UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS
NAEA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INTITUTO DE ECONOMIA
REDESIST
O Círio de Nazaré: Economia e Fé
(Relatório Final)
Francisco de Assis Costa1
Marcelo Bentes Diniz2
Alexandre Magno de Melo Farias3
José Nazareno Sousa4
José de Alencar Costa5
1
Professor e pesquisador do Núcleo de Altos Estudos Amazônico/UFPa e da Redesist.
Professor do Departamento de Economia, Mestrado em Economia Regional/UFPa.
3
Professor da Universidade Estadual de Mato Grosso, Doutorando do Curso de Doutorado em Desenvolvimento e
Ambiente do PDTU/NAEA/UFPa.
4
Mestrando do Curso de Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento do PDTU/NAEA/UFPA.
5
Graduando do Curso de Informática da Universidade da Amazônia/UNAMA.
2
2
Sumário
1 . I n t r o d u ç ã o ........................................................................................................................ 4
2. O Círio de Nazaré: o sistema central do Círio de Nazaré de Belém
...................................................................................................................................................... 6
2 . 1 O p r o d í g i o f u n d a d o r d o C í r i o ........................................................................... 8
2 . 2 A l o n g a t r a j e t ó r i a d o C í r i o ................................................................................. 9
2 . 2 A c o n f i g u r a ç ã o e s p a ç o - t e m p o e a f i n a l i d a d e d o C í r i o d e N a z a r é 18
2.3 As fontes de evolução do Círio de Nazaré no cumprimento de sua
finalidade:
criação
e
recriação
simbólica
–
inovação
do
que
se
o f e r e c e ; c o n f i g u r a ç ã o e s p a ç o - t e m p o – i n o v a ç ã o d o c o m o s e o f e r e c e 19
2 . 4 A p r o d u ç ã o e a r e p r o d u ç ã o d o C í r i o ........................................................... 27
2.5 A Diretoria da Festa: o centro estratégico do Círio de Nazaré,
s u a g o v e r n a n ç a .................................................................................................................. 28
2 . 5 . 1 A D i r e t o r i a d a F e s t a e m n o v o f o r m a t o .................................................. 31
2 . 5 . 2 . C a r a c t e r í s t i c a s d a s d i r e t o r i a s d a D F .................................................... 33
2 . 5 . 3 . A o r i e n t a ç ã o d a D F à i n o v a ç ã o e s u a v i s ã o d e r e s u l t a d o s ...... 34
2.5.4. Uma verificação dos efeitos indicados pela DF das inovações
d o s ú l t i m o s c i n c o a n o s ................................................................................................. 41
2 . 5 . 4 . 1 A m p l i a ç ã o d a A u d i ê n c i a ............................................................................ 41
2 . 5 . 4 . 2 . R e d u ç ã o d o C u s t o t o t a l e p o r u n i d a d e d e a u d i ê n c i a ............... 44
2 . 5 . 4 . 3 . A m p l i a ç ã o d a R e c e i t a e f o r m a d e f i n a n c i a m e n t o ...................... 46
2 . 6 . O f i n a n c i a m e n t o d o C í r i o d e N a z a r é ......................................................... 48
2.6.1.
A
participação
das
empresas
e
as
recentes
inovações
o r g a n i z a c i o n a i s ................................................................................................................. 48
2 . 6 . 2 . O C í r i o , a s I n s t i t u i ç õ e s p ú b l i c a s e o s p r o g r a m a s d e a p o i o .... 49
3 . O C u l t u r a e o T u r i s m o n a f o r m a ç ã o d o C í r i o d e N a z a r é d e B e l é m 51
3 . 1 . A c u l t u r a e o C í r i o d e N a z a r é ....................................................................... 51
3 . 1 . 1 . A I n d ú s t r i a C u l t u r a l : c o n s i d e r a ç õ e s g e r a i s e c o n t e x t o ............. 53
3 . 1 . 2 . E s p a ç o s C u l t u r a i s d e B e l é m ....................................................................... 58
3 . 1 . 3 . E s t r u t u r a i n s t i t u c i o n a l v o l t a d a à c u l t u r a ........................................... 59
3 . 1 . 4 . O s P r o d u t o s C u l t u r a i s A m a z ô n i c o s ........................................................ 59
3 . 1 . 5 C í r i o d e N a z a r é , o á p i c e d a c u l t u r a e d a i d e n t i d a d e p a r a e n s e 60
3
3 . 1 . 6 . O A r r a s t ã o d o B o i P a v u l a g e m ................................................................... 63
3 . 1 . 7 . O A u t o d o C í r i o ................................................................................................. 68
3 . 1 . 8 . A F e s t a d a s F i l h a s d a C h i q u i t a ................................................................ 75
3 . 2 . O t u r i s m o e a g r a n d e t r a s u m â n c i a d o C í r i o : s u a d e m o g r a f i a ..... 81
3 . 2 . 1 . T u r i s m o r e l i g i o s o e d e v o ç ã o c a t ó l i c a .................................................. 82
3 . 2 . 2 . P a r a a l é m d o T u r i s m o : a d e m o g r a f i a d o C í r i o ................................ 84
4 . A e c o n o m i a d o C í r i o d e N a z a r é d e B e l é m .................................................. 89
4 . 1 . O i m p a c t o d e c o n s u m o d o s v i s i t a n t e s ........................................................ 89
4 . 1 . 1 . I m p a c t o s d i r e t o s ................................................................................................ 90
4 . 1 . 2 . I m p a c t o s i n d i r e t o s ............................................................................................ 94
4 . 1 . 3 . I m p a c t o s t o t a i s d o s g a s t o s d o s v i s i t a n t e s ......................................... 95
4.2.A economia do Círio: os efeitos derivados da condição de “Natal
d o s P a r a e n s e s ” .................................................................................................................. 97
4 . 3 . A e c o n o m i a t o t a l d o C í r i o d e N a z a r é d e B e l é m ............................... 100
C o n s i d e r a ç õ e s f i n a i s ................................................................................................... 101
B i b l i o g r a f i a ....................................................................................................................... 104
4
1. Introdução
O Círio6 de Nazaré, como evento religioso, é o centro de um acontecimento mais amplo,
que chamaremos aqui de Círio de Nazaré de Belém: um evento total (Mauss, 2003; Alves, 1980)
que combina um conjunto ou seqüência de rituais que se realizam em diversas instâncias e
esferas da vida da Cidade de Belém (Ver Box 1).
A cada ano se realiza um Círio de Nazaré de Belém: um momento do processo histórico
da construção social de um espaço-tempo simbólico estruturado por legítimas razões de fé, com
o concurso oportunista da alegria, da cultura, da política e do mercado. Trata-se, ao mesmo
tempo, de oportunidade de validação da dimensão sagrada da vida e uma sua consagração
profana. Tal construção se manifesta, concretamente, sobretudo na criação de oportunidade de
vivência sob impacto dos mistérios do poder divino, de sua capacidade de interferir e definir o
rumo da vida dos mortais com a mediação da Virgem mãe de Cristo, e no estabelecimento de
audiências privilegiadas, sobretudo para os prodígios e a palavra de Deus, na perspectiva da
catequese da fé católica. Ela se realiza, também, nas celebrações de pertencimento (à família, a
grupo, a lugar), para a exposição aos/dos signos da arte (comunicação performática dos seres
sociais), e para as mediações simbólicas e objetivas do poder e do capital (validação/negação de
imagens e realização de compras e vendas).
Nessa confluência, o lugar que cria e recria a cada ano a grande celebração, o
povoamento de Santa Maria de Maria de Belém do Grão-Pará, portal da Amazônia, ponto de
partida de sua colonização, centro estratégico do comércio que a conecta com o mundo, torna-se
denso de significados para cada um dos que o conformam em funções centrais ou periféricas,
próximas ou remotas, em posições imediatas ou mediatas. Com isso, revela-se atrativo simbólico
para o outro, para o estranho que busca aqui, de algum modo, o paraíso (Perdido? Prometido?
Perdido na promessa?) da fé, da alegria e da beleza. Isso implica em diversas viagens: a viagem
interior que motiva a generosidade e a prodigalidade; a viagem em torno de si (as procissões, o
arrastão, o auto, as paradas) onde se expõem os símbolos tangíveis da fé e da arte, onde se grita a
diferença, onde se pavoneia o poder; a viagem desde o interior que aproxima o rural do urbano
articulados pela cultura que tem nesses símbolos seus elementos de identidade; a viagem desde o
exterior que traz ao lugar os curiosos e os carentes dos seus atributos: de fé, de alegria e de
beleza. Nessas viagens se assenta a economia do Círio de Nazaré de Belém: a prodigalidade
6
Etimologicamente, a expressão “círio”, do latim “cereus” significa uma grande vela de cera, tem suas origens
portuguesas, os círios representavam um ajuntamento de pessoas que se organizavam para, em romaria, ir ao
santuário de nossa senhora de Nazaré, em Portugal.
5
altera o ato de consumir, posto que influi na disposição e na forma do consumo; a exposição
requer a produção, em sentido palpável, material e tangível, dos símbolos, da representação, da
performance; a aproximação do centro com o interior implica em custos, i.e. gasto efetivo de
energia e matéria para romper a inércia do afastamento, do mesmo modo que o deslocamento
para a visitação do estranho. Em meio a tudo, o poder, seja econômico seja político, paga para se
naturalizar ou divinizar nos símbolos - paga, naturalmente, com o que arrecada pela condição de
poder.
É nessa última perspectiva que o Círio de Nazaré de Belém constitui objeto deste
trabalho: enquanto economia, isto é, como momento especial da reprodução social em lugar
preciso, fundado na integração de processos produtivos de sistemas particulares, dentre os quais
se destaca o próprio Círio de Nazaré, o evento religioso.
Box 1 – Belém do Pará, o lugar do Círio de Nazaré
Belém do Pará é a capital do Estado do Pará, com 1,4 milhões de habitantes.
Considerada a região metropolitana de que é centro, elevar-se-á para mais de 2 milhões a
população total. Centro estratégico do sistema que estruturou a notável economia de exploração
de borracha extrativa, a cidade herdou interessante patrimônio histórico e arquitetônico, além
de uma estrutura urbana e portuária que a mantém fundamental na logística de grande parte da
Amazônia. A cidade tem três grandes universidades públicas e duas privadas, além de diversas
outras faculdades e institutos de pesquisa. O PIB total e per capita do município de Belém
alcançaram, em 2002, respectivamente R$ 6,6 bilhões e R$ 5.116,67.
O trabalho está dividido em três partes, além dessa introdução. No Capítulo 2 se
demonstrará a produção, o desenvolvimento e a situação atual do Círio de Nazaré, como um
sistema particular, central na conformação do Círio de Nazaré de Belém. Com a idéia de
produção procurar-se-á entender o processo da construção dos símbolos dos “movimentos em
torno de si” e de sua dinâmica, tratando, em conseqüência, da emergência dos seus mecanismos
de coordenação, governança e financiamento. No Capítulo 3 se discutirão os subsistemas
derivados ou associados à existência do Círio de Nazaré. De um lado, a produção de eventos
culturais, de outro a criação de um turismo religioso. No Capítulo 4 serão calculadas as
dimensões estritamente econômicas do Círio de Nazaré de Belém. Trata-se de visualizar de que
modo todo o conjunto de eventos influencia a economia da cidade de Belém, de que modo todos
os esforços em conjunto influenciam os arranjos e sistemas produtivos locais, condicionando sua
produção e reprodução. Ao final apresentar-se-ão considerações finais que englobam
recomendações de políticas.
6
2. O Círio de Nazaré: o sistema central do Círio de Nazaré de Belém
O Círio de Nazaré, a procissão matriz e suas derivações, é o evento central e fundador do
Círio de Nazaré de Belém, o grande momento vivenciado anualmente pela cidade de Belém e
suas adjacências. Cada celebração do Círio de Nazaré é um momento, o último da série que
constitui o processo histórico da construção social de um lugar santificado: aquele por onde
perambula o ente que santifica e para onde perambularão os carentes dessa santificação. O Círio
de Nazaré é, pois, por um lado, um lapso de tempo definido e finito, momento presente,
oportunidade da realização e exposição de prodígios mediante os critérios da confissão religiosa
católica; por outro, um lapso de tempo indefinido e infinito, que configura o passado, o lugar
psico-social onde residem os prodígios realizados, e o futuro, o lugar psico-social onde se
realizarão sonhos, partes desses prodígios.
De um passado de milagres se alimentam as esperanças de um futuro abençoado. O Círio
de Nazaré é a oportunidade de vivências que aproximam, sob os auspícios da confissão católica,
essas duas realidades mentais: a da fé alicerçada no passado e a da esperança antevista como
futuro tocado pela divindade.
Assim percebido, o Círio de Nazaré é, em si, um sistema constituído de uma esfera de
produção e uma outra de reprodução, do qual faz parte uma orientação finalística, para a
realização de objetivos sistêmicos, e mecanismos de feed back que permitem aferição do grau de
alcance dessas finalidades. São os seguintes os seus elementos constitutivos:
A produção do Círio. É o processo objetivo que articula meios tangíveis e intangíveis
para estabelecer, a cada ano, oportunidades privilegiadas de vivências que estimulem a fé e a
esperança em Deus e na divindade católica justificada pela história do Círio.
O produto do Círio. A experiência do Círio, o ato de vivenciá-lo perpetrado por cada
crente seria o ato de consumo do produto derivado do processo produtivo do Círio; cada vivência
subjetiva, individual, seria uma unidade absorvida (de consumo).
Os demandantes do Círio. Os que vivenciam o Círio são seus demandantes. Tal audiência
se divide entre os que demandam o Círio para pedir, os que demandam o Círio para agradecer, os
que demandam o Círio para pedir e agradecer, os que demandam o Círio para ver os que pedem e
os que agradecem – conferir o evento, indagar sobre razões, se extasiar sobre formas, sentir o
espetáculo. Os que pedem o fazem em silêncio. Os que agradecem alardeiam com o recurso
performático das diversas formas de pagamento de promessas. Que, no Círio de Nazaré tem três
maneiras: a) a exposição do objeto da graça, demonstração para o mundo do poder (de
intermediação?) da Santa – recurso recorrente em outras oportunidades religiosas; b) a
demonstração pública da Fé na Santa, pelo auto-imputação de sacrifício e c) pela prestação
7
imediata de um serviço à Santa, em retribuição à graça alcançada. As duas primeiras formas são
recorrentes em manifestações católicas de características semelhantes; a última, entretanto, é
típica do Círio de Nazaré – é um seu distintivo.
A finalidade do Círio. O sistema se orienta, no seu processo reprodutivo, pelo número
dessas vivências, sua finalidade sendo a de permitir o maior número possível delas.
A formação de capital simbólico e a reprodução do Círio. Cada unidade de vivência,
cada unidade de audiência, ao mesmo tempo em que satisfaz uma necessidade subjetiva,
individual, agrega memória e tradição e, portanto, significado histórico e cultural ao Círio (como
história), podendo ser interpretado como mecanismo de formação do capital simbólico
(Bourdieu, 1989) que fundamenta a própria produção do Círio (como momento): uma unidade
consumida a mais do produto do Círio implica um incremento de seu fundamento de última
instância. Seu consumo produz, em si, um milagre: amplia o objeto consumido.
A história do Círio – sua trajetória. A evolução do processo de produção do Círio – a
evolução do sistema nele baseado - é, assim, a) influenciado pela história e, portanto, dependente
de trajetória (path dependent) e b) resultado de procedimentos path eficient, i.e. incorporados na
produção por demonstrarem resultados finais superiores às demais alternativas nos termos da
finalidade já explicitada.
O desenvolvimento e política do Círio. A cada edição, pois, o Sistema amplia a base
sobre a qual operará a próxima edição, a partir de um mecanismo endógeno potencial para a
expansão: a ampliação e a densidade de sua própria história. Tal processo, contudo, pode ser
contido por fatores que aprisionem o sistema em estados de inércia ou potenciado por fatores que
o excitam. A política de desenvolvimento do Círio se constituiria da mediação institucional que
favorece a gestão consciente de mecanismos que regulam, a cada edição, o número dos que
vivenciam as experiências de fé e esperança oferecidas pelo sistema.
A razão (racionalidade) do sistema – a percepção de eficiência, os investimentos e as
inovações. A eficácia do sistema e do processo decisório que lhes orienta se demonstra, em
princípio, pelo número dos que vivenciam as experiências de fé e esperança, i.e., pela audiência
atingida para a constatação do poder da fé e para a palavra de esperança em cristo. Tanto maior a
audiência, mais eficaz terá sido o sistema em sua finalidade. Há duas possibilidades lógicas para
isso: a) operar para que se amplie o número dos que aproveitam as mesmas oportunidades
(ampliação por desenvolvimento extensivo) ou b) operar para que se multiplique o número de
oportunidades (ampliação por desenvolvimento intensivo). Qualquer que seja a escolha, ao
sistema será exigido esforço de mudança - isto é, capacidade de inovar e de arregimentar a
energia extraordinária para tanto. Uma inovação se afirmará se, além de permitir eficiência de
8
escala (expandir a audiência) comparável às possibilidades concorrentes, reduzir, mais que
qualquer dessas, o volume de esforço despendido por cada unidade dessa audiência.
A concorrência. O Círio de Nazaré é um mecanismo operado pela fé católica num tempo
e num espaço precisos. O tempo do Círio é concomitante com o tempo de outras manifestações
realizadas em espaços distintos. Para os que fazem a “viagem do exterior”, o Círio é alternativa a
outras oportunidades de exercício de fé e de esperança sob a égide da fé católica em outros
lugares. Por outra parte, a fé católica (e sua institucionalidade) não detém o monopólio das
oportunidades de exercício da fé e da esperança cristãs como ingredientes da vida social – como
um dos seus mecanismos de coesão e estabilidade. Para os que realizam “a viagem do interior”
para exercitar “a viagem interior”, a oportunidade do Círio realiza-se como alternativa num
campo em que outras confissões atuam oferecendo signos equivalentes.
2.1 O PRODÍGIO FUNDADOR DO CÍRIO
Segundo Rita Amaral, em sua tese de doutorado, todas as referências à origem da festa do
Círio de Nazaré remetem à lenda do aparecimento da imagem de Nossa Senhora de Nazaré, com
poderes miraculosos, achada por Plácido José de Souza - um caboclo da região, filho de um
português e uma índia nativa. Num certo dia de outubro de 1700, Plácido saiu para caçar na
região do igarapé Murutucu (onde hoje é a Basílica de Nazaré). Depois de muito caminhar pela
mata, parou para refrescar-se nas águas do igarapé. Ao levantar a cabeça, enxergou a imagem de
Nossa Senhora entre as pedras cheias de lodo. Católico fervoroso, Plácido levou a santa para o
barraco onde morava e ali, em um altar humilde, passou a venerar Nossa Senhora.
Diz-se, contudo, que no dia seguinte àquele em que foi encontrada, a imagem não
amanheceu no altar da casa de Plácido que, sem saber o que acontecera, caminhou até às
margens do Murutucu. Para sua surpresa, a imagem estava novamente ali, entre as pedras. Diz-se
que a Santa sumiu outras vezes para retornar teimosamente às margens do igarapé.
Plácido ergueu uma palhoça para abrigar a Santa. A imagem, em seu lugar, tornou-se
alvo de reverência e veneração populares crescentes. A partir deste ponto a Santa empreendeu
sua primeira viagem em 1793 – inaugurou-se, assim, a procissão do Círio de Nazaré, desde
então, sem interrupção, anualmente realizada em Belém. A imagem encontrada por Plácido é
mantida até hoje no altar mor da Basílica de Nazaré, sendo a referência principal de toda a
construção do Círio. Em torno dela se construíram os demais símbolos que estruturam, hoje, o
espaço e o tempo do Círio.
9
2.2 A LONGA TRAJETÓRIA DO CÍRIO
A construção do Círio, como processo histórico, está marcada por dois tipos de eventos:
os que construíram os símbolos em torno dos quais se estruturam os movimentos objetivos que
fazem os percursos de cada ano e os que criam e recriam tais percursos. Em ambos os casos há
eventos fundamentais, que criam elementos de grande significado, e mudanças que
complementam ou dão seqüência às inovações fundamentais.
O Quadro 1 nos permite acompanhar tais evoluções. Destacam-se, ali, duas grandes
ondas de criação: a primeira seqüência produz fundamentalmente os símbolos do Círio e se
estende por um século e meio; a segunda, amplia o espaço-tempo de influência desses símbolos:
um processo iniciado há três décadas e em notável andamento.
10
Quadro 1 - A construção do Círio como processo histórico, 1700 a 2004
Símbolos
Imagem e
seus
ornamentos
1700 Imagem da
Santa
encontrada
por Plácido
Ano
Carros e
Barcas
Berlinda
A corda
Hinos
Indulgências
1721
1793
1805
1826
1854
O Espaço-Tempo
Lugar
Viagens/Romarias
Central:
Santuário
Primeira
ermida para
abrigar a
Santa no
lugar para o
qual sempre
retornava
Construção
da segunda
ermida
Primeiro Círio
(horário vespertino
- roteiro: traslado
até o Palácio de
Governo e retorno
à ermida)
Primeiro
Carro para
lembrar
milagre, por
ordem de D.
Maria I
Carro dos
Fogos para
lembrar
nações
católicas,
permaneceu
até 1981
O Papa Pio
XIX concede
indulgência
plenária a
quem
acompanha o
Círio
O Círio passa a se
realizar pela manhã
Dinâmica de mudanças e inovações
Gestão e centro Construção Conformação Constituição
estratégico
dos
do espaço do do tempo do
símbolos
Círio
Círio
11
Símbolos
Ano
1855
Imagem e
seus
ornamentos
Carros e
Barcas
Barca
lembrando
milagres
com marujos
Berlinda
A corda
Carro
puxado a
animais
para
conduzir a
santa
Para desatolar a
Berlinda
utilizou-se uma
corda puxada
pela multidão
Hinos
Indulgências
1861
Criada a
Paróquia de
N. Sra. de
Nazaré
1872
Oficializada
pela Santa Sé
a Missa à
Virgem Maria
1882
1885
O Círio passa a sair
da Catedral da Sé
O ato da
multidão puxar a
Berlinda com a
Corda se torna
oficial.
1888
Traslado, que já
saía do Colégio
Amparo, passa a ter
o trajeto do Círio
no sentido contrário
Translado inicia no
Colégio Gentil
Bitencourt
Firmada a data do
Círio no segundo
domingo de
outubro
1889
1901
1906
O Espaço-Tempo
Lugar
Viagens/Romarias
Central:
Santuário
Concedida
indulgência
plenária para
quem
participasse
Dinâmica de mudanças e inovações
Gestão e centro Construção Conformação Constituição
estratégico
dos
do espaço do do tempo do
símbolos
Círio
Círio
12
Símbolos
Ano
Imagem e
seus
ornamentos
Carros e
Barcas
Berlinda
A corda
Hinos
Indulgências
O Espaço-Tempo
Lugar
Viagens/Romarias
Central:
Santuário
Dinâmica de mudanças e inovações
Gestão e centro Construção Conformação Constituição
estratégico
dos
do espaço do do tempo do
símbolos
Círio
Círio
piamente em
qualquer dia
do novenário
do Círio
1909
Criação do
Hino
Oficial:
"Vós Sois o
Lírio
Mimoso"
Colocada a
pedra
fundamental
da Basílica
de Nazaré
1910
Instituída a
Diretoria da
Festa
1914
Colocada a
cumieira da
Basílica
O templo
recebeu de
Roma o
título de
Basílica
1923
1926
1931
1953 O manto da
imagem
original
doado pelo
6o. CE Nl
1963
Carros se
tornam
andores
A berlinda
se
transforma
em andor
Retorna a
Berlinda
com rodas
para
reabilitar a
corda
A Berlinda
de madeira
foi
A corda foi
abolida porque
deixou de ter
função/utilidade
A corda foi
reabilitada pelo
seu valor
simbólico
Composição
do Hino:
"Virgem de
13
Símbolos
Ano
Imagem e
seus
ornamentos
Carros e
Barcas
substituída
por outra
de ferro e
cristal
A Berlinda
volta a ser
de madeira
1965
1969
Berlinda
A corda
Hinos
Indulgências
O Espaço-Tempo
Lugar
Viagens/Romarias
Central:
Santuário
Nazaré"
Criação da
imagem que
substitui a
imagem
original
1972
Criadas as
peregrinações
1974
Criada a
Guarda da
Santa
1975
1980
1982
Composição
do Hino:
Maria de
Nazaré (Pe.
Zezinho)
Imagem
original
abençoada
pelo Papa
Carros dos
Anjos
(estudantes)
Barca com
Vela
1986
1989
Romaria Fluvial
Romaria
Rodoviária
1987
1990
Dinâmica de mudanças e inovações
Gestão e centro Construção Conformação Constituição
estratégico
dos
do espaço do do tempo do
símbolos
Círio
Círio
Composição
do Hino:
"Senhora da
Berlinda"
Barco dos
escoteiros
Romaria dos
Motoqueiros e
Romaria Infantil
14
Símbolos
Ano
Imagem e
seus
ornamentos
Carros e
Barcas
Berlinda
A corda
Hinos
Indulgências
1991
1997
2000
Barco do
Caboclo
Plácido
2001
2002
O Espaço-Tempo
Dinâmica de mudanças e inovações
Gestão e centro Construção Conformação Constituição
Lugar
estratégico
Viagens/Romarias
Central:
dos
do espaço do do tempo do
Santuário
símbolos
Círio
Círio
Iniciado cíclo de
peregrinação pelas
cidades do interior
do Pará e nas
principais capitais e
cidades brasileiras
Traslado para
Ananindeua
Romaria da
Juventude
Carro da
Santíssima
Trindade
2003
Incia a
peregrinação por
instituições e
empresas públicas e
privadas do Estado
do Pará
Romaria do Ciclista
2004
Fonte: Freitas, 2003; Pantoja, 2004. Convenções:
a
Mudanças primordiais
v
Mudanças derivadas e secundárias
Reestruturação
da Diretoria da
Festa e
promulgação de
um novo
Regimento
15
A produção dos símbolos. A descoberta/revelação da (imagem da) Santa em 17007; o
modo apoteótico de demonstração de milagres na criação/adoção dos carros em 18058; a
exposição da veneração por parte do poder político por carros apoteóticos em 18269; a
santificação oficial do evento em 184510; a condução da Santa por carro puxado por número
indeterminado de pessoas, pela invenção articulada da Berlinda e da Corda, ambos em 185511.
Estes eventos fundam os elementos que estruturam atualmente a procissão do Círio de Nazaré
(conf. Box 1).
A produção do espaço-tempo do Círio. Em 1700, a própria Santa estabelece seu lugar, o
ponto para onde, se removida, sempre retornará; um pouco menos de um século depois, em
1793, fará sua primeira viagem, sagrará seu primeiro roteiro – o caminho entre sua morada e as
moradas do poder político (1793) e eclesiástico (1882) do Grão Pará – vizinhos na centro da
povoação de Santa Maria de Belém. Este foi o espaço do Círio por quase dois séculos, quando
então, em 1972, se criaram as peregrinações e, em 1986, se iniciaram, com a Romaria Fluvial, as
romarias especiais.
As peregrinações foram idealizadas como metodologia de evangelização e catequese
baseada nas comunidades e nos lares. Como parte da preparação para o Círio, réplicas da
imagem da Santa são transferidas de casa em casa, ensejando a oportunidade de orações e
reflexões em torno de temas renovados a cada ano. Objetivamente, a inovação:
a) Leva ao espaço privado as oportunidades do Círio que até então só se realizavam em
espaços públicos e
b) Rompe com o roteiro único, dando mobilidade aos símbolos em conseqüência do atributo
de mobilidade agora representado na Imagem Peregrina da Santa que, com isso, torna-se
capaz de ir onde o povo está.
7
A imagem original da Santa é substituída, desde final dos anos sessenta do século passado, por uma outra imagem
designada Imagem Peregrina. Desde então, a imagem original não sai da Basílica. Criou-se, todavia, uma
cerimônia em que ela desce do altar principal, o altar Glória, para ficar por toda a quinzena de celebrações do
Círio, no Presbitério da Basílica, mais perto do povo (conf. Amaral, 2003).
8
Atualmente a procissão conta com 12 carros: Carro do Caboclo Plácido, Barca dos Escoteiros; Barca Nova; Carro
do Anjo Custódia, Barca com Vela, Carro do Anjo Protetor da Cidade, Barca Portuguesa, Carro dos Anjos I, Barca
com Remos, Carro dos Anjos II, Carro dos Milagres Dom Ruas Roupinho/Brigue São João Batista e Carro da
Santíssima Trindade.
9
Atualmente a procissão conta com 12 carros: Carro do Caboclo Plácido, Barca dos Escoteiros; Barca Nova; Carro
do Anjo Custódia, Barca com Vela, Carro do Anjo Protetor da Cidade, Barca Portuguesa, Carro dos Anjos I, Barca
com Remos, Carro dos Anjos II, Carro dos Milagres Dom Ruas Roupinho/Brigue São João Batista e Carro da
Santíssima Trindade.
10
O reconhecimento do caráter purificador da festa pela alta cúpula da Igreja Católica é mais que um reforço: é
consagração dos símbolos e seus poderes.
11
Segundo Vanda Pantoja (2005), para leigos e sacerdotes envolvidos com a organização do Círio a Corda é um dos
mais representativos símbolos da devoção. A Corda é entendida, ademais, como o elemento através do qual o povo
se manifesta de fato na celebração, o instrumento pelo qual o povo controla e se apropria da procissão (Pantoja,
2005:70).
16
Com isso se abrem caminhos para as romarias especiais, iniciadas com a Romaria
Fluvial, em 1986, orientadas a públicos particulares e cumprindo roteiros próprios,
tendencialmente de abrangência crescente. Hoje são sete essas procissões (ver Tabela 2).
Ademais, a Imagem Peregrina empreende longos trajetos para o exterior e aprofunda viagens
interiores. No primeiro esforço, capitais e grandes cidades do País são visitadas nos anos de
1991, 1992 e 1993, como parte das comemorações dos 200 anos do Círio de Nazaré; no segundo,
a peregrinação se aprofunda no espaço privado, alcançando, desde 2003, instituições e empresas.
Em 2006, 36 dessas organizações serão visitadas pela Santa (conf. Tabela 3).
Quadro 2 – Cronologia e descrição das novas romarias do Círio de Nazaré
Romaria
Ano de
Origem
Fluvial
1986
Rodoviária
1989
Dos Motoqueiros
1990
Infantil
1990
Traslado
1997
Da Juventude
2001
Dos Ciclistas
2004
Espaços utilizados
Procissão fluvial realizada na baía do Guajará com saída do Trapiche do Distrito de Icoaraci
até a Escadinha do Cais do porto de Belém, na manhã do segundo sábado de outubro.
Cortejo de carros com saída da igreja da Matriz, no município de Ananindeua, até o Trapiche
do Distrito de Icoaraci, nas primeiras horas do segundo sábado de outubro.
Cortejo de motocicletas que sai da Escadinha do Cais do porto, após a chegada em Belém da
Romaria Fluvial, e se dirige até o Colégio Gentil Bittencourt.
Procissão realizada nas ruas próximas à Basílica, voltada para o público infantil, realizada no
domingo após o círio.
Primeira procissão do círio, realizada na segunda sexta-feira de outubro; é um cortejo
realizado principalmente por carros e bicicletas que se dirigem, por volta das onze horas da
manhã, da Basílica de Nazaré até os municípios de Ananindeua e Marituba. Com vigília na
igreja de Matriz de Ananindeua e posterior deslocamento para o Distrito de Icoaraci nas
primeiras horas do sábado para realização da Romaria Fluvial.
Procissão que sai de uma das igrejas ligadas a paróquia de Nazaré, no primeiro sábado após
o Círio, com destino à praça Santuário.
Procissão de ciclistas realizada pela primeira vez no ano de 2004, no dia 12 de outubro, com
saída da praça Santuário e retorno ao mesmo local.
Fonte: Pantoja, 2005.
Associada aos novos roteiros e espaços, interiores ou exteriores, ocorre a reformulação do
tempo do Círio de Nazaré - extensiva e intensivamente. Há uma elevação da extensão do tempo
do Círio na medida em que se expandiu da quinzena original para um calendário que, no que se
refere aos eventos em espaço público, se estende, neste ano de 2006, por exemplo, de 25 de
agosto a 23 de outubro (conf. Quadro 3); no que se refere ao roteiro privado das peregrinações,
vai do dia 12 de agosto até 4 de novembro (conf. Quadro 4).
Ao lado disso, há uma
intensificação, um adensamento do tempo quando se operam múltiplos eventos num mesmo
espaço de tempo. No dia 7 de outubro, por exemplo, ocorrem 5 romarias e em vários momentos
se tem peregrinações concomitantes entre si e com outros eventos.
17
Quadro 3 – Calendário do Círio 2006
Evento
Data
Hora
Local
Missa do Mandato
Vigília de Adoração (início)
Vigília de Adoração (final)
Romaria p/ Ananindeua
Abertura do Círio
Romaria Rodoviária
Romaria Fluvial
Romaria dos Motoqueiros
Descida da Imagem
Missa e Trasladação
Missa do Círio
Círio
Romaria dos Ciclistas
Romaria da Juventude
Romaria das Crianças
Procissão da Festa
Missa Encerramento
Subida da Imagem
Missa do Recírio
Incineração das Súplicas
Recírio
25/08
04/10
06/10
06/10
05/10
07/10
07/10
07/10
07/10
07/10
08/10
08/10
12/10
14/10
15/10
22/10
22/10
23/10
23/10
23/10
23/10
20:00
14:00
10:00
12:00
20:00
06:00
09:00
11:00
12:00
17:00
06:00
07:00
08:00
18:00
08:30
08:00
20:00
06:00
06:30
06:30
07:30
Praça Santuário
Auditório D.Vicente Zico
Auditório D.Vicente Zico
Basílica de Nazaré (saída)
Barraca da Santa
Igreja Matriz de Ananindeua
Trapiche de Icoaraci
Escadinha do Cais do Porto
Basílica de Nazaré
C. Gentil Bittencourt
Catedral da Sé
Catedral da Sé
Praça do Santuário
Comunidade São Brás (saída)
Praça Santuário
Praça Santuário
Praça Santuário
Basílica de Nazaré
Praça Santuário
Basílica de Nazaré
Praça Santuário
Fonte: Livro das Peregrinações.
Quadro 4 – Calendário das Peregrinações Oficiais do Círio 2006
Evento
Data
Hora
Local
São Domingos de Gusmão
12.08.2006
19:00
Bairro da Terra Firme
TELEMAR (c/missa)
18.08.2006
08:30
Av. Dr. Moraes c/ B. de Aguiar
Colégio Santo Antonio
27.08.2006
08às18
Av. Assis de Vasconcelos
Colégio do Carmo
30.08.2006
07:30
Cidade Velha
SEDUC - Sec.Educ.e Cultura (c/missa)
20.09.2006
08:30
Rod. Aug. Montenegro km 10
Fábrica Sta. Maria Óleos e Sabão(c/missa)
20.09.2006
17:00
Icoaraci
Mendes Publicidade
21.09.2006
08:15
Rua Benjamim Constant
Centro de Ensino Superior do Pará
21.09.2006
18:00
Av. Nazaré
Vale do Rio Doce – ALBRÁS
22.09.2006
06:30
Barcarena
Grêmio Literário Português
24.09.2006
10:30
Rod. Aug. Monte Negro km
COCAL COLA
24.09.2006
17:00
Av. Augusto Montenegro
Paróquia de Santa Terezinha
25.09.2006
08:00/22:00
Av. Roberto Camelier - Jurunas
Assembléia Paraense
26.09.2006
20:00
Sede Social - Av Alm. Barroso
Garantia - Marketing Relacionamento
27.09.2006
10:00
Dr. Moraes
Vale do Rio Doce – Belém
27.09.2006
17:00
Av. Magalhães Barata
UNIMED – Belém
28.09.2006
18:30
Trav. Curuzu, 2212
REDE - CELPA
28.09.2006
08:00
Centro Operacional
Tribunal de Justiça do Estado - TJE
29.09.2006
09:00
Cidade Velha
GRUPO SACRAMENTA - C/MISSA
30.09.2006
18:00
Trav. Coronel Luiz Bentes
18
Evento
Data
Hora
Local
Comando do 4º DN - Capelania Militar
01.10.2006
09:30
Rod. Artur Bernardes - Vila Naval
Correio -Diretoria Regional
02.10.2006
09:00
Av. Presidente Vargas, 248
TRT 8ª Região
02.10.2006
14:00
Praça Brasil
CTBEL
03.10.2006
09:00
Av. Bernardo Sayão 2072
Câmara Municipal de Belém
04.10.2006
09:00
Trav do Chaco
Assembléia Legislativa
05.10.2006
09:00
Sede da Assembléia
Ministério Público
05.10.2006
10:30
Praça Felipe Patroni
Paróquia de Santana
05.10.2006
11:30
Centro Comercial
Defensoria Pública
05.10.2006
12:30
Banco do Brasil S.A.
06.10.2006
08:00
Av. Presidente Vargas, 248
1º COMAR
11.10.2006
08:00
Av. Julio César/ Almirante Barroso
HEMOPA
16.10.2006
10:00
Trav. Pe. Eutíquio, 2109
BRADESCO
18.10.2006
08:00
Av. Generalíssimo Deodoro
Hospital da Aeronáutica de Belém
18.10.2006
10:30
Av. Almirante Barroso
Capanema - Paróquia N. Sª. P. Socorro
04.11.2006
08:00
Capanema
Fonte: Diretoria das Festividades de Nazaré.
2.2 A CONFIGURAÇÃO ESPAÇO-TEMPO E A FINALIDADE DO CÍRIO DE NAZARÉ
Poderíamos sintetizar esquematicamente na Figura 1 os movimentos mencionados. Ali se
representam o tempo no eixo vertical e o espaço no eixo horizontal. O processo se inicia com
uma audiência que se forma no centro de Belém (o espaço e) num dia de outubro que se fixou no
segundo domingo do mês (o tempo t=0). A criação do Recírio, a primeira inovação, ampliou o
tempo do Círio de t para t+15 – já não se trata mais do dia, mas da quinzena do Círio. A
audiência do Círio, antes At, a multidão que compõe o cortejo da procissão, é, agora, At + At+15,
sendo esta última parcela a audiência adicional ganha pela existência do Recírio que, por quinze
dias mais, enseja oportunidades adicionais para a reflexão e para a Palavra. O traslado BelémAnanindeua produz um deslocamento no espaço de 40 quilômetros, que abarca uma audiência
adicional representada por Ae+40. Por outro lado, no centro de Belém se produz um deslocamento
para outra dimensão, a da esfera privada. Isso cria um adicional de audiência, da mesma maneira
que o deslocamento do tempo para antes do tempo 0, o segundo domingo do Círio, representado
pelas peregrinações. De modo que, ao final, a configuração espaço-tempo do Círio de Nazaré
determina a sua audiência total, sua finalidade última. A Audiência Total do Círio de Nazaré
(ATCN) é o somatório de todas as audiências auferidas: a da procissão matriz e dos demais
movimentos ensejado pelos deslocamentos, seja do tempo, seja do espaço. Assim, ATCN = ΣAt
+ ΣAe.
19
Figura 1 – Representação esquemática da produção da audiência total do Círio de Nazaré
pela sua configuração espaço-tempo
Tempo do
Círio
Fim das perigrinações
(t + f)
Recírio (t+15)
At + f
Círio de Nazaré
(Dimensão Religiosa) =
Audiência do Círio =
Círio de Nazaré
SAt+SAe
At +15
At
2º. Domingo de out. (t)
ω
At − 6
=
Audiência para o poder e
para a palavra de Cristo,
através da Virgem de
Nazaré
=
ΣAt + ΣAe
Apresentação do
manto (t - 6 )
Início das perigrinações
(t -i)
At − i
Ae + 40 km
Centro de Centro de
Belém:
Belém:
Esfera
Esfera
Privada
pública
(e-a)
Ae + 64 km
BelémAnanindeua
(e+40Km por
terra)
AnanindeuaIcoaraci
(e+ 64 Km
por terra)
Ae + 10 mima
Ae+ω
Icoaraci-Centro de
Belém
(e+ 10 milhas por
água)
Alcance das
Perigrinações
Espaço do
Círio
(e+w)
(e)
Fonte: Elaboração dos autores.
A reconfiguração espaço-tempo do Círio de Nazaré não é, pois, neutra em relação a sua
finalidade, a formação de uma audiência para o poder e para a palavra de fé em Deus e esperança
em Cristo, com a mediação de uma manifestação particular da Virgem, sua Mãe. A rigor, do
manejo dessas variáveis duas variáveis tem dependido a eficiência do sistema12. Sobre isso nos
debruçaremos no próximo segmento.
2.3 AS FONTES DE EVOLUÇÃO DO CÍRIO DE NAZARÉ NO CUMPRIMENTO DE SUA
FINALIDADE: CRIAÇÃO E RECRIAÇÃO SIMBÓLICA – INOVAÇÃO DO QUE SE
OFERECE; CONFIGURAÇÃO ESPAÇO-TEMPO – INOVAÇÃO DO COMO SE
OFERECE
A demonstração das condições mediante as quais evoluiu a Audiência Total do Círio de
Nazaré (ATCN), sua finalidade, é fundamental para a compreensão do seu desenvolvimento. No
12
Há uma diferença importante entre eventos como o Círio, que resulta da sagração do lugar por um tempo
determinado (a criação e recriação de um espaço-tempo), e lugares permanentemente sagrados, como Fátima, em
Portugal, ou Juazeiro do Norte e Aparecida do Norte, no Brasil. Fora da “quadra nazarena” se perde a áurea
sagrada do espaço, em Belém do Círio. Em Aparecida da padroeira do Brasil, por seu turno, os espaços são
sagrados, independentes da temporalidade: o porto, o Santuário Maior, o Santuário Menor e outras atrações não
precisam de tempos sagrados para receber os visitantes. Assim como não tem tempo o poder dos lugares onde o
Padre Cícero Romão Batista fez seus milagres. Nesses casos, o espaço possui independente do tempo, a
capacidade de ligar os fiéis às divindades.
20
Gráfico 1 estão as compilações históricas e estatísticas em relação a audiência e sua composição
(Procissão do Círio e Outras Procissões). Além dos números estimados para as audiências do
Círio ao longo dos últimos 150 anos anotamos, também, as taxas geométricas médias de
incremento anual para os períodos para os quais se dispôs de informações.
Consideradas essas taxas médias de crescimento observadas para os períodos irregulares,
modelamos a série completa ano a ano, obtendo as taxas para cada ano como os termos de
progressões aritméticas (PA), uma para cada período explicitado no Gráfico 1. Para cada
período, o primeiro termo da progressão aritmética correspondente foi obtido considerando que o
valor da soma dos seus termos é igual ao número de anos do intervalo vezes a taxa geométrica de
incremento médio conhecida (conf. Gráfico 1) e o último termo é um valor igual ao primeiro
termo da progressão correspondente ao intervalo seguinte. De posse desses valores calculou-se a
razão da progressão em questão (a variação absoluta da taxa de ano para ano, naquele período)
utilizando uma variação da fórmula da somo dos termos de um PA finita13. Os cálculos se
fizeram iniciando pelo período mais recente (1999 a 2005), para o qual o último termo da
progressão foi estabelecido como de 12,4%, a taxa média de crescimento dos três últimos anos.
O resultado do modelo está no Gráfico 2.
Observamos três períodos importantes da evolução da Audiência Total do Círio de
Nazaré (ATCN) e, em cada um, fases distintas.
1. Um primeiro período (1900 a 1970) se caracteriza por um ciclo completo, com fases de
expansão em dois estágios – um com taxas crescentes e o outro a taxas decrescentes – auge e
declínio.
1.1. A fase de crescimento a taxas crescente começa nos primeiros anos do século XX, se
estendendo até fins dos anos trinta (ver Gráfico 3). Este parece se constituir um período
caracterizado pela consolidação dos símbolos já estruturados, como mencionado, em
meados do século anterior. No período, vários eventos reforçaram esses símbolos: em
1901 foi concedida indulgência plenária para quem participasse piamente em qualquer
dia do novenário do Círio; em 1909 foi criado o Hino Oficial do Círio “Vós Sois o Lírio
Mimoso”, até hoje muitíssimo apreciado; de 1909 a 1914 foi construída a Basílica de
Nazaré, a qual recebeu de Roma o título de Basílica em 1926. Ademais, foi neste último
período, mais precisamente em 1910, que se criou a Diretoria da Festa, uma inovação
organizacional de grande significado.
13
Nessas condições, a fórmula da soma dos termos da PA é n.i=n.(a1+an)/2, para i sendo a média do crescimento
anual do período conhecida, n o número de anos, a1 o primeiro termo e an o último termo. Assim, a1 = na - 2i. E
a razão r = ( an - a1)/n.
21
1.2. Em contraste com essa vivacidade, os períodos que seguem se caracterizam por baixa
atividade de reforço ou criação simbólica, ou de inovação no processo de produção e
gestão do Círio de Nazaré.
1.3. Em consonância com isso cai o ritmo de expansão ao longo dos anos quarenta,
decrescendo a taxa a ATCN de ano para ano até o ponto em que, em meados dos anos
cinqüenta, inicia uma fase de declínio que tem seu ponto mais baixo em fins dos anos
sessenta.
2. Um segundo período (1970 a 1990/93) se inicia nos primeiros anos da década de setenta e
tende à estagnação no início da década de noventa.
2.1. No início dos anos setenta recuperam-se as taxas de crescimento e até os primeiros anos
da década de oitenta verifica-se uma expansão acelerada, caindo a partir daí até atingir
níveis próximos de zero no início dos anos noventa. A retomada do crescimento nesse
período parece claramente associada à grande inovação das peregrinações da Santa, em
1972 – o que permitiu uma primeira reconfiguração espaço-tempo do Círio (ver Gráfico
4). Parece, também, atrelada a uma importante inovação organizacional, a criação da
Guarda da Santa, em 1974. Deve-se considerar, ainda, a criação de novo hino (1975), o
reforço simbólico representado pela benção do Papa à Santa (1980) e pela criação de
novos carros e barcas (1980 e 1982).
2.2. A partir de 1983, ao par com uma baixa atividade de reforço e criação, se verifica queda
continuada da taxa de incremento, a qual apresenta valores negativos nos primeiros anos
da década de noventa, chegando ao ponto mais baixo em 1993.
3. A terceira fase (1990/93 até o presente momento) inicia com recuperação das taxas de
crescimento na primeira metade dos anos noventa (ver Gráfico 6). O novo momento parece
marcado por um aprofundamento das estratégias iniciadas no período anterior, com ênfase
nas peregrinações e, na esteira dos primeiros experimentos (a Romaria Fluvial, em 1986, e a
Romaria Rodoviária, 1990), nas romarias especiais. Digno de nota é, também, a mudança
organizacional representada pela criação, em 2001, de um novo Regimento que reformula
profundamente a gestão do Círio. A isso nos reportaremos no próximo segmento.
22
Gráfico 1 – Evolução da Audiência Total do Círio, 1793 a 2005
4.000.000
3.50 0.0 00
1982 a 1992
Proc. do Círio: 5,8% a.a.
Total:
8,0% a.a.
3.000.000
1999 a 2005
Proc. do Círio:
4,9% a.a.
Outras procissões: 19,7% a.a.
Total:
9,7% a.a.
1992 a 1999
Proc. do Círio:
1,0% a.a.
Outras procissões: 6,5% a.a.
Total:
2,2% a.a.
2.500.000
1975
a
1982
10,4% a.a.
2.000.000
937
a
196
6
2 4
1.500.000
1.000.000
500.000
1902
a
1928
1928
a
1937
5,5%
8%
1966
a
1975
0%
a.a.
Círio de Nazaré
Fonte: Pantoja, 2006. IPHAN, 2004a e 2004b. Amaral, 2003.
Outras Procissões
Audiência Total
20
05
20
04
20
03
20
02
20
01
20
00
19
99
19
98
19
97
19
96
19
95
19
94
19
93
19
92
19
91
19
90
19
82
19
80
19
79
19
76
19
75
19
66
19
37
19
28
19
27
19
02
17
93
0
23
Gráfico 3 – Evolução da Audiência Total do Círio de Nazaré (valor absoluto e taxas de crescimento) –1902/2005
20%
4.000.000
15%
3.000.000
2.500.000
10%
2.000.000
5%
1.500.000
1.000.000
0%
500.000
0
-5%
2004
2001
1998
1995
1992
1989
1986
1983
1980
1977
1974
1971
TxIncremento
1968
1965
1962
1959
1956
Fonte: Gráfico 1. Cálculos ano a ano pelo modelo apresentado na Nota 13 e contexto.
1953
1950
1947
1944
1941
1938
1935
1932
1929
1926
1923
1920
1917
1914
1911
1908
1905
1902
ATCN
Taxa de Incremento Anua
Audiência Total do Círio de Nazar
3.500.000
24
Gráfico 4 – Evolução da Audiência Total do Círio de Nazaré - 1902 a 1969
500.000
10%
450.000
400.000
6%
350.000
1910
Criação da Diretoria
da Festa
300.000
4%
1926
Reconheci-mento da
Basílica por Roma
250.000
200.000
1909-1914 Criado
Hino, Construção da
Basílica
1901 Concessão de
Indulgências por
participação
150.000
2%
0%
100.000
-2%
50.000
0
-4%
1968
1966
1964
1962
1960
1958
1956
1954
1952
1950
1948
TxIncremento
1946
1944
1942
1940
1938
Fonte: Gráfico 1. Cálculos ano a ano pelo modelo apresentado na Nota 13 e contexto.
1936
1934
1932
1930
1928
1926
1924
1922
1920
1918
1916
1914
1912
1910
1908
1906
1904
1902
ATCN
Taxa de Incremento Anua
Audiência Total do Círio de Nazar
8%
25
Gráfico 5 – Evolução da Audiência Total do Círio de Nazaré – 1970 a 1994
2.000.000
20%
1985
Iniciam as
transmissões de
TV do Círio
1.600.000
15%
1.400.000
1.200.000
1.000.000
10%
1972
Criadas as
peregrinações da Santa
1980
Benção do
Papa João
Paulo II
1974
Criada a Guarda da
Santa
800.000
1983 a 1990
Aumento da
Corda de 50 para
420 mts
1980 a 1982
Criação de novos
Carros e Barcas
5%
600.000
1975
Criado novo Hino
400.000
0%
200.000
0
-5%
1993
1992
1991
1990
1989
1988
1987
1986
TxIncremento
1985
1984
1983
1982
Fonte: Gráfico 1. Cálculos ano a ano pelo modelo apresentado na Nota 13 e contexto.
1981
1980
1979
1978
1977
1976
1975
1974
1973
1972
1971
1970
ATCN
Taxa de Incremento Anual
Audiência Total do Círio de Nazaré
1.800.000
26
4.000.000
14%
3.500.000
12%
3.000.000
10%
2.500.000
8%
2.000.000
6%
1.500.000
4%
1.000.000
2%
500.000
0%
0
-2%
2005
2004
2003
TxIncremento
2002
2001
Fonte: Gráfico 1. Cálculos ano a ano pelo modelo apresentado na Nota 13 e contexto.
2000
1999
1998
1997
1996
1995
1994
ATCN
Taxa de Incremento Anua
Audiência Total do Círio de Nazar
Gráfico 6 – Evolução da Audiência Total do Círio de Nazaré – 1995 a 2005
27
2.4 A PRODUÇÃO E A REPRODUÇÃO DO CÍRIO
A produção do Círio de Nazaré, como processo que combina elementos tangíveis e
intangíveis na criação e vivência de oportunidade especial de “...adoração a Deus, com o
incentivo à devoção a Nossa Senhora de Nazaré, padroeira do Povo Paraense” (Regimento da
Diretoria da Festa, Cap. I – Da Festividade: Missão), se faz em dois momentos: o da
arregimentação dos meios de produção e o da sua realização. O primeiro implica em garantir os
pressupostos para que a Palavra seja bem pronunciada e bem ouvida, para que possa vir a ser
bem absorvida; os requisitos para que a Visão corresponda ao idealizado, ou melhor, para além
do imaginado, seja em esplendor, seja em magnitude; para que a ordem e harmonia necessárias à
contrição, à reflexão, à meditação, à oração, ao encanto, sejam alcançadas. Disponibilizados
(pregadores, meios de audição, estética de apresentação dos símbolos, agentes coordenadores,
meios e espaço de deslocamentos), tais elementos se combinam na realização do Círio. O
processo ocorre com a presença dos que demandam o Círio para pedir ou para agradecer: os
romeiros preenchem os carros com os seus motivos, puxam a berlinda, pedem graças em
reverência luminosa ou agradecem em estardalhaço impressionante. Eles são a energia viva que
articula e move os símbolos. Eles criam o momento mágico, enfim a mágica da oportunidade que
é o Círio. E consomem o resultado. De modo que o momento da realização do Círio é o
momento da sua absorção e os que os que o realizam são os que o absorvem.
Absorvido, o Círio se torna memória, passado, ao mesmo tempo que promessa, futuro
(contrato). E, assim, terá que ser como resultado de ter sido. Ele terá que ser para que as
esperanças hoje formadas como um devir de promessas, sejam amanhã relatadas em cera, em
barro, em madeira, em suor, em sangue, em lágrimas e risos, como realidades alcançadas. Como
tal, o Círio de Nazaré é uma cadeia infinita de eventos, sempre uma repetição do mesmo
processo para o cumprimento de uma finalidade dada e específica; sempre, porém, algo
diferente, posto que realização particular e única desse processo, combinação histórica de
elementos em mutação. Trata-se, isto posto, de um sistema dinâmico em reprodução, com a
particularidade de ter a produção e o consumo articulados num mesmo momento e as esferas de
produção e de consumo articulados pelo mesmo agente.
Como um sistema, o Círio tem propriedades de auto-poiesis (auto-organização),
ajustando-se para a garantia da sua permanência e refazendo-se orientado por critérios de
eficiência reprodutiva. Ao mesmo tempo, o Círio é sub-sistema de um todo social mais
complexo, com o qual interage.
28
Como um sistema capaz de se auto-organizar, o Círio vem ajustando ao longo do tempo
uma estrutura própria de governança, a tornar mais eficientes a disponibilização dos meios de
realização, a preservação da memória, a formação de mecanismos de feed back, a sistematização
do aprendizado e a absorção das capacidades alcançadas em outros sub-sistemas sociais e sua
utilização nos ajustamentos de trajetória e correção de rumo. Esse movimento carrega consigo
uma tensão que cresce na mediada em que se distanciam as razões e propósitos dos que
planejam, das razões e propósitos dos que produzem o Círio. Disso trataremos no segmento 2.5.
Como um subsistema do todo social, o Círio de Nazaré Capta energia social em outros subsistemas que fazem a formação econômico-social em que se insere. Trataremos aspectos disso
quando discutirmos o financiamento do Círio de Nazaré no segmento 2.6.
2.5 A DIRETORIA
DA FESTA: O CENTRO ESTRATÉGICO DO CÍRIO DE NAZARÉ,
SUA GOVERNANÇA
O centro estratégico da produção do Círio de Nazaré é a Diretoria da Festividade de
Nossa Senhora de Nazaré (DF). Instituída em 1910, a DF representa uma inovação de grande
relevância, pois que dimensão institucional própria do Círio de Nazaré, um momento da sua
configuração como um sistema em emergência. Lembre-se, sobre isso, que nos seus primórdios,
a gestão estratégica esteve a cargo do poder político, na medida em que era o governador que
providenciava para que o Círio fosse realizado. Em seguida, foram irmandades e confrarias
religiosas que do âmago da Igreja Católica eram encarregadas de organizar o evento (Amaral,
s/d). A criação da Diretoria da Festa pôs fim à pendulação entre o mundo laico e o religioso na
gestão da festa, criando estatutariamente um modelo híbrido, que fazia convergir todas as forças,
religiosas e laicas, interessadas na reprodução do Círio.
Trata-se de uma estrutura de governança de grande alcance, que tem garantido eficiência
cooperativa entre as necessidades doutrinárias da igreja e sua capacidade de gerir bens
simbólicos e a capacidade de outros setores sociais de arregimentação de forças materiais –
energia social e esforço privado - para a produção objetiva e para a logística de apresentação dos
símbolos.
Desde sua versão inicial, a Diretoria da Festa vem articulando representações de diversas
Paróquias – dividindo a responsabilidade e expandindo os fundamentos para o conjunto da Igreja
de Belém; representações de diversos setores do mundo laico – dividindo responsabilidades,
expandido fundamentos e aprofundando a divisão do trabalho com forças sociais e econômicas
relevantes da cidade de Belém; e representações de diversos níveis hierárquicos da Igreja
Católica – preservando, como força hegemônica, sua orientação doutrinária e simbólica. O
resultado foi a formação de um aparato de grande coerência finalística, com consistência
29
programática e capacidade operacional, co-responsável pelo longo período de expansão do
primeiro ciclo de crescimento do evento acima analisado. É possível, até, que mesmo a já
mencionada densidade de eventos que reforçam os simbólicos do Círio em toda a primeira
metade do século XX, onde se inclui esforços de grande envergadura, como a construção da
Basílica, esteja associada à existência e consolidação da Diretoria da Festa.
No entanto, no final dos anos sessenta se expôs uma lacuna na formatação da DF: a
ausência de um mecanismo de coordenação na realização da Romaria. A Diretoria da Festa,
eficiente no planejamento e na preparação, não dispunha de um braço executivo na realização da
Romaria - a grande capacidade de planejamento e produção do Círio até o início de sua
realização, não tinha correspondência com a sua execução propriamente dita. Enquanto a pressão
derivada da relação entre as dimensões da audiência e o espaço objetivo de realização do cortejo
não ameaçou o seu núcleo, o Carro da Santa e seu cortejo imediato, tal lacuna não se fez notar.
Todavia, na medida em que, como resultado de um longo período de expansão, a multidão
tendeu a se tornar incontrolável no que se refere à sua relação com os símbolos do Círio, em
particular com a Corda, a falta e a necessidade de sua correção se fez premente14. É assim que
em 1974 efetivou-se uma segunda grande inovação organizacional do Círio - a criação da
Guarda da Santa, “... responsável por colocar em prática o que fora planejado pelos diretores [da
DF]” (Pantoja, 2005: 69). Após essa inovação, o sistema parece ter readquirido capacidade de
expansão, potenciada pela notável ampliação do tamanho da corda: de 50 metros, em 1983, a
corda passa a 400 metros e 1990. Correlata a isso verifica-se uma inflexão positiva nas taxas de
crescimento da audiência (conf. Gráfico 5).
Tal evolução, contudo, volta a ser contestada já na primeira metade dos anos noventa.
Após o considerável crescimento dos quinze anos anteriores, a audiência da grande procissão
estagna por praticamente toda a década de noventa. Correlato ao fenômeno, encontramos um
período em que se manifesta de modo particularmente tenso a relação entre o valor simbólico da
Corda e seu significado na operação do Círio.
Aqui convém uma digressão. Como já esclarecido, a Corda adquiriu um valor simbólico
extraordinário na estrutura do Círio enquanto um componente que permite uma relação física
entre o crente e a divindade. De um lado, isso enseja uma especificidade no Círio de Nazaré, que
o diferencia e engrandece simbolicamente comparativamente a outras manifestações
semelhantes; de outro, cria uma correlação objetiva e direta entre Audiência Total do Círio e os
14
Com grande sensibilidade Pantoja detecta o problema: “... praticamente todo planejamento levado a cabo pela DF
durante o ano todo se desfaz por ocasião das procissões. A regra desse cenário quase sempre é o improviso, sendo
o principal personagem, o leigo comum, mais precisamente o promesseiro da corda.” (Pantoja, 2005:68).
30
que demandam a proximidade física com a Santa – os que participam dessa audiência na
condição de Promesseiros da Corda. Há uma corda, objeto físico, que é a mediação dessa
proximidade simbólica. Na medida em que cresce a demanda por essa proximidade (porque a
audiência cresceu conduzida em parte pela expectativa de poder praticar tal possibilidade), se a
corda não cresce no mesmo passo, crescerá uma tensão, correspondente à diferença dos ritmos.
Tal tensão se expressa ou como demanda insatisfeita por não se ter acesso à corda ou como
desordem e perturbação – a eliminação de um pressuposto, de um ingrediente de construção do
Círio - ou, ainda, como desagrado por um sacrifício para além do prejulgado. Crescer o tamanho
físico da corda constitui forma de reduzir essa tensão.
A via de elevação da extensão da corda como forma de adequar a demanda simbólica à
disponibilidade objetiva, contudo, reduz a capacidade de controle sobre o andamento da Berlinda
e, portanto, define o ritmo da evolução de toda a Romaria: tanto maior a corda, menor o controle
sobre o andamento, maior o tempo de duração do Círio. A duração, por seu turno, implica um
custo objetivo pela vivência renovadora que o Círio propicia – quanto mais longa sua extensão
temporal, mais se expõem as fronteiras de resistência física dos romeiros em geral pela sede, pela
fome, pelo esforço, pelo cansaço. Ou simplesmente pela saturação, quando se trata de romeiros
especiais, aqueles atraídos pelo espetáculo.
De modo que, se cresce a audiência, há um crescimento correlato de demanda de acesso à
Corda. Sem mecanismo de coordenação, a regulação do acesso tende a ser feita por um “estado
de natureza” que gera caos, desestabiliza o andamento da procissão e produz insegurança e
incerteza, fazendo crescer o custo da vivência. A isso se assistiu em fins dos anos sessenta e
início da década seguinte. A criação da Guarda da Santa, em meados dos anos setenta, constitui o
estabelecimento de uma regulação por disciplinamento do acesso por métodos de contenção:
mediante uma oferta fixa, a inovação se faz no sentido de conter, pela força ou pelo controle,
institucionalmente, portanto, a demanda. Isso reduz a insegurança, fazendo retornar o
crescimento da audiência e, associada a isso, uma nova pressão de demanda sobre a corda. Ao
longo dos anos oitenta se procurou responder a isso pela expansão da dimensão física desse
ícone. O que arrefeceu a tensão sobre a corda elevando, contudo, o grau de descontrole sobre o
tempo de duração do Círio. Com isso se estabeleceu um novo item de “custo” para a audiência
total, pela vivência do Círio. Tal “custo” se fez crescente com o tamanho da corda e conteve a
expansão da audiência, levando à estagnação dos anos noventa.
Instalou-se no Sistema-Círio, assim, em torno da Corda, um mecanismo de autoregulação, de contenção endógena de seu crescimento. O que se assiste, ao longo dos anos
noventa, é uma crise mediante a efetividade de tal mecanismo. Para um sistema que se exige,
31
como regra finalística de reprodução, a expansão, posto que em concorrência com outros
sistemas na acumulação do capital (simbólico) específico do campo religioso, a auto-contenção
implica em contradições que fundamentam crises. As crises se resolvem por dissolução ou por
evolução dos seus termos.
Com efeito, ao longo dos anos noventa, duas trajetórias estavam postas numa bifurcação
evolutiva provocada pelos mecanismos de regulação criados em torno da Corda. De uma parte,
se propõe eliminar a Corda da estrutura simbólica do Círio, ou porque se alega ser ela objeto não
sagrado, ou porque se atribui à sua existência uma insegurança que compromete o conjunto do
evento15. De outra parte, se fazem experimentos para a manutenção da Corda, de modo a lhes dar
maior dirigibilidade e andamento: se fazem experimentos na estrutura e comando da “cabeça da
corda”, nos diversos formatos que ela pode assumir – de circular a linear – e nas formas de
composição com a Berlinda – tempos e momentos diversos de atrelamento e desatrelamento.
A primeira abordagem propunha refazer o produto, suprimir um seu valor de uso
simbólico na expectativa de controlar o preço (i.e. manter baixo o tempo do Círio e alta a ordem
de sua execução): uma mudança radical. A segunda abordagem propõe a manutenção da
integridade simbólica do Círio – a inteireza de seu produto naquilo que o diferencia16 -,
buscando, contudo, por mudanças incrementais e adaptativas, também controlar o tempo e a
ordem de execução do evento para voltar a liberá-lo em sua capacidade de crescer.
Esta última posição parece ter prevalecido, ao par do fortalecimento e dinamização da
busca de novos espaços e tempos de reprodução do Círio. De modo que, em fins dos anos
noventa, o sistema volta a crescer a taxas expressivas – e, assim, permanece até o presente
momento.
Um marco organizacional dessa fase parece ser a reformulação da Diretoria da Festa, por
um novo regimento promulgado em 2001.
2.5.1 A DIRETORIA DA FESTA EM NOVO FORMATO
A Diretoria da Festa é a estrutura de governança do Sistema-Círio de Nazaré, a qual tem
garantido eficiência cooperativa entre as necessidades doutrinárias da igreja e sua capacidade de
15
Vanja Pantoja registra essa controvérsia qualificando-a de “ambiguidade do símbolo”, entre seu caráter popular e
as prescrições doutrinárias de uma igreja romana e de elite (Pantoja, op. Cit.). Não discutimos essa possibilidade.
Apenas indicamos o sentido disso na reprodução do sistema estudado.
16
O que, também, se faz em meio a controvérsia de grande significado, agora entre o que se avalia deste símbolo
desde uma perspectiva exógena e o seu sentido para os que produzem o Círio. Segundo Antonio Miguel Kater
Filho, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Marketing Católico, a imagem do Círio deve ser melhor
“lapidada”, pois “uma festa com um bando de fanáticos segurando uma corda” não é bem vista no cenário
nacional e internacional, fato que, segundo ele, estaria dificultando a nacionalização do evento e o rompimento
com seus limites regionais (PANTOJA, 2006: 100).
32
gerir bens simbólicos e a capacidade de outros setores sociais de arregimentação de forças
materiais – energia social e esforço privado - para a produção objetiva e para a logística de
apresentação dos símbolos que fundamentam o evento.
Em 2001 foi criado um novo regimento que aperfeiçoa a organização, lhes dando,
sobretudo, maior flexibilidade operacional. Tal como a encontramos, a DF compõe-se de um
Conselho Consultivo e de uma Diretoria Colegiada.
Pelas características estatutárias das suas funções e representações o Conselho
Consultivo17 é o ápice da estrutura e faz interagir, sob hegemonia dos primeiros, os princípios
que resguardam a coerência doutrinária do evento – sua autenticidade, pois, na perspectiva da
Igreja Católica -, com os desafios operacionais do presente cotejados por uma memória de curto
e médio prazo. Os primeiros, estão mediados pelo titular da Arquidiocese de Belém, presidente
do Conselho e autoridade máxima do arranjo, e pelos titulares da Congregação Barnabita e da
Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré; os segundos,
pelas presenças do coordenador do
mandato anterior e dos diretores presidente e coordenador atuais.
A Diretoria Colegiada, por seu turno, cumpre o desafio de garantir a reprodução do
Sistema, fazendo valer as decisões estratégicas do Conselho Consultivo – do qual, aliás, faz
parte, fornecendo feed backs. Trata-se de uma complexa operação, na qual o Diretor-Presidente
processa as concatenações internas entre as necessidades operacionais da produção do Círio com
a hierarquia e as redes da Igreja Católica e o Diretor-Coordenador e seu aparato de gestão, que
compreende a Diretoria Administrativo-Financeira, garantem o bom funcionamento das
concatenações entre as diversas diretorias e entre essas e a sociedade envolvente.
As demais diretorias podem ser divididas em dois grupos: diretorias-fim e diretoriasmeio. Do primeiro tipo são a Diretoria de Evangelização e a Diretoria de Procissões. As outras
enquadram-se mais propriamente no segundo tipo.
A Diretoria de Evangelização organiza o conteúdo substantivo do evento, o seu principal
componente de valor de uso, na perspectiva dos organizadores – os temas, as mensagens, a palavra, a
reflexão, a evangelização. Organiza, enfim, o conteúdo que autentica o evento e procura garantir a
consistência doutrinária dos que o produzem e dos que o vivenciam. Seus principais produtos são as
oportunidades de reflexão, o livro das peregrinações onde estão contidas os métodos e conteúdos de
evangelização e os roteiros (agenda) da peregrinação da Santa. Com essa última atribuição, a
17
De acordo com o Art. 7º, o Conselho Consultivo terá os seguintes membros: Arcebispo Metropolitano de Belém;
Provincial da Congregação Barnabita; Pároco da Paróquia de N. S. de Nazaré; Diretor-Presidente da Diretoria
Colegiada; Diretor-Coordenador da Diretoria Colegiada do mandato em curso; Diretor-Coordenador da Diretoria
Colegiada do mandato anterior; Diretor-Secretário da Diretoria Colegiada do mandato atual.
33
Diretoria tem papel decisivo na produção do espaço-tempo, como se discutiu em 2.xxxx, permitindo
o Sistema penetrar um espaço interior e privado da vida social.
A Diretoria de Procissões gere a produção das romarias – a preparação dos símbolos e
seus diversos deslocamentos em Romaria – gerindo, portanto, a expansão do sistema pela
colonização de um espaço exterior e público da vida social da cidade.
Por seu turno, desenvolvem atividades-meios, fornecendo inputs para o conjunto do
evento, em particular para as atividades-fins, a Diretoria de Marketing, a Diretoria de Eventos, a
Diretoria de Decoração, a Diretoria de Sonorização e a Diretoria do Arraial.
Uma inovação do novo estatuto é que cada diretoria, além do Diretor Responsável,
poderá ter um número variável de diretores, dependendo das necessidades que se lhes
apresentem. Igualmente, se poderão constituir comissões especiais para cobrir necessidades
singulares na operação das diretorias ou das comissões arrecadadoras.
Quadro 5 – Diretorias da DF e suas respectivas funções
DIRETORIAS
Secretaria
Secretaria
Administrativa
Financeira
Patrimônio
Assessoria
Jurídica
Diretoria de Evangelização
Diretoria de procissões
Diretoria de Eventos
Diretoria de Decoração
Diretoria de Sonorização
Diretoria de Arraial
Diretoria de Marketing
FUNÇÃO
Elaborar a agenda e o plano de trabalho do Círio; elaborar e controlar
correspondências e relatórios; planejar reuniões; confeccionar atas; definir horários
de funcionamento da secretaria; assessorar o Diretor Coordenador.
Inventariar bens; zelar pela conservação da berlinda, dos carros do Círio, da barraca
da santa e do espaço do Arraial de Nazaré; controlar material de expediente;
viabilizar patrocinadores e mantenedores para a praça Santuário.
Supervisionar contratos de aluguel das lojas do Arraial de Nazaré; acompanhar as
contas de DF junto a SEFIN-PMB; acompanhar processo de registro da marca
“Círio de Nazaré”18, junto ao INPI-Instituto Nacional de Propriedade Intelectual;
assessorar a Diretoria de Marketing na elaboração de contratos em geral.
Cuidar de todos os eventos relativos à formação religiosa; elaborar o texto de
pregação das procissões assim como o Livro das Peregrinações; organizar visitas da
imagem Peregrina às residências e instituições.
Cuidar da preparação das procissões envolvidas no Círio.
Organizar exposições referentes ao Círio, assim como eventos sociais da DF como:
páscoa, dia das mães, concurso de redação e outros; fazer apresentações do POCN
– Patrocinador Oficial do Círio de Nazaré e do cartaz do círio.
Elaborar projeto de decoração do Círio na cidade como um todo, assim como da
berlinda, do altar da Basílica e da praça Santuário.
Sonorizar atividades em geral relativas ao Círio
Cuidar das atividades relativas ao espaço do Arraial de Nazaré como um todo a
exemplo dos contratos de locações, venda de artigos religiosos e outros.
Viabilizar comunicação entre o público e a DF via imprensa e ou mala direta,
promover o lançamento do POCN, assim como atrair outras empresas para o
mesmo.
Fonte: Planos de Trabalho 2004 e 2005(DF). Organização de Vanda Pantoja-2005.
2.5.2. CARACTERÍSTICAS DAS DIRETORIAS DA DF
A DF é composta pelos diretores responsáveis e diretores membros, além de auxiliares
permanentes e eventuais. Ao todo, a organização conta com 124 pessoas, ¼ delas na condição de
18
Há um pedido da DF que tramita no INPI –Instituto Nacional de Propriedade Industrial desde o ano de 2001, no
sentido de patentear a marca “Círio de Nazaré”.
34
diretores. Os demais são auxiliares, grande parte dos quais na forma de voluntariado (2/3 do
total) e pouco mais de 1/10 força de trabalho paga. Desses, apenas 4 (3% do total) tem caráter
permanente (conf. Tabela 1).
Tabela 1 - Pessoas vinculadas à Diretoria da Festa, segundo características das relações de
trabalho
Tipo de relação de trabalho
Diretoria
Contratados (contrato formal)
Outros sem contrato formal
Aprendizes
Pessoas que se apresentam
Total
Fonte: Pesquisa de campo.
Remunerado
Não remunerado
Total
Número
0
(%)
0,0%
número
30
(%)
27,3%
Número
30
(%)
24%
4
28,6%
0
0,0%
4
3%
10
71,4%
0
0,0%
10
8%
0
0,0%
0
0,0%
0
0%
0
0,0%
80
72,7%
80
65%
14
100,0%
110
100,0%
124
100%
Todos os diretores são voluntários19; todos têm nível superior e vivência profissional
avançada nas suas áreas de atuação na produção do Círio. No conjunto dos que fazem da DF, a
proporção dos que possuem formação superior completo e incompleto é de 36% e ensino médio
completo e incompleto é 65%. Trata-se de uma densidade elevada de formação (capital humano)
em um grupo de trabalho na Região Metropolitana de Belém, considerando que na população em
geral, no Censo de 2000, a presença de formação universitária é de 3,4% (um décimo da
percentagem verificada na DF) e do segundo grau completo é 17,3% (próximo de ¼ da DF).
Tabela 2 – Escolaridade do pessoal da Diretoria das Festividades do Círio de Nazaré
Grau de Ensino
1. Analfabeto
2. Ensino Fundamental Incompleto
3. Ensino Fundamental Completo
4. Ensino Médio Incompleto
5. Ensino Médio Completo
6. Superior Incompleto
7. Superior Completo
8. Pós-Graduação
Total
Fonte: Pesquisa de campo.
Número
(%)
0
0
0
12
68
7
36
0,0%
0,0%
0,0%
9,7%
54,8%
5,6%
29,0%
1
124
0,8%
100,0%
2.5.3. A ORIENTAÇÃO DA DF À INOVAÇÃO E SUA VISÃO DE RESULTADOS
Entrevistamos todos os diretores responsáveis e vários dos seus auxiliares sobre aspectos
relevantes da governança da qual participam, sobretudo disposição à inovação e à cooperação,
preenchendo um formulário para cada diretoria.
19
“O exercício de qualquer função da Diretoria será encarado essencialmente como um serviço cristão, a ser
desempenhado com humildade, dedicação e espírito de doação voluntária, isento de qualquer privilégio mundano”.
Diretoria da Festividade de Nossa Senhora de Nazaré, Regimento Interno: Cap. I, Art. 1º. P.3.
35
Tabela 3 – Dificuldades na operação de produção do Círio na perspectiva da Diretoria das
Festividades do Círio de Nazaré
Tipo de Dificuldades
1.
Contratar empregados qualificados
2.
Custo da mão-de-obra
3.
Comprar produtos de qualidade
4.
Produzir com qualidade
5.
6.
7.
Divulgar e vender seus produtos ou serviços
Custo ou falta de capital de giro
Custo ou falta de capital para aquisição de
insumos e equipamentos
8.
Dificuldades relacionadas a instalações
9.
Pagamento de empréstimos e juros de
empréstimos
10. Outras dificuldades
Nível da Dificuldade
Baixa
Média
Alta
Nula
Índice*
6
3
1
0
60,0%
30,0%
10,0%
0,0%
9
0
1
0
90,0%
0,0%
10,0%
0,0%
8
1
1
0
80,0%
10,0%
10,0%
0,0%
9
1
0
0
90,0%
10,0%
0,0%
0,0%
9
0
1
0
90,0%
0,0%
10,0%
0,0%
5
1
2
2
50,0%
10,0%
20,0%
20,0%
6
1
1
2
60,0%
10,0%
10,0%
20,0%
0,15
0,06
0,09
0,03
0,06
0,35
0,29
8
1
0
1
80,0%
10,0%
0,0%
10,0%
0,13
10
100,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0,00
10
0
0
0
0,00
100,0%
0,0%
0,0%
0,0%
Fonte: Pesquisa de campo. *Índice Composto = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº
Empresas no Segmento)
A DF não vê dificuldades na operação de suas tarefas. É dizer, na sua perspectiva, a
operação do Círio não oferece problemas para a contratação de pessoas qualificadas (numa
escala de 0 a 1, o índice resultante da avaliação de todos os diretores para este item foi de 0,15 –
conf. Tabela 3) e o custo de mão de obra é adequado (índice de 0,06). Aponta, entretanto, para
alguma falta de capita de giro (índice 0,35) e para investimentos (índice de 0,29).
A DF entende que há vantagens inquestionáveis nos fundamentos já dados em Belém,
tanto os culturais (índice de 0,70), como os arquitetônicos e infraestruturais (0,72). Sugere,
entretanto, que a capacidade de criação de novos atrativos – a atualização permanente do evento
– é fator competitivo de grande relevância (0,66), ao lado da sua capacidade de divulgação
(0,63). Como desdobramento do primeiro desses fundamentos de dinâmica e da capacidade de
atração, a qualidade dos equipamentos e dos artistas e pregadores são fortemente considerados
(avaliados, ambos, com índice 0,56).
36
Tabela 4 – Fatores que garantem a capacidade de atração (competitividade) do Círio na
perspectiva da DF
Fatores competitivos
1. Localização da entidade/grupo
2. Capacidade de criação de novos atrativos / eventos
3. Estratégias de divulgação e comercialização
4. Qualidade dos equipamentos
5. Qualidade dos pregadores e artistas (Músicos, etc)
6. Infra-Estrutura do atrativo
7. Cultura local
10. Outra
Importância
Nula
Baixa
Média
Alta
5
0
1
4
50,0%
0,0%
10,0%
40,0%
3
0
1
6
30,0%
0,0%
10,0%
60,0%
3
1
0
6
30,0%
10,0%
0,0%
60,0%
4
0
1
5
40,0%
0,0%
10,0%
50,0%
4
0
1
5
40,0%
0,0%
10,0%
50,0%
1
2
1
6
10,0%
20,0%
10,0%
60,0%
3
0
0
7
30,0%
0,0%
0,0%
70,0%
10
0
0
0
100,0%
0,0%
0,0%
0,0%
Índice*
0,46
0,66
0,63
0,56
0,56
0,72
0,70
0,00
Fonte: Pesquisa de campo. *Índice Composto = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº
Empresas no Segmento).
Competitividade do evento tem aqui o preciso sentido de sua afirmação mediante a) outras
possibilidades de atração da audiência, no que se refere ao público local e b) outras possibilidades
de atração de audiência extra-local. Comente-se, em relação a este último ponto, que o Círio sofre
a concorrência frontal da festa de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil, que se festeja
no dia 12 de outubro na cidade de Aparecida do Norte, no interior de São Paulo.
Para criar condições permanentes de afirmação do evento é preciso ter capacidade de
produzir novos atrativos – essa parece ser a compreensão dos membros da DF. Para tanto, se
requer informações e conhecimento. Indagados sobre isso os diretores indicaram que as
principais fontes desses requisitos são internas (índice de 0,74), baseadas na formação,
habilidades, contados e posições profissionais dos seus membros. Das fontes externas, destacamse a internet (0,59) e os órgãos de comunicação (0,58), seguido pelo público (0,55) e
fornecedores de insumos (0,42). Os institutos culturais comparecem secundariamente (índice de
0,26) e as universidades marginalmente nesse papel (0,13).
No que se refere ao treinamento e a elevação das capacidades internas, destacou-se a
promoção de cursos livres oferecidos pela própria DF (índice de 0,68), secundado muito de
longe por cursos livres e oficinas oferecidas por outras organizações (0,10). Os efeitos
observados (provavelmente intencionados) desses treinamentos são mais de elevação das
habilidades para o desenvolvimento de novos atrativos (0,36) e para a implementação de
melhorias incrementais e rotineiras nos atrativos já existentes (0,33) do que para melhorar os
processos de gestão e realização (0,0).
37
Tabela 5 – Fontes de informação e de conhecimento da DF
Descrição
1.Fontes internas
Importância
Nula
1
10,0%
Baixa
0
0,0%
Média
4
40,0%
Alta
5
50,0%
4
40,0%
3
30,0%
10
100,0%
2
20,0%
6
60,0%
6
60,0%
9
90,0%
2
20,0%
1
10,0%
0
0,0%
2
20,0%
2
20,0%
2
20,0%
0
0,0%
1
10,0%
2
20,0%
0
0,0%
2
20,0%
1
10,0%
0
0,0%
1
10,0%
3
30,0%
4
40,0%
0
0,0%
4
40,0%
1
10,0%
2
20,0%
0
0,0%
8
80,0%
10
100,0%
1
10,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
1
10,0%
0
0,0%
8
80,0%
8
80,0%
8
80,0%
9
90,0%
8
80,0%
3
30,0%
0
0,0%
1
10,0%
0
0,0%
1
10,0%
0
0,0%
1
10,0%
1
10,0%
1
10,0%
2
20,0%
0
0,0%
0
0,0%
1
10,0%
1
10,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
2
20,0%
5
50,0%
Índice*
0,74
2. Fontes Externas
2.1. Fornecedores de insumos e equipamentos
2.2. Público / espectadores e clientes
2.3.Concorrentes
2.4. Órgãos de comunicação (TV, Rádio, jornal)
2.5. Órgãos do poder público
2.6. Outros entidades/grupos artísticos/culturais
2.7. Empreendimentos relacionados ao turismo
0,42
0,55
0,00
0,58
0,22
0,26
0,06
3.Universidades e Outros Institutos de Pesquisa
3.1.Universidades e institutos de pesquisa
3.2. Centros de capacitação profissional
0,13
0,00
4. Outras Fontes de Informação
4.1. Conferências, Cursos e Publicações
4.2. Feiras, Exibições e Lojas
4.3. Encontros de Lazer
4.4. Associações, sindicatos, etc
4.5. Órgãos de apoio e promoção
4.6. Informações da internet ou via computador
0,16
0,09
0,12
0,03
0,20
0,59
Fonte: Pesquisa de campo. *Índice Composto = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº
Empresas no Segmento)
Tabela 6 – Treinamento proporcionado pela DF para seus membros
Descrição
1.
Cursos livres e oficinas oferecidas pela própria
entidade/grupo
2.
Cursos livres e oficinas oferecidas por outros
3.
Cursos técnicos realizados no arranjo
4.
Cursos técnicos fora do arranjo
5.
Absorção de pessoal atuante no arranjo ou
próximo
6.
Absorção de pessoal atuante fora do arranjo
Importância
Nula
0
0,0%
9
90,0%
9
90,0%
10
100,0%
5
50,0%
9
90,0%
Baixa
0
0,0%
0
0,0%
1
10,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
Média
8
80,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
1
10,0%
0
0,0%
Alta
2
20,0%
1
10,0%
0
0,0%
0
0,0%
4
40,0%
1
10,0%
Índice*
0,68
0,10
0,03
0,00
0,46
0,10
Fonte: Pesquisa de campo. *Índice Composto = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº
Empresas no Segmento)
38
Tabela 7 – Resultados dos processos de treinamento na perspectiva da DF
Importância
Descrição
1.
Melhor utilização de técnicas produtivas,
equipamentos, insumos
2.
Maior capacitação para realização de modificações
e melhorias (não rotineiras) no atrativo da
entidade/grupo
3.
Melhor capacitação para desenvolver novos
atrativos, produtos e serviços
4.
Maior conhecimento sobre o público alvo
5.
Melhor capacitação administrativa / organização
da entidade/grupo
Nula
Baixa
Média
Alta
10
0
0
0
100,0%
0,0%
0,0%
0,0%
7
0
1
2
70,0%
0,0%
10,0%
20,0%
6
0
1
3
60,0%
0,0%
10,0%
30,0%
6
1
0
3
60,0%
10,0%
0,0%
30,0%
1
0
0
0
100,0%
0,0%
0,0%
0,0%
Índice*
0,00
0,26
0,36
0,33
0,00
Fonte: Pesquisa de campo. *Índice Composto = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº
Empresas no Segmento)
A DF mostra-se, assim, fortemente orientada à inovação. Os resultados de tal disposição
foram 41 inovações relevantes nos últimos 10 anos, 83% das quais entre 2001 e 2006. A
Diretoria mais inovativa foi a de Procissões (11 itens de inovação), combinando inovações de
processo (como as relativas à estrutura da Corda e ao andamento da procissão) e de produto
(como a incorporação de novas procissões). Em segundo lugar a diretoria de eventos,
apresentando 7 itens, quase a metade deles relacionada ao projeto Círio Musical. A Diretoria de
Evangelização, a Presidência, Secretaria e Patrimônio e a do Arraial apresentaram 5 itens; a
Diretoria de Decoração 4, a de Sonorização 3 e a de Marketing 2.
A DF apresentou também elevada disposição à cooperação. Das 9 Diretorias, 8
descreveram ações de cooperação na última edição do Círio. Os agentes mais importantes nesse
quesito foram, pela ordem: o público participante do Círio (índice 0,60), os órgão públicos (a
Prefeitura de Belém e o Governo do Estado do Pará – índice 0,56), fornecedores de insumos
(0,42) e órgãos de comunicação (0,42). As universidades e instituições de pesquisa, bem como
institutos culturais fazem parte do rol de parceiros com peso equivalente (0,30).
Os impactos das inovações e das atividades de cooperação, na perspectiva da DF
concentram-se na elevação da qualidade do evento (índice 0,86) e no maior reconhecimento
auferido (0,42). Indicam, entretanto, como efeito disso:
1) A ampliação da audiência (por ampliação do número de participantes tradicionais
(0,70) e por atração de participantes não usuais (0,58) e
2) Na redução dos custos (0,61).
3) Novas fontes de recursos (0,50).
39
1 - Presidência, Secretaria e Patrimônio
•
Flexibilização do Regimento para alocação/contratação de
pessoal de acordo com as necessidade (avanço em relação à
profissionalização)
•
Projeto "Marca do Círio" e "Patrocinador oficial do Círio"
•
Informatização do expediente e contabilidade da Diretoria
do Círio
•
Implantação da Homepage www.ciriodenazare.com.br
•
Implantação do Plano de Trabalho Anual
2 - Diretoria de Decoração
•
Iluminação da Fachada da Basílica com corda estática
•
Estrutura permanente de iluminação da Basílica
•
Estruturas permanentes do arcos
4- Diretoria de Sonorização
•
Estações retransmissoras e 220 caixas de som
5 – Evangelização
•
Festival da Canção Mariana
•
Peregrinações por instituições
•
Concurso de Redação
•
Projeto CD do Círio
•
Evangelização Digital
6 – Procissões
•
Introdução da Corda Linear
•
Carro da Santíssima Trindade
•
Mudança no atrelamento da Corda
•
Utilização de megafones
•
Traslado
•
Procissão da Juventude
•
Cicloromaria
•
Revestimento de cizal nas estações
•
Sistema de microfones sem fio na Berlinda
•
Pelotão de pessoas com necessidades especiais
7 - Diretoria do Arraial
•
Implantação da Feira do Círio
•
Brinquedos novos
•
Arraial do Círio
9 – Eventos
•
Refrigeração da Basílica ?
•
Mudança nos bancos da Basílica
•
Projeto "Círio Musical"
•
Feijoada do Papai
•
Mamãe vai dançar
10 – Marketing
•
Projeto "Foto Oficial da Imagem"
•
Exposição Itinerante dos cartazes do Círio
Total de Inovações
Fonte: Pesquisa de campo.
0
0
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
0
0
0
0
0
1
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
7
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
6
7
1
1
4
Total
2006
2005
2004
5
1
1
0
0
0
0
0
1
0
1
0
1
0
1
0
1
0
0
0
0
0
0
0
1
2003
2002
2001
1995- 2000
Tabela 8 – Inovações relevantes implementadas pela Diretoria das Festividades do Círio de
Nazaré de 1995 a 2006
0
1
1
10
8
1
1
4
1
1
2
3
3
5
1
1
1
1
1
11
1
1
1
1
1
1
1
2
1
1
5
2
1
3
7
1
1
3
1
1
2
1
1
42
40
Tabela 9 – Impactos das inovações na perspectiva da Diretoria das Festividades do Círio de
Nazaré em 2006
Descrição
1. Maior qualidade do evento cultural
2. Permitiu atrair mais consumidores/ espectadores
3. Permitiu a conquista de novo tipo de consumidores/ espectadores
4. Permitiu a redução de custos de insumos / matéria prima
5. Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente
6. Permitiu obter maior reconhecimento (certificados, selos, prêmios, etc)
7. Permitiu obter novas fontes de recursos
8. Outros
Nula
1
10,0%
3
30,0%
3
30,0%
2
20,0%
7
70,0%
5
50,0%
5
50,0%
10
100,0%
Importância
Baixa Média
0
1
0,0% 10,0%
0
0
0,0%
0,0%
0
3
0,0% 30,0%
1
3
10,0% 30,0%
1
0
10,0%
0,0%
0
2
0,0% 20,0%
0
0
0,0%
0,0%
0
0
0,0%
0,0%
Alta
8
80,0%
7
70,0%
4
40,0%
4
40,0%
2
20,0%
3
30,0%
5
50,0%
0
0,0%
Índice*
0,86
0,70
0,58
0,61
0,23
0,42
0,50
0,00
Fonte: Pesquisa de campo. *Índice Composto = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº
Empresas no Segmento).
Tabela 10 – Atividades de cooperação promovidas pela Diretoria das Festividades do Círio de
Nazaré em 2006
Sim
8
88,9%
Diretoria da Festa
Total
Não
1
11,1%
Total
9
100,0%
Fonte: Pesquisa de campo.
Tabela 11 – Principais parceiros nas atividades de cooperação promovidas pela Diretoria das
Festividades do Círio de Nazaré em 2006
Agentes
1.
Fornecedores de insumos
e equipamentos
2.
Público e espectadores
3.
Concorrentes
4.
Órgãos de comunicação
5.
Órgãos do poder público
6.
Outras
7.
Empreendimentos
relacionados ao turismo
8. Universidades e institutos
de pesquisa
9. Centros de capacitação
profissional
10. Associações, sindicatos,
etc
11. Órgãos de apoio e
promoção
12. Órgãos de financiamento
Nula
5
50,0%
4
40,0%
9
90,0%
5
50,0%
4
40,0%
7
70,0%
10
100,0%
7
70,0%
10
100,0%
8
80,0%
8
80,0%
9
90,0%
Baixa
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
Grau de Importância
Média
Alta
2
3
20,0%
30,0%
0
6
0,0%
60,0%
1
0
10,0%
0,0%
2
3
20,0%
30,0%
1
5
10,0%
50,0%
0
3
0,0%
30,0%
0
0
0,0%
0,0%
0
3
0,0%
30,0%
0
0
0,0%
0,0%
0
2
0,0%
20,0%
0
2
0,0%
20,0%
0
1
0,0%
10,0%
Índice*
0,42
0,60
0,06
0,42
0,56
0,30
0,00
0,30
0,00
0,20
0,20
0,10
Fonte: Pesquisa de campo. *Índice Composto = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº
Empresas no Segmento).
41
Tabela 12 – Importância dos resultados das atividades de cooperação na perspectiva da DF
em 2006
Grau de Importância
Nula
Baixa
Média
Alta
Índice*
1. Fornecedores de insumos e
7
0
1
2
0,26
equipamentos
70,0%
0,0%
10,0%
20,0%
2. Público / espectadores e
7
0
0
3
0,30
clientes
70,0%
0,0%
0,0%
30,0%
3. Concorrentes
9
0
1
0
0,06
90,0%
0,0%
10,0%
0,0%
4. Órgãos de comunicação
7
0
2
1
0,22
70,0%
0,0%
20,0%
10,0%
5. Órgãos do poder público
6
0
2
2
0,32
60,0%
0,0%
20,0%
20,0%
6. Outros entidades de
8
0
1
1
0,16
mesma natureza
80,0%
0,0%
10,0%
10,0%
7. Empreendimentos
10
0
0
0
0,00
relacionados ao turismo
100,0%
0,0%
0,0%
0,0%
8. Universidades e institutos
8
0
0
2
0,20
de pesquisa
80,0%
0,0%
0,0%
20,0%
9. Centros de capacitação
10
0
0
0
0,00
profissional, artística e
100,0%
0,0%
0,0%
0,0%
10. Associações, sindicatos,
10
0
0
0
0,00
etc.
100,0%
0,0%
0,0%
0,0%
11. Órgãos de apoio e
8
0
0
2
0,20
promoção
80,0%
0,0%
0,0%
20,0%
12. Órgãos de financiamento
10
0
0
0
0,00
100,0%
0,0%
0,0%
0,0%
Fonte: Pesquisa de campo. *Índice Composto = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº
Empresas no Segmento)
Agentes
2.5.4. UMA
VERIFICAÇÃO DOS EFEITOS INDICADOS PELA
DOS ÚLTIMOS CINCO ANOS
DF
DAS INOVAÇÕES
2.5.4.1 Ampliação da Audiência
A DF indica que sua gestão das inovações elevou a audiência do Círio de Nazaré, tanto a
tradicional, como a baseada em novos participantes. Com efeito, como já se demonstrou antes,
no Gráfico 1 a taxa de incremento médio da ATCN no correr da presente década elevou-se para
9,7% quando fora, em média, 2,2% na década anterior; no Gráfico 6 explicita-se uma fase de
crescimento a taxas crescentes – um momento, portanto, de aceleração na expansão da ATCN.
Tal mudança se explica por uma retomada do crescimento da procissão matriz do Círio de
Nazaré, após quase uma década de estagnação (de 1% a.a., passa para 4,9% a.a., conf. Gráfico 1)
e por forte incremento de novas audiências (o público associado a outras procissões cresceu
19,7% a.a.). Verifica-se, ademais, como será discutido mais precisamente adiante, no capítulo 4,
um forte incremento no público que não tem origem no Pará.
42
Não se trata de um feito trivial. Pois, como já mencionamos antes, o Círio evolui em
concorrência com outros sistemas que disputam e, eventualmente, subtraem sua audiência. Como
sistema operado pela fé católica num tempo e num espaço precisos o Círio é, primeiro,
concomitante com o tempo de outras manifestações realizadas em espaços distintos. Para os que
fazem a “viagem do exterior”, o Círio é alternativa a outras oportunidades de exercício de fé e de
esperança sob a égide da fé católica em outros lugares. Por outra parte, a fé católica (e sua
institucionalidade) não detém o monopólio das oportunidades de exercício da fé e da esperança
cristãs como ingredientes da vida social – como um dos seus mecanismos de coesão e
estabilidade20. Para os que realizam “a viagem do interior” para exercitar “a viagem interior”, a
oportunidade do Círio realiza-se como alternativa num campo em que outras confissões atuam
oferecendo signos equivalentes.
A concorrência de Aparecida do Norte
Há uma superposição do tempo do Círio com o de Aparecida do Norte. A festa da
Padroeira do Brasil ocorre no dia 12 de outubro na cidade de Aparecida do Norte, no interior de
São Paulo. Como a temporalidade do evento paraense também é em outubro, as datas são muito
próximas e concorrentes entre si. Segundo Fernanda Odila:
“De 3 a 12 de outubro, o Santuário de Aparecida prepara missas, rezas,
procissões e shows para os cerca de 350 mil visitantes. São fiéis de todo o país,
especialmente de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que vêm para
rezar e se divertir.” (ODILA, 2000: 12).
Pela maior proximidade dos principais centros urbanos, pela infra-estrutura
instalada e por Nossa Senhora Aparecida ser padroeira do Brasil, o Círio de
Nazaré tem uma enorme festa católica concorrente, o que limita a expansão da
festa paraense de forma estrutural, pois conforme Silva:
“Não só no ramo do turismo, como em qualquer atividade econômica,
principalmente a partir desta década, as pressões do mercado estão cada vez
mais acirradas. A globalização da economia traz como conseqüência uma
crescente proliferação de produtos e serviços; cada vez mais a concorrência
nacional e internacional aumenta.” (SILVA, 2001: 65).
O fluxo de visitantes em Belém no mês de outubro representa menos de 5% do fluxo de
visitantes em Aparecida do Norte no mesmo período (350 mil). Há muitos fatores para isso
pode-se destacar os seguinte: i) Aparecida apresenta uma maior diversidade de atrações e uma
20
Em 1980 os residentes que se declararam católicos no Censo Demográfico do IBGE representavam 88,4% da
população belenense, com 902.577 habitantes. Os evangélicos representavam apenas 7,2%, pouco acima de 73 mil
declarantes. Refletindo o movimento global de expansão das igrejas evangélicas20, os adeptos desta religião
expandiram a uma taxa geométrica de 8,0% ao ano entre 1980 e 2000, elevando sua participação a 19,2% do total
da população, com 347 mil praticantes. Os adeptos do catolicismo expandiram a uma taxa de apenas 1,7% ao ano
no mesmo período, recuando sua participação na população para 70,4% em 2000, com 1,263 milhão de
declarantes desta religião. Adeptos de outras religiões cresceram de 3,3% para 4,1% do total da população, com
73,7 mil praticantes em 2000, a uma taxa geométrica de 4,0% ao ano. Os habitantes da RMB que se declaram sem
qualquer religião cresceram a uma taxa de 12,0% ao ano entre 1980 e 2000, saltando de 1,1% para 6,2%, com uma
população de 111 mil pessoas no ano 2000.
43
maior infra-estrutura para os eventos - Santuário Nacional de Aparecida comporta até 75 mil
fiéis ao mesmo tempo (SANTUÁRIO, 2006), contrastando com a comparativamente bem menor
capacidade do Santuário de Nazaré; ii) A infra-estrutura de recepção em Aparecida é
estrategicamente construída para o turismo religioso, enquanto em Belém os equipamentos
urbanos não são específicos para a quadra nazarena; iv) além de Aparecida estar localizada na
região mais populosa e com a maior renda per capita, Belém se encontra a uma distância
considerável dos principais centros urbanos brasileiros, com o evento em um mês de baixa
estação, no qual o fluxo de trabalhadores em férias é baixo; v) o deslocamento para um espaço
distante, para ser feito com eficiência relação ao tempo, deve o usar transporte aéreo,
notadamente o mais caro – o que leva a que, se pode optar por uma viagem mais rápida e mais
barata, o turista/fiel tende a preferir Aparecida do Norte; vi) a devoção de Nossa Senhora
Aparecida é nacional, enquanto Nossa Senhora de Nazaré é local/regional.
A concorrência por outras confissões
Em 1980 os residentes que se declararam católicos no Censo Demográfico do IBGE
representavam 88,4% da população de Belém, com 902.577 habitantes. Os evangélicos
representavam apenas 7,2%, pouco acima de 73 mil declarantes. Refletindo o movimento
global de expansão das igrejas evangélicas, os adeptos desta religião expandiram a uma taxa
geométrica de 8,0% ao ano entre 1980 e 2000, elevando sua participação a 19,2% do total da
população, com 347 mil praticantes. Os adeptos do catolicismo expandiram a uma taxa de
apenas 1,7% ao ano no mesmo período, recuando sua participação na população para 70,4%
em 2000, com 1,263 milhões de declarantes desta religião. Adeptos de outras religiões
cresceram de 3,3% para 4,1% do total da população, com 73,7 mil praticantes em 2000, a
uma taxa geométrica de 4,0% ao ano. Os habitantes da RMB que se declaram sem qualquer
religião cresceram a uma taxa de 12,0% ao ano entre 1980 e 2000, saltando de 1,1% para
6,2%, com uma população de 111 mil pessoas no ano 2000.
De modo que, a taxa de crescimento da audiência do Círio, sendo 4 vezes maior que a
taxa de crescimento da população católica de Belém, representa uma contra-tendência do
reordenamento do campo religioso em Belém. Um mecanismo fundamental de recuperação de
espaços contestados.
44
Tabela 13. População Residente por Religião na Região Metropolitana de Belém (%) (19802000)
CENSO DEMOGRÁFICO
Religião
1980
1991
2000
Católica
88,4
82,0
70,4
Evangélica
7,2
9,9
19,2
Outras
3,3
4,5
4,1
Sem Religião
1,1
3,7
6,2
TOTAL
100
100
100
Fonte: calculado pelo autor a partir da Tabela 1.
2.5.4.2. Redução do Custo total e por unidade de audiência
O custo real total do Círio de Nazaré (retirada a inflação) apresenta tendência de queda entre
2000 e 2005 (conf. Tabela 14), saindo de algo em torno de R$ 1,2 milhões para próximo de R$ 1,0
milhão.
Todavia, são distintas as evoluções observadas para as Diretorias e grandes itens de custo.
Quatro itens de Custo crescem mais rápido que a média e, por isso, elevam sua importância como item
de custo. A Guarda da Santa (era 2%, passou a 4%), a Diretoria de Evangelização (de 21 para 29%), a
Presidência e seu secretariado e setores de apoio, e a Barraca da Santa. A diretoria de Marketing
mantém sua participação (em torno de 3%) e os demais reduzem a participação. As variações dos dois
primeiros itens demonstram duas tendências já antes discutidas: o esforço crescente para controlar o
andamento do Círio – como forma de não elevar seu custo (na forma de tempo de duração para além
do tolerável) para a audiência e o esforço de fazer crescer essa audiência pela ampliação das
peregrinações.
Tabela
14 - Evolução do Custo
(R$ constantes de 2005)
Itens
2000
Total
2001
do
Círio
2002
de
Nazaré,
2003
2000
2004
a
2005,
2005
Evangelização
236.697,60
262.927,52
357.258,31
290.879,83
272.048,66
281.385,00
Procissões
100.141,29
91.779,67
95.417,74
82.455,05
79.766,79
83.521,00
Marketing
154.763,82
129.504,05
157.193,66
121.747,28
116.738,95
136.520,00
41.877,27
34.294,89
42.424,42
36.359,98
35.910,34
14.100,00
Decoração do Cirio
236.697,60
220.467,17
212.866,41
142.624,95
132.096,54
105.273,00
Sonorização
116.528,05
96.842,25
48.378,73
40.934,30
38.596,32
37.120,00
Promoções de Fogos
80.113,03
68.263,17
67.432,51
53.132,48
48.245,40
47.200,00
Arraial
72.830,03
71.692,66
120.574,68
128.901,99
129.405,23
125.301,00
Praça CAN e Basílica
52.801,77
52.748,81
50.611,59
46.916,10
43.452,81
45.220,00
Funcionarios
32.773,51
35.601,37
38.256,41
36.946,43
38.989,31
51.286,00
Guarda da Santa
20.028,26
22.046,72
21.584,36
28.149,66
25.560,48
45.000,00
Barraca da Santa
Medalhas e Fotos
Custo Total
5.462,25
4.735,96
2.977,15
2.814,97
2.760,53
2.920,00
1.150.714,49
1.090.904,23
1.214.975,98
1.011.863,01
963.571,36
974.846,00
Fonte: Diretoria da Festividade do Círio de Nazaré e DIEESE. Corrigido para preços de 2005 pelo IGP/FGV.
45
Gráfico 8 – Incremento do custo por Diretoria
(R$ constantes de 2005, corrigidos pelo IGP/FGV).
250
200
150
100
50
0
2000
Guarda da Santa
Marke ting
Me dalhas e Fotos
2001
2002
2003
Arraial
Praça CAN e Basílica
De coração
2004
Funcionarios
Procissões
Barraca da Santa
2005
Evange liz ação
Promoçõe s de Fogos
Sonoriz ação
Fonte: Tabela 10.
Tabela 11 - Evolução do peso de cada Diretoria no Custo Total do Círio de Nazaré, 2000 a
2005 (R$ constantes de 2005)
ANOS
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Evangelização
21%
24%
29%
29%
28%
29%
Marketing
13%
12%
13%
12%
12%
14%
6%
7%
10%
13%
13%
13%
Decoração
21%
20%
18%
14%
14%
11%
Procissões
9%
8%
8%
8%
8%
9%
Funcionários
3%
3%
3%
4%
4%
5%
Promoções de fogos
7%
6%
6%
5%
5%
5%
Praça CAN e basílica
5%
5%
4%
5%
5%
5%
Guarda da santa
2%
2%
2%
3%
3%
5%
10%
9%
4%
4%
4%
4%
4%
3%
3%
4%
4%
1%
Arraial
Sonorização
Barraca da santa
Fonte: Tabela 10.
O reordenamento na estrutura de custos do Círio teve um efeito importante sobre as
proporções em que suas compras se fazem em Belém ou fora do Estado do Pará. Segundo a
Tabela 12, em 2000 tais proporções eram de 75% em Belém e 25% fora do Estado do Pará. Em
2005, 86% e 14%, respectivamente.
46
Tabela 12 - Evolução das proporções gastas em Belém e fora do Pará, 2000 a 2005
No arranjo
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Fonte: Pesquisa de campo.
No estado
75%
77%
83%
84%
84%
86%
No Brasil
0%
0%
0%
0%
0%
0%
No exterior
25%
23%
17%
16%
16%
14%
0%
0%
0%
0%
0%
0%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
Dado que a Audiência Total do Círio tem crescido e seu custo total diminuído, o Custo
por Unidade de Audiência do Círio reduziu fortemente. Conforme se demonstra no Gráfico 9, sai
de um valor em torno de R$ 0,50 para algo próximo da metade disso entre 2000 e 2005.
4.000.000
0,7
3.500.000
0,6
3.000.000
0,5
2.500.000
0,4
2.000.000
0,3
1.500.000
0,2
1.000.000
R$ por unidade de audiência
R$ e Unidade de participantes
Gráfico 9 – Evolução da Audiência Total, do Custo Total e do Custo por Unidade de
Audiência do Círio de Nazaré
(R$ constantes de 2005, corrigidos pelo IGP/FGV).
0,1
500.000
0
0
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Ano
Pessoas Envolvidas
Custo Total
Custo por Pessoa
Fonte: Tabela 10 e Gráfico 1.
2.5.4.3. Ampliação da Receita e forma de financiamento
A receita total tem se mantido relativamente constante em termos reais no período.
Considerando a redução verificada nos custos, tem se mostrado crescente um saldo que a
Diretoria da Festa destina para as obras beneméritas da Paróquia de Nazaré (ver Gráfico 9 e
Box 2).
47
Gráfico 9 – Evolução da Receita Total, do Custo Total e do Saldo para Donativos do Círio de
Nazaré
(R$ constantes de 2005, corrigidos pelo IGP/FGV).
R$ e Unidade de participantes
100%
80%
60%
40%
20%
0%
2000
2001
2002
Ano
Custo Total
Receita Total
2003
2004
2005
Saldo para Donativos
Fon
te: Dieese e Diretoria das Festividades do Círio de Nazaré.
Box 2 - Obras Beneméritas da Paróquia de Nazaré
1. Comunidade São Brás – localizada na Vila Farah, atende mais de uma centena de famílias.
Possui capela e consultórios para atendimento médico.
2. Comunidade Santo Antônio Maria Zaccaria – localizada na confluência das Ruas 9 de
Janeiro e Boa Ventura da Silva, atende famílias carentes, contando com ambulatório, clínica
geral, pediatria, ginecologista e dentista.
3. Comunidade Sagrada Família – sua sede está sendo construída na Rua Domingo
Marreiros, entre 14 de março e Alcindo Cacela. Desenvolve trabalhos pastorais e de
espiritualidade.
4. Comunidade São José – a comunidade possui amplo prédio localizado na Rua Domingos
Marreiros, próximo à Av. Visconde de Souza Franco. Abrange parte dos bairros de Nazaré e
Umarizal. Possui um ambulatório muito atuante que chega a atender 30 pacientes por dia,
tendo clínicos, pediatras, ginecologistas-obstetras, dermatologista e dentistas.
5. Comunidade Pedro Afonso – atende 800 famílias, em média, com trabalho voltado para
evangelização e assistência espiritual.
6. Comunidade Nossa Senhora das Graças – situada na Av. Conselheiro Furtado, entre as
Ruas 3 de Maio e 9 de Janeiro, onde atuam vários movimentos e pastorais, como a Legião
de Maria e os grupos de orações e evangelização, trabalho todo voltado para famílias
necessitadas.
7. Comunidade Santa Bernadete – localizada no Centro Social de Nazaré, ao lado da Basílica
de Nazaré, onde atuam vários movimentos e pastorais, como a dos Enfermos e dos Idosos e
grupos de evangelização.
8. Creche Sorena – localiza-se na confluência da Av. Generalíssimo Deodoro com Trav.
Caripunas. Atende mais de 300 crianças com idade entre 2 e 9 anos, que têm assistência
médica e estudam do Maternal á 4a série, divididas em 13 turmas.
9. Creche Casulo – localizada na Rua Boaventura da Silva, assiste cerca de 100 crianças na
faixa etária de 3 a 6 anos, do Maternal ao Jardim III.
48
2.6. O FINANCIAMENTO DO CÍRIO DE NAZARÉ
2.6.1. A participação das empresas e as recentes inovações organizacionais
A receita total do Círio de Nazaré vem se distribuindo desde 2003 em torno de 50% de
doações governamentais do Governo do Pará e da Prefeitura de Belém e os demais de doações
de empresas no contexto de uma inovação organizacional importante. Trata-se do Projeto
Patrocinador Oficial do Círio.
No seu folder de apresentação o projeto parte das dimensões crescentes do Círio e do
objetivo concomitante do evento de arrecadar recursos para obras beneméritas da Paróquia de
Nazaré. Textualmente:
“Para a consecução de todos esses objetivos, a Diretoria da Festa de Nazaré decidiu não
apenas pedir contribuições ao empresariado e a instituições públicas. [...] de forma profissional,
àqueles que ajudarem a realizar este grande evento será dada a oportunidade de ter retorno do
investimento efetuado, firmando suas imagens como entidade comprometidas com o Pará e com
o seu povo, exatamente no seu momento maior e mais importante.”
O Projeto se propõe, assim, a dar contrapartida vantajosa, a partir de um pacote de
produtos de Marketing, aproveitando toda a infra-estrutura já existente de mídia e o potencial de
venda do Círio de Nazaré, para as empresas que se dispuser a comprar uma das 20 cotas postas à
disposição ao custo de R$ 65.000,00 (sessenta e cinco mil reais).
As empresas selecionadas, entre as interessadas, terão direito, como contra partida do
patrocínio, aos seguintes produtos:
Selo oficial do Círio 2006 – será criado e disponibilizado oficialmente ao Patrocinador
Oficial, para garantir o uso exclusivo no seu seguimento de mercado.
O selo poderá ser utilizado em material promocional e publicitário do Patrocinador,
durante todo o ano de 2006.
Banner no Site Oficial do Círio de Nazaré – o Patrocinador Oficial do Círio 2006 terá
direito a inserção de um Full Banner (468x60 pixels) no site oficial do Círio –
www.ciriodenazare.com.br -, de sua empresa ou produto, durante o ano de 2006.
Convite especial e citação destacada como Patroinador Oficial na abertura do Círio
2006, com a presença de Autoridades Federais, Estaduais e Municipais e toda a imprensa local.
Notícias do Círio 2006, através de assessoria de imprensa responsável por divulgar os
trabalhos da Diretoria da Festa de Nazaré – desde o início de suas atividades e durante o ano,
serão divulgados os Patrocinadores Oficiais do Círio 2006, sempre que possível.
49
Back Light – o Patrocinador Oficial do Círio 2006 terá direito a espaço para instalação
de um Back Light (1x2 metros), que será colocado nas sacadas do Centro Social de Nazaré,
voltados para o Arraial de Nazaré, no período de agosto a dezembro de 2006.
Sistema de sonorização do trajeto da Trasladação e do Círio – o patrocinador Oficial
do Círio 2006 terá direito a uma cota de patrocínio do sistema de sonorização do trajeto da
Trasladação e do Círio.
Broche de ouro – o Patrocinador Oficial do Círio 2006 ganhará um broche de ouro
exclusivo, alusivo ao Círio 2006.
Cartaz – serão confeccionados e entregues 1000 folders “Programação do Círio 2006”
com a logomarca do Patrocinador oficial.
Adesivos – serão colocados, nas caixas de som que cobrem o percurso do Círio, adesivos
com a logomarca dos Patrocinadores Oficiais. Cada Patrocinador terá direito a 10 caixas de som,
com exposições de sua logomarca em ambos os lados de cada caixa.
Benção Oficial – será facultado ao patrocinador Oficial do Círio 2006 solicitar, indicando
local, dia e hora, nos meses de agosto e setembro, a inclusão da sua empresa na Agenda de
Visitas da imagem de Nossa Senhora de Nazaré, também conhecida como Imagem Peregrina,
por aquela conduzida em todas as procissões da Festa, em especial na Berlinda durante o Círio.
Nessa visita, os dirigentes e funcionários da empresa receberão uma Benção Especial, momento
em que será doada, pela Diretoria da Festa de Nazaré, uma réplica da imagem de Nossa Senhora
de Nazaré.
2.6.2. O Círio, as Instituições públicas e os programas de apoio
Como se mencionou acima, tanto o Governo do Estado, quanto a Prefeitura de Belém
participam do financiamento do Círio de Nazaré. Ademais, há cooperação entre a DF e diversas
instituições públicas, como a Polícia Militar, Forças Armadas, Companhia de Trânsito de Belém,
etc.
Tabela 13 – Programas e ações específicas para o Círio
Nível de envolvimento
Não
conhece
1. Governo Federal
2. Governo Estadual
3. Goevrno
Local/Municipal
4. SEBRAE
5. Outras Instituições
Fonte: Pesquisa de campo.
7
70,0%
5
50,0%
6
60,0%
7
70,0%
9
90,0%
Conhece,
mas não
participa
2
20,0%
1
10,0%
1
10,0%
0
0,0%
0
0,0%
Avaliação
Conhece e
participa
Avaliação
Positiva
Avaliação
Negativa
Sem elementos
para Avaliação
1
10,0%
4
40,0%
3
30,0%
3
30,0%
1
10,0%
1
11,1%
3
33,3%
3
30,0%
2
22,2%
0
0,0%
1
11,1%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
7
77,8%
6
66,7%
7
70,0%
7
77,8%
10
100,0%
50
As ações desses poderes para a promoção e melhoria do Círio no contexto de estratégias
sistemáticas mostraram-se, na perspectiva da DF, lacunosas e ad hoc. Perguntados sobre isso
70% diretores disseram não conhecer ações do Governo Federal com esse caráter, 50% disseram
não conhecer ações do Governo Estadual, 60% da Prefeitura de Belém e 70% não sabem do
SEBRAE.
Menos importante, ainda, nesse mister, parece a participação de organizações e
sindicatos.
Tabela 14 – Avaliação da Contribuição de Sindicatos, Associações e Cooperativas Locais
Tipo de Contribuição
1. Auxílio na definição de objetivos comuns para o arranjo
produtivo
2. Disponibilização de informações específicas
3. Identificação de fontes e formas de financiamento
4.Incentivo a ações cooperativas
5. Apresentação de reivindicações comuns
6. Criação de fóruns e ambientes para discussão
7. Estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e
pesquisa local
8. Organização de eventos
9. Disponibilização de infra-estrutura para apresentações
(equipamentos, espaço físico, etc.)
10. Aquisição de insumos
11. Outros
Nula
8
80,0%
9
90,0%
9
90,0%
10
100,0%
9
90,0%
9
90,0%
10
100,0%
9
90,0%
10
100,0%
9
90,0%
9
90,0%
Baixa
0
0,0%
0
0,0%
1
10,0%
0
0,0%
1
10,0%
1
10,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
Avaliação
Média
0
0,0%
1
10,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
1
94,3%
0
0,0%
Alta
2
20,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
1
10,0%
0
0,0%
0
0,0%
1
10,0%
Índice*
0,20
0,06
0,03
0,00
0,03
0,03
0,00
0,10
0,00
0,06
0,10
Fonte: Pesquisa de campo.
Sobre o tipo de políticas que contribuem para o desenvolvimento do evento, os membros
da DF indicaram como as mais importantes a melhoria na infra-estrutura física e de
conhecimento e divulgação e promoção (Índice 0,32 e 0,30, respectivamente). Em seguida, com
Índice 0,26, a melhoria no ensino básico e na capacitação voltada à cultura, a promoção de
eventos públicos paralelos e/ou associados e o acesso à informação.
51
Tabela 15 – Políticas Públicas que Contribuem para o Desenvolvimento do Círio
Ações de Política
1. Melhorias na educação básica
2. Programas de capacitação profissional voltada para a
cultura em geral
3. Melhoria de infra-estrutura física
e de conhecimento
4. Elaboração de normas para preservação das características
típicas do APL
5. Promoção de eventos públicos
6. Linhas de crédito e outras formas de financiamento
7. Criação de entidade local para gerir música e turismo
8. Divulgação do APL
9. Programas de acesso à informação, documentação, etc
10. Elaboração de um código urbano
de posturas públicas
11. Outras
Nula
7
70,0%
7
70,0%
6
60,0%
8
80,0%
7
70,0%
8
80,0%
9
90,0%
7
70,0%
7
70,0%
9
90,0%
8
80,0%
Baixa
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
Avaliação
Média
1
10,0%
1
10,0%
2
20,0%
0
0,0%
1
10,0%
0
0,0%
0
0,0%
0
0,0%
1
10,0%
1
94,3%
0
0,0%
Alta
2
20,0%
2
20,0%
2
20,0%
2
20,0%
2
20,0%
2
20,0%
1
10,0%
3
30,0%
2
20,0%
0
0,0%
2
20,0%
Índice*
0,26
0,26
0,32
0,20
0,26
0,20
0,10
0,30
0,26
0,06
0,20
Fonte: Pesquisa de campo. *Índice Composto = (0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas) / (Nº
Empresas no Segmento)
3. A Cultura e o Turismo na formação do Círio de Nazaré de Belém
O Círio de Nazaré é um sistema que interage com a formação econômico-social em que
se insere. Ele capta energia dos demais sub-sistemas, como se viu antes. Por outra parte,
entretanto, ele fornece audiência para os sistemas culturais e de comunicação e espetáculo para a
indústria do turismo.
3.1. A CULTURA E O CÍRIO DE NAZARÉ
A idéia de cultura por si guarda um resquício de uma transição histórica da própria
humanidade, da transição do rural para o urbano, de um processo de cunho material, para
questões de espírito (EAGLETON, 2005). Sugere, assim, uma sintonia com o crescimento
espontâneo, mas também, com o surgimento de regras, enquanto convenções do processo
civilizatório.
Todavia, é um dos conceitos mais difíceis e complexos de se definir, pois envolve
categorias afetas a diferentes ciências sociais e, como chama atenção Eagleton (2005), envolve
uma grande generalidade:
52
“É difícil escapar a conclusão de que a palavra “cultura” é ao mesmo tempo
ampla demais e restrita demais para que seja de muita utilidade. Seu
significado antropológico abrange tudo [...]” (p. 51).
Ainda sob uma definição mais genérica de cultura, esta é entendida como o elemento
mediador entre homem e natureza. Na verdade, homem no sentido coletivo, enquanto sociedade,
no qual exatamente através da capacidade de modificação de seu habitat vão se afeiçoando suas
características e desenvolvendo suas habilidades em todas as suas manifestações. Sob este
prisma, o ambiente natural amazônico tem um papel muito destacado, pois permitiu ao homem
amazônico definir características diferenciadas em vários aspectos sociais como: língua, hábitos,
valores, crenças, enfim modos de vida entendida como manifestações de uma adaptação singular.
Isto inclui, portanto, atributos materiais espirituais, intelectuais e afetivos.
Neste contexto, tomam especial atenção, os aspectos da cultura local, dita de caráter
popular (KASHIMOTO et. al. 2002) como: a culinária, o artesanato, o folclore, os ideioletos e a
paremiologia (ditados, provérbios, ditos, e aforismas), a literatura oral (lendas e mitos), a poesia
popular, a história oral, a vestuária cotidiana, a música popular, os instrumentos musicais de uso
local, a arquitetura espontânea, a fotografia incidental, os ritos de passagem, as manifestações
religiosas, as festas populares, a farmacopéia extrativista, as relações locais às modalidades de
trabalho e lazer, as relações locais aos elementos da natureza, formas de distribuição e exercício
do poder local, entre outros.
A representatividade desses aspectos assume na Amazônia um duplo caráter. De uma
parte a que pode ser dita de natureza endógena resultado da evolução e diversidade cultural dos
vários povos autócnes, classificados por Mendes (2001) como “Amazonidades”, isto é, a
regionalidade singular da realidade (local) da Amazônia, enquanto as características culturais
geradas “in loco e sponte sua” e não contraídas por qualquer tipo de contágio ou exposição a
outras influências. Aqui, incorpora-se a feição cultural do homem amazônida, em seus hábitos de
ser e viver na região, especialmente envolto pela grandeza de sua natureza. Esta Amazonidade
relaciona-se, ainda, com o ethos local criado pelos habitantes do estado do Pará, com
especificidades próprias que podem ser denominadas de “paraensismos” (SEBRAE, 2003), onde
se sobressaem outros aspectos geográficos, éticos, ambientais, com repercussões culturais
próprias.
De outra parte os diversos aspectos culturais adquiridos dos vários ciclos de migração
estrangeira e nacional que a região recebeu ao longo de sua história de colonização, em que pese
à assimilação e simbiose de aspectos culturais dos seus povos formadores: indígenas,
portugueses e negros, mas também do amálgama de culturas de influência de outras regiões do
53
país e povos amazônicos. Destacam-se aqui, entre os migrantes estrangeiros, os japoneses e
portugueses e entre os migrantes nacionais, os advindos das regiões nordeste e, mais
recentemente das regiões sul e sudeste21. Além disso, os grupamentos urbanos existentes nas
largas fronteiras da Amazônia Ocidental sofrem influência dos povos que habitam os sete países
de fronteira e, no caso do Pará em especial da Guiana, Guina Francesa e Suriname.
Assim, existe na região uma riqueza cultural que se expressa em muitas e diferentes
manifestações, muitas delas em caráter inovador, seja porque é uma expressão singular que não
aparece em nenhuma outra região do país, seja porque absorvem na região, aspectos peculiares
cujas características estão consonância com as especificidades da tradição e hábitos locais.
A religiosidade cabocla é apenas um desses aspectos. Um “sentimento” de forte
influência do processo colonizador-missionário na região que assume na crendice popular uma
dimensão que a suplanta. Assim, o Círio de Nazaré, embora, possa ser dito em um primeiro
momento, uma festa “importada” de Portugal, ganha em âmbito local grandiosidade e
importância, tanto do ponto de vista quantitativo, quanto qualitativo. São muitos os seus
desdobramentos
e
transbordamentos,
cujos
efeitos
tangíveis
e
intangíveis
marcam
invariavelmente o modo de vida e, portanto, a cultura local.
3.1.1. A Indústria Cultural: considerações gerais e contexto
Tradicionalmente, quando se fala em indústria cultural, reporta-se às atividades
econômicas ligadas à produção audiovisual, fonográfica, gráfica e, ainda os setores de rádio e tv.
Na contabilidade nacional apenas, o setor gráfico é incorporado como parte do PIB industrial,
enquanto, os demais setores são incluídos nos setor de serviços.
Além disso, como bem assinalam Santana e Souza (2003), é preciso não perder de vista
que mesmo sob a ótica econômica, enquanto setor produtor de riqueza material, a cultura pelo
seu conteúdo simbólico, é responsável pela formação da identidade dos indivíduos, tornando
cada povo constitutivo do que é.
Disto resulta a própria classificação, comumente aceita na literatura de indústria cultural,
como:
[...] conjunto de ramos, segmentos e atividades auxiliares industriais
produtoras e distribuidoras de mercadorias com conteúdos simbólicos,
concebidos por um trabalho criativo, organizadas por um capital que se
valoriza e destinadas finalmente aos mercados de consumo, com uma função de
reprodução ideológica e social (ZALLO, apud STOLOVICH, 2002, p. 14).
21
A Amazônia multi-étnica no dizer de Benchimol (1999), tem participação de pelo menos dez grupos: índios,
escravos africanos, portugueses, espanhóis, ingleses, italianos, americanos, Judeus (marroquinos), Sírio-Libaneses,
cearenses e gaúchos
54
Na forma como definida acima, existe uma forte influência institucional na promoção
direta e indireta do setor cultural pelas três esferas tradicionais da administração pública: federal,
estadual e municipal.
No âmbito federal, como assevera (BARBOSA DA SILVA, 2002), a área cultural teve
seu processo de construção institucional, bem recente, a partir da segunda metade década de
1980. Todavia, na década seguinte houve novamente um enfraquecimento do setor cultural no
âmbito federal, para somente no início da década de 2000, em virtude da demanda provocada por
outros níveis de governo (estadual e municipal), voltar a se reorganizar.
Para fins de quantificação as despesas culturais abrangem as seguintes áreas (BARBOSA
DA SILVA, 2002): a) patrimônio cultural; b) livro leitura e biblioteca; c) música; d) artes
cênicas; e) artes plásticas; f) cinema e audiovisual; g) museus e arquivos; h) cultura popular e
folclore; i) cultura afro-brasileira.
A Tabela 1 a seguir resume os dispêndios culturais realizados pelo Brasil nos últimos
anos e sua relação econômico-social.
A importância da esfera federal no conjunto dos gastos é bastante destacada. Todavia,
alguns órgãos federais concentram um maior volume de despesas como a Fundação Nacional das
Artes (FUNARTE); o Instituto do Patrimônio Histórico (IPHAN) e a Biblioteca Nacional.
Tabela 16 - Gastos Culturais nas Três Esferas de Governo em relação ao PIB per capita
Itens
1996
2002
População Residente (em mil)
157.482
174.632
PIB total (em R$ milhões correntes)
659.046
1.346.027
946,20
2.056.955
Gastos Culturais Per Capita
6,01
11,78
Participação no PIB
0,14
0,15
Gastos Culturais
Fonte: IPEA/DISOC apud Barbosa da Silva (2002).
55
Tabela 17 - Gastos Culturais nos Três Níveis de Governo – 1996 e 2002
Região e UF
% federal
1996
% estadual
% municipal
% federal
2002
% estadual
% municipal
Norte
0,0
20,8
79,2
0,6%
36,7%
62,7%
Rondônia
0,0
0,0
100,0
25,3%
60,2%
14,6%
Acre
0,0
72,6
27,4
0,6%
13,3%
86,1%
Amazonas
0,0
25,7
74,3
0,4%
41,0%
58,6%
Roraima
0,0
25,2
74,8
0,0%
83,3%
16,7%
Pará
0,0
43,9
56,1
0,6%
29,1%
70,2%
Amapá
0,0
0,0
0,0
0,0%
5,5%
85,1%
Tocantins
0,0
4,2
95,8
0,0%
84,1%
15,9%
Nordeste
10,7
68,4
21,0
0,5%
53,0%
46,5%
Maranhão
0,0
81,6
18,4
0,2%
38,2%
61,5%
Piauí
2,5
0,0
97,5
0,7%
63,0%
36,2%
Ceará
0,0
69,2
30,8
0,7%
31,4%
68,0%
Rio G. do Norte
0,0
92,7
7,3
0,0%
50,2%
49,8%
Paraíba
0,0
40,8
59,2
0,5%
76,8%
22,7%
51,7
29,0
19,3
1,4%
78,4%
20,1%
Alagoas
0,0
38,5
61,5
0,0%
70,0%
30,0%
Sergipe
0,0
36,5
63,5
0,3%
69,5%
30,2%
Bahia
0,2
83,4
16,4
0,0%
50,2%
49,7%
12,3
27,2
60,5
4,5%
61,5%
34,0%
Minas Gerais
0,2
15,0
84,8
1,2%
76,5%
22,4%
Espírito Santo
0,0
47,2
52,8
2,7%
70,6%
26,7%
Rio de Janeiro
48,4
18,9
32,7
11,5%
55,8%
32,7%
São Paulo
0,0
31,8
68,2
2,6%
59,9%
37,5%
Sul
0,0
38,4
61,6
2,5%
67,4%
30,1%
Paraná
0,0
35,1
64,9
3,7%
67,6%
28,7%
Santa Catarina
0,0
10,1
89,9
0,2%
78,1%
21,6%
Rio G. do Sul
0,0
48,0
52,0
2,5%
61,5%
36,0%
Centro-Oeste
46,8
13,1
40,1
3,5%
32,5%
64,0%
Mato G. do Sul
0,0
38,7
61,3
0,0%
37,7%
62,3%
Mato Grosso
0,0
72,7
27,3
4,0%
60,5%
35,5%
Goiás
0,0
15,1
84,9
8,2%
51,1%
40,7%
Distrito Federal
93,6
6,4
Fonte: Silva (2002) e STN, Siafi e Sidor.
0,0
3,6%
0,0%
96,4%
Pernambuco
Sudeste
No âmbito estadual e municipal as atividades culturais são coordenadas por uma
Secretaria de Cultura e por fundações e órgão setoriais, em geral, vinculadas a ela que participam
na gestão, fomento e promoção de certas atividades específicas, encaradas como prioritárias.
Entretanto, ao contrário do que se pode imaginar a priori, é no âmbito municipal (em nível
56
agregado), que se verifica o maior volume de gastos entre as três esferas. Isto pode ser
observado, para os dois anos considerados, ressaltando o incremento da participação relativa dos
gastos municipais, quanto estaduais, no total dos gastos entre os anos de 1996 e 2002.
O aumento da participação relativa, do municipal, entre os anos de 1996 e 2002, para o
estado do Pará é, ainda, mais destacado, passando de 56,1 para 70,2%.A Tabela 3 apresenta
alguns indicadores da representatividade das despesas na área cultural em termos proporcionais
as despesas totais e per capita, para alguns municípios selecionados que compõem a Região
Metropolitana de Belém – RMB. Excluindo o município de Ananindeua, cujos resultados estão
muito abaixo dos valores para os outros municípios, o percentual médio de gastos gira em torno
de 1,6 %, enquanto que o gasto per capita não ultrapassa em média a R$ 8,50, o que está abaixo
do valor dos gastos federais per capita para o ano de 2002, conforme apresentado na Tabela 1.
Tabela 18 - Despesas Culturais como Proporção das Despesas Totais nos Municípios da
Região Metropolitana de Belém – 2004.
Municípios
Despesas Orçamentária
Despesa Cultura
Ananindeua
117.000.176,20
Belém
851.487.972,90
Marituba
32.916.188,34
Santa Bárbara do Pará
7.268.085,60
Fonte: Tesouro Nacional – www.secretariadotesouro.gov.br
256.280,88
14.506.954,92
481.945,15
116.073,87
Porcentagem
Total
0,22
1,70
1,46
1,60
Gastos Culturais
Per capita
0,55
0,46
5,14
9,09
As atividades econômicas, relacionadas à indústria cultural, além do forte encadeamento
com outros setores da economia, seus gastos geram mais emprego e renda que estes (Santana e
Souza, 2003). Em termos de ocupação, pelo menos em termos formais, é importante se tecer um
panorama de como se distribui o emprego entre as várias atividades que formam a indústria
cultural.
O Quadro 1 retrata a distribuição, para dados da RAIS no ano de 2000, do mercado de
trabalho nas atividades classificadas como culturais, na Região Metropolitana de Belém.
Verifica-se, que do total de 6.581 empregados na área cultural, as atividades de maior ocupação
formal, são as relacionadas a: edição de livros e leitura – 2.434; entretenimento e outras
atividades culturais – 1.542 e atividades de rádio e televisão – 1.025. Estas atividades
representam, cerca de 37%, 23% e 16%, respectivamente.
Importante fazer nesta distribuição, uma distinção entre àquelas atividades que possam
representar de alguma forma produção (reprodução cultural) da cultura local, como, por
exemplo, as atividades de edição e impressão de: jornais, revistas e livros, que representam cerca
de 38% do segmento editorial, ou cerca de somente 14% do total cultural; as atividades
57
fonográficas e de teatro, música e espetáculos, que juntas representam apenas cerca de 5% do
setor cultura e aquelas relacionadas à conservação do patrimônio e entretenimento, que perfazem
cerca de 27% deste total. Observe-se, ainda, que o total cultural da Região Metropolitana de
Belém representa cerca de 2% do total nacional na área cultural.
Tabela 19 - Distribuição do mercado de trabalho cultural nas regiões, 2000
RM. Belém
Edição; edição e impressão de jornais
846
Edição; edição e impressão de revistas
23
Edição; edição e impressão de livros
18
Impressão de jornais, revistas e livros
55
Serv. de impressão de material escolar e de material para uso in...
101
Execução de outros serviços gráficos
157
Edição; edição e impressão de outros produtos gráficos
147
Comércio varejista de livros, jornais, revistas e papelaria
1.087
Total Edição de livros e leitura
2.434
Edição de discos, fitas e outros materiais gravados
6
Reprodução de discos e fitas
0
Reprodução de fitas de vídeo
0
Reprodução de filmes
3
Total Fonográfica
9
Total Publicidade
412
Total Atividades Fotográficas
382
Produção de filmes cinematográficos e fitas de vídeo
Distribuição de filmes e de vídeos
38
64
Projeção de filmes e de vídeos
149
Atividades de cinema e vídeo
251
Atividades de rádio
430
Atividades de televisão
595
Atividades de agência de notícias
Total Atividades de rádio e televisão
Atividades de teatro, música e outras atividades artísticas e literárias
Gestão de salas de espetáculo
0
1.025
95
0
Outras atividades de espetáculo não especificadas anteriormente
203
Total Teatro, música e espetáculos
298
Atividades de biblioteca e arquivo
228
Atividades de museu e conservação do patrimônio histórico
Total Conservação do patrimônio
Ativ. De jardins botânicos, zoológicos, parques nacionais e reservas
Outras atividades relacionadas ao lazer
Fabricação de instrumentos musicais
0
228
10
1.532
0
Total Entretenimento e outras atividades ligadas à cultura
1.542
Total Cultura na RMB
6.581
Total Brasil
Fonte: RAIS, 2000
361.227
58
3.1.2. Espaços Culturais de Belém
Na Região Metropolitana de Belém, existem diferentes espaços culturais e de lazer, sendo
administrados pelo estado ou pela própria prefeitura, onde os principais estão dispostos na
Tabela 20 a seguir.
Tabela 20 - Equipamentos Culturais em Belém
Tipo
Nome
Teatro da Paz
Teatro Waldemar Henrique
Teatros
Teatro Margarida Schiwasapa
Teatro da Estação das Docas
Teatro do SESC
Pólo Cultural São José Liberto
Estação das Docas
Mangal das Garças
Espaços Culturais
Espaço Feliz Lusitânia
Espaço Cultural Casa das Onze Janelas
Memorial dos Povos
Parque da Residência/Estação Gasômetro
Fundação Cultural do Pará "Tancredo Neves"
Centros Culturais/Formação
Fundação Carlos Gomes
Fundação Curro Velho
Instituto de Artes do Pará – IAP
Centros de Eventos
Centro de Eventos Ismael Nery
Museu do Estado do Pará (MEP)
Museus
Museu de Arte de Belém – MAB
Museu do Círio
Museu Emílio Goeldi
Aldeia Cabana de Cultura Amazônica Mestre Davi Miguel
Planetário
Jardim Botânico Rodrigues Alves
Áreas Livres de Lazer
Estádio Olímpico do Estado do Pará
Mercado do Ver-o-Peso
Parque de Exposições
Ver-o-Rio
Fonte: elaborado pelos autores.
59
3.1.3. Estrutura institucional voltada à cultura
O Governo do Estado. A secretaria do estado que tem uma articulação direta com as
atividades culturais, de acordo com o organograma do Governo do Estado é a Secretaria Especial
de Promoção Social. Esta, no entanto, compreende três secretarias executivas, três fundações e
um instituto, que tem papéis específicos, no desenho do aparato institucional do governo do
estado, em ações específicas voltadas as atividades culturais em seu âmbito de jurisdição. São
elas:
•
Fundação Cultural do Pará "Tancredo Neves"
•
Fundação Carlos Gomes
•
Fundação Curro Velho
•
Fundação de Telecomunicações do Pará - FUNTELPA
•
Instituto de Artes do Pará - IAP
•
Secretaria Executiva de Cultura - SECULT
•
Secretaria Executiva de Educação - SEDUC
•
Secretaria Executiva de Esporte e Lazer - SEEL
Universidade do Estado do Pará – UEPA
•
Fundação de Telecomunicações do Pará - FUNTELPA
•
TV Cultura
•
Museu do Estado do Pará (MEP) e
•
Espaço Cultural Casa das Onze Janelas.
A Prefeitura Municipal de Belém.
•
FUMBEL - Fundação Cultural do Município de Belém
•
SEMEC - Secretaria Municipal de Educação e Cultura
3.1.4. Os Produtos Culturais Amazônicos
A classificação da indústria cultural segundo moldes setoriais genéricos não dá conta dos
diferentes “produtos culturais” que fazem a especificidade local. São tipicamente locais, segundo
SEBRAE (2003):
1. a religiosidades expressa nas festas de santos e “Círios”, com seus tradicionais
arraiais;
2. as danças, como o carimbó, o siriá, a marujada e os pássaros;
60
3. as crendices e lendas do imaginário popular;
4. os pratos da rica culinária paraense; doces, quitutes, guloseimas em geral, feitas com
base na variada fruticultura;
5. o artesanato de miriti, fibras, flores, folhagens secas, cipós, sementes, madeira,
cerâmica;
6. a arquitetura/construções/ habitações: palafitas ribeirinhas, construções de época da
colonização; as canoas e barcos que percorrem as veias líquidas da região; na
arquitetura nacional, as “bandeiras” das portas dos dormitórios domésticos, seu pé
direito alto, a “varanda” ao redor da casa, a nossa arquitetura antiga, a construção de
casas adequadas às condições climatológicas da região, construídas com a tecnologia
que melhore a sua qualidade; as casas de palha, as casas de madeira, as casas de
barro, tecnicamente bem projetadas; a cobertura das barracas com folhas de palmeiras
entrelaçadas;
7. os produtos medicinais com técnicas de manipulação de medicamentos com plantas
regionais, raízes e banhos de ervas
8. técnicas de adaptação e manipulação de natureza e do corpo: como as redes para
dormir e o banho freqüente que o índio ensinou ao brasileiro, principalmente na
Amazônia;
9. técnicas de produção e de industrialização (caseira) de frutas. A variedade e
personalidade das frutas paraenses permitem a expansão desse setor e sua priorização;
Todos esses são produtos interligados, a rigor aspectos que se combinam em alguns
momentos e lugares precisos, como no caso do Círio de Nazaré de Belém.
3.1.5 Círio de Nazaré, o ápice da cultura e da identidade paraense
A cultura da Região Metropolitana de Belém tem na religiosidade um dos seus aspectos
mais importantes. A maior manifestação dessa religiosidade se manifesta nas romarias e
festividades das padroeiras de cada município, cujo Círio de Nazaré é sua maior expressão. Esse
evento, todavia, se tornou mais que a festa principal do povo paraense – na condição de Círio de
Nazaré de Belém, constituiu-se, também, no principal evento turístico do estado.
Como assevera Alves (2005):
“A festa e o Círio acionam um conjunto de símbolos que são próprios da
identidade paraense, revelando também aspectos da vida social e da cultura da
região; sua história, sua vida política e o sentimento de pertencimento a uma
dada cultura e uma dada comunidade” (p. 65).
61
Reforçado por Figueiredo (2005):
“[...] a cultura paraense manifesta-se em todos os bairros de Belém, na
maioria das casas, quer pela culinária, quer pela música, artes, etc. [...] São
realizados muitos eventos em função do Círio como feiras de artesanato,
manifestações da cultura popular (bois, carimbos, etc), exposições de arte,
festas, festivais, entre outros. Esse eventos aliam-se a ações organizadas pela
igreja, pelas comunidades e pelo poder público.[...]” (p. 26 – 27).
A tradição da festa se tornou o elo de ligação entre os paraenses em várias regiões do
Pará, em toda a região Amazônia e no resto do País onde existem festividades religiosas em
torno da devoção a Maria – Nossa Senhora de Nazaré. Assim, é que o estado apresenta pelo
menos dez “Círios” de grande expressão em cidades do estado do Pará: Bragança, Cametá,
Macapazinho, Mãe-do-Rio, Marabá, São João de Pirabas, São Miguel do Guamá, Soure, e Vigia.
Todos os estados da região amazônica também apresentam festividades religiosas com
tema da Virgem de Nazaré. Além disso, por influência dos paraenses migrantes, ou através da
influência da peregrinação da imagem da Santa, a festa transpôs as barreiras da Região
Amazônica, atingindo os estados do Rio de Janeiro (Círio da Tijuca, Copacabana entre outros);
Ceará – Círio de Fortaleza; Maranhão – Círio de São Luís; Distrito Federal – Círio de Brasília;
São Paulo – (Círio do Sumaré, Santos).
Em cada uma dessas festas, o Círio de Nazaré, a religiosidade, serve de ponto de encontro
da cultura paraense, com diferentes atividades artísticas, venda de comidas típicas, artesanato
entre outros. Assim, os elementos culturais se fundem no Círio de Nazaré, e se reproduzem, por
ele no estado e para além deste.
Em termos de produto da indústria cultural, o Círio de Nazaré deu origem a uma série de
livros e filmes, com o intuito de representar sua importância para a cultura local, em diferentes
vertentes. Entre estes filmes pode-se destacar: “Círio de Nazaré” de Alan Kardek Guimarães;
“Naza” de Silvio Figueiredo; “Os Promesseiros” de Chico Carneiro; “Maria e Josés de Nazaré”
de Úrsula Vidal; “ A Corda” de Ronaldo Passsarinho; “As Filhas da Chiquita” de Priscilla Brasil;
“Na Corda do Círio” de Ronaldo Barbieri.
O Círio de Nazaré – Bem Cultural de Natureza Imaterial. O decreto número 3551, de 4 de
agosto de 2000, institui o registro de bens culturais de natureza imaterial que constituem o
patrimônio cultural brasileiro. O círio de Nazaré foi à manifestação, na categoria celebração,
escolhida para procedimentos de registro.
O pedido de registro da procissão do círio de Nazaré, como bem cultural de natureza
imaterial, na categoria de celebrações, foi encaminhado ao presidente do IPHAN em dezembro
de 2001, dando início aos procedimentos legais para instrução do processo de registro e
62
elaboração do dossiê sobre essa manifestação. O pedido foi direcionado ao IPHAN pelas
seguintes entidades: Arquidiocese de Belém, representada pelo seu titular, o arcebispo
metropolitano Dom Vicente Joaquim Zico; Obras sociais da paróquia de Nazaré, representada
pelo seu presidente padre Francisco Chagas Santos da Silva e pela Diretoria da festividade de
Nazaré, representada pelo seu coordenador, eleito para o biênio 2001/2002, advogado João José
da Silva Maroja.
Na realização da festa, existe um conjunto de bens culturais envolvidos, que serão aqui
classificados de duas maneiras: os bens culturais associados e os bens culturais mobilizados.
Os primeiros seriam àqueles que fazem parte do evento cultural de forma direta e
indireta. Aqui aparecem tanto as celebrações com seus atos e ritos, como todas as formas de
expressão e o espaço de caráter público onde são realizadas estas intervenções sócias. São
exemplos: o Arraial, entorno da Basílica de Nazaré; o almoço do Círio; o Auto do Círio; o
arrastão do Boi Pavulagem; a Festa das Filhas da Chiquita; o Festival da Canção Mariana; o
concurso de redação sobre o Círio de Nazaré; a Feira de Brinquedo de Miriti; a exposição de
Jóias sobre o manto da Santa. A este conjunto de bens culturais, com caráter mais ou menos
permanentes durante a quadra nazarena, somam-se muitos outros que tem na imagem da Santa, a
inspiração ou o sentido de ser. Assim, durante o mês de outubro e, particularmente, na semana
do Círio, muitos outros eventos culturais ocorrem, sendo de certo modo já esperados pelo
cidadão local, como a apresentação de grandes artistas – músicos paraenses, nos espaços
culturais (públicos) da cidade, como o Teatro da Paz, a Estação Gasômetro; Capela do Pólo
Joalheiro entre outros, sempre tendo como motivação homenagear a Virgem de Nazaré.
Os bens culturais mobilizados, por sua vez, reúnem todas àqueles eventos que ocorrem
em paralelo com a realização do Círio de Nazaré e cujas realizações são marcadas para a data do
mês de outubro para aproveitar a efervescência cultural da cidade e do fluxo de turistas na
cidade. Esses eventos gozam, por assim dizer, das externalidades econômicas que o Círio
proporciona. Tradicionalmente, aqui aparecem o Arte Pará, o Festival Internacional de Dança da
Amazônia e, mais recentemente, o ExpoPará. Além disso, ocorrem na Região Metropolitana de
Belém, neste mesmo período, festivais de dança, música, teatro, shows entre outros.
Três eventos, em particular, ganham especial destaque nesse processo, uma vez que são
reconhecidos como patrimônio imaterial associado ao Círio: o Arrastão do Boi Pavulagem, o
Auto do Círio e a Festa das Filhas da Chiquita.
63
3.1.6. O Arrastão do Boi Pavulagem
O Arrastão foi introduzido na programação cultural do evento em 1999. O Boi
Pavulagem é uma Organização Social de interesse público – sociedade civil. É um movimento
surgido em 1987, que se transformou em 2003 em Instituto.
Conta cerca de 70 membros que realizam as atividades regulares do instituto. A grande
maioria trabalhando como voluntário, não só na realização dos cortejos, mas nas atividades
denominadas pelos seus integrantes de “educação cultural”.
Isto inclui um resgate da cultura popular, através do uso de instrumentos musicais –
especificamente de percussão, de origem popular, como também o uso de materiais ligados ao
artesanato local, como, por exemplo, os brinquedos de miriti, usados na ornamentação dos cortejos.
Entre os instrumentos musicais “revitalizados”, pode-se citar: as alfaias e a badurra.
O trabalho de educação cultural, inclui, durante o ano a realização de diversos cursos
livres: de música e artes plásticas
Entre o pessoal ocupado, cerca de 54% está realizando pelo menos o ensino superior. A
distribuição dos demais se divide entre o ensino médio completo e incompleto, cerca de 23% e o
ensino fundamental completo e incompleto, 24%.
Durante o ano realizam três cortejos. No mês de janeiro, tem-se o Cordão do Peixe-Boi, em
junho são quatro cortejos, em geral, denominados de “Arrastão do Boi Pavulagem” e no mês de
outubro, como integrante das festividades do Círio de Nazaré, é realizado o cortejo da “Cobra Grande”.
Em termos cênicos, durante o Círio, após a chegada da Berlinda da Romaria Fluvial no
sábado pela manhã, realiza um cortejo cuja motivação principal é a “brincadeira” do boi-bumbá.
Em 2001 foi introduzida no cortejo uma cobra de cerca de vinte metros feita de miriti, passando
a dar o nome ao cortejo.
A realização do Cortejo do Círio tem um orçamento de cerca de R$ 25.000,00, que é
distribuído na compra de material para elaboração ou manutenção da ornamentação, roupas e
alegorias que compõem o cortejo, bem como o pagamento de músicos de sopro, que faze parte
da banda que acompanha o cordão. As despesas para a realização do evento são oriundas de
recursos da Lei Semear, em torno de 85% e o restante e advindo de receitas próprias.
A política de compra da entidade baseia-se no menor preço, para os materiais e, no
confronto de preço e qualidade na compra de brinquedos de miriti. Os primeiros comprados
somente no arranjo e, enquanto que cerca de 50% dos brinquedos de miriti são comprados em
outras localidades do estado.
Como parte da proposta da realização do evento e, portanto, da própria concepção do
“Boi”: um boi que deixe de ser apenas um “folguedo contemplativo”, mas que leve a ação
participativa, de envolvimento da população.
64
Dinâmica de Funcionamento, Dificuldades e Fatores Competitivos relacionadas à
realização do evento
Entre as dificuldades consideradas altas, como demonstrado na Tabela 21, estão aquelas
que mobilizam um montante elevado de recursos, como as despesas relacionados a aquisição de
insumos e equipamentos, bem como relacionados as instalações. As dificuldades relacionadas a
outros tipos de custos, são menores. Assim, as dificuldades relacionadas a capital de giro, é
apontadas como de grau baixo, devido poderem contar com recursos oriundos da Lei Semear,
enquanto aquelas relacionadas a mão-de-obra não são consideradas como dificuldade dado o
contingente de trabalho voluntário e, mesmo o baixo custo dos contratados – remuneração média
de R$350,00, nos momentos de realização dos cortejos.
Quanto aos fatores determinantes para manter a atratividade do evento, todos os itens
apresentados na Tabela 21 são considerados de alta relevância, dando-se destaque a qualidade
dos artistas que participam das apresentações durante o cortejo.
Tabela 21 - Dificuldades Encontradas e Fatores Competitivos Relacionados à Realização do
Evento
Descrição
Baixa
Dificuldade encontrada pela empresa
Média
Alta
1. Contratar empregados qualificados
2. Custo da mão-de-obra
3. Comprar produtos de qualidade
4. Produzir com qualidade
5. Divulgar e vender seus produtos e serviços
6. Custo ou falta de capital de giro
7. Custo ou falta de capital para aquisição de insumos e
equipamentos
8. Dificuldades relacionadas às instalações
9. Pagamento de empréstimos e juros de empréstimos
Descrição
1. Localização da entidade/grupo
2. Capacidade de criação de novos atrativos/eventos
3. Estratégias de divulgação e comercialização
4. Qualidade dos equipamentos
5. Qualidade dos artistas (músicos etc)
6. Infra-estrutura do atrativo
7. Cultura Local
X
X
X
X
X
X
Fatores Determinantes para Manter a Capacidade
Competitiva/Atratividade do Evento
Baixa
Média
Alta
X
X
X
X
X
X
X
Fonte: pesquisa de campo
O impacto resultante da introdução de inovações, como mostrado na Tabela 22, é
apontado como de relevância média, apenas a redução do custo de insumos e matérias-primas,
uma vez que na idealização das inovações este não é o aspecto buscado, mas sim a criatividade e
a interação que norteia a condução do cortejo.
65
Todos os outros elementos são considerados de alta relevância, especialmente quanto à
conquista de novos espectadores, elemento primordial na concepção e sucesso do evento.
Quanto às fontes de informação, como pode ser visto na Tabela 22, assume caráter
eminentemente interno. Todavia, são destacadas também, as interações com o público e com
fornecedores de insumos e equipamentos. Mais uma vez reforçando a idéia contida na proposta
do evento de compartilhar, participação e interação com outros agentes sociais.
Tabela 22 - Impacto da Inovação e Fontes de Informação para o Aprendizado
Descrição
Impacto da Inovação
Baixa
Média
1. Maior qualidade do evento cultural
Alta
X
2. Permitiu atrais mais consumidores/espectadores
X
3. Permitiu a conquista de novo tipo de espectador
X
4. Permitiu a redução de custos de insumos
X
5. Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente
X
6. Permitiu obter maior reconhecimento
X
7. Permitiu obter novas fontes de recursos
X
Fontes de informação para o aprendizado
Baixa
Média
Fontes internas
Alta
X
Fontes externas
Fornecedores de insumos (equip, materiais)
X
Público/espectadores e clientes
X
Concorrentes
Órgãos de comunicação (TV, Rádio, jornal)
Órgãos do poder público (prefeitura, secretarias)
Outras entidades/grupos artísticos/culturais/
X
Empreendimentos relacionados ao turismo
Universidades e institutos de pesquisas
X
Centros de capacitação profissional e artística
X
Conferências, cursos, publicações especializadas
X
Feiras, exibições e lojas
Encontros de lazer (clubes, restaurantes etc)
Associações, sindicatos etc
Órgãos de apoio e promoção
Informações da internet ou via computador
Fonte: Pesquisa de campo.
Em consonância com os cursos livres especialmente de música, que são realizados no
instituto, o processo de capacitação tem como resultado mais relevante a melhor utilização de
técnicas produtivas, equipamentos e insumos. Além disso, como ressaltado na Tabela 23, a
capacitação tem permitido a absorção de pessoal atuante no arranjo ou próximo, como é,
inclusive, a proposta de inclusão cultural (musical) no projeto.
66
Tabela 23 - Realização de Treinamento e Capacitação e Avaliação de seus Resultados
Treinamento e Capacitação durante os últimos três anos
(2003 a 2005)
Baixa
Média
Alta
X
Descrição
1. Cursos livres e oficinas oferecidas pela própria entidade
2. Cursos livres e oficinas oferecidos por outros
3. Cursos técnicos realizados no arranjo
4. Cursos técnicos fora do arranjo
5. Absorção de pessoal atuante no arranjo
X
6. Absorção de pessoal atuante fora do arranjo
Melhora das capacitações como resultado do processo de
treinamento e aprendizado
Baixa
Média
Alta
Descrição
1.Melhor utilização de técnicas produtivas/gestão das atividades
ou eventos
2.Maior capacitação para realização de modificações e
melhorias
(não
rotineiras)
no
atrativo
da
entidade/grupo/capacitação missionária
3. Melhor capacitação para desenvolver novos atrativos,
produtos e serviços
4. Maior conhecimento sobre o público alvo
5. Melhor capacitação
atividade/grupo
administrativa/organização
X
X
X
da
Descrição
Avaliação dos Parceiros da Cooperação
Baixa
Média
Alta
1.Fornecedores de insumos (equipamentos, materiais)
2.Público/espectadores e clientes
X
3.Concorrentes
4.Órgãos de Comunicação
X
5.Órgãos do poder público (prefeituras, secretarias)
X
6.Outras entidades/grupos artísticos/culturais
X
7.Empreendimentos relacionados ao turismo (hotéis, agências
etc)
8.Universidades e institutos de pesquisa
X
X
9.Centros de capacitação profissional, artística e técnica
X
10.Associações e sindicatos etc
X
11.Órgãos de apoio e promoção
12. Órgãos de financiamento
Fonte: Pesquisa de campo.
Na Tabela 24, observa-se, ainda, como de grande relevância como parceiro na
atividade/evento o público, os órgãos de comunicação, os órgãos do poder público, as entidades
de grupos artísticos e culturais, bem como, empreendimentos relacionados ao turismo, os centros
de capacitação profissional e as universidades e centros de pesquisa.
Acerca das vantagens locacionais do ambiente local, é destacada como de maior
relevância a cultura local e como de menor relevância a disponibilidade de pessoal qualificado
(como artesãos, artistas e músicos) e a fama e reputação do local, valendo-se das externalidades
pecuniárias geradas pela festa do Círio de Nazaré.
Dos aspectos da cultura local, assume papel de destaque a preservação e valorização de
elementos culturais, em consonância com a proposta do evento e em menor monta, a melhoria
das condições de realização de espetáculos/eventos e a preservação das características do evento.
67
Tabela 24 - Vantagens Locacionais
Descrição
Baixa
1. Disponibilidade de pessoal qualificado
2. Proximidade com os fornecedores de matéria prima e
equipamentos
3. Cultura Local
4. Fama/reputação do local
5. Divulgação do APL/atração de clientes/espectadores
6. Infra-estrutura física (energia, transporte, comunicação,
espaço para o evento)
7. Disponibilidade de serviços técnicos especializados
8. Existência de programas de apoio e promoção
Vantagens do Ambiente Local
Média
X
Alta
X
X
X
X
X
X
X
Vantagens Relacionadas à Cultura Local
Baixa
Média
Alta
X
X
X
Descrição
1. Preservação/valorização de aspectos culturais
2. Melhoria das Condições de Realização de espetáculos
3. Preservação de características do ambiente
Fonte: Pesquisa de campo
Políticas Públicas
Na avaliação dos programas e ações governamentais, é tida como positiva apenas a
atuação do governo do estado, através da Lei Semear.
Quanto às políticas que poderiam contribuir para o desenvolvimento do arranjo é
destacada a melhoria da educação básica e a elaboração de normas para a preservação das
características típicas do APL, a promoção de eventos públicos, a criação de entidades locais
para gerir música e turismo e a divulgação do APL.
Tabela 25 - Participação e Avaliação das Políticas Públicas
Conhecimento e Participação em Programas Públicos
Instituição/esfera governamental/avaliação*
Governo Federal
Governo Estadual
Governo local/municipal
SEBRAE
Descrição
1. Melhorias na educação básica
2. Programas de capacitação profissional
3. Melhoria da infra-estrutura física e do conhecimento
4. Elaboração de normas para a preservação das características
típicas do APL
5. Promoção de eventos públicos
6. Linhas de crédito e outras formas de financiamento
7. Criação de entidade local para gerir música e turismo
8.Divulgação do APL
9. Programa de acesso a informação, documentação etc
10. Elaboração de código urbano de posturas públicas
Não tem
conhecimento
Conhece, mas não
participa
2
Conhece e
participa
1
2
3
Políticas Públicos para a Promoção do Evento
Baixa
Média
Alta
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Fonte: Pesquisa de campo. Nota*: O conhecimento ou não de programa governamental naquela esfera de governo, é
marcado segundo a seguinte numeração indicativa, quanto a sua avaliação: avaliação positiva: 1; avaliação
negativa: 2; sem elementos para avaliação: 3.
68
3.1.7. O Auto do Círio
O Auto do Círio é um projeto de extensão da Universidade Federal do Pará, criado em
1993, coordenado por professores de artes cênicas da Escola de Teatro e Dança da UFPA, no
qual se integram diversas oficinas com diferentes linguagens artísticas, como preparação para o
espetáculo de encenação que ocorre no mês de outubro por ocasião da realização do Círio. Nos
últimos anos pela sua importância e grandeza assumida o Auto do Círio foi considerado pelo
IPHAN em 2004 como “Bem Imaterial Associado ao Círio de Nazaré”.
As oficinas que integram o “Projeto do Auto do Círio” oferecem uma série de cursos nas
áreas de canto, dança e teatro. Os cursos são: cenografia, que inclui módulos acerca da
construção do espaço cênico, adereços e carros alegóricos, e maquiagem cênica; Ritmos
Regionais e; Oficina de Preparação do Elenco.
Os cursos ocorrem durante ano todo, sendo que para cada módulo participam cerca de 30
alunos. A Oficina de preparação de elenco envolve um número maior de cerca de 150 pessoas.
Na encenação do espetáculo participam cerca de 500 pessoas, incluindo, grupos musicais, de
teatro e de dança que não se envolveram em nenhuma atividade durante o ano, mas que vêm
compor o espetáculo.
O espetáculo do Auto do Círio22 é um grande cortejo popular, com diferentes tipos de
performances teatrais, de musica e dança ao longo do seu trajeto. Durante o percurso são
realizadas paradas previamente determinadas, denominadas de estações. Estas estações ocorrem,
em geral, em frente de monumentos históricos, cada um com uma dada simbologia artística
dentro do roteiro das apresentações, culminando em uma última estação denominada de apoteose
carnavalesca. Esta, inclusive, tem sido uma tendência das apresentações dos últimos anos, a
incorporação de elementos carnavalescos, como alegorias, carros, porta-bandeiras, traduzindo-se
em uma festa de caráter popular que mistura aspectos profanos e religiosos ao evento do Círio.
As estações que podem ser pensadas como os grandes atos da encenação, a qual é
dividida da seguinte forma: Dança, na Catedral da Sé; Música, na Igreja de Santo Alexandre;
Teatro, no Solar do Barão do Guajará; Cultura Popular, na Capela de São João; e Apoteose, entre
os Palácios Antônio Lemos e Lauro Sodré.
A construção do espetáculo envolve, ainda, na sua produção um conjunto de atividades
como: a montagem – estrutura de palco; arquibancada; iluminação; estrutura de som; além da
encenação das estações, cujas encenações duram em média cerca de 4 (quatro) horas.
22
A motivação do “Auto” desde seu início foi de resgatar e mostrar a Cultura Paraense, dando ao Círio um caráter
de festa popular.
69
O cortejo sai tradicionalmente da Praça do Carmo, no bairro da Cidade Velha, e vai até a
Praça da Sé, com uma extensão aproximada de 1 (um) Km.
Todos os anos o espetáculo, traz inovações, que têm por objetivo não só atrair um maior
número de espectadores, mas também criar raízes, dentro de uma proposta pedagógica de
valorização da cultura paraense. Assim, em 2005, por exemplo, foi feita uma homenagem aos
grandes artistas paraenses como: Fafá de Belém, Walter Bandeira, Dira Paes, Ana Unger, Natal
Silva, Andréa Rezende, Ana Selma Almeida, Madalena Alivertti, Creuza Gomes, e
Dominguinhos do Estácio.
Dinâmica de Funcionamento
O processo de produção do evento, como já definido, envolve dois momentos, um
primeiro momento de preparação, que tem seu funcionamento através dos vários cursos,
formatados em três grandes áreas: canto (música); teatro e dança e um segundo momento de
realização do evento.
Na primeira fase, neste processo são envolvidas cerca de 30 (trinta) pessoas, em caráter
mais ou menos regular, sendo todas ligadas a UFPA, com quase a sua totalidade formada de
professores. Aliás, ocorre um grande envolvimento da comunidade universitária da UFPA em
todas as fases do projeto, onde segundo seus organizadores cerca de 40% dos participantes do
projeto (cursos e encenação do espetáculo) é composta por alunos da UFPA.
Deste total apenas 5 (cinco) recebem bolsa (extensão), em geral, ligados as atividades de
coordenação do evento e o número restante trabalha de forma voluntária. Assim, dado este perfil,
todas as pessoas envolvidas possuem nível superior e, mesmo cerca de 15% curso de pósgraduação.
No ano de 2005, as atividades se iniciaram no mês de maio com o curso intitulado: “O
Corpo, a Performance e a Rua na Cena Contemporânea” ministrado pelo coordenador do projeto
Miguel Santa Brígida. Depois se seguiram os cursos de cenografia: alegorias, adereços, figurino
e maquiagem e de Ritmos Folclóricos.
Importante ressaltar que o ato criativo de produção do evento ocorre durante estes cursos,
em que se incorre em um processo de aprendizado de todos os elementos cênicos e corporais que
constituem a realização do espetáculo. Desta forma, da preparação das roupas , das alegorias, às
formas de maquiagem, tudo é pensado a partir do roteiro programado.
O Projeto do “Auto do Círio” realizado no ano de 2005 ficou orçado em pouco mais de
R$180.000,00 sendo cerca de 80% destinado para a realização do espetáculo e 20% para as
“despesas de preparação”. Enquanto, um projeto de extensão da UFPA, todo tipo de compra de
70
materiais (insumos e matérias-primas) é feita através de um processo de licitação, adotando-se o
menor preço na escolha do fornecedor.
Na constituição dos custos totais do projeto, cerca de 50% corresponde ao material
gráfico e despesas com propaganda e marketing, como a veiculação pela mídia de chamadas de
cerca de 30 segundos no rádio e televisão.
A receita para a realização das despesas é oriunda de duas formas de captação: lei de
incentivo (Fiscal), como a Lei Municipal de Incentivo a Cultura – Lei Tó Teixeira e a Lei Rounet
de âmbito federal. Além disso, conta com patrocinadores, como, vinha ocorrendo até o ano de
2005, com a Vale do Rio Doce23.
Dificuldades e Fatores Competitivos relacionadas à realização do evento
Na realização do evento, a dificuldade financeira se sobressai sobre as demais, em um
esforça adicional que tem ser feito pelos coordenadores do projeto para sua realização na
qualidade desejada. Assim, como se percebe no Quadro 8 as maiores dificuldades na realização
do evento estão associadas aos custos para aquisição de insumos e capital de giro e instalações
para sua efetivação. Por sua vez, o custo na contratação de mão-de-obra é apontado como de
baixa relevância devido, ao grande contingente de trabalho voluntário no processo de
“produção”.
As dificuldades relacionadas à realização das oficinas, nos atos de produzir, vender e
divulgar o evento, também são apontadas com um grau dificuldade relevante, muito em virtude
da falta de recursos para poder por em prática elementos cênicos, artísticos e culturais de
abrangência, ainda maior.
Apesar de ter alcançado âmbito nacional, a PARATUR, por exemplo, passou a incluir o
Auto do Círio no calendário de eventos turísticos da cidade de Belém, seus organizadores ainda
se queixam de uma maior valorização por parte das autoridades, inclusive, na logística para sua
realização.
Os fatores determinantes para manter a capacidade de atração do evento, como
apresentados na Tabela 26, são apontados todos como de grande e igual relevância.
23
Esta empresa, que tem como uma das suas estratégias de marketing, a veiculação de uma campanha publicitária
chamada de “Momento Vale” associando aspectos de “responsabilidade social” da empresa com a cultura e a
preservação ambiental no estado do Pará, adotou o Auto do Círio na sua primeira campanha.
71
Tabela 26 - Dificuldades Encontradas e Fatores Competitivos Relacionados à Realização do
Evento
Descrição
1. Contratar empregados qualificados
2. Custo da mão-de-obra
3. Comprar produtos de qualidade
4. Produzir com qualidade
5. Divulgar e vender seus produtos e serviços
6. Custo ou falta de capital de giro
7. Custo ou falta de capital para aquisição de insumos e
equipamentos
8. Dificuldades relacionadas as instalações
9. Pagamento de empréstimos e juros de empréstimos
Descrição
1. Localização da entidade/grupo
2. Capacidade de criação de novos atrativos/ventos
3. Estratégias de divulgação e comercialização
4. Qualidade dos equipamentos
5. Qualidade dos artistas (músicos etc)
6. Infra-estrutura do atrativo
7. Cultura Local
Dificuldade encontrada pela empresa
Baixa
Média
Alta
X
X
X
X
X
X
X
X
Fatores Determinantes para Manter a Capacidade
Competitiva/Atratividade do Evento
Baixa
Média
Alta
X
X
X
X
X
X
X
Fonte: pesquisa de campo
Características das Inovações
As inovações, que ocorrem durante o espetáculo, são apontadas como o elemento
fundamental, não só para manter a atração do evento, com conseqüente atração de público, com
apresentado na Tabela 27, mas também o próprio sentido de ser do processo criativo que permeia
a realização das oficinas. Deste modo o impacto da inovação abrange todos os aspectos do
evento enquanto elemento cultural que tem como proposta ser inovador.
As fontes de informação refletem este caráter inovador, sem perder as raízes culturais e a
motivação original do evento. Assim, tem pouca relevância como fonte de informação eventos
congêneres, mas têm grande relevância as informações oriundas do processo de criação oriundo
das oficinas (fontes internas) e o “feedback” do público em suas várias fases. Além disso,
também como espelho do retorno do público alvo, são muito importantes as informações
colhidas junto à internet e meios de comunicação, que em diversas formas de mídia expressam
como a população vê o espetáculo.
72
Tabela 27 - Impacto da Inovação e Fontes de Informação para o Aprendizado
Descrição
1. Maior qualidade do evento cultural
2. Permitiu atrais mais espectadores
3. Permitiu a conquista de novo tipo de espectadores
4. Permitiu a redução de custos de insumos/matéria-prima
5. Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente
6. Permitiu obter maior reconhecimento
7. Permitiu obter novas fontes de recursos
Descrição
Fontes internas
Fontes externas
1. Fornecedores de insumos (equip, materiais)
2. Público/espectadores e clientes
3. Concorrentes/congêneres
4. Órgãos de comunicação (TV, Rádio, jornal)
5. Órgãos do poder público (prefeitura, secretarias)
6. Outras
entidades/grupos
artísticos/culturais/religiosos
7. Empreendimentos relacionados ao turismo
8. Universidades e institutos de pesquisas
9. Centros de capacitação profissional, artística e
técnica
10. Conferências, cursos, publicações especializadas
11. Feiras, exibições e lojas
12. Encontros de lazer (clubes, restaurantes etc)
13. Associações, sindicatos etc
14. Órgãos de apoio e promoção
15. Informações da internet ou via computador
Fonte: Pesquisa de campo.
Baixa
Impacto da Inovação
Média
Alta
X
X
X
X
X
Fontes de informação para o aprendizado
Baixa
Média
Alta
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
A realização de capacitação para a realização do evento está inserida na própria lógica de
sua fase de preparação. Por isso, a realização de cursos livres e a absorção de pessoas no arranjo
e, mesmo fora dele são de suma importância, como pode ser visualizado na Tabela 28.
Importante destacar, que a partir de 2002, como os cursos livres, objeto das oficinas são dados
por professores e em universidade reconhecida – Universidade Federal do Pará, o Ministério da
Educação passou a reconhecer esses cursos como Cursos Técnicos e Profissionalizantes.
Observa-se, como apresentado na Tabela 28 que os cursos não são apontados como de
grande relevância para aumentar a capacitação na melhoria e modificações não rotineiras, bem
como nas atividades administrativas e organizacionais. São apontados como de relevância média
no aumento das capacidades quanto às técnicas produtivas e para envolver novos atrativos, bem
como conhecimento do público-alvo.
Ainda, quanto a Tabela 28, percebe-se, que ainda, falta um reforço dos empreendimentos
para valorizar o evento como um vento turístico.
73
Tabela 28 - Realização de Treinamento e Capacitação e Avaliação de seus Resultados
Descrição
1.Cursos livres e oficinas oferecidas pela própria
entidade/grupo
2. Cursos livres e oficinas oferecidos por outros
3. Cursos técnicos realizados no arranjo
4. Cursos técnicos fora do arranjo
5. Absorção de pessoal atuante no arranjo ou próximo
6. Absorção de pessoal atuante fora do arranjo
Descrição
1.Melhor utilização de técnicas produtivas/gestão das
atividades ou eventos
2.Maior capacitação para realização de modificações e
melhorias (não rotineiras) no atrativo da entidade/grupo
3.Melhor capacitação para desenvolver novos atrativos,
produtos e serviços
4. Maior conhecimento sobre o público alvo
5.Melhor capacitação administrativa/organização da
atividade/grupo
Descrição
1.Fornecedores de insumos (equipamentos, materiais)
2.Público/espectadores e clientes
3.Concorrentes/congêneres
4.Órgãos de Comunicação
5.Órgãos do poder público (prefeituras, secretarias)
6.Outras entidades/grupos artísticos/culturais
7.Empreendimentos relacionados ao turismo
8.Universidades e institutos de pesquisa
9.Centros de capacitação profissional, artística e técnica
10.Associações e sindicatos etc
11.Órgãos de apoio e promoção
12. Órgãos de financiamento
Fonte: Pesquisa de campo.
Treinamento e Capacitação durante os últimos três anos
– 2003 a 2005
Baixa
Média
Alta
X
X
X
X
Melhora das capacitações como resultado do processo
de treinamento e aprendizado
Baixa
Média
Alta
X
X
X
X
X
Avaliação dos Parceiros da Cooperação
Baixa
Média
Alta
X
X
X
X
X
X
X
Quanto ao item relativo às vantagens locacionais da realização do evento no caso na
Região Metropolitana de Belém, no âmbito das festividades do Círio de Nazaré, é destacado no
Quadro 11, que a cultura local é o aspecto fundamental, como não poderia deixar de ser, muito
embora entre suas características, ainda possa ser melhor incentivada seu aspecto promocional.
Quanto à participação e a avaliação das políticas públicas, conforme Tabela 29, observese uma avaliação positiva das atuações do governo federal e municipal, em que pese o “Projeto
do Auto do Círio” poder contar com recursos oriundos das Leis de Incentivo a Cultura nestes
âmbitos de governo. Não obstante, foi atribuída, uma avaliação negativa da atuação do governo
estadual, não só porque, o projeto não pode receber recursos da Lei SEMEAR (do estado), mas
porque este tem dado pouco incentivo às iniciativas do Auto do Círio.
74
Verifica-se, ainda, na Tabela 29, que as políticas apontadas como que melhor poderiam
contribuir com a atividade seriam aquelas relativas a infra-estrutura, financiamento, capacitação,
preservação do patrimônio e promocional.
Tabela 29 - Vantagens Locacionais
Descrição
Baixa
1. Disponibilidade de pessoal qualificado
2. Proximidade com os fornecedores de matéria prima e
equipamentos
3. Cultura Local
4. Fama/reputação do local
5. Divulgação do APL/atração de clientes/espectadores
6.
Infra-estrutura
física
(energia,
transporte,
comunicação, espaço para o evento)
7. Disponibilidade de serviços técnicos especializados
8. Existência de programas de apoio e promoção
Descrição
1.Preservação/valorização de aspectos culturais
2.Melhoria das Condições de Realização de espetáculos
3. Preservação de características do ambiente
4. Divulgação do Atrativo e do APL
Fonte: Pesquisa de campo.
Vantagens do Ambiente Local
Média
Alta
X
X
X
X
X
X
X
Vantagens Relacionadas à Cultura Local
Baixa
Média
Alta
X
X
X
X
Tabela 30 - Participação e Avaliação das Políticas Públicas
Conhecimento e Participação em Programas Públicos
Instituição/esfera governamental/avaliação*
1.
2.
3.
4.
Governo Federal
Governo Estadual
Governo local/municipal
SEBRAE
Descrição
1.
2.
3.
4.
Não tem
conhecimento
Conhece, mas
não participa
Conhece e
participa
1
2
1
3
Políticas Públicos para a Promoção do Evento
Baixa
Média
Alta
X
X
X
X
Melhorias na educação básica
Programas de capacitação profissional
Melhoria da infra-estrutura física e do conhecimento
Elaboração de normas para a preservação das
características típicas do APL
5. Promoção de eventos públicos
X
6. Linhas de crédito e outras formas de financiamento
X
7. Criação de entidade local para gerir música e turismo
X
8. Divulgação do APL
X
9. Programa de acesso a informação, documentação etc
X
10. Elaboração de código urbano de posturas públicas
Fonte: Pesquisa de campo. Nota*: O conhecimento ou não de programa governamental naquela esfera de governo, é
marcado segundo a seguinte numeração indicativa, quanto a sua avaliação: avaliação positiva: 1; avaliação
negativa: 2; sem elementos para avaliação: 3.
75
3.1.8. A Festa das Filhas da Chiquita
É uma festa que acontece ao lado de um dos mais tradicionais bares boêmios da cidade: o
Bar do Parque situado na Praça da República, que é trajeto da procissão da Transladação e
Procissão Principal do Círio.
É realizada desde 1978, sempre na noite da Transladação, com início programado após a
passagem da Imagem da Santa (Berlinda) pelo local.
Sua origem remonta um bloco carnavalesco – “Filhas da Chiquita” formado por
homossexuais e simpatizantes entre os anos de 1975 e 1976. Em 1977, por ocasião da Festa de
Santo Antônio Casamenteiro no Bar do Parque, foi entregue pela primeira vez os prêmios de
“Veado de Ouro” e “Rainha do Círio”, o primeiro sempre para um homossexual, enquanto o
segundo sem fazer tal distinção. A entrega deste prêmio marca o início também, neste mesmo
ano, da chamada “transveadação”, que foi o percurso do veado de ouro do bairro da Cidade
Velha até o Bar do Parque. Em 1978, a festa foi transferida para o sábado da Transladação. Em
1997 foi criada uma nova premiação: “Botina de Ouro”, destinado a um homossexual mulher.
No roteiro da festa, segue a apresentação de vários grupos com musicas populares do
Pará e grupos regionais, como o carimbó. Além disto, é aberto espaço para a música eletrônica,
onde um grupo de DJ’s faz a mistura de ritmos.
Quando da origem da festa ela tinha um sentido de contestação, hoje ela também
representa um movimento de cidadania do Movimento GLS (Gay, Lésbicas e Simpatizantes), na
busca de igualdade e solidariedade. Este lema e foco no movimento gay e minorias têm sido
buscado, ainda, que hoje em dia a festa já alcança outros seguimentos da sociedade, sem
distinção da opção sexual. É uma festa popular, que segundo estimativas pela concentração na
Praça da República e dos transeuntes que param para assisti-la pelo menos de passagem
ultrapassa as 500 mil pessoas.
Dinâmica de Funcionamento
A organização da festa é realizada pela classe artística de Belém, especialmente pela
figura do cantor e compositor Eloi Iglesias, que há treze anos está à frente do evento.
Para obtenção de financiamento a organização da festa teve que obter personalidade
jurídica. Para esse fim foi criada a Companhia Paraense de Performance, que tem o caráter de
uma organização científica, artística e cultural.
A entidade conta com cinco profissionais regulares e cinco contratados por serviços
prestados para a realização específica para certas atividades do evento, como a parte relativa à
montagem do palco, iluminação e som.
76
Das dez pessoas ocupadas com a realização do evento cerca de 15% possui curso
superior, 50% possui ensino médio completo, 15% ensino fundamental completo e 15% ensino
fundamental incompleto.
Na produção do evento, existe uma parte puramente organizacional, como o projeto,
inclusive, com logotipo e logomarca da festa para aquele ano, que é submetido para obter
recursos, em caráter de convênio, com o governo do estado, bem a eliminação de certos entraves
burocráticos para sua realização como, por exemplo, a concessão das licenças públicas junto a
CTBEL, DPA, SEMA e, ainda, ECAD.
Outras atividades dizem respeito á construção de logística para o funcionamento da festa.
A incluem-se a parte relativa a estrutura de palco, a iluminação, sonorização, telão, decoração,
material publicitário entre outros.
A última parte envolve a festa propriamente dita, como a contratação dos músicos,
confecção dos prêmios, contratação de segurança privada entre outros.
O orçamento, neste último ano, foi de R$ 24.700,00, tendo como fonte de recursos,
convênio firmado com o governo do estado.
Dificuldades e Fatores Competitivos relacionadas à realização do evento
As dificuldades apontadas de maior relevância na organização do evento estão a falta de
capital de giro e a falta de capital para aquisição de insumos e equipamentos. Isto está
relacionado não só devido à necessidade de mobilizar uma maior soma de recursos, mas também
porque limita as possibilidades de realização de um evento de maiores proporções e de qualidade
superior.
Entre os fatores de importância média é destacada a produção com qualidade, que embora
seja uma preocupação constante de seus organizadores é diretamente limitada pela restrição dos
recursos.
Na Tabela 31 todos os fatores são apontados de alta relevância para manter a capacidade
competitiva, atratividade do evento.
77
Tabela 31 - Dificuldades Encontradas e Fatores Competitivos Relacionados à Realização do
Evento
Descrição
1. Contratar empregados qualificados
2. Custo da mão-de-obra
3. Comprar produtos de qualidade
4. Produzir com qualidade
5. Divulgar e vender seus produtos e serviços
6. Custo ou falta de capital de giro
7. Custo ou falta de capital para aquisição de insumos e
equipamentos
8. Dificuldades relacionadas às instalações
9. Pagamento de empréstimos e juros de empréstimos
Descrição
1. Localização da entidade/grupo
2. Capacidade de criação de novos atrativos/eventos
3. Estratégias de divulgação e comercialização
4. Qualidade dos equipamentos
5. Qualidade dos artistas (músicos etc)
6. Infra-estrutura do atrativo
7. Cultura Local
Dificuldade encontrada pela empresa
Baixa
Média
Alta
X
X
X
X
X
X
Fatores Determinantes para Manter a Capacidade
Competitiva/Atratividade do Evento
Baixa
Média
Alta
X
X
X
X
X
X
Fonte: pesquisa de campo
Características das Inovações
A cada ano há a necessidade de se buscar novas inovações que possam ser incorporadas
de forma regular tornando o evento mais atrativo. Assim, além de inovações inerentes ao
processo criativo, como por exemplo, a idealização de um logotipo e uma logo marca para a
festa; a decoração e a estrutura do palco devem seguir o tema da festa para aquele ano.
Como é antes uma festa de ritmos musicais (valorizando o popular regional), a sempre
uma preocupação com a qualidade musical, seguindo a tendência musical da época. Assim, por
exemplo, foi incluído no roteiro musical, a musica eletrônica, com a participação de DJs.
Além disso, tradicionalmente tem-se introduzido novos prêmios, inclusive, para
entidades, como, no ano de 2006 do prêmio “Veado Tombado”, que foi entregue ao Instituto do
Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural – IPHAN, exatamente, por ter reconhecido no ano de
2004, a Festa da Chiquita como Patrimônio Imaterial cultural ligado ao Círio de Nazaré.
Entre os impactos da inovação, são destacados a atração de novos espectadores, bem
como de espectadores de outro perfil. De fato, se no início a festa voltava-se apenas para a
comunidade gay e certas minorias, hoje atende um público muito mais diversificado, que vêem
na festa um momento de entretenimento, independentemente de sua conotação.
As fontes de informação para realização do evento guardam uma profunda relação entre
os organizadores e os parceiros já tradicionais na realização do evento e o feedback dado pelo
78
público. Todavia, o processo de criação, como um ato de aprendizado coletivo, torna também as
fontes internas como de vital importância.
Tabela 32 - Impacto da Inovação e Fontes de Informação para o Aprendizado
Descrição
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
Maior qualidade do evento cultural
Permitiu atrais mais consumidores/espectadores
Permitiu a conquista de novo tipo de espectadores
Permitiu a redução de custos de insumos
Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente
Permitiu obter maior reconhecimento (prêmios etc)
Permitiu obter novas fontes de recursos
Descrição
Fontes internas
Fontes externas
1. Fornecedores de insumos (equip, materiais)
2. Público/espectadores e clientes
3. Concorrentes
4. Órgãos de comunicação (TV, Rádio, jornal)
5. Órgãos do poder público (prefeitura, secretarias)
6. Outras entidades/grupos artísticos/culturais/
7. Empreendimentos relacionados ao turismo
8. Universidades e institutos de pesquisas
9. Centros de capacitação profissional
10. Conferências, cursos, publicações especializadas
11. Feiras, exibições e lojas
12. Encontros de lazer (clubes, restaurantes etc)
13. Associações, sindicatos etc
14. Órgãos de apoio e promoção
15. Informações da internet ou via computador
Baixa
Impacto da Inovação
Média
X
Alta
X
X
X
X
X
Fontes de informação para o aprendizado
Baixa
Média
Alta
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Fonte: Pesquisa de campo
Não existe um esforço formal de capacitação ou treinamento para de funcionários e/ou
organizadores para a realização do evento. Todavia, esporadicamente são realizadas algumas
atividades nessa direção por algum membro da organização, sempre visando a incorporação de
maiores recursos a festa para atrair absorver um maior número de espectadores.
Como retratado na Tabela 31, é dada muita importância aos parceiros na realização do
evento. De fato, existem parceiros tradicionais como entidades ligadas à classe artística e ONGS
que trabalham em defesa de minorias. Além disso, existem certos fornecedores tradicionais entre
entidades privadas que patrocinam o evento, bem como o poder público.
79
Tabela 33 - Realização de Treinamento e Capacitação e Avaliação de seus Resultados
Descrição
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Cursos livres e oficinas oferecidas pela própria
entidade/grupo
Cursos livres e oficinas oferecidos por outros
Cursos técnicos realizados no arranjo
Cursos técnicos fora do arranjo
Absorção de pessoal atuante no arranjo ou próximo
Absorção de pessoal atuante fora do arranjo
Descrição
1.
2.
3.
4.
5.
Melhor utilização de técnicas produtivas/gestão das
atividades ou eventos
Maior capacitação para realização de modificações e
melhorias (não rotineiras) no atrativo da
entidade/grupo
Melhor capacitação para desenvolver novos atrativos
Maior conhecimento sobre o público alvo
Melhor capacitação para administrativa/organização
Descrição
1. Fornecedores de insumos (equipamentos, materiais)
2. Público/espectadores e clientes
3. Concorrentes
4. Órgãos de Comunicação
5. Órgãos do poder público (prefeituras, secretarias)
6. Outras entidades/grupos artísticos/culturais
7. Empreendimentos relacionados ao turismo
8. Universidades e institutos de pesquisa
9. Centros de capacitação profissional, artística e técnica
10.Associações e sindicatos etc
11.Órgãos de apoio e promoção
12. Órgãos de financiamento
Treinamento e Capacitação durante os últimos três
anos 2003 a 2005
Baixa
Média
Alta
X
X
X
X
X
X
Melhora das capacitações como resultado do processo
de treinamento e aprendizado
Baixa
Média
Alta
X
X
X
X
X
Avaliação dos Parceiros da Cooperação
Baixa
Média
Alta
X
X
X
X
X
X
X
X
Fonte: Pesquisa de campo
Vantagens Locacionais
Vários são os aspectos de natureza locacional que influenciam positivamente na
realização do evento como destacados na Tabela 34. A cultura local é o aspecto de maior
importância dentre eles, não só porque a festa segue a motivação religiosa do Círio de Nazaré,
envolto a esta cultura local, como também, é finalidade do próprio evento valorizar esta cultura
local em diferentes formas de expressão artística.
80
Tabela 34 - Vantagens Locacionais
Descrição
1. Disponibilidade de pessoal qualificado
2. Proximidade com os fornecedores de matéria prima e eq.
3. Cultura Local
4. Fama/reputação do local
5. Divulgação do APL/atração de clientes/espectadores
6. Infra-estrutura física física.
7. Disponibilidade de serviços técnicos especializados
8. Existência de programas de apoio e promoção
Descrição
1. Preservação/valorização de aspectos culturais (artísticos)
2.Melhoria das Condições de Realização de espetáculos
3. Preservação de características do ambiente
4. Divulgação do Atrativo e do APL
Baixa
Vantagens do Ambiente Local
Média
Alta
X
X
X
X
X
X
X
X
Vantagens Relacionadas à Cultura Local
Baixa
Média
Alta
X
X
X
X
Fonte: Pesquisa de campo
A avaliação dos Programas e ações institucionais atuantes na atividade, como
apresentado na Tabela 35, aponta como de avaliação positiva a atuação do governo do estado.
No entanto, são muitas as políticas enfatizadas como de grande relevância para o
desenvolvimento do evento, especialmente, aquelas que de uma maneira ou outra valorizem o
evento, como um evento cultural que pode trazer benefícios econômicos, como por exemplo,
para o setor turístico.
Tabela 35 - Participação e Avaliação das Políticas Públicas
Conhecimento e Participação em Programas Públicos
Instituição/esfera governamental
1.
2.
3.
4.
Governo Federal
Governo Estadual
Governo local/municipal
SEBRAE
Descrição
5.
6.
7.
8.
Melhorias na educação básica
Programas de capacitação profissional
Melhoria da infra-estrutura física e do conhecimento
Elaboração de normas para a preservação das
características típicas do APL
9. Promoção de eventos públicos
10. Linhas de crédito e outras formas de financiamento
11. Criação de entidade local para gerir música e turismo
12. Divulgação do APL
13. Programa de acesso a informação, documentação etc
14. Elaboração de código urbano de posturas públicas
Fonte: Pesquisa de campo.
Não tem
conhecimento
Conhece, mas
não participa
3
Conhece e
participa
1
3
3
Políticas Públicos para a Promoção do Evento
Baixa
Média
Alta
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
81
3.2. O turismo e a grande transumância do Círio: sua demografia
O turismo, entendido como um deslocamento de contingentes humanos a locais
específicos e com prazos de permanência relativamente curtos visando a contemplação,
relaxamento, diversão e outros sentimentos não vividos no cotidiano da vida moderna é uma
atividade recente na história da humanidade. Segundo Boyer, a tendência de massificação do
turismo teria ocorrido entre os séculos XVIII e XX, derivado do discurso terapêutico-higienista
dos médicos europeus que acreditavam “na virtude das águas e no valor terapêutico da
temporada estival das estações termais” (BOYER, 2003).
Sua expansão em nível global ocorreu pari passu ao desenvolvimento de tecnologias de
transporte e comunicações no século XX que facilitaram a redução dos custos de informação e
deslocamento. Somente após o término da segunda Guerra Mundial o turismo de massa se
estabelece de forma intencional e organizada como fonte de renda e endogeneização de divisas
externas transformando a estrutura de economias, gerando aglomerações de atividades
especializadas, empregos diretamente relacionados ao turismo e propiciando desenvolvimento
nos espaços com elevado grau de atração de fluxos de pessoas (SILVA, 2001).
Para Urry, o turismo teria sua dinâmica atrelada a imagem, aos modos de olhar, à
capacidade de captar ações e reações diferentes da dinâmica cotidiana, que, interagindo com
outros fatores econômicos e sociais direciona fluxos de pessoas pela criação e recriação dos
desejos e das necessidades (URRY, 1990). Este momento do indivíduo/cidadão transmutado
como turista teria uma característica de consumir os espaços, eventos e culturas de forma intensa
e efêmera, suprindo rapidamente suas necessidades. O consumo efêmero tenciona à renovação
das vontades que logo serão revisitadas para novas experiências inusitadas, em um dialético
movimento de necessidade, consumo e novas necessidades.
Estimativas apontam para uma produção turística global de aproximadamente 3,4 trilhões
de dólares no ano 2000, com elevadas taxas de crescimento anual (próximo de 10%) (SILVA,
2001). Em função desta dinâmica, diversos governos e instituições públicas e privadas têm
criado incentivos para o turismo. A atividade passou a ser vista como uma excelente
oportunidade de desenvolvimento regional e local, em função da atração de excedentes de outros
espaços, internalizando renda externa e estruturando novas atividades com impactos diretos nos
níveis de produção, emprego e arrecadação tributária. Considerando a relativa imobilidade na
expansão dos componentes internos da demanda agregada no Brasil (gastos do governo,
investimento e consumo), a captação de excedentes externos como saldo positivo de balança de
pagamentos representaria uma importante injeção de recursos que poderia propiciar o
82
desenvolvimento de uma região com baixo dinamismo de suas estruturas econômicas
tradicionais.
A rigor, o turismo funcionaria como uma nova função de produção com novos
fundamentos técnicos, muitas vezes reorganizando espaços e matrizes de geração de renda local.
Tais conformações exigem novas institucionalidades. Neste sentido, em 2003 foi criado o
Ministério do Turismo no Brasil, com o discurso de “desenvolver o setor, criar mais empregos,
gerar divisas, reduzir as desigualdades regionais e redistribuir a riqueza”. O plano nacional de
turismo 2003-2007 tem como objetivo a elevação da participação articulada da sociedade, das
esferas de governo e da iniciativa privada em busca de ofertar um produto turístico com
qualidade e estimular o seu consumo nos mercados nacional e internacional, diversificando e
estruturando os destinos turísticos, em um modelo de gestão regional e local (BRASIL, 2003). A
retenção de excedentes endógenos na criação de atrações turísticas internas e captação de
excedentes exógenos poderiam canalizar recursos para a construção de novas estruturas
produtivas nos setores de serviços e comércio direta e indiretamente atrelados ao turismo.
Os turistas quando decidem quais espaços irão visitar se apóiam na oferta de atrativos que
possam lhe garantir satisfação e bem-estar na sua estadia. Estes atrativos podem ser diversos:
ambientais, históricos, culturais, religiosos, infra-estruturais, etc. Contudo, em qualquer das
intenções, o efetivo deslocamento depende da disponibilidade de modais de transporte que
interliguem o espaço turístico aos centros demandantes, bem como a oferta de equipamentos de
infra-estrutura de hospedagem, de alimentação/comensalidade, acessibilidade aos pontos e
eventos de interesse, preços competitivos, segurança dentre outros.
3.2.1. Turismo religioso e devoção católica
No caso específico do Círio de Nazaré, diversos autores mencionam a capacidade de
atração de centenas de milhares de visitantes para acompanhar o evento, no segundo domingo de
outubro (MOREIRA, 1971; ALVES, 1980; BONNA, 1993; AMARAL, 1998; CAPELAS
JUNIOR, 2003; SILVEIRA, 2004; ALVES, 2005; FIGUEIREDO, 2005; PANTOJA, 2006;
PINTO, s.d.;). A motivação seria o maior evento religioso do mundo, o Círio de Nossa Senhora
de Nazaré que aglomera 2,0 milhões de fiéis/peregrinos/romeiros nas principais ruas de Belém.
Estas pessoas são classificadas segundo a EMBRATUR, PARATUR e acadêmicos das ciências
turísticas como turistas religiosos.
Definiu-se na Conferência Mundial de Roma (1960) que o turismo religioso é
compreendido pelo movimento de peregrinos em viagens pelos mistérios da fé ou da devoção a
algum santo (SILVEIRA, 2004), ou seja, o deslocamento voluntário a locais sagrados,
83
seminários de evangelização, festas religiosas, espetáculos e eventos teatrais de cunho religioso.
Portanto seria o deslocamento em direção a espaços sacralizados ou que gerenciem uma
temporalidade sagrada.
Andrade define turismo religioso como “o conjunto de atividades, com utilização parcial
ou total de equipamentos e a realização de visitas a receptivos que expressam sentimentos
místicos ou suscitam a fé, a esperança e a caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiões”
(ANDRADE, 2000).
Para Steil, a partir da consolidação do mercado e do consumo como forma de
sociabilidade, a religião perde as coordenadas que a fixavam em um determinado arranjo social.
Os espaços sagrados atraindo milhares de pessoas passam a conter não apenas elementos de fé,
crença e peregrinação, mas também comunicação, desejos, consumo, comércios e ritos
simbólicos mais ligados ao mercado do que à magia. Formata-se um novo arranjo social, onde
práticas de deslocamento e consumo são acopladas à religião, como se indissociáveis fossem, em
uma sociedade onde as trocas materiais e simbólicas estão no centro das relações (STEIL, 1998).
Parece se distinguir duas situações. Em uma o visitante é devoto, absorve a oportunidade
como um seu produtor, a vivencia como parte indissociável da sua produção e reprodução.
Noutra tal há uma total emancipação do visitante em relação ao espaço sagrado e outras formas
de compromisso que mantinham laços sólidos. O turismo se estabelece como elemento
contemplativo, mais ligado a festa, ao consumo e ao prazer do que a participação com devoção e
sobriedade aos rituais religiosos. Num caso, o visitante romeiro/peregrino/fiel se desloca para o
espaço-tempo sagrado para orar/rezar, pagar promessas, buscar bênçãos, sofrer, contemplar,
participar de romarias, fazer pedidos. Este visitante está fortemente ligado ao evento,
participando ativamente, conhecendo seus sentidos, seus códigos e seus símbolos. O consumo
muitas vezes não é seu principal objetivo, sendo uma ação marginal. Suas relações com o evento
sagrado são de entrega simbólica, pois é um importante momento (talvez o último de sua vida)
de renovar seus contratos com a divindade. No outro, o visitante é um consumidor de espetáculo,
é agente de um sistema completamente exógeno e alienado em relação ao sistema em questão.
No nosso caso, apoiados em Marcel Mauss, poderíamos afirmar que em eventos como o
Círio, que representam a troca simbólica entre homens e divindades, onde o fiel se entrega para
pagar ex-votos ou pedir uma graça julgada quase impossível de se alcançar pela mão dos
homens, os turistas religiosos, ou visitante devoto, com participação ativa são territorializados, se
sentindo identificados com o movimento social circundante – o que os inscreveria na “sociedade
nazarena” -, a qual a Santa vê não individualmente, mas como um corpus social a qual protege e
envia suas bênçãos e seus presentes. A participação do turista como fiel gera laços comunitários
84
e cria ligações que o mantém atrelado ao espaço sagrado, com fortes tendências de retorno ao
evento.
Por sua parte, o visitante turista não controla o código do evento religioso, seus símbolos,
seus sentidos e a sua cultura. Sua participação é passiva e marginal, não estando no local sagrado
para penitência ou reverência à divindade, mas para relaxar, consumir, experimentar novas
emoções. Ele não está comprometido com o evento, está no máximo envolvido. Ele consome os
espaços e os momentos, fotografando, filmando e observando. Sua passagem será efêmera. Não
cria laços, pois está desterritorializado. Participa e observa, mas não absorve a cultura. O seu
sentido não evoca a relação de trocas simbólicas, apesar de achar inusitado observar os fiéis em
sua peregrinação e sofrimento. O turista religioso geralmente está de férias e seu objetivo maior
é o prazer, o relaxamento. Não se busca dor, sofrimento e compromissos, pois estas emoções são
sentidas em outras esferas da vida social. Sendo footloose, seus desejos logo se saciarão e seu
foco será redirecionado. As chances de retorno para o mesmo espaço sagrado são menores que
dos visitantes fiéis.
3.2.2. Para além do Turismo: a demografia do Círio
Incorporando as considerações acima, o Círio implica em grande mobilização de pessoas.
Há uma composição nessa massa que interessa distinguir, em primeiro lugar, entre o que é local
e o que é visita; em segundo lugar, entre o que é visita com envolvimento cultural (movimento
endógeno) e o que é visita elienada (exógeno).
O que se fará em seguida é um esforço para estimar esses componentes da flutuação
populacional no Ciclo Nazareno.
Para tanto, partiu-se dos seguintes pressupostos:
1. Os visitantes que vêm para Belém por causa do Círio participam, todos, da grande
procissão. Portanto, se entendermos as características e composição desta multidão,
entendemos a demografia do período;
2. Os participantes da procissão do Círio (designaremos de conjunto I) se subdividem em 4
subconjuntos, agrupados em dois outros de maior ordem:
i. O composto por residentes no Pará (que chamaremos de E):
a. Nestes, os residentes na mesorregião Metropolitana de Belém (D) e
b.Os paraenses de outras mesorregiões do Pará (F)
ii. O composto por não-residentes no Pará (G):
a. Que se hospedam na rede hoteleira (J) e
b.Que não se hospedam na rede hoteleira (K)
85
3. Os cálculos da Polícia Militar para a massa presente na principal procissão (I), o Círio de
Nazaré propriamente, que se realiza no segundo domingo de outubro, está basicamente
correto. O valor de I é, pois, dado.
4. Os participantes do Círio que residem no Pará (E) provêm da população católica do Pará
e, portanto, a distribuição de E por origem é fundamentalmente influenciada pela
distribuição da população católica no Estado (ver colunas A e A% na Tabela 35);
5. Em princípio, os católicos residentes no Pará gostariam de participar do Círio, sendo o
desejo mais ou menos intenso na razão direta da intensidade da influência cultural do
Pará Colonial; a capacidade efetiva de realizar tal desejo, todavia, dependente das
dificuldades impostas pela distância física: a proximidade cultural com Belém influencia
diretamente e os custos de participação inversamente. Considerando o efeito conjunto
desses vetores, chegamos a um fator Grau de Dificuldade (ver Coluna B, na Tabela 36),
que atua inversamente na realização do desejo de ir ao Círio. Este fator pondera
(dividindo, porque influência “liquida” inversa) a População Católica (coluna A),
encontrando uma População Potencial para o Círio (C). A distribuição relativa de C,
C%, será a distribuição relativa dos residentes no Pará (E) que participam da grande
procissão. Se tenho o valor de E e o vetor C%, posso encontrar os valores de D e F.
Tabela 36 – Estimativa da distribuição relativa da população paraense presente na procissão
do Círio de Nazaré
Mesorregiões
População Católica
do Pará em 20001
Absoluto
(A)
Relativo
(A%)
Baixo Amazonas
500.980
11%
Marajó
287.901
6%
Metropolitana de Belém (D)
1.482.972
32%
Nordeste Paraense
1.188.983
26%
Sudoeste Paraense
287.879
6%
Sudeste Paraense
821.060
18%
Total do Pará (E)
4.569.775
100%
Fonte: 1 IBGE. 2 Resultante da repulsão produzida
aproximação cultural com o epicentro do evento.
Distribuição dos
participantes do
Círio originados
do Pará
(%C)
4
125.245
5%
2
143.951
6%
1
1.482.972
59%
2
594.492
24%
8
35.985
1%
6
136.843
5%
2.519.487
100%
pela distância/custo de transporte corrigido pelo grau de
Grau de
Dificuldade2
(B)
População
potencial para o
Círio
(C=A/B)
6. O valor de G, o número de visitantes de Belém por causa do Círio, que não se originam
no Pará, é uma grandeza crítica. Os visitantes que perfazem esta grandeza são aqueles
que vêm para a Cidade no mês de outubro por razões diferentes das que explicam a vinda
de pessoas, de origens semelhantes, nos outros meses do ano. Fizemos o fluxo agregado
de passageiros para Belém por via área, rodoviário, rodoviário autônomo e fluvial para
86
todos os meses do ano nos anos de 2003, 2004 e 2005 (conf. Tabela 2). Digamos que os
que vêm por motivos normais fazem a média mensal dos fluxos mensais. E os que vêm
por razões extraordinárias num mês qualquer são representados pela diferença entre o
fluxo daquele mês e a média. Há três meses com acentuada diferença em relação à média,
pela ordem: julho, dezembro, janeiro e outubro. Os fluxos adicionais de entrada em
Belém de dezembro-janeiro e julho resultam das saídas de belemenses para férias (pois
residente que sai, volta): o fenômeno inverso do que queremos captar. Os fluxos de
retorno dos belenenses em férias de julho ou de fim de ano têm o efeito de inflacionar a
média e reduzir a importância do fluxo de outubro. Assim, não devemos considerar a
média dos 12 meses como sendo a expressão das razões normais que trazem visitantes
para Belém. O correto é expurgar os fluxos de julho, dezembro e janeiro e considerar a
expressão do “normal” como sendo a média das entradas dos nove meses restantes.
Assim, os visitantes que em outubro vêm por razões que não são as normais – que vêm,
pois, para o Círio (G), são a diferença entre o fluxo do mês e essa média (ver última linha
da Tabela 37).
Tabela 37 – Estimativa dos visitantes de Belém provindos de outros estados e países no mês de
outubro, presumivelmente para participar do Círio de Nazaré
2003
2004
2005
Janeiro(d)
383.811
449.710
469.367
434.296
Fevereiro
310.720
404.515
417.010
377.415
Março
317.906
362.071
402.367
360.781
Abril
343.479
387.911
381.291
370.893
Maio
294.699
403.302
402.543
366.848
Junho
341.788
407.137
401.857
383.594
Julho(a)
573.273
635.060
643.461
617.264
Agosto
385.375
426.173
442.250
417.933
Setembro
336.829
382.277
416.513
378.540
Outubro(b)
371.076
446.167
465.476
427.573
Novembro
367.557
429.642
429.443
408.881
Dezembro(c)
453.189
518.142
518.482
496.604
4.479.702
5.252.105
5.390.058
5.040.624
373.308
437.675
449.171
420.052
341.048
405.466
417.639
388.051
30.028
40.701
47.837
39.522
Total (e)
Média para os doze meses do ano
1
Média sem julho, dezembro e janeiro f=(e-c-a-d)/9
Visitantes de fora do Pará para o Círio(G=b-f)
Fonte: INFRAERO, ARCON e SINART-NORTE.
Média
87
7.
E = I – G. I é dado conforme item 3. G é estimado conforme item 6, Tabela 2. O valor de
E é distribuído pelas diversas regiões do Pará mediante %C, na Tabela 35. Como
resultado imediato se tem a parcela da Metropolitana de Belém na freqüência do Círio
(D) e, em conseqüência, a parcela das outras regiões do Pará (F=E-D).
8. O valor de J, a parcela dos que se hospedam na rede hoteleira entre os que visitam Belém
por causa do Círio, que não se originam no Pará, é dado estatisticamente pela variação
absoluta entre o valor de outubro e a média de todo o ano (conf. Tabela 38).
Tabela 38 – Estimativa dos visitantes de Belém provindos de outros estados e países no mês de
outubro, presumivelmente para participar do Círio de Nazaré, que se hospedam na
rede hoteleira
2002
2003
Janeiro
43.188
56.208
Fevereiro
39.470
52.339
Março
53.037
54.610
Abril
50.245
60.418
Maio
56.106
63.801
Junho
45.658
53.112
Julho
56.087
65.714
Agosto
58.219
33.897
Setembro
53.143
67.102
Outubro(A)
54.366
73.829
Novembro
52.689
70.707
Dezembro
44.557
54.614
Total
606.766
706.350
Média(B)
50.564
58.863
Hóspedes em outubro por
causa do Círio (C=A-B)
3.802
14.966
Fonte: Calculado pelos autores a partir do BOH fornecido pela PARATUR.
2004
67.941
71.557
82.276
77.283
88.516
91.935
85.483
102.407
90.127
109.366
102.089
82.929
1.051.910
87.659
Média
55.779
54.455
63.307
62.649
69.474
63.568
69.095
64.841
70.124
79.187
75.162
60.700
788.342
65.695
21.707
13.492
9. A parcela dos que não se hospedam na rede hoteleira e, por suposto, se hospedam em
casas de amigos e parentes, ou de particulares não cadastrados no órgão de turismo, é K=
G-J, G calculado conforme item 6 e J conforme item 8.
Os resultados da aplicação dessa metodologia estão na Tabela 39.
88
Tabela 39 – Estimativa das participantes do Círio por origem e condição
Anos
1
2001
2000
Baixo Amazonas
81.300
Marajó
2002
86.274
2003
88.690
2004
90.472
2005
92.427
97.043
93.442
99.159
101.936
103.984
106.231
111.537
Metropolitana de Belém (D)
962.634
1.021.532
1.050.140
1.071.237
1.094.385
1.149.044
Nordeste Paraense
385.899
409.510
420.978
429.436
438.715
460.627
Sudoeste Paraense
23.359
24.788
25.482
25.994
26.556
27.882
Sudeste Paraense
88.828
94.263
96.903
98.850
100.986
106.030
Total de romeiros do Pará (E=I-G)
1.635.462
1.735.526
1.784.129
1.819.972
1.859.299
1.952.163
De Belém (D)
962.634
1.021.532
1.050.140
1.071.237
1.094.385
1.149.044
Do Pará não Belém (F=E-D)
672.828
713.994
733.989
748.735
764.914
803.118
2
2
2
3
3
47.8373
6
28.0957
De Fora do Pará (G)
14.538
4
Em hotel (J)
Em casa de familiares (K=G-J)
Total dos visitantes em Belém
(H=F+G)
6
Participantes do Círio (I)
População adicional em Belém no
mês do círio [L = (H*6,3)/30]
População da mesorregião
metropolitana de Belém
14.474
5
15.871
30.028
6
6
3.483
3.467
3.802
11.055
11.007
12.069
15.062
18.994
18.994
687.366
728.468
749.860
778.763
805.615
850.956
1.650.000
1.750.000
1.800.000
1.850.000
1.900.000
2.000.000
143.804
152.403
156.878
162.925
168.543
178.028
2.086.551
2.144.453
2.203.961
2.265.122
2.327.978
2.392.579
1
14.966
40.701
2
21.707
3
Fonte: 3 – O valor de E distribuído conforme última coluna da Tabela 35. Fonte: Paratur. Tabela 2, última
linha. ; 6 - Fonte: Polícia Militar do Estado do Pará e DIEESE. 4 (Jde2002)/(Hde2002)*Hde2000; 5
(Jde2002)/(Hde2002)*Hde2001 6 Tabela 3 (última linha); 7 (Hde2005 - Hde2004) +Jde2004;
Destacam-se os seguintes pontos:
1. A Mesorregião Metropolitana de Belém tem participado com algo em torno de 58% da
multidão do Círio. Isso tem significado que a cada 2 habitantes de Belém, 1; e a cada três
católicos de Belém, 2 acompanham o Círio.
2. Os Romeiros de outras mesorregiões do Pará, que não a Metropolitana de Belém,
participam com aproximadamente 40%, dos quais, 57% do Nordeste Paraense, 14% da
Região da Ilhas, 13% do Sudeste Paraense, 12% do Baixo Amazonas e 3% do Sudoeste
do Pará.
3. Os visitantes de fora do Pará constituem minoria no total de visitantes de Belém, porém
sua participação cresceu substancialmente nos últimos anos, saindo de 2,1% para 5,1%
em 2004 e 5,6% no ano seguinte.
4.
Igualmente, tem crescido nos últimos anos a participação dos que se hospedam na rede
hoteleira comparativamente a todos que provêm de outros estados: de 24% nos três
primeiros anos, passou para 49,8% em 2003, 53,3% em 2004 e 60,3% em 2005.
5. As considerações feitas em 1, 2 e 3 contrariam pesquisas pré-existentes. Há duas
pesquisas da Companhia Paraense de Turismo – Paratur que apresentam aspectos do
perfil do “turista do Círio”, mas só a primeira trata da origem dos paraenses no Círio,
89
baseada numa única amostra de 2.500 viajantes em 4 pontos de saída da cidade: Terminal
Rodoviário, Aeroporto Internacional de Belém, Galpão 10 da CDP e BR – 316. Esta
opção controla bem os nodais aeroviário e rodoviário, mas deixa completamente em
aberto mais de uma dezena de outros pontos de saída fluvial, inclusive os mais
importantes para o Baixo Tocantins, para o Salgado e a Região das Ilhas, precisamente as
regiões culturalmente mais tradicionais de todo o Estado e, portanto, mais próximas ao
culto da Virgem de Nazaré e de Belém. Tal viés influiu de tal modo nos resultados que
quando descrimina a participação de paraenses no Círio os patrocinadores da pesquisa
assim se reportam: “Dos visitantes oriundos em outras cidades do Estado do Pará, 38,7%
eram da cidade de Santarém, 17,4% da Marabá, 9,6% de Altamira, 8,1% de Capanema,
7,0% de Bragança, 4,4% de Paragominas, 4,1% de Itaituba, 3,7% de Monte Dourado,
3,7% de Parauapebas e 3,3% de Colares.” (Governo do Pará, 2003:9). Considerando que
o total dessas percentagens é 100%, o documento está dizendo que, da mesorregião
Nordeste Paraense, ninguém do Baixo Tocantins, ninguém do Salgado e muito pouca
gente da Estrada esteve presente no Círio de 2003; que também ninguém das Ilhas esteve
presente. Isso é simplesmente impossível. Pela probabilidade que calculamos, daí devem
se deslocar nada menos que 35% de toda a multidão de paraenses, incluindo os da Região
Metropolitana de Belém, que acompanham o Círio.
4. A economia do Círio de Nazaré de Belém
A economia do Círio de Nazaré de Belém tem três componentes: 1) o impacto na
economia que resulta da flutuação populacional de Belém derivada estritamente das festividades;
2) o aumento do consumo do habitante de Belém resultante do “espírito nazareno” e 3) os gastos
diretos resultantes da produção dos eventos.
4.1.O impacto de consumo dos visitantes
Sobre a demografia do Círio de Nazaré, fundamenta-se a principal parcela da economia
do Círio. Isto é, o movimento de pessoas em torno do ciclo de festividades produz impactos nos
diversos setores e para os diversos agentes da economia de Belém. Para o cálculo, considerou-se
o seguinte:
1. Cada visitante provoca um consumo adicional na cidade, o que implica em receita direta
de algum setor de sua economia. Este dispêndio pode não ser diretamente arcado pelo
visitante – poderá ser arcado pelo seu anfitrião – mas é real e impacta a economia;
90
2. Segundo pesquisa da Paratur de 2003, tais dispêndios diários seguiram os seguintes
padrões médios: Lembranças e Outras Compras R$ 14,58; Alimentação (Restaurantes e
Bares) R$ 29,81; Transporte R$ 42,32 e Hospedagem R$ 49,47 (informações
apresentadas em US$ de outubro de 2003 pelo Governo do Pará, convertidos pelos
autores para R$ de 2004)
3. Segundo pesquisa da Paratur de 2004 os visitantes ficam em média 6,3 dias em Belém24.
4. Considerou-se, ademais:
a. Que a alimentação em residências é aproximadamente 2/3 dos dispêndios da
alimentação em restaurantes e bares, atingindo R$ 20,87 diários;
b. Que os gastos com transporte coletivo atingem a metade dos gastos com táxis e
outros meios, sendo o gasto diário estimado em R$ 21,16;
c. Que os visitantes do Pará de fora de Belém e os de fora do Pará hospedados em
residências repartem a alimentação 50% em Bares e Restaurantes e 50% em
Residências;
d. Do mesmo modo descrito em b se comportam em relação ao transporte: 50% Taxi
e Outros e 50% Coletivo;
e. Que só os visitantes hospedados em hotéis pagam hospedagem.
4.1.1. Impactos diretos
De posse desses elementos produziram-se estimativas de compras por tipo de visitantes e
de receita por setor. Os resultados estão na Tabela 40 a preços constantes de 2004.
24
Há diferenças entre o tempo de permanência dos visitantes em Belém nas duas pesquisas patrocinadas pela
Paratur em 2003 e 2004: respectivamente, 7,3 dias e 6,3 dias por visitante. Entendemos que o resultado da
segunda pesquisa é mais aderente com a realidade porque nela se obtiveram duas amostras: além da que resultou
do controle dos mesmos pontos de saída da pesquisa anterior, que deixa fora grande parte dos visitantes provindos
das regiões mais tradicionais, como já se demonstrou acima, uma segunda amostra consistiu da aplicação de
questionários durante a Trasladação e a Procissão do Círio, dando chance a que a grande massa que se desloca por
vias não facilmente controláveis se expressasse nas estatísticas resultantes. Lamentavelmente, o texto não
apresenta as dimensões das duas amostras, os métodos respectivos de monitoramento e controle da seleção dos
entrevistados e os métodos de integração das duas. Mas parece óbvio, que não obstante prováveis vieses, a
pesquisa de 2004 incorpora mais uma parcela dos componentes do universo que na primeira está completamente
ausente. Ver Governo do Pará, 2003 e 2004.
91
Tabela 40 – Estimativa dos dispêndios dos participantes do Círio e correspondentes receitas
dos diversos setores da economia de Belém (R$ a preços constantes de 2005)
2000
2001
2002
2003
Dispêndios dos visitantes de Belém por ocasião do Círio1
2004
2005
Partic. Do Pará que não Belém F$1
302.604.103
321.118.613
330.111.465
336.743.314
344.019.900
361.202.176
Partic. De fora do Pará G$=J$+K$
7.948.788
7.913.796
8.677.618
19.565.800
27.095.685
33.195.053
2.976.658
2.963.554
3.249.590
12.791.521
18.553.090
24.652.458
4.972.130
4.950.242
5.428.029
6.774.279
8.542.595
8.542.595
310.552.892
329.032.409
338.789.083
356.309.115
371.115.585
394.397.229
Em hotel (J$)
Em casa de familiares (K$)
Total de Visitante/Romeiros
H$ = F$+G$
Receitas/Produto por sub-setores da economia de Belém2
Lembranças e outras compras4
Setor: Comércio em Geral
Alimentação – Restaurant. e Bares5
Setor: Serviços Alimentação
Alimentação - Nas Residências6
Setor: Serv. Com. De Alimentos
Transporte - Táxis Outros7
Serviçcos: Transporte
Transporte - Coletivo8
Setor: Serviços Transporte
Hospedagem9
Setor: Serviços Hotelaria
Total
62.899.706
66.660.905
68.618.473
71.263.337
73.720.516
77.869.532
64.627.589
68.471.194
70.503.704
74.251.895
77.394.455
82.303.536
44.783.196
47.475.727
48.854.655
50.016.269
51.333.209
53.834.954
91.749.063
97.205.666
100.091.136
105.412.285
109.873.644
116.842.860
45.412.010
48.142.349
49.540.638
50.718.563
52.053.995
54.590.867
1.081.328
1.076.568
1.180.476
4.646.766
6.739.766
8.955.479
310.552.892
329.032.409
338.789.083
356.309.115
371.115.585
394.397.229
Notas: 1 As variáveis de linha A$, J$ e K$ combinam respectivamente os valores de A, J e K na Tabela 4 com as especificações
dos itens 2 a 5. 2 Os valores para os setores (variáveis de linha) as especificações dos itens 2 a 5 e as submete aos valores
da Tabela 4.
Deles se deve destacar o seguinte:
1. Em valores reais de 2004 o impacto direto de dispêndios e receitas adicionais na
economia de Belém chega próximo aos R$ 400 milhões, crescendo, do ano de 2000 a
2005, a uma taxa de 4,7% a.a.
2. O grupo de visitantes com maior expressão nesses valores é que provém de outras
regiões do Pará. A participação vem decrescendo nos últimos quatro anos, saindo de
98% em 2001 para 92% em 2005.
3. Os que vêm de fora do Pará têm em contrapartida participação crescente graças aos
que vêm utilizando a rede hoteleira da cidade: eles deixam de representar 1% e nos
três últimos anos avança para 4%, 5% e 6%, respectivamente.
4. O principal item de dispêndio é o relativo a alimentação movimentando dois subsetores de serviços: o de Bares e Restaurantes (inclusive seu componente de
entretenimento), com aproximadamente 21% e do de Supermercados e Feiras com
próximo de 14%.
5. Compra de souvenirs e outras, movimentando o comércio em geral, participa com
20%;
6. Os gastos com transporte compreendem, nas diversas modalidade, 34%.
92
7. Todos os itens apresentam estabilidade. Apenas o item hospedagem teve
multiplicada por 7 sua participação: saindo de 0,3% para 2,3%.
Os dispêndios diretos constituem base de remuneração dos fatores envolvidos e, portanto,
de formação do valor adicionado: Salários, Lucros e Impostos. Calculamos essas variáveis a
partir dos seguintes procedimentos:
1. Tomaram-se da pesquisa com os balanços de 10.000 empresas em todos os estados e em
todos os setores conduzida e publicada pela Gazeta Mercantil (Gazeta Mercantil, 2004)
os dados de Receita, Lucro e Receita por Trabalhador. Tomaram-se as estatísticas da
SEAGEP/RAIS para cálculo do salário médio por setor em Belém.
Tabela 41 – Parâmetros para estimação do Valor Adicionado nas receitas totais obtidas pelos
setores da economia de Belém por ocasião do Círio
Taxa de
Lucro
sobre
Receita3
Salário Médio
Mensal no Setor
em Belém, 20042
Receita Anual
por Trabalhador3
340,25
126.470
1,90%
326,94
29.220
0,80%
340,25
141.010
1,90%
731,82
68.834
0,80%
1%
736,71
40.460
0,80%
1%
422,88
32.390
0,80%
1%
Tarifas fiscais
ICMS
ISS
4
Lembranças e outras compras
Setor: Comércio em Geral
Alimentação – Restaurantes e Bares5
Setor: Serviços Alimentação
Alimentação - Nas Residências6
Setor: Serviços Com. De Alimentos
Transporte - Táxis Outros7
Serviços: Transporte
Transporte - Coletivo8
Setor: Serviços Transporte
Hospedagem9
Setor: Serviços Hotelaria
8,5%
1%
8,5%
1%
Fonte: MTE/SEAGEP/RAIS.3–Gazeta Mercantil–Balanço Anual de 10.000 empresas, 2004.
2. Cálculo da Massa de Salários: de posse dos parâmetros da Tabela 41 se calcula: Número
de Trabalhadores =Receita do Setor na Tabela 40/ Receita por Trabalhador do Setor na
Tabela 41;Massa de Salário = Número de Trabalhadores * Salário Médio na Tabela 41.
3. Cálculo da Massa de Lucro: Massa de Lucro = Taxa de Lucro sobre Receita na Tabela
41*Receita do Setor na Tabela 5.
Assim, estimaram-se séries das variáveis ocupações criadas em função do Círio (Tabela
42), massa de salários (Tabela 43), massa de lucros (Tabela 44) e valor adicionado (Tabela 45).
93
Tabela 42 – Estimativa da evolução do número de ocupações geradas na economia de Belém
no mês do Círio (número de ocupações)
Anos
2000
Lembranças e outras compras
Setor: Comércio em Geral
Alimentação – Rest. e Bares
Setor: Serviços Alimentação
Alimentação - Nas Residências
Setor: Com. De Alimentos
Transporte - Táxis Outros
Serviçcos: Transporte
Transporte – Coletivo
Setor: Serviços Transporte
Hospedagem
Setor: Serviços Hotelaria
Total
2001
2002
2003
2004
2005
5.968
6.325
6.511
6.762
6.995
7.389
26.541
28.120
28.954
30.494
31.784
33.800
3.811
4.040
4.158
4.256
4.368
4.581
15.995
16.946
17.449
18.377
19.155
20.370
13.469
14.279
14.693
15.043
15.439
16.191
401
66.185
399
70.108
437
72.202
1.722
76.653
2.497
80.238
3.318
85.649
Fonte: Estimativa dos autores.
Tabela 43 – Estimativa da evolução da massa de salários gerados na economia de Belém no
mês do Círio (R$ constantes de 2004)
Anos
Lembranças e outras compras
Setor: Comércio em Geral
Alimentação – Rest. e Bares
Setor: Serviços Alimentação
Alimentação - Nas Residências
Setor: Com. De Alimentos
Transporte - Táxis Outros
Serviçcos: Transporte
Transporte – Coletivo
Setor: Serviços Transporte
Hospedagem
Setor: Serviços Hotelaria
Total
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2.030.679
2.152.107
2.215.306
2.300.694
2.380.022
2.513.971,00
8.677.275
9.193.339
9.466.236
9.969.490
10.391.428
11.050.549,79
1.296.718
1.374.681
1.414.608
1.448.244
1.486.376
1.558.815,28
11.705.395
12.401.551
12.769.681
13.448.556
14.017.739
14.906.874,88
9.922.493
10.519.070
10.824.595
11.081.971
11.373.762
11.928.066,69
169.411
168.666
184.945
728.008
1.055.918
1.403.052,92
33.801.970
35.809.414
36.875.372
38.976.962
40.705.245
43.361.331
Fonte: Estimativa dos autores.
Tabela 44 – Estimativa da evolução da massa de lucros gerados na economia de Belém no
mês do Círio (R$ constantes de 2004)
Anos
2000
Lembranças e outras compras
Setor: Comércio em Geral
Alimentação – Rest. e Bares
Setor: Serviços Alimentação
Alimentação - Nas Residências
Setor: Com. de Alimentos
Transporte - Táxis Outros
Serviçcos: Transporte
Transporte – Coletivo
Setor: Serviços Transporte
Hospedagem
Setor: Serviços Hotelaria
Total
Fonte: Estimativa dos autores.
2001
2002
2003
2004
2005
1.195.094
1.266.557
1.303.751
1.354.003
1.400.690
1.479.521
517.021
547.770
564.030
594.015
619.156
658.428
850.881
902.039
928.238
950.309
975.331
1.022.864
733.993
777.645
800.729
843.298
878.989
934.743
363.296
385.139
396.325
405.749
416.432
436.727
8.651
3.668.935
8.613
3.887.762
9.444
4.002.517
37.174
4.184.549
53.918
4.344.516
71.644
4.603.927
94
Tabela 45 – Estimativa da evolução do valor adicionado (salários mais lucros) gerado na
economia de Belém no mês do Círio (R$ constantes de 2004)
Anos
2000
Lembranças e outras compras
Setor: Comércio em Geral
Alimentação – Rest. e Bares
Setor: Serviços Alimentação
Alimentação - Nas Residências
Setor: Com. de Alimentos
Transporte - Táxis Outros
Serviçcos: Transporte
Transporte – Coletivo
Setor: Serviços Transporte
Hospedagem
Setor: Serviços Hotelaria
Total
2001
2002
2003
2004
2005
3.225.774
3.418.664
3.519.057
3.654.697
3.780.712
3.993.492
9.194.295
9.741.109
10.030.266
10.563.505
11.010.584
11.708.978
2.147.598
2.276.720
2.342.847
2.398.553
2.461.707
2.581.679
12.439.387
13.179.196
13.570.410
14.291.854
14.896.728
15.841.618
10.285.789
10.904.209
11.220.920
11.487.719
11.790.194
12.364.794
178.062
37.470.905
177.278
39.697.176
194.389
40.877.889
765.182
43.161.510
1.109.836
45.049.760
1.474.697
47.965.258
Fonte: Estimativa dos autores.
4.1.2. Impactos indiretos
Os dispêndios dos visitantes representam ampliação exógena da demanda do lugar
visitado, Belém. As compras diretas representam, entretanto, um primeiro movimento de uma
série sucessiva e infinita de novos dispêndios: os gastos com alimentação em restaurantes, por
exemplo, têm uma parcela que será despendida nos supermercado e feiras; outra parte, a dos
salários, também será em grande medida gasta em supermercado e feiras. Mesmo a parte de
lucros, também terá uma parcela despendida em supermercados e feiras. E assim por diante. Pos
seu turno, os supermercados e os vendedores nas feiras utilizarão parte do que recebem com a
venda para comprar produtos agrícolas a intermediários, que por sua vez compram de
agricultores, etc. O que os supermercados pagam em salários e os ganhos dos feirantes se
transformarão em compras, e assim por diante. Essa corrente infinita de transações que se
originam de um gasto exógeno (um gasto extraordinário que provém de consumo de agentes de
outras economias ou de investimentos produtivos dos agentes desta ou de outras economias) leva
a que, ao final, o primeiro gasto seja apenas um termo de uma sucessão infinita de gastos. Tal
série pode ser descrita como uma progressão geométrica infinita cuja razão é a propensão dos
agentes da economia em questão para consumir, i.e. de fazerem novos gastos com o que ganham.
Se, por exemplo, em média, os membros de uma economia gastam 50% do que ganham, a sua
propensão a consumir seria de 0,5. Ao final, o total da renda de um gasto extraordinário,
digamos de R$ 1,00, nesta economia, seria a soma dos termos de uma progressão geométrica
infinita, cujo primeiro termo seria 1, a razão e a seria 0,5. Há uma fórmula para resolver este
problema:
Total da Renda = Gasto Extraordinário x [1/(1-Propensão a Consumir)]
No nosso problema, o gasto extraordinário de R$ 1,00 produziria:
Y =G•
1
1
= G • k = 1•
=2
1− b
1 − 0,5
(1)
95
Em que Y é o Total da Renda, G os gastos extraordinários, k o multiplicador da renda e b
a propensão a consumir. No exercício proposto, seriam R$ 2,00 a renda total derivada dos gastos
diretos de R$ 1,00: o impacto direto do gasto, de R$ 1,00, mais os efeitos indiretos no corpo da
economia que gerariam mais R$ 1,00 de renda. Esse fenômeno se projeta sobre as outras
variáveis fundamentais da economia: sobre o emprego, sobre os salários e sobre os lucros. A isso
Keynes chamou de efeito multiplicador de um gasto exógeno. É fácil de observar que o efeito é
tanto maior, quanto maior a propensão a consumir, considerando que esta é sempre um valor
menor que 1 e maior que zero.
Não temos as estruturas matriciais da economia de Belém que nos permitiriam obter os
seus multiplicadores: de renda ou produto, de emprego, de salário e de lucro. Mas temos
Matrizes de Contabilidade Social para o Estado do Pará para o ano de 1999 (Santana, Filgueiras,
Santos, Andrade Jr, Rocha, 2005). Os multiplicadores que nos importam são, com base naquele
estudo, os apresentados na Tabela 46.
Tabela 46 – Multiplicadores dos setores afetados pelos gastos os visitantes do Círio de Nazaré
(com base em MCS de 1999)
Setores
Comércio
Transporte
Outros Serviços (inclui Turismo)
Multiplicador do Produto
3,4228
2,9989
3,8673
Multiplicador do Emprego
2,6885
2,2836
4,0792
Fonte: Santana et alii, 2005:153.
4.1.3. Impactos totais dos gastos dos visitantes
Se considerarmos que esses multiplicadores são válidos para o ano de 2005 e que as
proporções entre salários e lucros e produto (receita total bruta) são as verificadas para os valores
das Tabelas 39, 42 e 43 naquele ano poderíamos sugerir que o valor total dos efeitos diretos e
indiretos dos dispêndios dos visitantes do Círio seriam os apresentados na Tabela 47, onde se
acrescem também estimativas de receita fiscal, obedecendo aos seguintes critérios: para ICMS a
alíquota de 8,5%, aplicados ao valor adicionado (Salário mais Lucros) dos setores de comércio,
com o que se atinge a proporção da carga tributária de 1,3% do PIB, provável em 2005 a partir
da tendência para os valores verificados para 2000 a 2003 do ICMS arrecadado em Belém,
informados pelo Governo do Pará, e os PIB municipais do IBGE (segundo essas fontes, a
proporção ICMS/PIB, no município de Belém, sai de 3% no primeiro ano, atingindo 1,6% dois
últimos, sendo 2003 o último ano para o qual o IBGE estima PIB municipal); para o ISS a
alíquota de 1% sobre o valor adicionado dos setores de serviço, com o que se atinge a carga
tributária de 0,86% do PIB para impostos municipais (conf. Machado, 2002:56).
96
Tabela 47 – Estimativa para 2005 das variáveis macroeconômicas considerando os efeitos
diretos e indiretos dos gastos dos visitantes do Círio de Nazaré (com base nos
multiplicadores da Tabela 12), em R$ de 2005
Lembranças e compras
Setor: Comércio em Geral
Alimentação – Rest. e Bares
Setor: Serviços Alimentação
Alimentação – Residências
Setor: Comerc. de Alimentos
Transporte – Táxis e Outros
Serviços: Transporte
Transporte – Coletivo
Setor: Serviços Transporte
Hospedagem
Setor: Serviços Hotelaria
Total
Receita
Total/Produto
/VBP
Ocupaçõ
es no
mès1
Massa
Salários2
Massa de
Lucro3
Valor
Adicionado
/PIB/Renda
Receita Fiscal
266.531.834
19.864
8.604.820
5.064.105
13.668.925
318.292.466
137.878
42.735.791
2.546.340
45.282.131
184.266.281
12.317
5.335.513
3.501.059
8.836.572
350.400.053
46.516
44.704.227
2.803.200
47.507.427
468.388
163.712.552
36.974
35.771.079
1.309.700
37.080.780
367.684
34.633.523
13.534
5.426.027
277.068
5.703.095
57.183
1.317.836.710
267.083
142.577.457
15.501.473
158.078.930
I
CMS
I
SS
1.189.810
454.217
748.963
1.938.773
1.347.471
Fonte: Estimativas dos autores. 1 Trata-se de ocupações formais e informais, equivalentes em horas-extra e expansão
do tempo de trabalho da força de trabalho familiar, em todos os setores que de algum modo se relacionam
com a economia de Belém 2 Considerou-se os mesmos salários médios das estimativas da Tabela 8, aplicados
ao emprego estimado considerando o multiplicador de emprego da Tabela 46. 2 Considerou-se as mesmas
relações lucro/produto utilizadas para as estimativas da Tabela 9.
Estes resultados são compatíveis com a variação sazonal absoluta do mês de outubro da
arrecadação real de ICMS do Governo do Estado em relação a média no ano de 2005:
R$ 2.963.482,77 (conf. Tabela 48, segunda coluna), indicando a consistência das estimativas.
Os visitantes de Belém explicariam 65% da arrecadação extraordinária (acima da média anual)
do mês de outubro. O que explicaria os demais 35% da variação positiva da renda no mês de
outubro? A isto nos dedicaremos no próximo segmento.
Tabela 48 – Arrecadação mensal de ICMS pelo Governo Estadual em Belém e no Pará no ano
de 2005 em R$ correntes, variações absolutas em relação à média, índices de
sazonalidade e sazonalidade autônoma de Belém
Belém
Variação
absoluta em
relação à
média
Ind.
Sazonalidade
(A)
Arrecadação
De ICMS
R$
12.509.406
(1.098.002)
0,92
11.243.608
(2.363.800)
0,83
Arrecadação
De ICMS
R$
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Média
Pará (menos Belém)
Sazonalidade autônoma
de Belém
Variação
C=
absoluta
(A – B)
autônoma
+1
de Belém
Variação
absoluta
em relação
à média
Ind.
SazonaliDade
(B)
225.499.646
1.450.956
1,01
0,9128
(1.186.125)
185.890.607
(38.158.083)
0,83
0,9966
(46.301)
9.806.088
(3.801.320)
0,72
195.813.856
(28.234.834)
0,87
0,8467
(2.086.501)
10.171.958
(3.435.450)
0,75
198.690.138
(25.358.552)
0,89
0,8607
(1.895.320)
11.048.243
(2.559.164)
0,81
212.138.489
(11.910.201)
0,95
0,8651
(1.835.808)
11.090.739
(2.516.668)
0,82
227.189.352
3.140.662
1,01
0,8010
(2.707.414)
14.854.351
1.246.943
1,09
221.493.330
(2.555.360)
0,99
1,1030
1.402.140
15.202.398
1.594.990
1,12
226.056.687
2.007.997
1,01
1,1083
1.473.036
18.972.259
5.364.851
1,39
286.049.677
62.000.987
1,28
1,1175
1.599.274
16.570.891
2.963.483
1,22
237.764.283
13.715.593
1,06
1,1566
2.130.478
15.351.074
1.743.666
1,13
230.803.380
6.754.690
1,03
1,0980
1.333.426
16.467.880
2.860.472
1,21
241.194.835
17.146.145
1,08
1,1337
1.819.116
13.607.408 (D)
224.048.690
Fonte: Governo do Pará - Secretaria Executiva de Fazenda. Cálculos dos autores.
97
4.2.A economia do Círio: os efeitos derivados da condição de “Natal dos Paraenses”
É recorrente a referência à condição de “Natal dos Paraenses” atribuída à festa do Círio.
Com efeito, as famílias confraternizam de modo efusivo no domingo do Círio, no qual o “almoço
do Círio” tem o status de grande ágape que reúne os extensos grupos familiares, marcando o
reencontro de muitos e os sentimentos de pertencimento de muitos.
Nos importa neste momento as implicações dessa condição de Natal, do Círio, no
comportamento das pessoas. Nos importa ver a relevância econômica desse fenômeno social. De
imediata, é sensorialmente perceptível uma inquietação que leva à compra da roupa nova, à
pintura ou mesmo reforma da casa, à reforma do carro, à compra do equipamento doméstico
novo para viabilizar a recepção dos muitos parentes, etc. Os gastos associados a esses eventos
não são exógenos, como os que elucidamos acima – eles resultam de uma disposição
extraordinária dos belenenses de adquirir certos bens, nesse período. Do ponto de vista da
formação da renda global, o significado da condição de natal provém de uma presumível
elevação da propensão a consumir (um aumento b, na equação 1).
A variação na renda derivada das festividades do Círio tem, assim, além do impacto
direto (G, na equação 1) e dos efeitos indiretos (resultante dos incrementos derivados do
multiplicador k associado a uma propensão “normal” b, na equação 1) dos gastos dos visitantes,
um outro componente, derivado da elevação do consumo dos residentes locais (para b*),
motivada por razões ligadas ao evento. Acima chegamos às duas primeiras dessas parcelas. O
que dizer a respeito da parcela restante? O que ela representa? A resposta teórica é: ela consistirá
do valor da variação total da renda resultantes do Círio menos as parcelas já encontradas.
E qual é a variação total da renda de Belém que se deve ao Círio? É possível responder
também a isso: é a variação total do período do Círio menos o que dessa variação pode ser
explicado por outras razões que não o Círio. Que outras razões poderão ser essas? Resposta: as
razões da economia envolvente, sobretudo da economia do Estado do Pará. O Círio ocorre na
última fase do período de estiagem (verão) da Amazônia, no qual as grandes safras se realizam:
há, nesse período, um grande esforço de extração madeireira e há a safra da fruticultura e do
extrativismo vegetal de coleta, com destaque para o Açaí. Belém é o centro para onde converge
grande parte dessa produção, tendo sua economia diretamente por isso impactada. Se queremos
verificar qual a variação que se deve ao Círio, temos que entender por igual qual a que se deve a
outros fatores e separar, uma da outra.
98
Gráfico 1 – Comparação da sazonalidade da arrecadação mensal de ICMS em Belém e no
resto do Pará no ano de 2005 em R$ correntes (Índice de Sazonalidade)
1,6
1,4
1,2
1
0,8
0,6
0,4
0,2
Estado do P ará, exceto B elém
Dezembro
Novem bro
Outubro
Setem bro
Agosto
Julho
Junho
Maio
Abril
Março
Fevereiro
Janeiro
0
B elém
Fonte: Tabela 48.
A variação total do período do Círio – O Ciclo da Economia de Belém. Temos na
arrecadação de ICMS uma proxy robusta para observar os movimentos sazonais da economia da
cidade de Belém. Tal movimentação ao longo do ano de 2005 é descrita pelo Índice de
Sazonalidade de Belém, na Tabela 48. O mesmo ocorre em relação à economia do resto do
Estado, cujo Índice de Sazonalidade encontra-se na coluna (B) da mesma tabela.
Correspondendo à expectativa, os movimentos em Belém são fortemente influenciados pela
economia do resto do Estado, de modo que as oscilações desta são em parte acompanhadas por
aquela (conf. Gráfico 1). Para se saber o que se passa por determinação exclusiva de fatores
localizados em Belém, como por exemplo, o Círio de Nazaré, temos que retirar (subtrair) da
sazonalidade de Belém, a sazonalidade do resto do Pará.
A variação específica produzida pelo Círio – O Ciclo do Círio. O índice resultante
(Índice de Sazonalidade Autônoma da Economia de Belém) descreve os movimentos resultantes
exclusivamente dos eventos da própria cidade. Por ele (ver Gráfico 2) torna-se evidente não
apenas o destaque de outubro, mas a conformação de um ciclo que inicia em agosto e termina em
novembro, tendo seu ápice em outubro, mês do Círio, o Natal dos Paraenses. Em dezembro, mês
99
do Natal propriamente dito, há uma variação positiva que atinge, porém, o nível do mês de
setembro – o mês imediatamente pré-Círio. Em janeiro, o movimento já é inferior à média.
Gráfico 2 – Sazonalidade Autônoma da arrecadação mensal de ICMS em Belém
(Índice de Sazonalidade)
1,2
1,15
1,1
1,05
1
0,95
0,9
0,85
0,8
0,75
Dezembro
Novembro
Outubro
Setembro
Agosto
Julho
Junho
Maio
Abril
Março
Fevereiro
Janeiro
0,7
Fonte: Tabela 48.
Estimativas do impacto do Natal dos Paraenses. A variação da arrecadação de ICMS do
mês de outubro derivada, por suposto, das condicionantes associadas ao Círio, é de R$
2.130.478,00 (conf. Tabela 48, última coluna). Nisso, a estimativa do tributo a partir dos efeitos
diretos e indiretos dos gastos dos visitantes, estimados em 3.3, no montante de R$ 1.938.773,00,
representam 91%. A parcela restante deverá ser resultado dos dispêndios dos próprios belenenses
– como derivação da condição de Natal dos Paraenses atribuível ao Círio.
Além dessa parcela, haveríamos que considerar a variação na arrecadação dos dois meses
que antecedem outubro como partes do ciclo do Círio. Nesse caso, o ICMS recolhido somaria R$
3.072.310,00 de ICMS (R$ 1.473.036,00 em agosto e R$ 1.599.274,00 em setembro).
Se considerarmos que esses gastos se fazem nos setores do comércio e a estrutura
distributiva desses setores seria a mesma a que se chegou na Tabela 47, temos a seguinte
estimativa das variáveis Produto Bruto, Emprego, Massa de Salários, Massa de Lucros e do
Valor Adicionado, conforme apresentado na Tabela 49.
100
Tabela 49 – Estimativa para 2005 das variáveis macroeconômicas considerando os efeitos
diretos e indiretos dos gastos dos belenenses no Ciclo do Círio de Nazaré (efeito
“Natal dos Paraenses”, em R$ de 2005
Receita
Total/
Produto/VBP
Emprego1
Massa de Salários2
Massa de Lucro
Valor
Adicionado PIB
Agosto
342.506.241
24.450,58
10.591.551
5.111.526
Setembro
371.858.750
24.249,64
11.499.238
Outubro
44.574.714
1.652,86
Total
758.939.705
28.113,40
Receita Fiscal
ICMS
IC
MS
15.703.076
1.473.036
–
5.549.580
17.048.817
1.599.274
–
1.378.414
665.228
2.043.642
191.705
–
23.469.202
11.326.334
34.795.536
3.264.015
–
1
Fonte: Estimativas dos autores. Trata-se de ocupações formais e informais, equivalentes em horas-extra e expansão
do tempo de trabalho da força de trabalho familiar, em todos os setores que de algum modo se relacionam
com a economia de Belém 2 Considerou-se os mesmos salários médios dos setores de comércio utilizados nas
estimativas anteriores.
4.3. A economia total do Círio de Nazaré de Belém
Considerando, finalmente, os efeitos diretos e indiretos dos gastos dos visitantes, mais os
efeitos diretos e indiretos do Natal dos Paraenses, chega-se aos resultados da Tabela 50: tudo o
que o ciclo do Círio representa para a economia de Belém e, por via de conseqüência, do Pará.
Tabela 50 – Estimativa para 2005 das variáveis macroeconômicas considerando os efeitos
diretos e indiretos dos gastos dos visitantes do Círio de Nazaré (com base nos
multiplicadores da Tabela 48), em R$ de 2005
Efeitos diretos e
indiretos dos gastos
exógenos provindos
dos visitantes de
Belém por ocasião
do Círio
Efeitos diretos e
indiretos dos gastos
dos belenenses
associados à
condição de “Natal
dos Paraenses” do
Círio
Total do
impacto
econômico do
Círio
Receita
Total/Produto
/VBP
Emprego
1.317.836.710
267.083
142.577.457
12.837.661
155.415.118
1.938.773 1.347.471
758.939.705
28.113
23.469.202
11.326.334
34.795.536
3.264.015
2.076.776.415
295.196
166.046.659
24.163.995
190.210.654
5.202.788 1.347.471
Massa de
Massa de Lucro
Salários
Valor
Adicionado/PIB
Receita Fiscal
ICMS
ISS
–
Mediante tais números, os gastos diretos na produção do Círio (R$ 1,2 milhões de reais),
mais os gastos na produção do Arraial da Pavulagem (
do Círio (
significado.
), mais os gastos na produção do Auto
), mais, enfim, o orçamento da Festa das Filhas da Chiquita ( ), tornam-se de pouco
101
Considerações finais
O Círio de Nazaré, como evento religioso, é o centro de um acontecimento mais amplo,
que designamos Círio de Nazaré de Belém: um momento do processo histórico da construção
social de um espaço-tempo simbólico estruturado por legítimas razões de fé, com o concurso
oportunista da alegria, da cultura, da política e do mercado.
A produção do Círio é um processo coletivo, no qual um centro estratégico de
coordenação e governança (Diretoria da Festa) desempenham o papel de preparar os símbolos e
os fiéis em diversas condições e papéis de produzir a vivência. O poder público ai coopera de
diversos modos – fornecendo recursos financeiros (hoje em torno de ½ do orçamento de R$ 1,2
milhões reais) e agentes para o controle das manifestações (milhares de bombeiros, policiais,
militares das forças armadas, etc.). As empresas, que se pretendem vistas como financiadoras
oficiais do evento, investem em imagem, hoje, o que corresponde a aproximadamente a outra
metade do orçamento. Todavia, o público é a força viva que dá sentido aos símbolos – ele produz
o Círio no sentido de que move e articula seus elementos pré-existentes, tangíveis e intangíveis,
lhes dando vida, construindo vivência. Os custos que envolvem sua participação são arcados
difusamente, cada qual tendo às suas expensas na forma de custos de deslocamento (monetizado
ou não) e acompanhamento (tempo, esforço despendido na presença).
O Círio de Nazaré, tratado como um sistema, revelou-se submetido à regulação por
princípios reprodutivos que combinam forças de expansão e de retração. Sob tais condições
demonstrou, todavia, grande capacidade adaptativa, reinstaurando, continuamente, nesses mais
de duzentos anos de reprodução, a sua capacidade de crescimento. Observado pelo número de
sua audiência, o sistema expandiu-se tendencialmente, não obstante apresentando ciclos
marcados por períodos mais céleres, outros mais lentos e fases de estagnação. O sistema superou
as fases de crise com inovações de grande significado para a sua operação ou para a sua gestão;
teve seus momentos de expansão mais notáveis quando se mostrou particularmente reforçado por
novidades e, ao contrário, reduzia a dinâmica quando, por falta de mudanças, os mecanismos de
auto-contenção se mostraram mais atuantes.
A fase mais recente inicia com uma crise de crescimento de audiência nos anos noventa e
um período subseqüente particularmente ativo em inovações. Baseada em estratégia que
combina extensão do tempo e do espaço do Círio, com a intensidade do uso do tempo e do
espaço estabelecido – i.e. ao mesmo tempo que amplia o número de viagens (procissões,
peregrinações, romarias, etc.) que santificam novos espaços, públicos (os confins de
Ananindeua, as águas do Guajará, etc.) ou privados (novenários, visitas a casas, visitas a
102
empresas, etc.), busca aumentar o número de presenças nessas viagens, a começar pela
recuperação da audiência da procissão matriz, o Círio de Nazaré (pelas inovações para a gestão
do tempo e do andamento, o que reduz o custo de produção difuso, arcado pelo público),
seguindo pelos novos atrativos em cânticos e falas.
Os resultados demonstram-se tanto na elevação da audiência total da procissão matriz e
do conjunto de romarias a taxas significativas, como na redução do custo (esforço social) por
unidade de audiência, seja quando medido por recursos monetários, seja quando avaliado por
tempo diretamente despendido na produção do evento. O sistema, neste momento, está se
expandido, portanto, elevando a sua eficiência reprodutiva.
O Círio de Nazaré fornece a audiência – e outras externalidades, como a predisposição de
organismos financiadores – para outras manifestações culturais. Três delas se destacam e foram
aqui tratadas: o Arrastão do Boi Pavulagem, o Auto do Círio e a Festa das Filhas da Chiquita.
Essas manifestações se caracterizam por baixo custo (respectivamente R$ 25.000,00,
R$180.000,00 e R$ 24.700,00), pela capacidade de crescimento e atração
e pela intensa
capacidade de criar e inovar.
No período em que ocorre o Círio de Nazaré, o Arrastão do Boi Pavulagem, o Auto do
Círio, a Festa das Filhas da Chiquita e tantas outras manifestações e atrativos culturais a cidade
de Belém recebe um número impressionante de visitantes, que tem crescido extraordinariamente
nesta década: de 678.366 em 2000, passou para 850.956 em 2005. A maior parcela desse público
provém do próprio estado do Pará (672.828 no primeiro e 803.118 no último ano). A parcela que
mais cresce, porém, é a de visitantes de fora de Belém, a qual saiu de 14.438 para 47.837
(multiplicou por 3,5), puxada por turistas, digamos, autênticos, por se hospedarem em hotéis –
estes saíram de 3.483 para 28.095 (multiplicou por 8).
Estes números são a base de um momento importante da economia da cidade,
fundamentando o que aqui chamamos de economia do Círio de Nazaré de Belém, em que se
acresce um volume de transações diretas equivalentes (a preços constantes de 2005), em 2000, a
R$ 310,5 milhões de reais, em 2005, a R$ 394,4 milhões. Considerando os efeitos indiretos (os
multiplicadores keynesianos de renda), a Renda ou Receita Bruta Total de toda a economia foi,
em 2005, de R$ 1,3 bilhões, gerando um Valor Adicionado de R$ 158,1 milhões (R$ 142,6
milhões de salários, o que corresponderia a 267.083 ocupações no mês, e R$ 15,5 milhões de
lucro) e uma receita fiscal de R$ 3,3 milhões (ICMS R$ 1,9 e ISS R$ 1,3 milhões).
Estes números, impressionantes, são perfeitamente compatíveis com a variação sazonal
absoluta do mês de outubro da arrecadação real de ICMS do Governo do Estado em relação a
média no ano de 2005, R$ 2,96 milhões, e da sazonalidade líquida derivada exclusivamente do
103
Círio, de R$ 2,1 milhões. O que quer dizer que os visitantes de Belém explicam 65% da
arrecadação extraordinária total (acima da média anual) do ICMS do mês de outubro (em parte
explicado também pela elevação da circulação de produtos provindos da economia estadual por
inteiro) e 91% da variação que se deve exclusivamente aos eventos da cidade da cidade neste
período, é dizer, ao Círio de Nazaré de Belém.
Os demais 9% da variação sazonal (em função do Círio) do ICMS em outubro se
explicam pelo efeito “Natal dos paraenses”. Aliás, esse efeito foi captado desde agosto, levando
à estimativa de uma renda bruta total a ele associado de R$ 0,8 bilhões, o que corresponderia a
um Valor Adicionado de R$ 34,8 milhões de reais (R$ 23,5 milhões de salários e R$ 11,3
milhões de lucros) e a uma arrecadação de ICMS de R$ 3,2 milhões.
Enfim: a Economia do Círio de Nazaré de Belém corresponde a R$ 2,1 bilhões em
Renda/Receita Bruta Total, R$ 190,2 milhões de Valor Adicionado (R$ 166,0 milhões de
salários, para 295,1 mil ocupações, e R$ 24,2 milhões em lucros) e R$ 6,5 milhões em tributos
(R$ 5,2 ICMS e R$ 1,3 ISS).
Trata-se de uma grande economia, pois. Para a qual o estudo demonstrou não haver
políticas públicas deliberadas – apenas a cooperação dos governos, mediante pedido, por meio de
donativos orçamentários e desponibilização de agentes. Os donativos não atingem 10% da
arrecadação fiscal proporcionada pelo evento. E oscila com o humor e o oportunismo dos
governantes.
Por outro lado, também não há, por parte dos agentes privados mais ligados ao evento –
como os que atuam no turismo – uma mobilização coordenada e objetivada ao evento, uma vez
que sua importância para o APL é muito pontual: não vai além dos leitos necessários para
abrigar em torno de 50.000 pessoas por não mais que uma semana.
Os entrevistados indicaram forte carência de políticas públicas:
1. na melhoria da infra-estrutura física;
2. na melhoria da infra-estrutura de conhecimento;
3. na divulgação e promoção do evento;
4. na capacitação de profissionais ;
5. na promoção crescente de eventos culturais paralelos;
6. na elaboração de normas para a preservação das características típicas dos
diverso eventos;
7. na promoção de eventos públicos;
8. na criação de entidades locais para gerir música e turismo.
104
Observando, como um todo, a Economia do Círio de Nazaré de Belém, percebe-se a
necessidade geral de focar distintamente para o visitante fiel/romeiro e para o visitante turista –
tornando-os constantes e dispostos a ficar cada vez mais. Pois, ambos trazem em suas visitas um
fluxo de renda externo capaz de movimentar as engrenagens econômicas locais. Suas visitas são,
indiferentemente, bem-vindas. Contudo, como o sentido da visita é diferenciado, a política de
atração deve ser também diferenciada. Para os visitantes turistas a incorporação de outras
atrações na região atreladas ou não ao evento religioso é uma necessidade. Para os visitantes
romeiros, devem-se ampliar as oportunidades de alcançar seus objetivos, em novos espaços e
tempos sagrados capazes de abrir canais de comunicação privilegiados com as divindades.
É que se deve adequar estrategicamente à tendência indicada por Silveira (2004),
mediante a qual o turismo religioso estaria gerando um movimento complexo de hibridização do
sagrado (fé, devoção, sofrimento) e do profano (consumo, lazer, festa) em um mesmo fluxo de
intenções, onde os visitantes interessados em consumir e relaxar também poderiam estar
dispostos a participar do evento religioso, bem como os devotos se tornariam consumidores após
o encerramento do tempo/espaço sagrado. Como tal, o Círio pode ser uma oportunidade, para
Belém, do acesso a parcela crescente 167 milhões de cristãos que peregrinam anualmente no
mundo, dos quais 80% ou 133,6 milhões, se deslocam para participar de cultos e eventos
religiosos relacionados com Nossa Senhora (Salgado, 2006).
105
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