XL Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola - CONBEA 2011
Cuiabá - MT, Brasil, 24 a 28 de julho 2011
Análise das edificações utilizadas para armazenamento de defensivos agrícolas no
município de Ilha Solteira – SP
Maurício Augusto Leite1, Natassia Zamariola2
1
Engo Agrônomo, Prof. Assistente Departamento de Fitossanidade, Engenharia Rural e Solos, Faculdade de Engenharia, UNESP, Ilha
Solteira, SP, Fone: (0XX18) 3743-1259, [email protected]
2
Discente do Curso de Agronomia - Faculdade de Engenharia/UNESP, Ilha Solteira, SP
Apresentado no
XL Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola – CONBEA 2011
24 a 28 de julho de 2011 - Cuiabá-MT, Brasil
RESUMO: O município de Ilha Solteira possui propriedades rurais que necessitam de pequenas
quantidades de defensivos agrícolas. No entanto, o armazenamento desses defensivos deve seguir
orientações para evitar a contaminação das pessoas, animais e ambiente. Dessa forma o trabalho teve por
objetivo analisar alguns aspectos do armazenamento de defensivos agrícolas em pequenas propriedades
rurais. Vinte propriedades foram visitadas para observar os seguintes pontos: material de confecção da
edificação; cobertura; impermeabilidade do piso; placas de advertência; contato com alimentos e distância
do solo. Os resultados demonstraram que 40% dos locais de armazenamento eram fechados com paredes e
portas, 20% apresentavam cobertura sem parede, 20% apresentavam paredes sem portas e 20% das
construções eram de madeira. Quanto ao piso, 80% encontravam-se em solo exposto. Em 70% dos casos
as embalagens permaneceram em estantes e em 30% em contato com o piso Na totalidade das
propriedades não existiam placas de advertência nas construções e em 5% das propriedades as embalagens
dividiam espaço com alimentos. O estudo revelou que o armazenamento de defensivos agrícolas em Ilha
Solteira é inapropriado, perigoso, sendo um potencial de contaminação de pessoas, animais e do solo.
PALAVRAS-CHAVE: Contaminação, segurança, solo.
TITLE: Analysis of the constructions used for storage of pesticides in the city of Ilha Solteira - SP
ABSTRACT: The city Ilha Solteira has properties that need low amounts of pesticides. However, the
storage of these products must follow orientations to prevent the contamination of the people, animals and
environment. The goal of the work is to analyze some aspects of the storage of pesticides in small
properties. Twenty properties had been visited to observe the following points: construction’s materials;
covering; floor impermeability; warning plates; contact with food and distance of the ground. The results
showed that 40% of the storage places were closed with walls and doors, 20% presented covering without
walls, 20% presented walls without doors and 20% of the constructions were wooden made. 80% of the
constructions presented the floor in soil. In 70% of the cases the packings had remained in shelf and in
30% in contact with the soil. In the totality of the properties there were not warning plates in the
constructions and in 5% of the properties the packings share space with foods. The study disclosed that the
storage of pesticides in Ilha Solteira is inadequate, dangerous, being a potential of contamination of
people, animals and soil.
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KEY WORDS: Contamination, safety, soil.
INTRODUÇÃO: No estágio atual, a agricultura ainda não pode extinguir o uso de agrotóxicos, que se
constitui em insumo necessário para a produção agrícola. No entanto, para a utilização desses produtos
precisa-se respeitar o que dispõe a legislação pertinente, procurando minimizar os impactos ecológicos,
buscando a preservação da saúde do trabalhador rural e a segurança alimentar. Um fator importante a ser
discutido, é o armazenamento dessas embalagens. Quando armazenados corretamente, os agrotóxicos
oferecem pouco risco à saúde das pessoas e ao meio ambiente. A questão de armazenamento se divide em
três escalas, a fábrica que seria a origem, a intermediária que é o comércio e por última o destino final que
seria a propriedade agrícola. Essa última é a mais discutida entre as escalas, pois compromete o meio
ambiente, por muitas vezes não ter um armazenamento correto e seguro (GARCIA, 1996 citado por
MORO, 2008). Nas propriedades rurais, mesmo para guardar embalagens vazias lavadas, existem algumas
regras básicas que devem ser observadas para garantir o armazenamento correto e seguro. O local de
armazenamento deverá ficar distante de nascentes de água, rios, lagos, açudes e moradias, evitando-se,
assim, possíveis acidentes contra o meio ambiente, o homem e os animais. É importante salientar que o
depósito, para armazenar os agrotóxicos, deverá ser somente utilizado para esse fim (RANDO, 2004
citado por MORO, 2008).
MATERIAL E MÉTODOS: Para realização do presente trabalho foram utilizados como instrumento de
pesquisa, questionários semi-estruturados contendo perguntas a respeito do armazenamento das
embalagens de agrotóxicos. As análises foram obtidas a partir de respostas dos produtores do Cinturão
Verde e do Assentamento Estrela da Ilha a esses questionários. Os dados foram levantados no segundo
semestre do ano de 2010 em vinte propriedades rurais, onde verificou-se a armazenagem das embalagens.
As perguntas realizadas foram:
1- Possui embalagens de agrotóxicos na propriedade?
2- Qual o local de armazenamento? Está armazenado em prateleiras, estantes ou em contato com o
solo?
3- O que faz com as embalagens após o uso?
4- Qual a distância do local de armazenamento à sede, aos animais, à produção e aos corpos d’água,
poços ou caixa d’água?
5- Existe alguma placa de aviso no depósito com símbolo de perigo e dizeres: “CUIDADO
VENENO”?
6- Qual o material utilizado na construção do depósito para as embalagens?
7- As embalagens são colocadas em depósitos próprios?
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Dos 20 proprietários entrevistados, 50% não possuem embalagens em
sua propriedade, sendo que desses, 20% não possui pelo fato de tê-las queimado ou colocado junto ao lixo
comum para a coleta e 10% as jogou em uma forma de depósito. Em relação ao tempo de armazenamento
dessas embalagens, 30% dos produtores possuem as embalagens a menos de 1 ano, 10% entre 1 e 2 anos e
60% as têm a mais de 4 anos (Figura 1). Sobre o local de armazenamento, 20% disseram deixá-las a céu
aberto, 20% em locais cobertos, porém sem paredes, 20% em locais fechados, mas sem porta e 40% em
locais totalmente fechados. Segundo a Monsanto do Brasil Ltda (2001) citado por Agostini (2002), a
construção deve ser de alvenaria ou de material não comburente. No presente estudo os resultados
demonstraram que mesmo não sendo permitido, 20% das construções são feitas de madeira, podendo
assim, aumentar os riscos ao ambiente, animais e seres humanos. Com relação ao piso do local, apenas
20% possuem as embalagens em chão concretado enquanto 80% deixam as embalagens em locais sem
piso de concreto, desrespeitando as normas de segurança que exigem para a pavimentação, material
impermeável (concreto ou similar), polido e nivelado, que facilite a limpeza e não permita infiltração para
o subsolo (ANDEF, 2005). Ainda a respeito do local, foi perguntado também sobre a altura em que essas
embalagens são armazenadas. Em 70% das propriedades disseram guardá-las em estantes ou armários e os
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30% restantes deixam em contato direto com o chão. Nas visitas realizadas ainda pôde-se notar que 5%
dos agricultores deixam essas embalagens dentro de suas próprias casas, dividindo o espaço com os
alimentos, aumentando ainda mais o risco de contaminação, independente do local (altura) onde estas
estão armazenadas. A Tabela 1 faz uma relação dos locais de armazenamento de defensivos e as distâncias
da sede, animais, produção agrícola e corpos d’água demonstrando que na maioria dos casos os
defensivos estão a uma distância menor que 20 metros. Essas distâncias quando confrontadas com os 80%
das propriedade que possuem armazenamento de defensivos em piso não concretado e 30% dos
proprietários deixam os defensivos em contato direto com o solo demonstram um elevado potencial de
contaminação de seres humanos e animais.
Tabela 1. Distância em metros das embalagens de agrotóxicos em relação a corpos d' água, sede, animais e
produção agrícola.
LOCAIS
Sede
Animais
Produção
Corpos d'água
0 a 10
50%
70%
50%
10%
DISTÂNCIA (m)
10 a 20
20 a 40
40%
10%
10%
0,0%
40%
0,0%
60%
10%
Mais de 50
0,0%
20%
10%
20%
Quando questionados sobre o que fazem com as embalagens após o uso dos produtos, 70% dos produtores
afirmaram lavar e guardar as embalagens após seu uso enquanto 10% disseram apenas guardar sem
qualquer tipo de lavagem; 10% queimam as embalagens e apenas 10% disseram realizar a tríplice lavagem
além de furá-las. Resultado semelhante foi encontrado no trabalho de Alpe et al. (2009), no Cinturão
Verde, onde foi possível inferir que uma pequena parcela dos produtores consultados (12,5%) procede
corretamente na destinação de embalagens vazias dos agrotóxicos. Souza et al. (2010), constatou que na
área rural de Erechim-RS, os resultados não são diferentes pois, em seu estudo, apenas 30% dos
agricultores devolvem para a empresa fornecedora, sendo este o procedimento adequado, tanto para evitar
o risco de contaminação ambiental, quanto para preservar a saúde das pessoas. A outra parcela guarda,
queima, ou enterra as embalagens.
Figura 1: Embalagens guardadas a mais de 4 anos em propriedade rural (esquerda) e galpão aberto com
para armazenamento de defensivos (direita) com falhas na cobertura.
Segundo Araújo et al. (2004) algumas moléculas de agrotóxicos são de alta persistência e podem
permanecer no ambiente sem sofrer qualquer alteração por um longo período, podendo sofrer lixiviação e
atingir os lençóis subterrâneos ou serem carreadas para as águas superficiais.
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Em 100% dos locais de armazenamento de defensivos não possuíam placas indicando que naquele local
haviam produtos químicos que podem trazer danos tanto aos homens quanto ao meio ambiente, animais.
CONCLUSÕES: Na maioria das propriedades visitadas as embalagens de agrotóxicos são tratadas como
simples frascos sem utilidade, sendo deixados em locais inadequados sem os cuidados específicos para
esses produtos ou embalagens. Segundo o INPEV, essas embalagens deveriam passar pela Tríplice
Lavagem, tendo o prazo de até 1 ano depois da compra para devolver as embalagens vazias. Se sobrar
produto na embalagem, poderá devolvê-la até 6 meses após o vencimento. Com essa pesquisa pode-se
concluir que o armazenamento de defensivos agrícolas vem ocorrendo de forma inadequada na maioria
das propriedades pesquisadas no Cinturão Verde e no Assentamento Estrela da Ilha, o que pode ocasionar
problemas de contaminação no solo, na água atingindo os seres humanos e animais. Essa situação está
presente pelo fato que alguns produtores rurais não reconhecem os perigos que o armazenamento e
descarte inadequados de embalagens de defensivos podem resultar em problemas de saúde, além da
contaminação da sua propriedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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(Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Industrial)- Faculdade de Engenharia Química de Lorena,
Lorena, 2002.
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Destino de Embalagens Vazias de Agrotóxicos no Cinturão Verde do Município de Ilha Solteira. In:
ENCIVI
2009.Disponível
em:
<http://www.agr.feis.unesp.br/defers/docentes/mauricio/pdf/Trabalhos/Vanessa.pdf >.Acesso em: Jun
2010.
ANDEF - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE DEFESA VEGETAL, CETUS - COMITÊ DE EDUCAÇÃO,
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ARAÚJO, A.B.; FELIX, E.P.; BRITO, N.M.; AMARANTE-JÚNIOR, O.P. (2004) Interações e destino de
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WENDLAND, E. Vol. 3 p.17-32. RIMA Editora. São Carlos.
INSTITUTO NACIONAL DE PROCESSAMENTO DE EMBALAGENS VAZIAS – INPEV.
Responsabilidade
do
agricultor.
Disponível
em:
<http://www.inpev.org.br/responsabilidades/triplice_lavagem/responsabilidade_agricultor/responsabilidad
e_agricultor.asp>. Acesso em: 23 mar 2011.
MORO, B. P. Um estudo sobre a utilização de agrotóxicos e seus riscos na produção do fumo no
município de Jacinto Machado/SC. 2008. 43 p. Monografia (Especialização em Gestão de Recursos
Naturais) - Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, 2008.
SOUZA, M. F. de; DUBOW, M.; PRIEBE, P. dos S.; MANKE, E. B.; COLLARES, G. L. Riscos de
contaminação do ambiente e intoxicação humana pelo uso de agrotóxicos e disposição de resíduos na área
rural
de
Erechim-RS.
In:
CIC
2010.
Disponível
em:
<
http://www.ufpel.edu.br/cic/2010/cd/pdf/EN/EN_00104.pdf>. Acesso em: 28 mar 2011.
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