INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FUNORTE / SOEBRÁS Respiração Bucal e suas Alterações de Crescimento e Desenvolvimento OTAVIO MACHADO CINTRA Monografia apresentada Especialização em ao Ortodontia Programa do ICS de – FUNORTE/SOEBRÁS NÚCLEO RIBEIRAO PRETO, como parte dos requisitos para obtenção do titulo de Especialista. RIBEIRÃO PRETO, 2011 II INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FUNORTE / SOEBRÁS Respiração Bucal e suas Alterações de Crescimento e Desenvolvimento OTAVIO MACHADO CINTRA Monografia apresentada Especialização em ao Ortodontia Programa do ICS de – FUNORTE/SOEBRÁS NÚCLEO RIBEIRAO PRETO, como parte dos requisitos para obtenção do titulo de Especialista. ORIENTADOR: PROF. Oscar de Carvalho Junior RIBEIRÃO PRETO, 2011 2 Otavio Machado Cintra Monografia do curso de especialização em Ortodontia com o título: Respiração Bucal; aprovada no dia 07 de outubro pela Banca Examinadora: _______________________________________ Orientador: Prof. Dr. Oscar Carvalho Junior ________________________________________ Prof. Dr. Gelson Armando ________________________________________ Prof. Dr. Rogério Schmidt Armando Ribeirão Preto,07 de outubro de 2011 III DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais, Antonio Aparecido Cintra e Iolanda Machado Cintra que em nenhum momento medirão esforços para realização dos meus sonhos e a Deus, visto que sem ele nada é possível. IV PENSAMENTOS ‘’Hoje é tempo de ser feliz ! A vida é fruto da decisão de cada momento.Talvez seja por isso, que a idéia de plantio seja tão reveladora sobre a arte de viver. Viver é plantar.È atitude de constante semeadura, de deixar cair na terra de nossas existência as mais diversas formas de sementes. Cada escolha, por menos que seja, é uma forma de semente que lançamos sobre o canteiro que somos.Um dia, tudo o que agora silenciosamente plantamos, ou deixamos plantar em nós será plantação que poderá ser vista de longe ...’’ Padre Fábio de Melo V AGRADECIMENTOS A Deus, Aos meus pais Antonio Aparecido Cintra e Iolanda Machado Cintra Pelo apoio, compreensão, ajuda, e por todo carinho ao longo deste percurso. Aos meus amigos e colegas de curso, Ao professor Oscar de Carvalho Junior Pela orientação deste trabalho. VI SUMÁRIO Resumo....................................................................................................................VIII Abstract......................................................................................................................IX 1. Introdução ..............................................................................................................1 2. Revisão da literatura...............................................................................................2 2.1 Respiração bucal...............................................................................................2 2.2 Etiologia da respiração bucal.............................................................................3 2.3 Incidência...........................................................................................................7 2.4 Alterações da face.............................................................................................7 2.4.1 sistema estomatognático..........................................................................7 2.5 Alterações craniofaciais.....................................................................................9 2.6 Funções realizadas pelos órgãos fonoarticulatórios.........................................11 2.6.1 Respiração..............................................................................................11 2.6.2 Mastigação..............................................................................................12 2.6.3 Deglutição...............................................................................................13 2.7 Tratamento........................................................................................................14 VII 2.8 Exame clínico....................................................................................................15 2.9 Diagnóstico radiográfico ..................................................................................15 2.10 Oclusão..........................................................................................................16 3. Proposição.............................................................................................................18 4. Discussão..............................................................................................................19 5. Conclusão..............................................................................................................21 6. Referências bibliográficas......................................................................................23 VIII RESUMO Sabe-se que a função respiratória tem um papel importantíssimo no desenvolvimento crâniofacial. A respiração nasal é o modo fisiológico de introduzir o ar nos pulmões. A passagem de ar pela cavidade nasal permite o aquecimento, a umidificação e a filtragem do ar inspirado, favorecendo desse modo, a troca gasosa nos pulmões e a oxigenação do organismo. A respiração alterada, seja nasobucal ou totalmente bucal, afeta o crescimento craniofacial quando ocorre em períodos de crescimento, além da qualidade do ar que chega aos pulmões. O tratamento da respiração bucal deve ser interceptado o mais precoce possível, visto que a gravidade das alterações craniofaciais é devidamente proporcional a duração do hábito. Palavras-chave: respirador bucal. Respiração bucal; Crescimento craniofacial; Síndrome do IX ABSTRACT The respiratory function plays a very important role in the craniofacial development. The nasal breathing is the physiological way to introduce air into the lungs. The air way through the nasal cavity allows heating, humidity and the filtering of inhaled air, improving the gaseous exchange in the lungs and the organism oxygenation. The altered breathing, being oral-nasal or totally oral, interferes in the craniofacial growth, when it occurs in growing periods, besides the quality of the air that reaches the lungs. The treatment of the mouth breathing should be detected as early as possible. Craniofacial seriousness is properly proportional to the duration of the habit. Word-key: Buccal breath; Craniofacial growth; Syndrome of the buccal respirator. 1 1 INTRODUÇÃO A respiração nasal é uma condição vital para o ser humano desde seu nascimento, por isso alterar o padrão respiratório e adquirir uma respiração bucal de suplência é uma adaptação funcional que acarreta modificações não só nos órgãos e aparelhos diretamente envolvidos, mas também na dinâmica corporal como um todo. A partir do momento em que ela é dificultada, instala-se um mecanismo compensatório em toda a estrutura facial alterando toda a sua fisiologia. A respiração bucal deve ser considerada uma condição patológica e não um processo fisiológico, portanto indivíduos que respiram pela boca podem ser definidos como respiradores orais conforme descrito por COELHO-FERRAZ (2005), porém, outros definem essa ocorrência como Síndrome do Respirador Bucal (FERREIRA, 1998). A respiração nasal é a maneira fisiológica de introduzir o ar nos pulmões. A passagem pela cavidade nasal permite o aquecimento, a umidificação e a filtragem do ar inspirado, favorecendo desse modo, a troca gasosa nos pulmões e a oxigenação do organismo (CARVALHO, 1996). Conceitua-se como respirador bucal, todo indivíduo que ao realizar o processo de respiração se utiliza da boca (MORAES, 1999). Uma vez alterada a forma da respiração, o organismo sofre uma série de alterações para poder se adaptar a esta nova situação imposta. As alterações ocorrem em vários segmentos e sistemas do organismo, as quais podem trazer sérias conseqüências se não revertidas precocemente, pois, geralmente, acometem crianças no período de desenvolvimento (FERREIRA, 1998). Diante deste quadro, considera-se o Respirador Bucal como um paciente especial, pois, requer atenção individualizada e multidisciplinar, visto que através de um diagnóstico preciso irá se estabelecer a melhor conduta e abordagem terapêutica. 2 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 RESPIRAÇÃO BUCAL CARVALHO (1996) diz que o padrão correto de respiração é nasal e quando, por diferentes motivos, tal padrão é substituído por um padrão somente bucal ou misto, tem-se um paciente chamado respirador bucal. Diante das alterações devidas à da respiração bucal, pode-se classificar tais pacientes como portadores da “Síndrome do Respirador Bucal”, as alterações podem ser agrupadas em: Alterações craniofaciais e dentárias, que consistem em crescimento craniofacial predominantemente vertical, desvio de septo, mordida cruzada, protrusão dos incisivos superiores, palato inclinado, microrrinia com menor espaço na cavidade nasal e hipodesenvolvimento dos maxilares; Alterações dos órgãos fonoarticulatórios, que consistem em hipotrofia, hipotonia e hipofunção dos músculos elevadores da mandíbula, hipofunção dos lábios e bochechas, lábios ressecados e rachados, lábio superior retraído e inferior invertido, gengivas hipertrofiadas, anteriorização da língua e propriocepção bucal; Alterações das funções orais: que consistem em mastigação ineficientes, levando a engasgos pela incoordenação da respiração com a mastigação e problemas digestivos, deglutição atípica, fala imprecisa com excesso de saliva, voz rouca e anasalada; Outras alterações possíveis são as sinusites e as otites freqüentes, halitose e diminuição do paladar e do olfato, alteração do apetite, sede constante, sono perturbado, dificuldade de atenção e concentração, gerando dificuldades escolares em crianças, olheiras, “olhar cansado”, diminuição da audição e assimetria facial visível. (MARCHESAN, 1998). Sendo a respiração nasal uma função fisiológica, ela é necessária para que as estruturas orofaciais mantenham-se e desenvolvam-se saudavelmente. Quando há uma modificação nesta situação, a natureza irá desencadear, por um princípio de sobrevivência, um padrão de respiração bucal (ARAGÃO, 1998). 3 Quando a respiração é realizada pela boca, traz uma série de alterações ósseas e musculares especialmente durante a fase de crescimento da face. Dentre as alterações citam-se as seguintes: otites, alterações da forma do nariz, alterações oclusais, olheiras, lábios, língua e bochechas hipotônicas, alterações da fala, rendimento físico diminuído (MARCHESAN, 1998). A respiração bucal traz conseqüências nocivas também de ordem escolar, uma vez que com a diminuição da oxigenação do sistema nervoso central (SNC), freqüentemente há um déficit de atenção que prejudica o desempenho da criança na escola (OLIVEIRA, 1999). Este autor concluiu ainda que a respiração bucal traga repercussões em todo o organismo. Na cavidade oral ocorre desidratação da mucosa oral, hiperemia, hipertrofia gengival, mudança no posicionamento dos incisivos e maior incidência de cáries. Há ainda maior incidência de otites crônicas, rinites e sinusites. Na faringe, há a hipertrofia das tonsilas faríngeas (adenóides). No pulmão há diminuição das trocas gasosas no alvéolo pulmonar com conseqüente hipóxia. No SNC, a apnéia noturna leva à redução do sono causando sonolência, diminuição da capacidade de memória e de concentração. A digestão se torna mais difícil pela deglutição rápida do bolo alimentar, levando à alterações no funcionamento do aparelho digestivo. A musculatura se torna hipotônica, hipotrófica, com freqüente astenia. Há uma alteração da curvatura da coluna vertebral, por alterações de postura adotadas pelo respirador bucal. Segundo GODOY et al. (2000), respirador bucal é o indivíduo que, por alguma causa, altera o seu padrão respiratório de nasal para bucal, acarretando mudanças não só nos aparelhos envolvidos com a respiração, como também, alterações miofuncionais que modificam o eixo corporal e sua dinâmica. 2.2 ETIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO BUCAL MCNAMARA (1981) se propôs a explorar a relação entre a obstrução aérea superior e o crescimento crânio-facial. O autor descreveu uma revisão preliminar da literatura e um estudo realizado por ele em crianças do hospital de Pittsburg. Neste 4 estudo, indicou a configuração esquelética e dental, as quais estariam relacionadas com a obstrução aérea superior e as trocas significativas nos padrões de crescimento facial, que foram observadas após a remoção da obstrução. Avaliando ainda quatro casos clínicos, o mesmo autor ilustrou o potencial de interação entre alterações na função respiratória e o padrão de crescimento crâniofacial. Os quatro casos clínicos foram representativos de um tipo de problema facial: o aumento do ângulo do plano mandibular, o qual tinha sido associado à respiração bucal individual. O autor reconheceu o fato de existirem muitas outras manifestações de problemas ambientais da obstrução aérea superior. O leite materno é considerado o melhor alimento para o recém nascido, além dos benefícios nutricionais, imunologicos e emocionais, o aleitamento materno promove a saúde do sistema estomatognático. É um estimulo que propicia o correto estabelecimento da respiração nasal, e o desenvolvimento normal de todo o complexo craniofacial (CARVALHO , 1995). A introdução de artifícios como mamadeiras e chupetas leva ao desinteresse pelo aleitamento materno e ao desmame precoce, o que, conseqüentemente, favorece desequilíbrios funcionais do sistema estomatognático. O desmame precoce, com a introdução de aleitamento não-materno e outros alimentos "substitutivos", favorece a instalação de hábitos orais deletérios de sucção, como a sucção digital e/ou chupeta e hábitos de mordida, como o bruxismo cêntrico ou excêntrico. BARBOSA e SCHNONBERGER (1996). De acordo com CARVALHO (1996) os respiradores bucais assim se classificam, considerando a etiologia: Respirador bucal orgânico: este paciente apresenta obstáculos mecânicos que podem ser nasais, retronasais e bucais. Tais obstáculos são diagnosticados clínica e radiograficamente. São exemplos a estenose nasal e a atresia maxilar, o retrognatismo, alteração de tônus, postura, tamanho da língua e outros. Pode-se citar ainda a aptose lingual ou glossoptose provocada pela atresia mandibular. Respirador bucal funcional: geralmente, estes pacientes já foram submetidos à tonsilectomia e também amigdalectomia, mas ainda respiram pela 5 boca, mesmo tendo o trato respiratório superior absolutamente permeável. Fazem partes, quadros catarrais repetitivos, característicos das rinites alérgicas. Respirador bucal neurológico ou impotentes funcionais: são pacientes que desencadeiam o quadro alterado de respiração por disfunção neurológica. Muitos desses quadros estão acompanhados de alterações psiquiátricas. MOCELLIN 1994 (apud MORAES, 1999) identificou as inúmeras patologias que levam à respiração bucal, classificando-as de acordo com a faixa etária. No recém nascido, podemos encontrar as seguintes patologias: atresia de coana e tumores nasais. A atresia da coana caracteriza-se pelo fechamento bilateral ou unilateral da parte posterior do nariz por uma membrana mucosa ou placa óssea. Os tumores nasais têm-se como exemplo: os cistos dermóides, hemangiomas e os neurogênicos (gliomas e encefaloceles). Na infância, encontram-se as seguintes patologias: hipertrofia das vegetações adenóides, hipertrofia amigdaleana, rinite alérgica, desvio de septo nasal, fratura nasal, corpos estranhos e rinite vestibular. Na puberdade, têm-se como patologias: angiofibroma juvenil, pólipo nasal, rinite medicamentosa, desvio de septo nasal, rinite alérgica, hipertrofia das vegetações adenóides e hipertrofia amigdaleana. Nos adultos, encontram-se como causas: rinite alérgica, pólipo nasal, desvio de septo, rinite medicamentosa e os tumores. SOUSA (1999) refere ainda, a hipotonia de musculatura elevatória da mandíbula, postura viciosa e inflamação da membrana nasal, entre outras descritas abaixo: Hipertrofia das vegetações adenóides, é sem dúvida a grande causadora da obstrução nasal. Consiste no aumento do tecido linfóide existente na rinofaringe, com o fechamento ou diminuição do espaço para a passagem da coluna de ar. Hipertrofia amigdaleana, as amígdalas palatinas estão tão aumentadas que os pólos superiores se comprimem na região da úvula, causando obstrução nasal e dificuldade respiratória. Rinite alérgica: depois da hipertrofia das vegetações adenóides, é a causa mais freqüente de obstrução nasal. Caracteriza-se por obstrução nasal, rinorréia (rinite), crises esternutatórias (espirro) e prurido nasal interno. 6 Desvio de septo nasal: a luxação no parto, o aprendizado para andar, as brincadeiras e o esporte são causas de traumatismo nasal, com conseqüente desvio de septo. Rinite vestibular: infecção na região dos pêlos da fossa nasal é muito comum, pois as crianças têm hábito de colocar o dedo no nariz, provocando infecções. Pólipo nasal: é uma massa única ou multilobulada que se forma na fossa nasal, com o crescimento progressivo da obstrução. Hipotonia de musculatura elevatória de mandíbula: por causa da alimentação pastosa, levando à boca aberta e língua mal posicionada. Postura viciosa: o paciente simplesmente permanece com a boca aberta, sem muitas vezes perceber isso, não existindo nenhum obstáculo mecânico ou funcional para a respiração nasal. Segundo PETRELLI 1992 (apud MARINS, 2001), como causas possíveis da respiração bucal, poderiam-se considerar: rinite alérgica, hipertrofia das adenóides, infecções repetitivas das vias aéreas superiores, má oclusão dentária, desvio de septo nasal, traumas faciais, hipertrofia das estruturas dos cornetos nasais, pólipos nasais, amigdalites, abscesso e tumores nasais. Aos três anos de idade e durante a adolescência, há possibilidade da obstrução nasal desaparecer pelo fato da diminuição do tamanho das adenóides e crescimento da passagem aérea (MARINS, 2001). Segundo VINHA (2002), a principal causa da respiração bucal é o uso da mamadeira, seja este complementar ao aleitamento materno ou em substituição, o que é mais prejudicial. Justifica esta causa referindo que a mamadeira causa deformações nos ossos da boca, impedindo que a pessoa consiga respirar corretamente pelo nariz, o que determina a instalação da respiração bucal. A amamentação natural favorece o funcionamento do sistema respiratório, promovendo o estímulo adequado para a respiração nasal. A dinâmica da sucção da mama promove o correto selamento dos lábios e a tonificação da língua. Desta 7 forma, a falta de amamentação e o desmame precoce são fatores predisponentes à respiração bucal. 2.3 INCIDÊNCIA MARCHESAN (1998) afirma também como causa da respiração bucal a alimentação pastosa, que causa hipotonia da musculatura elevadora da mandíbula. Para VINHA (2002), a Síndrome do Respirador bucal atinge bebês, crianças e adultos indistintamente, com maior concentração em grandes centros urbanos e em países desenvolvidos. 2.4 ALTERAÇÕES DA FACE 2.4.1 Sistema estomatognático BIANCHINI (1995) descreve que este sistema tem como componentes: ossos maxilares e mandíbula, articulações tempomandibulares, dentes, vários músculos, dentre eles os músculos da língua, lábios e bochechas, nervos e vasos sangüíneos que controlados pelo sistema nervoso central, desenvolvem as funções de sucção, respiração, mordida, deglutição e fala. Estas estruturas agem de forma conjunta de maneira que se existe uma desordem em qualquer uma delas, haverá um desequilíbrio generalizado. O sistema estomatognático é formado por um conjunto de estruturas bucais que desenvolvem funções comuns. O nome gnático (vem do grego gnatos que significa mandíbula). Assim como todo sistema utiliza-se de caracterização própria, como também traz íntima relação com as funções de outros sistemas, por exemplo, o circulatório e o sistema nervoso. A influência do sistema estomatognático, tanto no estado saudável como no patológico, envolve o funcionamento de sistemas como o digestivo, o respiratório, o metabólico-endócrino e outros (MARCHESAN, 1998). 8 O mesmo autor propõe que estes componentes se classificam em dois grupos: a) Estruturas estáticas ou passivas Recebem esta classificação as estruturas ósseas, tais como: Arcos osteodentários; Maxila e mandíbula; Articulação Temporo-mandibular (ATM); Ossos cranianos e osso hióide. b) Estruturas dinâmicas ou ativas Estão representadas pela unidade neuromuscular que mobiliza as partes estáticas mais susceptíveis de serem mobilizadas, como a mandíbula e o hióde. Classificam-se em: Músculos mastigatórios, que agem sobre a mandíbula; Músculos supra e infra-hiódeos, que atuam sobre o hióde; Músculos cervicais que mantém a posição cervical adequada para as funções estomatognáticas; Músculos linguais, que são parte fundamental de qualquer das funções bucais. SOUSA (1999) complementa que estas estruturas estáticas e dinâmicas interligadas formam um sistema com características próprias que tem uma unidade morfofuncional localizada na cavidade oral. Este autor ressalta que é necessário considerar que o sistema estomatognático sob o ponto de vista funcional está constituído por quatro elementos básicos: Sistema neuromuscular; Periodonto; Articulação temporomandibular; Superfícies e pressões oclusais. Estes elementos básicos, de acordo com suas propriedades funcionais e seus sistemas específicos de controle, atuam separadamente. Tendo, no entanto, a necessidade de estarem interrelacionados harmonicamente, para assim 9 determinarem o equilíbrio do sistema e a homeostase estomatognática. O sistema estomatognático está presente no contexto morfofuncional da face. Utilizando-se obviamente de elementos ósseos, dentários e neuromusculares para o exercício de suas funções de modo integrado e sinérgico. Dando início na dinâmica do ato de sucção, dinamizando no lactente toda a cadeia neuromuscular estomatognáticofacial. O mesmo autor refere que se sabe também que o aparelho estomatognático está em ampla e total interrelação com os componentes da face, pela relação de contigüidade anatômica, como também pela ação do feedback entre o aparelho mastigatório e o sistema respiratório. 2.5 ALTERAÇÕES CRANIOFACIAIS Conforme descrito por MOYERS (1991), argumentando o papel da função neuromuscular no crescimento do esqueleto crâniofacial que está cada vez em maior evidência, sabendo-se que fatores como o crescimento dos músculos, sua migração e inserção, variação na função neuromuscular e funcionamento anormal influenciam marcadamente a forma de crescimento crâniofacial. A partir de radiografias cefalométricas padronizadas da cabeça é que o desenvolvimento do esqueleto craniofacial foi amplamente investigado. MARCHESAN (1998) descreve que o crescimento do crânio é lento e muda até a terceira década da vida. No recém nascido, o pescoço e a cabeça ocupam 50% do tamanho total do corpo, 25% no primeiro ano de vida e 18% na adolescência. O esqueleto facial após o primeiro ano de vida cresce consideravelmente mais em relação ao crânio. O tamanho e a forma do esqueleto crâniofacial são determinados pela ação dos tecidos relacionados interna e externamente a ele. Por sua vez, a parte dominante, as matrizes responsáveis pelo crescimento do complexo ósseo craniofacial são as funções digestivas, respiratórias, visuais, olfatórias, auditivas, bem como as relacionadas com a fala e equilíbrio, e até as cavidades nasais. Ao sustentar essa teoria, afirma que os ossos são muito 10 dinâmicos e se desenvolvem devido a fatores internos, externos, como a respiração, e principalmente com a musculatura. O autor afirma que os fatores etiológicos que podem ocorrer são múltiplos e difíceis de separar. Ele classifica em psicológico, dental, sistêmico, profissional e idiopático. Acredita, porém, que os fatores dentais como tipo de oclusão, posição do dente, mobilidade do dente, padrões de movimento mandibular, morfologia dental e restaurações dentárias, desempenham um papel predominante. Através de uma adaptação da disposição estrutural e do crescimento progressivo dos diferentes ossos craniofaciais, é que se dá um sistema de equivalência de região a região. A característica de simetria de todo o corpo é um exemplo simples do princípio de equilíbrio equivalente (FERREIRA, 1998). Contudo, revisou-se informações sobre fatores miofuncionais como hábitos orais negativos, respiração bucal, posição incorreta da língua na deglutição e outros comportamentos que se mostraram fatores que afetam a dentição e o crescimento facial. JUNQUEIRA (2000) relata que o recém nascido tem a mandíbula pequena e retraída. Desta maneira, os movimentos que ele realiza, com a mandíbula e músculos da face, para extrair o leite materno favorecem e são os grandes responsáveis pelo crescimento da mandíbula, proporcionando uma posição ideal para o surgimento dos dentes. BAPTISTA e TENÓRIO (2000) acrescentam outros fatores determinantes como: genéticos, epigenéticos, ambientais, idade, velocidade, direção e quantidade de crescimento. Atualmente, são discutidas várias teorias que introduzem os conceitos importantes sobre o controle de crescimento craniofacial: 1- A teoria de Sicher: acredita que o crescimento se dá na região das suturas. 2- Teoria de Scott: o crescimento inicia nas áreas cartilaginosa do côndilo, nas sincodroses e no septo nasal. 3- Teoria de Moss: caracterizado pelo domínio das Matrizes Funcionais. 4- Teoria de Hunters e Enlow: o crescimento dos terço médio é inferior da face, segue o princípio do “V”em expansão. 11 5- Teoria de Krogman: desenvolveu uma tabela de interpretações complementares entre “remodelação” e “matriz funcional” numa espécie de comparação tabular. (BAPTISTA; TENÓRIO, 2000). Crescimento refere-se a um aspecto quantitativo, um aumento do número de células e de volume, em harmonia. Acontece em zonas distintas e em diferentes graus (BIANCHINI, 2002). A autora relata ainda que o crescimento e o desenvolvimento crâniofacial são suscetíveis às variáveis: hereditariedade, nutrição, doenças, etnia, sexo, fatores sócio-econômicos e alterações funcionais. 2.6 FUNÇÕES REALIZADAS PELOS ÓRGÃOS FONOARTICULATÓRIOS Embora sejam várias as funções que as partes moles e duras dos órgãos fonoarticulatórios podem realizar, limitar-se-á, a abordar a respiração, a mastigação, a deglutição e fonação (PETRELLI, 1994). 2.6.1 Respiração Os seres humanos nascem respirando pelo nariz e, a não ser que ocorram impedimentos mecânicos, assim continuará até a morte. Isto significa que ao encontrar-se com um paciente com respiração oral necessita compreender o porquê ele não realiza esta função de forma normal. Deve-se lembrar que, a maior parte das vezes, a respiração não é puramente bucal, mas sim mista, isto é, dá-se pelo nariz e pela boca. As causas mais freqüentes de uma respiração inadequada referem-se a problemas mecânicos (DOUGLAS, 1994). Existindo uma tipologia desfavorável, ou mesmo uma oclusão que não permita o correto selamento, indica-se a ortodontia, que será necessária antes do tratamento fonoaudiológico ou de reeducação da respiração nasal. Descobrir as possíveis causas, encaminhá-lo corretamente e tratá-lo no momento adequado é mais difícil e precisa de um conhecimento maior do que o óbvio comentário de que 12 ele não respira pela via correta. Como sempre, precisa-se preparar para inferir causas, estabelecer relações e prioridades de tratamento (DOUGLAS, 1994). O respirador bucal durante a inspiração e expiração o ar só passa pela cavidade bucal tendo como consequência um aumento da pressão aérea intrabucal. A língua, que normalmente encontra-se encostada no palato quando em repouso, abaixa juntamente com a abertura da mandíbula para o ar entrar. Em conseqüência, a musculatura peri-oral pressiona transversalmente a maxila, aprofundando o palato, e gerando uma atresia maxilar que por sua vez poderá ocasionar mordida cruzada posterior óssea bilateral ou unilateral. O déficit de espaço gera apinhamento e protrusão dos dentes anteriores. A falta da passagem de ar pela cavidade nasal diminui a pressão nos seios maxilares que ficam atrésicos, dando um aspecto facial característico: “faces adenoideanas” representada por rosto alongado e estreito, olhos caídos, olheiras profundas, sulcos genianos marcados, lábios entreabertos, hipotônicos e ressecados e sulco nasolabial profundo. Frequentemente, esses pacientes possuem deglutição atípica e postura de língua e lábios incorretos (VELLINI,2001). Eles podem estar ao nível da nasofaringe, das tonsilas palatinas, da orofaringe, das tonsilas faringeanas, ou do próprio nariz, como um desvio de septo ou mais comumente, as hipertrofias de conchas que impedem ou diminuem a entrada do ar. Para conhecer de forma correta qual a razão da respiração ocorrer por via inadequada, uma consulta ao otorrinolaringologista é fundamental, pois a mesma, deve acontecer antes de iniciar o tratamento. Caso o médico informe que, do ponto de vista clínico, não existem problemas, deve-se ainda considerar se o paciente tem possibilidade de oclusão labial para que a respiração possa ocorrer pelo nariz (SILVA FILHO et al., 2004). 2.6.2 Mastigação JUNQUEIRA (2000) relata que o tempo da mastigação do indivíduo respirador oral deve ser menor, ou seja, a mastigação é mais rápida do que o indivíduo que respira pelo nariz. Isto por que a criança que não respira pelo nariz deve manter livre a passagem de ar pela boca para que consiga respirar. Ao ingerir o alimento, a 13 criança tem necessidade de deglutir rapidamente, para liberar a passagem de ar pela boca para voltar a respirar. Para isso a trituração e a moagem do alimento é mais rápida, e o tempo que o alimento fica na boca até o momento da deglutição é mais curto. Quanto à quantidade de alimento ingerido na cavidade oral, é importante observar que em crianças respiradoras orais, nenhuma ingeriu quantidade grande de alimentos. Esse fato pode estar relacionado ao tempo curto de mastigação do individuo respirador oral. Para tentar ser mais eficiente, e para liberar a cavidade oral mais rapidamente para respirar, prefere ingerir porções medias ou pequenas. Para avaliar esta função precisa-se, em primeiro lugar, conhecer os dentes e como eles se relacionam. A oclusão e a tipologia facial determinam a força e o modo de mastigar. Em segundo lugar, pesquisar, com bastante detalhamento, os hábitos alimentares, não só do paciente, mas, principalmente, de sua família. Hábito alimentar não é só o que se come. É necessário saber o como, o quando, o tempo disponível, valores que se dá para a alimentação, dinheiro que se investe nisto e outros. Normalmente, o problema alimentar não é só do paciente, mas é da família, ou do meio no qual aquele indivíduo vive. Como prova específica, pode-se utilizar, em todas as avaliações, um mesmo alimento para que se possa criar um padrão de exame. O pão francês é uma boa opção, pois é fácil de encontrar e, praticamente, todos o comem. Os limites de mastigação impostos pela oclusão só serão resolvidos após o tratamento da oclusão. (SILVA FILHO et al., 2004). 2.6.3 Deglutição Assim como esta atipia, muitas outras são provocadas pelos examinadores. Até o cirurgião dentista, quando pede para que o paciente degluta com os lábios entreabertos, numa posição em que o corpo está reclinado e dificulta a deglutição, também causa uma atipia. Sabe-se que os sujeitos Classes II de Angle, com grandes desproporções maxilo-mandibulares, deglutem com os lábios separados e, mesmo assim, procuram fazer um selamento compensatório do lábio inferior com os dentes superiores. O selamento anterior é necessário para manter uma pressão 14 negativa no interior da boca e todas as pessoas procuram obtê-la de alguma maneira (PETRELLI, 1994). Às vezes, tem-se, de fato, a projeção anterior da língua no momento da deglutição. Ao invés de apenas apontar tal fato, tentar principalmente compreender suas razões. Pode haver uma mordida aberta anterior; podem existir tonsilas faringeanas hipertrofiadas, e que traz a língua para frente, e criar um espaço posterior de passagem; outras vezes, em função da respiração bucal, a língua encontra-se posicionada embaixo e com sua força diminuída. Ou seja, sempre há ou houve, no passado, uma razão para que a deglutição não se processasse de forma normal. Ninguém deglute errado porque assim o quer. Em geral, deglute-se da maneira que nos é possível. Deve-se descobrir qual é a causa da inadequação deste modo de deglutir e, mais do que a causa, verificar quais são as possibilidades que o paciente tem de deglutir de uma outra maneira que não aquela encontrada (DOUGLAS, 1994). Esta função dá continuidade ao processo de mastigação e, como tal, não pode e nem deve ser avaliada em separado da mesma. Ao observar-se a mastigação também se observa o paciente deglutir, pois esta seqüência é natural. Nada mais lógico do que olhar, ao mesmo tempo, as duas funções. Estas duas formas de avaliar levam a atipias e alteram, evidentemente, o processo natural (JABUR, 1996). 2.7 TRATAMENTO O tratamento é complexo e normalmente demora até a idade adulta, exigindo o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. Portanto, para se obter resultados satisfatórios no tratamento, deve-se procurar diagnosticar a causa direta do problema, através de uma correta anamnese, avaliação das características normalmente encontradas no paciente respirador bucal. Faz-se necessária, na maioria das vezes, a intervenção multidisciplinar que envolva condutas de diagnóstico, prevenção, tratamento e acompanhamento destes pacientes a fim de evitar maiores efeitos deletérios. (FERREIRA, 1998). 15 O ortodontista deve referenciar o paciente para outros especialistas quando necessário, pois o diagnóstico sobre respirador bucal, muito utilizado em Ortodontia, é muito genérico e nem sempre aponta a etiologia do problema, mas as conseqüências faciais e dentárias (CINTRA; CASTRO; CINTRA, 2000). 2.8 EXAME CLÍNICO Os respiradores bucais podem apresentar características intraorais que contribuem para o diagnóstico. (SILVA FILHO, 2004). No exame clínico, o profissional deve observar o paciente de uma forma geral, e não apenas a região da cabeça e do pescoço, pois é comum encontrar nos respiradores bucais alterações posturais, em virtude da necessidade de manter a boca aberta quase que constantemente. A análise facial é muito importante, pois, com ela, avalia-se a simetria facial: as proporções faciais nos terços superior, médio e inferior da face em vista frontal e de perfil, com o paciente em posição natural de cabeça. Deve-se observar também se há selamento labial, tonicidade de lábios e mento. Um bom selamento labial sugere ausências de discrepâncias esqueléticas verticais e sagitais, altura facial inferior proporcional aos tamanhos de maxila e mandíbula e função respiratória normal. As deficiências de crescimento maxilar podem ser observadas em norma lateral, por face côncava ou deficiência na região zigomática. (COELHO-FERRAZ, 2005). 2.9 DIAGNÓSTICO RADIOGRÁFICO A técnica de escolha para identificação e avaliação de discrepâncias transversais é a radiografia cefalométrica póstero anterior. Essa técnica radiográfica permite sobreposição de radiografias, comparação de medidas lineares e avaliação da separação esquelética. A análise de modelos consiste na manipulação dos modelos a fim de verificar se a discrepância é relativa ou absoluta. Como 16 diagnóstico diferencial entre mordida cruzada unilateral ou bilateral os modelos de estudo devem ser montados em relação cêntrica. (MOYERS,1991). A telerradiografia da cabeça em norma lateral é o meio de diagnóstico mais utilizado pelos ortodontistas, pois, além de baixo custo, faz parte da documentação ortodôntica, utilizada para avaliação das desarmonias do complexo maxilomandibular. Este procedimento apresenta a imagem radiográfica da adenoide com grande detalhe, devido ao contraste que sua imagem apresenta em relação à imagem radiolúcida da nasofaringe, podendo-se apresentar, algumas vezes, com a região central mais radiolúcida. (COELHO-FERRAZ, 2005). 2.10 OCLUSÃO De acordo com MILLER et al. (1982), a respiração bucal crônica em humanos, quando severa, pode alterar a dentição e os arcos dentários. Os indivíduos que respiram pela boca podem demonstrar incisivos inferiores e superiores inclinados para vestibular, mordida cruzada posterior, tendência de mordida aberta. NORMANDO et al (1996), relataram que a respiração bucal entre outros fatores, está associada à atresia maxilar. A passagem do fluxo de ar pela cavidade nasal produz uma pressão que gera um estímulo ao crescimento da maxila. Na presença de uma respiração bucal, ocorre uma redução nesta pressão e, consequentemente, uma queda ao estímulo de crescimento lateral maxilar, cujo resultado final é a atresia esquelética da maxila. KRAKAUER & GUILHERME (2000) acrescentam a necessidade de que a musculatura seja reabilitada através de exercícios funcionais que fortaleçam os músculos periorais, para que os lábios se mantenham juntos. A respiração deve ser reeducada através de exercícios respiratórios e de fortalecimento muscular. A respiração bucal pode ser um fator importante no aparecimento da maloclusão, devido à alteração no processo de respiração, presença de hipertrofia 17 de amígdala, adenóides e hipotonicidade labial. A correção da maloclusão é difícil, mesmo depois de removida a causa, pois as estruturas ósseas e musculares já se encontram modificadas, e, enfatizando que a meta é a prevenção da respiração bucal. (TEUSCHER, apud PRATES et al., 1997). LIMME (Apud PRATES et al., 1997), relatou que a respiração bucal está associada freqüentemente aos problemas ortodônticos. Na área nasal, o bloqueio da ventilação leva ao subdesenvolvimento da maxila, apresentando mordida cruzada lateral e, às vezes, anterior. Na área bucal, o fato de manter a boca aberta induz a uma nova posição postural da mandíbula que altera o padrão de crescimento mandibular (“face longa”). O contexto funcional da atividade bucal é também alterado, resultando em língua baixa ou protuída, desvio ao deglutir e alterações de fala. O tratamento deste contexto patológico consiste no acompanhamento multidisciplinar. No campo da Ortodontia, deve-se lançar mão do tratamento ortopédico promovendo expansão rápida da maxila e utilização de máscara facial para normalizar o crescimento da maxila antes do alinhamento dentário. 18 3 PROPOSIÇÃO Este trabalho visa estabelecer as alterações da respiração bucal no crescimento e desenvolvimento craniofacial. 19 4 DISCUSSÃO Em relação às alterações respiratórias, sabe-se que as modificações estruturais das vias aéreas superiores, especialmente no nariz e na faringe, podem resultar em decréscimo do fluxo aéreo na passagem nasal e, dependendo da idade da instalação, pode provocar desordens da oclusão dentária e da face. Desta forma, crianças que respiram pela boca apresentam alterações musculares na face e estão mais propensas ao desenvolvimento de face longa ou padrão vertical de crescimento facial (PETRELLI, 1994). MARCHESAN (1998) e KRAKAUER (2000) concordam que as diferentes características dos tipos faciais são geneticamente determinadas, porém o meio ambiente pode modificar seu desenvolvimento e crescimento. A função respiratória está diretamente relacionada ao desenvolvimento craniofacial e o papel da obstrução nasal na fisiopatologia das alterações oclusais deve ser enfatizado (MARCHESAN, 1998). As crianças respiradoras bucais tendem a apresentar faces adenoideanas, ou seja, rosto alongado e estreito, olhos caídos, olheiras profundas, sulcos genianos marcados, lábios entreabertos, hipotônicos e ressecados e sulco nasolabial profundo, frequentemente possuem deglutição atípica e postura de língua e lábios incorretos (FERREIRA, 1998). Junqueira (2000) relata que o tempo da mastigação do indivíduo respirador oral deve ser menor, ou seja, a mastigação é mais rápida do que o indivíduo que respira pelo nariz. Isto por que a criança que não respira pelo nariz deve manter livre a passagem de ar pela boca para que consiga respirar. Ao ingerir o alimento, a criança tem necessidade de deglutir rapidamente, para liberar a passagem de ar pela boca para voltar a respirar. Para isso a trituração e a moagem do alimento é mais rápida, e o tempo que o alimento fica na boca até o momento da deglutição é mais curto. Quanto à quantidade de alimento ingerido na cavidade oral, é importante 20 observar que em crianças respiradoras orais, nenhuma ingeriu quantidade grande de alimentos. Esse fato pode estar relacionado ao tempo curto de mastigação do individuo respirador oral. Para tentar ser mais eficiente, e para liberar a cavidade oral mais rapidamente para respirar, prefere ingerir porções medias ou pequenas. A descrição clássica do respirador bucal, no contexto odontológico, normalmente inclui atresia do arco dentário maxilar (geralmente em forma de V), abobada palatina profunda, aumento da altura facial anterior, incisivos superiores vestibularizados, mordida cruzada posterior, mordida aberta anterior, lábio superior curto e hipotônico e gengivite (SOUSA 1999). A respiração bucal altera a postura, a morfologia e a tonicidade dos órgãos fonoarticulatórios, havendo necessidade de adequar a função antes de corrigir a forma. Os profissionais da área de saúde devem trabalhar com objetivos comuns, de forma coletiva, podendo melhorar a qualidade de vida do respirador bucal, buscando a recuperação morfofuncional integral MOYERS (1991). 21 5 CONCLUSÃO A Síndrome do Respirador Bucal trata-se de um conjunto de alterações provenientes de adaptações realizadas pelo organismo, na tentativa de compensar a nova forma de respiração adquirida, ou seja, pela boca. As conseqüências advindas da respiração bucal são perceptíveis em vários segmentos e sistemas do organismo, mas principalmente se percebe alterações relacionadas com a qualidade de vida do indivíduo, pois além dos comprometimentos da saúde física se observa também alterações de ordem mental e comportamental. Devido a todas essas possíveis alterações promovidas pela Respiração Bucal, pode-se perceber a importância da intervenção precoce, principalmente da Odontologia, acarretando dessa forma um crescimento harmônico e com um bom prognóstico. Diante de todas as alterações provenientes da Síndrome do Respirador Bucal, pode-se concluir que a amamentação é uma das formas mais simples de se prevenir a ocorrência da respiração bucal, proporcionando à criança alimento, proteção e estimulando seu crescimento fisiológico sem transtornos. Através do levantamento bibliográfico, pode-se relatar sobre o crescimento e desenvolvimento crâniofacial, dentário e as causas da obstrução nasal relacionando posteriormente com as complicações que este quadro gera no crescimento e desenvolvimento crâniofacial, dentário, conseqüentemente nos órgãos fonoarticulatórios, funções neurovegetativas e postura corporal. Conclui-se, portanto, que a obstrução nasal merece uma importância maior do que a dada normalmente por alguns pediatras, ortodontistas, fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas. A respiração bucal pode melhorar com os tratamentos antialérgicos correspondentes, as maloclusões e o hábito respiratório inadequado não se corrigem de forma simultânea, sendo que deve ser realizado um tratamento odontológico associado ao fonoaudiológica se preciso for. tratamento médico, sem descartar a ajuda 22 O respirador bucal, hábito que surge como consequência de uma via aérea obstruída, deverá contar com um tempo suficiente para poder reverter este processo que se instalou como um problema e/ou mau hábito durante tanto tempo na vida do paciente. 23 REFERÊNCIAS ARAGÃO, W. Respirador Bucal. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, v. 8, n. 64, p. 349-352, 1998. BAPTISTA, J. M.; TENÓRIO, M. B. Desenvolvimento embrionário craniofacial e seu crescimento. In: PETRELLI, E. eds. Ortodontia para fonoaudióloga, São Paulo: Lovise Científica, 2000. BARBOSA, T.C, SCHNONBERGER MB. Importância do aleitamento materno no desenvolvimento da motricidade oral. In: Marchesan IQ, Zorzi JL, Gomes ICD (eds.) Tópicos em Fonoaudiologia. São Paulo: Lovise; 1996. p. 435-46. BIANCHINI, E. M. G. Cefalometria nas alterações miofuncionais orais: diagnóstico e tratamento fonoaudiológico. 3 ed. São Paulo: Pró-fono, 1995. CARVALHO, G. D. Amamentação sob a visão funcional e clinica da odontologia. Revista Secretários de saude 1995; 10:12-3. CARVALHO, G. D. Síndrome do Respirador Bucal ou Insuficiente Nasal. Revista Secretários de Saúde, São Paulo, ano II, n.18, julho, p. 22-24, 1996. CINTRA, C. F. S. C.; CASTRO, F. F. M.; CINTRA, P. P. V. C. As alterações orofaciais apresentadas em pacientes respiradores bucais. Rev. Bras. Alerg. Imunopatol., v. 23, n. 2, p. 78-83, 2000. COELHO-FERRAZ MJP. Respirador bucal: uma visão multidisciplinar. São Paulo: Lovise; 2005. p.37-125. DOUGLAS, C. R. Tratado de fisiologia aplicada às ciências da saúde. São Paulo: Robe, 1994. 24 FERREIRA, F. V. Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico. São Paulo: Artes Médicas, 1998. GRABER, T. M.; NEUMANN, B. Aparelhos ortodônticos removíveis. 2. ed. São Paulo: Panamericana, 1987. GODOY, P.; NIITSUMA, L. E. M.; CAROMANO, F.A. Avaliação Funcional Fisioterapêutica do Respirador Bucal. Arquivo de Ciências da Saúde Unipar, Umuarama, v. 4, n. 2, p. 111-120, 2000. JABUR, L. B. Inter-relação entre forma e função na cavidade oral. In: Tópicos em fonoaudiologia. São Paulo: Lovise, 1996. JUNQUEIRA, P. S. A atuação fonoaudiológica nos casos de mordida aberta anterior na dentição decídua. In: Tópicos em fonoaudiologia, São Paulo: Lovise, 2000. KRAKAUER LH; GUILHERME A. Relação entre respiração bucal e alterações posturais em crianças:uma análise descritiva. Revista Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá 2000; 5(5):85-92. MARCHESAN, I. Q. Motricidade Oral: Visão Clínica do Trabalho Fonoaudilógico Integrado com outras Especialidades. São Paulo: Pancast, 1998. p. 83-95. MARINS, R. S. Síndrome do Respirador Bucal e modificações posturais em crianças e adolescentes: a importância da Fisioterapia na equipe interdisciplinar. Fisioterapia em movimento, Curitiba, v. XIV, n. 1, p. 45-52, abr/set, 2001. MCNAMARA JR, J.A. Influence of Respiratory pattern on craniofacial growth. Angle Orthod. 51 (4), 269- 300, Out. 1981. MILLER, Arthur J.; VARGEVIR, Karin; CHERI, Giorgi. Sequential neuromuscular changes in reshus monkeys during the initial adaptation to oral respiration. American Journal of Orthodontics. São Francisco, 1982. v. 81, p.99-107. 25 MORAES, A. C. C. Respirador Bucal: suas implicações anatômicas e posturais. 1999. 38f. Monografia (Especialização em Fonoaudiologia Clínica – Motricidade Oral) – Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica-CEFAC, São Paulo, 1999. MOYERS, Robert E. Ortodontia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. NORMANDO ADC, Ribeiro KCF, Sotão AB, Normando VMF. Os efeitos da expansão rápida da maxila sobre o fluxo aéreo nasal: revisão da literatura e apresentação de um caso clínico. Rev. Paraense de Odont., Belém 1996; 1(2):19-29. OLIVEIRA, M. F. Alterações Musculares e Esqueléticas no Respirador Bucal. 1999. 42 f. Monografia (Especialização em Fonoaudiologia Clínica – Motricidade Oral) – Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica-CEFAC, São Paulo, 1999. PRATES, Norma Sabino; MAGNANI, Marla Beatriz, B. A.; VALDRIGHI, Heloisa Cristina. Respiração bucal e problemas ortodônticos. Relação causa-efeito. Revista de Odontologia, ano XIX, n.4, jul/ago, 1997. PETRELLI, E. Ortodontia para fonoaudiologia. São Paulo: Lovise, 1994. SILVA FILHO, O. G. OKADA, T.; SANTOS, Sucção digital, abordagem multidisciplinar: ortodontia x psicologia x fonoaudiologia. Est. Cult., 2004. SOUSA, D. O. C. O Sistema Estomatognático no Respirador Bucal. 1999. 48f. Monografia (Especialização em Fonoaudiologia Clínica – Motricidade Oral) – Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica-CEFAC, São Paulo, 1999. VELLINI-FERREIRA F. Crescimento e desenvolvimento craniofacial. In:______. Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico. 4. ed. São Paulo: Artes Médicas; 2001. p.31-55. 26 VINHA, P. P. Síndrome do Respirador Bucal. Boca e Saúde. 2002. Disponível em: <http://www.bocaesaude.com.br/respbuc.html>.