ESCOTISMO EM CAÇADOR (SC). HISTÓRIA DE UMA INSTITUIÇÃO EXTRA-ESCOLAR Nilson Thomé1 Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP Universidade do Contestado Campus de Caçador – UnC-Caçador RESUMO Este estudo é pioneiro e inédito no âmbito do Movimento Escoteiro na cidade de Caçador, Estado de Santa Catarina, elaborado para proporcionar uma “História” ao surgimento do Grupo Escoteiro Pindorama, uma organização extra-escolar criada no ano de 1960 pela Congregação dos Irmãos Maristas junto ao Colégio Aurora, para complemento à educação formal em sala de aula. O estudo faz parte das investigações do autor sobre a História das Instituições Escolares na Região do Contestado (Meio-Oeste de Santa Catarina), que integram sua pesquisa para doutoramento em Educação na UNICAMP. As fontes que municiaram a pesquisa são constituídas pelo conjunto da documentação interna da Instituição, livros de atas e registros de atividades, pastas e arquivos, pela consulta à bibliografia referente à Congregação dos Irmãos Maristas no Brasil, na região e, especificamente, em Caçador, e referente ao Escotismo no mundo e no Brasil – disponível na Rede Internet – por depoimentos de ex-alunos e ex-escoteiros, por documentos que tratam da educação escolar em Santa Catarina, material este que somase aos testemunhos pessoais do autor – ex-aluno e ex-professor do Colégio Aurora, enquanto marista, e membro-fundador do Grupo Escoteiro Pindorama. No levantamento do estado da arte, o autor ainda não encontrou estudo parecido com este sobre outros grupos surgidos no interior de estabelecimentos de ensino em Santa Catarina. ABSTRACT This study he is pioneering and unknown in the scope of the Escoteiro Movement (Scouting for Boys) in the city of Hunter (Caçador), State of Santa Catarina, elaborated to provide a "History" to the sprouting of the Group Escoteiro Pindorama, a created extrapertaining to school organization in the year of 1960 for the Congregation of Together the Maristas Brothers to the College Dawn, for complement to the formal education in classroom. The study it is part of the inquiries of the author on the History of the Pertaining to school Institutions in the Region of the Contested one (Half-West of Santa Catarina), that they integrate its research for doutoramento in Education in the UNICAMP. The sources that municiaram the research are constituted by the set of the internal documentation of the Institution, act books and registers of activities, folders and archives, for the consultation to the referring bibliography to the Congregation of the Maristas Brothers in Brazil, the e region, specifically, Hunter, and referring to the Escotismo in the world and Brazil - available in Net InterNet - for depositions of former-escoteiros formerpupils and, for documents that deal with the pertaining to school education in Santa 1 Catarina, material this that it adds if the certifications staffs of the author - former-pupil and former-professor of the College Dawn, while marista, and member-founder of the Group Escoteiro Pindorama. In the survey of the state of the art, the author still did not find study similar to this on other groups appeared in the interior of educational establishments in Santa Catarina. PALAVRAS-CHAVES Instituições Escolares. Escotismo. Santa Catarina. Caçador. História. KEYS-WORDS Pertaining to school institutions. Santa Catarina. Casador City. History. INTRODUÇÃO A data de 3 de setembro de 2005 assinalou o transcurso do 45º aniversário de fundação do Grupo Escoteiro Pindorama, da cidade de Caçador, cronologicamente o 11º movimento do gênero organizado no Estado de Santa Catarina. A data aproximou-se, também, da marca do 66º aniversário de criação do Grupo Escoteiro Marechal Guilherme, que surgiu em Caçador a 25 de agosto de 1939 e teve vida efêmera de poucos anos. O primeiro – que não existe mais – surgiu por inspiração de políticos, autoridades e militares, pouco depois da decretação do Estado Novo (10 de novembro de 1937). O segundo – em plena atividade – teve origem no interior do Colégio Aurora, por iniciativa da congregação religiosa dos Irmãos Maristas. Ambos nasceram para proporcionar formas alternativas de educação à juventude caçadorense, com maior valorização às questões ligadas à cidadania, à observação da natureza, ao respeito aos princípios de moral e cívica, e à formação do caráter. No Brasil, a instituição, tida como extra-escolar, do Escotismo, pela sua natureza, enquadra-se historicamente entre as instituições escolares destinadas a complementar a educação formal nos estabelecimentos de ensino, muito em voga no Brasil após o Estado Novo de 1937, com ênfase após a Redemocratização de 1946, como: clubes agrícolas, 2 pelotões de saúde, jornais e murais, ligas de bondade, ligas pró-língua nacional, bibliotecas, círculos de pais e professores, associações de pais e ex-alunos, clubes de leitura, grêmios estudantis, etc. Assim, o Escotismo é reconhecido no país como uma instituição extra-escolar. No prefácio do livro “Educação Moral e Cívica”, destinado aos alunos do então 1º Grau, a autora, Lourdes Lucia de Bortoli Groth escreve: A você, estudante: [...]. Você estudará Moral e Civismo de uma forma diferente e agradável, através de métodos modernos. Para acompanhá-lo em seu curso escolhemos os escoteiros, pois eles agem sempre com total respeito à Moral e ao Civismo. Além disso, o escotismo é reconhecido por Decreto Federal como uma instituição de educação extraescolar. [...]. Escotismo – Educação Extra-Escolar. Por Decreto Federal, o escotismo no Brasil foi reconhecido como instituição destinada à educação extra-escolar (GROTH, 1979, p. 1 e 10). A exemplo de um estudo anterior que apresentamos ao HISTEDBR sobre a História do Colégio Aurora, aqui, para compor este trabalho, também elegemos apenas os principais marcos evolutivos e caracterizadores do Movimento Escoteiro, sabendo que há campo para se escrever muito mais sobre ele. Assim, consideramos este artigo uma singela contribuição aos trabalhos de resgate da memória histórica da juventude estudantil caçadorense e do Contestado, especificamente na área da Educação. ESCOTISMO & HISTÓRIA Presente em Caçador no ano de 2005 com o Grupo Escoteiro Pindorama2, o Escotismo é um movimento educacional de jovens, com a colaboração de adultos, voluntário, sem vínculos político-partidários, que valoriza a participação de pessoas de todas as origens sociais, raças e crenças, de acordo com o propósito, os princípios e o método escoteiro concebidos pelo seu fundador, o general inglês Baden Powell. ESCOTISMO: [...] O escotismo é, essencialmente, método educacional e forma de vida. [...]. Após quase sessenta anos de vida, com milhões de adeptos em todo o mundo, o escotismo continua em plena expansão, apesar das duas guerras mundiais e da violenta hostilidade que sofreu dos governos totalitários. Seu valor educativo, demonstrado nestes decênios, estriba-se essencialmente no seu realismo sadio, tomando o menino e o rapaz, tais quais eles são e no seu idealismo sincero, apresentando como metas o domínio de si mesmo e a dedicação aos outros, através de uma vida simples e plena de contato com a natureza (ÁVILA, 1967, p. 196-197). 3 O Propósito do Movimento Escoteiro a nível mundial é contribuir para que os jovens assumam seu próprio desenvolvimento, especialmente do caráter, “ajudando-os a realizar suas plenas potencialidades físicas, intelectuais, sociais, afetivas e espirituais, como cidadãos responsáveis, participantes e úteis em suas comunidades, conforme definido pelo seu projeto educativo” (Consulta a [www.escotismo.com.br] em julho de 2005). Internacionalmente, o conceito de escotismo expressa que é um movimento educacional para jovens sem fins lucrativos, com a participação de adultos voluntários. Fundado pelo militar inglês Baden-Powell em 1907, e praticado por milhares de jovens por todo o mundo. Busca o desenvolvimento físico, mental, social, espiritual de caráter e afetivo dos seus participantes através de um sistema de educação informal, baseado em atividades práticas (o chamado Aprender Fazendo) e na vida mateira. É organizado internacionalmente pela Organização Mundial do Movimento Escoteiro (OMME). Apesar de se assumir como um movimento sem vínculos políticoreligiosos, existem grupos vocacionados para determinadas confissões religiosas.3 Conforme prega o aficcionado escoteiro “Falcão Peregrino” – e isso pode ser observado na internet – o movimento objetiva preparar os jovens-modelos para a vida social, dentro de determinados valores e princípios. Diz ele que se deseja que os jovens que tenham sido escoteiros façam o seu melhor possível para ser: - Um homem ou uma mulher reto de caráter, limpo de pensamento autêntico em sua forma de agir; leal, digno de confiança; - capaz de tomar suas próprias decisões, respeitar o ser humano, a vida, e o trabalho honrado; alegre, e capaz de partilhar sua alegria; leal ao seu país, mas condutor da paz, em harmonia com todos os povos; - líder a serviço do próximo; - Integrado ao desenvolvimento da sociedade, capaz de dirigir, de acatar leis, de participar, consciente de seus direitos, sem se descuidar de seus deveres; - forte de caráter, criativo, esperançoso, solidário, empreendedor; - amante da natureza, e capaz de respeitar sua integridade; - guiado por valores espirituais, comprometido com seu projeto de vida, em permanente busca de Deus e coerente em sua fé; - capaz de encontrar seus próprios caminhos na sociedade e ser feliz4. O Escotismo é uma organização mundial de voluntariado, de educação extraescolar voltada para jovens, com a colaboração espontânea de adultos, sem vínculos político-partidários, que valoriza a participação de quaisquer pessoas, de acordo com a idealização de Baden Powell. A organização, que complementa a função da família, da escola e da religião, desenvolvendo para o jovem o caráter, a personalidade e a boa cidadania, hoje enquadrada no chamado “Terceiro Setor” da sociedade, objetiva 4 desenvolver um comportamento baseado em valores éticos, por meio da vida em equipe, do espírito comunitário, da liberdade responsável e do estímulo ao aprimoramento da personalidade, quer no campo individual, quer no campo coletivo. BADEN POWELL, O FUNDADOR DO MOVIMENTO Robert Stephenson Smith Baden Powell, sexto filho de um eclesiástico, professor em Oxford, nasceu em Londres, Inglaterra, a 22 de fevereiro de 1857. Seu pai veio a falecer quando o menino tinha 3 anos de idade, deixando sua mãe e seus sete filhos. Robert fez seus estudos em uma escola pública chamada Charterhouse em Londres, onde era muito popular e querido por todos, colegas e professores. Nas férias ele sempre aproveitava para acampar com seus irmãos mais velhos. Desde sua infância era grande seu amor pela aventura e pela natureza. Em 1876, quando terminou seus estudos secundários, Baden Powell ingressou no Exército. Como oficial de carreira viajou muito, conhecendo grande parte do mundo. Durante suas viagens, conheceu tribos de guerreiros da África, vaqueiros americanos e conviveu com índios da América e do Canadá. Por seus grandes feitos e suas habilidades lhe chamavam de “Impisa” que significava “lobo que nunca dorme”. Conta-se que tudo começou durante a Guerra do Transval em 1899. Baden Powell comandava a guarnição do entroncamento ferroviário de Mafeking, cuja posse era de grande valor estratégico. A cidade foi durante meses vítima de ataques de forças inimigas muito superiores, e só se manteve graças à inteligência e coragem de seu comandante, cujas atitudes inspiravam a atuação de seus comandados. Como dispunha de poucos soldados, ele treinou todos os homens válidos da cidade para usá-los como combatentes e para os serviços auxiliares, primeiros socorros, comunicação, cozinha, etc., organizando um corpo de cadetes com adolescentes na cidade. As maneiras como os jovens desempenhavam suas tarefas, seus exemplos de educação, lealdade, coragem e responsabilidade, causaram grande impressão em Baden Powell e, anos mais tarde, este acontecimento teria grande influência na criação do escotismo. 5 Promovido ao posto de Major-General, Baden Powell, tornou-se muito popular nos olhos de seus compatriotas e lançou um livro, dirigido para militares – “Aids to Scouting” (“Subsídios para Reconhecimento”). Em 1907, com um grupo de vinte rapazes de 12 a 16 anos, Baden Powell foi para a Ilha de Brownsea, para realizar o primeiro acampamento escoteiro, onde e quando ensinou-lhes uma porção de coisas importantes: primeiros socorros, observação, técnicas de segurança para a vida na cidade e na floresta, etc. O sucesso do livro, não só diante do público militar, mas também frente ao público jovem5, o incentivou a reescrever uma versão chamada especialmente para rapazes. Em 1908, escreveu o seu manual de adestramento, o "Escotismo para Rapazes", em capítulos quinzenais que, inicialmente, foi publicado em fascículos e vendidos nas bancas de revistas e jornais. Os jovens ingleses se entusiasmaram tanto com o livro que ele resolveu organizar e fundar o Movimento Escoteiro. Em seguida, agora em 1910, Baden Powell compreendeu que o escotismo seria a obra que dedicaria sua vida, afastando-se do Exército e dedicando-se apenas ao Movimento, que, rapidamente, se espalhou por vários países do mundo. “Dois anos depois já havia 123 mil escoteiros espalhados nas nações que faziam parte do Império Britânico” (In: [www.escotismo.com.br], consulta em junho de 2005). Com isso, a Coroa Inglesa reconheceu a utilidade da organização, que prestou relevantes serviços ao país, colaborando nos esforços de mobilização e assistência em conflitos. Entre outras expressões, escreveu Baden Powell: "Escotismo, um alegre jogo ao ar livre. Uma escola de cidadania através da habilidade em assuntos de interesse dos jovens". "Todo o nosso plano se reduz a valermo-nos do caráter do rapaz quando está cheio de entusiasmo, para modelá-lo de uma forma convincente, alentando-o no desenvolvimento de sua individualidade para que possa educar-se a si, tornando-se um cidadão proveitoso ao país no dia de amanhã". "... compreendo quanto a vida é curta e quanto são vãs a cólera e as lutas políticas. A única coisa que vale a pena, é levar um pouco de felicidade à vida dos outros". "... A felicidade não vem da riqueza, nem do êxito que possa ter a nossa carreira, nem do alto conceito em que nos tenham. Dareis um grande passo para a felicidade se formardes um corpo vigoroso e são na juventude, para que possais ser úteis e viver felizes quando fordes homens". "Procurai deixar este mundo depois de o tornardes um pouco melhor do que o encontrastes. E, quando chegar a vossa vez de morrer, morrei felizes pensando que não perdestes o tempo, que fizestes o melhor que pudestes". 6 "... aprendeis a levar a felicidade aos outros. Não vos preocupeis com a vossa própria felicidade. Descobrireis que a felicidade só chega quando nos esforçamos por a levar aos outros" 6. Em 1920, no primeiro acampamento internacional que os escoteiros chamam de “jamboree”, realizado na Inglaterra, os vinte mil jovens presentes, representando 32 países, aclamaram Baden Powell, Chefe Escoteiro Mundial. Depois de vários anos de dedicação ao escotismo, viajando pelo mundo e fundando associações escoteiras em vários países, Baden Powell sentiu suas forças declinarem. Retirou-se então para uma pequena propriedade que possuía na África. Ali, na companhia de sua esposa dividia seu tempo entre a pintura, suas numerosas correspondências e as visitas de seus amigos. Ele faleceu na madrugada de 8 de janeiro de 1941, enquanto dormia. O ESCOTISMO NO BRASIL Em 1907, ano que o movimento escoteiro (Scouting for Boys) havia sido fundado, vários oficiais e praças da Marinha Brasileira estavam na Inglaterra e se impressionaram com esse novo método de educação complementar que Baden Powell havia idealizado. Entre eles estava o Sub-Oficial Amélio Azevedo Marques que ingressou seu filho, Aurélio, em um Grupo Escoteiro local sendo assim o primeiro escoteiro brasileiro, ainda que fora do país. O escotismo foi introduzido no Brasil em 1908, por intermédio desses marinheiros e oficiais de nossa Marinha, que trouxeram consigo uniformes escoteiros e o interesse de semear o movimento no Brasil. No dia 14 de junho de 1910 foi oficialmente fundado no Rio de Janeiro, o Centro de Boys Scouts do Brasil. A partir de 1914, surgiram em outras cidades vários núcleos, dos quais o mais importante foi a Associação Brasileira de Escoteiros, em São Paulo, fundada com o apoio de pessoas muito importantes. A ABE espalhou o movimento escoteiro por todo o país e, em 1915, já contava com representações na maioria dos Estados Brasileiros. Neste mesmo ano, uma proposta para reconhecer o escotismo como de Utilidade Pública resultou no Decreto do Poder Legislativo nº 3.297, sancionado pelo Presidente Wenceslau Braz em 11 de junho de 1917 que, no Art. 1º, estabelecia: “São considerados 7 de utilidade pública, para todos os efeitos, as associações brasileiras de escoteiros com sede no país”. O Movimento Escoteiro no Brasil, porém, “só veio a ganhar amplitude nacional com a fundação, em 1924, no Rio de Janeiro, da UEB - União dos Escoteiros do Brasil, que começou o processo de unificação dos diversos grupos e núcleos escoteiros dispersos no país. Trabalho que só foi consolidado por completo em 1950”. (In: [www.escotismo.com.br], consulta em junho de 2005). O escotismo é praticado no Brasil por pessoas físicas ou jurídicas autorizadas pela UEB7, como assegura a legislação, expressa no Decreto nº 5.497 de 23 de julho de 1928 e o Decreto-Lei nº 8.828 de 24 de janeiro de 1946. Desde sua fundação, a UEB é titular do registro internacional junto à Organização Mundial do Movimento Escoteiro (World Organization of the Scout Movement - WOSM), possuindo exclusividade para implementação, coordenação e prática do Escotismo no Brasil. O ingresso e a participação no escotismo é voluntária, sendo que a idade mínima para o ingresso é aos sete anos, não tendo limite máximo nem discriminação de raça ou sexo. Como é voluntário, todos os membros do movimento ficam responsáveis, cada um a seu nível, a cumprir os princípios, fins e métodos do escotismo8. O sucesso do Escotismo está baseado no seu método próprio. Ele vai de encontro aos anseios normais dos jovens, proporcionando maneiras atraentes de realizar seus desejos e aspirações, orientando-os, ao mesmo tempo, para finalidades socialmente úteis, por meio de jogos, costumes, tradições, trabalhos manuais, explorações, acampamentos, etc. Ramos escoteiros A família escoteira está organizada em “ramos”, que se distinguem por programas e atividades diferentes, dentro da mesma metodologia escoteira: a) Lobinho, para meninos e meninas de 7 a 10 anos, indistintamente denominados lobinhos; b) Escoteiro, para rapazes e moças de 11 a 14 anos, indistintamente denominados escoteiros; 8 c) Sênior, para rapazes e moças de 15 a 17 anos, indistintamente denominados seniores; d) Pioneiro, para rapazes e moças de 18 a 21 anos (incompletos), indistintamente denominados pioneiros. Nestes intervalos abertos, a passagem de um ramo para o seguinte pode ser feita quando o lobinho contar de 10 a 11 anos, o escoteiro de 14 a 15 anos e o sênior de 17 a 18 anos, levando em conta as características individuais de cada criança ou jovem. As meninas e moças, antes denominadas “Bandeirantes”, agora são consideradas “Escoteiras”. O ESCOTISMO EM CAÇADOR Existe nas referências históricas do “velho” Ginásio Aurora um vago registro de que, no ano de 1931, o 3º Sargento do Exército, Milton Moresqui, criou o primeiro Grupo de Escoteiros junto ao estabelecimento. Ele era seu professor de Educação Física e Instrutor da Escola de Instrução Militar nº 354 (depois Tiro de Guerra nº 568, mais tarde nº 172 e, hoje, Tiro de Guerra 005-006), que funcionava no mesmo prédio. O pequeno grupo de escoteiros – dois dos quais identificamos como tendo sido Domingos Paganelli e Laurindo Faoro – contou com a liderança da sra. Albina Mosconi, esposa do sr. Dante Mosconi – fundadores do Ginásio Aurora9 em 1928. Entretanto, o grupo não foi registrado oficialmente e esta iniciativa não teve prosseguimento mais alongado no tempo, paralisando anos depois. Segundo Domingos Paganelli10, este grupo nasceu para complementar a educação dos meninos no Ginásio Aurora, sendo que praticamente todas as crianças eram, paralelamente, alunas e escoteiras. “Até o uniforme era o mesmo”, explica ele, também lembrando que “era muito forte a influência do Intregralismo no Ginásio Aurora, onde quase todos os professores eram integralistas ‘de carteirinha’, pregando com muito ênfase as idéias de Plínio Salgado em sala de aula e nas atividades de escotismo, isso até por volta de 1937 ou 1938” 9 Em 1938, diante do desencadeamento da “Campanha da Nacionalização” no Governo Vargas, atingindo indistintamente todos os estrangeiros, agora considerados “inimigos do país”, principalmente italianos e alemães, Dante Mosconi vendeu o Ginásio Aurora para a Congregação dos Irmãos Maristas, que chegaram em Caçador e assumiram o estabelecimento no início de 1939. E foi em seguida, que outro movimento escoteiro no Município de Caçador nasceu neste ano de 1939, agora por iniciativa da sociedade civil, liderada pelo jornalista Cid Gonzaga, depois de transferir residência de Porto União para Caçador e de ter lançado aqui o seu jornal “A Imprensa”, este também de lá transferido. O jornal era semanário e já estava no quinto mês de funcionamento, quando estampou em primeira página, a seguinte informação: Caçador terá escoteiros. Annexo aos escoteiros virão as jovens bandeirantes. Será instructor da tropa o Tte. Eloy Mendes. Podemos garantir aos pequenos cidadãos de Caçador e seus respectivos paes que em bréve será creado nesta cidade um batalhão de escoteiros (A Imprensa, 25 junho 1939, ed. nº 19). Eloy Mendes era 1º Tenente da Força Pública de Santa Catarina 11 e Delegado Especial de Policia de Caçador. Na seqüência, duas semanas depois, o jornal estampou novo anúncio: “Aos jovens de Caçador de 10 a 17 annos de idade fazemos ciente que na Redação d’A Imprensa está aberta a inscripção para a formação do grupo local de escoteiros”. (A Imprensa, 9 julho 1939, ed. nº 21). Aqui, o registro da investidura do primeiro grupo12, no dia 25 de agosto de 1939: Teve invulgar solennidade este ano o Dia do Soldado. O Tiro de Guerra 568 annexo ao Gymnasio Aurora, jurou bandeira. À direita do batalhão gymnasial formou o grupo de escoteiros, que também jurou bandeira neste dia. As 4 horas, o chefe Cid, a convite do Sargento Siqueira, deferiu o juramento a 26 escoteiros ahi formados de frente do pavilhão da pátria, acompanhado da sua guarda. Sgt Instructor Benedicto Siqueira, na esplanada do Gymnasio (A Imprensa, 27 agosto 1939, ed. nº 28). Ainda segundo “A Imprensa”, na sua edição de 16 de setembro de 1939, mais adiante inscreveram-se como candidatos, 53 meninos, sendo que, no dia 13 de setembro compareceram ao campo de exercícios 45 noviços. A procura aumentou e, no dia 15, 10 foram levados à inspeção de saúde 55 meninos, considerados aptos à incorporação. O médico Dr. Campello de Araújo (que realizou os exames médicos) e o tabelião local sr. Manoel Siqueira Bello, ofereceram um pavilhão nacional para ser hasteado na Caserna, que passou a ter, no seu pórtico, a legenda “Aqui se agrupam as esperanças da Pátria”. O primeiro Chefe era, justamente, o jornalista Cid Gonzaga. O jornal “A Imprensa”, na ed. n. 34 de 08/10/1939, noticia que, na quarta-feira, 5 de outubro, esteve em visita a Caçador o chefe escoteiro13 sr. Benjamin Bocchi, da Federação Brasileira de Escoteiros de Terra do Paraná e Santa Catarina, acompanhado do chefe Antonio Tauile, de Porto União14. Esta visita foi fundamental para que, no dia 16 de outubro, o grupo recebesse o Registro nº 53 na Federação, com o nome oficial de “Tropa Marechal Guilherme Xavier de Souza”. A denominação homenageou esta personalidade brasileira que alcançou a patente de Marechal-de-Campo e foi Presidente da Província do Rio Grande do Sul de 14 de julho a 1º de agosto de 1868, dois anos antes de seu falecimento. Conhecido como Marechal Guilherme15, ele foi substituto interino do Marquês de Caxias no comando do Exército na Guerra do Paraguai, depois que Caxias entrou em Assunção e retornou ao Brasil e foi elevado a Duque. Neste período também foi organizado o primeiro grupo de Bandeirantes16, sendo eleita sua diretoria: Presidente, Alba Allet Bello (esposa de Manoel Siqueira Bello); Secretária, Itália Bittencourt; Tesoureira, Ida Lopes (esposa de Aristeu Porto Lopes); e Chefe do grupo, Professora Honória Souza, do grupo Escolar Paulo Schieffler (depois esposa de Reovaldo Leão). Na seqüência, já em janeiro de 1940, foi oficialmente organizada a Associação de Bandeirantes Delminda Silveira17, sendo nomeada Chefe a Srta. Nayá Gonzaga, filha do jornalista Cid Gonzaga (depois esposa de Moacir Sampaio). No dia 12 de novembro de 1939, a tropa realizou interessante “prova escoteira”: a patrulha18 de pioneiros, vinda pela margem direita do Rio do Peixe, tentaria atravessar material de contrabando para o centro da cidade, passando pelas outras patrulhas, que 11 guarneceriam a margem esquerda. Não há notícia ou informações sobre o resultado da travessia. Em novembro, realizou-se grande concentração regional de escoteiros em Porto União, para festejar a Semana da Pátria, sob organização do Chefe Tenente Tauille. De Caçador, sob o comando do Chefe Clemenceau Amaral (militar), seguiram três patrulhas, com o total de 30 meninos. Lá, o escoteiro Claudino Vezaro foi condecorado por ter se machucado e, mesmo assim, participado do evento19. No retorno do grupo, o sr. Carlos Sperança ofereceu um terreno de sua propriedade, localizado à Rua 25 de março (na parte elevada da atual Avenida Barão do Rio Branco) para a construção da sede própria da Associação Marechal Guilherme; e, como Prefeito Municipal, prometeu também liberar recursos da Prefeitura para o início das obras. Porém, nada disso veio a acontecer. No Natal de 1939, as bandeirantes pioneiras realizaram aquele que ficou conhecido como o primeiro “Natal dos pobres” na cidade de Caçador. Uma campanha angariou recursos no comércio e na indústria, com o que foram adquiridos 500 pacotes de doces e presentes, para distribuição a menores e a famílias carentes, no dia 24 de dezembro. O grupo escoteiro ganhou a simpatia da sociedade caçadorense. A cronista Laurita escreveu no jornal, sob o título “O Escotismo”: Com orgulho digo que o movimento de entusiasmo que o escotismo vae tendo em Caçador é digno de ser admirado pela disciplina e galhardia que apresentam os pequenos cow-bois. Estimulando na medida do possível o escotismo em nossa terra, prestaremos um relevante serviço á infancia e a essa argila frágil que em mãos humanas bem intencionadas poderão ser moldadas para o bem, para os sentimentos puros de nacionalização e patriotismo (A Imprensa, 28 janeiro 1940, ed. nº 50). De 22 de janeiro a 2 de fevereiro, sob o comando do Chefe Arthur Schneider, a Tropa Marechal Guilherme esteve em São Paulo, participando de grande acampamento nacional “AJURI”, representando a Federação de Escoteiros do Paraná e Santa Catarina. A delegação caçadorense foi formada pelos escoteiros: Celso Sordi, Luiz Busato e José Nilo Kerber (Banda de Tambores), Francisco Busato e Ephigenio Carneiro (PortaBandeiras), Eleri Costa Ciffro e Edgar Swaroski (Monitores), Luiz Paganelli e Gilberto 12 Pereira Gomes (Sub-Monitores), Nayá Gonzaga, Ondina Veloso e Uda Carneiro (Bandeirantes), mais os escoteiros Nilo Bello Clinio Santos, Josino Santos, Dario Reichmann, Lauro de Paris, João Rodrigues, Manoel Pinheiro, João Agostinho da Luz e Claudino Vezaro.20 Regressaram de S. Paulo no dia 3, as patrulhas da associação escoteira [...]. Ás 1,30 apontou na chave a locomotiva que puxava o carro especial e debaixo de aclamações e foguetes desembarcou a tropa fazendo continência ao Chefe Cid que na porta da plataforma, com uma patrulha de escoteiros e lobinhos, aguardava o desembarque. O chefe Schneider fez a formatura e marcha á caserna, onde foram recolhidos tambores, bandeiras, bastões e a tropa se dispersou” (A Imprensa, ed. nº 51, 4 fevereiro1940). Substituindo o sr. Carlos Sperança, em janeiro de 1940 assumiu a titularidade da Prefeitura Municipal de Caçador o 1º Tenente Mário Fernandes Guedes, da Força Pública Estadual, que governou o Município até 2 de abril, quando o Governador do Estado, Nereu Ramos, nomeou para ser novo Prefeito o Tabelião da Comarca, sr. Manoel Siqueira Bello. A partir de maio de 1940, não se têm mais notícias das corporações, de escoteiros e de bandeirantes. Os agrupamentos teriam se dissolvido logo em seguida à partida de Caçador do Chefe Clemenceau Amaral. ESCOTISMO X JUVENTUDES HITLERISTA E INTEGRALISTA Estamos propensos a crer que o movimento escoteiro foi duramente prejudicado no Brasil logo após a decretação do Estado Novo, a 10 de novembro de 1937 e, com mais intensidade, com as campanhas de nacionalização do ensino, empreendidas pela ditadura na Nação e pelos interventores estaduais, entre 1939 a 1943, atingido que teria sido pelas muitas similaridades do Escotismo com o movimento da Juventude Hitlerista (Hitlerjugend) no Brasil21. Em 1938, foram vedadas aos estrangeiros as práticas e atividades políticas no Brasil, com o que as organizações teuto-brasileiras passaram a atuar na clandestinidade. Justamente por ser uma organização similar, as autoridades da segurança nacional teriam desestimulado o Movimento Escoteiro nos moldes em que vinha acontecendo. 13 Em documento datado de 29 de novembro de 1937 (menos de vinte dias após a decretação do Estado Novo por Getúlio Vargas), em Porto Alegre, membros da então já camuflada “Juventude Hitlerista no Brasil”, sob a sigla “U.d.J.T.B.”, publicaram um manifesto, intitulado “Objetivos e Obra da União da Juventude Teuto-Brasileira”, documento que sugere a aproximação entre a JH e os escoteiros. Vejamos: Acampamentos, raids, atletismo, educação teórica em reuniões semanais, cultivo de música e cantos em geral, como a arte de ofícios, são os meios eficazes desta educação. Os acampamentos e raids nos fazem conhecer a grandeza do Brasil, a sua magnífica natureza, nos levam ao interior para travar relações com a população dos campos, da colônia e conhecer seus costumes. O atletismo torna a juventude robusta e sadia, preparada para a luta das armas e da vida. [...]. A Juventude Teuto-Brasileira está organizada em quatro regiões: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro. As corporações locais são dividas em grupos pequenos de 10 a 12 jovens, masculinos ou femininos, nas idades de 8 a 14 e de 15 a 20 anos. [...]. A U.d.J.T.B. é uma agremiação puramente brasileira. Não tem ligações com quaisquer grupos políticos ou sociedades e especialmente não é ligada a organizações alemãs. Como mantemos relações muito amistosas com os “Escoteiros do Mar”, também as mantemos com outras agremiações de juventude, entre outras com os escoteiros da Argentina, do Uruguai e da Alemanha. Temos aproveitado algumas experiências destas corporações, mas nunca tentamos implantar em nossa estrutura cousas estranhas ao ambiente de nossa Pátria (In: PY, 1942, p. 262). O grifo é nosso. Na repressão policial aos nazistas, a 8 de maio de 1939, o jovem Armínio Hufnagel, de 23 anos, residente em Porto Alegre, um dos chefes da Juventude Hitlerista no Brasil, foi detido pela polícia do DOPS, quando, interrogado sobre seu envolvimento, entre outras respostas, declarou: “...a contar do ano de 1932, o declarante era apenas sócio ativo, gozando de todos os direitos que lhe eram concedidos pelos regulamentos e participando de todas as reuniões, festas e acampamentos realizados pela referida “União da Juventude”, que, em junho de 1935, o declarante fez parte de um grupo de escoteiros, membros da “Juventude Teuto-Brasileira” e em n´[úmero de quinze rapazes, todos chefiados pelo dr. Hans Neubert, para o fim de empreenderem uma viagem à Alemanha, atendendo a um convite do chefe da “Juventude Hitlerista”... [...]. ...que, chegados à cidade de Berlim, foram logo encaminhados para um grande acampamento de barracas, onde permaneceram pelo espaço de quatorze dias, recebendo as mais variadas instruções militares; que o número de escoteiros presentes em tal acampamento atingia a dois mil e quinhentos mais ou menos... [...]. (In: PY, op. cit., p. 263). Os grifos são nossos. 14 Já a 3 de outubro de 1939, o mesmo jovem Armínio Hufnagel, novamente interrogado por policiais do DPS/RS, apresentou vínculos mais estreitos entre escoteiros e jovens hitleristas, constando em seu depoimento: Veio a residir em Porto Alegre no ano de 1932, procurando imediatamente contato com escoteiros e indo enfileirar-se na “Deutsch Jungenschaft”, um departamento de escoteiros do Turnerbund; que em fins do anos de 1933 surgiu em Porto Alegre uma nova organização, que se denominava “Deutsche Jungenschaft” [...]; que a nova organização se distinguiu muito das associações congêneres daquela época, porque pregava sobretudo a conservação da raça e do sangue germânico e manutenção estrita da língua e dos costumes dos antepassados; que esta nova organização juvenil não entra outra cousa que um reflexo do desenvolvimento do Partido Nacional-Socialista, que naquela época estava de instalando na Alemanha e por todo o mundo afora; [...] que devido à grande influência que Erwin Wener Becker exercia sobre os escoteiros de seu grupo, conseguiu arrastar para a “Deutsche Jungenschaft” mais ou menos quarenta escoteiros pertencentes ao Departamento de Turnerbund, resultando o fechamento deste departamento por falta de membros. (In: PY, op. cit., p. 268). Os grifos são nossos. Um destes congressos internacionais de jovens nazistas, conhecidos como “Congresso da Juventude Hitlerista”, aconteceu em Nürenberg, em setembro de 1937, com o grupo brasileiro sendo prestigiado pelo Dr. Goebbels, Ministro da Propaganda de Hitler, que o recebeu em audiência. Houve três excursões do gênero à Alemanha até fins de 1939. Os principais representantes da Juventude Hitlerista no Brasil, que para lá iam a convite, com todas as despesas pagas pelo governo alemão recebiam um Curso para Chefes, na Alemanha, com ensinamentos que deveriam repassar para chefes-instrutores de grupos no Brasil. Durante a repressão ao nazismo em Santa Catarina, verificou-se que o Partido Nazista havia determinado que, já a partir de 1935, a Juventude Hitlerista e a Agremiação de Moços Alemães, deveriam constituir uma organização única, sob a denominação “Deutsch-Brasilianscher Jugendring – DBJ” (Círculo Juvenil Teuto-Brasileiro). As autoridades policiais do DOPS/SC observavam que ...em dias de festas comemorativas de datas alemãs, espetáculos contristadores, diante das fanfarronadas e passeatas caracteristicamente militares, realizadas pelos nazistas fardados, ostentando bandeiras e flâmulas com a cruz suástica, puxadas a rigor pelas suas bandas de cornetas e tambores, sendo que, em via de regra, nestas demonstrações de desrespeito à nossa soberania, desfilavam centenas de crianças brasileiras de sangue germânico, pertencentes à Juventude Teuto-Brasileira” (LARA RIBAS, 1944, p. 22-23). 15 Outro fenômeno que sugere ter prejudicado o Movimento Escoteiro foi o do “Intregralismo”, uma organização do tipo fascista, inspirada nos moldes italianos e oficializada no Brasil em 1932 com a criação da Ação Integralista Brasileira – AIB, liderada por intelectuais anti-liberais. Expandiu-se por todo o país, chegando em 1936 a contar com 800 mil filiados. O movimento, ultra-conservador e nacionalista e de cunho anti-comunista, sob a liderança maior de Plínio Salgado, com o lema “Deus, Pátria e Família”, que configurou-se como de extrema-direita, apoiado por importantes segmentos da Igreja Católica e do Exército Brasileiro, criou suas “milícias”, organizações paramilitares e de controle ideológico, cujos membros uniformizados eram conhecidos como “camisas-verdes”. O movimento atuou também junto à mocidade brasileira na organização, formação e apoio a grupos de escoteiros e de bandeirantes, como instrumento para a criação de uma nova cultura nacional22. A hierarquia atingia também a Juventude Integralista, conhecida como “plinianos”. As crianças eram iniciadas e formadas no movimento dos 4 aos 15 anos, com os infantes, os curupiras, os vanguardeiros e os pioneiros. Deviam obediência aos seus superiores em linha rígida e autoritária. Ao completarem 16 anos, todos se inscreviam nas Forças Integralistas: milícia, decúria, terço, bandeira ou legião. Com a energia da pregação dos seus líderes, não recuavam perante a violência, cabendo salientar que as mulheres também eram aceitas nas organizações do movimento (ARMANDO FILHO, 1999, p. 39). Após a Intentona Comunista de 1935, os integralistas ampliaram o apoio ao governo de Getúlio Vargas. Este, sentindo-se ameaçado por um suposto avanço dos comunistas, aplicou Golpe de Estado de 10 de novembro de 1937, decretando o “Estado Novo”, com o que atingiu também os integralistas. Foi iniciada uma campanha pública contra o Integralismo, que culminou a 2 de dezembro, com a proibição de funcionamento de partidos políticos e desencadeamento de ação policial contra as sedes da AIB no país. Os integralistas burgueses reagiram, mas já em março de 1938, foram alcançados pela forte e violenta repressão. O integralismo foi fortemente identificado com o fascismo e, no Sul do Brasil, especificamente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, foi acusado de ter se aliado ao nazismo, servindo de disfarce para a expansão deste outro fenômeno. No caso específico de Caçador, o primeiro grupo escoteiro, formado na primeira metade da década de 1930 no interior do Ginásio Aurora, sofreu forte influência do integralismo e, por causa da repressão – na Campanha de Nacionalização – tanto seu 16 diretor, o italiano Dante Mosconi, foi proibido de exercer a titularidade e o magistério, como os professores identificados com o integralismo foram afastados das funções. O grupo que surgiu depois, fora do quadro do Ginásio Aurora, sofreria por extensão o revés aplicado pela Ditadura Vargas aos seus inimigos, sendo incorporado a outro movimento, oficioso e de cunho fascista, o da “Juventude Brasileira”. A JUVENTUDE BRASILEIRA Por idealização do Ministro da Educação Gustavo Capanema, o Estado Novo produziu um outro fenômeno no Brasil: a organização denominada “Juventude Brasileira”, criada pelo Decreto-Lei nº 2.072, de 8 de março de 1940, destinada a ministrar educação moral, cívica e física à infância e à juventude, que veio a incorporar o Movimento Escoteiro até meados de 1945, como explica Íris Barbieri: Desde a sua instituição até a sua extinção, percebe-se, através dos textos legais, a redução de seus objetivos. O processo de redução se deu pela maior ênfase que se destinou ao civismo, entendido como “consciência patriótica” em prejuízo da educação moral como “elevação espiritual da personalidade” e da educação física. Esse fenômeno, mais a incorporação da União dos Escoteiros do Brasil à Juventude Brasileira, logo no início de sua instituição (Decreto-lei 2.310, de 14 de junho de 1940) para se eliminar um poderoso concorrente e o sistema de controle estabelecido por uma burocracia de comando em linha, com origem no próprio Presidente da República e participação dos Ministérios da Educação, Guerra e marinha, inequivocamente informam uma intenção do Governo Federal em interferir diretamente na formação da personalidade básica do brasileiro, dotando-o de aspirações e ideais que apenas consultavam aos interesses da Pátria, o que era comum nos anos de guerra que então se vivia. Tratava-se, enfim, de mobilizar toda a vontade popular aos desígnios patrióticos. Não era outro o motivo que levava os alunos, diariamente, a recitar a “Oração à Pátria”. Contudo, em que pese todas essas providências, a Juventude Brasileira não conseguiu se realizar senão em dimensões muito pequenas. O Escotismo, bem disseminado pelas escolas brasileiras, foi um dos obstáculos que se antepôs à sua plena realização (BARBIERI, 1973, v. 2, p. 261). (Os negritos são nossos). Caçador testemunha isso, cidade que, a exemplo de outras da região, sediou uma corporação integralista, aqui conhecida tanto como anti-comunista como nazi-fascista. Em atenção às normas educacionais de 1940, já não dispunha mais de organização de escoteiros quando, em 1941, a Superintendência Geral Interina do Ensino do Estado de Santa Catarina expediu a Circular nº 05 para os inspetores escolares e diretores de escolas, nos seguintes termos: 17 Recomendo-vos com muita insistência, sejam organizados nos estabelecimentos de ensino, associações, tais como: clube agrícola, pelotão de saúde, jornal, liga de bondade, liga pró-língua nacional, biblioteca, círculo de pais e professores, clube de leitura, etc., objetivando: 1) 2) 3) 4) 5) 6) preparar o individuo a viver em sociedade; tornar o indivíduo guia de si mesmo; ensinar o valor da cooperação; despertar o interesse do educando pela Escola; despertar no educando os sentimentos de ordem e de legalidade; desenvolver certas qualidades: iniciativa, liderança, características pessoais e habilidades. Florianópolis, 6 de janeiro de 1941 Elpidio Barbosa23 Nesta instrução oficial, observa-se que não há menção alguma a incentivos à formação de novos grupos de escoteiros junto aos estabelecimentos de ensino, como se verificava antes. Nas fotos que registraram a realização das campanhas patrióticas de arrecadações, como a “da borracha” (coleta de pneus velhos), por exemplo, em Caçador em 1942, não mais se vêem os escoteiros ao lado dos escolares: o que existia, então, era a “Juventude Brasileira”. Em 1942, as finalidades da Juventude Brasileira são restringidas ao culto à Pátria, orientando-se os estabelecimentos de ensino a disporem de “centros cívicos”, especificando-se os fins em: I – Despertar a veneração dos grandes mortos e o entusiasmo pelos grandes feitos da história nacional; II – Afervorar o amor dos ideais nacionais e o interesse pelos problemas do país; e III – Suscitar a prática firme e constante das virtudes patrióticas (Decreto-lei nº 4.101, de 09/02/1942. Apud BARBIERI, op. cit., p. 261). Nem todos os grupos e nem todos os escoteiros gaúchos e catarinenses tinham simpatia ou vínculos com as organizações fascistas, nazistas ou integralistas daquele tempo. Mesmo assim, as medidas arbitrárias de repressão parecem ter alcançado diretamente a todos os corpos24, em maior ou menor grau, colocados na inatividade, ainda que temporariamente. 18 SURGIMENTO DO GRUPO ESCOTEIRO PINDORAMA A primeira turma do grupo PINDORAMA25 pertencia basicamente às turmas de 1960 do Curso de Admissão ao Ginásio (chamava-se oficialmente “5ª série do Primário”, quando o Primário só tinha quatro séries) e à turma da primeira série do Ginásio, do Ginásio Aurora. O líder era o marista “Irmão Diogo”, com nome de batismo do sr. Alexandre Câmpora, que era o professor da Admissão e das primeiras séries do ginasial. Ele já havia feito o curso de Chefe Escoteiro, em Guaíba (RS), na década de 1940, juntamente com o Irmão Nilo Tonet, este que o assessorou direta e pessoalmente na organização do grupo. O grupo começou a se organizar durante o ano de 1960, com instruções de escotismo e reuniões preparatórias, inclusive com os pais dos “noviços”. Participavam das aulas de preparação, além do futuro chefe, entre outros, mais o irmão Hilário, o Irmão Nilo e o Irmão Gonçalo. As quatro primeiras barracas, de lona verde, vieram de um colégio marista do Rio Grande do Sul; os bastões de madeira de imbuia foram doados pelas famílias Balvedi e Frâncio e as ponteiras dos bastões foram fundidas e doadas pelas famílias Fezer e Haudsch; os pais pagaram pela aquisição dos equipamentos (cintos, chapéus, facas, insígnias, machadinhas, etc.) e pelos uniformes dos filhos, estes que foram confeccionados por uma costureira da cidade. A sala de aula da Admissão e onde o grupo se reunia nos sábados à tarde e domingos ficava nos fundos do térreo (que era de alvenaria) do prédio da velha construção com dois pavimentos de madeira. A Tropa foi instalada no final de 1960 em salas no porão da Capela do Ginásio Aurora, construída em 1944, ao lado do casarão, que veio a ser a sede das patrulhas e seu primeiro museu. O registro oficial da solenidade inaugural contempla que: Aos 3 (três) dias do mês de setembro de 1960, nas comemorações da semana da Pátria, no Estádio do Ginásio Aurora, em Caçador, SC, às 20h, deu-se início à solene “Investidura” dum grupo de rapazes, 16 (dezesseis) ao todo, que iriam fundar uma tropa Escoteira, “Tropa Pindorama”. Após a entrada da “Bandeira Nacional” no recinto da solenidade, cada Escoteiro pronunciou a sua promessa, compenetrado do solene que assumiu com Deus, a Pátria e ao próximo. Em seguida, houve uma hora de arte muito 19 apreciada pelo povo. Os componentes da “Tropa Pindorama” são os seguintes: Patrulha do Lobo – Marcos Vierkon, Ivan Assef, Celso Tomazi, Carlos Balvedi, Nilson Thomé, Nelson Matte, Nelson Gomez, Juares Santos. Patrulha do Leão – Carlos Klaumann, Carlito Rupp, Carlos Beppler, Luiz Carlos Zenoni, Luiz Freder, Leocladio Fornari, Pedro Luiz Zanchettin, Antonio Edegar de Paris. Lavrei a seguinte ata, e se for aprovada será acinado pelo escriba. Sempre Alerta. Escriba: Celso Luiz Tomazzi (Ata nº 1, Livro de Atas nº 1, página 2). Ali, os Irmãos Maristas começaram a desenvolver o “Método Escoteiro”, com aplicação eficazmente planejada e sistematicamente avaliada nos diversos níveis do Movimento, caracteriza-se pelo conjunto dos seguintes pontos: a) Aceitação da Promessa e da Lei Escoteira. Todos os membros assumem, voluntariamente, um compromisso de vivência da Promessa e da Lei Escoteira; b) Aprender fazendo, pois educando pela ação, o Escotismo valoriza o aprendizado pela prática, o treinamento para a autonomia, baseado na autoconfiança e iniciativa, os hábitos de observação, indução e dedução; c) Vida em equipe, denominada nas Tropas “Sistema de Patrulhas”, incluindo a descoberta e a aceitação progressiva de responsabilidade, a disciplina assumida voluntariamente, e a capacidade tanto para cooperar como para liderar; d) Atividades progressivas, atraentes e variadas, compreendendo jogos, habilidade e técnicas úteis, estimuladas por um sistema de distintivos, vida ao ar livre e em contato com a Natureza, interação com a Comunidade; e e) Desenvolvimento pessoal com orientação individual, considerando a realidade e o ponto de vista da mocidade, a confiança nas potencialidades de cada jovem, o exemplo pessoal do adulto, em seções com número limitado de jovens e faixa etária própria. Depoimento pessoal A partir deste momento do ensaio, necessário se faz a intervenção direta e pessoal do autor, com texto expresso em relato de história-de-vida: Com dez anos de idade, investido escoteiro “noviço” no Fogo do Conselho em 3 de setembro de 1960, pertencia à Patrulha do Lobo, da qual fui fundador26, usando lenço vermelho. Com os amigos, logo formamos um “grupinho” dentro do grande grupo, que 20 discordava bastante das atitudes do Chefe, o Irmão Diogo. Nosso grande amigo era o “Chefe Luna”, ou melhor, o sr. João Batista Luna, Chefe do Grupo de Videira e Coordenador Sub-Regional que, seguidamente, vinha nos visitar e não escondia antipatia ao Irmão Diogo. Em 31 de novembro de 1960, fui reprovado no Curso de Admissão e atritei com o chefe escoteiro; como castigo, meus pais me retiraram da Tropa27 no dia 15 de fevereiro de 1961. Assim, fui separado, dentro do escotismo, dos meus primeiros amigos, mas logo encontrei outros. Repetindo o Curso de Admissão, participei apenas extra-oficialmente das atividades escoteiras, pois não podia acampar e nem vestir uniforme. Ameaçado com nova reprovação pelo Irmão Diogo, fugi de casa (numa manhã, em meados de 1961) e, de bicicleta, pedalei os 44 km na estrada-de-terra até a casa dos meus tios, na cidade de Videira. Meu pai foi me buscar, de “carro-de-praça” (táxi), e voltei à noite. Consegui ser aprovado nos exames, em dezembro de 1961, assim considerado apto a ingressar na 1ª série do ginasial em 1962. Nesta altura, em 30 de agosto de 1961, havia re-ingressado no grupo, agora na Patrulha do Leão. Em outubro de 1962, ano em que começou o movimento dos Lobinhos28 em Caçador, fui nomeado Sub-Monitor da Patrulha do Leão, substituindo o companheiro Carlos Alberto Beppler, que foi escolhido e promovido Monitor a 6 de setembro, passando a usar lenço de seda azul com listas amarelas e vermelhas. Fiz cursos e provas para passar de noviço a escoteiro de 3ª, de 2ª e de 1ª classe, que incluíam noções de código morse, de semáforo, sinais meteorológicos, sinais de pista, orientações pelas estrelas, conhecimentos gerais e específicos sobre a natureza e sobre o escotismo. No retorno das férias de 1963, reiniciadas as aulas, também recomeçaram os atritos com o Irmão Diogo, agravados pelo seu comportamento suspeito. Nossa turma foi reforçada com o escoteiro Werle e, com ele, formamos o que se chamou de “Clube Aliança” – abrindo uma dissidência no interior do Grupo. Um dia – não lembro a data – encontramos no armário da sala de aula do Irmão Diogo uma latinha, que estava escondida, com várias moedas de marcos (da Alemanha) e medalhas em seu interior, algumas de Honra ao Mérito (em alemão) com a Suástica (emblema do Nazismo). Ele 21 descobriu e queria saber quem havia furtado a “caixa de lembranças”. Não sabíamos se pertenciam a ele ou a alguém da família dele ou, ainda, a outra pessoa. Ficamos com medo e resolvemos enterrar a latinha. Não lembro onde. Desconfiado e furioso, ele aumentou a perseguição à nossa turma29. Por ocasião dos desfiles anuais da Semana da Pátria, comemorativos ao Dia da Independência, que aconteciam na parte alta da Avenida Barão do Rio Branco, éramos os penúltimos a desfilar (o último pelotão era sempre o corpo do Tiro de Guerra) pois, antes, realizávamos os chamados “cordões” em frente ao palanque oficial, armado no Largo Caçanjurê, para não permitir que os assistentes saíssem das calçadas de pedestres e invadissem a pista do calçamento. Em abril de 1963, por decisão da diretoria, foi adquirido o terreno e iniciada a campanha pró-construção da sede própria da Tropa, à Rua Marechal Deodoro (no outro lado da rua do Colégio). Para pagar o terreno e iniciar as obras, foram feitas campanhas na cidade, de rifas e de coletas de dinheiro e materiais, pelos escoteiros, pelos seus pais e pelos irmãos maristas. A sede, com o novo museu incluso, levou quase dois anos para ser construída. O prédio, em alvenaria, foi erguido com dois pavimentos, dispondo de salão de festas para reuniões e jogos, doze salas para os grupos, uma gruta de pedras em honra a Nossa senhora de Lourdes, torre de observação e amplo pátio30. A grande festa popular, realizada no dia da inauguração, 8 de dezembro de 1964, rendeu Cr$ 1.695.000,00 bruto31. No segundo semestre de 1963, quando estava na segunda série do Ginásio, ameaçado de reprovação, saí definitivamente da Tropa. Seria reprovado nos exames de fim-de-ano, em duas disciplinas, mas fui aprovado em exames de 2ª época. Comecei a trabalhar na Rádio Caçanjurê e continuei aluno, concluindo o ginásio em 1965, ano em que, orientado pelos professores, passei a escrever como colaborador32 e depois a trabalhar como repórter no “Jornal de Caçador”, iniciando as atividades profissionais na imprensa. Em seguida, ingressei no Curso Técnico de Contabilidade, no mesmo Colégio Aurora, cursando apenas o primeiro ano. Mais tarde fui concluir o 2º grau como Normalista (Técnico em Magistério) no Colégio Nossa Senhora Aparecida. 22 De meados de 1965 em diante, acompanhei as atividades do Grupo Pindorama à distância. Lembro perfeitamente da inauguração da sede. Pela imprensa – onde passei a atuar – dei cobertura jornalística ao grupo durante todo o tempo. Comigo, ficaram lembranças, algumas perdidas no decorrer dos anos e outras guardadas até hoje: o anel de couro para prender o lenço, o chapéu de feltro, o quepe de pano, a camisa com os distintivos, a faca, o bastão, a machadinha, o cinto com a fivela redonda, os adornos e distintivos, o diploma de investidura, fotografias, os cadernos e as cadernetas de anotações e a moeda da boa-ação diária.33 Primeiras atividades Justamente dos cadernos, das cadernetas, das fotografias, dos jornais e outros materiais34, recuperou-se um pouco da memória dos primeiros tempos do Grupo Pindorama. O mês de maio do ano de 1960 marcou o início do movimento pró novo grupo escoteiro em Caçador, sendo a data de 3 de setembro considerada a da fundação da Tropa Escoteira Pindorama. A Primeira Investidura, recebendo 16 noviços, solenidade realizada no campo de futebol do Colégio Aurora, à noite, marcou a formação da Patrulha do Leão (com a adoção das cores amarelo e vermelho), com os jovens: Klaumann, Carlito, Edgar, Frederico, Fornari, Zanoni, Beppler e Pedro e, ainda, a formação da Patrulha do Lobo (amarelo e preto), com Marcos, Ivan, Celso, Nilson, Balvedi, Matte, Gomez e Juarez. A seguir, em 11 de setembro, foi realizado o primeiro bivaque oficial, na localidade do Castelhano e, a 2 de outubro, o primeiro acampamento oficial, na Fazenda Fonseca. O mês de janeiro do ano de 1961 foi marcado pela visita de uma a Tropa francesa, que veio de São Paulo para acampar em Caçador. Nas férias escolares, o grupo empreendeu uma espetacular viagem rodoviária a Curitiba, com hospedagem no Internato Paranaense (Marista), por cinco dias, sendo que a excursão teve o objetivo de conhecer vários pontos da Capital do Paraná. A 22 de abril aconteceu a Segunda Investidura, com a formação da Patrulha do Falcão (verde e preto) e, a 3 de setembro, a Terceira 23 Investidura, com a formação da Patrulha do Javali (adotando as cores cinza e cor-derosa). Quase na véspera do Natal de 1961, o grupo realizou aquele que foi considerado o maior acampamento até então, com a duração de cinco dias, na fazenda do sr. Francisco Driessen. No decorrer de 1962, aconteceram sucessivos bivaques e acampamentos. A 5 de maio, aconteceu a Quarta Investidura. A 1 de setembro, aconteceu uma visita da Tropa de Videira a Caçador, com acampamento e, a 4 de outubro, a visita da Tropa de Curitibanos a Caçador, também com acampamento. Este ano marcou a efetivação de três reuniões preparatórias para a formação dos Lobinhos, a 15, 18 e 21 de novembro. A 13 de janeiro de 1963, o Grupo Escoteiro Pindorama realizou uma Viagem de Patrulha para Porto Alegre, com hospedagem do Colégio Conceição (Marista) e, dali, a 23 de janeiro, participou do Acampamento Internacional de Patrulhas, no Parque Saint Hilaire, em Viamão (RS), durante uma semana. Este ano marcou a fundação dos Lobinhos. A 23 de abril, foi lançada a Campanha Pró-Construção da Sede da Tropa, inaugurada anos depois. Princípios escotistas Nenhum de nós, pioneiros do Grupo Escoteiro Pindorama, esqueceu os “Princípios do Escotismo”, definidos na “Promessa Escoteira”, base moral que se ajusta aos progressivos graus de maturidade da pessoa humana: a) Dever para com Deus – Adesão a princípios espirituais e vivência ou busca da religião que os expresse, respeitando as demais; b) Dever para com o Próximo – Lealdade ao nosso País, em harmonia com a promoção da paz, compreensão e cooperação local, nacional e internacional, exercitadas pela Fraternidade Escoteira. Participação no desenvolvimento da sociedade com reconhecimento e respeito à dignidade do homem e ao equilíbrio da Natureza; e c) Dever para consigo mesmo – Responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento. 24 CONCLUSÃO Com períodos de “altas” e de “baixas” em sua composição, o Grupo Escoteiro Pindorama manteve-se em funcionamento desde então. Foram empreendidas viagens a Joinville, Rio do Sul, Lages e excursões com participações em acampamentos regionais e nacionais. Realizaram-se novas investiduras de noviços, ao mesmo tempo em que, atingindo a idade adulta, ou por outros motivos, integrantes deixaram o movimento. Alternaram-se as chefias, incorporaram-se os lobinhos e as escoteiras. Em setembro de 2005, ao alcançar seu 45º aniversário, o grupo registrou a passagem de mais de 300 jovens de ambos os sexos e de várias idades pelos seus quadros, chegando, nesta data presente, a contar com cem integrantes. Acreditamos que, com este ensaio, possamos contribuir para as pesquisas em História das Instituições Escolares no Brasil. O breve estudo, aqui apresentado dentro da temática de “Práticas Escolares”, tratando de uma organização de atividades extra-classe, complementares à formação humanista, poderá vir a animar outros pesquisadores, pois que, em Santa Catarina, em meados do Século XX, diversos estabelecimentos de ensino adotaram e desenvolveram o movimento. Entendendo que a História é “viva”, dinâmica e presente, a intervenção do autor na fase inicial da História do Grupo Escoteiro Pindorama indica a possibilidade de participação “ao vivo” de pesquisadores em projetos de construções de capítulos para a História da Educação Brasileira. Nossa pesquisa em História da Educação Escolar na Região do Contestado, iniciada em 2002 sob orientação do Prof. Dr. José Luís Sanfelice, da UNICAMP, tem se voltado também para os aspectos relacionados à “nacionalização do ensino”, fenômeno histórico ocorrido em Santa Catarina em dois momentos, o primeiro no início do Século XX e, depois, quando da entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial. Justamente aí é que apareceram os indícios de problemas enfrentados pelo Movimento Escoteiro no Brasil, pelas similaridades com a organização clandestina da Juventude Hitlerista no Brasil – tema atraente para mais profundas investigações – e pela proximidade com o Integralismo. 25 REFERÊNCIAS ÁVILA, S. J. , Fernando Bastos de. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio: DNE/MEC, 1967. BARBIERI, Íris. A Educação no Governo de Vargas (1930-1945). Com Ênfase no Ensino Normal e na Escola Primária. Tese de Doutoramento. Faculdade Municipal de Ciências Econômicas e Administrativas de Osasco. 2 v. Osasco: mimeo, 1973. Biblioteca da Faculdade de Educação da UNICAMP, Campinas (SP). FILHO, Armando. O Integralismo. São Paulo: Editora do Brasil, 1999. GROTH, Lurdes Lúcia de Bortoli. Educação Moral e Cívica. Livro do Professor. 3 ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1979. GRUPO ESCOTEIRO PINDORAMA. Livros de Atas da Diretoria. GRUPO ESCOTEIRO PINDORAMA. Livros de Registros de Atividades do Grupo. PY, Aurélio da Silva. A 5ª Coluna no Brasil. A Conspiração Nazi no Rio Grande do Sul. 2 ed. Porto Alegre: Globo, 1942. RIBAS, Antonio de Lara. O Nazismo em Santa Catarina. In: O Punhal Nazista no Coração do Brasil. 2 ed. Florianópolis: DOPS/SC – Imprensa Oficial, 1944. THOMÉ, Nilson. Colégio Aurora. Uma visão histórica. Caçador: Prefeitura, 1993. Outras Fontes: - Coleção de exemplares do Jornal “A Imprensa", de Caçador, (1939-1949). - Arquivos Escolares do Colégio Aurora, de Caçador. - Coleções de Fotos e Documentos de Nilson Thomé, de Caçador. - Entrevista com Luiz Paganelli, ex-aluno do antigo Ginásio Aurora e membro do primeiro grupo da Tropa Escoteira Marechal Guilherme, em 1939. - Entrevista com Domingos Paganelli, ex-aluno do antigo Ginásio Aurora e membro de um grupo escoteiro que existiu precariamente no estabelecimento em 1931. - Entrevista com o Irmão Marista, Ir. Nilo Tonet, professor no Colégio Aurora em 1960 e um dos fundadores do Grupo Escoteiro Pindorama - Internet: [www.escotismo.com.br]. Consultas em junho e julho de 2005). 26 - Internet: [http://pt.wikipedia.org/wiki/Escotismo]. Consulta em julho de 2005. - Internet: [http://www.falcaoperegrino.org.br/escotismo.htm]. Consulta agosto de 2005. - Internet: [www.escoteiros.gov.br]. Consulta em abril de 2005. NOTAS 1 Professor na Universidade do Contestado – Campus de Caçador (SC). Graduado em História. Mestre em Educação. Doutorando em História da Educação na Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Exaluno e ex-professor do Colégio Aurora. Escoteiro fundador do Grupo Escoteiro Pindorama, em Caçador, em 1960. 2 Fundado nesta cidade em 3 de setembro de 1960, considerado o 11º no Estado de Santa Catarina e com atividades ininterruptas até hoje. 3 Consulta a [http://pt.wikipedia.org/wiki/Escotismo] em julho de 2005. 4 Consulta a [http://www.falcaoperegrino.org.br/escotismo.htm] em agosto de 2005. 5 Tem-se também que, durante uma viagem pela Inglaterra, Baden Powell teria visto alguns meninos usando em suas brincadeiras o livro que ele havia escrito para exploradores do Exército, que continha ensinamentos sobre como acampar e sobreviver em regiões selvagens. Consulta a [www.escotismo.com.br] em agosto de 2005. 6 Ver em [http://www.falcaoperegrino.org.br/escotismo.htm]. 7 Ver em [www.escoteiros.gov.br]. 8 O Método Escoteiro caracteriza-se pela aplicação eficientemente planejada e sistemática avaliação em diversos níveis do movimento, nos seguintes pontos: aceitação da Promessa e Lei Escoteira; aprender fazendo; vida em equipe; atividades progressivas, atraentes e variadas; e desenvolvimento pessoal pela orientação individual. 9 No dia 12 de outubro de 1928, Dante e Albina Mosconi fundaram em Caçador o estabelecimento de ensino ao qual deram o nome de “Colégio Aurora”, implantando em casinhas de madeira os cursos Elementar e Complementar, nos moldes das Escolas Normais de Santa Catarina, e o Comercial, seguindo a programatização do Instituto Comercial do Rio de Janeiro. Em seguida, criaram o Curso Ginasial. 10 Domingos Paganelli. Entrevista pessoal ao autor em setembro de 2005, em Caçador. 11 Antigo nome da atual Polícia Militar do Estado de Santa Catarina – PM/SC. 12 Este grupo não nasceu no interior do Ginásio Aurora e nem funcionou no estabelecimento, como o anterior. 13 Chefe escoteiro: adulto a cujo cargo fica um grupo; a sua tarefa é liderar, mostrar o caminho e não comandar. 14 O militar do Exército, residente em Porto União, era genro do comerciante caçadorense, Sr. Emílio Joaquim. 27 15 O marechal tinha um escravo alforriado, em sua fazenda, no interior de Minas Gerais, que veio a ser o pai do poeta catarinense João da Cruz Souza, mais conhecido como “Cruz e Souza”, jovem este que foi educado pela família do seu senhor e é dela que tomou o sobrenome “Souza”. 16 As “Bandeirantes” apareceram pela primeira vez em público no dia 4 de setembro de 1909. De vários lugares de Londres, patrulhas de meninas vestidas com uniformes semelhantes aos escoteiros, tendo inclusive lenço no pescoço, caminharam até o Palácio de Cristal onde, haviam ouvido, ia ser realizada uma demonstração técnica de escoteiros. Baden Powell estaria ali pessoalmente para observar as atividades dos rapazes e elas estavam ansiosas de poder convencê-lo a também fazer o mesmo com as escoteiras. O Movimento de Bandeirantes chegou ao Brasil no dia 30 de maio de 1919. 17 As organizadoras do grupo homenagearam a poetisa catarinense Delminda Silveira, de Florianópolis, contemporânea de Cruz e Souza, Virgílio Várzea e Luiz Delfino, expoentes da literatura estadual. 18 De seis a oito escoteiros, sob a liderança de um deles (Monitor), formam a unidade básica do Movimento. O sistema de “Patrulha” é a característica essencial do escotismo, que o difere de todas as outras organizações. Este sistema usa a dinâmica natural da “turma” para um propósito educacional. 19 Uma das atividades do grupo foi atravessar uma das grutas (galerias subterrâneas) do Morro da Cruz. 20 O Relatório da Viagem, em seu texto integral, assinado pelo Chefe Arthur Schneider, foi publicado na ed. 19/02/1940, nº 53, p. 3. 21 Até o fardamento era bem parecido, de camisa-blusa e calção (calça-curta) pardos, cinturão, meias longas de cor cinzas, sapato preto, lenço no pescoço. 22 Com a mais recente fase de democratização do país, com a liberdade de expressão, ultimamente o Movimento Integralista está ressurgindo em várias partes do Brasil e, em suas manifestações públicas, não esconde a simpatia pelo Movimento Escoteiro, inclusive elegendo Baden Powel um dos seus ídolos, como se observa em diferentes sites na Internet. 23 In: jornal “A Imprensa”, ed. 19/01/1941, p. 2. 24 Este assunto está sendo presentemente mais investigado pelo autor, na sua pesquisa de tese para doutoramento. 25 Curiosamente – ou coincidentemente? – a denominação “Pindorama” (que significa “região de palmeiras”), tem a ver com a “Vila de Pindorama” (Neu-Wuerttenberg) que, no Rio Grande do Sul, foi local o último acampamento escoteiro do grupo da “Juventude Teuto-Brasileira”, entre dezembro de 1937 e janeiro de 1938. 26 Aqui, lembro o lema: “Uma vez escoteiro sempre escoteiro”. 27 O Chefe Irmão Diogo disse-me na oportunidade, pessoalmente, que iria “riscar” meu nome dos registros da Tropa. Depois, determinou, inclusive, a falsificação da Ata nº 1, com a elaboração de uma nova para excluir meu nome dos pioneiros, como se isso fosse possível. 28 Baden Powell não havia fixado um limite de idade mínima, nem máxima para o ingresso de meninos no Movimento Escoteiro. Como conseqüência disso, as tropas tinham meninos cujas idades variavam entre 9 a 18 anos. Levantaram-se agudas e persistentes vozes dos meninos que eram muito pequenos para serem escoteiros, irmãos menores. Os primeiros esforços de trabalhar com meninos menores não obtiveram sucesso. Alguns escoteiros sentiram em receber estas crianças como "Junior Scouts" (Escoteiros Juniores), mas os resultados foram desastrosos. A primeira tropa desestruturou-se, os mais velhos não desejavam misturar-se com os pequenos e estes não conseguiram acompanhar as vigorosas atividades feitas pelos escoteiros. Em novembro de 1913, surgiu um projeto intitulado “Regras para escoteiros menores”. Com mudanças e emendas, em 1914, foi publicado o esquema para "Lobinho" ou "Jovem Escoteiro" que não era 28 mais que uma forma modificada de adestramento de escoteiros. Em seguida, veio um manual próprio para os pequenos, de 7 a 10 anos de idade, abordando um método com características especiais. 29 Por motivo de transferência de residência, em março de 1968 o irmão Diogo foi substituído na chefia do Grupo pelo Irmão Antonio Girardi. Mais tarde, Alexandre Câmpora abandonou a Congregação Marista, retornando a Caxias do Sul, onde faleceu. 30 Indevidamente (ao nosso ver), em 1968, logo após da saída do Irmão Diogo, temendo a fim do grupo, todo o patrimônio do Grupo Escoteiro foi escriturado em favor dos Irmãos Maristas. 31 A renda líquida foi de Cr$ 1.220.000,00 (Ata nº 43, Livro de Atas nº 1, p. 36). 32 Juntamente com Cícero Pereira, lançamos a “Coluna Estudantil”, semanal, no Jornal de Caçador. 33 Voltei a colaborar com o grupo em setembro de 1971, compondo nova diretoria, como Relações Públicas, ao lado de Raul Tomazoni e do Irmão Leo Guilherme Rech. 34 Material pessoal do autor. (Texto para Comunicação à VI Jornada do HISTEDBR. Ponta Grossa: nov. 2005) 29