Instituto de Estudos Políticos UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA Portugal Hoje Para além da crise Joaquim Aguiar Belmiro de Azevedo João Confraria Martim Avillez Figueiredo Fernando Adão da Fonseca Carlos Gaspar Guilherme d’Oliveira Martins Nuno Vieira Matias Adriano Moreira Miguel Morgado João César das Neves Alexandre Relvas João Salgueiro Alexandre Soares dos Santos Francisco Vieira e Sousa Coordenação Universidade Católica Editora José Manuel Fernandes Índice Apresentação José Manuel Fernandes 7 Outro PEC depois do PEC? João César das Neves 11 Existe alguma possibilidade de sair desta crise? Martim Avillez de Figueiredo 23 Valerá a pena investir em Portugal sempre e quando esse investimento for sustentável? Belmiro de Azevedo 31 Portugal tem de decidir, de uma vez por todas, que sociedade quer ser Alexandre Soares dos Santos 41 Ainda vale a pena investir em Portugal? Alexandre Relvas 47 A nossa Constituição no contexto da crise da primeira década do Século XXI Joaquim Aguiar 65 Uma Constituição para o Século XXI? Carlos Gaspar 109 A nossa revisão constitucional e o rumo da União Europeia Miguel Morgado 121 Administração Pública João Salgueiro 127 Uma Administração Pública Reguladora e Supletiva João Confraria 155 Interrogar a Democracia Hoje Guilherme d’Oliveira Martins 163 | Índice 6 A Ideia do Estado-Garantia Fernando Adão da Fonseca 171 Ainda podemos salvar as nossas escolas? Francisco Vieira e Sousa 177 A Fronteira da Pobreza e a Reserva Estratégica Alimentar Adriano Moreira 191 Uma Saída Possível: O MAR Nuno Vieira Matias 199 Apresentação José Manuel Fernandes Quando, a 11 de Outubro de 2010, se iniciou o ciclo de debates subordinado ao tema Portugal 2011: Para além da crise, o tempo político ainda não se tinha acelerado. Faltavam três meses para as eleições presidenciais – onde se confirmaria a reeleição do Presidente Cavaco Silva – e, apesar de se pressentir a instabilidade, o facto de estarmos a viver o período constitucional em que não é possível dissolver a Assembleia da República abriu como que um intervalo de serenidade. Foi nesse período que, durante três meses, decorreram as conferências organizadas pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica onde, com qualidade e abertura a visões diferentes, se debateram alguns dos grandes temas da vida política nacional. Houve alguma felicidade na escolha do dia para o arranque desse conjunto de estimulantes conversas. Com efeito, exactamente 200 anos antes, a 11 de Outubro de 1810, Portugal enfrentara uma ameaça letal. Na véspera, a 10 de Outubro de 1810, a vanguarda da Armée du Portugal tinha chegado às Linhas de Torres. Dera-se já uma escaramuça, em Alenquer, entre o exército francês e forças portuguesas de Caçadores e dos Regimentos de Infantaria n.º 1 e n.º 16. Era o primeiro acto de um frente a frente que terminaria, um mês mais tarde, com a retirada para Santarém do exército de Massena. Mais tarde viria a retirada e o contra-ataque dirigido por Wellington, que perseguiria a força invasora francesa por terras de Espanha. Não por acaso, o mote da conferência inaugural, onde contámos com a presença de D. Manuel Clemente, bispo do Porto, de Rui Ramos, | Apresentação 8 investigador do Instituto de Ciências Sociais e da ensaísta Helena Matos foi Portugal, 1810, 1910, 2010. Evocava-se assim uma conferência de D. Manuel Clemente, proferida na abertura dos trabalhos da 4.ª Jornadas da Pastoral da Cultura, e, simultaneamente, recordava-se que em 2010 se celebravam dois centenários, ambos associados a períodos de crise e de interrogações sobre o futuro de Portugal. Primeiro, o duplo centenário da terceira e última invasão francesa, ocorrida em 1810. Depois o centenário da revolução republicana de 5 de Outubro de 1910. Ancorar nessas duas datas uma reflexão sobre o presente e o futuro, pós-crise, do nosso país pareceu-nos fazer todo o sentido. De facto costuma dizer-se que os judeus caminham de costas voltadas para o futuro pois não tiram os olhos do passado. Não é preciso tanto. Mas é sempre melhor olhar para o futuro informado por aquilo que a experiência histórica nos ensina. Começando por 1810, e como assinalou Vasco Pulido Valente, “Napoleão, embora perdendo, revolucionou o País, como revolucionara a Europa. A invasão e a guerra, por assim dizer, “provocaram” o “liberalismo” em Portugal. Um produto exógeno, que não podia ser aceite pacificamente.” Esse produto “exógeno” não se instalou pacificamente, se é que alguma vez se instalou de forma consistente. De resto D. Manuel Clemente, precisamente na conferência Portugal, 1810, 1910, 2010, notou que a “ implantação do nosso liberalismo, a partir de 1820, também não foi linear, significando, por exemplo, a extinção das congregações religiosas e a reconstituição da Igreja no quadro do constitucionalismo”. Já 1910 correspondeu à vitória de um movimento revolucionário que, mesmo tendo sido feito em nome da liberdade e da universalidade dos direitos fundamentais, deu origem a um regime onde, na prática, um partido radicalizado e jacobino tentou impor a sua vontade aos portugueses. O regime que nasceu do 5 de Outubro acabaria, por isso, por não durar senão 16 conturbados anos, tendo conhecido quase meia centena de governos e muita violência política, que passou até pelas mortes violentas de um Presidente da República e de um primeiro-ministro. Portugal Hoje Para além da crise | 9 Em 2010-2011 os tempos têm-se revelado mais tranquilos – Portugal soube ultrapassar a violência política e demonstrou saber, nas urnas, encontrar soluções para os problemas de legitimidade política e de consensos alargados – mas mesmo assim inquietantes. Nestas conferências foi, de resto, possível antecipar algumas das grandes questões cuja resposta preocupou os portugueses nos meses que se seguiram. Preocupou e preocupa, pois quando o tempo político voltou a acelerar – a seguir à tomada de posse do Presidente da República – tornou-se necessário enfrentar muitos dos bloqueios e desafios que já tinham sido identificados nas conferências do IEP em 2009 e começar a olhar para um futuro “para além da crise”. Neste volume reunimos alguns dos contributos de diferentes conferencistas para este ciclo de debates. A sua leitura permite comprovar que, para lá da espuma dos dias e da urgência dos noticiários, há temas que não só permanecem como há caminhos que permanecem inexplorados. A virtude destas contribuições é que elas não se tornaram obsoletas depois de duas eleições – as presidenciais e as legislativas – e de uma alternância de poder, pois incidem sobre problemas de fundo que não se ultrapassam com um estalar de dedos. Daí que a sua leitura se mantenha absolutamente actual, actual devendo permanecer por muito tempo pois olham para as grandes tendências de fundo de um país capaz de, em 2010, se rever, sem dificuldade, nas dores e nas esperanças de 1810 ou de 1910. Nas crises, mas também para além das crises. Não é possível terminar esta introdução sem evocar a memória do Dr. Diogo Vasconcelos, que honrou este ciclo com a sua presença como conferencista num dos debates e que, tristemente, nos deixou de surpresa em Julho passado. O Dr. Diogo Vasconcelos, antigo aluno do Instituto de Estudos Políticos e professor convidado do Instituto de Estudos Europeus, era uma personalidade vibrante cuja intervenção na vida pública ficou marcada pelo seu dinamismo e espírito pioneiro em muitas áreas. Dedicou grande parte da sua vida profissional, a nível nacional e internacional, à promoção da inovação em todas as suas vertentes tendo, nos anos mais recentes, promovido especialmente o que designava por inovação social, isto é, por novas formas de organização dos serviços públicos capazes de devolverem aos cidadãos mais autonomia e mais poder. O seu desaparecimento súbito – e precoce – entristeceu todos quantos tiveram o privilégio de o conhecer.