pág. 24 capa | SACOLINHA PLÁSTICA | Sérgio Vieira com a colaboração de Mariana Carrillo Proibida a reprodução. REPORTAGEM ESPECIAL • A falta de informação do poder público • Os interesses comerciais • Os impactos no mercado de reciclagem de plásticos • Os programas de sucesso nos EUA e Canadá para a solução do problema Proibida a reprodução. Proibida a reprodução. Proibida a reprodução. www.revistareciclagem.com.br JUL/AGO 2009 25 Capa | Sacolinha Plástica | Sérgio Vieira com a colaboração de Mariana Carrillo Se você se interessou em ler este texto, provavelmente é porque deve ter ficado surpreso com a cifra colocada no título. Mas prepare-se: você está prestes a descobrir muito mais nesta extensa pesquisa que a Reciclagem Moderna fez dentro e fora do Brasil na tentativa de expor toda a realidade que está por trás das proibições das sacolas plásticas. Esta reportagem é um convite para que ambientalistas, profissionais da reciclagem, a sociedade em geral, a rede varejista, mas principalmente os administradores públicos concluam se há de fato informação suficiente capaz de banir um produto que faz parte do dia a dia de milhões de brasileiros. O tema sacola plástica já foi abordado em 2007 em uma palestra do Congresso Internacional de Negócios da Indústria da Reciclagem – Exposucata e na edição 14, de fevereiro de 2009, da revista Reciclagem Moderna. No Congresso, um profissional de uma petroquímica explicou quais são os tipos de plásticos envolvidos neste debate. Já na revista, a reportagem expôs a opinião de várias entidades e especialistas que estão intimamente ligados à fabricação, distribuição ou coleta da sacola plástica após o seu uso para transporte. Também foi ouvido o Conselho Regional de Química – 4ª região, que deu seu parecer sobre as sacolas que “desaparecem” como mágica. Porém, em virtude da ação do Ministério do Meio Ambiente que, recentemente, lançou a campanha “O saco é um saco” e que está motivando Estados e prefeituras a publicarem leis proibindo o comércio varejista de distribuir sacolas plásticas (ao mesmo tempo que privilegiam algumas em especial), a revista Reciclagem Moderna viu a necessidade de voltar ao assunto a fim de esclarecer alguns pontos por meio de uma extensa investigação. Proibida a reprodução. Em Belo Horizonte, o autor do projeto que pretende dar fim a sacolas plásticas a partir de fevereiro de 2011 é o vereador Arnaldo Godoy, que diz ter se baseado em estudos para chegar à decisão. Os estudos — elaborados por dois alunos da Unicamp — foram enviados pelo vereador à redação da Reciclagem Moderna. Trata-se de uma descrição da história do plástico e o ponto de vista dos alunos sobre a sacola plástica tradicional. Eles destacam que os plásticos que se degradam seriam a solução para o meio ambiente, mas não citam uma fonte de referência para validar essa informação. Em nenhum momento os alunos mencionam testes próprios de laboratório sobre os plásticos degradáveis ou fazem referência a normas internacionais sobre o assunto. Os outros estudos mencionados pelo vereador referem-se a dois artigos: um publicado no jornal O Esta- Dúvida Plastivida: Se a sacola é reciclável, por quê o aditivo? 26 JUL/AGO 2009 www.revistareciclagem.com.br Proibida a reprodução. Proibida a reprodução. do de São Paulo e outro de sua própria autoria. Em ambos há violentos ataques aos sacos plásticos, mas sem referência a nenhum estudo ou pesquisa de campo que possam validar as informações publicadas. “Fizemos um debate e a maioria optou por banir as antigas sacolas”, disse o vereador, esquecendo-se apenas de que, no estudo em que ele mesmo baseou-se para criar a lei, 90,6% das pessoas entrevistadas pelos alunos da Unicamp fazem questão de ter a sacola plástica no supermercado. A cidade de Caçapava (interior de São Paulo) é outra a publicar uma lei contra as sacolas plásticas (lei nº 4.873). Segundo o secretário do Meio Ambiente, Carlos Henrique de Oliveira Silva, as pesquisas para criar o projeto de lei (pasmem) foram feitas apenas na Internet e com base em estudos já realizados por especialistas. Ele não revelou, entretanto, nenhum estudo ou instituto para validar essas informações, nem soube dizer o número de sacolas que são descartadas de forma irregular na cidade. Ele admite que a venda de sacos de lixo pretos deve aumentar, uma vez que a população não terá mais a sacola plástica. Vale lembrar que os sacos de lixo pretos são feitos, justamente, de sacos plásticos que caíram na cadeia da reciclagem. Ou seja, caso aumentem as proibições no País em torno da sacola plástica, em pouco tempo teremos o uso da resina virgem para fabricar sacos de lixo. Na cidade de Guarulhos (região metropolitana de São Paulo), além de proibir a tradicional sacola plástica, a lei nº 6.481 abriu a possibilidade para o uso das sacolas que se degradam no meio ambiente. O prefeito de Guarulhos, Sebastião Almeida, informou que a lei não exige a adoção de determinada tecnologia. O texto, entretanto, está claro quanto à adoção de sacola biodegradável, produto que, nessa exata especificação, tem apenas um fornecedor da resina no País (veja mais abaixo, “Interesses comerciais”). O artigo 4º da lei publicada em Guarulhos deixa dúvidas quanto ao real interesse da cidade em resolver o problema de descarte irregular de plástico no meio ambiente. Ele permite que os sacos plásticos de frutas, verduras e legumes fornecidos pelos estabelecimentos para pesagem continuem a ser utilizados. Ou seja, as donas de casa da cidade de Guarulhos vão aumentar a procura pelo saco tamanho grande da seção de frutas. Depois de usados para o transporte, eles vão desempenhar a mesma função que as sacolas ocupam hoje (lixo de pia, banheiro, armazenamento de produtos etc). Uma pesquisa encomendada pela Plastivida ao Ibope Inteligência na cidade de Guarulhos pode dar a ideia de quanto a prefeitura trabalhou na educação da população em torno do assunto. A pesquisa realizada durante o último mês de maio ouviu 602 mulheres das classes B, C e D que são responsáveis por compras do lar e reutilizam sacolas plásticas no seu dia a dia. A pesquisa revelou que 73% das donas de casa reutilizam a sacola plástica para colocar o lixo doméstico e 69% consideram que o produto é o meio ideal para carregar as compras. Quando perguntadas sobre a principal carac- terística de um produto biodegradável em relação ao meio ambiente, 65% disseram que não sabiam. Também ficou claro que 84% das entrevistadas não sabem a diferença entre produto biodegradável e degradável; 81% desconhecem o conceito de plástico biodegradável; e 60% responderam que a sacola biodegradável vai contribuir para o aumento do lixo na cidade de Guarulhos. “Existe muita informação incorreta e de cunho comercial”, comenta Francisco de Assis Esmeraldo, presidente da Plastivida, que está entrando com uma ação de direito inconstitucional na cidade de Guarulhos contra a medida tomada pela prefeitura. Segundo Assis, o objetivo é aperfeiçoar a lei criada e que Produção de saco preto deve aumentar com proibição das sacolas. Proibida a reprodução. www.revistareciclagem.com.br JUL/AGO 2009 27 Capa | Sacolinha Plástica | Sérgio Vieira com a colaboração de Mariana Carrillo Foto: Abief/divulgação ainda terá alguns meses para a regulamentação. Leis que proíbem as sacolas plásticas também foram publicadas na cidade de Jundiaí (SP) e no Estado do Rio de Janeiro. A Plastivida informou que vai esperar o prazo de regulamentação nas demais cidades e Estados citados nesta reportagem para se pronunciar oficialmente a respeito. No final do mês de julho, Assis foi convocado pela comissão de meio ambiente do Congresso para que esclarecesse algumas questões que estão por trás dessa caça às sacolas plásticas e do privilégio de alguns tipos de produtos. “Pouca gente sabe, por Alfredo Schmitt, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagem Flexível (Abief) 28 JUL/AGO 2009 “proibição é puro marketing” www.revistareciclagem.com.br exemplo, que a sacola possui 46 reutilizações no ambiente doméstico”, comentou. Boa parte das leis das cidades citadas acima abre a possibilidade para que o estabelecimento comercial passe a distribuir as sacolas que sofreriam um efeito de degradação (mais conhecidas como oxidegradáveis e biodegradáveis). O problema é que, dependendo do que está especificado no texto da lei, são encontrados no mercado nacional apenas dois, ou às vezes um fabricante que detém a tecnologia permitida. Este detalhe fere a Lei de Concorrência nº 8.884/94, que dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica, orientada pelos ditames constitucionais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, função social da propriedade, defesa dos consumidores e repressão ao abuso do poder econômico. O artigo 20 deixa bem claro que “constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados. Item 1 – limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa”. (Em tempo: O desembargador Maurício Vidigal suspendeu a lei de proibição das sacolas em Guarulhos porque entendeu que ela tem a sua constitucionalidade questionada). Para o professor Fábio Mestriner, coordenador do Núcleo de Embalagens da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), quando o poder público proíbe um tipo de embalagem, automaticamente está criando espaço para entrar outro no lugar. “Sou contra o Proibida a reprodução. poder público influir na decisão do consumidor em escolher a embalagem que lhe seja mais favorável”. Já o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagem Flexível (Abief), Alfredo Schmitt, acredita que as campanhas sobre o tema, em vez de serem focadas em um programa sério e eficiente, escolhem uma “vítima” e a sacrificam em praça pública. “Essa é uma atitude puramente marqueteira que favorece as grandes redes de varejo. Ao banirem as sacolas, elas economizarão milhões de dólares”, comenta ao lembrar que o consumidor vai passar a comprar o saco preto de lixo em vez de usar a sacola plástica. De acordo com os entrevistados nesta edição, entretanto, a rede varejista teria a perder com a imposição das leis municipais. A sacola plástica oxi ou biodegradável pode custar até o dobro do preço da convencional. Esse custo, obviamente, poderá ser passado ao consumidor. No que diz à parte de estudo técnico sobre o tipo de embalagem, nenhuma prefeitura do Estado de São Paulo entrou em contato com o Conselho Regional de Química para ouvir o parecer da entidade sobre a questão, conforme apurou a Reciclagem Moderna. Interesses comerciais e os impactos na reciclagem De acordo com a Abief, o Brasil consome por ano 15 bilhões de sacolas plásticas impressas. Se for levado em consideração o custo de R$ 0,03 por unidade (preço aproximado de um produto com as características estabelecidas pela norma NBR 14.937), o mercado de sacolas plásticas movimenta por ano em torno de R$ 450 mi- Proibida a reprodução. Proibida a reprodução. Foto: Plastivida/divulgação lhões. A entidade revela que se forem consideradas as sacolas lisas (sem impressão), o mercado nacional é de 40 bilhões de unidades/ ano (ou R$ 1,2 bilhão). Apenas essa informação já deveria ser levada em conta pelas prefeituras e Estados que estão aprovando leis que impedem a distribuição das sacolas plásticas tradicionais e privilegiam alguns materiais que estão aparecendo no mercado. A cada ação do poder público cresce, por exemplo, o interesse dos fabricantes de resina e aditivos químicos que estimulam a fragmentação do plástico. É nesse ponto que começam os jogos de informação. “Se um fabricante escreve sacola mágica num produto, isso não é problema meu”, comenta Eduardo Van Roost, diretor da RES Brasil, um dos interessados nesse mercado e que distribui no País o aditivo d2W, que é a base para a produção das sacolas oxidegradáveis. O produto é uma patente da empresa inglesa Symphony Plastics Technologies. Roost admite que a sacola fabricada com o seu produto tem de estar num ambiente controlado para que a fragmentação da resina ocorra. Também concorda que existe uma carência de informações para a população sobre esse detalhe importante para a transformação da sacola. Nenhuma prefeitura ouvida pela Reciclagem Moderna, entretanto, está ciente dessa informação. Segundo Roost, o mercado nacional de sacolas com aditivo “oxi” é de 2 mil toneladas/mês (24 mil t/ano) e cresce num ritmo mensal de 5% a 6%. No País já existem 220 empresas licenciadas para fabricar a sacola com o aditivo d2W. O diretor informou que foi comprovada a reciclabilidade da re- Proibida a reprodução. sina com o seu aditivo por uma empresa inglesa chamada Smithers Rapra. A Reciclagem Moderna entrou em contato com a empresa, mas não obteve resposta até o fechamento deste texto. A Plastivida alega que os testes desenvolvidos pela Smithers Rapra referem-se a produtos que não são mais comercializados no mercado. Argumenta também que os documentos apresentados pela RES Brasil não podem comprovar que os produtos em comercialização no Brasil atendem às normas nacionais e internacionais vigentes. Roost também disse que os antioxidantes colocados durante o processo de reciclagem de plástico são inibidores dos aditivos “oxi”. Nem todo plástico reciclado no mercado, entretanto, recebe antioxidantes. A Plastivida solicitou à RES Brasil documentos que provem a reciclabilidade desse tipo de material e, por meio de nota publicada na Internet, pergunta: “Se os plásticos oxidegradáveis podem ser reciclados, por que injetar um aditivo na atual sacola plástica?”. No mesmo documento, a Plastivida afirma: “Plásticos oxidegradáveis podem comprometer a reciclagem de plásticos”. A incompatibilidade de aditivos oxidegradáveis com resinas plásticas também foi condenada pela Associação Europeia de Recicladores Plásticos (EUPR), conforme documento emitido no dia 10 de junho de 2009. Para a entidade, os aditivos “oxi” destroem o valor do material armazenado, não reduzem o problema da geração de lixo e comprometem os benefícios da reciclagem. O diretor da RES Brasil criticou a indústria do plástico, que estaria se preocupando apenas com a “informações incorretas e de cunho comercial” Francisco de Assis Esmeraldo, presidente da Plastivida questão educacional, e acha que as prefeituras são as responsáveis pela fiscalização das empresas que estão fabricando sacolas com o conceito “degradável”. Essa dúvida surgiu a partir de uma colocação do presidente da Plastivida: “Quem pode garantir que uma sacola contém, de fato, o aditivo de degradação?”. A multinacional de origem alemã Basf é outra parte interessada na disputa desse milionário mercado. A empresa fabrica uma resina plástica que foi desenvolvida para ser atacada por micro-organismos batizada comercialmente de Ecoflex. A Basf não divulga informações de mercado, mas segundo a www.revistareciclagem.com.br JUL/AGO 2009 29 Capa | Sacolinha Plástica | Sérgio Vieira com a colaboração de Mariana Carrillo Abief, a produção de sacolas no Brasil com os conceitos “oxi” ou “bio” não passa de 2,5% do total produzido. A gerente de especialidades plásticas para a América do Sul da Basf, Letícia Mendonça, defende as propriedades técnicas e químicas de seu produto e faz algumas observações sobre os aditivos “oxi”. “A tecnologia oxi não possui aprovação por nenhuma norma de biodegradação. Sabe-se que acontece a fragmentação do plástico, o que pode ocasionar impacto negativo no meio ambiente com a contaminação de lençóis freáticos, digestão por animais e impermeabilização do solo”, observa. Segundo ela, os materiais oxidegradáveis são resinas convencionais (polietileno ou polipropileno) que são aditivadas com sal metálico. No que se refere à parte de reciclagem, a gerente da Basf informou que os produtos com tecnologia Ecoflex devem ser fabricados de forma separada. “Para aplicações em que o tratamento do descarte final será a reciclagem, sugerimos a utilização das resinas convencionais”. A Plastivida defende os plásticos com biodegradação (sem o aditivo oxi), desde que eles sejam cor- Qual a principal diferença entre biodegradável e degradável retamente gerenciados em todo o seu processo, do momento em que é descartado ao reaproveitamento em usinas de compostagem. Mas a Plastivida da Argentina é contra os dois tipos de degradação de plásticos (bio e oxi). Para a entidade, ninguém explica ao público em que condições esse tipo de material, de fato, degrada-se. Segundo Letícia, a mistura de aditivos “oxi” com plásticos tipo PE ou PP pode provocar perda de propriedades mecânicas da resina reciclada. “Os próprios produtores dos plásticos convencionais não recomendam a utilização dos aditivos. Eles incluíram em seus laudos técnicos uma observação que informa a perda de garantia da resina caso haja aditivação”. A Braskem, que fabrica a resina plástica, confirmou essa perda de garantia. Para o líder comercial Luiz Nitschke, as bactérias não se alimentam de resinas com oxi metálicos, apenas somem a olho nu. “Esses produtos não têm a capacidade técnica de promover a degradação. Eles não alteram a molécula do plástico e levam mais um componente à natureza, causando mais impacto ambiental”. 1 Degradável não agride o meio ambiente e o biodegradável agride o meio ambiente 1 Degradável se decompõe mais rápido e o biodegradável demora 4 (em % de pessoas) Proibida a reprodução. A educação antes da proibição Biodegradável não agride o meio ambiente e o degradável agride o meio ambiente 9 Biodegradável se decompõe mais rápido e degradável demora mais Fonte: Pesquisa Ibope Inteligência Não sabe 84 Conclusão Ibope Inteligência: O desconhecimento sobre biodegradável, pode representar um risco a este produto 30 JUL/AGO 2009 www.revistareciclagem.com.br Ele comentou que, do ponto de vista econômico, seria confortável para as empresas defenderem o plástico com aditivo “oxi”. As petroquímicas, como a Braskem, poderiam vender mais plástico e os ambientalistas iriam esquecer a crítica sobre o produto. “Não queremos levar uma mentira adiante”. Um estudo sobre o aditivo “oxi” também foi encomendado pelo governo da Califórnia (EUA) ao professor norte-americano Joseph Greene. Ele testou a decomposição dos plásticos convencionais, dos biodegradáveis, dos oxidegradáveis e de outros em diversas condições e ambientes. Os resultados mostraram que os oxidegradáveis não se degradam completamente e geram resíduos contaminantes se forem descartados de forma errada. O estudo foi apresentado em 2008 pelo próprio Greene durante o 9º Simpósio Plastivida — Sacolas Plásticas e Meio Ambiente: Importância Estratégica de sua Correta Destinação. Também interessada no mercado de filmes de polietileno, a Braskem lançou recentemente algumas plantas industriais no Brasil para fabricar o “plástico verde”. Trata-se do mesmo plástico fabricado atualmente, mas com o eteno (matériaprima para fabricação da resina) extraído do álcool. Eles podem ser reciclados e para cada quilo de polietileno fabricado são retirados 2,5 kg de CO2 da atmosfera. Longe de toda essa discussão brasileira, os EUA e o Canadá adotaram medidas muito mais práticas antes da inclusão de qualquer processo de degradação ou leis que prejudicam a atividade de empresas Proibida a reprodução. Proibida a reprodução. Ecobags À medida que aumenta a caça à sacola plástica pelo País, cresce o interesse de muitas redes de supermercados e farmácias para agregarem mais uma mercadoria ao seu leque de produtos ao consumidor. Em nenhum lugar do País a Reciclagem Moderna encontrou a distribuição gratuita das chamadas “ecobags”, fabricadas com plástico ou algodão. Se o comércio está interessado em meio ambiente, por que não entregar a ecobag ao consumidor gratuitamente ou, pelo menos, vendê-la pelo preço de custo? As ecobags também estão desempenhando outras funções na rede de varejo: elas criam fluxos de pessoas nos pontos de venda e transformam o consumidor em uma ferramenta de marketing ambulante, já que a estampa do logo das empresas toma quase toda a sacola e pode ser vista a vários metros de distância. fabricantes de sacolas e, consequentemente, a reciclagem. Assim como já existem vários casos de gerenciamento correto para alguns tipos de produtos, os supermercados e a indústria da reciclagem desses dois países criaram a entidade Plastic Bag Recycling, que coordena um extenso trabalho de educação ambiental e recolhimento correto das sacolas e filmes plásticos em geral que envolvem alimentos. O trabalho começa com a colocação de lixeiras especiais nos supermercados que serão retiradas pelos recicladores parceiros do programa. O reciclador tem rota definida e um total de 18 empresas trabalha na reciclagem desse material. Outras 45 companhias fazem a exportação dessa sucata plástica. Mais da metade do filme recuperado segue para a reciclagem em outros países, onde é transformado em matérias-primas. Proibida a reprodução. Em 2007 foram recolhidos por meio desse programa 830 bilhões de unidades de produtos feitos de filmes plásticos. De acordo com a entidade, o sucesso do programa está fazendo com que mais comerciantes procurem informações sobre a instalação de lixeiras receptoras. A campanha enviada para o público deixa claro que as empresas participantes do programa recebem apenas o saco plástico limpo, seco e vazio. Também solicita-se ao consumidor que não sejam depositados plásticos com aditivo “oxi”. No Brasil também há casos de sucesso de gerenciamento correto de embalagens pós-consumo. É o que acontece com as embalagens de agrotóxicos que são gerenciadas pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev). Por meio de um amplo programa de conscientização do homem do campo e de parcerias com as empresas que fazem o gerenciamento do produto pós-consumo, praticamente resolveu-se o problema de descarte incorreto de embalagens. As prefeituras, Estados e o Ministério do Meio Ambiente do País poderiam mirar-se nesses exemplos antes de criarem um ritual de “caça às sacolas”. Se existem casos de sucesso dentro e fora do Brasil sobre os resultados que a conscientização pode trazer, por que existem as proibições? Será que há, de fato, preocupação ambiental nessas ações ou apenas disputa de mercado? Até que ponto as leis contrárias às sacolas plásticas tradicionais estão sendo publicadas de forma ingênua? Se a reciclagem é considerada um meio ambientalmente correto de resolver o problema de embalagens pós-consumo, por que não resolver os gargalos que permanecem no setor? ||| www.revistareciclagem.com.br JUL/AGO 2009 31