Dengue avança e PS improvisa espaço em Cuiabá A GAZETA - CADERNO B CUIABÁ, 19 DE ABRIL DE 2009 PÁGINA 3 Mãe e irmã da vítima se despedem da criança com dor e revolta TV Record Otmar de Oliveira Depoimento do pedófilo assassino foi acompanhado por repórter de A Gazeta, que foi testemunha devido à ausência de promotor e defensor SILVANA RIBAS DA REDAÇÃO rio, sem demonstrar qualquer emoção ou arrependimento, o homem que violentou e matou estrangulado o estudante Kaytto Guilherme Nascimento Pinto, 10, na segunda-feira (13), contou ao longo de 3 horas como planejou e executou o crime que chocou o Estado na semana passada. A reportagem do Jornal A Gazeta acompanhou com exclusividade o depoimento de Édson Alves Delfino, 29, o “Ed”, que já tem condenações que somam 46 anos e 8 meses pelo abuso sexual e morte de outro menino de 10 anos, no ano de 1999, na cidade de Primavera do Leste (231 km ao sul de Cuiabá) e por atentado violento ao pudor contra outro menor. De toda pena, ele cumpriu apenas 9 anos de reclusão. Ele foi preso na noite de sexta-feira (17), a 150 km de Cuiabá, em um ônibus que o levava para Campo Grande (MS). Disse que tentou fugir com medo da prisão. O depoimento começou por volta da 1h da madrugada de ontem, na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), logo depois do acusado levar os policiais até o local onde matou o menino e abandonou o corpo, em um matagal localizado nas imediações do Fórum da Capital. A tranquilidade em expor com riquezas de detalhes o ato bárbaro e cruel praticado por ele contradiz com a afirmação de que estaria arrependido por mais este crime. É o terceiro pelo qual responde. Ainda em Primavera, é acusado de abusar de outra criança, em janeiro de 2000. Este menino, além de violentado, foi roubado por ele, crime que nega. Édson, que disse tomar remédios controlados, já ficou internado no Adauto Botelho em Cuiabá, depois de tentar se matar com mais de 100 comprimidos bebidos com desinfetante, em 1991. Trabalho minucioso - A pista que culminou com a prisão do pedófilo assassino começou com um trabalho psicológico, tentando buscar criminosos com este perfil, que poderiam estar envolvidos no sumiço de Kaytto. O trabalho teve o apoio do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) de Cuiabá, coordenado pela tia de Kaytto, Dilma Camargo. Édson era um dos criminosos com o perfil. Quando investigadores do setor de Desaparecidos da DHPP descobriram que Édson trabalhou por 25 dias na reforma da guarita do condomínio onde Kaytto morava e era conhecido da família, não te- F tem relação com o crime. ve dúvidas. O cerco se feAssegura que sequer discuchou quando teve a informatiu com Jorgemar e que as ção de um colega de trabalho reclamações do trabalho dele que o acusado tinha acachegaram a ele por intermébado de vender a motocicleta dio de seu irmão Antônio (por um celular e mais 2 parMiguel Nascimento, este celas de R$ 300) e embarcou sim, amigo de Jorgemar há às 14h, de mudança para mais ano. Foi o irmão AntôCampo Grande. nio, que é pedreiro, que conA mobilização de toda seguia os trabalhos para ele, polícia, incluindo a Rodoviádepois de deixar a Penitenria Federal, culminou com a ciária da Mata Grande, em prisão do acusado. Ele ocuRondonópolis, há 6 meses. pava a poltrona número 5 de Édson admitiu que um ônibus que ficou pelo mesmo obtendo a progresmenos 3h retido na BR-364, são do regime, tendo apenas depois da Serra de São Vique dormir em um albergue, cente, em decorrência de um Otmar de Oliveira/Reprodução não vinha sendo acompaacidente que tinha aconteciEstudante f oi l evado p elo nhado pela Justiça. O máxido com outro veículo. criminoso p ouco d epois mo que fez nos últimos 6 Já na cela do posto da das 1 1h d e s egunda-ff eira meses de liberdade foi comPRF, Édson não teve probleparecer na 5ª Vara Criminal mas em confessar o crime e de Várzea Grande para se apresentar e assinar paquando o delegado Antônio Garcia e os investigadopéis, sem nunca ter sido nem ouvido ou encaminhares Gardel Ferreira e Auri Vieira o trouxeram até do para um albergue onde deveria passar todas as Cuiabá, foram guiados por ele até o matagal onde o noites. corpo de Kaytto estava abandonado desde a segunda-feira. O menino foi morto em menos de meia hoRelato do crime - No depoimento acompara depois de subir na garupa da moto de Édson, no nhado por outros 3 delegados e filmado, Édson desponto de ônibus próximo a casa creveu o diálogo que manteve dele. O criminoso disse que ao com a vítima na abordagem bem meio-dia já tinha ido para a cacomo o movimento no ponto de sa da tia, no bairro Ouro Verde, ônibus. Não escaparam nem as coem Cuiabá. Ele raptou Kaytto res do uniforme, boné e da cueca pouco depois das 11h00. do menino que foi usada para estrangulá-lo. Ao se aproximar de Frieza - Quanto a motiA tranquilidade em expor Kaytto, com quem admitiu ter vação do crime, o maníaco adcom riquezas de detalhes conversado pelo menos 4 vezes mite que é unicamente “libidio ato bárbaro e cruel antes, quando trabalhou no prédio, nosa”, pois sente “tara por meninos”. Disse que quando viu praticado por ele contradiz aproveitou para oferecer carona, ao saber que o menino iria enconKaytto sentado no ponto de com a afirmação de trar com o pai. Disse que Kaytto ônibus, sentiu desejo de manter que estaria arrependido mostrou certa dúvida, pois só tinha relação sexual com ele. Se um capacete. Então falou ao meniaproximou e iniciou uma conno que buscaria outro na casa da tia, ali perto. O esversa, perguntando sobre o pai do menino. Édson já tudante subiu na moto e foi visto vivo, por testemuhavia feito um trabalho de pintura no escritório de nhas, pela última vez. Uma delas, uma jovem que Jorgemar Luís Silva Pinto, pai de Kaytto, pelo qual conversava com o menino no ponto, chorou ao ficar recebeu R$ 75. frente-a-frente com o criminoso e o reconhecer imeEle garantiu, em depoimento ao delegado diatamente. Márcio Pieroni, titular da DHPP, que o descontentamento do pai do garoto com a pintura mal feita não A violência sexual - Após pegar Kaytto, “ Édson seguiu direto para o matagal. Disse para o menor, ao sair do asfalto, que o capacete estava lá no mato. Ao descer por um terreno com declive, o menino saltou da moto, mostrando medo. Mas neste momento já foi imobilizado pelo assassino, que usou da força física. Foi com ela que submeteu o estudante à violência sexual. Disse que, no momento do abuso, o menino não chorou. Mas depois, quando se levantou e vestiu a bermuda, teria começado a chorar e dito que contaria para o pai o que aconteceu. Neste momento, o assassino disse que se sentiu acuado e decidiu matar Kaytto. Primeiro deu uma gravata no pescoço dele e o derrubou, fazendo com que desmaiasse. Em seguida, pegou o cadarço do tênis do menino e tentou estrangulá-lo. Como não conseguiu, pegou a cueca da criança que ficou caída no solo, fez um torniquete e o estrangulou. Ao ser questionado pelo delegado Márcio Pieroni se Kaytto havia gritado ou lutado, Édson disse que ele apenas gemeu. Morreu quase em silêncio. O assassino disse ainda que antes de deixar o corpo no local colocou a mochila do estudante nas costas dele, que ficou inerte, da forma como foi encontrado na noite de sexta-feira, já em estágio avançado de decomposição. Enquanto Édson relatava o crime sem esboçar qualquer emoção, mais de 100 pessoas, entre amigos e familiares da vítima, pediam justiça na frente da DHPP. O policiamento foi reforçado diante de um protesto doloroso, pacífico e de pessoas indignadas e arrasadas. Ontem pela manhã ele seguiu para uma cela individual, no raio 5 da Penitenciária Central de Cuiabá. O velório - O pai de Kaytto foi medicado para suportar o velório e o sepultamento que aconteceu ontem, às 16h, no cemitério Parque Cuiabá. A mãe Luzia Rosa, 39, e a irmã Luara Rayane, 16, tentavam reunir forças na despedida e, mesmo com toda dor, agradeciam a todos que se mobilizaram em busca do menino. Ressaltaram o trabalho incansável dos policiais e só pedem que a Justiça não permita mais que o “monstro” volte para as ruas e destrua a vida de outro inocente, como Kaytto. A imagem do menino alegre, sorridente, que não via maldade nos outros, vai ficar sempre na memória da família e dos amigos. A reportagem de A Gazeta e de outro órgão de comunicação acompanhou o depoimento a pedido do delegado, já que mesmo sendo solicitada a presença de um promotor e de um defensor público, não foi atendido.