CIÊNCIA E TECNOLOGIA MINAS GERAIS QUINTA-FEIRA 29 DE MARÇO DE 2012 - 8 qSala Limpa do Cetec é referência em pesquisa de produtos utilizados na hemodiálise F ILTRAGEM da entrada do ar; proibição de calçados comuns, brincos e outros acessórios; treinamento e trajes especiais. Esses são apenas alguns dos cuidados necessários para se entrar no laboratório de traços metálicos, mais conhecido como Sala Limpa, da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec), instituição de desenvolvimento tecnológico do Governo de Minas, vinculada à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes). A sala foi o primeiro laboratório do País com estrutura capaz de realizar a análise da presença de alumínio em amostras da água de hemodiálise e do sangue de pacientes com insuficiência renal. Proibido impurezas DIVULGAÇÃO Realizamos análises para centros de diálise em hospitais do Amazonas ao Rio Grande do Sul Criada em 1995 com aporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), sob coordenação da pesquisadora Olguita Ferreira Rocha, a Sala Limpa é considerada a mais bem equipada do Brasil e referência na análise dos produtos para hemodiálise. “Nós realizamos análises para centros de diálise em hospitais das redes pública e particular, do Amazonas ao Rio Grande do Sul”, informa a pesquisadora. Segundo ela, o alumínio, quando presente em nível elevado no sangue, pode causar fraturas ósseas, problemas de crescimento e até mesmo demência. No laboratório, também é rea- Ambiente tem controle rígido para evitar possível contaminação das amostras a serem analisadas lizado o controle de contaminação de análises nas áreas de alimentos, meio ambiente, produção industrial e eletroeletrônica. A água das bacias hidrográficas que abastecem Minas Gerais também é analisada ali. AMBIENTE - A Sala Limpa é dividida em quatro ambientes interligados que totalizam área de 90 metros quadrados. O conceito desse tipo de laboratório é que ele seja livre de partículas externas para que o resultado das análises seja o mais preciso possível. Para isso, é realizado um controle muito rígido dos materiais que são colocados no local. Amostras a serem observadas, por exemplo, são coletadas em um recipiente fornecido pelo Cetec e ainda passam por limpeza antes de chegarem à sala. Os cuidados com o laboratório, contudo, são muito mais complexos do que apenas a limpeza do material. Para trabalhar na Sala Limpa, os pesquisadores devem cumprir exigências, como não usar cosméticos ou fumar. O tabagismo é proibido, já que o fumante emite partículas até três horas após o consumo do cigarro. Pessoas mais inquietas também não são ideais para o trabalho dentro desse laboratório. “Uma pessoa muito agitada movimenta partículas. Sentando e levantando, uma pessoa libera 2,5 milhões de partículas por minuto. Sentado, sem movimento, 100 mil; caminhando a 3km/h, cinco milhões de partículas”, explica a coordenadora da Sala Limpa, Olguita Rocha. Dentro da sala, os pesquisa- dores também não podem usar acessórios pessoais, como brincos e sapatos. O uniforme especial utilizado funciona como um filtro do corpo, que impede a dispersão de partículas. O traje é limpo em uma lavanderia instalada na ante-sala do laboratório. Os profissionais utilizam uniforme específico para cada um dos quatro módulos da sala, que possuem diferentes níveis de retenção de partículas. No módulo de maior controle de contaminação, a equipe trabalha com apenas os olhos e nariz descobertos. Equipamentos de controle processam cinquenta trocas de ar por hora Se as exigências para a entrada dos profissionais são rígidas, o cuidado com o ar tem a mesma importância. A Sala Limpa tem controle de temperatura, umidade e pressão do ar, condicionado por meio de filtros. Na parte externa do prédio onde fica o laboratório há uma casa de máquinas com duas baterias de filtros que impedem a entrada de partículas. Ainda antes de chegar à sala, o ar passa por uma terceira etapa de filtragem. A Sala Limpa conta com 14 dutos de entrada do ar em baixa velocidade, para evitar a suspensão de partículas que eventualmente sejam geradas. Esse ar varre a sala e é retirado por gretas posicionadas no nível do piso. O ar retirado retorna ao primeiro filtro, onde há uma caixa de mistura em que é colocado 30% a mais de ar novo. Acontecem aproximadamente 50 trocas de ar por hora. As ilhas de trabalho contam com filtros que retiram o ar pelo mesmo sistema de dutos e com uma bancada perfurada para garantir a renovação de todo o ar. Essas medidas garantem um nível de limpeza do ar que impede a contaminação das amostras e dos pesquisadores. Pesquisa realizada pelo Cetec sobre as soluções usadas na hemodiálise descobriu alto nível de estrôncio, metal considerado como um dos possíveis causadores de doenças ósseas nos porta- dores de insuficiência renal crônica. Segundo o Censo de 2010 da Sociedade Brasileira de Nefrologia, cerca de 92 mil pessoas realizam tratamento dialítico. Só em Minas Gerais, 96 clínicas realizam hemodiálise. Ainda assim, o monitoramento do estrôncio na água e sangue usados no processo não é uma prática comum.