CONTRIBUIÇÃO AO MÉTODO DE CAPTURA DE INSETOS POR MEIO DE ARMADILHA LUMINOSA, PRA OBTENÇÃO DE EXEMPLARES SEM DANOS MORFOLÓGICOS Paulo Sérgio Fiuza Ferreira David dos Santos Martins Compilado por Evelyn R. Moretti – Bio Controle A armadilha luminosa tem sido muito usada em estudos entomo-faunísticos para avaliar a distribuição, flutuação e fazer o controle de pragas, sendo o mais eficiente método de levantamento de insetos noturnos fototrópicos positivo. No Brasil, o modelo mais utilizado é o “Luis de Queiroz”, com fonte luminosa fluorescente ultra-violeta de 15 W e 100 V, F15T8BL. Contudo este modelo apresenta algumas dificuldades e problemas, sendo um deles, a dificuldade de se obter espécimes com estruturas morfológicas em bom estado de conservação. No final das coletas, principalmente os lepidópteros, que são os mais atraídos e sofrem maiores danos, se apresentam aglutinados e danificados. Isto dificulta ou até impossibilita a identificação dos insetos, prejudicando a precisão dos resultados das pesquisas. Os fatores que contribuem para tal resultado são: o excesso de umidade, proveniente de orvalho e chuva que levam à aderência dos insetos ao recipiente de coleta, aglutinando-os no fundo; e o contato entre eles que favorece mutilações, provenientes de seu constante debater nas tentativas de fuga. Este trabalho visa apresentar uma solução para a captura de insetos com menores danos, que possam contribuir para o aperfeiçoamento de pesquisas entomológicas, e ampliação de acervos das coleções de museus e instituições nacionais. O experimento, instalado na Zona da Mata de Viçosa-MG de 1981 a 1982, utilizou uma armadilha luminosa baseada no modelo “Luiz de Queiroz”, modificada no seu receptáculo de coleta. Este receptáculo é formado por: a) saco plástico transparente com 60 cm por 100 cm e 0,04 cm de espessura; b) “almofada” de retalhos de jornal emaranhados, formados por fitas de 0,5 cm por 50 cm; c) Dispositivo para matança: tubo de vidro transparente de 3,5 cm de diâmetro, 8 cm de comprimento e abertura de 2 cm de diâmetro. Dispõe de tampa plástica de pressão com orifício central de onde emerge 2 cm de pavio de algodão com 14 cm de comprimento por 1 cm de diâmetro, e um cartão suporte quadrado de 18 cm de lado e 0,3 cm de espessura, furado no centro, onde se encaixa o tubo de vidro. Para o receptáculo, coloca-se, frouxamente, no interior do saco plástico a almofada de retalhos, ocupando 1/3 do volume. Dentro desta almofada, no centro, coloca-se o dispositivo para matança com o tubo de vidro na posição vertical, com acetato de etila. Prende-se o receptáculo ao tubo do cone de captura da armadilha luminosa. Recomenda-se esperar 1 hora antes de ligar a armadilha, a fim de que se possa criar uma atmosfera com o gás de acetato de etila. Após passar o período de coleta, retira-se o receptáculo e, no laboratório, separam-se os insetos capturados do emaranhado de fitas. Para isso, retira-se o dispositivo de matança, e despeja-se a “almofada” numa superfície plana e branca, agitam-se as fitas em pequenas porções, coletando-se os insetos capturados. Neste trabalho, em média, 95 % dos insetos coletados apresentaram bom estado de conservação, sem perdas ou danos em estruturas morfológicas. Além do saco plástico ser um material leve, econômico, de fácil manuseio, transporte e substituição, obteve-se mais algumas vantagens tais como: total vedação e impermeabilidade, sem escape de gás mortífero e sem entrada de água; maior expansão do gás de acetato de etila que leva a um melhor efeito mortal para os insetos; melhor acomodação da “almofada” de retalhos e do dispositivo de matança e total retirada dos insetos capturados. Pelo fato do saco plástico apresentar 0,04 cm de espessura, houve maior resistência a perfurações principalmente por ação de mandíbula e projeções agudas do exoesqueleto e de muitos insetos, sobretudo coleópteros escarabeídeos. A “almofada” apresenta vantagem, pois tem grande capacidade de absorção, evitando o acumulo de água de chuva e orvalho no fundo e nas paredes do saco plástico, e cria um ambiente em que os insetos ficam presos, dificultando sua fuga. Assim, os insetos tem pouco contato uns com os outros, evitando o mutilamento mutuo. Além disso, há ampliação da zona evaporatória na região do contato com o pavio do tubo de vidro, acelerando a formação de uma câmara mortífera dentro do saco plástico. O uso do cartão de suporte favoreceu a manutenção da estabilidade vertical do tubo de vidro, evitando sua inclinação por ação dos ventos, movimentação dos insetos e outro distúrbio mecânico. O acetato de etila mostrou-se uma substância muito útil e eficaz, pois apresenta baixa toxicidade para o homem e apresenta-se efetivo contra os insetos pelo tempo necessário até sua morte. A dosagem de acetato de etila recomendada para cada período de captura, em condições noturnas (temperatura média de 18°C, e umidade média de 94%) foi de 40 mL. LITERATURA CITADA ALINIAZEE. M. T. & STAFFORD, E. M. Seasonal fligt patterns of the omnivorous leaffolder and grape leaffolder in central California vineyards by backlight traps. Environm. Emtomol., 1 (1): 65-68, 1972. CIVIDANES, F. J., SILVEIRA NETO, S. & BOTELHO, P. S. M. 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