A política econômica e os sacrifícios impostos à população MIGUEL ÂNGELO CANÇADO O s jornais têm estampado nos últimos dias notícias e comentários sobre os impressionantes resultados que o sistema bancário vem alcançando no Brasil. Segundo apontam as matérias jornalísticas, os lucros dos bancos têm atingindo recordes históricos ao longo dos últimos três anos, período em que o custo das tarifas bancárias e das taxas de juros dispararam. Estes fatos refletem uma situação de todos conhecida: a política econômica em vigor, que em nada se diferencia da implantada no Governo FHC, privilegia a banca nacional, em detrimento do setor produtivo. Por outro lado, os mesmos jornais e noticiários dão conta dos protestos dos produtores rurais e de outros setores da economia pela falta de investimentos e, principalmente, em razão das elevadíssimas taxas de juros a que estão submetidos. Ainda agora os setores de prestação de serviços e transportes se voltam contra mais um escorchante aumento da carga tributária, decorrente da edição, no final do ano passado, da Medida Provisória 232. Segundo estudo recente da Consultoria Ernest & Young, a carga tributária brasileira teve aumento real de 28,62% nos últimos quatro anos, sufocando, cada vez mais a classe média brasileira e as atividades produtivas. Enquanto isso os bancos vêem seus lucros crescerem em proporções nunca imaginadas para um governo que, a rigor, é dos "trabalhadores" e ao cidadão-contribuinte tem sido transferido o sacrifício de pagar a conta. É fato notório que a sociedade vai perdendo a cada dia seu poder de compra, e alguns até a capacidade de subsistência e, com isso, a parcela de excluídos do bolo social vai chegando a níveis absolutamente preocupantes. Curioso notar que, apesar de tudo, o presidente Lula, com seu inegável carisma, e a despeito da sua incontida verborragia, continua conseDe nada adianta o anunciado janela guindo se manter com a popularidade em crescimento econômico se tais alta, enquanto seu goresultados não representam verno não tem sido avanço social, com benefícios bem avaliado pelo para o conjunto da população povo brasileiro. É pena que o Chefe da Nação não consiga JANEIRO/MARÇO 2005 catalisar e capitalizar toda sua popularidade e aprovação para mostrar à sociedade que o tal espetáculo do crescimento ainda virá para todos e não só para o sistema financeiro nacional, como se tem visto desde o início da atual administração. O golpe mais recente desferido pelo governo federal sobre a sociedade brasileira veio materializado na já mencionada Medida Provisória 232, que alguns dizem ter sido publicada no ‘‘trigésimo segundo do mês’’ de dezembro de 2004. É óbvio que a matéria versada naquela MP não preenche os requisitos da urgência e relevância fixados como requisitos pelo texto constitucional, o que demonstra que a fúria arrecadatória está acima até mesmo das normas constitucionais. Era dispensável que tivesse sido reajustada a tabela do imposto de renda, no entanto, o reajuste previsto na MP 232 contém um gosto amargo. De nada adianta o anunciado crescimento econômico se tais resultados não representam avanço social, não trazem aceleração das atividades produtivas, assim como não retratam crescimento efetivo no nível de emprego, e, nem muito menos, refletem uma melhor distribuição de riqueza de modo a completar a parcela mais carente da sociedade. A política econômica do atual janela governo em nada se diferencia da administração anterior, privilegiando a banca nacional em desfavor do setor produtivo Miguel Âng elo Cançado Ângelo é presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - Secção de Goiás (OAB-Goiás) ECONOMIA & DESENVOLVIMENTO 89