ABRINDO A CAIXA DE RECORDAÇÕES1
Valéria Ribas de Oliveira Assis
FUMEC – Campinas
Meu memorial me faz lembrar... retire de sua caixa de recordações e faça despertar... o
que mudou... o que ficou... o que se foi.... o que perdeu-se no tempo.. o que está escondido... o
que precisa ser revisto... o que quero de volta...
Na verdade, o tempo acabou virando um grande organizador da vida das pessoas e na busca
de situar-nos como seres históricos, nunca devemos nos esquecer que somos parte integrante de
um grupo social, o qual interage com objetos e pessoas.
Portanto, quero que meus alunos vivam e interpretem a realidade de forma a valorizarem
sua identidade, tendo como ponto de partida suas características e gostos pessoais, fatos
marcantes, experiências difíceis ou prazerosas e seu modo de vida.
Vemos portanto, que “A aprendizagem do tempo é algo que se reveste de uma profunda
dimensão cultural e por conseguinte, variável historicamente.” (WHITROW,1993 apud
MIRANDA, 2001, p.2) .
Não gosto de A PATA NADA2, gosto de histórias, de jogos, de quebra-cabeças, de
brinquedos de encaixe, de brinquedos de madeira, de músicas, de dança, enfim... de atividades
lúdicas que levem a criança a pensar, a aprender brincando, a aprender a aprender. A criança tem
o direito à alegria, ao prazer que são proporcionados através de atividades lúdicas “base de
sustentação
para
a efetiva participação
cultural
crítica,
criativa
e transformadora”
(MARCELLINO, 1990, p.67).
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Recordações do Colégio Progresso Campineiro, onde estudei de 1972 a 1977.
Vídeo passado no 1º semestre/2002 em aula magna – profº Sérgio Leite- no qual exemplificou modelo de
alfabetização conservadora e construtivista.
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Como é bom lembrarmos de coisas boas... Palavras que fazem parte do cotidiano escolar
vêm à tona. Sinto falta de muitas delas e fico pensando o quanto nossos alunos vivenciam
atividades que lhe dão prazer? Por que ainda algumas práticas são frutos do autoritarismo de
outrora? Por que alguns professores são ainda tão resistentes ao novo? Por que ainda a caneta
vermelha existe, punindo, humilhando e reprovando? Por que ainda tenta-se excluir o lúdico,
como forma de aprendizagem, desvalorizando com isso a própria cultura da criança?
Podemos compreender, então, que é preciso que ”O adulto interfira, porém, não se
esquecendo de respeitar os direitos da criança, deixando-as sonhar e acreditar no impossível.”
(opus cit., p.79),
SORRISO
SATISFAÇÃO
CONVERSA
COORDENAÇÃO
GANGORRA
ANIMAÇÃO
AMIZADE
FALAR
DESENHAR
OUVIR
TINTA GUACHE
PENSAR
CAIR
ANDAR
SINAL BARULHENTO
FANTOCHE
VENTO
MATERIAL
SUAR
CACHORRO QUENTE
JORNAL
AJUDAR
DESENHO DE GIZ NO PÁTIO
DANÇAR
ENSAIAR
PERDOAR
CHORAR
HORA DO BANHEIRO
JOGAR
BOLA
2
LANCHEIRA
ARGOLA
RÉGUA
CHICLETE
BORRACHA
SEGUIR REGRAS
ANDAR NA LINHA
LOUSA VERDE
TEATRO
PIANO
LÁPIS DE COR
TIA
DIRETORA
SORVETE
BAR DA ESCOLA
CHICLETE
COCA COLA
CAPELA
ORAÇÃO
MERCÚRIO CROMO
GIZ COLORIDO
TOMBO
PRESENTE
FESTA JUNINA
NOIVINHA
AMARELINHA
ESCREVER
LER
APONTADOR
CORRER
TRANÇA NO CABELO
ADOLETA
LE PETI TOLE
TOLA
NESCAFÉ
COM
CHOCOLA
A-DO-LE-TÁ!!!!
LÁ EM CIMA
DO PIANO
TEM UM COPO
DE VENENO
QUEM BEBEU
MORREU
O AZAR FOI...
SEU!!!
O VENDEDOR
DE LARANJAS
PASSOU
POR AQUI.
QUANTAS
3
LARANJAS
ELE
VENDEU?
TEREZINHA DE
JESUS
Oh! SUZANA
PÁRARARAÁ
TIM...
BUMMMMM!!!!!!!!
Chiclete, Sorvete e Coca-cola
COMEÇA O DILEMA
HOJE É PROVA DE MATEMÁTICA
INFELIZMENTE NÃO ENTENDO
COMEÇOU A CONFUSÃO
LETRA VERMELHA É ERRO!!
E NÃO TEM PERDÃO!!
TEM GENTE QUE SABE...
E EU COMEÇO A CHORAR...
SAIO DA AULA TRISTE
OLHANDO AQUELA PROVA....
RAZÃO DA MINHA TRISTEZA
VOU LEVAR AQUELA NOTA!!
E ENTÃO NÃO VOU PASSAR?
TIA ZEZÉ NÃO TEM DÓ!
E QUANDO CHEGAR EM CASA
CONTO TUDO PRÁ VOVÓ!
ONDE FOI QUE EU ERREI?
COM TANTA LÁGRIMA NO ROSTO
AI DE MIM SE REPETIR!
CORAÇÃO TAVA BATENDO
ONTEM MESMO JÁ SABIA..
LIGA NÃO, MINHA NETA
AMANHÃ É OUTRO DIA...
Realmente na 3ª série fui mal na prova de matemática, quase reprovei e o que mais me
intrigava era a caneta vermelha e o sinal de erro com X bem grande!!!
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O erro dentro deste contexto, naquela época, foi visto, segundo a impressão que tinha,
como um atestado de incapacidade e a professora que tinha não cumpriu seu papel mediador
tendo “dificuldade em re-conhecer o papel do educador na perspectiva construtivista...” (ROSA,
p.59)
O erro faz parte do processo de aprendizagem, que é “resultado da atividade do sujeito e
depende, basicamente, do desenvolvimento de suas estruturas cognitivas.” (opus cit, p.59) . Se
errar, vou tentar não errar de novo até que acerte, até que consiga e me sinta feliz! A tentativa, o
esforço e a boa vontade devem ser palavras chaves inesquecíveis em nosso dia a dia. Vale a pena
ressaltar que ,segundo (Leite, 2001), o erro não deve ser entendido como antigamente, pois agora
valoriza-se a elaboração de hipóteses como processo contínuo do desenvolvimento da
aprendizagem.
Sou professora e me orgulho em dizer que a cada ano tento ser mais compreensiva, mais
reflexiva e não faço de minha profissão, como diz Paulo Freire, um sacerdócio, porém procuro
ver meus alunos, peças chaves de meu trabalho, como grandes amigos e parceiros de jornada.
“Admirava as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava
reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas seriam inúteis e talvez
perigosas”
Graciliano Ramos
Essa lembrança levou o fio do meu pensamento para duas reflexões: primeiro pensei
naqueles que, sem chegar ao refinamento da procura da palavra perfeita, têm dificuldade em
expressar suas idéias por mais simples que sejam, em especial, se for por escrito. Depois, pensei
na maneira magistral como Graciliano Ramos sintetizou a angústia da busca da melhor palavra,
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daquela que convém, daquela que é a exata, a que está na ponta da língua, envolta em magia e
arte, e que não sai de jeito nenhum.
Difícil para ele, como não será para os outros a busca da palavra? O pensamento que não
quer sair é como uma linha muito comprida, que vai, volta, se enleia, se enrosca e às vezes dá
nós. E, a minha linha deu nó em três pontos: do emissor, do destinatário e da mensagem. Foi
assim: eu puxava o fio de uma história, a minha, buscando nela os elementos para organizar esta
fala. Mas creio que consegui, com a ajuda de minhas memórias, é claro...
A expectativa de me tornar uma professora com maior bagagem teórica é o que me
lembro que pensava quando iniciei o PROESF.
A magia da conquista, da grande vitória ao ver meu nome na listagem de aprovados no
processo seletivo, deu-me a certeza de que tudo tem a sua hora e de que fui e sou capaz!
Os primeiros contatos com colegas novas, tomando conhecimento a cerca de outras
realidades e o reencontro com antigas colegas, fez-me mergulhar em uma rotina que há muito não
vivenciava, porém da qual fazia e faço parte: a rotina escolar, o cotidiano escolar, no que envolve
não só o estudo, mas a responsabilidade de estar presente participando, pesquisando, trocando
idéias, só que dessa vez, do lado de lá, como aluna.
Trabalhando com educação de jovens e adultos, o que mais me encanta é o fato de
sermos, nós professores, grandes aprendizes e durante o curso esta idéia foi se reafirmando, pois
em sala de aula, frente a meus alunos, meu olhar tomava cada vez mais outro rumo; um rumo de
maior compreensão e respeito frente às diversidades culturais, um rumo de maior interesse em
valorizar junto ao aluno o caráter histórico de cada momento vivido ou então diria que meu olhar
tomou um rumo mais realista, passando aos alunos uma visão de mundo mais realista, com
consciência de nossos direitos, humildes mortais cidadãos brasileiros.
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Trata-se de um processo cauteloso, pois é necessário que os professores se insiram em
uma proposta de alfabetização crítica, focando segundo Leite (2001), um trabalho com o
currículo escolar, visando propostas interdisciplinares, oferecendo assim, não um saber
fragmentado, mas um saber no qual possibilite a formação crítica, compreendendo e analisando a
realidade. Além disso, o mais importante é que haja vontade política e disposição da direção das
escolas, das autoridades de ensino com poder de decisão e de todas as pessoas envolvidas no
processo político pedagógico.
Observo com mais atenção agora, o quanto às diversidades culturais são de fato uma
riqueza a ser preservada e o quanto difícil é o percurso de um cidadão letrado que,
reconhecendo-se como ser histórico, interage, inserido em um contexto capitalista, com ideais
neo-liberais e tendo que enfrentar a competitividade, já que a maioria dos alunos de EJA
(educação de jovens e adultos) são migrantes e têm de se adaptar à vida aqui no estado de São
Paulo. A preocupação da escola na atualidade deve ser focada no que diz respeito a como o aluno
vai utilizar em sua vida prática, os conhecimentos adquiridos, pois é claro que dominar
meramente um código não implica em sua utilização num contexto social. Lembrando que toda a
atividade proposta deve, segundo Freire (1990), propor a reflexão, para que assim, conduzindo-se
à prática, não se desvincule da função e uso social da escrita.
Trabalhar o sentido de coletividade mostra-nos o quanto nossa parcela é importante dentro
de nossa sociedade e o quanto devemos trabalhar em nossos alunos o senso crítico.
A idéia do grupo, do coletivo na atividade pedagógica é mais forte nesse
momento do que foi no passado; não basta eu sugerir individualmente,
solitariamente, estudar aquilo e responder àquele professor.Ele tem que
ver como essas coisas se conectam com outras coisas e outras pessoas.
É esta a idéia do coletivo (TRINDADE, 2000, p.25).
Quando uso o termo aprendiz, refiro-me a atuação de um professor mediador, facilitador
do processo ensino aprendizagem dentro de uma instituição democrática. Não só um mero
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transmissor de conhecimentos, mas sim, um profissional que valoriza a troca de saberes e que
seja compromissado, tendo um olhar diferenciado em relação à prática docente, na qual a relação
dialógica e as práticas inovadoras, criativas, permeiem todo o cotidiano escolar.
Ensinar realmente é uma arte; a paixão pela profissão, a dedicação, são fatores essenciais,
dos quais me considero inseparável. A escola também necessita da vibração permanente de seus
professores que não podem, em hipótese alguma, fraquejar diante de seu papel social
fundamental, apesar do pouco reconhecimento, dos salários baixos, das dificuldades materiais e
infraestruturais que, em geral, caracterizam as escolas públicas brasileiras. A escola necessita,
sobretudo, da vibração contínua de seus alunos, vibração essa que depende bastante do interesse
manifestado por toda a sociedade com relação a seu modo de funcionamento, da participação
ativa dos pais, do engajamento dos professores e da importância que todos atribuem à instituição
escolar e às atividades que lhe são próprias.
Acreditar em nosso potencial é peça chave na conquista, na busca de ideais. Quem não
acredita em si mesmo, se destrói a cada passo de sua caminhada.
Escrevo isto recordando-me de momentos em sala de aula, quando me sentia até que
incapaz as vezes, de atingir os objetivos propostos, com determinados alunos, porém, são em
momentos
de desafios, onde temos que ser perseverantes, compromissados e corajosos.
Corajosos para encarar mudanças de paradigmas dominantes e então rompendo barreiras e diria,
até dogmas, criando, ousando, recriando, transpondo e aplicando ações precedidas de reflexão,
já que o professor, segundo Stenhouse (apud PEREIRA,1998) produz conhecimentos a partir de
sua prática docente, objetivando melhoras não só para si como também para coletividade, não
sendo um mero reprodutor nem executor dos mesmos.
Se mudo minhas estratégias, é sinal de que tive momentos para repensá-las de forma
crítica e creio que o enfoque dado ao Proesf, na verdade foi esse, reflexão de nossa prática.
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Lendo sobre pesquisa educacional, inquietei-me no que se refere às mudanças
curriculares em nosso país, pois nosso currículo ainda é muito fragmentado e muitos professores
não têm sequer, uma visão interdisciplinar, e segundo Elliot, o qual relata uma experiência em
uma escola inglesa, em 1960; aponta que sem essa visão interdisciplinar, os alunos não estariam
estabelecendo “...conexões psicológicas com suas próprias experiências.” (opus cit, p.158)
Espero que mudanças ocorram em nosso currículo, visando uma maior flexibilização, não
atendendo a interesses políticos e ideologias dominantes, mas sim, que se trabalhe a
“individualização” curricular em torno da escola.
Trabalhar de formas variadas, vendo o sorriso ao invés da cara feia e insatisfeita, apreciar
a gargalhada ao invés do silêncio outrora imposto, e quem sabe o desabafo, ao invés da fala
contida, é o que faço atualmente; pois muitas são as frustrações trazidas por muitos de nossos
alunos, seja de caráter pessoal, familiar ou o descontentamento com a escola, que é infelizmente,
ainda digamos “ligeiramente excludente”.
Vejo hoje, que a formação do professor é sem dúvida alguma, fundamental para
mudanças que contemplam não só a melhoria do processo ensino-aprendizagem, como também
uma melhora significativa da concepção de ser professor, de ser educador, alicerçando-se numa
sólida formação didático-metodológica, objetivando a formação de um profissional capacitador
de teorizar sobre as relações existentes entre educação e sociedade, contribuindo para que os
alunos tenham acesso à cultura resultante deste processo e o professor, reflita sobre suas ações, já
que sua prática é fruto na verdade, de uma ou outra teoria, sendo que este processo ocorre à
medida que confrontam os problemas pedagógicos.(ZEICHNER, 1993).
Encantei-me com a disciplina “Temas transversais”, quando deparei-me com práticas que,
para mim, já eram velhas conhecidas em meu trabalho na Fumec (Fundação Municipal de
Educação Comunitária -suplência I), que trata por exemplo, da questão de projetos temáticos,
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questão esta a meu ver, ainda pouco abordada nos projetos pedagógicos das escolas. Refleti
sobre como o tratamento da informação é significativo ao aluno quando atrelado a temas que para
ele, são próximos e o quanto esta forma de trabalho enriquece e motiva o dia a dia em sala de
aula.
Durante minha prática docente, enfatizei ainda mais o caráter linear na construção do
conhecimento, buscando, segundo Profº Ulisses Araújo, atingir não só o objetivo de “instruir”,
como também de formar eticamente o cidadão, “participando efetivamente da vida política e
pública da sociedade, de forma crítica e autônoma”.(ARAÚJO, 2003, p.31)
A valorização de nossa cultura é algo muito presente em minha prática, pois recebo
alunos dos mais variados lugares e então, procuro trabalhar, dentro do tema proposto, dinâmicas
em sala de aula que viabilizem a participação de todos, com suas contribuições, estabelecendo-se
assim, a soma de conhecimentos e troca de informações, respeitando e valorizando o modo de
pensar de cada um, haja vista as especificidades de nosso país, como o movimento migratório
intenso principalmente na década de 70, em que se fazia necessária mão de obra para trabalho em
multinacionais recém estaladas aqui no Estado de São Paulo.
Assistimos hoje a um espetáculo muito desagradável, segundo profª, Nery, de mudanças
que de 30 anos para cá, reestruturaram o mercado em geral, gerando a globalização, que é um
ideário neoliberal, com políticas estatais que fragilizam as relações sociais acarretando um
desenvolvimento predatório e é justamente nessa relação de forças, que aparece o desemprego.
No trabalho com jovens e adultos, deparo-me sempre com falas como esta:
- Professora, preciso estudar para conseguir arrumar um emprego melhor.
Portanto, infelizmente a escola serve a interesses do mercado de trabalho, estando sempre
em função, ou a serviço do que deve ou não deve se ensinar para adequação daquele indivíduo ao
mesmo.
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Conscientizei-me mais a esse respeito, do caráter transformador ou alienador da educação.
Afinal, preparamos nossos alunos para virem a tornar-se sujeitos participantes, ativos dentro da
sociedade ou sujeitos alienados, os quais se submetem a ideologias dominantes? Quem realmente
preparo?
E aí fico pensando que a escola é um espaço, não de reprodução de uma sociedade
individualista, competitiva, mas deve ser sim, um espaço no qual os alunos adquiram através do
senso crítico, instrumentos para que se tornem capazes de resolver seus problemas sob a ótica não
só de lutas por seus deveres e direitos como cidadão, mas também, que desenvolvam ao longo do
tempo o caráter coletivo que deve permear sim, as relações sociais, e como aponta Arce, “é a
igualdade social, imposta pelo Estado totalitário, que leva à servidão[...]em uma sociedade
alicerçada no individualismo exacerbado tenhamos a desigualdade” (2001,p.253). Não se deve
ver na figura do professor, o único responsável pela suposta exclusão social, pois é notório, o
descumprimento de muitos deveres do Estado para com a sociedade e a escola muitas vezes
inserida neste contexto, deixa-se levar por culpas e supostas obrigações não inerentes a mesma.
Hoje, reafirmo minhas convicções a respeito da escola como ambiente instigador,
democrático, gerando às vezes até conflitos. Porém, muitas vezes é através do confronto de idéias
que surge o crescimento, o amadurecimento, sendo que é dentro de um ambiente democrático
como aponta Aranha(2001), que existe a tolerância, respeitando a coexistência de ideologias
diferentes.
O professor como mediador, não sendo, é claro, um promulgador de ideologias
dominantes, pode criar condições favoráveis a esse ambiente e o desafio é ensinar não só a gostar
de ler, de escrever, de calcular, mas também de ter o cuidado de não se deixar levar por essas
ideologias, ensinando de forma alienada, sem senso crítico algum.
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Costumo dizer que a revolução traz a evolução e que o aluno precisa tomar consciência
de que é um ser social e se torna homem através da forma que pensa em relação à dimensão de
seu trabalho e o professor, é um grande mediador neste processo.
Mudanças, o que são mudanças, que por sinal tão comentadas em nosso curso? Esta
palavrinha de oito letras implica em tantas coisas...
Em uma escola, o corpo docente, como vimos, deve organizar-se em diretrizes comuns
para tal, envolvendo-se em um trabalho contínuo através de uma política organizacional coerente,
através de uma gestão realmente participativa, buscando nas unidades escolares, maior
autonomia, compartilhando responsabilidades, como indica Gentilini (2001), compromissada
com as verdades, com os interesses em comum, não buscando padrões pré-determinados, mas
sim, acreditando na união, na luta por acabar com as desigualdades , com a escola que exclui,
que abriga professores alienados, que aceitam sempre novos “pacotes” educacionais, sem
refletir, sem questionar, e o que é pior, sem se mobilizar!!
Ora, se tanto falamos em orientar nossos alunos a serem sujeitos de mudança, cabe
a nós darmos o exemplo.
Dei vida, ao termo professor crítico reflexivo, pois a partir do momento que se evidencia
um problema, devemos analisá-lo em conjunto com os demais na escola, propondo soluções, e de
acordo com Saviani (2002), refletir filosoficamente, indo às bases do problema, procedendo-se
com rigor e em conjunto. Creio que desta forma, chegaremos a uma melhora, visto que já
estamos fartos de políticas conservadoras e verticais.
O professor deve acreditar mais em si mesmo e não meramente copiar métodos e técnicas
de outros, achando que somente os demais detêm a tão almejada “fórmula secreta”. Cada unidade
escolar possui suas especificidades, cada aluno é singular, único. Desta forma, entende-se que, de
acordo com Zeichner(1993), somos capazes sim, de refletir não só sobre nossa prática em sala de
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aula, mas abrangendo ainda mais, refletindo sobre as condições sociais do ensino, as quais
influenciam substancialmente nossa prática .
Um aspecto que acho interessante ressaltar, apontado durante as aulas de políticas
educacionais é o falso discurso a respeito da importância das comunidades na participação das
decisões no âmbito educacional, quer queira nas políticas ou dentro da própria escola.
O que vemos não chega ainda nem perto do que se refere à responsabilidade coletiva. O
que se nota ainda é uma participação muito inexpressiva da comunidade nas tomadas de decisão e
a inexistência de um conselho deliberativo, pois as idéias ainda são tomadas e decididas por
instâncias maiores, que não a comunidade.
Vê-se claramente ainda uma preocupação crescente com os “negócios da escola”, agindo
os diretores de forma autoritária, não sendo democráticos, não valorizando, por exemplo, como
apontam Whitty; Power(2000), a participação de membros leigos nos conselhos , limitando a
participação da comunidade à tarefas previamente determinadas.
Tia Sueli
Gostava muito da Tia Sueli, pois era alegre. Simplesmente porque sorria e às vezes parava
a aula e cantávamos. Tia Sueli era linda; com olhos claros, corpo esguio e vestia roupas alegres,
sempre coloridas.
Era a 1ª série. Tinha uma ansiedade enorme em aprender a ler e quando isso aconteceu de
fato, nem me dei por conta! Estava lendo! Que maravilha! As placas das ruas já não eram figuras
ilustres desconhecidas, as embalagens já não eram meramente pacotes coloridos, tinham
informações úteis, como o nome do produto, o valor e o nome do fabricante.
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Gostaria de rever minha professora de 1ª série. Gostaria de rever Tia Sueli. Que abraço
gostoso seria, acho que me emocionaria muito!
Gostava da Tia Sueli, pois no final das atividades propostas, lá vinha uma folhinha branca
para desenho livre! O que quiséssemos desenhar! Ela sempre achava lindo e adorava quando
explicávamos o significado do desenho a ela. Por onde será que anda a tia Sueli...Ah! lembreime de um dia quando estávamos na fila de entrada, quando ela se interessou pelo crochê que eu
estava fazendo, (passando hora enquanto ela não chegava) e disse que queria aprender comigo o
ponto baixo, ponto alto e a trancinha. Disse a ela que tinha sido minha mãe quem me ensinara.
Todas as crianças envolta se interessaram também pelo crochê. Segundo Smolka (2000), as
interações são válidas, pois são constitutivas de conhecimento e sentimentos e era isso que
realmente valia a pena naquele momento!
Os espaços da escola eram enormes e, nestes espaços a brincadeira se incorporava.”O
espaço escolar exige qualidade não apenas funcional e construtiva,[...] facilita o trabalho
pedagógico” (LIMA, 1994, p.12).
Naquela época (1973), o Brasil recebia muitos estrangeiros e então recebíamos às vezes
até no 2º semestre, muitos colegas americanos, alemães, chilenos, suíços e gostava muito de ser
encarregada junto a outros, pela Tia Sueli, de mostrar os espaços da escola, ao novo colega! Era
divertido, pois nos sentíamos verdadeiros guias turísticos!
No parque, a casinha de bonecas era bem pequenina, mas dávamos um jeitinho de
cabermos todas lá dentro! Puxa, que saudades eu tenho desse tempo... Por onde será que anda a
tia Sueli?
As marcas deixadas foram muito significativas para mim, porque gosto de pessoas
alegres, da aprendizagem respeitando o ritmo de cada um, da expressão livre, da conversa em
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sala de aula, expondo idéias, contando casos, do espaço amplo que tínhamos para circular pela
sala, dos colegas que não conseguiam fazer a letra cursiva e nem por isso eram criticados, como
vejo hoje, muitas professores fazerem!
A existência possível de uma escola alegre; afirma a possibilidade da alegria como
sentimento que floresce do ato de conhecer. Não fala de uma alegria frívola, de fazer o
que se gosta e por isto sentir alegria. Fala da alegria da descoberta, da alegria de se
aproximar do que é mais elaborado, do que é difícil, daquilo que não seria possível sem
o professor e sem a escola. (SNYDERS,1993,p.45)
“A alegria e a felicidade são conquistas constantes e coletivas3”.
Lembro-me que a classe foi dividida em grupo e para cada grupo foi proposto um tema. O
tema do meu foi natureza e então cada um do grupo desenhava o que de mais importante seria
“natureza” para ele. Quando socializamos todos os cartazes, de frente para classe e ao lado
daquela professora tão simpática, só foi alegria! Ela achava todas as idéias ótimas e nos elogiava
bastante. Quando escrevo, noto que as imagens como num toque de mágica retornam ao
consciente chegando a me lembrar inclusive do perfume das colegas, das expressões, das
roupas...
Não éramos todos que tínhamos caixa de lápis de cor da Faber Castell (sonho de
consumo), com 24 lápis lindos! Mas os que tinham, emprestavam aos colegas.A borracha
cheirosa era novidade e lembro-me que toda novidade era socializada com a classe, dentre os
materiais que se destacavam havia: o lápis cheiroso, a borracha com olhinhos, o estojo de zíper,
o perfuminho em pasta, a presilha nova e muitas outras coisas.
Aprendi com calma, com tranqüilidade, alegria, companheirismo e cooperação.Não havia
palmatória, reguada, gritos. Havia sorrisos, música, teatro, bandinha rítmica, piano, conversas,
recreio e muito mais...
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Tudo isso nos aponta para a construção e fortalecimento de uma certa prática docente,
[...] que valorize não só razão, a linearidade da escrita, a letra, a tecnologia, outras fontes
de saber, o coração, a pele, o olfato etc. (TRINDADE,2000,p.15).
Sabia comprar lanche no bar da escola e uma moeda de CR$0,50 (na época era
“cruzeiro”) dava para um cachorro quente, o lanche que mais gostava. O sorvete custava mais
barato e a coca-cola , quase todo dia comprava. Os sabores, os cheiros, as emoções, cores,
sensações... Tudo me vem agora abrindo minha caixa de recordações!
Sou professora, muito prazer!
Sou professora de suplência I na cidade de Campinas, onde trabalho há 15 anos na
FUMEC (Fundação Municipal de Educação Comunitária), que conta com o funcionamento de
aproximadamente 400 salas, espalhadas por toda cidade em escolas, igrejas, associações de
bairros, etc. Temos o PEB I, equivalente a 1a. série, PEB II, equivalente a 2a. série e o PEB III ,a
3a. e 4a. séries.
Tudo começou quando entrei pela primeira vez em uma sala de aula de PEB II, com uma
clientela de adolescentes e alguns adultos, em julho de 1990.
Todos me olhavam espantados como que se estivessem vendo alguém que lhes roubaria a
identidade ou lhes daria uma má notícia.
Eu, mais ansiosa do que nunca, não via a hora de me entrosar para que o trabalho pudesse
fluir de melhor maneira. A classe era composta em sua maioria de garotas em média com l8 anos,
muito vaidosas e observadoras.
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Extraído do texto “ A soma de talentos”- dado pela AP Luciana Teston – 1ºsem/2002
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Comecei me apresentando, falando um pouco sobre mim. Em seguida, começamos a
conversar sobre a rotina de cada um, ou seja, suas atividades profissionais, interesses e
preferências. Esta sondagem permitiu-me conhecer um pouco melhor a realidade de cada um,
observando que a maioria exercia atividades relacionadas a área agrícola, em cafezais e canaviais.
Resolvi me interessar pelo assunto e os alunos quando perceberam que estavam passando
informações que me eram desconhecidas, se sentiram valorizados e mais seguros e aquela tensão
inicial foi se diluindo e fui notando que poderia através de suas vivências, montar meu plano de
aula de forma mais envolvente.
Emotivistas salientam a utilidade dos sentimentos ou das emoções para
nossa sobrevivência e para nossas relações com os outros, cabendo à ética
orientar essa última de modo a impedir a violência e garantir relações justas entre os
seres humanos.(CHAUÍ, 1990, p.352).
Aprendi como se dá o processo de adubação, plantio e colheita do café e da cana, melhor
época para o plantio, a pesagem, a quantidade que normalmente colhem no dia, como e quanto
ganhavam, quem fiscalizava o trabalho, em que condições trabalhavam, os perigos e riscos que
corriam, etc.
Conseguimos produzir pequenos textos sobre o que conversamos, realizamos alguns
cálculos, discutimos sobre exploração do trabalho infantil, cuidados básicos com a exposição ao
sol, etc.
No dia seguinte localizamos no mapa do Brasil, de onde vieram e a que estado e região
pertence a cidade onde nasceram.
A cada dia me interessava mais e notava que os alunos já não estavam tão intimidados
como de início. A partir dessa reflexão, concordo com Paulo Freire que aponta,
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Preconiza que o ato de ensinar exige: pesquisa; respeito;
criticidade; estética e ética; reflexão crítica sobre a prática;
consciência do inacabamento; respeito a autonomia do ser
do educando; bom senso; apreensão da realidade; alegria e
esperança; a convicção de que a mudança é possível;
curiosidade e segurança; comprometimento; compreender
que a educação é uma forma de intervenção no mundo;
liberdade e autoridade; tomada consciente de decisões; saber
escutar; disponibilidade para o diálogo e querer bem aos
educandos. (FREIRE, 1990, p.37)
Filosoficamente, vejo claro o sentido da palavra ética no desenrolar de minha profissão,
pois segundo CHAUÍ (1989), cada um de nós tem seus próprios costumes, características
pessoais provenientes da sociedade onde vivemos e reconhecendo nossos valores morais e éticos,
“... somente aquele que sabe o que faz, conhece as causas e o fim de sua ação”.
Não há sensibilidade sem perceber o belo subjetivamente nas entrelinhas do processo
educacional, não há relação dialógica de fato, não há interação, não há compreensão. O educando
necessita da verdade, da coerência e não da reprodução
de uma educação voltada pura e
simplesmente ao mercado de trabalho, atendendo a ideologias dominantes.
Platão é meu filósofo preferido. Foi com ele que me identifiquei logo de início, pois
passava a idéia de que o belo é identificado com o bem, com a verdade e a perfeição. E o que é
belo para mim?
Refleti muito durante o curso sobre o que quero de meus alunos e então, vi que o belo
encontramos na simplicidade do ser, na sua satisfação em aprender, em trocar idéias, em entender
o processo, não se preocupando excessivamente com os fins e sim com os meios, no
envolvimento com a escola, na relação da escola X comunidade e em muitos outros momentos.
Nossos alunos carregam valores morais. A escola por sua vez tem outros, que por muitas
vezes são diferentes. Observo às vezes, situações no cotidiano escolar, em que há uma imposição
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de valores que acaba por manipular, influenciar, e com intenções nítidas de nivelação, sempre
seguindo normas, padrões pré-estabelecidos.
Cito como exemplo, até simples demais, a disposição das carteiras em sala de aula que
desde que a escola existe, pelo menos aqui no Brasil – e acho que em boa parte do mundo, - é a
mesma, haja visto que em algumas escolas é solicitado para que esta prática mude, porém, a
disposição das carteiras, com um de costas para o outro é prática comum, para se evitar com isso,
a “conversa”. Cito também o fato de muitos professores exigirem que determinadas atividades
sigam um padrão de estética; a não elaboração de textos argumentativos; a exigência de respostas
previamente determinadas; o excesso de aulas expositivas, sem o diálogo e muitas outras práticas
infelizmente ainda existentes.
Lembro-me de uma de minhas aulas e gostaria de registrar aqui como foi. Dei a esta
aula o nome de Sondagem Inicial... Foi dada em 1995, na EMEF “Júlio de Mesquita Filho”,
com alunos de PEB III.4 Lá vai:
A primeira produção de texto é grande causadora de angústias e suores frios em nossos
alunos. Muitos chegam a se negar a escrever algo sobre determinado tema proposto pelo
professor ou tema livre.
Foi observando isso que percebi que precisava realmente mudar minha estratégia. Afinal,
gostaria que escrevessem algo realmente com prazer. Observei que muitos não gostavam de
escrever sobre si mesmos; então que tal seria se escrevessem sobre o colega?
Organizamos algumas perguntas que se faz a alguém que temos amizade. Todos
participaram dando sugestões. Após termos elaborado 15 perguntas, passamos a nos agrupar em
dupla, e um entrevistava o outro.
4
PEB III equivale , na FUMEC, 3ª e 4ª séries.
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Foi realmente uma grande surpresa quando vi todos interessados em contar ao colega
dados sobre sua vida; como por exemplo, o que mais gostava de brincar na infância, quem era seu
melhor amigo, qual música se lembra de ter cantado recentemente, etc.
Na leitura tudo ficou mais fácil, pois não liam sobre si mesmos, e sim, sobre o seu colega.
Puderam saber o que tinham em comum, se tornaram mais amigos e divertiram-se bastante.
Trabalhamos frases interrogativas, paragrafação e ortografia. As correções eram feitas em
grupo, com todos analisando os erros e possíveis mudanças. Com isso, notaram que todos os que
estavam ali, podiam se ajudar mutuamente, o que é muito importante dentro de uma sala de aula.
Ajudando um colega, o professor contribui para que seus alunos se sintam úteis e capazes, tirando
aquela velha impressão de que o professor é o único detentor do saber.
Analisando hoje, esta aula, que tinha em meus registros notei que houve muito interesse,
momentos de descontração, no qual a leitura e escrita vieram como forma de expressão,
comunicação e interação (LEITE, 2001, p.88).
Parto da análise dos fatos, sobre eles, refletindo e agindo. “Por isso toda teoria
educacional autêntica vem sempre acompanhada de forma reflexiva e crítica...”(ARANHA, 2002,
p.35).
Brincando de fazer poesia...(essa aula foi muito legal!)
Cheguei na classe e após todos entrarem, sentarem e se acomodarem (ufa!... isso às vezes
demora), comecei a entregar alguns livros de poesia para leitura, dizendo que gostaria muito que
ao final da aula todos conseguissem ser um pouco poetas... A classe inteira resmungou, dizendo:
- Ah, dona... poesia? Eu detesto poesia, o que é que é isso? É versinho?
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Então, solicitei à uma aluna ( muito bonita e paquerada por todos os garotos...) que nos
contasse se em algum dia já tinha recebido alguma “cartinha”, “bilhetinho”, ou algo parecido
que tivesse um “tom” poético e ela disse que sim e que tinha gostado muito.
Daí então, os mais novos gostaram da idéia e então começamos o nosso... ENSAIO
POÉTICO.
Ficaram lendo os livros no maior silêncio durante uns 20 minutos (uma aluna leu do
começo ao fim “Cânticos” de Cecília Meirelles). Então, destaquei uma poesia que se chama
RETRATO, da autora acima, passei para lousa e expliquei sobre estrofes e versos. Lemos em voz
alta, juntos, várias vezes. No final, a leitura foi feita com mais entonação. Analisamos qual seria
o perfil da personagem e como a poesia mudaria o sentido se trocássemos algumas palavras por
antônimos. Todos se empolgaram e comentamos sobre o perfil psicológico da personagem deste
poema. Será que era a própria Cecília Meirelles? Qual idade teria? O que teria acontecido em sua
vida para ficar assim? A poesia nos causa uma sensação de tristeza, abandono. Perguntei se já
haviam se sentido assim algum dia.
Enfim, naquele dia, saí da classe muito feliz, pois meus alunos estavam satisfeitos, e
percebi que tinham gostado da aula.
Escrevendo o memorial de formação, acho que não seria de bom tom criticar os
mestres que tive. Faço uma re-leitura de tudo que já vivi no âmbito escolar e agradeço a eles por
tudo, principalmente quando valorizavam nossas vivências. É claro que passei momentos de
angústia, quando o não saber resultaria em uma bela chamada de atenção e caras feias, mas ainda
bem que não tenho traumas, pois superei as dificuldades em matemática e amadureci, chegando
no magistério, já com outra visão a respeito das contas de divisão!...
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Ressaltei a Profª Sueli, pois foi para mim um exemplo de educadora, que no exercício de
sua profissão, transmitia à classe muita garra, ânimo e alegria.
Logo abaixo, transcrevo o poema “Retrato”, de Cecília Meirelles, o qual me acompanha
em minha pasta de atividades, assim como os de Roseana Murray, Cassiano Ricardo, Tatiana
Belinky e muitos outros.
RETRATO
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
-Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Disse aos alunos que fizessem poesia, se inspirando, por exemplo, em fatos do cotidiano,
pois como aponta LEITE(2001),
Talvez a diretriz pedagógica mais importante no trabalho[...]seja a utilização da escrita
verdadeira nas diversas atividades pedagógicas,isto é,a utilização da escrita, em sala,
correspondendo às formas pelas quais ela é utilizada verdadeiramente nas práticas
sociais.(p.25)
Gostaria que se interagissem na sala, trocando idéias, para a elaboração das poesias, se
soltando, criando, dando sugestões uns aos outros “... incentivando a cooperação, o espírito de
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solidariedade e de mútua recuperação, em lugar de desenvolver o espírito de concorrência..”
(WALLON 1929, apud PEDROZA ; ALMEIDA, 1994, p.76).
Olhem só o que surgiu das alunas:
A explosão
Minha panela de pressão estourou,
O teto sujou.
Meu marido falou:
-Ana, você ainda não limpou?
Ana Ledes de Jesus
Foi um barato
Uma pedrinha no meu sapato
Rolou e sumiu no mato.
Bateu num pato,
Feriu um gato,
Caiu num prato
e virou um rato
Sueli Barbosa Pereira
O mundo globalizado, neoliberal
Não poderia deixar de citar em meu memorial, o quanto as políticas públicas e o caráter
democrático da gestão escolar, instigou-me e fez-me refletir. Destaco dentre muitos conteúdos, a
globalização e o neoliberalismo, submetendo a escola a pressões para se adequar aos novos
mandamentos, sendo a competição econômica mundial ameaçadora de todo sistema educativo os
reduzindo a um produtor do “capital humano” necessário às empresas.
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A tendenciosidade do governo em sua política privatista é uma tônica pavorosa, que no
tocante ao quesito ensino, envolve muito mais do que a simples cobrança por um serviço. Ela
influencia conteúdos, procedimentos e relações de poder dentro da escola, que passa a funcionar
com base no dogma do mercado, como ressalta Queiroz(2003, p.120) “...a preponderância dos
valores morais e direitos básicos dos indivíduos [...] foram se subordinando aos interesses
econômicos”. Enfoca liberdade de escolha pelos “consumidores da escola” e por uma
“profissionalização” dos cursos. É uma metamorfose do ensino, que leva a mercantilização geral
do conhecimento e aprendizagem e reforço das desigualdades.
Cabe aos atores da escola, saírem da inércia que os permeia e então, com consciência e
responsabilidade democrática, participar de forma mais efetiva, do contexto político, não se
limitando única e exclusivamente à sala de aula, apenas aceitando verticalmente o que se
estabelece, sem prévia participação no decorrer do processo.
O caráter competitivo, no qual estamos inseridos, é massacrante e a promessa de escola
como integradora social, não existe, e sim, segundo aponta Gentili (2001,p.51) “uma lógica
econômica estritamente privada e guiada pela ênfase nas capacidades e competências que cada
pessoa deve adquirir”
Deve se firmar a favor de uma escola que atenda sim, as demandas sociais, porém “mais
adequadas às suas necessidades e expectativas, seguindo os princípios de autonomia e
participação”.(LUCK, 2001, p.2), para melhoria assim, do trabalho e atendimento aos alunos.
Concluo este memorial certa de que durante o curso, aprimorei-me e refleti mais sobre o
papel do professor, não tão somente ao aspecto pedagógico, como também às questões de
mudança de paradigma, luta de classe, gestão democrática, enfoque do aluno como sujeito de
mudanças e ator social.
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Creio que as lembranças ficarão para sempre em meu coração, guardadas em minha caixa
de recordações.
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