DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA SEÇÃO MEDIANA DA MICROBACIA DO CÓRREGO LAGEADO, EM UBERABA/MG 1 1 FRANÇA, D.Z.; 1LIMA, G.M.; 1FREITAS, M.P.; 2TORRES, J.L.R.; 3FABIAN, A.J. Tecnólogo em Gestão Ambiental pelo CEFET Uberaba – MG, Av. Edilson Lamartine Mendes, n° 300, e- mail: [email protected]. 2 Professor Classe Especial, Dr. Produção Vegetal do CEFET Uberaba – MG, e-mail: [email protected]. 3 Professor Classe Especial, Doutorando em Produção Vegetal do CEFET Uberaba – MG, e-mail: [email protected]. RESUMO A recuperação de áreas degradadas têm sido um dos principais desafios do poder público, estudiosos e todos os atores sociais envolvidos, que buscam reverter os processos de destruição dos recursos naturais. O presente estudo teve objetivo de avaliar a situação sócio-econômica e ambiental da seção mediana da microbacia do córrego Lageado, em Uberaba – MG. Foram realizadas visitas de campo para aplicação de questionários junto aos moradores da região e realização do registro fotográfico da área. Observou-se que a deterioração de 39,0%, 87,0%, 68,0%, 55,0% e 25,0% para o fator social (FS), econômico (FE), tecnológico (FT), sócio-econômico (FS+FE+FT) e ambiental (DA), respectivamente. Os valores calculados e observados nas visitas de campo confirmam a intensa deterioração econômica e tecnológica que vem ocorrendo nessa área, onde a renda é baseada na agropecuária rudimentar; observou-se a contaminação das águas do córrego devido ao lançamento de esgoto in natura oriundos de dois bairros da cidade no córrego. Palavras-chave: contaminação, deterioração, rio Uberaba INTRODUÇÃO O manejo integrado em microbacia hidrográfica implementa uma nova maneira de se planejar e usar os recursos naturais, indo de encontro de desenvolvimento sustentável. A implantação dessa proposta passa primeiramente pela elaboração de um diagnóstico 201 básico, onde são levantados todos os problemas da bacia, para analise dos conflitos e recomendação de soluções em todos os níveis (ROCHA & KURTZ, 2001). ROCHA (1997) destaca que os diagnósticos mais importantes são o físico-conservacionista, o socioeconômico e o ambiental, pois estes interagem entre si, com isso pode ser feito o levantamento das deteriorações que ocorrem na área, em percentagem, mostrando o grau de deterioração ambiental das variáveis analisadas. Algumas das abordagens de gestão e planejamento das atividades antrópicas e do uso de recursos naturais têm falhado sistematicamente por dissociarem as questões socioeconômicas dos aspectos ambientais inerentes, pois antes de tudo, devem-se conhecer as dinâmicas ambientais, socioeconômicas e de conflitos, que por ventura existam entre as metas de desenvolvimento e a capacidade de suporte dos ecossistemas (FABIAN & TORRES, 2003). As abordagens que utilizam as bacias e microbacias hidrográficas como unidade básica de trabalho, são as mais adequadas para compatibilizar produção com preservação ambiental, por serem unidades geográficas onde seus divisores de água foram estabelecidos naturalmente (TORRES et al., 2008). O presente estudo teve objetivo de elaborar o diagnóstico ambiental da seção mediana da microbacia do córrego Lageado, em Uberaba –MG. MATERIAL E METODOS O estudo foi conduzido na área de proteção ambiental (APA) do município de UberabaMG (Figura 1), situado na microrregião do Triângulo Mineiro, situada entre a latitude Sul 19º 45’ 27”e longitude Oeste 47º 55’ 36”. Figura 1 – Microbacia do córrego Lageado, afluente do rio Uberaba (SEMEA, 2004). 202 A microbacia do córrego Lageado possui área total de 6.640,75 ha correspondendo a 12,58% da área da APA do rio Uberaba, sendo a terceira maior microbacia desta APA, estando parcialmente dentro do perímetro urbano (Figura 2). O ponto mais baixo, foz com o rio Uberaba, está na altitude 717m, e o ponto mais alto possui altitude 851m na área do chapadão. Dentro dessa microbacia estão localizados dois bairros: Amoroso Costa e Lageado, que formam um conjunto de vários loteamentos, com uma população total urbana aproximada de 11.433 habitantes (SEMEA, 2004). A rodovia MG-190 e o anel viário cortam a área da microbacia, tendo três pontos de cruzamento com os cursos d’água. A ferrovia FCA Uberaba/Belo Horizonte apresenta sete pontos de cruzamentos com cursos d’água. Nesta microbacia localizam-se um laticínio e duas mineradoras. Numa amostra da população de cada microbacia correspondente a 75% dos moradores, foram aplicados os questionários adaptados do CIDIAT (Centro Interamericano de desenvolvimento Integral de Águas y Tierras) por ROCHA (1997) e (ROCHA & KURTS, 2001), os quais avaliaram as variáveis: social, econômica, socioeconômica, tecnológica e ambiental. Através destes valores foi determinada a porcentagem de deterioração de cada fator. Figura 2 – Microbacia do córrego Lageado, afluente do rio Uberaba (SEMEA, 2004) RESULTADOS E DISCUSSÃO 203 Nessa pesquisa foram coletados dados das condições de vida dos produtores rurais e de seu núcleo familiar, bem como, aqueles referentes a poluição ambiental, fundamentais para o planejamento de práticas de recuperação de áreas degradadas e preservação ambiental. A deterioração para o fator social (FS) encontra-se na faixa de 39% (Tabela 1). Na análise da variável demográfica constatou-se que a maior parte dos produtores é de origem rural, com baixo grau de instrução do chefe da família e um número pequeno de pessoas por propriedade. Na variável habitação, constatou-se que 83% das casas são de alvenaria, com fogão a gás e água potável, extraída de poços semi-artesianos (freático), além destas casas terem fossa séptica, o lixo das propriedades são queimados, entretanto, em alguns locais são jogados a céu aberto. Tabela 1: Cálculo do percentual de deterioração social, econômica, tecnológica, sócio – econômico e ambiental da seção mediana da microbacia do córrego Lageado. Valores Significativos Diagnóstico Equação da reta Deterioração realizado (%) Mínimo Máximo Moda Social 51 283 188 Y = 0,4310X – 39,0 21,9810 Económico 20 66 61 Y = 2,1739X – 87,0 43,4780 Tecnológico 17 51 38 Y = 2,9412X – 50,004 68,0 Socioeconómico Ambiental 88 400 287 24 48 29 Y = 0,3205X – 28,2040 Y = 4,1666X - 99,9984 55,0 25,0 A deterioração para o fator econômico (FE) é de 87%, valor este elevado, o que revela a grande dificuldade enfrentada pelo produtor rural em administrar a propriedade e provir o sustento da família. Com relação à variável produção, a principal exploração é gado de corte, sendo a agricultura predominante de subsistência. As áreas reflorestadas se encontram bem abaixo do exigido por lei. A deterioração para o fator tecnológico (FT) foi de 68%, valor que justifica os altos índices encontrados nas variáveis econômica e sócio-econômica, pelo fato da predominância de uma produção artesanal. Em 83% das propriedades é o proprietário que está à frente da produção. O valor encontrado na deterioração para o fator ambiental (FA) foi de 25%, valor este considerado baixo, que contrasta com situação real observada in loco, pois foi observado que dois bairros populosos da cidade de Uberaba despejam todo o seu esgoto in natura na parte central do córrego Lageado, sem qualquer tratamento. Observa-se também um despreparo sócio-cultural da população que já se acostumou a conviver diariamente com 204 aquele cenário desgastado. Foi constatada na área a existência de voçorocas (Figura 3), assoreamento do córrego, má destinação de lixo e poluição de mananciais. A presença de área urbanizada nessa microbacia traz transtornos à qualidade da água do curso principal. Para se evitar o lançamento direto de esgotos no rio Lageado, o CODAU construiu uma elevatória no final do loteamento Uberaba II, no entanto, as águas pluviais oriundas da área urbanizada é um dos principais fatores de poluição do rio. Figura 3 – Processos erosivos observados ao longo de todo o córrego do Lageado Comparando os valores obtidos para cada variável (Figura 4), pode-se observar que a deterioração para o fator econômico é o principal problema constado na microbacia, devido a forma de exploração rudimentar, principalmente de gado para leite e corte. Torres et al. (2007) obtiveram valores inferiores em estudo semelhante, realizado na microbacia do córrego Alegria, que fica localizada ao lado da área em estudo. 100 90 Deterioração (%) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Fator observado FS FE FT FSE FA Figura 4 – Comparação entre os valores calculados para deterioração. 205 CONCLUSÕES Os valores calculados após aplicação dos questionários confirmam a intensa deterioração econômica e tecnológica que vem ocorrendo nessa área, onde a renda é baseada na agropecuária rudimentar; observou-se a contaminação das águas do córrego devido ao lançamento de esgoto in natura por dois bairros da cidade no córrego. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FABIAN, A.J. & TORRES, J.L.R. Caracterização da paisagem para planejamento conservacionista em microbacia hidrográfica de Uberaba-MG. In: XXIX CONGRESSO BRASILEIRO DA CIÊNCIA DO SOLO, 2003, Ribeirão Preto. Anais.... São Paulo, SBCS, p. 45-48. ROCHA, J. S. M. da. Manual de projetos ambientais. Santa Maria: UFSM, 1997. 423 p. ROCHA, J.S.M. da & KURTS, S.M.J.M. Manual de manejo integrado de bacias hidrográficas. Santa Maria: UFSM/CCR, 2001. 282 p. SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE (SEMEA). Diagnóstico Ambiental da Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Uberaba. Prefeitura Municipal de Uberaba-MG, 2004, 127 p. TORRES, J.L.R.; SILVA, T.R.; OLIVEIRA, F.G.; ARAÚJO, G.S.; FABIAN, A.J. Diagnóstico socioeconômico, ambiental e avaliação das microbacias morfométricas da microbacia do córrego Alegria em Uberaba-MG. Uberlândia-MG, Sociedade & Natureza, Uberlândia, 19 (2): 89 – 102, dez./2007. TORRES, J.L.R.; FABIAN, A.J.; SILVA, A.L.; PESSOA, E.J.; SILVA, E.C.; RESENDE, E.F. Diagnostico ambiental e análise morfométrica da microbacia do córrego Lanhoso em Uberaba – MG. Uberlândia-MG. Caminhos de Geografia, Uberlândia, v.9, n. 25, 1 – 11, mar./2008. 206