REDE TEMÁTICA EM ENGENHARIA DE MATERIAIS REDEMAT UFOP – CETEC – UEMG PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS UFOP - CETEC - UEMG ESTUDO DO COMPORTAMENTO METALÚRGICO DO “REATOR KAMBARA” ATRAVÉS DE MODELAGEM FÍSICA ODAIR JOSÉ KIRMSE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO REDE TEMÁTICA EM ENGENHARIA DE MATERIAIS REDEMAT UFOP – CETEC – UEMG PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS UFOP - CETEC - UEMG ESTUDO DO COMPORTAMENTO METALÚRGICO DO “REATOR KAMBARA” ATRAVÉS DE MODELAGEM FÍSICA Odair José Kirmse Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação da Rede Temática em Engenharia de Materiais- REDEMAT, do convênio entre a Universidade Federal de Ouro Preto-UFOP, o Centro Tecnológico de Minas Gerais- CETEC e a Universidade do Estado de Minas Gerais- UEMG como parte integrante dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia de Materiais e Metalurgia. Orientador: Prof. Carlos Antônio da Silva, PhD Ouro Preto – MG Abril de 2006 K59e Kirmse, Odair José. Estudo do comportamento metalúrgico do reator Kambara através de modelagem física [manuscrito]. / Odair José Kirmse. – 2006. 119 f.: il. color., grafs. , tabs., fotos. Orientador: Prof. Dr. Carlos Antonio da Silva. Área de concentração: Processos de Fabricação e Aplicação. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas. Rede Temática em Engenharia de Materiais. 1. Metalurgia - Teses. 2. Dessulfuração - Teses. 3. Misturas - Teses. 4. Siderurgia -Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas. Rede Temática em Engenharia de Materiais. II.Título. CDU: 669 Catalogação: [email protected] FICHA DE APROVAÇÃO Dedico esse trabalho a minha esposa Ednéia pelo carinho e dedicação sempre dispensados em todos os momentos e ao filhotinho Vitor pelos sorrisos revigorantes a cada final de tarde. AGRADECIMENTOS Quando terminamos um projeto é sempre muito bom lembrar daqueles que foram decisivos para a sua conclusão. São muitos que tenho a agradecer e nomeá-los poderia ser uma tarefa difícil, como também poderia causar alguma injustiça. Obrigado a todos os amigos de trabalho que suportaram com paciência todos os momentos e que me ajudaram a superar o cansaço e o desânimo de um dia após o outro e pelo apoio para continuar prosseguindo em frente. Um agradecimento todo especial a Arcelor Brasil - Companhia Siderúrgica de Tubarão que patrocinou esse trabalho e em especial ao Departamento de Produção de Aço (IDA) que sempre acredita na capacidade de seus funcionários. Essa luta não acabou e sabemos que sempre teremos o apoio necessário quando precisarmos. Enche-nos de orgulho quando vemos que somos co-participantes da história dessa empresa. “Dimas Baihense Moreira, você é um cara especial”. Benedito Pignaton e Jose Washington A. Augusto sempre me lembrarei de vocês. Agradeço a família pelo apoio sem o qual não teria chegado aqui. A barra pesou em muitas ocasiões. Agora é olhar pra frente, pois sabemos que valeu a pena. Agradeço a REDEMAT que escreve uma importante página na minha história. Entidade séria, comprometida com a qualidade do ensino e comprometida com seu papel de fazer multiplicar o conhecimento. Construir o homem é o maior desafio que alguém pode assumir e a REDEMAT não tem fugido desse compromisso. Ao Professor Carlos Antônio da Silva (Cojak), agradeço de modo especial pelo empenho, pela garra, pela dedicação. Em todas as vezes que precisei estava sempre disponível, isso mostra compromisso e isso é fundamental. “Você agora faz parte da história da minha vida e quero sempre me lembrar de você com carinho.” Agora algo velho ficou para traz e agora é necessário continuar a progredir e melhorar como pessoa e cidadão, consciente dos obstáculos que surgirão a cada manhã. Para ter sucesso é preciso trabalhar e sonhar, então vamos sonhar e trabalhar, pois há outros alvos a serem atingidos. ÍNDICE LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................................... IX RESUMO ................................................................................................................................................... XIII ABSTRACT................................................................................................................................................XV 1. INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 16 2. OBJETIVOS ...................................................................................................................................... 17 2.1 OBJETIVOS GERAIS ..................................................................................................................... 17 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................................. 17 3. JUSTIFICATIVAS.............................................................................................................................. 18 4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................. 19 4.1 EFEITO DO ENXOFRE NO AÇO ...................................................................................................... 19 4.2 MÉTODOS DE DESSULFURAÇÃO DE GUSA LÍQUIDO ........................................................................ 23 4.2.1 Dessulfuração em Carro-Torpedo (CT)................................................................................ 24 4.2.2 Dessulfuração em Panela de Gusa...................................................................................... 25 4.3 REAÇÕES DE DESSULFURAÇÃO (DE-S) ......................................................................................... 28 4.4 MATERIAIS PARA DESSULFURAÇÃO .............................................................................................. 30 4.5 O USO DA CAL PARA DESSULFURAÇÃO ........................................................................................ 32 4.6 O PAPEL DA ESCÓRIA DE ARRASTE NA DESSULFURAÇÃO .............................................................. 42 4.7 DESSULFURAÇÃO EM PLANTA KR................................................................................................. 44 4.7.1 5. 6. 7. Processo de Mistura ............................................................................................................. 52 METODOLOGIA E RESULTADOS EXPERIMENTAIS.................................................................... 57 5.1 CÁLCULOS PRELIMINARES E LIMITE OPERACIONAL ........................................................................ 66 5.2 TEMPOS DE MISTURAMENTO ........................................................................................................ 73 5.3 TRANSFERÊNCIA DE MASSA ......................................................................................................... 85 CONCLUSÕES................................................................................................................................ 103 6.1 SOBRE A DESSULFURAÇÃO ........................................................................................................ 103 6.2 SOBRE AGITAÇÃO E MISTURA .................................................................................................... 104 6.3 SOBRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS ................................................................................... 105 6.3.1 Cálculos Preliminares e Limite Operacional....................................................................... 105 6.3.2 Tempos de Misturamento ................................................................................................... 105 6.3.3 Transporte de Massa.......................................................................................................... 106 RECOMENDAÇÕES ....................................................................................................................... 107 7.1 ESTUDO DO KR VIA MODELAGEM FÍSICA SIMULANDO TROCA QUÍMICA SÓLIDO-LÍQUIDO ............... 107 7.2 ESTUDO DO KR VIA MODELAGEM MATEMÁTICA ........................................................................... 110 7.3 MODELO CINÉTICO DO KR ......................................................................................................... 111 8. 9. ANEXOS.......................................................................................................................................... 112 8.1 CONCEITO DE CAPACIDADE SULFÍDICA ....................................................................................... 112 8.2 CONCEITOS GERAIS ................................................................................................................... 114 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 117 LISTA DE FIGURAS Figura 01-Efeito do teor do enxofre na quantidade de trincas longitudinais em placa ............................. 20 Figura 02-Efeito do teor do enxofre na resiliência transversal .................................................................. 20 Figura 03-Influência do percentual do enxofre na resistência mecânica na direção transversal à laminação ................................................................................................................................................... 21 Figura 04-Partição do enxofre em função do oxigênio.............................................................................. 23 Figura 05-Influência de elementos de liga no coeficiente de atividade henriana do enxofre em ligas de ferro e aço. ............................................................................................................................................ 24 Figura 06-Esquema da dessulfuração em Carro Torpedo (CT)................................................................ 25 Figura 07-Exemplos de dessulfuração em panela de transferência ......................................................... 26 Figura 08-Energia livre de formação de sulfetos....................................................................................... 32 Figura 09-Diagrama de Hellinghan............................................................................................................ 33 Figura 10-Energia livre de formação de cálcicos ...................................................................................... 34 Figura 11-Influência do tamanho da partícula de cal sobre a taxa de dessulfuração............................... 35 Figura 12-Etapas do processo de dessulfuração...................................................................................... 37 Figura 13-Efeitos da temperatura, tipo e composição da escória de topo sobre sua capacidade sulfídica....................................................................................................................................................... 39 Figura 14-Resultados experimentais em liga Fe-C saturado e 0.5% de silício a 1350º C usando CaO-CaF2 como agente dessulfurante. ..................................................................................................... 40 Figura 15-Binário CaO-CaF2 ..................................................................................................................... 41 Figura 16-Representação do período de incubação da de-S ................................................................... 42 Figura 17-Coeficiente aparente de transferência de massa versus energia de agitação......................... 46 Figura 18-Representação esquemática do reator KR............................................................................... 47 Figura 19-Resultados de dessulfuração com carbeto de cálcio, em função de velocidade de rotação do agitador..................................................................................................................................... 49 Figura 20-Efeito da profundidade de imersão da placa guia sobre o grau de dessulfuração................... 50 Figura 21-O efeito, esquemático, da profundidade de imersão das palhetas sobre o padrão de fluxo. ........................................................................................................................................................... 51 Figura 22-Relações entre tamanho da panela e agitador ......................................................................... 52 Figura 23-Esquema para diferentes fluxos de misturamento.................................................................... 54 Figura 24-Configuração típica de um misturador ...................................................................................... 58 Figura 25-Perfil esquemático da forma da superfície metálica desenvolvida na operação do KR........... 60 ix Figura 26-Desenho de um agitador tipo A................................................................................................. 62 Figura 27-Desenho de um agitador tipo B................................................................................................. 63 Figura 28-Perfil da panela de gusa, 315 toneladas................................................................................... 63 Figura 29-Foto do modelo em escala 1/7.................................................................................................. 64 Figura 30-Visão global do reator em condições operacionais normais, agitador A. ................................. 67 Figura 31-Operação do sistema na presença de bolsão de ar, agitador A............................................... 67 Figura 32-Profundidade de imersão versus rotação máxima, panela cheia e agitador A. ....................... 68 Figura 33-Elevação junto à borda da panela em função da rotação e profundidade de imersão, agitador A. .................................................................................................................................................. 69 Figura 34-Profundidade de imersão versus rotação máxima, panela cheia e agitador B. ....................... 69 Figura 35-Elevação junto à borda da panela em função da rotação e profundidade de imersão, agitador B. .................................................................................................................................................. 70 Figura 36-Elevação do nível de liquido junto à parede da panela em função da rotação dos agitadores; menor a elevação maior a borda livre. .................................................................................... 70 Figura 37-Elevação do nível de líquido junto à parede da panela em função da rotação dos agitadores; menor a elevação maior a borda livre. .................................................................................... 71 Figura 38-Condição crítica de formação de bolsão de ar em função da velocidade de rotação dos agitadores A e B ......................................................................................................................................... 71 Figura 39-Diagrama esquemático da montagem experimental, ressaltando posição dos condutivímetros. ......................................................................................................................................... 73 Figura 40-Curvas de dispersão para condutivímetros C1, C2 e C3.......................................................... 74 Figura 41-Tempos de misturamento em função da rotação no modelo. Imersão 10 cm e panela cheia, agitador A......................................................................................................................................... 75 Figura 42-Tempos de misturamento em função da rotação no modelo. Imersão 15 cm, panela cheia, agitador A......................................................................................................................................... 76 Figura 43-Comparativo de tempos de misturamento em função da rotação para as duas profundidades de imersão do agitador A, panela cheia. Sinal de acordo com condutivímetro C1, fundo da panela.......................................................................................................................................... 77 Figura 44-Comparativo de tempos de misturamento em função da rotação para as duas profundidades de imersão do agitador, panela cheia. Sinal de acordo com condutivímetro C2, meia altura........................................................................................................................................................... 77 Figura 45-Comparativo de tempos de misturamento em função da rotação para as duas profundidades de imersão do agitador A, panela cheia. Sinal de acordo com condutivímetro C3, topo............................................................................................................................................................. 78 Figura 46-Curva esquemática de dispersão, num misturador. ................................................................. 78 x Figura 47-Curva de mistura, por condutivímetro, imersão de 10 cm, agitador A...................................... 79 Figura 48-Curva de mistura, por condutivímetro, imersão de 15 cm, agitador A...................................... 79 Figura 49-Tempos de misturamento em função da rotação no modelo. Imersão 10 cm, panela cheia, agitador B......................................................................................................................................... 80 Figura 50-Tempos de misturamento em função da rotação no modelo. Imersão 15 cm, panela cheia, agitador B......................................................................................................................................... 81 Figura 51-Comparativo de tempos de misturamento em função da rotação para as duas profundidades de imersão do agitador B, panela cheia. Sinal de acordo com condutivímetro C1, fundo da panela.......................................................................................................................................... 82 Figura 52-Comparativo de tempos de misturamento em função da rotação para as duas profundidades de imersão do agitador B, panela cheia. Sinal de acordo com condutivímetro C2, meia altura.................................................................................................................................................. 82 Figura 53-Comparativo de tempos de misturamento em função da rotação para as duas profundidades de imersão do agitador B, panela cheia. Sinal de acordo com condutivímetro C3, topo da panela............................................................................................................................................ 83 Figura 54-Curva de mistura, por condutivímetro, imersão de 15 cm, agitador B...................................... 83 Figura 55-Curva de mistura, por condutivímetro, imersão de 10 cm, agitador B..................................... 84 Figura 56-Sistema real querosene saturado em I2 e água + KI, agitador A. ............................................. 85 Figura 57-Ponto de amostragem para titulação no modelo da planta KR. ............................................... 86 Figura 58-Esquema mostrando a troca de massa na interface querosene-água. .................................... 86 Figura 59-Estado da interface do querosene em função de rotação. Agitador A. .................................... 87 Figura 60-Estado da interface querosene em função da rotação. Agitador A. ......................................... 88 Figura 61-Estado da interface querosene em função da rotação.Agitador A. .......................................... 89 Figura 62-Emulsificação do querosene para rotação de 90 rpm e 15 cm de profundidade de imersão, agitador A. ................................................................................................................................... 90 Figura 63-Curva experimental e resultados de regressão, para 10 cm de imersão e 90 rpm; a=46,55 * e b=3748, agitador A. *valor de estabilização em rotação alta. ................................................ 91 Figura 64-Curva experimental e resultados de regressão para 10 cm de imersão e 100 rpm; a= 46,55* e b = 847, agitador A. * valor de estabilização em rotação alta. .................................................... 92 Figura 65-Curva experimental e resultados de regressão, para 10 cm de imersão e 120 rpm; a=45,34 e b= 177, agitador A. .................................................................................................................... 92 Figura 66-Curva experimental e resultados de regressão, para 10 cm de imersão e 130 rpm; a= 44,57 e b= 78, agitador A. .......................................................................................................................... 93 Figura 67-Curva experimental e resultados de regressão para 15 cm de imersão e 90 rpm; a= 46,55* e b= 7322, agitador A. * valor de estabilização em rotação alta. ................................................... 93 xi Figura 68-Curva experimental e resultados de regressão para 15 cm de imersão e 100 rpm; a= 46,55* e b= 1063, agitador A. * valor de estabilização em alta rotação. ................................................... 94 Figura 69-Curva experimental e resultados de regressão, para 15 cm de imersão e 120 rpm; a=46,55* e b= 396, agitador A. * valor de estabilização em alta rotação. ................................................. 94 Figura 70-Curva experimental e resultados de regressão, para 15 cm de imersão e 130 rpm; a= 49,18 e b= 366, agitador A. ........................................................................................................................ 95 Figura 71-Curva experimental e resultados de regressão, para 15 cm de imersão e 150 rpm; a= 47,11 e b= 63,7 agitador A. ........................................................................................................................ 95 Figura 72-Parâmetro CeAK/V em função de rotação e imersão do agitador A. ....................................... 96 Figura 73-Curva experimental e resultados de regressão, para 10 cm de imersão e 90 rpm; a=41,15 * e b=1742, agitador B. * valor de estabilização em rotação alta. ............................................... 97 Figura 74-Curva experimental e resultados de regressão para 10 cm de imersão e 100 rpm; a= 41,15* e b = 651, agitador B. * valor de estabilização em rotação alta. .................................................... 97 Figura 75-Curva experimental e resultados de regressão, para 10 cm de imersão e 120 rpm; a=41,30 e b= 138, agitador B. .................................................................................................................... 98 Figura 76-Curva experimental e resultados de regressão, para 10 cm de imersão e 130 rpm; a= 40,63 e b= 10, 69, agitador B. .................................................................................................................... 98 Figura 77-Curva experimental e resultados de regressão para 15 cm de imersão e 90 rpm; a= 41,15* e b= 2382, agitador B. * valor de estabilização em rotação alta. ................................................... 99 Figura 78-Curva experimental e resultados de regressão para 15 cm de imersão e 100 rpm; a= 41,15* e b= 1392, agitador B. * valor de estabilização em alta rotação. ................................................... 99 Figura 79-Curva experimental e resultados de regressão, para 15 cm de imersão e 120 rpm; a=43,91 e b= 239, agitador B. .................................................................................................................. 100 Figura 80-Curva experimental e resultados de regressão, para 15 cm de imersão e 130 rpm; a= 40,28 e b= 128,16, agitador B. ................................................................................................................. 100 Figura 81-Curva experimental e resultados de regressão, para 15 cm de imersão e 130 rpm; a= 39,61 e b= 48,20, agitador B. ................................................................................................................... 101 Figura 82-Parâmetro CeAK/V em função de rotação e imersão do agitador B. ..................................... 101 Figura R1-Exemplo de perfis de velocidade do KR via modelagem matemática ................................... 110 Figura A1-Curva de potência para misturador com Agitador B. ............................................................. 114 Figura A2-Viscosidade de ligas ferro-carbono. ....................................................................................... 115 Figura A3-Viscosidade de ligas ferro-carbono ........................................................................................ 115 Figura A4-Massa específica de ligas ferrosas. ....................................................................................... 116 xii RESUMO Os requisitos de qualidade da ligas de aço têm aumentado ano a ano para garantir eficiência e eficácia nos materiais durante sua solicitação em uso. Com essa crescente demanda, é evidente que elementos como enxofre e fósforo passam a requerer atenção especial, por provocarem fragilidade mecânica, e consequentemente, inutilizarem aços para determinadas aplicações mais nobres. O enxofre nas ligas de aço é sempre indesejável, salvo raras exceções. Hoje é comum que os requisitos de aplicação exijam teores abaixo de 50 ppm. Isso tem motivado desenvolvimentos para eliminar ou pelo menos minimizar ao máximo seu carregamento nos convertedores LD e com isso tem forçado que sua eliminação seja feita antes dessa etapa. Como a atividade do enxofre no gusa líquido é cinco vezes maior que aço líquido, é natural que a etapa de dessulfuração seja realizada, na maioria dos casos, antes da fase de refino por trazer vantagens no processo e no custo. A dessulfuração do gusa líquido pode ser realizada, após o vazamento dos Altos-Fornos, no próprio vasilhame de transporte (carro-torpedo) ou em panela de transferência, antes do carregamento nos convertedores. Devido a melhores quesitos de garantia, a prática de dessulfuração em panela tem sido muito difundida, onde o reator “Kambara”, chamado apenas KR, tem se destacado pela eficiência e baixo custo de operação. Hoje a planta KR é muito difundida no Japão e pouco conhecida no Ocidente. Conhecer suas particularidades e aprofundar-se em seu desenvolvimento passa a ser importante para as empresas que querem decidir por uma alternativa de dessulfuração de gusa, com eficiência e custo operacional atraentes. A proposta deste trabalho é explorar o comportamento metalúrgico do KR, usando a ferramenta da modelagem física. Na modelagem de um processo é preciso que haja a representatividade dos fenômenos que ocorrem na realidade. O desenho do agitador, a velocidade de rotação, a forma da panela, a característica do fluido devem obedecer a critérios de semelhança. Foi desenvolvido, na Universidade Federal de Ouro Preto, um simulador a frio da planta KR, usando acrílico para o vaso de contenção, água em lugar de gusa e querosene simulando escória. Esse modelo, em escala 1/7, permite estudar características de misturamento típicas do aparelho bem como aspectos xiii fluidodinâmicos. Foram empregados 2 modelos de agitadores (chamados tipo A com pás retas e tipo B com pás arredondadas) com diferentes profundidades de penetração e diferentes velocidades de rotação, associando cada situação a resultados específicos de eficiência de misturamento e de transferência de massa. Os resultados mostraram que a forma do agitador, bem como rotação e profundidade têm importância direta sobre a eficiência do reator. A macromistura no KR parece ser mais efetiva que o processo químico que é controlado por algumas restrições de transferência de massa na camada limite da partícula do material dessulfurante. Essa macromistura pode ser melhorada, porém é limitada pela borda livre da panela. O agitador do tipo B permite melhores valores de borda livre com a mesma penetração. Os resultados entre os dois agitadores só começam a ser pronunciados com alta rotação e baixa profundidade de imersão. xiv ABSTRACT The quality requirements of many steel grades are becoming increasingly important due to demand of alloys for sophisticated applications. The sulfur and phosphorus contents of steel grades have become stringent. Sulfur is undesirable except for machinability applications. The tolerance limit for sulfur content is around 50 ppm maximum in the case of many applications. To achieve this is important to control sulfur in the hot metal charged to LD vessel. Since the sulfur activity coefficient is 5 times greater in the hot metal than in steel hot metal desulfurization should be favorable. The blast furnace hot metal can be desulfurized either in torpedo car or in the hot metal ladle. Agitation of hot metal by mechanical means should be better due to renewal of surface as in the case of Kambara Reactor(KR) than in the case of agitation inside torpedo car by pneumatic means. The Kambara Reactor is definetely more efficient and has lower production cost. The Kambara Reactor is preferred in Japanese steel plants than elsewhere. In respect to metallurgical performance this process is preferred by companies that are deciding about alternatives available for Hot Metal Desulphurization from the point of view of efficiency and operational costs. The objective of this work is to investigate the Hot Metal Desulphurization in Kambara Reactor (KR), using physical modeling as a tool in order to simulate industrial process. A physical model has been constructed in the laboratory and operated. The impeller design, the rotation speed, the hot metal ladle shape, the fluid characteristics, etc are taken into account in the similarity criteria for design the model. A model, scale 1/7, based on similarity criteria was built at the Department of Metallurgical Enginering of Universidade Federal de Ouro Preto using acrylic material for the ladle vessel, water simulating the hot metal, and kerozene for slag. Mixing and mass transfer studies were carried out to get a deeper understanding of KR metallurgical performance. A comparison between two impeller designs (A and B) as far as mixing and mass transfer are concerned is presented. Macromixing in a KR seems to be faster than the chemical process which is controlled by mass transfer at the several restrictive layers around the particle desulfurizer. Macromixing can be improved but is limited by the available freeboard. Impeller B allows higher freeboards for the same immersion. Dispersion is more effective at shallower depth of immersion and higher impeller speed. xv 1. Introdução 1. Dissertação de Mestrado INTRODUÇÃO O enxofre no aço, em raras exceções, é considerado sempre um elemento indesejável, causando perda de propriedades mecânicas no produto. O desenvolvimento das técnicas de dessulfuração do aço passa a então traçar os rumos na produção de determinados tipos de aços com aplicação específica e disso advém o sucesso de sua produção comercial por razões, principalmente técnicas e de custo. Partindo disso, a produção de aços com baixos teores de enxofre (menor que 50 ppm) começa com a produção de uma boa matéria-prima, principalmente de gusa líquido, que tem que chegar às aciarias com baixo teor desse elemento. A prática normal das grandes siderúrgicas, desde a década de 70, é de abaixar os custos de produção do gusa nos altos-fornos, transferindo parte da etapa de dessulfuração para fora desse reator. O uso de carvões menos nobres e a prática de injeção de finos de carvão não coqueificáveis também têm mantido a tendência de aumento nos teores de enxofre do gusa na bica dos Altos-Fornos. Se as práticas operacionais dos Altos-Fornos têm privilegiado a produção e diminuído a qualidade do gusa com o aumento do enxofre, por outro lado, a demanda de aços com baixos teores desse elemento tem-se expandido. As práticas de dessulfuração externa, após vazamento no Alto-Forno, ganham então destaques importantes e se mostram como grandes balizadores dessa matemática, onde o enxofre da matéria-prima, em algumas situações sobe, mas os requisitos para enxofres finais baixos também aumentam. É também notório que o melhor ambiente para promover a dessulfuração é no próprio gusa líquido onde o coeficiente de atividade desse elemento é 5 vezes maior que no aço líquido, fato que sugere um maior potencial termodinâmico para o processo. Mesmo assim, novas técnicas de dessulfuração foram e continuam sendo desenvolvidas, com o objetivo de tornar cada vez mais eficiente, mais barata e com a garantia dos requisitos de percentuais de enxofre no carregamento na aciaria, sendo isso fundamental para a prática da produção de aços com melhores requisitos de qualidade. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 16 2. Objetivos 2. OBJETIVOS 2.1 OBJETIVOS GERAIS Dissertação de Mestrado O objetivo geral desse trabalho é contribuir para um melhor entendimento do funcionamento da planta KR e sua versatilidade, no que se refere ao seu uso na linha de produção de uma aciaria integrada, gerando melhor compreensão acerca do comportamento fluidodinâmico, com a aplicação de técnicas de simulação física. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Conhecer o funcionamento da planta KR e descrever, através do modelo, como a mistura dessulfurante se comporta no seio do gusa durante o tratamento de dessulfuração. Identificar algumas particularidades do esquema de misturamento que se forma dentro de um reator KR, através de observações em laboratório de um modelo a frio. Conhecer alguns fatores que influenciam na distribuição e movimentação do gusa na panela de transferência, determinando qual a influência da rotação do agitador e profundidade de penetração na eficiência do reator industrial. Estimar a influência dos parâmetros geométricos e operacionais já citados sobre o processo de transferência de massa, metal/agente dessulfurante com o uso de dois diferentes agitadores, usados em duas diferentes aciarias no Japão. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 17 3. Justificativas 3. Dissertação de Mestrado JUSTIFICATIVAS O funcionamento de uma planta industrial para dessulfuração de gusa líquido do tipo KR é, em princípio, simples. Como uma grande planta de mistura, sua ação reside no fato de proporcionar o contato do material dessulfurante com a massa de gusa líquida, através de intensa turbulência conseguida por braços rotativos mergulhados no gusa. No Japão esse equipamento é muito difundido e seu sucesso segue do desenvolvimento de refratários capazes de suportar a agressividade da operação. Na Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST-Arcelor) a entrada em operação da unidade KR foi viabilizada pelo baixo custo operacional, se comparado ao sistema de dessulfuração existente em carro torpedo. Aliado a isso, foi observada a necessidade de atendimento de aços com maiores requisitos de qualidade, com teores de enxofre menores que 50 ppm (X70 e X80) aplicados na indústria petroquímica, a qual necessita aços com alta soldabilidade e baixos níveis de segregação. Nessa situação o KR consegue garantir teores mais baixos e com baixas variações dos teores de enxofre do gusa para carregamento nos convertedores. Desde a concepção de sua implantação a opção KR vem sido tratada com critério, pois o mesmo será instalado na linha de produção da aciaria e por isso, será co-responsável pelo bom ritmo operacional da planta. Daí então a necessidade de se conhecer o comportamento dessa planta quando se varia algum parâmetro de processo. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 18 4. Revisão Bibliográfica 4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4.1 EFEITO DO ENXOFRE NO AÇO Dissertação de Mestrado O enxofre é um elemento químico do grupo dos Calcogênios e está presente em praticamente toda a terra, na forma de minerais de sulfetos, sulfitos e sulfatos, ou mesmo em sua forma pura (especialmente em regiões vulcânicas), sendo essas suas características: Número atômico: 16 Densidade a 20º C: 2,05 g/cm3 Ponto de fusão: 119º C Ponto de ebulição: 444,6º C A presença do enxofre em ligas de aço é uma constante, sendo isso indesejável em praticamente todos os casos. Em raras exceções sua presença é requerida. Esses teores de enxofre têm sua causa do uso de minérios contaminados de Sulfeto de Ferro I e II (FeS, FeS2) e Sulfeto de Manganês (MnS) e de carvões, que são portadores de enxofre, na redução do minério nos altos-fornos. Em alguns casos a prática operacional dos altos-fornos pode contribuir muito para o aumento nos teores de enxofre no gusa em detrimento ao aumento na produção. Isso devido à diminuição da adição de elementos álcalis dessulfurantes na carga, pelo abaixamento da temperatura do gusa na bica dos altos-fornos e pela injeção de ar enriquecido com oxigênio nas ventaneiras, o que torna a atmosfera interna dos altos-fornos mais oxidante e menos favorável a formação de sulfetos. Os requisitos de qualidade para diversas aplicações dos aços têm implicado em teores de enxofre abaixo de 50 ppm e por questões de mercado, praticamente todas as empresas têm se esforçado para esse atendimento. Produtos de aço com baixos teores de enxofre têm se refletido em melhores valores de mercado devido aos ganhos de qualidades nos requisitos de resistência mecânica na aplicação. Na Figura 01, NKK (1999), temos uma avaliação da qualidade superficial de uma placa de aço em função do percentual de enxofre, reforçando a influência desse elemento na qualidade do produto. Na Figura 02, SILVA (1976), mostra o resultado de resistência mecânica medido perpendicularmente à direção de laminação, onde se destaca ser imperativo a redução de seus teores. Na Figura 03, ORTON (1974), é REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 19 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado destacado também a queda da resistência mecânica quando o teor de enxofre no aço é aumentado. 40 kg/mm2 chapa grossa (Unidade/m2) Trincas longitudinais 2.5 2 1.5 1 0.5 50 100 150 200 Percentual de enxofre no aço [ppm]. Figura 01-Efeito do teor do enxofre na quantidade de trincas longitudinais em placa Matriz de aço normalizado acalmado ao Al 80 60 120 100 80 60 40 Joules Resiliência transversal – Charpy (ft/lbf) 100 40 20 20 0,010 0,020 0,030 0,040 0,050 Percentual de enxofre no aço. Figura 02-Efeito do teor do enxofre na resiliência transversal O enxofre nos produtos finais de aço, na quase totalidade dos casos, se apresenta na forma de FeS ou MnS, por serem esses sulfetos com menores energia livre de formação (∆Gº), DARKEN (1987). Esses sulfetos se apresentam na forma de REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 20 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado inclusões com baixo ponto de fusão que se fundem quando o material é trabalhado a altas temperaturas e consequentemente geram uma descontinuidade na matriz metálica e daí a fragilidade do material. 70 60 60 40 Temperatura - º F Charpy-V (20 ft-lb) Resistência a impacto Charpy-V (ft-lb) Grau X-70-Espessura de laminação: 0.394” 50 40 30 20 10 20 0 -20 -40 -60 -80 6 10 14 18 22 26 6 10 14 18 22 26 Percentual de enxofre no aço x 10-3 Figura 03-Influência do percentual do enxofre na resistência mecânica na direção transversal à laminação Quando materiais com inclusões sulfídicas são deformados em condições de altas temperaturas, essas inclusões seguirão a orientação da deformação. Sua forma e orientação darão ao material a característica que refletirá em sua ductilidade e resistência ao impacto. Para aplicação mais nobre, onde a isotropia é importante, essa inclusão sulfídica é também muito prejudicial. SILVA (2002) também destaca algumas considerações que ilustram a importância de se controlar o conteúdo de enxofre nos aços. Por exemplo, aços com teores de enxofre inferiores a 0,01% têm sido exigidos pelos mercados nacional e internacional com vistas na obtenção de produtos (lingotes, chapas, tarugos) dotados de altos valores de tenacidade, conformabilidade, resistência mecânica, soldabilidade, além de elevada resistência à corrosão e máxima resistência à fragilização pelo hidrogênio, devido à formação de ácidos com o enxofre. Além da ocorrência de macrosegregação de enxofre, ocorre a microsegregação de enxofre nos espaços interdendríticos, a qual é mais crítica em casos de aços acalmados com grãos finos. Durante a etapa de deformação, sob condições de altas temperaturas, os sulfetos são REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 21 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado alongados, causando forte grau de anisotropia das propriedades físicas do produto final. A ductilidade é abaixada, especialmente nas direções transversais. Este efeito é muito pronunciado em aços de alta resistência. SHIELDALLOY (2001) destaca que na falta do manganês no aço, o enxofre certamente formará o FeS, causando a fragilidade a quente já citada, além de problemas na conformação do material, seja forjamento ou laminação. Mesmo em aços com teores menores de enxofre, a relação Mn/S deve ser de, no mínimo, igual a 8, o que garante que o enxofre formará a inclusão de MnS, sulfeto menos prejudicial que o FeS. Devido a todos os malefícios da presença do enxofre que foram acima apresentados é que surge a necessidade de desenvolvimento de técnicas para a dessulfuração de gusa para a produção de aços EBS e UBS (Extra e Ultra Baixo Enxofre). REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 22 4. Revisão Bibliográfica 4.2 Dissertação de Mestrado MÉTODOS DE DESSULFURAÇÃO DE GUSA LÍQUIDO A eficiência nos tratamentos para remoção de enxofre do gusa depende de condições estritamente metalúrgicas, entretanto as mesmas variam com o sistema aplicado, sendo quase sempre requisitantes de ambientes redutores (baixos teores de FeO), básicos e com altas temperaturas. Na Figura 04, NKK (1999), são apresentados dados práticos da partição do enxofre entre a escória (S) e o aço [S], influenciados pelo nível de oxidação e temperatura específicos de cada processo de dessulfuração em uma aciaria com convertedor a oxigênio. 10000 5000 Dessulfuração de gusa 1300º a 1400º C 1000 500 (S) / [S] Dessulfuração de aço 1600º C 100 50 10 Dessulfuração em 5 Convertedor 1650º C 1 0 0.5 1 5 10 50 100 Atividade de oxigênio (ppm) 50 1000 Figura 04-Partição do enxofre em função do oxigênio A evidente superioridade do processo de dessulfuração do gusa sobre o processo de dessulfuração do aço, respectivamente, antes e após o refino no convertedor, vem confirmar as afirmações feitas anteriormente. A dessulfuração do gusa líquido antes do seu carregamento no convertedor é mais vantajosa do que a dessulfuração no convertedor ou do aço na panela antes do lingotamento, não somente em função da eficiência como também do custo operacional. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 23 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Na Figura 05, WILSON (1980), é mostrada a influência de alguns elementos no coeficiente de atividade henriana do enxofre [ f S ]. Tanto o Carbono como o Silício aumentam o coeficiente de atividade do enxofre. Por exemplo, no gusa líquido com 4,2% de carbono e 1,5% de Silício, esse coeficiente é aproximadamente 5. Isso significa que tem-se 5 vezes mais atividade que o atual valor de enxofre, ou seja, o enxofre é 5 vezes mais ativo que sua concentração indica. O que comprova ainda mais que o ambiente ideal para dessulfuração é relmente no gusa líquido. 1.0 Carbono 0.8 Silício Log fs 0.6 Fósforo 0.4 0.2 Alumínio 0.0 Cobre Manganês -0.2 1 2 3 4 5 6 7 Percentagem do elemento Figura 05-Influência de elementos de liga no coeficiente de atividade henriana do enxofre em ligas de ferro e aço. 4.2.1 DESSULFURAÇÃO EM CARRO-TORPEDO (CT) A prática de dessulfuração em CT é muito praticada em todo mundo. Praticamente todas as grandes siderúrgicas do Brasil usam essa prática de maneira parcial ou total. Porém são pronunciadas as dificuldades do processo pela própria forma do carro-torpedo que é idealizada para preservar a temperatura do gusa e não para ser um reator para dessulfuração. Existe nesse reator uma dificuldade de homogeinização e uma perda na eficiência do processo pelas menores taxas de agitação do banho o que provoca uma baixa participação da escória de topo nas reações de dessulfuração e um reator transitório (partículas em ascensão) com rápida REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 24 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado participação. Na Figura 06 temos a apresentação clássica desse tipo de processo. Agente de-S Escória de topo Zona de baixa mobilidade Figura 06-Esquema da dessulfuração em Carro Torpedo (CT). O CT, com gusa líquido proveniente do Alto Forno, é deslocado para a unidade de dessulfuração, onde o processo operacional de injeção de mistura dessulfurante, em fase densa, através de lança (inclinada ou não) é realizado, onde o material e a vazão de injeção são determinantes para a eficiência do processo. Uma característica importante da dessulfuração em CT situa-se no fato de que o volume desse vasilhame deve ser preservado. Isso leva a utilização de agentes que minimizem a formação de “coating” (cobertura) na parede refratária (provoca a perda da capacidade de transporte do CT), e que sejam, ao mesmo tempo, eficientes na formação de sulfetos sólidos estáveis e com custos de operação atrativos. 4.2.2 DESSULFURAÇÃO EM PANELA DE GUSA Esse trabalho se limita a abordar, em visão macro, os princípios e práticas operacionais de dessulfuração de gusa em panela de transferência. Segundo TAKANO (1997) alguns tipos de plantas para dessulfuração em panela de transferência de gusa seriam: Dessulfuração no qual o gusa é misturado ao agente dessulfurante durante o basculamento do CT para dentro da panela. Esse processo, chamado “carbocal”, consiste na adição de carbonato de sódio (Na2CO3) e calcário no fundo da panela REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 25 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado antes do basculamento do carro torpedo para pesagem do gusa. A reação do calcário e do carbonato, com grande geração de gás, e a própria queda do gusa líquido na panela provoca grande movimentação do metal líquido. É um processo muito simples e de fácil execução, com razoável eficiência e de baixíssimo custo, porém tem tido o seu uso limitado devido à elevada poluição atmosférica que provoca. Figura 7A. Agente de-S CT Escória de topo A) Lança B) Agente de-S Panela Escória de topo De Gusa C) Agitador D) Agente de-S Figura 07-Exemplos de dessulfuração em panela de transferência • Dessulfuração no qual o material dessulfurante é misturado pela injeção pneumática do agente dessulfurante no seio do metal líquido, provocando assim a agitação necessária para o misturamento do material e garantindo assim um tempo mínimo de contato. A Figura 7B ilustra, esquematicamente, uma instalação para dessulfuração de gusa através da injeção de mistura. A injeção é realizada através de lança vertical, a uma profundidade de imersão de ~2,5 metros de profundidade, com taxa de injeção variando de 30 a 60 kg/min. O gás REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 26 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado de arraste utilizado é o nitrogênio e o tempo de tratamento varia de 10 a 20 minutos, dependendo dos teores de enxofre inicial e visado. • Dessulfuração em panela de transferência, processo no qual o material dessulfurante é misturado ao gusa, ou por agitação via injeção de gás pelo fundo ou lateral da panela ou por campos eletromagnéticos. Figura 7C, injeção pelo fundo. • Dessulfuração em panela de transferência, processo no qual o material dessulfurante é misturado ao seio do gusa líquido através da energia de agitação promovida por uma pá rotativa que é imersa no metal enquanto se faz a adição do material dessulfurante. A Figura 7D apresenta um exemplo, sendo que esse processo será melhor explorado nesse trabalho. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 27 4. Revisão Bibliográfica 4.3 Dissertação de Mestrado REAÇÕES DE DESSULFURAÇÃO (DE-S) TAKANO (1997) ressalta a importância de se entender o sistema composto pelo enxofre no gusa e então dos estudos para compreender qual(is) alternativa(s) em termos dos elementos que formam sulfetos ou oxissulfetos sólidos estáveis no seio do metal líquido e apresentam baixo produto de solubilidade do enxofre e do elemento formador do sulfeto. Conhecendo-se esses elementos e suas propriedades pode-se trabalhar de maneira a transformar o enxofre do gusa em sulfetos estáveis, os quais seriam depois retirados através de uma escória básica, redutora e fluida capaz de absorver os produtos da reação de dessulfuração, mantendo-os em baixa atividade para evitar a reversão. Dentre as condições necessárias, de acordo com TAKANO (1997), existem fatores termodinâmicos que favorecem a reação de dessulfuração e sua retirada do produto da reação pela escória, sendo a reação de de-S expressa como: S (metal) + O-2 (escória) ÍÎ O (metal) + S-2 (escória) Onde a condição de equilíbrio é representada pela equação 01: ho ( N S = ) fo.(%O)( N S = ) ⋅ = K= hs ( N O= ) fs.(% S )( N O= ) (01) Onde: K = constante de equilíbrio hj = atividade henryana do elemento j no metal líquido fj = coeficiente da atividade henryana do componente j no metal líquido N j = = fração iônica do íon j- na escória líquida Com isso seria possível identificar as principais condições termodinâmicas que favorecem a reação de dessulfuração: • alta atividade de íons O-2, na escória, isto é, alta basicidade; • baixo teor de oxigênio no metal líquido, isto é, banho desoxidado e baixo teor de FeO na escória de topo; • constante de equilíbrio (K) alta, isto é, altas temperaturas; • coeficiente de atividade do enxofre ( fs ) alto no metal (teores elevados de Si, C e S no metal); • coeficiente de atividade do oxigênio ( fo ) baixo no metal, isto é, presença de REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 28 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado componentes que apresentam parâmetros de interação negativos com o oxigênio dissolvido no metal (C, Si, Al, etc) Os principais aspectos termodinâmicos e cinéticos da dessulfuração de ferro, segundo SILVA (2002) e TAKANO (1997) podem ser assim resumidos: • escórias básicas e saturadas com CaO; • escórias com baixo potencial de oxigênio; • escórias fluidas (adições de fluorita que fluidifica a escória sem alterar muito seu potencial dessulfurante); • composição de escória que conduz a altas capacidades de sulfeto ou de enxofre, e por conseqüência, alto coeficiente de partição de equilíbrio entre escória e metal; • composição do gusa que conduz ao alto coeficiente de atividade de enxofre e baixa atividade de oxigênio (desoxidação com Si ou Al); • mecanismos que auxiliam o transporte de enxofre do metal até a interface metal-escória A reação de dessulfuração do gusa é regularmente feita por elementos químicos com alta afinidade pelo enxofre e segundo FINARDI (1997), é efetuada por duas reações: 1) Reação de escorificação: (FeO) + S ÍÎ (FeS) + O O + C ÍÎ CO(g) O + ½ Si ÍÎ ½ (SiO2) 2) Reação de precipitação Fe + S ÍÎ (FeS) FINARDI (1997) afirma que a cinética de reação de dessulfuração depende do mecanismo de transporte de massa, sendo a forma física do reagente preponderante nessa cinética. Os equipamentos para dessulfuração devem ser desenvolvidos para aumentar a eficiência do processo e o rendimento dos reagentes. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 29 4. Revisão Bibliográfica 4.4 Dissertação de Mestrado MATERIAIS PARA DESSULFURAÇÃO É comum que as misturas dessulfurantes tanto para uso em CT como para uso em panela sejam compostas por um agente dessulfurante, um agente desoxidante e um fundente. Cada prática e usina determinam qual mistura melhor se aplica a situação da planta. De uma forma clássica uma reação de dessulfuração pode ser assim expressa: MA + S ÍÎ MS + A M + S ÍÎ MS M é um metal. Onde devem ser obedecidos os requisitos: “M” e “S” têm que ter afinidade química; “MS” deve ser estável; “Se MA for mais estável que MS então “A” deve ser consumido; “M” e “S” devem estar em contato; Alguns materiais são bem conhecidos como agentes dessulfurantes: • Barrilha (Na2CO3) Na2CO3 (s) + S + 2C ÍÎ Na2S (s) + 3 CO (g) Na2CO3 (s) + S + Si ÍÎ Na2S (s) + CO (g) + ½ SiO2 Esse material já foi muito utilizado no processo “carbocal”, juntamente com calcário (CaCO3), porém passou a não ser adequado pelo grande volume de gás e poluição gerados no processo e pelo desgaste refratário da panela de gusa. • Cal (CaO) CaO (s) + S + C ÍÎ CaS (s) + CO (g) CaO (s) + S + ½ Si ÍÎ CaS (s) + ½ SiO2 (s) Material abundante e com o custo muito vantajoso. É usado puro ou junto com outros materiais como Carbureto de Cálcio (CaC2), Calcário (CaCO3), Magnésio (Mg). Será objeto de destaque neste trabalho. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 30 4. Revisão Bibliográfica • Dissertação de Mestrado Carbureto de Cálcio (CaC2) CaC2 (s) + S ÍÎ CaS (s) + 2C Material extremamente eficiente, porém com alto custo. Seu manuseio é perigoso, por formar o gás “ acetileno - C2H2” em contato com a água. CaC2 (s) + H2O(l) ÍÎ C2H2(g) + Ca(OH)2(s) • Magnésio (Mg) Mg + S ÍÎ MgS (s) Material muito eficiente, porém com custo elevado. Seu uso se restringe percentuais baixos na mistura de-S juntamente com Cal (CaO), Coque, Carbureto de Cálcio ( CaC2). VIANA (1999), analisando o mecanismo de reação do gusa líquido, indica que o Mg atua apenas como desoxidante do processo quando usado juntamente com Cal (CaO) • Calcário (CaCO3) CaCO3 (s) + AquecimentoÎ CaO (s) + CO (g) Após essa reação a Cal então passa a atuar com elemento dessulfurante. CaO (s) + S + ½ Si ÍÎ CaS (s) + ½ SiO2 (s) CaO (s) + S + C ÍÎ CaS (s) + CO (g) Material abundante e com o custo muito vantajoso, porém restrito por provocar reações fortes e perda de temperatura do gusa. É comumente usado também para aumentar a cinética e baratear o processo. É comum o uso de materiais adicionais na dessulfuração do gusa, onde apenas destacamos para informação, materiais desoxidantes: Borra de alumínio, Alumínio granulado, coque; e fundentes: Fluorita (CaF2), Sodalita (Na4(SiAlO4)3Cl) e Nefelina (NaAlSiO4), estes dois últimos com raras aplicações industriais para dessulfuração de gusa. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 31 4. Revisão Bibliográfica 4.5 Dissertação de Mestrado O USO DA CAL PARA DESSULFURAÇÃO O Cálcio não ocorre na forma livre. É o quinto elemento mais abundante da crosta terrestre com 3,39% em peso e aparece principalmente na forma de CaCO3 (mármore calcita), CaCO3.MgCO3 (dolomita), CaPO4.2H2O (gipsita), Ca3(PO4)2 (fosforita), Ca3(PO4)3F (apatita) e CaF2 (fluorita). É, depois do Césio (Ce), o mais efetivo elemento formador de produtos com o enxofre. Na Figura 08, WILSON (1980), vê-se a relação de elementos na formação de sulfetos e a energia livre de formação. -60.000 -80.000 CaS MnS Na2S ∆Gº - Cal/ mol de S2 -100.000 MgS -120.000 SrS -140.000 LaS -160.000 CeS -180.000 -200.000 -220.000 -240.000 500 1500 1000 2000 Temperatura em ºC 2500 Figura 08-Energia livre de formação de sulfetos É prudente dizer que nessa comparação consideram-se elementos puros e por isso numa condição diversa da real, porém não se invalida a conclusão de que o Cálcio é um elemento que possui características especiais na ligação com o enxofre abaixo de 1500º C. Consulta ao Diagrama de Hellinghan, Figura 09 permite observar que o Cálcio é também o mais ávido formador de óxidos de todos os elementos. Isso leva a uma conclusão óbvia de que deve haver uma competição entre a formação de sulfeto ou óxido pelo Cálcio. Quando então se compara, na Figura 10, WILSON (1980) a energia de ligação do Cálcio vê que há uma habilidade deste em formar óxido, sulfeto e carbureto de REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 32 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado cálcio, respectivamente. Isso leva a concluir pela eficiência do cálcio na formação de sulfeto, isto é, é um bom elemento para desulfuração de gusa, porém o requisito de baixo potencial de oxigênio é fundamental, principalmente se o material usado para a dessulfuração for a Cal (CaO). 0 3 /2 P b + O 2 = ½ P b 3 O 4 4 F e 2O 3+ O 2 = 6 F e 3O 4 u O = 2C 2 O 4C u+ 2 PbO 2 O +O 2 = 2C 2 2Pb O = O+ 2 O 5 P 2C 2 /5 2 + O 2= P 5 / 4 H O O = 2 2 2H+ 2 O Cu = 2 +O 2 u C 2 -5 0 =SO 2 ½ S 2+ O 2 2Fe+O 2 = 2FeO C+O2 = CO2 r O3 /3 C 2 O =2 C r+ 2 3 / 4 nO 2C+O 2 = 2CO 2M Kcal/mol O2 -1 0 0 2Z -1 5 0 n+ O 2 = 2Z nO 4N a +O 2 =2 4 /3 O S i+ -2 0 0 T i+ O 2 2 = S iO iO = T Na O 2 = n+O 2 2M 3 V 2O 3 =2/ V+O 2 2 A l+ 4 /3 2 2M -2 5 0 O g+ 2 O M =2 2 =2 /3 Z r+ A l 2O 3 Z rO O2= =2B e +O 2 2B 2 eO gO a 2C +O =2 Ca O 2 -3 0 0 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 T e m p e ra tu ra K Figura 09-Diagrama de Hellinghan O baixo preço da cal e sua grande disponibilidade tem sido o grande atrativo na sua utilização como material dessulfurante. FINARDI (1997) destaca que a dessulfuração do gusa líquido pela cal inicialmente ocorre de acordo com a seguinte reação: CaO (s) + S ÍÎ CaS + O Como o teor de oxigênio dissolvido no ferro líquido é muito baixo, a reação inicial é rápida e o oxigênio liberado reage com o silício ou carbono de acordo com as reações: O + C ÍÎ CO (g) O + ½ Si ÍÎ ½ (SiO2) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 33 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado CaC2 -50.000 Cal/mol Ca ∆Gfº -100.000 CaS -150.000 CaO -200.000 -250.000 -300.000 -350.000 1.000 2.000 Temperatura ºC Figura 10-Energia livre de formação de cálcicos Quando o silício não participa da reação, a cal é recoberta por uma camada de sulfeto de cálcio, complicando o prosseguimento da reação. O enxofre do metal líquido inicialmente se difunde para a interface CaS-Metal. Posteriormente, os íons de enxofre difundem através da camada de sulfeto de cálcio até a interface CaO-CaS, onde ocorre a reação de dessulfuração, aumentando a espessura da camada de sulfeto. O oxigênio liberado na reação terá de se difundir através da camada de sulfeto para a interface CaS-Metal, onde finalmente irá reagir. Quando o silício participa da reação, é formada a sílica ou silicato de cálcio, com o oxigênio liberado. A cal ficará envolta por duas camadas, sendo a interna de silicato e a externa de sulfeto. A reação de dessulfuração irá incluir a difusão adicional de íons de silício. A reação de dessulfuração ocorre na interface CaS-Silicato. À medida que a reação prossegue, as camadas de sulfeto e de silicato se tornam mais espessas, dificultando ou até anulando o processo de dessulfuração. SILVA (2002) ilustra que quando 15% da partícula de CaO é convertida em CaS, o poder dessulfurante da Cal é praticamente aniquilado. Essas partículas de CaO envolvidas de silicatos e sulfetos, só podem dar prosseguimento ao processo de dessulfuração após a escorificação destes. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 34 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Como dito, FINARDI (1997) destaca que a dessulfuração do ferro com a cal é dificultada pela difusão através de camadas de produtos de reação, o que reduz sensivelmente a cinética do processo de dessulfuração. Com isso há a necessidade que a granulometria da cal seja muito pequena para aumentar área superficial e facilitar a interação do metal com a massa de cal adicionada. Na Figura 11, OHYA (1997), ilustra a influência do tamanho de partícula sobre a taxa de de-S, observando que existem impedimentos cinéticos à plenitude do processo, como já citado. SAXEMA (1997) destaca um modelo termodinâmico para formação de sulfetos tal como descrito na equação 02: ∆Go = 27500 – 27,15 T cal (CaO) + S + Csat ÍÎ (CaS) + CO(g) K= aCaS . PCO aCaO . aC . %S . γ ' s (02) Onde: aCaO e aCaS representam, respectivamente, a atividade do CaO e CaS na escória; aC é a atividade do Carbono; γ ' s é o coeficiente da atividade do enxofre no metal; PCO é a pressão parcial do CO. T axa de D e-S (% ) 100 90 80 70 60 50 40 0 1 2 3 4 Tamanho da particula de Cal (mm) Figura 11-Influência do tamanho da partícula de cal sobre a taxa de dessulfuração. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 35 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Considerando a temperatura do gusa de 1300º C (K=183, onde K = e − ∆G0 RT ), assumindo que o CaS e CaO são sólidos ( aCaO e aCaS = 1 ) e gusa com carbono saturado ( aC =1), tem-se: 183 = PCO %S. γ 's Para PCO = 1 bar e γ ' s = 5 para gusa saturado em carbono, a concentração no metal de enxofre de equilíbrio seria: %S = 1 ≈ 0,001 183 x 5 Esse cálculo termodinâmico mostra que a Cal como agente dessulfurante pode reduzir o teor de enxofre para valores extremamente baixos quando se mantém um bom contato entre a massa metálica e as partículas de cal. Segundo SAXEMA (1997) essa eficiência de dessulfuração enfrenta alguns problemas pelo fato da dessulfuração liberar íons de oxigênio e gerar o englobamento das partículas de cal pelo silicato e/ou sulfeto de enxofre e assim, como já citado, dificultar o prosseguimento da reação. No caso da presença de escórias (reagentes) líquidas algumas considerações podem ser feitas. Como já citado, o processo de dessulfuração pode ser descrito a partir da reação [S] + (O-2) = (S-2) + [O], e logo a partir de um mecanismo cinético assim descrito: ÎTransferência de enxofre do seio do metal para a interface metal-escória; ÎTransferência de íons de oxigênio do seio da escória para a interface metalescória; ÎReação química na interface de reação; ÎTransferência de oxigênio da interface de reação para o seio do metal; ÎTransferência de íons de enxofre da interface para o seio da escória. Propostas de otimização de tal processo de dessulfuração devem ser embasadas nos aspectos termodinâmicos e cinéticos implícitos no mecanismo acima. Na Figura 12 ilustram-se algumas etapas do processo de dessulfuração, SILVA (2005). A formação de um determinado composto a partir de elementos químicos distintos corresponde à etapa chamada de “Reação Química”, a qual é a expressão da REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 36 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado capacidade que os reagentes têm de se ligarem quimicamente. A outra etapa do processo corresponde ao mecanismo que cause o contato dos elementos, a qual seria a etapa de “Transporte de massa”. No caso da dessulfuração de gusa, a retirada do enxofre, como já previamente delineado, nada mais é que formar uma associação entre o enxofre e o agente de-S, dando resultado a um composto estável. A etapa “Reação Química”, nesse caso, se mostra endotérmica, sendo favorecida pelo aumento de temperatura. No entanto as temperaturas envolvidas são altas o suficiente de modo a excluir a etapa “Reação Química” como controladora do processo; i.e. existe virtual equilíbrio de distribuição de enxofre na interface de reação. Etapas de reação Camada limite a a- difusão do enxofre pelo gusa b CaS b- difusão do enxofre pela CL c c- difusão do enxofre pelo CaS d CaO e f i e- difusão do oxigênio pelo CaS f- difusão do oxigênio pela CL g- difusão do carbono pelo gusa h g Bolhas de CO d- reação na interface h- difusão do carbono pela CL i- formação do CO na interface Figura 12-Etapas do processo de dessulfuração. O efeito de aumento de temperatura se deve ao aumento da força motriz das etapas de transporte (via crescimento do coeficiente de partição de enxofre, da Capacidade Sulfídica [CS], a bem dizer do grau de desequilíbrio do sistema) bem como da influência positiva sobre alguns parâmetros cinéticos. O campo de estabilidade das escórias líquidas cresce, diminuindo a ocorrência de escórias secas. A viscosidade da escória decresce. Como conseqüência melhora a cinética de incorporação de particulados. Outra condição mantida constante, uma menor viscosidade, implica em aumento da interface metal/escória, por exemplo, através de maior grau de emulsificação. O controle e garantia de condições de baixos potenciais químicos do oxigênio dissolvido no metal liquido são vitais para a obtenção de um bom desempenho de REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 37 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado dessulfuração. As operações de pré-desoxidação, desoxidação e pós-desoxidação do gusa são métodos industriais consagrados para a obtenção de elevados índices de dessulfuração e inibição da reversão de enxofre, ao término do tratamento. A etapa de pré-desoxidação pode ser conduzida pela adição de agente desoxidante, no canal de corrida do alto-forno e mesmo no reator, quando do seu enchimento. Por outro lado, a etapa de desoxidação é conduzida, durante o processo de dessulfuração, pela incorporação do elemento desoxidante ao reagente dessulfurante. A atividade do anion oxigênio na escória é, geralmente, medida indiretamente, através de índices industriais, notadamente a basicidade. Existem vários índices de basicidade cuja utilização é relatada na literatura. Procuram expressar a capacidade dos óxidos de doar anions oxigênio ao sistema; por conseqüência, escórias básicas se definem como aquelas apresentando altos valores de atividade do anion oxigênio. Uma escala preliminar de basicidade poderia ser formada, citando, em ordem decrescente de basicidade, os óxidos seguintes: K2O, CaO, MgO, Al2O3 ,SiO2. A habilidade de uma dada escória em absorver enxofre pode ser expressa em termos de sua Capacidade Sulfídica (CS), a qual é função da natureza química e temperatura. Menores atividades de oxigênio e maiores temperaturas de tratamento, do gusa, implicam em maiores valores da CS da escória. Uma definição possível de CS envolve: C S = PO 2 PS 2 .% S , sendo alguns valores típicos apresentados na Figura 13, Segundo TAKANO (1997) Essa determinação indireta permite avaliar para uma dada escória, a uma dada temperatura, a capacidade que a escória tem condições de reter o enxofre e este parâmetro está relacionado com o coeficiente de partição do enxofre (LS), conforme segue: LS = (% S ) S log L S = log e (% S ) = log( C S . f S . K S S )− 1 2 log PO 2 Onde f S é o coeficiente de atividade henriana do enxofre; K S é a constante de equilíbrio; PO2 é a pressão parcial de oxigênio; REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 38 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado log (Cs) -1 -2 CaO-CaF2 CaO-CaF2-SiO2-Al2O3 1500º C 1300º C CaO-CaF2-Al2O3 1500º C -3 CaO-CaF2-SiO2 1300º C CaO-CaF2-SiO2-Al2O3 1500º C -4 0 0.2 0.4 0.6 0.8 XCaO Figura 13-Efeitos da temperatura, tipo e composição da escória de topo sobre sua capacidade sulfídica. Assim o CS permite comparar os potenciais de-S das escórias e composições diferentes, desde que a pressão parcial de oxigênio seja mantida constante, e admitindo que KS não varie com a variação da composição da escória. Dentro dessas condições pode-se, para efeitos práticos, admitir que o coeficiente de partição, de equilíbrio, de enxofre entre escória e metal é proporcional a CS. Como citado anteriormente, o CaO apresenta-se como ótimo agente dessulfurante; limites inferiores a 0,001% podem ser atingidos. Entretanto o modo de adição pode ser determinante, do ponto de vista cinético. Nos casos de injeção, a eficácia de dessulfuração, em especial quando de banhos metálicos com elevados teores iniciais de silício, torna-se cineticamente limitada em virtude da formação natural de camadas de sólidos sobre a superfície das partículas (CaO e silicatos de cálcio, entre outros), barrando o transporte, em regime de contracorrente, de enxofre e oxigênio, através da interface de reação. NIEDRINGHAUS (1987) realizou experiências com ferro saturado com carbono usando CaO-CaF2 como agente de-S. O efeito da fluorita na taxa de de-S é mostrado na Figura 14 com metal a 1350º C. Até 10% de fluorita ocorre um aumento na taxa da de-S e acima disso não faz diferença. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 39 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado 1- 0% CaF2 [%S0] [%S] Fração de enxofre no metal 1. 0. 2-05% CaF2 0. 3-10% CaF2 0. 4-20% CaF2 0. 0. 1 0. 2 3 0. 4 0. 0 1 2 3 5 4 Tempo 6 7 8 9 Figura 14-Resultados experimentais em liga Fe-C saturado e 0.5% de silício a 1350º C usando CaO-CaF2 como agente dessulfurante. O fato é explicado pelo autor, onde a dessulfuração no ambiente é através da seguinte reação: 2 CaO + 2S + Si Í Î 2(CaS) + (SiO2), onde: SiO2 e CaF2 estão dissolvidos na escória líquida. A SiO2 é também produzida pela oxidação do silício pelo ar atmosférico. Com o aumento da adição de fluorita, o aumento da fase líquida aumenta e o aumento da quantidade de SiO2 também provoca aumento da fase líquida. Entretanto, quanto maior a quantidade de SiO2, maior a eventual precipitação do Silicato de Tricálcio (Ca3SiO5), formando uma carapaça na partícula de cal e impedindo o prosseguimento da reação. Cálculos mostraram que a 1350º C, 10% de fluorita forma 30% de fase líquida e a 1450º C, 5% de fluorita forma 20% de fase líquida. É concluído que 20% de fase líquida é suficiente para evitar a precipitação do Silicato de Tricálcio. Na Figura 15, é mostrada o diagrama CaO-CaF2 onde é destacado a influência da fluorita no abaixamento do ponto de fusão desse binário. WILSON (1980) destaca a importância da adição desse material para a manutenção da interface de reação de REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 40 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado dessulfuração pela cal. Seu uso é consagrado. Líquido Temperatura º C 2200 1800 βCaF2 CaO + + Líquido Líquido 1400 CaO + βCaF2 CaO 20 40 60 80 CaF2 (%) Figura 15-Binário CaO-CaF2 A seleção adequada do tipo e proporção dos componentes do agente dessulfurante, de modo a permitir um campo de estabilidade de escória líquida, para as condições operacionais de uma dada usina siderúrgica é de vital importância para a otimização e manutenção do desempenho do processo. Maiores domínios de estabilidade de escórias líquidas implicam em maiores habilidades destas últimas em amortecer as flutuações de temperatura e de composição, entre outras, e, por conseguinte, minimizar ou mesmo evitar a reversão de enxofre bem como a saturação do mesmo na escória de topo. Do ponto de vista químico a obtenção de escórias saturadas significaria utilização integral da Capacidade Sulfídica da mesma. Entretanto a cinética do processo decresce acentuadamente quando se aproxima o limite de saturação, em virtude do decréscimo da força motriz. A capacidade termodinâmica de uma escória em absorver enxofre resulta da combinação entre coeficiente de partição (Capacidade Sulfídica), massa de escória e massa de metal. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 41 4. Revisão Bibliográfica 4.6 Dissertação de Mestrado O PAPEL DA ESCÓRIA DE ARRASTE NA DESSULFURAÇÃO SILVA (1997) analisando um processo de dessulfuração do gusa por injeção profunda de material particulado ressalta que, mantendo-se as demais condições operacionais constantes, maiores quantidades de escória provenientes do alto-forno resultam em menores eficiências de dessulfuração do gusa, logo em menores contribuições relativas ao reator permanente. Tal fato pode ser atribuído a menores valores da capacidade sulfídica da escória de topo, nos instantes iniciais de tratamento, o que pode provocar o retardamento da etapa de dessulfuração propriamente dito (período de incubação da reação) e mesmo a reversão de enxofre da escória para o gusa líquido. O período de incubação, FIGURA 16, irá se apresentar se não houver escorificação suficiente das partículas do reagente, de modo a atenuar os efeitos negativos da escória inicial ao tratamento. %S Período de Incubação Estabilização Tempo Figura 16-Representação do período de incubação da de-S A preconização adequada do volume de escória gerada, durante as operações de pré-tratamento é de vital importância para a eficiência do processo e minimização dos custos de produção. Sob o ponto de vista termodinâmico, maiores volumes de escória de topo resultam em maiores eficiências de dessulfuração, em virtude de menores chances de saturação da escória (menores valores de atividade dos íons de enxofre na escória), logo em menores habilidades de reversão de enxofre da escória para o gusa líquido, SILVA (2002). Maiores quantidades de escória de topo minimizam REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 42 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado os efeitos deletérios da escória de arraste oriunda dos altos-fornos e, por conseguinte, maiores coeficientes de distribuição e certamente menores períodos de incubação da reação de dessulfuração. No entanto, o aumento do volume de escória, embora seja termodinamicamente plausível no que concerne à dessulfuração, é indesejável na prática industrial, uma vez que implicam em maiores perdas térmicas bem como desvantagens econômicas, principalmente no que se refere à estocagem e custo de reagente. A escória de arraste como sendo rica em oxigênio (FeO) também pode contribuir para explicar seu efeito deletério na dessulfuração do gusa. ZHAO (1993) destaca, em uma experiência com uma liga Fe-C saturado, os efeitos da presença do oxigênio durante a etapa de dessulfuração com CaC2. O equilíbrio entre CaC2, CaO e CaS ocorre nos sítios de reação na interface entre a partícula e metal líquido, sendo que o coeficiente de transferência de massa do oxigênio e o enxofre são iguais. ZHAO (1993) conclui que a taxa de de-S aumenta com a diminuição da atividade do oxigênio e que o período de incubação da reação se deve à presença deste. IWAMASSA (1995) realizou experiências com uma liga Fe-C saturado e analisou a taxa de de-S adicionando FeO na escória entre 0 a 5%. A conclusão mostra com clareza que quanto menor a presença de FeO maior a taxa de de-S. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 43 4. Revisão Bibliográfica 4.7 Dissertação de Mestrado DESSULFURAÇÃO EM PLANTA KR Hoje no Brasil, com o aumento na demanda por aços com melhor qualidade e com a produção em tendência de crescimento, pode-se considerar o conhecimento dos fenômenos relativos a desempenho dos diversos reatores metalúrgicos, inclusive o KR, uma ferramenta necessária para a decisão entre as diversas opções. Lista de algumas plantas KR no mundo segundo PAUL WURTH (2003) NIPPON STEEL (2000). Planta Hirohata Kamaishi Nagoya Muroran Grangesberg SMI Kashima 1 SMI Kokura 1 Taranto Pohang Iron & Steel Co. Keihin-NKK China National Kamaishi SMI Kokura 2 Kimitsu SMI Kashima 2 SMI Wakayama Mizushima Chiba Kimitsu Yamata Açominas SMI Kashima 3 China Steel China Steel-Posco Shangai Steel Co. Pohang Iron & Steel Co. Jiangyin Taranto CST-Arcelor Pais Japão Japão Japão Japão Suéçia Japão Japão Itália Coréia Japão China Japão Japão Japão Japão Japão Japão Japãp Japão Japão Brasil Japão Taiwan Coréia China Coréia China Itália Brasil Capacidade (t) 110 60 160 75 * 270 80 300 100 260 90 90 80 244 270 220 320 280 320 320 220 270 230 * 150 315 100 300 315 Nº unidades 1 1 1 1 * 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 1 1 1 1 2 2 2 2 3 1 1 2 Start up 1965 1967 1968 1968 1970 1972 1973 1973 1976 1976 1977 1978 1992 1998 1999 1999 2000 2000 2000 2002 2002 2004 2004 2004 2004 2004 2005 2006 2006 *A fonte não informa esse número. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 44 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Todos os grandes grupos siderúrgicos japoneses detêm a tecnologia da planta KR como NKK Corporation, Nippon Steel Corporation, Kawasaki Steel Corpotation, Sumitomo Metals Industry O KR usa o princípio da agitação mecânica do gusa líquido para provocar o contato do material dessulfurante com o líquido. Os mecanismos impeditivos à reação, governada pelo transporte de massa, são suprimidos e/ou minimizados pela vigorosa agitação do banho pelo agitador e pela baixa granulometria do material dessulfurante. Nos processos industriais de pré-tratamento de gusa, mudanças nos níveis de agitação do banho afetam cineticamente o desempenho do processo de dessulfuração. Sabe-se que a taxa de transferência de massa, calor e momento interferem significativamente sobre a eficiência global dos processos químicos, uma vez que, além da homogeneização térmica e composicional do metal líquido, propiciam o transporte de reagentes até as interfaces de reação bem como a remoção dos produtos gerados. Maiores níveis de agitação do banho resultam em maiores valores dos coeficientes de transferência de massa e de calor, maiores taxas de dissolução de partículas sólidas (reagentes e produtos), na escória de topo, maiores chances de emulsificação metal-escória e vice-versa bem como maiores níveis de desgaste do revestimento refratário, principalmente, na linha de escória. A dispersão de gotas da escória no metal líquido, e vice-versa, é comumente denominada emulsificação. Logicamente, este fenômeno afeta significativamente a cinética de uma dada reação ocorrente entre ambas as fases líquidas, por exemplo, dessulfuração, em virtude do aumento exacerbado da magnitude da área da interface de reação. A Figura 17, em SILVA (2002), apresenta um resultado já clássico, da relação entre coeficiente aparente de troca de massa e estado de agitação, obtido via injeção de gás. De acordo com a mesma, acima de certa vazão crítica existe uma inflexão da curva que fornece os valores de coeficiente aparente de transferência de massa. Tal inflexão é creditada à emulsificação metal-escória e, por conseqüência, no aumento significativo da área superficial. Como delineado previamente, a cinética de dessulfuração é fortemente influenciada pelo comportamento fluidodinâmico do líquido. O entendimento e controle dos fenômenos de misturamento nas fases líquidas, envolvidas em um dado reator metalúrgico, bem como a distribuição dos campos de velocidades nas diversas fases REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 45 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado líquidas, são de vital importância para a estabilização e otimização do desempenho do processo industrial. Watts/ton 15 3 30 150 300 10 KS(s-1).1000 5 1 0.5 5 10 50 100 500 Nl/(t.min) Figura 17-Coeficiente aparente de transferência de massa versus energia de agitação. O aumento da intensidade de misturamento do líquido, isto é, decréscimo do tempo de mistura, diminui as heterogeneidades de temperatura e de composição; como também melhora a cinética das reações químicas, em conseqüência de maiores taxas de transporte de reagentes até os sítios de reação e da taxa de remoção dos produtos de reação. O fenômeno de misturamento bem como seus efeitos sobre o desempenho de dessulfuração em reatores agitados por misturador mecânico foram estudados por alguns pesquisadores, ANDO (1975), IKEDA (1982). A guisa de informação é importante ressaltar que, poucos estudos, relativos a reatores dotados de agitadores mecânicos, isto é, no que concerne à descrição do misturamento mecânico, dispersão de inclusões no liquido, flotação de inclusões de partículas sólidas, emulsificação de escória e projeção de líquidos, encontram-se disponíveis na literatura especializada. O processo KR distingue-se, dos demais sistemas de dessulfuração de gusa, uma vez que a agitação do banho é promovida pela ação de um agitador mecânico, REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 46 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado posicionado de maneira central ou excêntrica na panela. Além do mais existe a tendência de se utilizar um reagente sólido, cal, por exemplo. Portanto não se fala de emulsão, mas sim de dispersão do sólido na massa líquida, função entre outros do estado de agitação, granulometria do reagente, que caracterizam a área de interface disponível para reação. Neste caso aplicam-se as restrições já citadas anteriormente de formação de carapaças (invólucros) de CaS e/ou de Cálcio-Silicatos, impeditivas da continuidade do processo de transferência de massa. Por este motivo algumas práticas operacionais envolvem o uso de um escorificante, por exemplo, 5% de fluorita, associado ao dessulfurante, cal. Assim atingir-se-ia um compromisso entre remoção por erosão física e química da carapaça (meio fluído) e facilidade de raspagem da “escória” sobrenadante (meio sólido). Uma representação clássica do reator KR é mostrada na Figura 18. Silo de espera Tanque pressurizado Motor de içamento Cabo de aço Carro do agitador Motor do agitador Balança Novo agitador Travas do carro Calha de adição Carro de troca do agitador Coifa do despoeiramento Panela de gusa Agitador Figura 18-Representação esquemática do reator KR Nesta modalidade de reator a massa de material de-S é despejada de uma só vez sobre a superfície do liquido. O desempenho de dessulfuração, além da seleção do agente dessulfurante, é fortemente afetado pelos níveis de turbulência predominantes no metal líquido, e, em especial, na interface metal-escória. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 47 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado É importante ressaltar que, a intensidade de agitação do banho metálico, isto é, a taxa de dissipação de energia, é função complexa do posicionamento, morfologia e velocidade de rotação do agitador mecânico. Basicamente, a otimização deste processo de pré-tratamento do gusa inclui, além da natureza química (composição e massa de escória de topo), a otimização conjunta da velocidade de rotação, número de palhetas, profundidade de imersão e grau de excentricidade do agitador mecânico. Como é natural, a ocorrência do fenômeno de emulsificação metal-escória, a partir de uma velocidade crítica de rotação do agitador mecânico, mantidas as demais condições operacionais constantes, induzem ao aumento no desempenho de dessulfuração em virtude da multiplicação da interface metal-escória. Do mesmo modo o grau de dispersão de um reagente sólido aumenta com aumento de agitação, provocando melhores possibilidades de contato com o gusa. O aumento da profundidade de imersão do agitador mecânico, para uma velocidade de rotação constante, resulta em maiores taxas de circulação e, por conseguinte, em maiores desempenhos de dessulfuração. De acordo com ANDO (1975), para uma velocidade de rotação de 150 rpm, a eficiência de dessulfuração foi de 90%. O aumento significativo da eficiência de dessulfuração constitui a principal vantagem prática do processo KR. Segundo este autor, o aumento do número de palhetas do agitador mecânico --- na prática industrial, em virtude da espessura das palhetas, limitadas a 8 -- resultou na elevação da eficiência de dessulfuração. Na usina de Hirohata, Nippon Steel Corporation, Japão, de acordo com OHYA (1977), a operação de dessulfuração do gusa é conduzida em panelas de dessulfuração contínua ou em reator Kambara, KR, com capacidade de 70 a 100 toneladas de gusa, respectivamente, através de adição de CaO, CaF2 e C sobre a superfície do metal líquido, utilizando-se agitação mecânica. Nestas operações, a temperatura de tratamento varia entre 1320 a 1420oC, e os teores de enxofre no banho metálico variaram de 0,025 a 0,050%, enquanto que, a duração do tratamento de dessulfuração, no KR e panela foi 10 e 15 minutos, respectivamente. Ao contrário, dos reatores carro torpedo e panela de transferência, no processo Kambara, a agitação do líquido é induzida por agitador mecânico, o que permite excelente eficiência de dessulfuração, por ação apenas de escória de topo, porém requer altas velocidades de rotação do agitador mecânico, para a obtenção de altas taxas de misturamento e maiores coeficientes de transferência de calor e de massa REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 48 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado através das camadas limites da interface metal-escória. ANDO (1975) mostra que o grau de desgaste do agitador mecânico aumentou com a elevação da velocidade de rotação do mesmo. A Figura 19 apresenta alguns dados práticos. 100 % de-S 80 60 40 Com guia 20 0 Sem guia 60 80 100 120 # Diâm. Imersão Palhetas cm cm 4 6 2 4 6 3 6 7 3 4 8 3 140 160 Rotação do agitador (RPM) Figura 19-Resultados de dessulfuração com carbeto de cálcio, em função de velocidade de rotação do agitador. Como dito antes, a taxa de dissipação de energia é influenciada também pelo número de palhetas do agitador mecânico. Resultados industriais, considerando-se panela com 18 toneladas de gusa, mostraram que a vida útil do agitador mecânico foi maior para o número de palhetas igual a 6. O efeito da profundidade de imersão da placa guia sobre a eficiência de dessulfuração, é mostrado na Figura 20. Observa-se que, para um agitador mecânico com 60 cm de diâmetro, velocidade de rotação de 95 rpm e 3 kg de carbeto de cálcio por tonelada de gusa líquido, maiores profundidades de imersão implicam em menores eficiências de dessulfuração do banho. Alguns estudos foram conduzidos, via modelagem física, no sentido de obter maiores informações sobre o funcionamento do reator KR. Além de se procurar elucidar alguns pontos básicos, especial atenção foi dada à utilização de carbeto de cálcio como mistura dessulfurante. Neste caso a escória de topo não tem papel essencial no processo, ao contrário da dispersão de partículas do reagente no interior do fluido. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 49 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado 100 % de-S 80 60 Diâmetro do agitador: 60 cm Rotação: 95 RPM 40 CaC2: 3 kg/ton D 20 10 20 30 Imersão da placa guia, D [cm] Figura 20-Efeito da profundidade de imersão da placa guia sobre o grau de dessulfuração. Os resultados foram considerados qualitativamente corretos. Uma análise do desempenho do reator quanto à reação química não pôde ser obtida via modelagem física. Carbureto de cálcio era o reagente de preferência, o que tornou algum tipo de analogia impraticável, ao contrário do que ocorreria no caso de interação entre uma escória de topo líquida e o banho metálico. Sendo a velocidade de rotação do agitador uma importante condição para misturamento, uma representação do perfil do banho em função da velocidade de rotação do agitador é demonstrada na Figura 21, onde são observados diferentes perfis de fluxo de agitação em uma planta de mistura. Essa característica deve ser explorada em uma modelagem física. NIPPON STEEL (2000) destaca que a planta de dessulfuração KR tem características importantes para seu bom desempenho, onde destaca: ÎTemperatura do gusa; ÎEnxofre inicial do gusa; ÎLimpeza da escória de alto-forno; ÎPureza do agente de-S; ÎTamanho das partículas do agente de-S; ÎNão deterioração do agente de-S; REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 50 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado ÎRotação do agitador; ÎForma do agitador; ÎProfundidade de penetração do agitador ao gusa líquido; ÎTempo de agitação; ÎQuantidade de material de-S adicionado; ÎMomento de adição de material de-S; Figura 21-O efeito, esquemático, da profundidade de imersão das palhetas sobre o padrão de fluxo. Na Figura 22, NIPPON STEEL (2000) destaca um modelo prático desenvolvido para obter relações dimensionais entre a panela de gusa e o agitador. Nesse modelo é observado que deve haver uma interdependência que determina dimensões onde “H”, aquí nominado como a altura de gusa acima da parte superior agitador, e desse número determinar a altura necessária que a panela de gusa deve ter para evitar o derramamento durante a agitação. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 51 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado D h/D 0.4 H 0.3 h 0.2 0.3 0.4 d/D 0.5 d Figura 22-Relações entre tamanho da panela e agitador 4.7.1 PROCESSO DE MISTURA SPOGIS (2002) descaca que existem muitos processos industriais que exigem que haja mistura de matérias-primas para obtenção de um produto parcial ou final. É praticamente impossível pensar em uma unidade industrial que não use pelo menos uma etapa de misturamento em sua cadeia produtiva. Vários poderiam ser os objetivos de uma operação de misturamento: ÎHomogeinização: desde que a homogeneidade pode ser um requisito importante de propriedade de misturas ou fluidos; ÎCriação de uma dispersão no líquido: essa suspensão pode ser de um sólido, um gás ou outro líquido; ÎAumentar a eficiência na transferência de massa: como por exemplo a taxa de dissolução de um sólido ou gás na massa líquida. Os métodos de misturamento podem incluir: ÎBorbulhamento: consistindo na circulação da massa líquida pelo efeito de arraste dessa massa com a subida de colunas de bolhas atravessando o seio do líquido; ÎMisturamento estático: onde um líquido é injetado no seio de outro através de tubos assim posicionados; ÎAgitação mecânica: quando há a necessidade de grande intensidade de REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 52 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado misturamento, ou quando os componentes são de difícil misturamento. Existe sempre transferência de energia desde o equipamento que causa a circulação do fluido; a energia transferida acelera o fluido e aumenta seu nível de energia cinética (chamada de “Velocity Head”–H); a energia cedida pelo equipamento de mistura é transferida até os redemoinhos de menor escala onde é eventualmente dissipada como calor devido a fricção do próprio fluido; o processo é dissipativo, sem a transferência contínua de energia a circulação do fluido irá diminuir até parar. Equipamentos de mistura são em geral caracterizados através da forma do fluxo gerado pelo mesmo: ÎAtravés da taxa de bombeamento, que caracteriza a taxa e intensidade de circulação. Onde há alta taxa de bombeamento há uma mais rápida homogeinização; ÎAtravés da taxa de cisalhamento, diferencial da velocidade do fluido (dv/dt) e da fricção resultante. Alta taxa de cizalhamento significa alta eficiência de transferência de massa; ÎAtravés da energia transferida para o fluido. Com alta energia transferida há boa efetividade no misturamento. Quando é feita a escolha do uso de agitação mecânica para a planta de mistura, é necessário que se conheça os mecanismos associados aos diferentes tipos de pás rotativas- agitadores- no que tange a sua característica de agitação da mistura. O fluxo gerado por cada tipo de agitador define, além de seu tipo, a sua aplicação. Dois tipos de agitadores são comumente usados industrialmente- com fluxo radial, axial e tangencial. Figura 23, SPOGIS (2002). A principal diferença situa-se na direção do arraste de massa que a rotação desses agitadores gera durante o misturamento. Os agitadores com fluxo radial empurram o fluido para as paredes do tanque e geram um fluxo acima e outro abaixo do agitador. A descarga do fluxo é paralela ao raio do impelidor e à parede do tanque. Se o impelidor radial não estiver disposto próximo à superfície ou ao fundo do tanque, são formadas duas zonas de circulação com vazão muito próximas. O fluxo é direcionado à parede, corre ao seu redor e retorna ao impelidor. Agitadores de fluxo radial mostram-se muito eficientes em sistemas de dispersão de gases ou mistura de líquidos imiscíveis. Já os de fluxo axial são mais eficientes em sistemas para suspensão ou dissolução de sólidos onde se necessita melhor distribuição de velocidade. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 53 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Fluxo Radial Fluxo Axial Fluxo Tangencial Figura 23-Esquema para diferentes fluxos de misturamento. Os agitadores com fluxo axial empurram o fluido do centro inferior do tanque, fazendo-o subir pelas paredes em movimentos circulatórios. A descarga do fluxo gerados por estes impelidores coincide com o eixo árvore. Quando o impelidor opera no modo “down-pumping”, o fluxo atinge o fundo do tanque, sobe pela parede lateral até a superfície livre e retorna ao impelidor, gerando uma única zona de circulação. 85% das aplicações em sistemas de mistura é focada no controle de fluxo, gerando um REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 54 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado grande direcionamento no projeto de impelidores de alto bombeamento. Devido a presença de apenas uma zona de circulação, a mistura de fluidos utilizando impelidores axiais reduz o tempo de mistura e melhoram a homogeneidade no interior do tanque. Devido a menor mudança de direção causada pelos impelidores axiais, o consumo de potência destes impelidores é menor do que em impelidores de fluxo radia com o mesmo diâmetro e a mesma rotação. Agitadores de fluxo tangencial geram uma menor taxa de mistura devido à existência de baixos gradientes de velocidade. São de grande utilidade em certas aplicações: Transferência de calor; Dispersão de sólidos finos e gases na superfície de líquidos; Fluídos altamente viscosos; Dispersão de partículas com alta tensão superficial. A taxa de bombeamento de um líquido submetido ao misturamento é função básica do tipo de agitador utilizado, sua rotação e seu diâmetro, onde se tem: Q = N q .N .D 3 (03) Sendo: N q é uma constante, em regime turbulento, dependente do tipo de agitador, N é a rotação do agitador ( s-1) , D é o diâmetro do agitador (m), Q é o fluxo induzido do líquido ( m3/s). A energia transferida para o líquido é chamada “Velocity Head” – H (por analogia à equação de Bernoulli, P/ρ+V2/2+gh+w = constante), e é proporcional ao quadrado da velocidade do líquido. Porém a velocidade de líquido induzida pelo agitador é proporcional à velocidade periférica do agitador (ND ) , portanto, H ∝ N 2 .D 2 (04) Deste modo a potência transferida para o líquido durante a fase de mistura pode ser avaliada como: P ∝ Q.H ∝ ( N .D 3 ).( N 2 .D 2 ) P = N P .ρ .N 3 .D 5 REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG (05) (06) Página 55 4. Revisão Bibliográfica Dissertação de Mestrado Onde: P é a energia absorvida (J/s); N P é o Número de Potência ( variável dependente da geometria do sistema, das características do meio, da velocidade do agitador); ρ é a densidade do líquido (kg/m3). Então o Número de Potência passa a ser uma medida da eficiência do equipamento em transmitir energia de mistura ao fluido. Para fluidos Newtonianos e para cada configuração de agitador existe uma curva única relacionando o Número de Potência e o Grupo de Reynolds, NP versus NR a qual caracteriza o equipamento, sendo: NP = NR = P ρ N 3 .D 5 D2N ρ η REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 56 5. Metodologia e Resultados Experimentais 5. Dissertação de Mestrado METODOLOGIA E RESULTADOS EXPERIMENTAIS No reator KR se desenvolve um campo de velocidades determinado por, 1- Geometria do agitador mecânico, isto é, número, forma e dimensões das palhetas; 2- Disposição do elemento de agitação, simétrica ou assimétrica, bem como relativa ao eixo da panela; 3- Profundidade de imersão do agitador e nível de metal na panela; 4- Dimensões da panela; 5- Propriedades físicas do gusa, da escória, bem como de seu volume relativo. Parte do comportamento metalúrgico do reator em questão pode ser creditada a este “campo de velocidades”, desenvolvido no interior do mesmo. Na ausência de simulação numérica (equação de Navier Stokes; modelo k-ε de turbulência) a construção de modelos transparentes, que utilizem água como fluido de trabalho (para emular o metal) torna-se quase inevitável. A adoção do modelamento físico a frio, como uma metodologia para a análise do comportamento fluidodinâmico tem permitido avanços significativos na otimização e sofisticação dos processos. Neste sentido, após determinar a escala de construção do modelo e estabelecer os critérios de similaridade entre o mesmo e o reator industrial, compete ao modelador promover a seleção da metodologia através da quais os diversos fenômenos possam ser descritos e quantificados com exatidão. Deve-se ressaltar que a técnica a ser adotada não deve satisfazer apenas a observação visual de um dado fenômeno, contudo, deve permitir a sua quantificação, de modo a caracterizar com rigor o comportamento fluidodinâmico do gusa líquido no reator em estudo. Um dos grandes problemas para um bom projeto de um equipamento de mistura, segundo COULSON (1990), é definir o melhor arranjo dos equipamentos industriais através de experimentos em equipamentos em escala de laboratório que representem os mesmos tipos de fluxos de mistura, similaridade geométrica, cinemática e dinâmica, mantendo as mesmas condições de contorno. Um arranjo típico de um misturador é mostrado na Figura 24. Para assegurar a similaridade de dois misturadores é importante que haja a similaridade geométrica, dinâmica e cinemática. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 57 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado DT P D – Diâmetro do agitador DT – Diâmetro do tanque ZA – Distância do agitador ao fundo N N WB H – Altura do líquido R – Número de “baffles” W H WB – Largura dos “baffles” N – Rotação do agitador D ZA P – Ângulo do agitador W – Largura das palhetas do agitador Figura 24-Configuração típica de um misturador A similaridade dinâmica ocorre entre dois sistemas geometricamente similares, sendo esses de dimensões distintas, quando as forças correspondentes às mesmas partes apresentam relações constantes, sendo que é necessário que haja distinção entre essas forças: inercial, gravitacional, forças relacionadas à viscosidade, tensão superficial e outras formas como tensão normal em caso de líquidos não-Newtoniamos viscoelásticos, sendo todas essas fundamentais para o misturador. Considerando um sistema m (laboratório) e um sistema i (escala industrial) respectivamente e as diferentes forças Fa, Fb, Fc, a condição de similaridade dinâmica requer: Fam Fbm Fcm = = Fai Fbi Fci Constantes (08) Tanto a similaridade cinemática como a dinâmica requerem similaridade geométrica, de tal forma que pontos correspondentes em m e i possam ser identificados. Como exemplo de forças atuantes neste tipo de sistema, pode ser citado as de natureza interfacial, viscosa, gravitacional e inercial. Deste modo a condição de semelhança descrita anteriormente permitiria identificar os grupos adimensionais de Weber [Forças Inerciais versus Forças interfaciais], Reynolds [Forças Inerciais versus Forças Viscosas], e Froude [Forças Inerciais versus Forças Gravitacionais] como REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 58 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado critérios de semelhança os quais indicariam as condições operacionais sob as quais as experiências deveriam ser conduzidas. Na prática, considerando as propriedades típicas dos sistemas metal líquido/ar e as propriedades típicas do sistema água/ar, torna-se impossível atender simultaneamente a todos os critérios de semelhança. Uma distinção adicional deve ser feita no sentido de que em regime laminar os valores de viscosidade são conhecidos enquanto que em regime turbulento a chamada viscosidade turbulenta é, em geral, de ordem de magnitude superior à viscosidade molecular e não conhecida a priori. É fácil mostrar que, no primeiro caso, fluxo laminar, a consideração simultânea dos critérios de Froude e de Reynolds requer a construção de um modelo em escala (quase que) natural, o que não seria prático. Por outro lado, em regime turbulento, sendo desconhecido o valor de viscosidade torna-se impraticável a aplicação do critério relativo ao número de Reynolds. No KR, uma superfície não plana se desenvolve, nas interfaces metal/escória e escória/gás, vide esquema na Figura 25. Pode-se argumentar que a geometria desta superfície seja determinada por um balanço entre gravidade, que tende a torná-la plana, e força de inércia conferida pelas palhetas, que tende a deformá-la. A força de inércia é dada pelo produto “massa específica do fluido x vazão volumétrica x velocidade”, portanto algo do tipo ρ.[N.D.L2] (N.D). Naturalmente a área de seção de fluxo não é L2, assim como o volume do líquido não é L3 (L é um comprimento característico). Esta imprecisão não é problemática se o modelo for construído em escala porque o adimensional é a razão entre as forças. Por outro lado a força peso seria estimada como ρ L3 g. Deste modo uma primeira análise indica, para determinação das condições operacionais no modelo: Tm Dm H m = = =λ Ti Di Hi Dm N m2 Di N i2 = g g Semelhança geométrica (09) Semelhança dinâmica (10) Número de Froude Assumindo que a panela e o agitador sejam construídos obedecendo à mesma escala geométrica o critério de Froude permitiria encontrar a relação entre velocidade de rotação dos rotores, no modelo e máquina industrial: Nm = λ− 0 , 5 Ni REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG (11) Página 59 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Figura 25-Perfil esquemático da forma da superfície metálica desenvolvida na operação do KR. Como citado anteriormente existe, quando do emprego de reagentes sólidos, a tendência à formação de camadas de sulfetos, silicatos, envolvendo as partículas do mesmo. Estas camadas agem como barreira adicional de difusão, retardando o processo. No KR este efeito deve ser minimizado pela vigorosa agitação. Adicionalmente deve ser empregada rotação no mínimo capaz de assegurar a completa dispersão do reagente na gusa, o que maximizaria a área de contato. A dispersão seria garantida a partir de um valor mínimo de Potência por Unidade de Massa (PM) segundo DAVIES (1972), dada por: ∆ρ PM α 1.5 d 0.6 φ 0.4 (12) ρ 1.5 Onde ∆ρ diferença entre massas específicas do líquido e do sólido, d diâmetro da partícula, φ fração em massa de sólidos, ρ massa específica do líquido, Esta expressão pode ser reescrita como: ∆ρ 1, 5 d 0, 6φ 0, 4 ρ 1,5 1, 5 0,5 ρ N p N 3D5 ∆ρ d 0,6φ 0, 4 ∆ρ d 0, 2φ 0,13 3 2 = Î = ρ N N L Î N = p 2 1 ρ volume ρ 1,5 N p 3 ρ 0,5 L 3 REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 60 5. Metodologia e Resultados Experimentais N m ∆ρ m = N i ∆ρ i 0,5 dm di 0, 2 φm φi 0 ,13 Dissertação de Mestrado ρi ρm 0,5 Li Lm 2 3 Np i Np m 3 (13) A equação precedente implica, para o sistema água/gusa, onde: Npi L ρi = 6,3 ; = 1 ; i = λ−1 ρm Np m Lm ∆ρ Nm = 2,51 m Ni ∆ρ i 0,5 dm di 0, 2 φm φi 0 ,13 λ−0, 67 (14) A qual sugere haver certa liberdade em se escolher as características do sólido capaz de tomar o papel do reagente de desulfuração. Cita-se KRESTA (2004), também como valor mínimo do número de Froude para assegurar dispersão. D N Fr = 3,6 x10 T Onde : −3, 65 −2 ∆ρ ρ 0 , 42 (15) T é o diâmetro do reator, Essa equação reescrita temos: DN 2 D = 3,6 x10 − 2 g T −3, 65 ∆ρ ρ 0 , 42 Î 0,594 D N = 0,5 D T −1,825 ∆ρ ρ 0 , 21 Para o sistema água/gusa temos: N m Di = N i Dm 0,5 ∆ρ m ρm 0 , 21 ρi ∆ρ i 0 , 21 ∆ρ / ρ N Î = ( ∆ρ / ρ ) Ni i 0 , 21 λ− 0,5 (16) Embora ligeiramente mais restritiva, a equação 16 mostra ser possível adequar as características de um possível sólido a ser empregado no modelo, de modo a haver dispersão do sólido. Outro possível tratamento leva em consideração que em sistemas como estes, nos quais é importante assegurar o transporte de massa sólido/líquido através da camada limite correspondente, seria importante assegurar a mesma potência por unidade de volume. Logo sendo: P = ρ Np N 3 D 5 REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Î P ρ Np N 3 D 5 P = = ρ Np N 3 L 2 Î 3 V V L Página 61 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Comparando o modelo com a máquina industrial, onde P/V devem ser iguais temos: ρ m Np Nm Ni 3 m N m3 L 2m = ρ i Np i N i3 L 2i , onde Np ρ = i ρm 2 Li ρ N Î m = i Ni ρ Lm m = Np i e Li = λ−1 Lm 1/3 λ−2 /3 (17) Esta última expressão é obtida assumindo regime turbulento, no modelo e na máquina industrial. Valores típicos como: massa específica do gusa 6300 kg/m3; viscosidade dinâmica 6x10-3 Pa.s; diâmetro do agitador,1.5 m; velocidade de rotação do agitador 100 rpm (1,6 Hz) a 150 rpm (2,5 Hz) permitem estimar número de Reynolds na faixa de 3,7x106 a 5,6x106. Estes valores se situam na faixa de regime turbulento onde o número de potência pode ser tomado como constante. As Figuras 26 e 27 mostram, respectivamente, as dimensões reais (em milímetros) de um dos modelos de agitador (a ser denominado agitador A) e de um dos modelos de agitador (a ser denominado agitador B). Como se nota as dimensões 1450 gerais são semelhantes, porém a face das lâminas é curva. 900 250 75 1550 1400 Figura 26-Desenho de um agitador tipo A REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 62 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Figura 27-Desenho de um agitador tipo B O desenho da panela de gusa, que é o reator do processo KR, é apresentada na Figura 28 com dimensões em mm. Refratário 5213 6300 4775 Refratário 3547 Figura 28-Perfil da panela de gusa, 315 toneladas. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 63 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Os modelos foram construídos com fator de escala 1:7(Figura 29) A rotação do motor foi controlada por meio de um conjunto motor trifásico (1800 rpm), redutor (1:5:7) e inversor de freqüência (1 CV). Os valores de velocidade foram registrador por vias de um tacômetro. 1 4 5 2 3 6 7 9 8 10 Figura 29-Foto do modelo em escala 1/7 REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 64 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado 1-Estrutura metálica em perfil quadrado; 2- Motor trifásico de 1CV alimentado por inversor; 3-Conjunto redutor (1:5:7); 4- Trilho guia da gaiola do agitador; 5- Gaiola de sustentação do agitador; 6- Cabo de aço de movimentação da gaiola; 7- Carretilha do cabo de aço; 8- Conditivímetros laterais; Existe mais um no fundo do tanque. 9- Agitador em madeira; 10- Tanque em acrílico. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 65 5. Metodologia e Resultados Experimentais 5.1 Dissertação de Mestrado CÁLCULOS PRELIMINARES E LIMITE OPERACIONAL Estabelecido o fator de escala, os cálculos preliminares compreendem a determinação da velocidade de rotação do agitador e os limites operacionais do aparelho. Na planta KR Industrial, a submersão do agitador deve variar entre 700 e 800 mm da parte superior da pá (medida realizada com o líquido estático) e a velocidade de rotação entre 100 e 150 rpm. Para os testes no modelo foram escolhidas duas profundidades de imersão típicas, 10 cm e 15 cm. Segundo critério de Froude (equação 11 resolvidaÎ Nm = 2,645.Ni), já delineado, a relação entre velocidades de rotação seria como aquela apresentada na Tabela I. Tabela I – Rotação no modelo versus rotação na planta KR industrial. Modelo [rpm] Industrial [rpm] Modelo [rpm] Industrial [rpm] 80 30 150 57 90 34 160 60 100 38 170 64 110 42 260 100 120 45 320 120 130 49 370 140 140 53 400 150 Velocidades no modelo ainda maiores seriam obtidas pela aplicação do critério expresso pela equação (11). Como se comenta, a seguir, algumas destas velocidades, não são exeqüíveis. Durante alguns dos testes iniciais, foi observado que os valores de rotação do modelo a serem seguidos (260, 320, 370 e 400 rpm) instauram um regime excessivamente turbulento com conseqüente projeção de líquido para fora do modelo; ainda que, nestas velocidades se forma um bolsão de ar na parte inferior do agitador. Em velocidades “baixas” a depressão formada em razão da rotação do agitador é de profundidade tal que seu ponto mais inferior não é capaz de tocar o topo do mesmo; uma visão global do sistema nestas condições é mostrada na Figura 30, e deve corresponder às condições normais de operação. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 66 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Figura 30-Visão global do reator em condições operacionais normais, agitador A. Quando a velocidade de rotação é gradativamente aumentada se pode atingir um valor crítico, para o qual a parte inferior da depressão toca o topo do agitador; o movimento das palhetas inicialmente lança bolhas de ar na direção das paredes do reator, estas bolhas são entranhadas e as forças centrífugas as arrastam para a parte inferior do agitador, Figura 31. Figura 31-Operação do sistema na presença de bolsão de ar, agitador A. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 67 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado O bolsão permanece solidário ao agitador em situação de equilíbrio dinâmico e só é disperso se as velocidades forem reduzidas. Em princípio este tipo de situação não seria conveniente na planta industrial, por implicar em oxidação do metal. Por limite operacional do aparelho convencionou-se designar o conjunto de condições a partir do qual a formação do bolsão se torna possível. Os resultados, expressos em termos de velocidade crítica de rotação, para panela cheia (315 toneladas de gusa ou 4,2 m de gusa; 131 litros de água ou 59,5 cm) e agitador A são apresentados na Tabela II e Figura 32. Tabela II – Profundidade de imersão vs rotação crítica, panela cheia e agitador A. Limites Operacionais Profundidade [cm] 5 10 15 20 25 30 36 Rotação [rpm] 90 128 155 170 190 210 232 230 Rotação [rpm] 210 190 170 150 130 110 90 5 10 15 20 25 30 35 Profundidade de Imersão [cm] Figura 32-Profundidade de imersão versus rotação máxima, panela cheia e agitador A. A depressão pode também ser caracterizada por sua elevação máxima, isto é, as diferenças entre as cotas do ponto mais alto (periferia, junto à parede do reator) e o nível do líquido em repouso. Filmagens foram realizadas que permitiram estimar a depressão, para profundidades de imersão de 10 e 15 cm, produzida pelo agitador A, em função da velocidade de rotação, Figura 33. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 68 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado 40 Elevação [mm] 35 30 25 20 15 10 5 0 80 90 100 110 120 130 Rotação [rpm] 15 cm 140 150 160 10 cm Figura 33-Elevação junto à borda da panela em função da rotação e profundidade de imersão, agitador A. Dados correspondentes ao agitador B são mostrados na Tabela III e Figuras 34 e 35. Tabela III-Profundidade de imersão vs rotação crítica, panela cheia e agitador B. Limites Operacionais Profundidade [cm] 5 10 15 20 25 30 Rotação [rpm] 102 147 163 196 220 243 Rotação [rpm] 230 210 190 170 150 130 110 90 5 10 15 20 25 30 35 Profundidade de Imersão [cm] Figura 34-Profundidade de imersão versus rotação máxima, panela cheia e agitador B. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 69 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado 40 35 Elevação [mm] 30 25 20 15 10 5 0 80 90 100 110 120 130 140 150 160 Rotação [rpm] 10 cm 15 cm Figura 35-Elevação junto à borda da panela em função da rotação e profundidade de imersão, agitador B. Como se nota, Figuras 36 e 37, o agitador B produz maior borda livre para a mesma velocidade de rotação. 10 cm 40 Elevação [mm] 35 30 25 20 15 10 5 0 80 90 100 110 120 130 140 150 160 Rotação [rpm] Agitador A Agitador B Figura 36-Elevação do nível de liquido junto à parede da panela em função da rotação dos agitadores; menor a elevação maior a borda livre. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 70 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado 15 cm 40 35 Elevação [mm] 30 25 20 15 10 5 0 80 90 100 110 120 130 Rotação [rpm] Agitador A 140 150 160 Agitador B Figura 37-Elevação do nível de líquido junto à parede da panela em função da rotação dos agitadores; menor a elevação maior a borda livre. De modo semelhante, Figura 38, a rotação crítica do agitador no limiar do aparecimento do bolsão de ar é superior no caso do agitador B, quando comparado ao agitador A. 250 Rotação [rpm] 230 210 190 170 150 130 110 90 5 10 15 20 25 30 Profundidade de imersão [cm] Agitador A 35 40 Agitador B Figura 38-Condição crítica de formação de bolsão de ar em função da velocidade de rotação dos agitadores A e B REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 71 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Esta condição representa uma vantagem comparativa do agitador B. Maior borda livre implica em maior segurança operacional; maior borda livre significa maior capacidade de utilização do volume útil da panela. Sob condições turbulentas, número de potência constante, o coeficiente de transferência de massa (K) entre uma partícula de reagente e o gusa pode ser estimado através a equação proposta por DAVIES (1972). η K = 0.237 ρ − 0.41 Po D 5 H T2 0.25 2 3 DDIF N 0.75 (18) Onde: P0 é o Número de Potência, DDIF é o Coeficiente de Difusão, Existe então um ganho adicional ao se empregar maiores valores de velocidade de rotação do agitador, caso do agitador B. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 72 5. Metodologia e Resultados Experimentais 5.2 Dissertação de Mestrado TEMPOS DE MISTURAMENTO Tempos de mistura fornecem indicativos a respeito de condições macroscópicas de fluxo, da existência ou de gradientes de concentração ou de temperatura. Usualmente os testes são conduzidos pela adição de um traçador (Cloreto de Potássio -KCl- por exemplo) na forma de pulso, cuja dispersão no meio possa ser seguida (através de condutivímetros) em função do tempo transcorrido desde a adição. Nestes experimentos o modelo foi dotado de três medidores, identificados como C1 (fundo e centro da panela), C2 (parede e meia altura, 25 cm do fundo) e C3 (parede e próxima ao nível de água, 50 cm do fundo), vide Figura 39. C3 C2 C1 Figura 39-Diagrama esquemático da montagem experimental, ressaltando posição dos condutivímetros. O traçador foi sempre adicionado na mesma posição, como salmoura, na superfície da água, à meia distância entre a parede e o rotor. O sinal elétrico produzido pelos condutivímetros foi captado por placa de aquisição A/D acoplada a um computador. Após normalização, curvas típicas de dispersão são como aquelas apresentadas na Figura 40. O tempo de mistura foi definido como o intervalo de tempo necessário para se atingir estabilização do sinal, dentro de faixa correspondente a 5% do valor nominal. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 73 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado 6 Condutividade [V] 5 4 3 Cond. C1 Cond. C2 Cond. C3 2 1 0 -1 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 -2 Tempo [segundos] Figura 40-Curvas de dispersão para condutivímetros C1, C2 e C3. Os resultados dos tempos de misturamento obtidos estão mostrados nas tabelas e figuras a seguir. Na Tabela IV e Figura 41 os dados relativos à panela cheia (315 toneladas, 131 litros; nível de 4,2 m; 59,5 cm) e imersão de 700 mm (10 cm no modelo), agitador A. Cada ponto corresponde a uma média de 6 a 8 experimentos. Tabela IV-Tempos de misturamento em cada medidor de condutividade em função da rotação no modelo. Imersão de 10 cm, panela cheia, agitador A. Rotação (rpm) REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Tempo (s) C1 C2 C3 80 37,8 33,6 27,6 90 34,5 26,4 23,9 100 30,1 28,1 23,5 110 29,2 23,5 20,0 120 27,3 20,5 17,7 130 24,2 20,0 17,8 Página 74 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Agitador A, 10 cm Tempo de mistura [s] 40 35 C1 C2 C3 30 25 20 15 10 80 90 100 110 120 130 140 150 Rotação [rpm] Figura 41-Tempos de misturamento em função da rotação no modelo. Imersão 10 cm e panela cheia, agitador A. A partir dos resultados acima se observa que à medida que se aumenta a rotação ocorre uma diminuição do tempo necessário para a mistura, como esperado. Nessa profundidade de imersão, o agitador está numa posição bem próxima do medidor de condutividade C3; desta forma, a mistura se dá de maneira mais rápida nas proximidades deste medidor comparativamente com C2 e C1. Na Tabela V e Figura 42 os dados relativos à panela cheia (315 toneladas, 131 litros; nível de gusa 4,2 m, 59,5 cm) e imersão de 1050 mm (15 cm no modelo). Tabela V - Tempos de misturamento em cada medidor de condutividade em função da rotação no modelo. Imersão de 15 cm, panela cheia, agitador A. Rotação (rpm) Tempo(s) C1 C2 C3 80 38,0 22,4 27,7 90 35,7 23,7 28,1 100 33,3 22,5 27,5 110 33,3 20,7 23,7 120 25,9 21,1 25,0 130 24,0 18,8 22,9 140 22,3 17,4 20,4 150 21,2 16,5 19,5 REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 75 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Agitador A, 15 cm Tempo de mistura [s] 40 35 30 C1 C2 C3 25 20 15 10 80 90 100 110 120 130 140 150 Rotação [rpm] Figura 42-Tempos de misturamento em função da rotação no modelo. Imersão 15 cm, panela cheia, agitador A. Neste caso, imersão de 15 cm, o agitador está posicionado quase que em frente ao medidor de condutividade C2, de modo que o menor tempo de misturamento se observa a partir deste medidor, seguido de C3 e C1. Tempos de mistura no modelo podem ser transformados em tempos de mistura na máquina industrial a partir do critério de Froude (isto é, admitindo-se que o mesmo seja aplicável). Então, t mod elo =λ t industria 0,5 (19) Pode também ser realizada uma comparação entre os tempos de misturamento para mesmos condutivímetros, em função da velocidade de rotação e profundidade de imersão do agitador. Os resultados estão mostrados nas Figuras 43, 44, e 45. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 76 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Posição C1 Tempo de mistura [s] 40 35 30 10 cm 15 cm 25 20 15 10 80 90 100 110 120 130 140 Rotação [rpm] Figura 43-Comparativo de tempos de misturamento em função da rotação para as duas profundidades de imersão do agitador A, panela cheia. Sinal de acordo com condutivímetro C1, fundo da panela. Posição C2 Tempo de mistura [s] 40 35 30 10 cm 15 cm 25 20 15 10 80 90 100 110 120 130 140 Rotação [rpm] Figura 44-Comparativo de tempos de misturamento em função da rotação para as duas profundidades de imersão do agitador, panela cheia. Sinal de acordo com condutivímetro C2, meia altura. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 77 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Posição C3 Tempo de mistura [s] 40 35 30 10 cm 15 cm 25 20 15 10 80 90 100 110 120 130 140 Rotação [rpm] Figura 45-Comparativo de tempos de misturamento em função da rotação para as duas profundidades de imersão do agitador A, panela cheia. Sinal de acordo com condutivímetro C3, topo. Processos de mistura neste tipo de sistema podem ser produzidos em regime laminar ou turbulento. Num extremo, fluido estático, a mistura se dá por difusão molecular e os tempos de dispersão são comparativamente grandes; noutro extremo, em regime turbulento, os redemoinhos se encarregam de transferir espécies de um ponto a outro e os tempos são comparativamente pequenos. Uma curva, esquemática de dispersão pode então ser apresentada como na Figura 46. turbulento Rotação Versus Tempo de mistura transição laminar Rotação do agitador Figura 46-Curva esquemática de dispersão, num misturador. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 78 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado As Figuras 47 e 48 mostram como varia o produto “velocidade de rotação do agitador x tempo de mistura” versus “velocidade de rotação”, para agitador A imerso a 10 cm e 15 cm, respectivamente. Como se nota atinge-se estabilização no caso de imersão a 10 cm; as curvas de mistura podem ser substituídas, aproximadamente, por hipérboles. Assumindo que as equações 11 e 19 sejam válidas esta relação seria aplicável também ao reator industrial. No caso de imersão a 15 cm a estabilização só é alcançada nas maiores velocidades. Agitador A, 10 cm rpm x tempo mistura 4000 3500 C1 3000 C2 2500 C3 2000 1500 80 90 100 110 120 130 140 Rotação [rpm] Figura 47-Curva de mistura, por condutivímetro, imersão de 10 cm, agitador A. Agitador A, 15 cm rpm x tempo de mistura 4000 3500 C1 C2 C3 3000 2500 2000 1500 80 90 100 110 120 130 140 150 Rotação [rpm] Figura 48-Curva de mistura, por condutivímetro, imersão de 15 cm, agitador A. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 79 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado A mesma metodologia foi empregada para a determinação de tempos de mistura no caso do agitador B. A Tabela VI e Figura 49 ilustram o caso relativo à panela cheia (315 toneladas, 131 litros; nível de gusa 4,2 m, 59,5 cm) e imersão de 700 mm (10 cm modelo). Do mesmo modo a Tabela VII e Figura 50 correspondem ao caso da panela cheia (315 toneladas, 131 litros; nível de gusa 4,2 m, 59,5 cm) e imersão de 1050 mm (15 cm modelo). O comparativo entre profundidades de imersão, por localização do sensor, é apresentado nas Figuras 51 a 55. Tabela VI - Tempos de misturamento em cada medidor de condutividade em função da rotação no modelo. Imersão de 10 cm, panela cheia, agitador B. Tempo(s) Rotação (rpm) C1 C2 C3 80 32,6 26,0 21,4 90 29,8 23,7 20,6 100 28,7 22,5 20,7 110 27,8 20,7 19,3 120 25,4 18,8 16,9 130 23,7 17,4 15,2 140 21,8 16,5 14,3 150 20,1 15,5 13,6 Agitador B, 10 cm Tempo de mistura[s] 40 35 C1 C2 C3 30 25 20 15 10 80 90 100 110 120 130 140 150 160 Rotação [rpm] Figura 49-Tempos de misturamento em função da rotação no modelo. Imersão 10 cm, panela cheia, agitador B. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 80 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Tabela VII-Tempos de misturamento em cada medidor de condutividade em função da rotação no modelo. Imersão de 15 cm, panela cheia, agitador B. Tempo (s) Rotação (rpm) C1 C2 C3 80 32,9 23,2 29,3 90 32,3 21,0 26,8 100 31,2 19,6 25,8 110 30,1 18,0 22,2 120 28,5 18,2 22,2 130 27,2 16,1 19,9 140 25,5 14,5 18,4 150 24,1 14,2 16,5 160 23,8 13,5 16,8 170 20,8 12,6 15,4 Agitador B, 15 cm Tempo de mistura [s] 40 35 30 C1 C2 C3 25 20 15 10 80 90 100 110 120 130 140 150 160 Rotação [rpm] Figura 50-Tempos de misturamento em função da rotação no modelo. Imersão 15 cm, panela cheia, agitador B. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 81 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Posição C1 Tempo de mistura [s] 40 35 30 10 cm 15 cm 25 20 15 10 80 90 100 110 120 130 140 150 160 Rotação [rpm] Figura 51-Comparativo de tempos de misturamento em função da rotação para as duas profundidades de imersão do agitador B, panela cheia. Sinal de acordo com condutivímetro C1, fundo da panela. Posição C2 40 Tempo de mistura [s] 35 30 10 cm 15 cm 25 20 15 10 80 90 100 110 120 130 140 150 160 Rotação [rpm] Figura 52-Comparativo de tempos de misturamento em função da rotação para as duas profundidades de imersão do agitador B, panela cheia. Sinal de acordo com condutivímetro C2, meia altura. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 82 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Posição C3 40 Tempo de mistura [s] 35 30 10 cm 25 15 cm 20 15 10 80 90 100 110 120 130 140 150 160 Rotaçã [rpm] Figura 53-Comparativo de tempos de misturamento em função da rotação para as duas profundidades de imersão do agitador B, panela cheia. Sinal de acordo com condutivímetro C3, topo da panela. Agitador B, 15 cm rpm x tempo mistura 4000 3500 3000 C1 C2 C3 2500 2000 1500 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 Rotação [rpm] Figura 54-Curva de mistura, por condutivímetro, imersão de 15 cm, agitador B. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 83 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Agitador B, 10 cm rpmxtempo de mistura 4000 3500 3000 C1 C2 2500 C3 2000 1500 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 Rotação [rpm] Figura 55-Curva de mistura, por condutivímetro, imersão de 10 cm, agitador B Como se pode observar os tempos de mistura variam de 17 a 38 s (agitador A) e de 13 s a 33 s (agitador B). Estes valores, modificados para refletir a situação na máquina industrial, equação 19, não implicam em diferença significativa. Tempos de mistura na máquina industrial seriam da ordem de 0,5 a 1,5 minutos. Estes seriam uma fração do tempo típico de tratamento em um reator Kambara, cerca de 15 minutos, o que sugere que a macro-mistura não seria muito relevante ao controle do processo. Em função das restrições impostas pela borda livre (e desgaste do rotor, não avaliado) não existiria muita latitude para melhorar os índices de macro-mistura, isto é reduzir tempos de mistura. Restaria a possibilidade de atuar no que diz respeito às condições de turbulência junto às interfaces gusa/partícula, que definem a micro-mistura neste processo. Como citado anteriormente estas condições podem ser quantificadas, indiretamente, pelo coeficiente de película de transferência de massa (K). A literatura sugere DAVIES (1972), uma relação quase linear entre tal coeficiente e a velocidade do agitador, K α N 0, 75 , equação 18. Deste modo o agitador B apresentaria vantagem comparativa por possibilitar maiores velocidades de rotação do agitador e, então, maiores taxas de transferência de massa. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 84 5. Metodologia e Resultados Experimentais 5.3 Dissertação de Mestrado TRANSFERÊNCIA DE MASSA Reações de dessulfuração ocorrem numa interface metal-escória e são em geral controladas por transporte de massa através de algum tipo de camada limite. Para simular este efeito foram realizados experimentos de transferência de massa entre querosene saturado com iodo e água “inicialmente pura” (solução de água + KI dissolvido), em função do tempo de agitação da panela, Figura 56. A quantidade de KI previamente adicionado à água foi em excesso à quantidade molar de iodo contido no querosene, considerando transferência completa, de acordo com a reação: Î KI (água) + I2(querosene) = KI3(água). Figura 56-Sistema real querosene saturado em I2 e água + KI, agitador A. A camada de querosene utilizada nos experimentos correspondia a um volume de 3,5 litros e uma espessura da ordem de 1,5 cm. Em intervalos de tempo definidos para cada experimento foram retiradas amostras da solução para análise por titulação. O ponto de amostragem está mostrado na Figura 57; foram retiradas entre 7 e 9 amostras contendo 100 ml de solução cada uma. Foi utilizada uma solução de Tiossulfato de Sódio + Bicarbonato de Sódio para titulação e também uma solução de Amido + Iodeto de potássio como solução indicadora. A Figura 58 ilustra, esquematicamente, o fenômeno de transferência de massa REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 85 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado que ocorre na interface querosene-água do modelo o qual seria comparativo à interface metal-escória da planta KR industrial. Figura 57-Ponto de amostragem para titulação no modelo da planta KR. Figura 58-Esquema mostrando a troca de massa na interface querosene-água. A título de ilustração é apresentado nas Figuras 59 a 61, o estado da dispersão água-querosene, em função da rotação do agitador. Em rotação baixa observa-se uma camada distinta de querosene em posição restrita sobre a depressão de água causada pelas forças centrípetas. À medida que a rotação aumenta o querosene é dragado e dispersado no seio da água. Como este processo se dá paralelamente à transferência de massa a visualização se torna difícil em função da coloração adquirida pela água. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 86 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado 80 rpm 85 rpm 90 rpm 95 rpm 100 rpm 105 rpm Figura 59-Estado da interface do querosene em função de rotação. Agitador A. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 87 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado 110 rpm 115 rpm 120 rpm 125 rpm 130 rpm 135 rpm Figura 60-Estado da interface querosene em função da rotação. Agitador A. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 88 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado 140 rpm 145 rpm 150 rpm 155 rpm Figura 61-Estado da interface querosene em função da rotação.Agitador A. A Figura 62 exemplifica o caso em que, para facilitar a visualização, KI não foi adicionado à água (transferência de massa desprezível). Os resultados são apresentados em termos de “volume de solução de titulação/100 ml de solução aquosa” em função da variação de rotação e profundidade de imersão do agitador A ou B. Como será observado (e de acordo com as expectativas) para qualquer agitador e quaisquer das duas profundidades de imersão, quando se aumenta a velocidade de rotação do agitador se tem um maior volume de solução de titulação, o que indica maior velocidade de transferência de massa. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 89 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Figura 62-Emulsificação do querosene para rotação de 90 rpm e 15 cm de profundidade de imersão, agitador A. A cinética do processo de transporte de massa pode ser caracterizada através de um modelo matemático, segundo SILVA (2005). A partir de um balanço macroscópico se pode escrever, C AK = − ln 1 − t Ce V (20) Onde: K é o coeficiente de transferência de massa C é a concentração instantânea na água; Ce é a concentração de equilíbrio; A é a área interfacial água-querosene; V é o volume de água dentro do modelo; t é o tempo. Este modelo pressupõe mistura perfeita nos volumes relativos à água e querosene, exceto em uma região correspondente à camada limite. Para tempos curtos, fase inicial do processo, a equação precedente pode ser aproximada a, AK C = Ce .t V (21) o que significa que a declividade na origem, da curva Concentração versus Tempo, permite a determinação do parâmetro cinético combinado, AK. Na maior parte dos casos o valor exato de A não é conhecido, em função da abertura de olhos na camada REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 90 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado de escória ou de sua emulsificação, de modo que costuma ser estimada a partir da seção reta do reator. Naturalmente quanto maior o valor de AK maior a velocidade do processo. Esta metodologia foi empregada para se avaliar a influência da rotação e imersão do agitador. Cada conjunto de dados experimentais foi aproximado, por meio de regressão múltipla baseada na minimização da somatória dos quadrados dos erros, a uma forma do tipo Y = aX / (b +X). Esta forma reproduz uma curva clássica de rendimento químico devido a uma dada reação, com inclinação na origem igual a “a/b” e rendimento de equilíbrio (valores elevados de X) igual a “a”. As Figuras 63 a 71 apresentam as curvas experimentais e os seus respectivos resultados de regressão, para o caso do agitador A. Observa-se que em situações correspondentes a baixas velocidades de rotação os tempos de experiência não são altos o suficiente para assegurar equilíbrio; claramente as curvas, neste caso, não apresentam o patamar característico. Optou-se nesta circunstância por fixar o valor de “a” (como sendo a média dos valores obtidos em altas velocidades de rotação) e determinar o valor de “b”. Volume titulado (mL) Agitador A; 10 cm x 90 rpm 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Exper Calc 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Tempo (s) Figura 63-Curva experimental e resultados de regressão, para 10 cm de imersão e 90 rpm; a=46,55 * e b=3748, agitador A. *valor de estabilização em rotação alta. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 91 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Volume titulado (mL) Agitador A, 10cm x 100 rpm 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Exper Calc 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Tempo (s) Figura 64-Curva experimental e resultados de regressão para 10 cm de imersão e 100 rpm; a= 46,55* e b = 847, agitador A. * valor de estabilização em rotação alta. Volume titulado (mL) Agitador A, 10 cm x 120 rpm 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Exper Calc 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Tempo (s) Figura 65-Curva experimental e resultados de regressão, para 10 cm de imersão e 120 rpm; a=45,34 e b= 177, agitador A. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 92 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Volume titulado (mL) Agitador A, 10 cm x 130 rpm 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Exper Calc 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Tempo (s) Figura 66-Curva experimental e resultados de regressão, para 10 cm de imersão e 130 rpm; a= 44,57 e b= 78, agitador A. Agitador A; 15 cm x 90 rpm 50 Volume titulado (mL) 45 40 35 30 Exper Calc 25 20 15 10 5 0 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Tempo (s) Figura 67-Curva experimental e resultados de regressão para 15 cm de imersão e 90 rpm; a= 46,55* e b= 7322, agitador A. * valor de estabilização em rotação alta. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 93 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Agitador A; 15 cm x 100 rpm 50 Volume titulado (mL) 45 40 35 30 Exper Calc 25 20 15 10 5 0 0 500 1000 1500 2000 Tempo (s) 2500 3000 Figura 68-Curva experimental e resultados de regressão para 15 cm de imersão e 100 rpm; a= 46,55* e b= 1063, agitador A. * valor de estabilização em alta rotação. Volume titulado (mL) Agitador A; 15 cm x 120 rpm 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Exper Calc 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Tempo (s) Figura 69-Curva experimental e resultados de regressão, para 15 cm de imersão e 120 rpm; a=46,55* e b= 396, agitador A. * valor de estabilização em alta rotação. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 94 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Agitador A; 15 cm x 130 rpm 50 Volume titulado (mL) 45 40 35 30 Exper Calc 25 20 15 10 5 0 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Tempo (s) Figura 70-Curva experimental e resultados de regressão, para 15 cm de imersão e 130 rpm; a= 49,18 e b= 366, agitador A. Agitador A; 15 cm x 150 rpm 50 Volume titulado (mL) 45 40 35 30 Exper Calc 25 20 15 10 5 0 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Tempo (s) Figura 71-Curva experimental e resultados de regressão, para 15 cm de imersão e 150 rpm; a= 47,11 e b= 63,7 agitador A. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 95 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Valores do parâmetro cinético, derivados de acordo com a metodologia proposta, são apresentados também na Figura 72 e Tabela VIII. Agitador A 0.80 0.70 CeAK / V 0.60 0.50 CeAK / V 10cm CeAK / V 15cm 0.40 0.30 0.20 0.10 0.00 90 100 110 120 130 140 150 160 Rotação [rpm] Figura 72-Parâmetro CeAK/V em função de rotação e imersão do agitador A. Tabela VIII-Parâmetro Ce AK/V em função de rotação e imersão do agitador A rpm CeAK / V 10cm CeAK / V 15cm 90 0,0124 0,0064 100 0,0549 0,0438 120 0,2558 0,1174 130 0,5717 0,1343 150 0,7398 Nota-se a forte influência da agitação e melhor desempenho para baixas imersões quando as velocidades são maiores. Este último dado reflete uma maior capacidade de emulsificação/dispersão atingida com baixa profundidade de imersão. Adicionalmente a dispersão se torna mais pronunciada a partir de 120 ~130 rpm. O mesmo método de análise foi utilizado para quantificar os dados relativos ao agitador B. Os resultados são apresentados nas Figuras 73 a 82 e Tabela IX. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 96 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Agitador B; 10 cm x 90 rpm 50 Volume titulado (mL) 45 40 35 30 Exper Calc 25 20 15 10 5 0 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Tempo (s) Figura 73-Curva experimental e resultados de regressão, para 10 cm de imersão e 90 rpm; a=41,15 * e b=1742, agitador B. * valor de estabilização em rotação alta. Volume titulado (mL) Agitador B; 10 cm x 100 rpm 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Exper Calc 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Tempo (s) Figura 74-Curva experimental e resultados de regressão para 10 cm de imersão e 100 rpm; a= 41,15* e b = 651, agitador B. * valor de estabilização em rotação alta. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 97 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Volume titulado (mL) Agitador B; 10 cm x 120 rpm 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Exper Calc 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Tempo (s) Figura 75-Curva experimental e resultados de regressão, para 10 cm de imersão e 120 rpm; a=41,30 e b= 138, agitador B. Volume titulado (mL) Agitador B; 10 cm x 130 rpm 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Exper Calc 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Tempo (s) Figura 76-Curva experimental e resultados de regressão, para 10 cm de imersão e 130 rpm; a= 40,63 e b= 10, 69, agitador B. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 98 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Volume titulado (mL) Agitador B; 15 cm x 90 rpm 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Exper Calc 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Tempo (s) Figura 77-Curva experimental e resultados de regressão para 15 cm de imersão e 90 rpm; a= 41,15* e b= 2382, agitador B. * valor de estabilização em rotação alta. Agitador B; 15 cm x 100 rpm 50 Volume titulado (mL) 45 40 35 30 Exper Calc 25 20 15 10 5 0 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Tempo (s) Figura 78-Curva experimental e resultados de regressão para 15 cm de imersão e 100 rpm; a= 41,15* e b= 1392, agitador B. * valor de estabilização em alta rotação. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 99 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Agitador B; 15 cm x 120 rpm 50 Volume titulado (mL) 45 40 35 30 Exper Calc 25 20 15 10 5 0 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Tempo (s) Figura 79-Curva experimental e resultados de regressão, para 15 cm de imersão e 120 rpm; a=43,91 e b= 239, agitador B. Agitador B; 15 cm x 130 rpm 50 Volume titulado (mL) 45 40 35 30 Exper Calc 25 20 15 10 5 0 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Tempo (s) Figura 80-Curva experimental e resultados de regressão, para 15 cm de imersão e 130 rpm; a= 40,28 e b= 128,16, agitador B. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 100 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Agitador B; 15 cm x 150 rpm 50 Volume titulado (mL) 45 40 35 30 25 Exper Calc 20 15 10 5 0 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Tempo (s) Figura 81-Curva experimental e resultados de regressão, para 15 cm de imersão e 130 rpm; a= 39,61 e b= 48,20, agitador B. Agitador B 4,0 Ce AK / V 3,0 CeAK / V 10cm 2,0 CeAK / V 15cm 1,0 0,0 90 100 110 120 130 140 150 Rotação [rpm] Figura 82-Parâmetro CeAK/V em função de rotação e imersão do agitador B. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 101 5. Metodologia e Resultados Experimentais Dissertação de Mestrado Tabela IX-Parâmetro CeAK/V em função de rotação e imersão do agitador B rpm CeAK / V 10cm CeAK / V 15cm 90 0,0236 0,0173 100 0,0631 0,0296 120 0,2985 0,1834 130 3,7983 0,3143 0,8217 150 Nas duas profundidades os resultados sugerem um ganho relativo do agitador B em comparação com agitador A. A razão entre os parâmetros cinéticos CeAK/V, “agitador B/ agitador A” é apresentada na Figura 83 e evidencia este argumento. CeAK / V Impeller B / Impeller A 7 6 5 10 cm 15 cm 4 3 2 1 0 80 90 100 110 120 Rotação [rpm] 130 140 150 Figura 83-Razão entre parâmetros cinéticos, agitador B e agitador A. Os ganhos parecem, entretanto modestos, exceção feita de altas rotações e baixas profundidades de imersão. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 102 6. Conclusões 6. CONCLUSÕES 6.1 SOBRE A DESSULFURAÇÃO Dissertação de Mestrado Os baixos teores de enxofre em ligas de aço têm levado ao desenvolvimento de técnicas de dessulfuração que sejam eficientes e tenham baixo custo. A dessulfuração de gusa líquido é muito mais vantajosa que a dessulfuração em aço líquido. O uso de cal no processo de dessulfuração possui grandes vantagens devido ao baixo custo e segurança operacional. O uso se torna restrito quando a temperatura do gusa é baixa. O uso de fluorita junto à mistura torna-se quase inevitável devido a limitações de transporte de massa causado pela formação da carapaças nas partículas de cal. A dessulfuração de gusa em panela de transferência tem ganhado a preferência das grandes usinas, pela garantia de baixos teores no carregamento e pela vantagem de uso de um reator com forma mais adequada que o carro torpedo. O reator Kambara, mesmo sendo um equipamento simples, tem mostrado ser uma boa opção para quem deseja obter baixos custos operacionais com boa eficiência no processo de dessulfuração de gusa líquido. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 103 6. Conclusões 6.2 Dissertação de Mestrado SOBRE AGITAÇÃO E MISTURA Sistemas de mistura têm sido usados em muitas etapas industriais. Cada cenário exige um detalhado estudo para que a configuração do equipamento industrial atinja o objetivo desejado, onde podemos resumir: “máxima mistura em um menor tempo possível, consumindo o mínimo de potência por unidade de volume”. Os grandes problemas são: a) De 1 a 10 bilhões de dólares são perdidos anualmente devido a projetos de sistemas de mistura inadequados. b) Não existem métodos precisos para projeto de sistemas de mistura, c) Instrumentação e controle de sistema de mistura não são suficientes para analisar corretamente o funcionamento do processo. d) A realização de Scale-up (construção da máquina a partir do modelo de laboratório) e Scale-down (construção do modelo de laboratório a partir da máquina) necessitam de um ótimo conhecimento técnico e de uma boa dose de precaução. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 104 6. Conclusões 6.3 Dissertação de Mestrado SOBRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS O modelo físico em escala 1/7 foi construído obedecendo aos critérios de semelhança de uma planta industrial KR, onde: Similaridade Geométrica: Relações entre as dimensões são mantidas. Similaridade Cinemática: Processos onde as relações geométricas são mantidas e as razões entre as velocidades entre pontos correspondentes são as mesmas. Similaridade Dinâmica: Processos onde existe uma similaridade cinemática e a razão entre as forças entre pontos correspondentes são as mesmas. Foram usados dois modelos de agitadores onde são denominados “A e B”. 6.3.1 CÁLCULOS PRELIMINARES E LIMITE OPERACIONAL O experimento mostra claramente que valores de borda livre são menores quanto menores as profundidades de penetração do agitador, sendo o agitador A mais prejudicial a essa borda, isto é, o mesmo provoca uma maior elevação de líquido nas mesmas condições de rotação e profundidade de penetração do agitador. Existe uma vantagem no uso do agitador B, pois o mesmo permite maior segurança operacional, por minimizar a possibilidade de projeção de líquido para fora da panela, bem como pode permitir o uso de cargas maiores e permite também o aumento da velocidade de rotação do agitador para melhorar a eficiência do processo. 6.3.2 TEMPOS DE MISTURAMENTO A profundidade de penetração do agitador não determina com propriedade em eficiência de mistura. Agitadores mais imersos apenas acelerariam a mistura no fundo do reator, porém não é de tudo relevante. O que pode ser observado é que os dois agitadores possuem caracteristicamente de fluxos radiais de mistura, pois o ponto B do condutímetro é influenciado pela posição dos mesmos, o que mostra um fluxo preferencial no sentido radial. Como já esperado a velocidade de rotação do agitador contribui para um menor tempo de mistura, sendo que variam de 38 s a 17 s (agitador A) e de 33 s a 13 s (agitador B). Estes valores, modificados para refletir a situação na máquina industrial, REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 105 6. Conclusões Dissertação de Mestrado equação (13), não implicam em diferença significativa. Tempos de mistura na máquina industrial seriam da ordem de 0,5 a 1,5 minutos. Estes seriam uma fração do tempo típico de tratamento em um reator Kambara, cerca de 15 minutos, o que sugere que a macro-mistura não seria muito relevante ao controle do processo. Em função das restrições impostas pela borda livre (e desgaste do rotor, não avaliado) não existiria muita latitude para melhorar os índices de macro-mistura, isto é reduzir tempos de mistura. Restaria à possibilidade de atuar no que diz respeito às condições de turbulência junto às interfaces gusa/partícula, que definem a micro-mistura neste processo. Como citado anteriormente estas condições podem ser quantificadas, indiretamente, pelo coeficiente de película de transferência de massa. A literatura sugere (DAVIES) uma relação quase linear entre tal coeficiente e a velocidade do agitador, K α N 0, 75 . Deste modo o agitador B apresentaria vantagem comparativa por possibilitar maiores velocidades de rotação do agitador e, então, maiores taxas de transferência de massa. Usando a expressão C = C e ( AK V ) t podemos então admitir que o aumento no valor de A possa contribuir, ou seja, aumentando a área interfacial do agente dessulfurante para incremento na troca de espécies. Isso seria possível pela diminuição da granulometria do agente ao limite. Na prática essa diminuição deve ser avaliada para evitar perda de material pela exaustão do despoeiramento e pelo risco de aglutinação deste na superfície do gusa. 6.3.3 TRANSPORTE DE MASSA Nota-se, tanto o agitador A quanto o B, a forte influência da agitação e melhor desempenho para baixas imersões quando as velocidades são maiores. Este último dado reflete uma maior capacidade de emulsificação/dispersão atingida com baixa profundidade de imersão. Adicionalmente a dispersão se torna mais pronunciada a partir de 120 ~130 rpm. Nas duas profundidades os resultados sugerem um ganho relativo do agitador B em comparação com agitador A. Os ganhos parecem, entretanto modestos, exceção feita de altas rotações e baixas profundidades de imersão. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 106 7. Recomendações Dissertação de Mestrado 7. RECOMENDAÇÕES 7.1 ESTUDO DO KR VIA MODELAGEM FÍSICA SIMULANDO TROCA QUÍMICA SÓLIDO-LÍQUIDO O estudo do comportamento metalúrgico do KR pode ser mais bem avaliado se os estudos se estenderem às observações de micromisturas, simulando a troca química entre o gusa líquido e o agente dessulfurante sólido. Aspectos geométricos e/ou operacionais como forma, velocidade de rotação e profundidade do agitador influem no grau de dispersão do sólido e no estado de agitação do líquido na camada limite junto a cada partícula, porém quando é construído um modelo físico. A alguns aspectos de troca química do reator industrial podem ser realizados, porém, por se tratar de um modelo a frio do KR, essa troca química que ocorre entre um sólido (material de-S) e um material líquido (gusa) é então de difícil simulação A troca química na planta industrial ocorre e o material sólido permanece sólido. A troca iônica entre uma resina e solução aquosa pode ser utilizada para caracterizar, num modelo, o processo de transferência de massa na planta industrial, onde a troca iônica é observada entre uma resina que libera H+ e absorve em troca o Na+. No esquema abaixo se ilustra as fases dessa reação. Fase 1-Ocorre difusão do Na+ na superfície da resina Na+ Resina Água Na+ Resina Água REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 107 7. Recomendações Dissertação de Mestrado Fase 2-Reação de troca iônica na superfície da resina Na Resina H Fase 3-Ocorre difusão do íon H+ pela superfície da resina. Como resultado o pH da solução diminui. H+ Resina O fundamento conceitual desse experimento situa-se no fato de ser possível calcular kC , coeficiente de transferência de massa, através da equação de Harriott, HARRIOT (1962), a qual sugere que o pH decresce linearmente com o tempo. pH = pH 0 − AkC (t − t 0 ) V (R1) Onde: V é o volume do líquido; t é o tempo; A é a área total das partículas da resina; Essa equação, segundo o autor, somente é válida na parte linear da curva, correspondente aos primeiros instantes experimentais. Com o objetivo de prover a relação entre o pH e os princípios básicos da transferência de massa, uma nova equação pode ser derivada da equação R2. k C A ([ H *] − [ H ]) = −V d[H ] dt (R2) Onde (*) significa valores interfaciais, que podem ser aproximados como sendo os valores de toda solução, após um intervalo grande de tempo, quando a transferência de massa é cessada, isto é, equilíbrio. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 108 7. Recomendações Dissertação de Mestrado Integração da equação R3 com a separação das variáveis resulta em: t − ∫ t0 k C Adt = V [H ] d[H ] [ H *] − [ H ] [H 0] ∫ [ H *] − [ H k C A (t − t 0 ) = ln V1 [ H *] − [ H ] ] (R3) (R4) A concentração de hidrogênio nessa equação pode ser assim calculada pelo pH. PH = − log[ H ] Resultados experimentais indicam que a equação R4 seria aplicada somente para os períodos finais dos testes. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 109 7. Recomendações 7.2 Dissertação de Mestrado ESTUDO DO KR VIA MODELAGEM MATEMÁTICA Com já dito, parte do comportamento metalúrgico do reator KR pode ser creditada a “campos de velocidades”, desenvolvido no interior do mesmo. O modelo de simulação numérica (equação de Navier Stokes; modelo k-ε de turbulência) pode auxiliar na validação do modelo físico bem como auxiliar na busca de respostas de outras variáveis. Na Figura R1 temos um exemplo preliminar de um modelo matemático do KR. Figura R1-Exemplo de perfis de velocidade do KR via modelagem matemática REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 110 7. Recomendações 7.3 Dissertação de Mestrado MODELO CINÉTICO DO KR Sugere-se também a confecção de um modelo cinético de dessulfuração aplicável ao KR e a validação do mesmo, de encontro com dados industriais. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 111 8. Anexos Dissertação de Mestrado 8. ANEXOS 8.1 CONCEITO DE CAPACIDADE SULFÍDICA A reação de dessulfuração pode ser escrita como: Enxofre [metal]+oxigênio[escória] ÎEnxofre [escória]+oxigênio[metal] Por exemplo: S2(g)+2O= Î2S= + O2(g) = (A1) = 2S+2O Î2S + O (A2) Desde que a quantidade de oxigênio e enxofre dissolvidos estão relacionados através dos equilíbrios: S2(g)Î2S (A3) O2(g)Î2O (A4) Isto é, a reação A1 é a combinação linear das reações A2, A3 e A4. Portanto a Capacidade Sulfídica (CS) pode ser definida de várias maneiras, através dos equilíbrios A1 ou A2 ou qualquer outro equivalente. Assumindo equilíbrio em A1 e A2 PO2 .a S2= PS2 .aO2 = aO2 .aS2= 2 S 2 O= a .a P = K1 ou O2 PS 2 1 2 .a = = K1 12 .aO = C S S a 1 = K 2 ou O .aS = = K 2 2 .aO = C S, aS Note que o valor numérico de CS e C’S depende ainda dos estados de referência utilizados para medição das atividades envolvidas. Usualmente para oxigênio e enxofre dissolvidos no metal a referência escolhida corresponde a 1% em peso, o que fornece algo do tipo. f O .%O 1 .aS = = K1 2 .aO = C S, f S .% S Ainda seria possível incorporar o coeficiente de atividade do enxofre na escória à definição de Capacidade Sulfídica: REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 112 8. Anexos Dissertação de Mestrado 1 f O .[%O ] .γ S = .(% S ) = K 2 2 .aO = = C S, f S .[% S ] Onde: ( ) indica dissolvido na escória [ ] indica dissolvido no metal Então: K 2 2 .aO = f O .[%O ] .(% S ) = = C S" f S .[% S ] γ S= 1 Nota-se agora, que C S = " (A5) f O .[%O ] .(% S ) , então: f S .[% S ] a) Que quanto maior a CS”, maior a capacidade da escória em absorver enxofre, (%S); b) Para um valor fixo de CS” a quantidade de enxofre que a escória pode absorver, (%S), é tanto maior quanto menor for o teor de oxigênio no metal [%O]; 1 Por outro lado observa-se que a relação C = " S K 2 2 .aO = γS = envolve apenas variáveis relativas a uma dada escória, isto é, é função de temperatura, pressão e composição da escória, o que se toma conveniente do ponto de vista de tabulação de dados, desde que os dados do metal não precisem ser mencionados. Finalmente outra conveniência é que o coeficiente de partição pode ser obtido a partir da capacidade sulfídica f O .[%O ] (% S ) = CS" f S .[% S ] LS = (% S ) = f S . 1 .C " [% S ] f O [%O ] S REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 113 8. Anexos 8.2 Dissertação de Mestrado CONCEITOS GERAIS A Figura A1 apresenta uma curva de potência determinada para o reator Kambara da CST com Agitador B. O número de potência, obtido desta curva, permite estimar o consumo de energia correspondente a uma determinada operação. Três trechos da curva se sobressaem, sucessivamente, em função de valores crescentes do número de Reynolds: o relativo ao regime laminar, regime de transição e regime turbulento de mistura. Número de Potência versus Número de Reynolds Kambara Reactor. Agitado B - CST 1000 Np 100 10 1 1 10 100 1000 10000 100000 1000000 Re Figura A1-Curva de potência para misturador com Agitador B. Valores de massa específica e viscosidade do gusa podem ser encontrados nas Figuras A2, A3 e A4. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 114 8. Anexos Dissertação de Mestrado 2.55 %C 9 2.10 %C 8 Viscosidade cP 3.40 %C 7 0.75 %C 6 4.40 %C 5 1300 1400 1600 1500 Temperatura Figura A2-Viscosidade de ligas ferro-carbono. 8 Viscosidade cP 1400 C 7 1500 C 1450 C 1550 C 1600 C 6 5 0 1 2 3 4 % Carbono Figura A3-Viscosidade de ligas ferro-carbono REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 115 8. Anexos Dissertação de Mestrado 7.3 W Ni Mn 7.1 Cr P g/cm3 6.9 6.7 C Si 6.5 6.3 0 2 4 6 8 10 % do elemento de liga Figura A4-Massa específica de ligas ferrosas. Considerando então os valores médios: Massa específica: 6000 kg/m3; Viscosidade: 6 x 10-3 Pa.s,; Diâmetro do agitador A: 1,5 m; Velocidade de rotação: 100 rpm (1,6 Hz) a 150 rpm ( 2,5 Hz) Pode-se estimar o Número de Reynolds N R = D2 N ρ η entre 3,7 x 106 e 5,6 x 106, o que caracteriza regime de mistura turbulento. Por outro lado os valores pertinentes ao modelo seriam: Massa específica: 1000 kg/m3; Viscosidade: 1 x 10-3 Pa.s ; Diâmetro do agitador A: 0,21 m; Velocidade de rotação: 80 rpm (1,3 Hz) a 150 rpm (2,5 Hz). Pode-se facilmente mostrar que o modelo foi operado também em regime turbulento. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 116 9. Referências Bibliográficas 9. Dissertação de Mestrado REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDO, R.; Kamoshida, T. Desulphurization Process Using an Impeller With a Guide Plate, Metallurgical Transactions ISIJ, vol. 15, 1975, pg. 606-612. COULSON, J.M., Richardson, Backhurst J.F., Harker, J.H., Chemical Engeneering, Volume 01, 4th Edition, Pergamon Press, 1990. DARKEN, L.S., Gurry R. W., Physical Chemistry of Metals, McGraw-Hill Books, Company, Inc., 1987. pg 359. DAVIES, J.T., Turbulence Phenomena, Academic Press, 1972 FINARDI, J., Revisão dos Processos e dos Reagentes para Dessulfuração de Ferro Líquido, Conferência Internacional sobre Dessulfuração e Controle de Inclusões da ABM. Volta Redonda, RJ, 1997, pg 19-90 HARRIOT, P., AICHE Journal, 8, 93, 1962. IKEDA, T.; Matsuo, T.; The Dephosphorization of Hot Metal Outside the Steelmaking Furnace, Metallurgical Transactions ISIJ, vol. 22, 1982, pg. 495-503. IWAMASSA, P., K.; Fruehan, R., J.; Effect of FeO in Slag on The Desulfurization of Hot Metal Steelmaking Conference Proceedings, Iron and Steel Society, Nash Ville Meeting, TN,1995, Vol 78, pg 191-197. KIM, S., H.; Fruehan, R.J.; Guthrie, R.I.L. Physical Model Studies of Two Phase Mass Transfer in Gas-Stirred Ladles, Steelmaking Conference Proceedings, Iron and Steel Society., Vol 70, 1987, pg 107-117. KRESTA, S., M.; Paul, E., L.; Atiemo-Obeng, V., A.; Handbook Of Industrial Mixing - Science and Practice.John Wiley & Sons, Inc. 2004, pg 564. NIEDRINGHAUS, J. C.; Fruehan, R. J.; Reaction Mechanism for the CaO-Al and CaO-CaF2 Desulfurization of Carbon-Saturated Iron, Steelmaking Conference Proceedings, Iron And Steel Society, Pittsburgh Meeting, PA,1987, Vol 70, pg 319320. NIPPON STEEL, Nippon Steel KR Dessulphurization Process, Anual Report 2000 NKK, Corporation; Mecha-Stir: Mechanical Stirring de-Sulfurization System With Impeller, Anual Report 1999 ORTON, J.P. ; The Importance of Low Sulphur on Processing and Properties of Steel, The Steel Company of Canada, Limited, Hamilton, Ontario, Canada, 1974, pg 14. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 117 9. Referências Bibliográficas Dissertação de Mestrado OHYA, T.; Kodama, F.; Matsunaga, H.; Motoyoshi, M.; Higashigushi, M.; Dessulfuration of Hot Metal with Burnt Lime , Steelmaking Proceeding, vol 60, 1977, pg 345. PAUL WURTH, Proposta Técnica Consolidada apresentada a CST- Arcelor Brasil para fornecimento de Planta KR, 2003. RIBOUD, P., Vasse, R.; Desulfuration de Lácier em poche: Synthese dês Resultats Theoriques et Industriels; Revue de Metallurgie –CIT, nov 1985, pg 801810 SAXENA, S.K., Mechanism of Sulphur Removal in Hot Metal by Using Soda, Lime, Calcium Carbide and Magnesium Based Reagents, Conferência Internacional sobre Dessulfuração e Controle de Inclusões da ABM. Volta Redonda, RJ, 1997, pg 135-162. SHIELDALLOY, Sulfur General Discription, Shieldalloy Metallurgical Corporation ,2001, Disponível:www.shieldalloy.com. Acesso em 21/10/2004 SILVA, A.C. & Silva, I. A., Estudo Comparativo do Pré-Tratamento do Gusa Líquido em Reatores Diversos: Carro Torpedo vs Reator Kambara, Projeto de Pesquisa Apresentado à FAPEMIG, 2002 SILVA, C.A., Seshadri, V, Silva, I.A.,Leão, V.A., Fernandes, D.C., Souza, I.A., Optimization of The Pig Iron Desulfurization Inside a Torpedo Car by Physical Modeling Techniques, The Minerals, Metals & Materials Society, EPD Congress 2005 SILVA, I.A, Silva, C.A., Seshadri, V., von Kruger, P; A Kinetic Model Applied to Molten Pig Iron Desulfurization by Injection of Lime-Based Powder, ISIJ International, Vol 37, no 1 , 1997, pg 21-30 SILVA, Y, I A.; Estudo Físico-Químico da Dessulfuração do Gusa, Dissertação de Mestrado, CPGM/IFMG, 1976, pg 11. SPOGIS, N. Metodologia para Determinação de Curvas de Potência e Fluxos Características para Impelidores Axiais, Radiais e Tangenciais Utilizando a Fluidodinâmica Computacional, Dissertação de mestrado, Unicamp, 2002, pg 1320, 71-75, 103. TAKANO, C., Termodinâmica de Cinética no Processo de Dessulfuração de Ferro e Aço, Conferência Internacional sobre Dessulfuração e Controle de Inclusões da ABM. Volta Redonda, RJ, 1997, pg 1-18. VIANA, J. F.;Costa, S. L. S; Prenazzi, A.; Lee, D.; Hot Metal Desulfurization by CaO-Mg Co-Injection in Usiminas Steel Shop 02, Steelmaking Conference Proceedings, Iron And Steel Society, Chicago, Illinois,1999, Vol 82, pg 21-24. WILSON, G. W.; McLean, A.; Dessulfurization of Iron and Steel and Sulfide Shape Control, The Iron & Steel Society of AIME, Warrendale, USA,1980, pg 1-41. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 118 9. Referências Bibliográficas Dissertação de Mestrado ZHAO,Y. F; Irons, G. A; The Effect of Oxygen on Hot Metal desulphurization, Steelmaking Conference Proceedings, Iron And Steel Society, Dallas Meeting, TX,1993, Vol 76, pg 69-80. REDEMAT: UFOP-CETEC-UEMG Página 119