XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010. IMPLANTAÇÃO DA PRODUÇÃO MAIS LIMPA EM UMA INDÚSTRIA DE BENEFICIAMENTO DE COURO DE GRANDE PORTE: ESTUDO DE CASO Felipe Ribeiro Beserra (UFC) [email protected] Sérgio José Barbosa Elias (UFSC) [email protected] Este artigo traz uma aplicação da metodologia Produção mais Limpa (PmL) em uma indústria de beneficiamento de couro de grande porte. Inicialmente é apresentada uma revisão teórica do assunto, com ênfase na metodologia de aplicação da PmL. ÉÉ utilizada a metodologia preconizada pelo Centro Nacional de Tecnologias Limpas (CNTL) na referida empresa, mostrando-se todas as etapas de implantação. São explicados os passos necessários e os resultados econômicos e ambientais são apresentados e discutidos. Este trabalho contribui para evidenciar o potencial que a PmL possui para abordar de forma contemporânea as questões ambientais, uma vez que se alicerça na ecoeficiência. Palavras-chaves: produção mais limpa; meio ambiente; beneficiamento de couro 1. Introdução A competitividade mundial aumentou acentuadamente nas últimas décadas, obrigando as empresas a um contínuo aprimoramento de seus processos, produtos e serviços, visando oferecer alta qualidade com baixo custo e assumir uma posição de liderança no mercado onde atua. Na maioria das vezes o aprimoramento exigido, sobretudo pelos clientes dos processos, produtos e serviços, ultrapassa a capacidade das pessoas envolvidas, por estarem elas presas aos seus próprios paradigmas. Sabendo do aumento acentuado da competitividade no âmbito mundial, é possível eleger para início de qualquer melhoramento em qualquer que seja a empresa, uma ação primordial, que é a de Controlar, que para Martins (2003), é conhecer a realidade, compará-la com o que deveria ser, tomar conhecimento rápido das divergências e suas origens e tomar atitudes para sua correção. Por sua vez Chambers e Slack (2002) dizem que controlar é o processo de lidar com mudanças no plano e na operação a ele relacionada. Segundo ele o controle deve ser tratado usualmente junto ao planejamento, apesar de serem teoricamente separáveis. Com base nessas diretrizes uma empresa de beneficiamento de couro (curtume), com produção mensal de 1.500 couro/dia tendo sua produção voltada exclusivamente para exportação, sendo o produto principal o couro acabado para estofamento e possuindo de 250 funcionários decidiu aderir a Produção mais Limpa, fortificando a idéia de que este conceito é uma excelente ferramenta gerencial e ambiental, sendo um diferencial entre as mais diversas empresas, mesmo a melhor das operações produtivas precisará melhorar, porque os concorrentes também estão fazendo melhoramentos. (CHAMBERS; SLACK, 2002). De modo abrangente, a adoção da estratégia da Produção mais Limpa no processamento do couro compreende medidas relacionadas à produção, propriamente dita, e ao tratamento depurador dos resíduos industriais gerados no curtume. A escolha de técnicas adequadas, boa manutenção, controle de operações e processos, monitoramento e ajuste dos parâmetros relevantes, permitem a redução de derramamentos, acidentes e desperdícios de água e de produtos químicos. Ocorrendo a aplicação da Produção mais Limpa é bem provável que se obtenha um ganho econômico para empresa e também um ganho ambiental no que diz respeito à redução de poluição ao meio ambiente. Este artigo visa explanar os benefícios da utilização da Produção mais Limpa no processo produtivo de um curtume, buscando identificar e mensurar as oportunidades de ganho em pontos críticos, evidenciando os ganhos econômicos e ambientais oriundos desta metodologia proposta pelo Centro Nacional de Tecnologias Limpas – CNTL. 2. Produção mais Limpa O crescimento constante da população e o desenvolvimento econômico estão permanentemente ameaçando o ambiente, o que vem levando empresas a descobrir novas áreas de atividades relacionadas à produção de artigos que preservam a ecologia. Até mesmo no relatório da administração, demonstrativo obrigatório para grandes empresas, se exige um divulgação com a descrição dos investimentos efetuados, mencionando-se o objetivo das inversões e respectivo valor dos gastos envolvidos para controle do meio ambiente (gastos com purificações de dejetos, de gases etc.) e outros FIPECAFI (2009). Isto ocorre pelo fato de as discussões em torno da proteção à ecologia virem desenvolvendo-se de forma cada vez mais acelerada, tornando-se item bastante significativo. 2 Devido a este despertar com relação a preocupação da preservação do meio ambiente, surgem ferramentas que auxiliam os empresários a aderirem esta cultura de busca pela preservação da natureza. A produção mais limpa é uma destas ferramentas. 2.1 Definição e objetivos da produção mais limpa Conforme definição da UNIDO (1995) a Produção Mais Limpa significa a aplicação contínua de uma estratégia econômica, ambiental e tecnológica integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e energia, através da não geração, minimização ou reciclagem de resíduos gerados, com benefícios ambientais e econômicos para os processos produtivos. Os objetivos principais de uma aplicação de produção mais limpa em uma indústria são: Aumentar a vantagem econômica e competitiva da empresa, racionalizar o uso de insumos, reduzir os desperdícios, minimizar a geração de resíduos, diminuindo os impactos ambientais, aumentar a competitividade, atualizando a empresa de acordo com as exigências do mercado, adequar os processos e produtos em conformidade com a legislação ambiental, permitir a obtenção de indicadores de eficiência, documentar e manter os resultados obtidos, promover e manter a boa imagem da empresa, divulgando a ecoeficiência da produção e a qualidade dos produtos oferecidos. 2.2 Vantagens e benefícios da produção mais limpa Pode-se apontar como vantagens de uma aplicação de produção mais limpa a redução dos custos de produção e aumento da eficiência e competitividade, redução das infrações aos padrões ambientais previstos na legislação, diminuição dos riscos de acidentes ambientais, melhoria das condições de saúde e segurança do trabalhador, melhoria da imagem da empresa junto aos consumidores, fornecedores e poder público, ampliação das perspectivas de mercado interno e externo e acesso facilitado às linhas de financiamento. No que diz respeito aos benefícios da aplicação da produção mais limpa, é possível dividir em dois grupos: benefícios para a produção e benefícios para os produtos. Benefícios para produção encontra-se a redução no consumo de matéria-prima, energia e água, redução de resíduos e emissões, o reuso de resíduos de processo, e a reciclagem de resíduos. Já com relação aos benefícios para os produtos se pode indicar a redução de desperdícios (Ecodesign), o uso de material reciclável para novos produtos a diminuição do custo final e a redução de riscos. 2.3 Surgimento da produção mais limpa A administração contemporânea é marcada nas organizações pela busca por diferenciação, redução de custos e uma maior produtividade. Neste aspecto os dirigentes se encontram na situação de empreendedores, isso sugere um maior contato com o mercado (cliente) e a melhoria da motivação dos funcionários através de ações sociais tanto internamente quanto com a comunidade onde a empresa está inserida. A produção não é mais vista apenas como um processo físico mecanicista, onde o homem e a máquina interagem manufaturando uma matéria prima e insumos para gerar um produto. questões como a qualidade total, o desenvolvimento sustentável, o impacto ambiental, administração de energia, surgiram no século passado como ingredientes para se desenvolver 3 a produção mais limpa. Nas últimas décadas surgiram legislações ambientais que vão de encontro ao interesse dos empresários que querem reduzir custos e expandir seus negócios, porém não percebem que com a gestão ambiental as empresas estarão contribuindo para o desenvolvimento sustentável, o controle da poluição e uma maior credibilidade junto aos clientes preocupados com a matéria-prima que será utilizada para a produção do produto que irão consumir. Com o emprego da produção mais limpa os empresários procuraram adotar uma abordagem preventiva minimizando os custos gerados pela gestão ambiental, controle da poluição e dos tratamentos de final de tubo. O postulado de que o crescimento econômico proveria melhores condições de vida para a sociedade, que perdurou durante décadas, começa a definhar-se ante a percepção de que este processo descontrolado estava causando danos irreparáveis aos ecossistemas e que estes danos, a médio e longo prazo, podem prejudicar a Terra tornando-a um planeta inabitável desprovida de seus recursos naturais. Donaire (1995) apud Vieira (2004) reforça esta idéia quando fala que entre as variáveis que afetam o ambiente de negócios, a preocupação ecológica da sociedade tem ganhado um destaque significativo em face de sua relevância para a qualidade de vida das populações. A degradação da qualidade de vida para Lemos (1998) fez com que as pessoas mudassem a forma de pensar e agir em relação a questões ambientais, devido ao crescimento da consciência ecológica nas diversas camadas sociais. Preocupado com este postulado de crescimento perene, Fritjof Capra criou em 1984 o Instituto Elmwood para promover a instrução básica em ecologia, preocupado com a instrução educacional ecológica. A educação ecológica poderia ir paulatinamente realçando as impropriedades do crescimento desordenado. Esta instrução composta pelo pensamento sistêmico, conhecimento da ecologia e a prática dos valores ecológicos têm como meta tornar a instrução básica o princípio organizador central da educação, dos negócios e da política em geral. De um dos projetos do Instituto surgiu o que ficou conhecido como Ecomanagement aqui citado como Gestão Ecológica que tem como objetivo minimizar o impacto ambiental e social das organizações e tornar todas as suas operações tão ecologicamente corretas quanto possível. 2.4 – A Metodologia de aplicação da produção mais limpa A metodologia escolhida para ser abordada foi a Ecoprofit que significa “Projeto Ecológico Para Tecnologias Ambientais Integradas”. Este programa é patrocinado pela UNIDO/UNEP e tem como meta principal fortalecer economicamente a indústria através da prevenção da poluição. O Ecoprofit investiga o processo de produção e todas as outras atividades relacionadas de uma empresa. Ele estuda os problemas ambientais sob o ponto de vista da utilização das matérias primas e da energia. Esta abordagem também propicia a geração da inovação, considerando que, em muitos casos, será preciso fazer mudanças nos processos, nos produtos, como também na prática gerencial da empresa. O prefixo “eco” tem um triplo significado, qual seja, (1) benefício ecológico; (2) benefício econômico; (3) alusão ao significado etimológico da palavra grega "oikos" (casa, a manutenção da casa). O Ecoprofit tem a finalidade de encontrar uma solução econômica específica para a empresa, porém o projeto só terá sucesso se os gestores ajudarem a promovê-lo e apoiá-lo. O que isto significa? Não é suficiente adotar a metodologia sem um 4 real comprometimento gerencial, porque o Ecoprofit só traz conhecimento externo à empresa. Assim, gestores e empregados precisam esforçar-se para achar soluções peculiares para cada empresa. Em outras palavras: faz-se necessário que sejam empreendedores e inovadores. 2.4.1 – Como implementar a produção mais limpa? Utilizando-se como referencial a Metodologia Ecoprofit, constante do Manual da UNIDO/UNEP (1995), tem-se as seguintes atitudes que as empresas podem tomar, visando implementar a PML. Conforme o Ecoprofit, o processo inicia-se com as especificações e a clarificação dos problemas. Assim, começa-se o desenvolvimento de ações preventivas. Uma ferramenta utilizada para este fim é a “Avaliação da PML”. Esta avaliação ajuda a gerar opções para reduzir-se resíduos e emissões em suas fontes. Também aplica-se esta metodologia para gerar-se opções que reduzam riscos ambientais e consumo de energia (UNIDO/UNEP, 1995). As ações a serem empreendidas compreendem o seguinte: (1) tomada de decisão, por parte dos gestores, de que alguma ação precisa ser empreendida; (2) formação da equipe de projeto; (3) discussão do programa com os trabalhadores e supervisores; (4) documentação dos principais processos a serem estudados (UNIDO/UNEP, 1995). A figura 1, mostra os passos consecutivos da Avaliação da PML. Reconhecer a necessidade de uma PML Planejamento e Organização Pré Avaliação Avaliação Estudo de Viabilidade Implementação PML em Andamento Figura 1. Avaliação da PML. Os principais elementos que precisam ser considerados como opções para implementar a PML são os seguintes: (1) mudança nas matérias-primas; (2) mudança tecnológica; (3) boas práticas de operação ou boas práticas de “housekeeping”; (4) mudanças no produto; (5) reutilização e reciclagem no local da empresa (UNIDO/UNEP, 1995). As práticas de housekeeping (ou arrumação da casa) podem ser implementadas em todas as áreas da empresa, incluindo produção, operações de manutenção, estoques de matérias-primas e produtos (UNIDO/UNEP, 1995). Com a implementação de estratégias de PML, as empresas esperam obter resultados. Alguns destes possíveis resultados serão vistos a seguir. Também através desta metodologia desenvolvida e apoiada pela UNIDO, o CNTL SENAI oferece aos setores produtivos alternativas viáveis para a identificação de técnicas de Produção mais Limpa, que implantadas em processos permitem a minimização de resíduos sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas, eficiência no uso da energia e racionalização no emprego da água. A implantação segue uma seqüência de etapas, conforme quadro 1 ETAPA 1: Planejamento e Organização Passo 1:Obter comprometimento e envolvimento da alta direção Passo 2: Estabelecer a equipe do projeto (ecotime) Passo 3: Estabelecer a abrangência da PmaisL 5 Passo 4: Identificar barreiras e soluções ETAPA 2 : Préavaliação e Diagnóstico Passo 5: Desenvolver o fluxograma do processo Passo 6: Avaliar as entradas e saídas Passo 7: Selecionar o foco da avaliação da PmaisL Passo 8: Originar um balanço material e de energia ETAPA 3: Avaliação de PmaisL Passo 9: Conduzir uma avaliação de PmaisL Passo 10: Gerar opções de PmaisL Passo 11: Selecionar opções de PmaisL ETAPA 4: Estudos de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental Passo 12: Avaliação preliminar Passo 13: Avaliação técnica Passo 14: Avaliação econômica Passo 15: Avaliação ambiental Passo 16: Selecionar as opções a serem implementadas Passo 17: Preparar plano de implementação de PmaisL ETAPA 5: Implementação Passo 18: Implementar as opções de PmaisL de Opções e Plano Passo 19: Monitorar e avaliar de Continuidade Passo 20: Sustentar atividades de PmaisL Quadro 1 - Metodologia PmaisL 3. Processo produtivo do curtume A empresa estudada possui a seguinte estrutura organizacional: um departamento administrativo que cuida da administração geral e das vendas e um departamento produtivo, que abrange a programação da produção, as atividades produtivas, o controle de qualidade e a expedição. O estudo do processo produtivo foi acompanhado pelo responsável encarregado do P.C.P. e pelo Supervisor Administrativo. A empresa estudada faz o beneficiamento do couro até o produto acabado tendo como sua matéria prima o couro em estado de wet blue, ou seja o couro já curtido, submetido aos processos produtivos de caleiro e curtimento nos curtumes fornecedores. O processo de produção na fabricação do couro acabado tem a produção repleta de variações, possui uma enorme gama de artigos que variam o roteiro de produção, desde a secagem até o acabamento final. Os artigos também podem variar entre si em características específicas como espessura da pele, cor e a maciez. Cada artigo possui suas particularidades de acordo com a exigência dos clientes. A figura 2 apresenta o processo produtivo da empresa. 6 Matéria Prima Produto Final Remolho e Classificação Enxugamento e Divisão Classificação Final e Medição Acabamento Rebaixamento Classificação Semiacabado Recurtimento Secagem Figura 2 – Fluxo de produção do couro 4 – Aplicação da produção mais limpa Como visto nom tópico de metodologia da produção mais limpa, o processo de implantação passa por cinco etapas, e dentro destas etapas existem tópicos de atividades que devem ser realizadas. Nesta parte final do trabalho serão abordadas as etapas e atividades que compõem a metodologia proposta pelo CNTL em seu manual. 4.1 – Etapa 1: planejamento e organização A primeira etapa do projeto é subdividida em 4 passos: Passo 1: Obter comprometimento e envolvimento da alta direção; Passo 2: Estabelecer a equipe do projeto (eco time); Passo 3: Estabelecer a abrangência da PmaisL; Passo 4: Identificar barreiras e soluções. O primeiro passo foi dado através de uma reunião com o corpo pensante da empresa buscando gerar um envolvimento e isto foi obtido, o Gerente de Produção se mostrou bastante solicito e empolgado em abraçar este projeto, e ele mesmo elegeu lideres para as equipes e definiu a abrangência do projeto visto que o momento atual da fábrica não permitia uma aplicação da produção mais limpa por completo, por isso foram definidos três pontos críticos onde cada equipe ficou responsável por um. Porém também ficou decidido que somente uma equipe levaria o trabalho ate o final visto que envolvia um numero significativo de funcionários. O grupo de melhoria que se mostrasse um ganho ambiental e econômico mais proveitoso seria escolhido como foco do estudo de caso. Com os três primeiros passos realizados, as equipes se reuniram para identificar as barreiras e soluções, através de um brainstorming, foi possível identificar barreiras e soluções para o problema de cada grupo, concluindo a primeira etapa do projeto. Este passo foi de suma importâcia para andamento do trabalho, pois através dele já foi possível ter uma idéia de qual grupo seria escolhido como foco para realização do trabalho de implantação da produção mais limpa no curtume. 4.2 - Etapa 2 : pré-avaliação e diagnóstico A segunda etapa do projeto é subdividida em 3 passos: Passo 5: Desenvolver o fluxograma do processo; Passo 6: Avaliar as entradas e saídas; Passo 7: Selecionar o foco da avaliação da PmaisL. O Fluxograma do processo produtivo do couro foi descrito de forma detalhada como visto na revisão bibliográfica. O grupo de rendimento do couro foi escolhido como foco da avaliação da produção mais limpa devido maior impacto econômico para empresa, visto que gerará um ganho significativo, como também uma excelente redução de emissão de resíduos sólidos. Este grupo busca o aumento da área dos couros acabados através da redução das refilas com a motivação e conscientização freqüentes dos operadores através de reuniões mensais e exposição diária em painel do peso de refilas/couro processado no dia anterior. 7 Esta analise de entradas e saídas corresponde a fase final do processo produtivo do couro onde a pele chega acabada e passa por um classificador que com o auxilio de uma tesoura retira as refilas do couro acabado deixando ele pronto para ser embarcado. As refilas retiradas são pesadas em uma balança e tem este peso registrado para analise posterior. Segue abaixo a tabela 1 com a análise das entradas e saídas que compõe este grupo. PROCESSO PRODUTIVO ENTRADAS Matériasprimas, insumos e auxiliares Água Energia Couros Acabados 396.000 unid. Etapas SAÍDAS Efluentes Líquidos Resíduos Sólidos 1. Refila Acabada ACABAMENTO 40.944 kg Emissões Atmosféricas Couro Acabado 396.000 unid. TOTAL 40.944 kg Tabela 1 – Avaliação de entradas e saídas antes da aplicação da produção mais limpa 4.3 – Etapa 3: avaliação de PmaisL A terceira etapa do projeto é subdividida em 4 passos: Passo 8: Originar um balanço material e de energia; Passo 9: Conduzir uma avaliação de PmaisL; Passo 10: Gerar opções de PmaisL; Passo 11: Selecionar opções de PmaisL. Esta etapa consiste em originar um balanço de massa e conduzir uma avaliação de produção mais limpa gerando opções para serem selecionadas. Segue no quadro 2 o balanço de massa do processo produtivo do couro, material que facilita a avaliação da produção mais limpa por proporcionar uma visão panorâmica do processo onde se pode gerar opções de produção mais limpa. Através deste balanço de massa é notório que existem pontos em cada fase do processo produtivo do couro que podem ser alvo de estudo para uma futura aplicação de produção mais limpa, porém devido a estrutura atual da empresa foi decidido anteriormente que somente a ultima fase do processo seria o objeto de estudo por motivos que já foram explanados no presente trabalho. 8 ENTRADAS PROCESSO PRODUTIVO SAÍDAS Couro Wet Blue Integral + Agua → Remolho e Exugamento → Efluentes Liquidos Couro Wet Blue Integral Pós remolho → Classificação Divisão → Raspa Wet Blue Couro Wet Blue Classificado e Dividido → Rebaixamento → Pó da Rebaixadeira Couro Wet Blue Rebaixado + → Insumos Quimicos + Agua Recurtimento → Efluentes Liquidos Couro Semiacabado Molhado + Insumo Quimico (Stuco) → Secagem → Refila Semi Acabado + Pó da Lixadeira Couro Semiacabado Lixado + Insumos Quimicos → Acabamento → Efluentes Liquidos Couro Acabado → Classificação e Medição → Refila Acabado ↓ PRODUTO FINAL Quadro 2– Balanço de massa 4.4 – Etapa 4: Estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental A quarta etapa do projeto é subdividida em 5 passos: Passo 12: Avaliação preliminar; Passo 13: Avaliação técnica; Passo 14: Avaliação econômica; Passo 15: Avaliação ambiental; Passo 16: Selecionar as opções a serem implementadas. Esta etapa se resume basicamente em avaliações técnicas, ambientais e econômicas da opções de produção mais limpa levantadas, sempre visando o aproveitamento eficiente das matérias-primas (couro acabado) e a não geração ou redução dos resíduos sólidos (refila acabada). 4.4.1 – Avaliação técnica Segundo o Manual de Implementação de produção mais limpa, para uma boa avaliação técnica é importante considerar os seguintes tópicos: 9 1 - Impacto da medida proposta sobre o processo, produtividade, segurança. Neste ponto se pode dizer que a medida tomada não traz impacto ao processo produtivo visto que não foi preciso mudar, o trabalho aplicado foi mais voltado para conscientização dos classificadores através de treinamentos. 2 – Todos os funcionários e departamentos atingidos pela implementação das opções: O departamento que foi atingido somente o de classificação final que possui cerca de 15 funcionários os quais não houve nenhuma mudança visto que abraçaram a idéia do programa participando ativamente dos treinamentos. 3 – Experiência de outras companhias com a opção que esta sendo estudada: Foi sondado com outra companhia e se obteve informações que foram bem sucedidas com este tipo de trabalho. 4.4.2 – Avaliação ambiental Como visto na revisão bibliográfica a produção mais limpa procura eliminar o lançamento de resíduos no meio ambiente ou reduzi-lo substancialmente. Anteriormente não existia um rígido controle das refilas acabadas, o que leva a crer que os valores poderiam ser ainda mais expressivos antes do acompanhamento feito para este trabalho. Acredita-se, portanto, que não apenas a reunião de “sensibilização”, mas principalmente a consciência dos operadores da realização do controle, foi motivo para a redução do peso das refilas. Para melhor avaliação dos benefícios ambientais foi criado um indicador que nos mostra a relação de quantidade de gramas de refila acabada por pele produzida. Segue abaixo a tabela 2 que mostra a situação antes e depois da aplicação da produção mais limpa. Vale salientar que a quantidade de peles produzidas e de refilas geradas, correspondem a um período de um ano. Indicador Antes da implantação do estudo de caso Após a implantação do estudo de caso Quantidade de Peles Produzidas (Couro) 396.000 396.000 Quantidade de refilas geradas (Kg) 48.000 38.000 Geração de refilasacabadas por couro 12,12 g/unid. processado Tabela 2 – Indicador grama/couro 9,60 g/unid. Como foi possível observar houve uma significativa redução na emissão dos resíduos sólidos que é o principal benefício ambiental, mas também se pode citar outros benefícios ambientais ante eles: redução de emissões atmosféricas pela queima de combustível no transporte de refilas para o aterro; redução do consumo de pneus; redução do volume de resíduos no aterro. 4.4.3 – Avaliação Econômica Após a realização das avaliações técnicas e ambientais por fim será realizada e avaliação econômica através de um estudo de viabilidade econômica, onde é considerado o período do retorno do investimento (não existiu neste trabalho devido a utilização de recursos já 10 existentes) e o benefício econômico gerado através da aplicação da produção mais limpa. Portanto só será calculado o benfício econômico gerado. O benefício econômico é ganho líquido que uma empresa obtém em um determinado projeto. No caso da produção mais limpa, é a diferença entre o custo da situação atual e o custo da situação esperada, conforme fórmula 01. Benefício Econômico = (Custo da Situação Atual – Custo da Situação Esperada) (01) Para se obter o custo da situação atual e o custo da situação desejada, é importante analisar os seguintes pontos que estão na tabela 3.: Indicador Situação Atual Situação Desejada Diferença Quantidade de Peles Produzidas (Couro) 396.000 396.000 0,00 Quantidade de refilas geradas (Kg) 48.000 38.000 -10.000,00 Geração de refilas-acabadas (gramas) por couro processado 12,12 9,60 -2,53 Total de Metros Produzidos 1.980.000 1.992.080 12.080,00 Custo Unitário R$ 25,00 R$ 24,85 -0,15 Custo Total R$ 49.500.000,00 R$ 49.500.000,00 0,00 Tabela 3 – Custos situação atual x situação desejada Obs. 1: A projeção anual para 396.000 couros acabados/ano, feita com base na capacidade anual de produção de acabados, que é de 1.500 x 22 x 12 = 396.000. Obs. 2: Um couro acabado tem em média 5 m2, 1 kg equivale a 1,208 m2 e cada metro quadrado custa R$ 25,00 na situação atual; porém na situação desejada encontrou-se um custo unitário de R$ 24,85. Obs. 3: A diferença do peso de refilas da projeção anual (10.000 kg) foi transformada em metro quadrado (10.000 kg x 1,208 = 12.808m2) e somada à metragem anual de couro acabado de acordo com a projeção (1.980.000 m2 + 12.808 m2 = 1.992.080 m2). Obs. 4: Portanto em cada metro quadrado produzido na situação atual ocorrerá um ganho de R$ 0,15 que é o benefício econômico encontrado neste estudo. Conforme tabela 04 abaixo. Benefício econômico = R$ 0,15 para cada m2 produzido ( Custo da Situação Atual - Custo da Situação Esperada) (R$ 25,00 – R$ 24,85) Tabela 4 – Benefício econômico real Concluindo esta fase de avaliação econômica segue abaixo a tabela 5 que mostra este benefício econômico no total, este cálculo compreende o total de metros quadrados que serão produzidos no ano, multiplicados pelo benefício econômico por metro quadrado. Produção Anual (M2) Beneficio Economico por M2 Beneficio Economico Total 11 1.992.080 R$ 0,15 R$ 298.812,00 Tabela 5 – Benefício econômico total 4.5 – Etapa 5: Implementação de opções e plano de continuidade A quinta e última etapa do projeto é subdividida em 4 passos: Passo 17: Preparar plano de implementação de PmaisL; Passo 18: Implementar as opções de PmaisL; Passo 19: Monitorar e avaliar; Passo 20: Sustentar atividades de PmaisL. Esta última etapa do trabalho foi um momento de extrema importância, devido ao empenho do grupo e trabalho pesado no decorrer projeto, com os resultados alcançados através da oportunidade de redução na emissão refilas acabadas, ficou confirmado que este trabalho deve ser implementado, concretizando todo esforço dos envolvidos.Alguma medidas foram listadas de modo a compor o plano de implementação da produção mais limpa, entre elas se pode citar: 1 - Deverá ser elaborada planilha para monitoramento diário do peso das refilas relativo ao número de couros acabados. 2 - Deverá ser exposto diariamente em painel o peso das refilas por couro acabado no dia anterior. 3 - Deverá ser feita, ao final de cada mês, reunião com os operadores onde deverá ser feita comparação dos resultados dos meses anteriores. Também foi definido que este trabalho deve ser monitorado diariamente e acompanhado mensalmente para efeito de comparação e cálculos de redução de custos com as mesmas, bem como os fatores de conversões que devem ser monitorados, m2/kg de couro semi-acabado, peso em kg por unidade, área em m2 por unidade. Após toda trajetória descrita acima, o programa de produção mais limpa para esta tarefa escolhida pode ser considerado implementado. Neste momento foi importante não somente avaliar os resultados obtidos, mas, sobretudo, criar condições para que o programa tenha continuidade assegurada através da aplicação da metodologia do trabalho e da criação de ferramentas que possibilitem a manutenção da cultura estabelecida, bem como sua evolução em conjunto com as atividades futuras da empresa. 5 - Conclusões Da experiência de realização deste trabalho, algumas considerações de natureza conclusiva podem ser estabelecidas. Foi constatado que existem oportunidades de ganho econômico e ambiental muito expressivo no processo produtivo estudado conforme o que foi apresentado no estudo de caso através do balanço de massa. De acordo com o que foi proposto na introdução do trabalho o objetivo geral foi alcançado, pois foi possível obter a identificação das oportunidades de ganho utilizando a Produção mais limpa bem como evidenciar os ganhos econômicos e ambientais oriundos deste trabalho. A metodologia adotada proposta pelo CNLT – Centro Nacional de Tecnologias Limpas, associado aos conceitos de Produção mais Limpa explanadas , constitui-se uma excelente ferramenta para a avaliação das oportunidades, devendo esta eficiência ser testada em outros estudos, inclusive por trabalhos de escopo mais amplo. É imperativo que o empresariado do setor de curtume se utilize desta metodologia, como mecanismo de identificação e mensuração de oportunidades, de forma a se desenvolver, dentro da organização, um processo eficiente de gerenciamento destas oportunidades, fazendo valer a Produção mais limpa, 12 buscando os melhoramentos de produção para que seja possível atingir ganhos econômicos e ambientais em todo o processo produtivo do couro. Referências CHAMBERS, Stuart : SLACK, . Administração da Produção. 2° edição. São Paulo: Atlas 2002 CNTL - CENTRO NACIONAL DE TECNOLOGIAS LIMPAS. Site oficial do órgão. Disponível em: <http://www.rs.senai.br/cntl/sobrecntl/>. Acesso em: 12 jan. 2010. FIPECAFI. Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações: aplicável também às demais sociedades. 7ª. Edição. São Paulo: Atlas 2009 LEMOS, Ângela. D. C. A produção mais limpa como geradora de inovação e competitividade: o caso da fazenda Cerro do Tigre. 1998. 181 f. Dissertação (Mestrado em Administração) - Porto Alegre : Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Administração 1998. MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos.8ª ed. São Paulo: Atlas 2003. UNIDO/UNEP Manual (a). Cleaner Production Assesment Manual. Part One. Introduction to Cleaner Production. Draft, 30 June 1995a. VIEIRA, D . Desafios e Novos Paradigmas da Utilização da Ferramenta de Produção Mais Limpa para Diminuição de Resíduos em uma Indústria Beneficiadora de Couro. São Paulo. SIMPOI 2004 - VII Simpósio de Administração da Produção , Logística e Operações Internacionais, 2004. 13