[uma chancela do grupo LeYa] Rua Cidade de Córdova, n.° 2 – 2610-038 Alfragide http://twitter.com/editoracaderno [email protected] :: www.leya.pt © 2009, João Garcia e Rui Nabeiro com Patrícia Cascão Todos os direitos reservados. 1.ª Edição / Novembro de 2009 2.ª Edição / Novembro de 2009 ISBN : 978-989-23-0660-5 Depósito Legal n.º: 300208/09 Índice Introdução :: 7 Capítulo 1 Objectivo - Escolha a montanha que quer subir :: 11 Quais são as oportunidades do mercado? Capítulo 2 Know how - Adquira os conhecimentos necessários :: 27 Tem a certeza de que conhece o sector? Capítulo 3 Equipa - Não o faça sozinho :: 43 Reúna a equipa de colaboradores e especialistas e seduza os clientes. Capítulo 4 Planeamento - Prepare-se para todas as contingências :: 65 Preveja a evolução do mercado segundo diferentes cenários e antecipe as respostas a dar. Capítulo 5 Logística - Reúna o equipamento :: 83 Garanta a logística de produção e distribuição. Capítulo 6 Timing - Comece do melhor ponto de acesso :: 101 O produto certo ao melhor preço. Não perca oportunidades. 10 PASSOS PARA CHEGAR AO TOPO :: JOÃO GARCIA E RUI NABEIRO 5 Capítulo 7 Mobilidade - Viaje com pouco peso :: 123 Mantenha a estrutura e os colaboradores necessários. Capítulo 8 Avaliação - Dê um passo de cada vez :: 145 Observe constantemente o mercado e os resultados. Reveja a estratégia. Capítulo 9 Foco – Mantenha a rota :: 165 Siga os objectivos traçados, mas sem ficar estagnado. Capítulo 10 Missão cumprida – Aprecie a vista antes de descer :: 181 Atingir uma meta é apenas o início do próximo projecto. Conclusão :: 193 Anexos :: 199 Percurso profissional de João Garcia e de Rui Nabeiro 6 Introdução Poderão a vida do homem que criou no interior alentejano um grupo empresarial com um volume de negócios de 276 milhões de euros, e a de um atleta de alta competição, que está prestes a tornar-se um dos únicos 10 homens que conseguiram subir ao cume das 14 montanhas mais altas do mundo, ter alguma coisa em comum? A costela alentejana de João Garcia está limitada ao facto de a mãe ser de Montemor-o-Novo, onde passou algumas férias em criança, a pescar com o avô, que era médico. Quando o alpinista nasceu, a Delta já existia há seis anos e o empresário Rui Nabeiro estava a abandonar o cargo de presidente substituto da Câmara Municipal de Campo Maior. Estão afastados por uma geração. Um cresceu no meio de um negócio familiar que agora gere mais de 2.600 pessoas. O outro está habituado à solidão da montanha. Aos 78 anos, Rui Nabeiro não tenciona reformar-se. João Garcia sabe que um atleta tem uma carreira limitada pelo tempo. Os 10 PASSOS PARA CHEGAR AO TOPO :: JOÃO GARCIA E RUI NABEIRO 7 seus percursos são tão diferentes, que é fascinante descobrir que as lições que aprenderam pelo caminho são muito semelhantes. Logo à partida, se há algo que une estes dois homens aparentemente tão distantes, é o facto de ambos terem nascido em momentos difíceis para as finanças do País. Um mês antes do nascimento de Manuel Rui Azinhais Nabeiro, a 28 de Março de 1931, os lisboetas tinham saído à rua para protestar contra o aumento do preço do pão. Foi a Revolta da Farinha, uma das primeiras consequências da “ditadura financeira” imposta por Oliveira Salazar. Enquanto Rui Nabeiro cresce em Campo Maior, aumenta também o poder do Estado, que decide a continuação ou o desaparecimento de empresas. Mas esta zona rural pobre do interior alentejano tem uma vantagem em relação a outras regiões: beneficia da proximidade e das trocas comerciais com Espanha. A família cria uma pequena indústria de cafés. O jovem Nabeiro trabalha de dia e de noite na torrefacção. Aprende o negócio. O pai morre cedo e com apenas 19 anos assume a gestão da empresa. Sobrevive aos condicionamentos de matéria-prima durante os anos do Estado Novo e à falta de produto no período pós 25 de Abril. Contorna os problemas da maquinaria nacional comprando no estrangeiro. Resiste às investidas das multinacionais fortalecendo o grupo com novos negócios, e alarga o mercado com a internacionalização. Recusa a entrada na Bolsa, mantém a empresa familiar, e nunca abandona Campo Maior. Transforma a marca de cafés Delta na actual líder de mercado. Um ano antes de Salazar abandonar o poder, em 1967, nasce João Garcia. É uma década esgotada pelo esforço financeiro da Guerra em Angola, Guiné e Moçambique, e o ritmo de crescimento da economia portuguesa começa pela primeira vez a ser inferior ao espanhol. A agricultura sofre muito, mas a indústria é um pólo de desenvolvimento. A Delta está em expansão, para o 8 Norte de Portugal e para a Galiza, e Rui Nabeiro aventura-se em Angola, para comprar o café directamente. Na adolescência, João Garcia também começa a planear as suas próprias aventuras. Quer saber mais sobre montanhismo e faz quilómetros de bicicleta para chegar à Serra da Estrela. Nos anos 70, os portugueses tinham feito as primeiras escaladas tecnicamente difíceis nos Alpes. Até a Mocidade Portuguesa tinha actividades nesta área. Mas é na década de 80, curiosamente ao mesmo tempo que João Garcia descobre o montanhismo nos escuteiros, que aumenta o número de clubes e de praticantes. Ainda está no serviço militar quando o primeiro português sobe uma montanha com mais de 8 mil metros. Fica muito impressionado. É por conselho desse alpinista que João Garcia sobe também, dois anos depois, a um cume acima dos 8 mil metros. O primeiro de um projecto de 14. Depois de duas tentativas falhadas no “Tecto do Mundo”, tornou-se o mais famoso alpinista português ao conseguir finalmente atingir o cume do Evereste em 1999. É nessa experiência dura, nessa expedição em que o amigo e companheiro de subida morreu, que João Garcia se baseia para apresentar as suas palestras de Motivação Pessoal. Parte do alpinismo para abordar temas do mundo empresarial, como perseverança, planeamento, capacidade de trabalho interdisciplinar, inteligência emocional, perspectivação de optimismo, e espírito de liderança. Assim é mais fácil de perceber o que João Garcia e Rui Nabeiro têm em comum. São dois exemplos de ambição e de luta contra a adversidade. Estabeleceram os seus objectivos muito cedo. Fazem aquilo de que gostam. Trabalham muito. Não hesitam. Contam neste livro como é que definiram a sua rota, como constroem e gerem as equipas, e como decidem quando avançar ou recuar perante o risco. No fundo, revelam os segredos do percurso que os levou até ao topo da montanha: ao sucesso. 10 PASSOS PARA CHEGAR AO TOPO :: JOÃO GARCIA E RUI NABEIRO 9 CAPÍTULO 1 Objectivo – Escolha a montanha que quer subir Quais são as oportunidades do mercado? Ou conseguia um parceiro para subir os 14 cumes ou calava-me para sempre O meu percurso levou-me, em 1999, ao cume do Evereste. Quase morri. Mas reencarnei naquele provérbio milenar chinês: “o magnífico não está em nunca cairmos, mas em sabermos levantar-nos quando caímos”. Foi o que fiz. Não só voltei à montanha, como percebi que tinha condições para continuar a sonhar com o projecto de subir os 14 cumes mais altos do mundo. Escalar montanhas é a empresa da minha vida. E embora existam mil e um objectivos aliciantes para um alpinista, nem todos têm a capacidade de entusiasmar o público. Existem os cumes mais altos dos sete continentes, mas esse projecto já foi concluído por mais de 400 pessoas. Coloquei a fasquia mais alta. O meu objectivo era escalar sem oxigénio artificial as 14 montanhas com mais de 8 mil metros. Esta é a minha missão. Na altura em que o decidi, em 2005, só havia cinco pessoas no mundo que o tinham feito. Pareceu-me um projecto com visibilidade na sociedade, que reconhece facilmente a estatística. Se até hoje só nove homens no mundo 10 PASSOS PARA CHEGAR AO TOPO :: JOÃO GARCIA E RUI NABEIRO 13 conseguiram fazê-lo, é porque deve ser difícil. Já há mais pessoas a terem ido ao espaço. Se conseguir subir ao Annapurna (8.091m, no Nepal), na Primavera de 2010, serei o décimo homem da história a ter conquistado os 14 cumes. Como é que o fiz? Precisava de criar uma rampa de lançamento para o projecto e foi esse o objectivo de onde parti. Em 2002 percebi que, se queria continuar a ousar pensar em atingir os 14 cumes, ou arranjava um parceiro que conseguisse ajudar-me a acelerar o processo ou fazia como nos casamentos: calava-me para sempre. Mas nada é imediato. Só vi frutos ao fim de três, quatro anos. Em 2003, 2004 e 2005 fui com uma expedição de portugueses ao Himalaia. Primeiro ao Pumori (7.161m), depois ao Ama Dablam (6.856m) e a seguir ao Lhotse (8.516m). Tinha alguns patrocínios que nunca chegavam a cobrir a totalidade das despesas. Do nosso bolso pagávamos, sempre, cerca de metade. Mas foi um investimento que nos permitiu finalmente arranjar um media partner. Em 2005 regressámos com boas imagens, que passaram na televisão e me deram a tal credibilidade de que necessitava para me tornar um veículo publicitário. Finalmente, uma grande instituição viu que eu já tinha uma máquina promocional meio montada e interessou-se pelo projecto. Muitos invejosos disseram: “Grande sorte, João, um patrocinador”. Os portugueses são muitas vezes assim. Têm tendência para achar que se os outros têm sucesso é porque tiveram sorte; mas, se eles têm sucesso, é por serem muito bons. A minha sorte foi fruto de muitos anos de trabalho. TRÊS ALTOS VALORES Um dos três valores que sempre defendo é o trabalho. O primeiro é o gosto por aquilo que se faz. É isso que nos leva a superar 14 momentos menos bons. O segundo é a honestidade para connosco. É por isso que escalo sem oxigénio, para saber que me estou a superar a mim próprio e que não estou a usar estratagemas. Seria como um atleta da maratona fazer metade dos 42 quilómetros a correr e a outra metade de lambreta. Ou uma equipa de futebol usar 20 jogadores em campo. Para mim, usar oxigénio é uma aldrabice. O oxigénio artificial permite a subida a pessoas que não são suficientemente fortes para subir pelos seus próprios meios. É uma espécie de injecção de capital numa empresa que não tem viabilidade. Essas pessoas começam a usá-lo a partir dos 7.500 metros e ficam imediatamente dependentes do esquema logístico. Já há 2 a 3 por cento de pessoas que não aguentam subir até ao Campo Base, que geralmente fica por volta dos 5 mil metros, e têm de ir-se embora. A partir do Campo 3 há cerca de 20 por cento de pessoas que têm de usar oxigénio para chegar ao Campo 4. Ou seja, vão precisar de uma garrafa para subirem, de uma segunda garrafa para dormirem, mais duas para irem ao cume e descerem, e uma quinta para o caso de passarem uma segunda noite no Campo 4. Portanto, cada pessoa precisa de, pelo menos, cinco garrafas. E, se por alguma razão falhar alguma, a pessoa não aguenta horas em altitude. Em minutos começa a definhar e já não consegue descer. Quando as pessoas dizem que usar oxigénio é mais seguro, não é bem assim. O organismo sente-se melhor, é verdade. Mas ficarmos dependentes da logística, e não de nós próprios, é um grave erro. Cada garrafa pesa uns 3 quilos, portanto é preciso pagar a um carregador só para levar as garrafas. E se ele cai ou se aleija? É o fim da expedição. Eu tenho de respeitar quem sobe com oxigénio, porque se o faz é porque provavelmente não o conseguia fazer de outra forma. É nessa honestidade interior, que é o meu segundo valor, que encontro justificação para correr riscos. 10 PASSOS PARA CHEGAR AO TOPO :: JOÃO GARCIA E RUI NABEIRO 15 O trabalho é o terceiro valor. Que, no meu caso, é o treino. Transformar o meu corpo numa máquina de queimar calorias, com capacidade de endurance. Num dia de cume passo por quase 20 horas de esforço ininterrupto, e isso não se consegue treinar em seis meses, nem num ano. Como estou num projecto em que passo metade do ano fora de Portugal, tenho de usar a outra metade para treinar. Depois das expedições, há que recuperar o peso perdido e trabalhar os grupos musculares que mais se usam na subida de montanhas: os quadricípedes, os glúteos e a parte do tronco. Ou seja, fazer marcha, alpinismo, corrida, andar de bicicleta. Mas o órgão fundamental do meu corpo é o coração. Tem de ser muito eficiente para, quando é necessário, conseguir levar a todo o corpo uma quantidade enorme de circulação sanguínea, desde os membros em esforço, gelados, até ao cérebro. Muitas pessoas, quando fazem um esforço violento, desmaiam. O sangue vai para os membros e não chega à cabeça. Claro que desmaiar na alta montanha é particularmente perigoso. E um coração forte exige um treino que leva uma vida inteira. Como diz um norte-americano sobre o himalaísmo: “Isto é um vício, como o tabaco. Tenho de deixar, ou ainda me mata!” DIÁRIO :: Criar um projecto que desperte o interesse do público :: Encontrar o parceiro que o financie :: Trabalhar muito, mas com prazer e honestidade 16 NÃO PASSAM ASNEIRAS NA TELEVISÃO Foi um momento de viragem quando percebi que não podíamos tirar apenas fotografias das expedições, pois só a televisão pode dar os níveis de retorno que os patrocinadores querem. Em 2003 levámos uma câmara de filmar nossa, sem grande qualidade. Em 2004 já adquiri uma melhor. Eram câmaras pequenas, amadoras, digitais. Mas com alguma técnica conseguimos trazer imagens que pareciam profissionais. Usámos tripé. Evitámos brincar com o zoom. Passámos a ter atenção ao que dizíamos, a fazer comentários inteligentes, a não dizer asneiras, nem a estar sempre aos piropos, porque isso depois não entra na televisão. A seguir, evoluímos para sermos nós a fazer a montagem do filme, e percebemos que filmávamos mal. Precisávamos de mais detalhes, de mais planos de corte, de mais material, para termos uma história que fizesse sentido. Uma das coisas que alimentou a cobertura das expedições foi o facto de começar a reportar em directo as expedições em blogs, que foi ganhando peso. No ano 2002/2003 fiz um grande investimento num telefone por satélite, que permitia enviar notícias durante a expedição. Na televisão começaram a chamar-me “monstro” e eu, de início, não percebia porquê. Depois explicaram-me que era porque, sempre que anunciavam o meu nome, numa entrevista ou reportagem, roubava audiências aos outros canais. Comecei a perceber que tinha ali aliados, interessados no que eu lhes podia dar, e por isso tinha de aprender a gerir a mágoa que tinha com os média, que sempre me ignoraram e que só me ligaram quando eu fiz a asneira da minha vida, no Evereste, em 1999. Em todas as situações existem sempre duas formas de ver as coisas. Antes do Evereste, eu andava com o copo meio vazio. E depois percebi que, afinal, ele estava era meio cheio. 10 PASSOS PARA CHEGAR AO TOPO :: JOÃO GARCIA E RUI NABEIRO 17