Bauru, domingo, 30 de outubro de 2011 - Página 3
Bauru, domingo, 30 de outubro de 2011 - Página 2
BAIRROS
BAIRROS
Peixinhos de Bauru mergulham fundo em busca de seus sonhos
Piscina funda, clima de competição e alguns caldos n’água fazem parte do show das 1.300 crianças que integram o Projeto Futuro e nadam de braçadas para sentir no pescoço o peso das de medalhas
Irmãos bons de bola
Na casa dos irmãos Henrique Ferreira Leão, 13 anos,
e Kemily Ferreira Leão, 11
anos, não tem piscina. Sendo assim, antes de começarem a fazer aulas de natação
pelo Projeto Futuro, quando
queriam matar a vontade de
brincar na água, pediam à mãe
para levá-los ao sitio da tia,
por onde passa um rio.
“Foi lá que a gente
aprendeu a nadar. Era muito
divertido, mas nem sempre
podíamos ir pra lá quando
queríamos. E também não
nadávamos do jeito certinho,
como aqui na natação. No rio,
nós aprendemos o básico para
não afundar”, conta Kemily.
Para passar do rio para a
piscina, bastou um convite feito pelos professores do Projeto Futuro, que visitaram
a escola ondee a dupla
estuda no fim de 2010
em busca dee futuros
campeões da natação.
“Quando
o ficamos sabendo,
o, pedimos para minha
mãe matricular
ular a
gente. Isso faz
az um
ano. Começamos
amos
na natação. No
primeiro dia,
a, a
professora deu espaguetes
para ficarmos na água, mas ela
percebeu que não tínhamos dificuldades e logo liberou para
nadarmos livres. Pouco tempo
depois, passamos para o polo
aquático”, conta Henrique.
Os irmãos, que até então
nem sabiam que polo aquático
era um esporte, gostaram da
experiência e em pouco tempo tornaram-se promessas de
atletas de sucesso.
“O mais difícil foi aprender a flutuar na água. Tem
de ficar mexendo os pés e as
mãos alternadamente e em
círculo, sem parar. Ao mesmo
tempo, tem de pegar a bola”,
ensina Kemily, que faz a função de marcação de centro.
“Nos primeiros dias, o
corpo não estava acostumado
e foi uma dor só. Depois pas-
Planos de um futuro bom
sou”, revela, rindo, Henrique,
que joga como ala.
Acostumou tanto que com
seis meses de prática do esporte,
a dupla já participou de diversas
competições e perceberam que
têm potencial para tornarem-se
colecionadores de medalhas.
Kemily, inclusive, viajou para a
Itália em junho deste ano, para
participar do festival internacional de polo aquático Habawaba,
na cidade italiana de Lignano
Sabbiadoro.
“Foi muito legal. Foi a
primeira vez que eu andei de
avião e por isso fiquei com um
pouco de medo. Além disso,
participar de uma competição
tão importante me deu um
pouco de nervosismo. Mas o
que eu gostei mesmo foi de
ver as pessoas falando italiano”, conta. (WF)
Fotos
Dougla
s Reis
Kemily Leão
Ke
viajo de avião
viajou
pela primeira vez
para participar
do festival
internacional de
inter
polo aquático
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disfarçando o
disf
medo antes de
med
entrar no avião
entr
Kemily Leão
é um dos
destaques
da equipe de
polo aquático
feminina
Mateus Henrique Ferreira tem apenas
10 anos, mas já responde com convicção à
pergunta que causa indecisão e insônia em
muitos estudantes em fase de vestibular:
Qual profissão você pretende seguir?
“Quero ser nadador profissional. Desses que vão para as olimpíadas. Igual ao
Cielo”, dispara o pequeno, que por conta da
pouca idade tem dificuldade em pronunciar
o nome do ídolo brasileiro, mas logo se faz
entender. “O Cielo, sabe? Aquele que tem
um monte de medalha e sempre bate recordes”, explica.
E assim como o ídolo, Matheus também fica bem à vontade com entrevistas. Na
manhã da última terça-feira, ele saltou para
fora da piscina onde fazia aula e, enrolado
em uma toalha, contou com desenvoltura
como começou seu amor pela natação.
“Foi por acaso. Eu moro no Ferradura
Mirim e participo do Projeto Caná. Daí, um
dia, a professora disse que íamos começar a
fazer aulas de natação aqui no Bauru Tênis
Clube e eu obedeci”, resume.
O que ele não imaginava é que ia gostar tanto. Até porque, no primeiro dia, o
medo de se afogar na piscina de tem dois
metros de profundidade prevaleceu e Mateus passou a aula toda agarrado na borda.
“Ele era um dos alunos mais medrosos. Mal se mexia na água, ficava só nas
João Rosan
bordas. Com o tempo, foi ganhando confiança, passou a nadar com espaguete
e, atualmente, já nada sozinho o estilo
crawl. Ele se desenvolveu muito”, comemora a professora de natação Sandra
Regina Lourenço.
“Agora eu até relo os pés no fundo
da piscina! E não é fácil, viu?!”, emenda,
deixando claro que tem talento suficiente
para se tornar um nadador profissional.
O entusiasmo é comemorado pela tia
e tutora do garoto, Denise Cristina Ferreira
Batista, que acha engraçado ver Mateus e
os primos discutindo sobre quem é o melhor dentro d’água.
“É uma empolgação só. Eles chegam
da aula contando o que aprenderam e trocando dicas. Acho isso importante, pois, no
bairro onde moro, já vi muitas famílias sofrerem por conta do envolvimento de seus
filhos com as drogas. Quanto mais ocupados eles estiverem, menos chances darão ao
mau caminho”, afirma. (WF)
Mateus Henrique Ferreira
sonha em ser nadador
profissional e busca inspiração
em César Cielo
João Rosan
Aos 9 anos, Francieli da Silva de
Oliveira sentiu o gosto gelado do meO
tal de uma medalha pela primeira vez.
ta
A premiação ocorreu há alguns meses,
quando a pequena disputou um campequa
onato de natação e conquistou a largas
ona
braçadas o segundo lugar.
braç
Deste então, o a medalha de prata
tem lugar fixo e de destaque no quarto da
pequena.
pequ
“Fica no meu quarto, pendurada ao
lado da minha cama. Por enquanto só tenho ela, mas em breve vou ter mais um
monte”, planeja, animada.
mont
Francieli aprendeu a nadar há 7 meque ingressou no Projeto Futuses, desde
d
trazida pelo Projeto Caná, que atende o
ro, tr
bairro onde ela mora, o Ferradura Mirim.
bairr
Até então, a pequena não fazia idéia da
profundidade de uma piscina olímpica.
profu
“Eu já tinha nadado em uma piscina
rasa, de uma chácara onde são realizadas
festas de fim de ano da empresa onde
as fe
meu pai trabalha. Quando vi essa piscina
enorme, quase não acreditei. Achei que
enorm
Henrique Leão treina
polo três vezes
por semana para
conquistar medalhas
nas próximas
competições
Pequeno talento
“Meu nome é Brujogo polo aquátino e eu jog
Mas não
co, sou goleiro.
go
é fácil, vviu?! A piscina
é beeeemmm
funda,
beeee
dá minha altura e mais
dois braços
meus estibra
cados”, apresenta-se o
falante Bruno Henrique Santos
de Sales,
Sa
11 anos,
ano participante
do Projeto
Futuro e
Pro
um dos
do destaques do
grupo.
grupo
Morador
do
M
Parque
Parqu Bauru, Bruno nunca
imaginou
nu
Bruno de Sales superou a
profundidade da piscina e tornou-se
um dos destaques do polo aquático do
Projeto Futuro
Bruno de Sales (à dir.) se deliciou com
a pizza que comeu na Itália quando
participou do festival internacional de
polo aquático Habawaba
que, do alto de seus 1,35 metros de altura, um dia ele seria jogador de polo aquático.
Muito menos que um dia participaria de competições importantes do esporte, como o
festival internacional de polo
aquático Habawaba, na cidade
italiana de Lignano Sabbiadoro. Na verdade, até pouco mais
de um ano, Bruno nem sabia
nadar, muito menos o que era
polo aquático.
“Um amigo meu disse
que aqui na cidade tinha um
projeto que oferecia aulas de
natação de graça para crianças
e eu pedi para minha mãe me
trazer. Foi aqui que aprendi a
nadar e hoje sonho em ser jogador profissional de polo”,
resume.
E mesmo estando há pouco tempo no esporte, Bruno já
tem quatro medalhas muitas
histórias pra contar. Entre elas,
a da ida para a Itália, em junho
deste ano.
Bruno foi acompanhado dos técnicos e de outras
12 crianças que participam
do Projeto Futuro. Viajou de
avião pela primeira vez, gastou em euros, aproveitou a
praia e a estrutura do hotel e,
é claro, comeu a famosa
pizza italiana.
“Foi muito legal!
Quando eu entrei no
avião a primeira vez, fiquei com um pouco de
medo, mas depois deu
pra aproveitar bastante.
Como estava calor na
Itália, deu pra conhecer
bastante a cidade e até
fomos pra praia”, conta,
animado, ele que trouxe
na mala um óculos de
natação italiano e um
bichinho de pelúcia.
Para não falar na
pizza, que rende comentários entre os colegas
até hoje. “Era uma pizza
enorme, cada pedaço
ocupava o prato inteiro.
Não é como as pizzas
daqui, sabe?”, descreve.
E quanto à competição, Bruno garante
que, mesmo não conquistando medalhas, valeu a pena.
“É que lá na Itália
o polo aquático é como
o futebol no Brasil. Não
tem como competir
com eles, que nascem
jogando polo, com apenas seis meses de treinamento. Mas eles que
nos aguardem...”, avisa,
em tom de brincadeira.
(WF)
Medalha de cabeceira
Francieli de Oliveira encara as
aulas de natação como uma grande
oportunidade que lhe foi dada
não fosse conseguir nadar aqui”, lembra,
rindo.
A mãe de Francieli, Josefa Isidoro
da Silva, ainda custa a acreditar no feito
da filha. E reforça, diariamente, antes da
pequena sair de casa com trajes de banho
na mochila, a recomendação de cuidado.
“Ela e a irmã fazem natação juntas,
mas eu nunca as vi nadar. Elas me contaram que a piscina é bem funda. Eu fico
com medo de acontecer algum acidente,
delas se afogarem. Mas elas sempre me
tranquilizam, dizem que fica um monte
de professor por perto, olhando as crianças. Então, se elas gostam, tem mais é que
aproveitarem a oportunidade que estão
tendo”, opina Josefa, que acredita que o
esporte é uma forma de manter as filhas
afastadas da violência e das drogas.
E se conselhos servem de alguma
coisa, lá vai um: fique calma, Josefa. Francieli está tão habituada à piscina, que já
nada como um peixe. Na manhã da última terça-feira, quando a equipe do JC nos
Bairros acompanhou alguns momentos da
aula de natação, a pequena esbanjou charme e talento ao saltar de borda da piscina
para dentro d’água e nadar todo o percurso da raia, ida e volta, sem perder o fôlego
nem deixar de olhar para as lentes do fotógrafo. (WF)
Ídolos para se inspirar
Malavolta Jr.
Se depender de inspiração e incentivo,
as crianças que participam do Projeto Futuro
e atualmente são seus primeiros mergulhos na
natação e no polo aquático com certeza serão
os futuros representantes brasileiros no esporte e, de quebra, transformarão Bauru na capital
nacional destas modalidades.
Isso porque já estiveram em piscinas bauruenses os jogadores da Seleção Brasileira de
polo aquático, como preparação para o Mundial
da China, realizado em agosto de 2011; Coaracy
Nunes, presidente da Confederação Brasileira
de Desportos Aquáticos (CBDA), Miguel Carlos Cagnoni, presidente da Federação Aquática
Paulista (FAP) e, atualmente, Áttila Sudàr, ex-jogador da seleção da Hungria campeã olímpica em Montreal, no Canadá, em 1976, e bronze
em Moscou, na Rússia, em 1980, um dos maiores ícones mundial do polo aquático.
“Áttila foi uma de nossas grandes conquistas. Ele vai treinar as crianças do polo até
dezembro. Será uma experiência muito enriquecedora”, avalia Cláudio Zopone, idealizador do
Projeto Futuro e presidente da Associação Bauruense de Desportos Aquáticos. (WF)
Áttila Sudàr,
um dos
maiores
ícones
mundiais do
polo aquático
está em Bauru
para treinar as
crianças do
Projeto Futuro
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Peixinhos de Bauru mergulham fundo em busca de seus sonhos