Uma dos dogmas da Igreja mais mal
compreendidos hoje em dia é o da Imaculada
Conceição da Santíssima Virgem Maria.
Um dogma é uma verdade de fé que deve ser crida
por todo cristão (como a Triunidade de Deus, a
inerrância da Escritura, etc.). Assim, todo cristão
deve crer na Imaculada Conceição.
Mas o que significa "Imaculada Conceição"? Ao
contrário do que muitos pensam, não é o fato de
Jesus ter nascido sem que Nossa Senhora
perdesse a virgindade; isso é a Virgindade
Perpétua de Nossa Senhora, não sua Imaculada
Conceição.
A Imaculada Conceição é o fato de nossa Senhora
ter sido concebida sem Pecado Original, não
tendo jamais pecado nem tido vontade de pecar.
O Pecado Original é aquilo que herdamos de nossos
pais, e eles de seus pais, etc., até Adão. Desde que
Adão e Eva escolheram dizer "não" a Deus,
pecando por soberba ao quererem ser deuses no
lugar de Deus, seus descendentes carregam esta
"doença genética", transmitida de pai para filho. Os
efeitos do Pecado Original são: na alma a tendência
a fazer o mal e a inimizade para com Deus; no corpo
a doença, velhice, e finalmente a morte.
Nossa Senhora foi salva no instante mesmo de sua
concepção, no instante em que a alma criada por
Deus era infusa no embrião gerado naquele instante
de maneira totalmente normal por S. Joaquim e
Sant'Ana, os pais da Santíssima Virgem. Ela foi
preservada do Pecado Original, sendo salva não da
maneira comum (pelo Batismo), mas de maneira tal
que a preservou de cometer pecados ou sequer
desejar cometê-los, ficar jamais doente, etc.
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Podemos comparar esta diferença a uma outra
situação: se uma pessoa cai em um poço e alguém vai
e a tira de lá, esta pessoa foi “salva” pela que a
tirou. Se, porém, esta pessoa está caindo no poço,
está à beira do poço pronta para cair e alguém a
segura com força e a puxa para fora, impedindo que
caia, podemos também dizer que ela foi “salva” por
quem a puxou. Nossa Senhora foi salva como quem é
“salvo” de cair no poço, ao invés de ser salva como
quem já caiu dentro dele, sujou-se todo e se
machucou (o que é o nosso caso).
Isto era necessário, por uma razão muito simples:
Deus a preparou, a "planejou", por assim dizer,
desde a queda de Adão para carregar a Deus em seu
ventre (Gn 3,15). Seu Filho não era um menino
qualquer que depois "virou Deus"; Ele era, Ele é
Deus desde sempre. A partir de Sua concepção na
Virgem Maria pelo Espírito Santo (Lc 1,31), Ele
tomou a nossa natureza humana, sem perder a Sua
natureza divina, e a segunda Pessoa da Santíssima
Trindade fez-se homem; "O Verbo se fez Carne, e
habitou entre nós" (Jo 1,14).
Como já vimos, o Pecado Original é transmitido de
pai para filho (ou de mãe para filho...). Jesus, sendo
Deus, não poderia jamais ser ao mesmo tempo Seu
próprio inimigo, ser ao mesmo tempo alguém que,
como nos explica São Paulo, é escravo do demônio
(Hb 2,14-15) , por tender ao pecado em virtude das
conseqüências do Pecado Original. "Ora", poderia
dizer alguém que nega a Imaculada Conceição, "mas
Jesus poderia transformar o Seu próprio corpo e Sua
própria alma para arrancar destes o Pecado Original,
ou simplesmente impedir que ele fosse transmitido".
Isso, porém, não faria sentido: Em Ex 25,10-22, nós
vemos o cuidado de Deus nas instruções para a
preparação da Arca da Aliança, destinada a portar as
Tábuas onde Deus escreveu a Lei dada a Moisés (Dt
2
10,1-2). Para portar a Palavra de Deus, Ele
manda que os homens façam uma arca de
maneira muitíssimo cuidadosa e detalhada, de
ouro e madeira de acácia, materiais nobres e
puros. Esta Arca não pode sequer ser tocada
por mãos impuras! Em 2Sm 6,6-7, vemos como
Oza, filho de Abinadab, percebe que os bois que
carregavam o carro da Arca tropeçaram e a apara
com as mãos; ele cai morto, fulminado no ato!
O que Deus não faria então para preparar aquela
que portaria não uma criatura de Deus (Sua
Palavra), mas o próprio Senhor em seu ventre,
aquela cujo sangue alimentaria o Verbo feito
Carne, cujo leite nutriria a Deus feito homem? Se
tocar a Arca que continha a Palavra bastava para
matar uma pessoa bem-intencionada, que queria
apenas impedir que ela caísse ao chão e se
sujasse, será que Cristo poderia ser concebido
e Se desenvolver em um útero impuro e
escravizado ao demônio pelo Pecado
Original?!
Vemos como A Santíssima Virgem foi
preservada do Pecado Original também em Lc
1,28, quando o Anjo Gabriel chega a Nossa
Senhora e a saúda com as palavras "Ave, cheia
de graça, o Senhor é convosco; bendita sois vós
entre as mulheres". Como alguém que fosse um
escravo do demônio, alguém que peca e tornará a
pecar, poderia ser "cheia de graça"? Além disso,
a reação de Nossa Senhora também é muito
diferente da reação, que pode ser vista no mesmo
capítulo, de Zacarias à chegada de um anjo:
enquanto Nossa Senhora não se assusta nem um
pouquinho, e medita sobre as palavras que o anjo
disse, Zacarias fica perturbado e com medo
antes mesmo do anjo falar. O que Zacarias faz
não é estranho; é essa a reação de todos os que,
carregando em seu corpo e em sua alma o Pecado
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Alguns, para negar este dogma, dizem que Nossa
Senhora não teria cumprido (Lc 2,22) os rituais de
purificação, que incluem uma oferenda pelo
pecado (Lv 12,2-8), caso fosse mesmo preservada
do Pecado original por Deus. Ora, o Evangelista
nos diz que "foram concluídos os dias da
purificação de Maria segundo a Lei de Moisés"(Lc
2,22), não que ela tivesse realmente ficado impura
ou pecado (o pecado que precisava de um
sacrifício para purificação é a promessa
inconsciente que toda mulher faz em meio às dores
do parto: nunca mais ter outro filho. Ora, a dor do
parto é, como vemos em Gn 3,16, outra
conseqüência do Pecado Original). Nossa Senhora
fez o sacrifício para submeter-se à Lei, como
Cristo o fez (Gl 4,4), apesar de não precisar (Cf.
Mt 17,23-26): para não ser causa de escândalo (Mt
17,26) e dar exemplo de obediência, para que
saibamos que devemos obedecer à Lei de Cristo
como Ele obedeceu à de Moisés.
Outros dizem que a frase de São Paulo em Rm
3,23 ("todos pecaram") seria também aplicável à
Santíssima Virgem, que teria assim pecado. Ora,
se assim fosse, Nosso Senhor Jesus Cristo
também teria pecado... Além disso o mesmo
Apóstolo, na mesma Epístola, refere-se aos que
não pecaram, em Rm 5,14. Muitos outros exemplo
podemos encontrar de uso desta expressão
generalizante ("todos pecaram") sem que seja
realmente todos, sem exceção: em Mt 4,24, diz-se
que "trouxeram-Lhe todos os que tinham algum
mal", mas dificilmente todos os doentes da Síria
teriam ido à Galiléia, passando por montanhas e
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desertos; em Jo 12,19, diz-se que "todo o
mundo vai após" Jesus; será que realmente
todas as pessoas, sem exceção, O seguem?
Quem dera! Do mesmo modo, em Mt 3,5-6,
vemos que a gente de "toda a Judéia e toda a
terra dos arredores do Jordão" ia ser batizada
por São João Batista; será que todos, inclusive
Herodes, Rei da Judéia, que depois o mandou
matar, todos os fariseus e saduceus, todos,
sem exceção, foram ser batizados por São
João? Será que "todo o povo" (Mt 27,25), sem
exceção, assumiu a responsabilidade da morte
de Cristo? Será que "todo o povo" que morava
perto do mar (Mc 2,13) ou que vivia na
Cesaréia de Filipe (Mc 9,14) foi ouvir a Cristo,
sem ficar nem unzinho em casa?
Dificilmente. Assim, além da exceção já
evidente de Cristo na expressão generalizante
usada por São Paulo em Rm 3,23 ("todos
pecaram"), vemos que o uso desta palavra
para significar "a maioria", ou "quase
todos", não é restrito de modo algum a esta
frase.
O que podemos dizer então, senão o que disse
o Anjo a Nossa Senhora?
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é
convosco; bendita sois vós entre as
mulheres...
Internet: http://members.xoom.com/profcarlos/
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Autor: Professor Carlos Ramalhete - por favor copie e divulgue
Original, vêem-se face-a-face com um anjo;
podemos ver, por exemplo, que esta é a
mesmíssima reação que têm os pastores a quem o
anjo anuncia o nascimento de Cristo (Lc 2,9).
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