a
ocupação humana. Das lagoas que restaram, a maioria se localizam fora da malha
urbana, se configuram como brejos, a maioria não é aproveitada como local de lazer
e não tem seu potencial paisagístico explorado, esses elementos naturais são
importantes na formação da identidade e imagem da cidade.
O sistema hidrográfico da cidade, em sua maioria, não é incorporado ao sistema de
espaços livres, as margens do Rio Paranaíba e dos córregos presentes na cidade
podem se configurar como parques lineares, espaços de preservação ambiental e
lazer. Esses elementos hidrográficos são capazes de estruturar e caracterizar todo o
sistema de espaços livres; porém, para que isso aconteça é preciso um
planejamento urbano voltado para a questão ambiental, uma gestão eficiente dos
espaços livres e integração entre os interesses da sociedade, esfera pública e
privada.
Outros elementos naturais estruturante da paisagem são o relevo e a vegetação,
segundo Magrini(2008), o relevo de Patos de Minas é 90% ondulado, 05% plano e
montanhoso e a vegetação abriga a floresta tropical latifoliada, regionalmente
conhecida como Mata da Corda. O revelo da cidade e o potencial paisagístico da
vegetação local proporcionam a instalação de mirantes, locais que podem ser
explorados como espaços de contemplação e lazer, atraindo o olhar para a cidade.
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Figura 05: Paisagem de Patos de Minas, mostrando sua ocupação urbana e a permanência das áreas verdes. O
adensamento vegetal corresponde ao Parque Municipal do Mocambo. Fotografo: Marcos Antônio.
Ao longo das décadas o crescimento urbano incorporou algumas áreas verdes, que
posteriormente foram instituídas como áreas de proteção ambiental, tornando-se
áreas de preservação permanente e parques urbanos como é o caso do Parque
Municipal do Mocambo e do Parque Municipal João Luiz Redondo, elementos do
sistema de espaços livres da cidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os espaços livres exercem o papel de caracterizar e direcionar a configuração da
paisagem urbana patense. O estudo da paisagem é uma ferramenta capaz de
revelar as potencialidades e fragilidades ambientais e sociais da cidade. A partir de
sua análise é possível estruturar o sistema de espaços livres, propondo elementos
que superem o caráter arbitrário dos modelos tradicionais de parques, praças e
jardins e passem a suprir as necessidades ambientais, culturais e estruturais da
cidade, contribuindo para formação da identidade urbana .
Em Patos de Minas o potencial paisagístico e ambiental do sistema hidrográfico e as
características do relevo e vegetação poucas vezes são incorporados ao sistema de
espaços livres. Esses elementos são formadores da identidade da cidade e
precisam ser incorporados ao planejamento do sistema de espaços livres.
Segundo Pellegrino & Oseki (2004), as paisagens são ao mesmo tempo produzidas
socialmente e produtoras (indutoras) de práticas sociais, podem ser utiliza das no
planejamento, no projeto e gestão de espaços livres (nas escalas espaciais: local,
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regional e continental) o que lhes confere importância no planejamento urbano e
regional, o que tem sido ignorado pelos órgãos responsáveis pela gestão do
território.
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